Thomas Gordon
Cullen
(Bradford 1914 – Londres 1994)
Paisagem Urbana
(The Concise Townscape -
1961)
Paisagem urbana
Para se aumentar a impressão de quem observa um determinado lugar, deve-se estudar atentamente os materiais que o compõem, e que formam o FLOORSCAPE (paisagem que torna um lugar
privilegiado para a percepção das pessoas). • - Vias • - Arborização • - Calçadas • - Muros e paredes • - Iluminação • - Publicidade
“Assim como uma
reunião de
pessoas chama
mais a atenção
do que uma só,
um conjunto de
edifícios tem
mais atração
visual do que um
edifício isolado”.
Introdução
“Uma cidade é antes de tudo
uma ocorrência
emocionante... É um
tremendo empreendimento
humano (demógrafos,
sociólogos, engenheiros,
peritos, etc.). Mas, se depois
de todo esse esforço, ela fica
monótona ou sem forma, ela
não cumpre sua missão. É
como empilhar lenha para
uma fogueira e se esquecer
de atear fogo.”
Imagine-se o percurso de um transeunte ao
atravessar uma cidade: primeiro uma rua, depois um pátio, outra rua, uma curva, um monumento. Cada vez, um novo ponto de vista. Mesmo a passo uniforme, a paisagem vai se sucedendo em
surpresas. É a VISÃO
SERIAL de elementos que, a partir do movimento do observador, emocionam pelo contraste.
O cérebro humano reage aos contrastes (a praça, logo após, a rua, etc.), e
anima-se pelo vigor e dramatismo desses
contrastes. Se estes não ocorrem, a cidade passa despercebida (é sem
graça, sem forma, sem característica). Há dois aspectos na visão serial: a imagem existente (o que se vê e se sente) e a
imagem emergente (o que se está por ver e sentir).
Local
Diretamente ligado à
percepção do entorno e à nossa posição no espaço (espaços abertos ou
fechados). Inspiram em nós pensamentos como “estou aqui fora”, ou “estou
entrando aqui”, ou “estou aqui dentro”. Também sofre a influência de estarmos
acima (viadutos, pontes, etc.) ou abaixo do nível geral do terreno (vales, subsolos, etc.).
Local
“Se a cidade passar a ser observada pela ótica de quem se desloca, ela será
uma experiência
eminentemente plástica, num percurso de contraste entre zonas de compressão ou vazio, espaços amplos ou
fechados, situações de tensão ou conforto. A existência de um AQUI pressupõe a de um ALÉM. Um não existe sem o outro... Os mistérios vão
sendo gradualmente revelados.”
Conteúdo
Relacionado com a constituição da cidade (sua cor, textura, escala, estilo, natureza, personalidade, individualidade).
As cidades têm diferentes épocas e, portanto, diferentes estilos, uma variedade de materiais, escalas e formas. É isso que torna a cidade não convencional e interessante. Querer reestruturá-la ordenando-a ordenando-apenordenando-as com simetriordenando-a, equilíbrio, perfeição e concordância e
esquecendo da emoção, da
variedade e da surpresa, é cair no convencionalismo e tirar a “graça” da cidade, tornando-a “chata”,
Conteúdo
“Pior do que cair no
convencionalismo é tentar fugir dele usando de artifícios.”
Ou a cidade é convencional,
ou não é. Há uma tendência de se igualar o desenho urbano e as construções nas cidades,
esquecendo das condições de clima, materiais de construção locais, e, principalmente, o ser humano e suas diferenças.
Conjunto habitacional em Santos - 1967. Habitação seriada e impessoal: mais de três
mil apartamentos e 17 mil habitantes.
Conjunto Habitacional em Berlim – 1920 Arquiteto Bruno Taut
Apropriação do espaço: uso do exterior não só para
circular, mas para atividades sociais, comerciais, etc.
Território ocupado (ocupação estática ou apropriação pelo movimento).
Privilégio: locais mais favoráveis à ocupação do que outros.
Viscosidade: quando, ao mesmo tempo, há ocupação estática
(equipamento) e dinâmica (pelo movimento).
Enclaves: espaços interiores abertos
para o exterior (ruído e luminosidade atenuados). Recintos: acentuam polaridade entre pedestres e veículos (pracinhas, sossego, aconchego). São os locais para onde o tráfego deveria sempre conduzir.
Ponto focal: Para onde converge a vista, ponto de referência.
Unidades urbanas: setores com mesmo padrão de conjunto.
Visão serial
Paisagem interior e
compartimento exterior: zona de transição (nem dentro, nem fora).
Compartimentos e recintos exteriores: estimulam nossa sensação de
posição (estou aqui dentro, estou exposto, etc.). Ligado ao
Visão serial
Recintos múltiplos: pátios internos e externos
(fechados ou semi-fechados e abertos).
Edifício-barreira: serve de limite a linguagens
diferentes, sem impedir necessariamente a
Visão serial
O espaço intangível: emoções num espaço não definido por paredes, mas por
formas de ilusão e de
interpenetração espacial.
Delimitação do espaço: não implica em fechamento. Se deixar antever o que está para além, o
espaço adquire um certo encanto evocativo.
Visão serial
Além: é a qualidade de algo que está ao mesmo tempo presente e sempre fora do nosso alcance: está além. O percurso possível orienta o olhar e nos projeta além dos limites da observação.
Aqui e além: os arcos definem o início da rua comercial,
além. Aqui, sente-se a
vibração, a densidade e a sua distinção.
Visão serial
Silhueta: pináculos do gótico “costuram” o edifício ao céu. Linhas retas o separam.Perspectiva grandiosa: realça o aqui e o além. Sensação de domínio e onipresença.
Visão serial
Divisão de espaços: a divisão entre o aqui e o além não é feita pela divisão ao meio da extensão observada, mas pela divisão ao meio do ângulo de visão.
Perspectiva velada: algo que se oculta e só se revela no último momento
Visão serial
Perspectiva delimitada: trunca a continuidade, convida a
continuar.
Deflexão: variação da
perspectiva delimitada, quando um edifício foge
Visão serial
Saliências e reentrâncias:
encantam, pois o olhar fica embrenhado, o espírito se detém na complexidade e sinuosidade, convidando à reflexão.
Pontuação: como se o percurso fosse uma frase, com
sujeito, predicado, objeto direto, etc. (espaço livre, floreiras, arcos, espelho
d’água, arvoredo, edifícios à média e à longa distância, etc.)
Visão serial
Estreitamentos: muito
comuns nas ruas de Itu. Uma praça que se estreita e vira rua, uma rua larga que se estreita e depois se
alarga novamente, etc. Flutuação: traçado viário desigual (mais coerente com a natureza humana), ao contrário do retilíneo e racional. A espontaneidade é a marca.
Visão serial
Expectativa: o que vem depois?
Infinito: No final da rua, ao invés da sua continuidade, existe o céu.
Visão serial
Mistério: “o desconhecido. Tudo é possível: o sublime, o
sórdido, a genialidade, a loucura...”
Barreiras: ligadas ao conceito de limites, de Lynch.
Normalmente permitem o
acesso visual, mas impedem o físico.