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UM ESTUDO SOBRE O PERFIL ARQUETÍPICO PREDOMINANTE EM
UM GRUPO DE MULHERES FINANCEIRAMENTE INDEPENDENTES
DA CIDADE DE BAURU
Ana Paula de Toledo Afonso Orientadora: Dra. Mônica Perri Kohl Greghi
Palavras-chave: arquétipo; feminino; Jung.
1 INTRODUÇÃO
Restringimos o presente estudo a um grupo de mulheres com características específicas, vislumbrando descobrir, por meio das deusas gregas, o perfil arquetípico predominante no grupo pesquisado.
Tendo em vista a concepção junguiana de que representações mitológicas equivalem a aspectos arquetípicos, o estudo teve como objetivo investigar, por meio das deusas gregas, qual o aspecto arquetípico predominante em um grupo de mulheres solteiras, independentes financeiramente, residentes na cidade de Bauru.
A presente pesquisa se justifica tendo em vista a necessidade da mulher atual libertar-se de estigmas sociais que restringem sua felicidade a papéis impostos pela cultura patriarcal, ainda existente na sociedade atual, necessidade esta que reflete em sua realização pessoal e favorece uma nova percepção de completude.
2 METODOLOGIA
2.1 Sujeitos
Foram sujeitos deste estudo 12 mulheres solteiras, independentes financeiramente, na faixa etária de 35 a 45 anos e que vivem na cidade de Bauru.
2.2 Local
A aplicação dos instrumentos de pesquisa foi realizada nos locais de trabalho dos sujeitos participantes com prévio agendamento.
2.3 Procedimentos
A pesquisadora deslocou-se até três empresas da cidade de Bauru, com data e horário previamente agendados.
Anteriormente à entregada do material aos sujeitos, foi explicado objetivo da coleta dos dados e em cumprimento aos procedimentos éticos, solicitou-se a assinatura do termo de consentimento, explicando-se a pesquisa e assegurando aos sujeitos o sigilo dos dados coletados.
2.4 Análise dos dados
Os dados coletados foram analisados por meio da utilização de método quantitativo representado por pontos percentuais.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Resultados
O resultado do presente estudo foi obtido por meio de entrevistas e da aplicação do questionário “Roda das Deusas”, elaborado por Woolger e Woolger no livro “A Deusa Interior” (1989). Após a correção do questionário aplicado no grupo escolhido, obtivemos o seguinte resultado:
Figura 3 - Deusa Afrodite
Fonte: <http://missframbroesa.blogspot.com/2006_08_01_archive.htm>. Acesso em: 05 out. 2010
Do total de participantes da pesquisa, 58,1%, número que corresponde a sete mulheres, apresentaram o perfil arquetípico da deusa Afrodite. Os outros 41,9% restantes ficaram distribuídos da seguinte forma: Ártemis: 8,3% = 1 mulher; Perséfone: 8,3% = 1 mulher; Atena: 8,3% = 1 mulher; Afrodite/Perséfone: 8,3% = 1 mulher e Afrodite/Perséfone/Ártemis: 8,3% = 1 mulher, sendo que os perfis das deusas Hera e Deméter não foram constatados em nenhuma das mulheres entrevistadas.
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3.2 Discussão Para Bolen (1990),
As deusas virgens1 representam a qualidade de independência e autosuficiência,
os afetos emocionais não as desviavam daquilo que consideravam importante. Como arquétipo, elas expressam a necessidade de autonomia e capacidade que as mulheres têm de enfocar sua percepção naquilo que é pessoalmente significativo (p 39).
Para o autor, as deusas vulneráveis são alegorias dos papéis tradicionais de esposa, mãe e filha. São frequentemente orientadas para a alteridade, e sentem-se bem num relacionamento significativo. Prossegue com a idéia de que “Afrodite está na terceira categoria, a das deusas alquímicas. Assim, manteve sua autonomia como deusa virgem (invulnerável), mas nos relacionamentos era uma deusa vulnerável (1990, p.40)”.
Mitologicamente, a deusa Afrodite chama a atenção dos mortais e das divindades, pois representa a imagem da força transformadora e renovadora do amor. Sua classificação é única como deusa alquímica, devido à energia modificadora que solitariamente desempenha (BOLEN, 1990).
Quando este arquétipo é predominante, há a manifestação da criatividade ou do contato sexual; mesmo apresentando algumas semelhanças com as deusas virgens e até mesmo com as vulneráveis, a deusa em questão não faz parte de grupo algum (BOLEN, 1990).
A mulher-Afrodite apresenta muita energia para a realização de tudo que lhe traz emoção, demonstrando não ser apenas ligada ao envolvimento sexual, mas também ao envolvimento amoroso com a vida e com as coisas que realmente valoriza. De certa forma, todo potencial desta deusa, agregado à sua sensualidade e sexualidade, intimida os homens, que têm receio de perder o controle que detém na sociedade patriarcal (WOOLGER; WOOLGER, 1989).
A característica da mulher-Perséfone, normalmente, é ficar à espera de que algo ou alguém cause mudanças em sua vida, por ser dependente, insegura, submissa e não tão determinada à ação (BOLEN, 1990).
Conforme Brandão (2001),
Quando é Core-Perséfone que estrutura a personalidade, ela predispõe a mulher não para agir, mas para ser conduzida por outrem, vale dizer, para ser complacente na ação e passiva nas atitudes. Perséfone, enquanto Core, faz que a mulher tenha com freqüência o comportamento de uma puella, de uma jovem, de uma menina. Na realidade, a filha de Deméter se polariza como Core, a jovem, e como Perséfone, a deusa madura, rainha do Hades. Esta dualidade está igualmente estampada em dois padrões arquetípicos: a Coremulher, uma espécie de puella aeterna, e a Perséfone-mulher, mais adulta, mais amadurecida, sem deixar, porém, como filha de Deméter, de ser uma incansável prodigalizadora. No raro, os dois aspectos se aglutinam numa só mulher (p. 346).
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Para a mulher-Atena, adaptar-se ao universo patriarcal parece ser mais fácil. Segundo Bolen (1990), Atena é considerada a deusa da sabedoria, valoriza o pensamento e a lógica, sempre busca o que deseja e suas ações são mais refletidas que impulsivas.
A exemplo de Atena, Ártemis também é uma deusa relacionada à liberdade da alma feminina. A mulher-Ártemis apresenta arquetipicamente habilidade para
competição e potencialidade de traçar metas (BRANDÃO, 2001). Woolger e Woolger (1989) destacam que “poderíamos dizer que Atena tem a cabeça dura, enquanto Ártemis tem o corpo rijo” (p. 78).
Para Jung (1981):
A este segmento arbitrário da psique coletiva, elaborado às vezes com grandes esforços, dei o nome de persona. A palavra persona é realmente uma expressão muito apropriada, por quanto designava originalmente a máscara usada pelo ator, significando o papel que ia desempenhar (...) Como seu nome revela, ela é uma simples máscara da psique coletiva, máscara que aparenta uma individualidade, procurando convencer aos outros e a si mesma que é uma individualidade, quando, na realidade, não passa de um papel, no qual fala a psique coletiva (...) A persona é uma aparência, uma realidade bidimensional, como se poderia designá-la ironicamente. (p.146-147)
Sanford (1988) refere que as qualidades que destoam da personalidade consciente vêm a constituir a sombra. Essas qualidades passam a ser rejeitadas, mas, não cessam de existir em função da negação de sua expressão direta. Elas formarão uma segunda personalidade denominada “sombra”.
Os arquétipos têm essa função de re-orientação psíquica para a individuação. Jung referiu (1981) que uma das metas da individuação é a de diferenciação dos invólucros da persona, propiciando o aparecimento da verdadeira essência do indivíduo. No processo de individuação, a verdadeira personalidade passa a ser integrada gradativamente, com o afrouxamento das demandas da persona, conforme se vai realizando a aproximação com o si-mesmo.
4 Conclusão
O resultado apresentado apontou para um maior número de perfis da deusa Afrodite, quando se esperava encontrar a predominância de perfis das deusas Atena ou Ártemis, o que foi uma refutação do pressuposto inicial.
Talvez estejamos diante da apresentação de um feminino que evidencia uma cisão, a qual fica na persona destas mulheres as deusas invulneráveis e fortes, em prol de atenderem a expectativas sociais e patriarcais, sendo que na sombra residiriam adormecidas as deusas vulneráveis.
REFERÊNCIAS
BOLEN, J. S. As deusas e a mulher: nova psicologia das mulheres. 8. ed. São Paulo: Paulus, 1997.
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HUMBERT, E. G. Jung. 2. ed. São Paulo: Summus, 1985.
JUNG, C.G. Estudos sobre Psicologia Analítica. 2.ed. Petrópolis: Vozes,1981. SANFORD, J. A. MAL: o lado sombrio da realidade. São Paulo: Paulinas, 1988.
WOOLGER, R.; WOOLGER, J. B. A Deusa Interior: um guia sobre os eternos mitos femininos que moldam nossas vidas. São Paulo: Cultrix, 1989.