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ATOS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO - PPGE/ME FURB ISSN v. 6, n. 3, p , set./dez APRESENTAÇÃO

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Academic year: 2021

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APRESENTAÇÃO

Esse número da revista Atos de Pesquisa em Educação tem por tema “infância e educação”. Se o tema é o mesmo, a diversidade das abordagens presentes nos diversos artigos, no entanto, permite ao leitor perceber a complexidade da discussão que, em ultima instância, pode ser considerada como a que está no centro das preocupações contemporâneas: a infância e sua educação. Essa é uma questão que já se encontrava presente no surgimento da Sociologia, pois Émile Durkheim (1858-1917) ao mesmo tempo em que institucionalizava essa nova „ciência da sociedade‟, criava sua primeira subdisciplina: a Sociologia da Educação. Isso porque esse sociólogo francês encontrou no conceito de “socialização” (diretamente aplicado à educação das crianças) a resposta que procurava para o problema da ordem e da coesão social; isto é, a resposta para o conflito existente entre o individuo e a sociedade (questão que funda a própria Sociologia – nas suas três matrizes teóricas clássicas). Assim, ao problema do dissenso, Durkheim respondeu com o consenso social. Um consenso que, por excelência, é sempre estabelecido, na visão desse autor, pelo fato social – maneiras de agir, sentir e pensar, que têm por características serem exteriores (objetivos, independentes) ao individuo, mas dotados de um poder de coerção em virtude do qual se impõem às consciências individuais. Portanto, a socialização ou educação da criança na família e, depois, na escola, é o processo que garante a transmissão, às novas gerações, dos fatos sociais já estabelecidos em uma sociedade pelas gerações precedentes. Isto é, a socialização é o veiculo de transmissão entre gerações que visa garantir a coesão social, o que possibilita a continuidade de uma sociedade no tempo e no espaço e, portanto, possibilita sua reprodução.

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construção social e histórica. O princípio da criança-ator leva a se passar da visão determinista que coloca a ênfase nos fatores estruturais que pesam sobre ação social para a análise da capacidade de ação (agency) da criança; e o princípio da construção social da infância questiona a idéia desta como categoria definida simplesmente pela biologia, passando a entender seu significado como variável do ponto de vista histórico, cultural e social e sempre sujeito a um processo de negociação tanto na esfera pública quanto na privada.

O questionamento da hegemonia funcionalista presente na teoria sociológica, no entanto, somente pode ser pensado ou somente se tornou possível no contexto da “reviravolta teórica” ocorrida nas Ciências Sociais a partir dos finais da década de 70. Essa virada teórica foi o que possibilitou o “retorno do ator” e a volta das sociologias interpretativas, movimentos diretamente associados à emergência do paradigma construtivista nas ciências sociais.

É neste contexto de virada teórica que emerge a SI como um novo campo de estudos, diferenciando-se, no entanto, de outras disciplinas das ciências sociais que até então tinham a infância e a criança por objetos de estudo subsumidos nas instituições família e escola. Nestas disciplinas (sociologia da educação, sociologia da família) a criança pode ser compreendida mais como uma “presença ausente”, pois não lhe era reconhecida nenhuma forma de protagonismo, sendo raramente eleita como objeto de estudo autônomo.

As idéias da criança como “ator social” e a da infância como “construção social” – sendo premissas básicas da SI são, no entanto, de difícil compreensão pela sociedade mais ampla porque ferem frontalmente a imagem tradicional da criança enquanto ser passivo, heterônomo, frágil, dependente, e em “processo de socialização”, isto é, a criança como ser social inacabado. Mas estas premissas trazem também dificuldades de outra ordem e trata-se do fato de que sua rápida assimilação por algumas áreas que têm a infância e a criança como alvo de investigação e/ou intervenção não tem tido igual correspondência no aprofundamento das questões centrais que lhe servem de base. A saber, questões teóricas que estão relacionadas ao próprio surgimento das ciências sociais: as dialéticas relações entre o ator e a estrutura social (considerando também o que se entende por esses conceitos) e o concomitante entrelaçamento entre os níveis micro e macro de análise.

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que, tal como os adultos, não tem total autonomia e independência em relação às estruturas sociais, por outro lado, sabe-se que as crianças são mais especialmente visadas pela ação das instituições: suas vidas e comportamento são mais normativamente prescritos. Assim, a ênfase sobre a criança como “ator social” revela-se especialmente problemática no que esse principio - ao “resgatar” teoricamente as crianças do fundo da cena social, trazendo-as para o primeiro plano da análise - pode, num movimento simultâneo que envolve as questões da reflexividade do conhecimento no senso comum douto (na expressão de Bourdieu), falsificar a dimensão do fenômeno. O risco é o de que, uma vez caída no “senso comum” dos pesquisadores, a idéia da criança como ator social competente pode levar à falsa impressão de que o cotidiano social das crianças tenha, como que por um “passe de mágica teórica”, se transformado radicalmente. É nisto que se deve insistir: o que se transformou (e podemos considerar já um grande avanço) foi a forma como a sociologia passou a entender a participação das crianças na construção do mundo em que vivem – tanto o “infantil” quanto o “adulto” (e que, na verdade as antecede, envolve e ultrapassa) e não as suas condições concretas de existência como indivíduos menores de idade a quem são historicamente negados a razão, a palavra, o conhecimento, o poder de decisão, entre outras competências “adultas”.

É importante, portanto, perceber que a “emancipação” da criança se dá no plano teórico e não necessariamente na vida cotidiana. Essa relação entre o discurso científico e a realidade a que ele se refere deve ser situada no quadro da reflexividade da vida social moderna, ou no que o sociólogo britânico Anthony Giddens chama de “dupla hermenêutica” como um “modelo de reflexividade” nas Ciências Sociais: os saberes produzidos sobre as práticas sociais cotidianas e estas mesmas, realimentam-se mútua e continuamente. É por isto que o conceito de “dupla hermenêutica” consta como também um dos elementos ou princípios na construção do novo paradigma dos estudos sociais sobre a infância: ou seja, teorizar

sobre o fenômeno implica envolver-se no seu processo de

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Aos pesquisadores, portanto, o desafio de tratar essas questões que são, a um só tempo, teóricas e políticas. Consideramos que nos artigos que compõem esse numero da Atos de Pesquisa em Educação esse desafio pode ser observado a partir dos diferentes enfoques dados ao tema da infância e sua educação. Os cinco primeiros artigos o abordam a partir da Sociologia da Infância, mas apresentamos também artigos de pesquisadores que foram convidados a trazer aos leitores os resultados de suas pesquisas e reflexões sobre infância e educação a partir das perspectivas da Psicologia do Desenvolvimento e da Filosofia da Linguagem, da Sociologia da Educação e da historiografia.

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“jeitos” que as crianças encontram para se opor ou transpor o que lhes é imposto ou determinado pelos adultos no contexto da creche.

Visando gerar subsídios para a prática pedagógica da educação infantil como mediadora do desenvolvimento das crianças, o artigo de Gilvana Maia e Julianne Fischer enfoca as ações e relações de crianças de 0 a 2 anos com suas professoras e no grupo de pares a partir da abordagem da psicologia do desenvolvimento de Vigotski e da filosofia da linguagem de Baktin, apontando a multiplicidade de sentidos atribuídos pelas professoras às ações das crianças e a compreensão das próprias crianças a respeito de sua organização social e participação ativa no reconhecimento e transgressão das regras no contexto da creche. Na perspectiva da historiografia, definida pelos autores como a “historia da historia”, o artigo de Névio de Campos e Danielle Marafon discute a presença das temáticas infância e educação da infância nos textos publicados nos anais dos Congressos Brasileiros de História da Educação (CBHE), no período de 2000 a 2008, enfatizando sua recorrência e formas de abordagem. O artigo de Fernanda F. do Vale e Leila M. F. Salles trata o tema da violência escolar analisando a escola como um espaço de constantes conflitos gerados tanto externa quanto internamente e que não devem ser concebidos apenas como fatores negativos para o processo de ensino e aprendizagem, defendendo a importância da construção de um projeto educacional que leve em conta as situações de conflito no ambiente escolar. Por fim, a partir do enfoque da nova sociologia da educação, o artigo de Marcela G. Fontes e Ruth de Sant`Ana trata da disciplina e resistência ao poder escolar a partir da fala de adolescentes de escolas publicas, enfocando os conflitos professor-aluno como formas de resistência ou de ruptura, por parte dos adolescentes, com a rotina da sala de aula, mas também como experiências de libertação de modo a criar situações em que consigam se fazer ouvir em seus desejos e direitos como sujeitos participantes do processo social e educacional.

Referências

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