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AS ELITES POLÍTICAS BRASILEIRAS

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Academic year: 2021

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AS ELITES POLÍTICAS BRASILEIRAS

Aluno: Leandro Marinho Professor: Eduardo Raposo

Introdução

Elites Políticas é um tema clássico do pensamento ocidental. Desde os primórdios da democracia, na Grécia Antiga, já se discutia a questão das elites. Platão, em seu livro A República, está traçando crítica aos mecanismos igualitários dentro da sociedade, na qual vivia, e pensando a desigualdade natural dos homens. De acordo com o filósofo, os mais aptos a realizar determinada téchne deveriam realizá-la. Se a alma de um indivíduo era como bronze ou prata não existia razão para este atuar nas mais altas atividades dentro da pólis.

No mundo antigo, medieval e mesmo moderno persistiu o tema da existência de indivíduos mais aptos a realizar a política do que outros. Maquiavel, Thomas Hobbes, John Locke, Montesquieu são alguns dos exemplos de grandes pensadores, os quais trabalharam nessa questão concordando com a existência de elites políticas.

A mudança mais significativa, envolvendo a desigualdade humana, se deu com a filosofia de Jean-Jacques Rousseau, no século XVIII.

Rousseau “apostava” na igualdade natural humana. Desse modo a teoria das elites políticas, em sua perspectiva moderna, surge em grande parte para contra argumentar o pensamento Rousseauniano e de seus seguidores. Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca e Robert Michels estão revivendo a corrente intelectual da desigualdade humana. E, mesmo existindo diferenças nas teorias desses três, em uma questão eles convergem: a democracia é falha. Sempre existe uma minoria, com habilidades raras, governando uma maioria de desorganizados.

Objetivo

A presente pesquisa, tendo como fundamento a teoria das elites moderna, deseja refletir, tanto em âmbito quantitativo quanto qualitativo, sobre as Elites Políticas Brasileiras. Nosso recorte inicial vai do governo de João Goulart até o segundo mandato de Lula.

Por que estudar as elites? Porque existe, segundo a teoria de Pareto, constante fluxo de alternância de atores dentro das elites. Ou seja, acreditar que a elite governante em um governo democrático se mostrará a mesma de um governo autoritário, se mostra uma hipótese frágil.

Assim, uma série de variáveis históricas também influi neste processo. A elite política de Castelo Branco (um estabilizador Sorbonnista) não será a mesma de Médici (um desenvolvimentista com padrão continuísta em relação ao governo de Costa e Silva). Do mesmo modo, a elite política de Goulart (um vice-presidente, o qual chega à presidência de maneira inesperada, com baixo apoio no congresso e diante de uma grave crise), não vai se mostrar igual ao padrão da elite formada por Fernando Henrique Cardoso (um governante cercado de intelectuais e pautado em um eficaz presidencialismo de coalizão).

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Estudar as elites políticas, do nosso país, é uma forma de entendermos o que é o Brasil. Em seu presente, em seu passado e suas transformações ao longo do tempo.

Metodologia

Entendemos como as instituições mais importantes a serem estudadas, dentro dos mecanismos institucionais: os ministérios, secretárias com status de ministérios e bancos federais estratégicos. Logo, as pessoas que estão à frente desses cargos, dentro de nosso recorte, serão consideradas como elites políticas1.

Traçamos então uma lista, elaborada com base na Biblioteca da Presidência da República, de quais nomes fazem parte de nosso quadro de pesquisa, em um total de 822 atores, distribuídos entre 134 instituições a serem estudados. Para em seguida, realizar uma pesquisa biográfica almejando entender suas características em comum e suas diferenças.

Como questão principal, pairava a dúvida: Quais são os critérios de recrutamento de nossas elites políticas federais?

Para obter resposta, de forte base empírica, elaboramos um questionário com 21 perguntas principais envolvendo: o grau de escolaridade do ator em análise, sua origem regional, sua possível ligação familiar com a política, sua possível relação com a iniciativa privada, sua potencial ligação partidária, a relação com algum dos outros poderes da União, a profissão de seu pai, dentre outras questões.

Para pesquisar a vida desses atores, foi indispensável o material fornecido pelos Verbetes do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro da FGV. Todo o material coletado foi colocado em um banco de dados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para a criação de cruzamentos, gráficos, tabelas etc.

Desenvolvimento da pesquisa

A presente pesquisa agora entra em fase crucial de análise estatística descritiva.

Todos os 822 atores contemplados tiveram seus dados computados no banco e nos proporcionaram uma base com mais de cinco mil informações.

Uma grande série de tabelas de frequências está sendo feita. Somado a isso, gráficos já estão sendo produzidos, assim como cruzamentos entre as diversas informações colhidas. As hipóteses formuladas sobre o recrutamento de nossas elites políticas, agora serão passíveis de análises mais holísticas, apontando se nossas previsões se mostram verdadeiras ou não.

Dentro do nosso universo de hipóteses estão: certo padrão educacional das elites, instabilidade das instituições políticas brasileiras, indicada pelo grau de circulação dos titulares das mesmas, concentração das elites em certas regiões e estados do país, maior ou menor número de cotas políticas e técnicas em determinados governos2, maior ou menor ligação com áreas específicas da iniciativa privada, número de atores em cada governo com filiação partidária, etc. Os gráficos a seguir podem ajudar a compreender melhor:

Gráfico 1

1 Como fica claro, estamos estudando apenas as elites políticas federias do executivo. Não contemplando na pesquisa as elites do legislativo, do judiciário, de outros níveis de poderes da União, da sociedade civil, etc.

2 Cota técnica como o ator social, o qual chega a sua posição de elite por meritocracia. Cota política como esse indivíduo que chega a sua posição de mando por filiação a determinado partido, assim fazendo parte da base de governo. Em um quadro, a ser mais bem pensado, dentro da lógica de presidencialismo de coalizão.

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Gráfico2

Como pode ser observado nos gráfico acima, num comparativo, o percentual de atores políticos com doutorado e especialização é maior no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso do que no primeiro governo de Luís Inácio Lula da Silva.

Isto pode ter ligação direta com as diretrizes de cada governo: a preocupação de FHC em estabilizar a economia nacional e as próprias características do partido, o qual representava o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) muito provavelmente influenciaram a escolha por um número maior de atores com alto grau de escolarização.

A conjuntura político-econômica exigia um maior número de técnicos ocupando pastas estratégicas.

Já o primeiro governo Lula, podemos observar a predominância de atores políticos cujo grau de instrução vai até o Ensino Superior. Isto é significativo se atentarmos para o melhor contexto econômico em que este governo está inserido e levarmos em conta as características históricas do Partido dos Trabalhadores. Mesmo no âmbito econômico Lula mantendo importantes nomes da administração econômica e dando continuidade a estabilidade monetária no país.

É necessário ressaltar que estas são análises parciais e simplistas, diante das possibilidades das informações disponíveis em nosso banco de dados, que merecem

3% 2%

21%

20%

8%

34%

12%

0%

FHC I - Instrução(porcentagem)

Até o ensino médio Superior incompleto Superior completo Especialização Mestrado Livre-docência Doutorado Formação Militar Carreira Diplomática

5%

9%

33%

18%

12%

20%

3%

Lula I - Instrução(porcentagem)

Até o ensino médio Superior incompleto Superior completo Especialização Mestrado Livre-docência Doutorado Formação Militar Carreira Diplomática

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maior atenção e necessitam um olhar minucioso. Se aqui observamos apenas um gráfico destinado ao governo Fernando Henrique Cardoso, em seu primeiro mandato, e de Lula, igualmente em primeiro mandato. Vale ressaltar que essa pesquisa pode proporcionar análises bem mais amplas.

A fim de demonstrar o potencial deste trabalho e, consequentemente, do nosso banco de dados, será apresentado mais um gráfico que sem dúvida poderá ajudar nas interpretações sobre o Brasil no período que nós nos debruçamos.

Gráfico 3

Este terceiro gráfico é muito simbólico. Mesmo não estando ponderado pelo tempo de duração de cada governo3, oferece um registro importantíssimo de nossa história. Ao analisarmos esta representação podemos perceber características, como a baixa porcentagem de atores políticos nos principais cargos do governo federal durante o período da ditadura militar. No entanto, ao atentarmos para o período democrático, algumas pistas sobre o novo momento histórico podem ser apreendidas. De imediato é possível notar a elevação disparada na porcentagem da elite política no governo de José Sarney, o que pode ser explicado pelo retorno à democracia plena no Brasil.

Em seguida há uma queda brusca e impactante no governo Collor, ainda mais levando em consideração o governo subsequente, de Itamar Franco, que também possuiu curta duração de seu mandato. A tendência se mantém durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso, mas no primeiro mandato de Lula há uma elevação bastante considerável. Isso poderia ser explicado pela forte e numerosa coalizão partidária que levou Lula ao poder, isto é, o alto número de atores políticos com filiação partidária no primeiro governo Lula pode ser resultado da distribuição de cargos com base no critério da cota política.4

Mais uma vez cabe dizer que estas são análises preliminares. Que estão em fase de desenvolvimento. Porém, ainda assim, demonstram o imenso potencial desta pesquisa.

Deve-se agora trabalhar, ainda mais, em busca de resultados que sejam condizente e fidedigno à nossa história, oferecendo chaves de compreensão para o Brasil.

Referências

3 A ponderação pelo tempo evita possíveis distorções numéricas entre governos, os quais por possuírem durações variadas podem terminar criando algumas confusões na análise.

4 Como outra parte de nosso estudo está apontando.

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ABRANCHES, Sérgio H. H. de. Presidencialismo de Coalizão. O Dilema Institucional Brasileiro. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1987.

GRYNSZPAN, Mário. Ciência, política e trajetórias sociais: uma sociologia histórica da teoria das elites. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999

HOLLANDA, Cristina Buarque. Teoria das Elites, 1ªed. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.

RAPOSO, Eduardo. Banco Central do Brasil: O Leviatã Ibérico, uma interpretação do Brasil Contemporâneo. 1ª ed. São Paulo; Rio de Janeiro: Editora Hucitec; Editora PÚC- Rio, 2011.

http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx http://www.presidencia.gov.br/info_historicas

Referências

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