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A IMPORTÂNCIA DO IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA GARANTIR A MANUTENÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: CONSEQUÊNCIAS JURÍDICO/CONSTITUCIONAIS DA AUSÊNCIA DO TRIBUTO NA CONSTRUÇÃO DA JUSTIÇA SOCIAL

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PABLO FERNANDES FAVARETO

A IMPORTÂNCIA DO IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA GARANTIR A MANUTENÇÃO DOS DIREITOS

FUNDAMENTAIS.

CONSEQUÊNCIAS JURÍDICO/CONSTITUCIONAIS DA AUSÊNCIA DO TRIBUTO NA CONSTRUÇÃO DA JUSTIÇA SOCIAL

Palhoça 2017

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PABLO FERNANDES FAVARETO

A IMPORTÂNCIA DO IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA GARANTIR A MANUTENÇÃO DOS DIREITOS

FUNDAMENTAIS.

CONSEQUÊNCIAS JURÍDICO/CONSTITUCIONAIS DA AUSÊNCIA DO TRIBUTO NA CONSTRUÇÃO DA JUSTIÇA SOCIAL

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Nélio Herzmann Junior, Esp.

Palhoça 2017

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PABLO FERNANDES FAVARETO

A IMPORTÂNCIA DO IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA GARANTIR A MANUTENÇÃO DOS DIREITOS

FUNDAMENTAIS.

CONSEQUÊNCIAS JURÍDICO/CONSTITUCIONAIS DA AUSÊNCIA DO TRIBUTO NA CONSTRUÇÃO DA JUSTIÇA SOCIAL

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 19 de junho de 2017.

_________________________________________ Prof. e orientador Nélio Herzmann Junior, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________________ Prof. Hercílio E. Lentz, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________________ Profa. Andreia Catine Cosme, Msc.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

A IMPORTÂNCIA DO IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA GARANTIR A MANUTENÇÃO DOS DIREITOS

FUNDAMENTAIS.

CONSEQUÊNCIAS JURÍDICO/CONSTITUCIONAIS DA AUSÊNCIA DO TRIBUTO NA CONSTRUÇÃO DA JUSTIÇA SOCIAL

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça, 19 de junho de 2017.

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Dedico este trabalho para minha mãe Lucila por sempre incentivar-me a seguir constantemente estudando.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela iluminação, tornando possível a realização deste trabalho;

A UNISUL, Universidade do Sul de Santa Catarina, pela oportunidade;

Aos meus pais, pelo incentivo e ajuda dedicados;

A minha noiva Fabiana, pela paciência, compreensão e incansável incentivo;

Ao meu irmão Luan, por respeitar minhas ausências profissionais neste período;

Ao amigo Rafael, pelo incentivo ao ingresso no curso de Direito e pelas constantes ajudas dedicadas no decorrer do período da graduação;

Ao primo Henrique, por todo o auxílio dedicado durante o curso;

Ao Prof. Nélio Herzmann Junior, por aceitar o desafio de orientar-me;

Aos professores, colaboradores e colegas de estudo, pelos ensinamentos compartilhados.

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RESUMO

Diante da necessidade de se melhorar as condições de vida dos brasileiros e em busca da diminuição das desigualdades sociais do país, muito se discute quais seriam as ações possíveis e necessárias para se alcançar essas soluções almejadas.

Desta forma, os tributos, em razão de sua importante função social, podem e devem ser utilizados como instrumentos de distribuição de renda e redução das desigualdades. Neste contexto surge a discussão acerca da necessidade ou não da regulamentação do Imposto Sobre Grandes Fortunas no Brasil, visto que este imposto foi o único de competência da União que ainda não foi instituído.

Sendo assim, o presente trabalho buscou descrever o sistema de Federalismo Cooperativo adotado no Brasil e através dele desencadear uma série de discussões quanto aos princípios da capacidade contributiva, da igualdade e da solidariedade, fazendo uma análise quanto a não instituição do ISGF e o paradoxo social com os objetivos da República Federativa do Brasil em construir uma sociedade livre, justa e solidária, principalmente ao que se verificou pela não observância dos princípios da força normativa, da máxima efetividade das normas da supremacia constitucional no que compete ao ISGF.

Palavras-chave: Desigualdade Social. Imposto Sobre Grandes Fortunas. Justiça Social. Capacidade Contributiva. Tributos.

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LISTA DE SIGLAS

CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 ISGF – Imposto Sobre Grandes Fortunas

LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal

CCJ - Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania ADI – Ação Indireta de Inconstitucionalidade

PL - Projeto de Lei de iniciativa do Senado PLP - Projeto de lei do Senado Complementar STF – Supremo Tribunal Federal

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 09

2 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO - DIVISÃO DO PODER ... 11

2.1 FEDERALISMO ... 11

2.1.1 Características básicas do Estado Federal ... 11

2.2 ESTADO FEDERAL ... 13

2.2.1 Federalismo Cooperativo Brasileiro ... 14

2.2.2 Competências ... 17

2.3 DIFICULDADES QUE ENVOLVEM A COOPERAÇÃO ENTRE OS ENTES FEDERATIVOS ... 18

3 A IMPORTÂNCIA DOS TRIBUTOS COMO INSTRUMENTOS PARA A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ... 22

3.1 FUNÇÃO SOCIAL DOS TRIBUTOS 23 3.2 PRINCÍPIOS COMO LIMITES AO PODER DE TRIBUTAR ... 25

3.2.1 Princípio da Capacidade Contributiva ... 26

3.2.2 Princípio da Igualdade ... 28

3.2.3 Princípio da Solidariedade ... 29

4 IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS ... 32

4.1 OMISSÃO LEGISLATIVA ... 36

4.1.1 Cenário político/jurídico atual ... 38

4.1.2 Paradoxo social em relação ao objetivo de construir uma sociedade livre, justa e solidária ... 41

5 CONCLUSÃO... 46

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como finalidade a elaboração de uma análise acerca do Imposto sobre Grandes Fortunas (ISGF) e indicar que embora não exista uma consequência jurídica/constitucional à União pela falta do tributo, tem-se um grande paradoxo social em relação ao objetivo de construir uma sociedade livre, justa e solidária.

A pesquisa desenvolveu-se metodologicamente através do método dedutivo que conforme Galliano (1979, p. 39) ―consiste em tirar uma verdade particular de uma verdade geral na qual ela está implícita‖, tendo por base a análise de material bibliográfico e documental e doutrinas. O trabalho foi formulado através do estudo do sistema jurídico brasileiro, da leitura de livros, artigos científicos publicados na internet e nas revistas de Direito Constitucional e Tributário.

Assim, pretende apresentar a importância da instituição do ISGF na concretização dos objetivos da República Federativa do Brasil e sua relevância na diminuição das desigualdades sociais e dos fatores de marginalização.

No primeiro capítulo o estudo demonstra as formas de organização do Estado e sua divisão de poder, conceitua o federalismo cooperativo e compreende as competências comuns e concorrentes dos Entes federados.

Já no segundo capítulo, o qual se intitula: ―A importância dos tributos como instrumentos para a distribuição de renda‖, o estudo analisa que a República Federativa do Brasil se configura em um Estado Democrático de Direito, que protege na Constituição, os direitos individuais e coletivos. Aborda os princípios que estão diretamente ligados à temática.

Por fim, no terceiro capítulo o estudo é direcionado no sentido de se entender pontos importantes referentes às especificidades do imposto abordado. Apresenta a única das competências tributárias atribuída à União que ainda não foi instituída, prevista no art. 153, inciso VII, da Constituição Federal de 1988 e demonstra o porquê a União não sofre nenhuma sanção por não atender o que estabelece a Carta Magna de 1988, sabendo-se que os estados e municípios são penalizados constantemente ao não cumprimento de suas competências.

Sendo assim, a colaboração da pesquisa se dá mediante a discussão ao analisar os aspectos subjacentes à omissão legislativa na instituição do ISGF,

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principalmente num país em que é imensa a desigualdade social e incessante deve ser a busca por instrumentos de diminuição das disparidades.

O interesse pelo tema vem da preocupação quanto à supressão legislativa na instituição do ISGF, principalmente ao que se pode analisar pela falta de atenção aos objetivos da República e os fatores de marginalização da sociedade brasileira, também pelo interesse na análise ao princípio da capacidade contributiva e como este instrumento pode e deve ser utilizado na construção de um país mais igualitário.

Por fim, e ainda mais importante, pretendeu-se analisar as consequências jurídico-constitucionais que podem não afetar a União diretamente, mas atingem a sociedade em geral pela falta do ISGF.

A futura monografia, assim, não tem a finalidade de oferecer solução para uma problemática atual, sem dúvida complexa e por isso estimulante, mas, buscar mostrar a realidade problematizada.

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2 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO - DIVISÃO DO PODER

A organização e a estrutura do Estado serão analisadas sob três aspectos: forma de governo, sistema de governo e forma de Estado. Assim, tem-se que a forma de governo de um Estado pode ser República ou Monarquia, o sistema de governo presidencialismo ou parlamentarismo e, por sua vez, a forma de Estado pode organizar-se em Unitário ou Federação.

Desta maneira, o Brasil adotou a forma republicana de governo, o sistema presidencialista de governo e a forma federativa de Estado.

2.1 FEDERALISMO

O federalismo inicia-se nos Estados Unidos, como resposta à necessidade de um governo eficiente em extenso território, que, ao mesmo tempo, garantisse os ideais republicanos que vingaram com a revolução de 1776.

Para garantir a independência então conquistada, as antigas colônias britânicas firmaram um tratado de direito internacional, criando uma confederação, que tinha como objetivo básico preservar a soberania de cada antigo território colonial.

2.1.1 Características básicas do Estado Federal

Estado Federal define-se como um Estado soberano, constituído de Estados Federados, ou seja, Estados Membros, dotados, não de soberania, mas apenas de autonomia, os quais têm poder constituinte próprio, decorrente do poder constituinte originário que fez a Federação. Seguindo a filosofia americana, outros Estado adotaram esse modo de ser, cada um respeitando suas necessidades e características individuais.

Este modelo implica na descentralização do poder, nos expressos termos do art. 18 da Constituição Federal:

A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. (BRASIL, 1988).

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Assim fica claro que o Brasil define-se como um Estado Federal, onde cada um tem autonomia. A descentralização do poder se dá na esfera administrativa e política.

Aos Estados Membros é permitido, executar suas leis e também elaborá-las. Eles têm o poder de adotar uma Constituição elaborada por eles mesmos, porém, ficam obrigados a respeitar a lei maior, ou seja, a Constituição Federal. Contudo, essas atribuições dos Estados membros de legislar devem ser um direito que a União não pode subtrair por se tratar de direitos previstos na Constituição Federal.

Das idéias acima expostas é importante citar as principais características do Estado Federal: a) caráter permanente (indissolúvel) do vínculo que une os Entes que o compõem; b) formalização por meio de uma Constituição; c) repartição de competências entre o poder central e os Entes parciais; d) soberania do Estado Federal; e) autonomia dos Entes Federados; f) direito de participação das vontades parciais na vontade central; g) possibilidade de intervenção, para garantia do pacto federativo.

Desta forma, a Constituição Federal age como fundamento de validade das ordens jurídicas parciais e centrais. Ela confia unidade à ordem jurídica do Estado Federal, com o objetivo de traçar um compromisso entre as pretensões de cada região e os interesses comuns às esferas locais em conjunto. A Federação gira em torno da Constituição Federal, que é o seu alicerce jurídico e instrumento regulador.

Ainda, defende-se, que a Constituição Federal deve ser rígida e que o princípio federalista deve ser cláusula pétrea, para garantir que a União possa transformar a Federação em Estado unitário.

À vista dessas características substanciais do Estado Federal é possível estabelecer um conceito amplo desse ente, conforme Paulo Gustavo Gonet Branco (2014, p. 1000):

É correto afirmar que o Estado Federal expressa um modo de ser do Estado (daí se dizer que é uma forma de Estado) em que se divisa uma organização descentralizada, tanto administrativa quanto politicamente, erigida sobre uma repartição de competências entre o governo central e os locais, consagrada na Constituição Federal, em que os Estados federados participam das deliberações da União, sem dispor do direito de secessão. No Estado Federal, de regra, há uma Suprema Corte com jurisdição nacional e é previsto um mecanismo de intervenção federal, como procedimento assecuratório da unidade física e da identidade jurídica da Federação.

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Desta senda, a finalidade do federalismo é manter o equilíbrio de poder entre os diversos territórios, para que cada um deles tenha sua própria legislação em alguns aspectos e assim possam conectar-se diretamente com as necessidades dos habitantes. Ao mesmo tempo, esta estrutura se opõe a outra, o centralismo, baseado na concentração de poder e no não reconhecimento da pluralidade de um país.

2.2 ESTADO FEDERAL

O Estado Federal surgiu exatamente para se contrapor ao Estado Absolutista onde o soberano concentrava todos os poderes do Estado em suas mãos. Com a idéia de descentralização e limitação do poder, o Estado Federal, possui três poderes independentes, executivo, legislativo e judiciário. Quanto à separação da atuação governamental, separa-se em dois níveis, a União e os Estados Membros, tendo autonomia de maneira que cada um respeite as responsabilidades do outro sem autorização política ou judicial.

Assim sendo, surge o Estado que procura conciliar esforços, prerrogativas, competências entre a União e os Estado Membros, com uma população própria, sujeita à organização do Estado federal e dos Estados membros, com direitos e deveres frente a um e a outro.

Sérgio Ferrari destaca a seguinte definição para Estado Federal:

Uma modalidade de Estado composto, onde se verifica a superposição de duas ordens jurídicas – Federal, representada pela União, e federada, representada pelos Estados-membros, coordenadas por um processo de repartição de competências determinado pela Constituição Federal, em que a União titulariza a soberania e os Estados-membros detêm autonomia, participando, por um critério de representação, na formação da vontade federal. (FERRARI, 2003, p. 38).

Dessa maneira, define-se Federação como uma união política entre Estados ou províncias que gozam de relativa autonomia e que se associam sob um governo central. Assim os Estados juntam-se, de forma firme e indissociável, sob o comando de uma Constituição única e entregam a soberania para a União, ou seja, o exercício da soberania pertence ao governo Federal. Assim, os Estados podem e devem ter autonomia para governar, porém, sempre respeitando a Lei Maior, a Constituição Federal.

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Para conseguir equilíbrio na forma federativa de Estado é primordial a presença de diferentes instituições políticas, como as regras de representação dos membros da federação nas decisões nacionais; as normas que garantem a autonomia política desses membros; a divisão de recursos financeiros e a partilha de competências. Esse é um ponto que vem recebendo muita atenção, pois, receber atribuições nada adianta se a entidade não possui meios próprios para executar o que lhe é atribuído e mais, se há dependência financeira, o Ente não conseguirá exercer suas funções livremente.

Há uma luta constante para manter a forma federativa de organização, pois cada um procura conservar as diferenças existentes entre si, não somente de ordem política, mas também cultural, étnica, religiosa, racial e linguística, entre outras, sem existir a necessidade da divisão do todo. (TAVARES, 2009).

2.2.1 Federalismo cooperativo brasileiro

Quando em 05 de outubro de 1988, o então presidente da Assembléia Constituinte, o deputado Ulysses Guimarães assinou os documentos no plenário da Câmara dos Deputados e disse a frase que todos esperavam: ―Declaro promulgado o documento da liberdade, da dignidade, da democracia e da justiça social do Brasil‖, libertou-se o país dos rastros da Ditadura Militar, período marcado por graves violações de direitos humanos (falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política, repressão, etc.), dando inicio justamente a uma nova fase, representada pelos avanços dos direitos sociais dos brasileiros, marcando também a transição do regime militar para uma democracia.

Desta maneira, após um período de privação de direitos, a Lei Maior veio repleta de direitos fundamentais, e o fato de ser oposta a fase anterior de ditadura acaba por ser uma de suas marcas. Entre as reações estão à previsão de igualdade, liberdade de expressão e o total repúdio à tortura, como previsto no artigo 5º da CF/88. A Constituição Cidadã foi criada para garantir todos os direitos que haviam sido retirados pelo regime militar e acrescentar outros nunca previstos antes.

Portanto, a Constituição é manifestação do Direito, pois é modelo jurídico de sociedade e de Estado que a Nação almeja. O Direito é inerente ao ser humano como cidadão, portanto, instrumento do exercício da humanidade.

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A CRFB/88, por sua vez, consagrou o Federalismo como forma de Estado brasileiro, incluindo os municípios na condição de Entes Federados. A repartição de competências entre o governo central ―a União‖ e os Entes Federados ―estados, municípios e Distrito Federal‖ é o ponto central da forma Federal de Estado.

O Federalismo cooperativo democrático é consentido e não imposto e coloca o poder diretamente aplicado aos valores democráticos do governo, tendo como principais conceitos expressos na Carta Magna de 1998 em seu art. 1o:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:

I. a soberania; II. a cidadania;

III. a dignidade da pessoa humana;

IV. os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V. o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. (BRASIL, 1988).

Igualmente, pode-se afirmar que não há uma definição exata para um modelo federalista universal, pelo fato de que há diferentes Constituições e, diferentes Constituições apresentam-se de forma contraditórias para a estrutura federativa estabelecidas em seus territórios.

Na Carta Magna brasileira o Federalismo cooperativo encontra-se demonstrado nos arts. 23 e 24, ao determinar as competências comuns e concorrentes, de maneira que todos os Entes da Federação sejam obrigados a cooperar para a execução das ações determinadas. Primeiro no nível Federal, de forma centralizada, e posteriormente em nível estadual ou municipal de forma descentralizada. (TAVARES, 2009).

Assim, a União deve se responsabilizar pelas questões de âmbito nacional, que exigem tratamento uniforme e requerem uma unidade de planejamento e direção.

O Federalismo cooperativo, a própria denominação já diz, surgiu pela necessidade de atender as demandas sociais e se constitui alternativa para a resolução de problemas práticos. A aplicação das políticas públicas deve ter um caráter descentralizado, com a participação de todos os entes federados interessados, conforme define Gilberto Bercovici, (2004, p. 56): ―A decisão comum, tomada em escala federal, é adaptada e executada autonomamente por cada ente federado, adaptando-a as suas peculiaridades e necessidades‖.

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Dessa forma, como afirma Ana Maria Brasileiro:

O federalismo cooperativo retrata a situação na qual as relações entre as três esferas de governo não podem mais ocorrer de forma isolada, ou seja, os três níveis de governo precisam agir de maneira conjunta e de forma cooperativa, tanto pelas cooperações horizontais entre as comunidades federadas, quanto pelas cooperações verticais estabelecias entre o poder federal e os poderes federados. (BRASILEIRO, 1974, p. 83-84).

No entanto, para que ocorra uma cooperação eficaz, é necessário o fortalecimento da participação de cada um dos membros na ação governamental, de forma que todos sejam capazes de assumir responsabilidades e executar a contento as ações que compete a cada um.

Para tanto, como bem coloca Viviane Machado Caffarate (2002):

O federalismo cooperativo requer uma forma de coordenação resultante da realização de acordos intergovernamentais para a aplicação de programas e financiamentos conjuntos, pois as políticas tendem a serem conduzidas por meio da atuação de mais de um nível de governo, de forma interdependente e coordenada.

Entende-se que estes acordos ocorrem por uma decisão voluntária de todos os entes da Federação. Assim sendo, a autonomia passa a depender da capacidade de negociação, sendo que as partes mais influentes terão maior capacidade de barganha, o que enseja que o Federalismo Cooperativo não acaba com os conflitos de competência. (TAVARES, 2009).

Contudo, se o governo ficar muito centralizado corre o risco de se tornar autoritário, por isso, a relação entre Estado Federal cooperativo e democracia devem ser minuciosamente respeitados. É fundamental a participação de todos os entes do governo na implantação das políticas públicas, de maneira cooperativa e voluntária, segundo os preceitos constitucionais, para que as ligações entre eles se consolidem de forma democrática.

O Federalismo cooperativo caracteriza-se na esfera Federal, mas deve ser realizado de forma interativa pelos entes federados, principalmente no que compete a execução das competências comuns e concorrentes e coloca o poder diretamente ligado aos valores democráticos de governo. O cooperativismo também se dá pela repartição das receitas tributárias de impostos Federais com estados e municípios e de impostos estaduais com os municípios. (RIBEIRO, 2005).

As competências comuns e concorrentes, definidas pela atual Constituição, seriam, a princípio, uma boa forma para desenvolver a cooperação entre os entes da Federação, nas áreas de saúde, meio ambiente, educação e assistência social. No entanto, esta cooperação fica restrita pelo conteúdo do art. 24, § 4º da CF/88: A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. Esta

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restrição promove o controle centralizado da legislação concorrente. (COSTA 2004, p. 178).

Diante destas informações, ao que se refere às competências concorrentes, conclui-se que não existe igualdade de condições entre os entes federados, pois as leis da União definem as normas gerais e, muitas vezes, podem prejudicar a livre atuação dos Estados, limitando sua autonomia legislativa.

2.2.2 Competências

Via de regra, pode-se dizer que as divisões de competências inseridas pela Carta Magna esboçam o modelo de federalismo seguido em um país, já que através dessas divisões é possível verificar-se o grau de descentralização ou de centralização do poder, o que configura ponto central dos sistemas federados, sendo, assim, fundamental para a identificação de suas espécies.

A CFRB/88, tampouco admite que exista a concentração destas funções em um único centro de decisão. A concepção hodierna de Estado democrático de Direito não aceita quaisquer aglutinações de poder nesse sentido, a fim de não comprometer liberdades públicas e direitos individuais. (TEIXEIRA, 2012).

Assim destaca José Afonso da Silva as competências como sendo: As diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções, consistindo, portanto, na esfera delimitada de poder que se outorga a um órgão ou entidade estatal, mediante a especificação de matérias sobre as quais se exerce o poder de governo. (SILVA,2002, p. 479).

Sendo que a divisão desenha o modelo federativo brasileiro, faz-se necessário explorar as divisões de competências impostas pela Carta Magna. Os entes membros da Federação Brasileira estão elencados no artigo 18 da Constituição Federal, sendo eles a União, os Estados membros, o Distrito Federal e os Municípios: ―A organização político administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição‖. (BRASIL, 1988).

A repartição de competências entre o governo central e os entes federados é um ponto fundamental da forma de Estado, pois são as atribuições de cada ente que irão determinar qual o nível de centralização política do Estado.

A Constituição Federal de 1988 enumera as competências da União nos (art. 21 e 22) e dos Municípios (art. 30), conferindo aos Estados a competência

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residual (art. 25). Define também as áreas das competências concorrentes (art. 24) e das comuns (art. 23). Dessa forma, Estados, Distrito Federal e Municípios devem compartilhar com a União, sob as diretrizes da Constituição, a prestação de serviços em matérias do setor social.

Esses dispositivos determinam as diferenças entre os Entes e buscam equilibrá-los, justamente pela divisão de competências. É esse o ponto fundamental no qual o modelo federalista em estudo se apóia, a fim de atingir um equilíbrio que possa propiciar a diminuição das desigualdades regionais.

São preceitos que estabelecem uma cooperação visando a diminuição das desigualdades, o desenvolvimento equilibrado, a criação de regiões. Estabelecem, além da distribuição da receita, outras formas de incentivos. Entre estas encontramos os juros favorecidos, isenções, reduções e deferimento temporário de tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas. (RAMOS, 2002, p. 175).

Ainda, os artigos 43 e 151, da CRFB/88 estabelecem a organização do Estado Federal brasileiro e também as áreas de competências de cada ente federado e principalmente as formas de repartição tributária. (MOMO, 2013).

2.3 DIFICULDADES QUE ENVOLVEM A COOPERAÇÃO ENTRE OS ENTES FEDERATIVOS

A Carta Magna de 1988 originou inegáveis avanços que tornaram o federalismo brasileiro muito mais cooperativo. Porém, existe ainda um extenso caminho a ser percorrido.

Uma vez que, pelos diversos fatores históricos, culturais e até mesmo econômicos, o Brasil ainda demonstra uma série de incertezas, ou seja, ao mesmo tempo em que traz avanços no sentido da cooperação entre os estados membros, contém retrocessos que seguram a este objetivo, ―o federalismo brasileiro é artificial pelo que se formou por conveniência, respeitando apenas a distribuição por fatias de poder entre as elites‖. (BAGGIO, 2006, p. 111).

Essa submissão histórica do federalismo às elites é uma das principais causas dos vícios que ainda contaminam o federalismo brasileiro e que, por isso, ameaçam a efetiva cooperação entre os entes.

Mesmo que o pacto federativo tenha sido reformulado pelo Constituição atual, a prática enraizada da cultura política brasileira ainda está ligada ao

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favorecimento das elites. Isso dá espaço para a corrupção e também o pensamento elitista e egoísta ajuda na manutenção da guerra fiscal.

As leis foram reformuladas, mas infelizmente não foram capazes de reciclar a realidade. Essa herança cultural muitas vezes vem a influenciar no processo legislativo: ao invés de leis comprometidas com o bem-estar da nação e, principalmente, com o seu desenvolvimento socioeconômico igualitário, produzem leis que beneficiam uma minoria e acabam por manter a maioria da população em situação desfavorável.

É possível considerar que os problemas atuais da Federação Brasileira são fruto da herança histórica de um poder que ficou concentrado, em diversos momentos políticos, na esfera federal, mas que foi sustentado pelas oligarquias regionais. Ou seja, vivemos de forma intensa a dicotomia do central/local, sem que isso tenha significado a realização de perspectivas próprias de um pacto federativo, tal como uma descentralização comprometida com o exercício da democracia e a diminuição das desigualdades sociais. Essa dicotomia nos remete, assim, à grande contradição do federalismo brasileiro: um pacto calcado no poder das elites dominantes, que priorizou a satisfação de seus interesses econômicos, negligenciando a resolução dos problemas sociais. (BAGGIO, 2006, p. 112). Antes da Constituição de 1988, os estados, e principalmente os municípios, eram meros receptores de legislação, pois praticamente todo o poder e autonomia emanavam da União. Neste sentido, o país alcançou inegável avanço, dando a estes entes, autonomia Constitucional. Porém, se por um lado se inovou em que pese o avanço, verifica-se também a obscuridade na qual há grande concentração das competências na União, quando poderiam ser resolvidas pelos Estados membros. Trata-se de uma inegável herança histórica cultural na política brasileira, que expressa ao tempo em que todo o poder era centralizado e emanava da coroa.

A concentração dos poderes pela União é uma barreira à cooperação entre os Entes, na medida em que a União fica sobrecarregada com funções que na verdade, não só diz respeito aos Estados membros, como seria melhor se fossem por eles desempenhadas, já que representam uma série de peculiaridades regionais, conhecidas a fundo apenas por aqueles que lidam diretamente com o problema.

A nossa Carta Magna avançou ao instituir uma tendência cooperativa em seu art. 23, ou seja, a das competências comuns à União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Contudo, o fato de todos os entes terem competência para algumas

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mesmas funções determinadas acaba gerando dúvidas na prática. Pois, o ideal é que sejam feitas regras que disciplinem essa convivência.

Quando todos os Entes têm competências para as mesmas ações sem que existam regras que definam como executá-las, a omissão desses Entes pode prevalecer sob a argumentação de que a competência pertence sempre ao outro membro da federação. (BAGGIO, 2006, p.113).

Desta forma, o grande problema está na questão de que a maioria das legislações foi pensada em períodos históricos de maior centralização política do que o momento vivido atualmente. Assim, acabam sendo ajustadas como normas gerais da União, mas, na verdade, na maioria das vezes são mais específicas do que gerais, porque, manifestam uma centralização incompatível com a proposta do federalismo atual.

Corroborando com este pensamento, Roberta Camineiro Baggio, citando Celina Souza, protesta que:

A Constituição Federal manteve o monopólio legislativo concentrado na esfera federal e este fato, em geral pouco lembrado, é um dos paradoxos do federalismo brasileiro e o distingue das demais federações. A Constituição determina, por exemplo, que questões que estão na esfera da competência concorrente da União com os estados, tais como energia elétrica, trânsito, tráfego, minas, recursos minerais e educação, dependam de legislação federal. (SOUZA, 1998 apud BAGGIO, 2006, p. 114).

Portanto, sabe-se que a Constituição atual procurou reformar o federalismo aplicado no território, buscando alcançar um federalismo mais cooperativo. Contudo, a reforma foi incompleta, pois, fez existir, em um mesmo sistema, avanços e retrocessos, resultando em ambiguidades que ainda impedem a efetiva cooperação entre os entes.

Como principais consequências dessas ambiguidades, o sistema atual favorece a distribuição de rendas, mas não de deveres. Isso termina na anteriormente citada ―guerra fiscal‖ entre os entes. Essa má distribuição e a guerra fiscal geram consequentemente, um desequilíbrio na geração da riqueza privada, já que os incentivos fiscais e as políticas de privatizações acabam sendo distintas. (MOMO, 2013).

Desta senda, a partir dos expostos referentes ao Federalismo Cooperativo brasileiro, torna-se importante a análise das questões referentes à possível instituição do Imposto Sobre Grandes Fortunas como provável auxiliador nas demandas sociais do país.

O Brasil sofre atualmente com um grave problema de distribuição de renda. A carga tributária brasileira, a qual deveria auxiliar a redistribuição de

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riquezas, hoje é claramente um forte fator de concentração de renda, devido à alta carga tributária cobrada, a qual onera mais os cidadãos mais pobres do que aqueles que possuem melhores condições financeiras, em virtude da maior tributação do consumo quando comparada com a tributação direta das rendas. Em contrapartida, a população não vê o devido investimento dos recursos financeiros estatais nos setores essenciais do país, como educação e saúde. Não deve ser essa, no entanto, a finalidade do Sistema Tributário Nacional.

O Sistema Tributário Nacional deve pautar-se nos princípios e regras estabelecidos em nossa Carta Magna. A CRFB/88 estabelece como um de seus principais objetivos o de ―erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais‖. Ao invés de fator de desigualdade social, o tributo pode ser utilizado como importante instrumento de distribuição de renda, observando-se os princípios da igualdade, solidariedade, capacidade contributiva, e os demais encartados em nossa Constituição Federal.

O art. 153, VII da CRFB/88, atribuiu à União a competência para instituir impostos sobre grandes fortunas, nos termos da lei complementar. No entanto, ultrapassados mais de 28 anos da promulgação da Carta Magna, não houve sua regulamentação através de lei complementar, o que não impede a União de ainda realizá-la. Diante dessa realidade, diversos debates surgiram entre os estudiosos do direito, no sentido de analisar as dificuldades relativas à tributação das grandes fortunas que justificassem o não exercício dessa competência tributária pela União. (AZEVEDO, 2014).

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3 A IMPORTÂNCIA DOS TRIBUTOS COMO INSTRUMENTOS PARA A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

Os tributos presentes nas primeiras sociedades organizadas ocorreram de formas voluntárias, como reconhecimento aos líderes tribais. Mesmo assim, com características de auxílio da vida social. Porém, esta fase inicial foi rapidamente substituída, dando espaço à criação dos tributos com caráter compulsório, onde os indivíduos foram obrigados a dispor de parte de seus direitos de liberdade e propriedade para gerar arrecadação. Desta senda, o Estado tomou para si a função de tributar, fazendo a fiscalização, à cobrança e a aplicação de sanções necessárias.

Contudo, muitas vezes o poder de tributar foi praticado por abusos e arbitrariedades atentatórias aos direitos individuais. Historicamente tem-se verificado casos de governos que obrigavam o povo a sofrer com grandes impostos, pela alegação da defesa da situação precária do Estado.

Deste modo, confirma-se que estas situações foram constantes em toda a história da tributação, permanecendo inclusive na atual conjuntura tributária, apesar das transformações sucedidas no desenvolvimento do instituto.

A forma de tributação de uma nação exerce um importante papel no combate às desigualdades sociais e econômicas e, assim, resultando em um sistema tributário justo e equilibrado com tendência para que a renda e a riqueza sejam menos concentradas. Em uma sociedade contemporânea, o papel do tributo não é o de apenas financiar o Estado, mas, principalmente, de servir de aparelho de transformação social para recuperar direitos não preservados. Contudo, essa prerrogativa não compete somente aos tributos, mas, a todo o sistema tributário, com o objetivo de atuar como agentes transformadores da sociedade.

A Carta Magna brasileira marcou como finalidade crucial para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Desta forma, para se alcançar estes objetivos, é fundamental que o sistema tributário brasileiro seja harmônico com as metas buscadas e determinadas pela Constituição.

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3.1 FUNÇÃO SOCIAL DOS TRIBUTOS

De certa forma os poderes estatais se apresentam em função da soberania, como elementos fundamentais para a formulação de um Estado, pois, a posição de supremacia do Estado para com os particulares se mostra através destes poderes.

Contudo, a Administração Pública orienta-se pelos princípios da supremacia e indisponibilidade do interesse público, que favorecem o bem comum em relação aos interesses individuais, privilegiando assim a posição estatal. Verifica-se que alguns interesses particulares podem ser sacrificados em prol do bem estar social, legitimando-se assim o poder de tributar através desta soberania estatal.

Por conseguinte, o poder estatal se apresenta em forma de tributo, direcionando-se ao bem estar social e confirmando que o particular possa sofrer certas restrições em seu direito de propriedade a fim de colaborar com a manutenção de sua coletividade. Trata-se, portanto, de poder-dever instrumental para a defesa do interesse público.

Nesse sentido ―o poder de tributar é, em verdade, um poder de Direito, lastreado no consentimento dos cidadãos, destinatários da invasão patrimonial, tendente à percepção do tributo‖. (SABBAG, 2009, p. 19-20).

Ao que se refere à obtenção do bem coletivo, esta passa obrigatoriamente pelos serviços públicos oferecidos pelo Estado à população, tais quais: a segurança pública, serviços de regulamentação, fiscalização, fomento, seguridade social básica, dentre outros. A satisfação das necessidades sociais obviamente gera custos, sendo imprescindível a arrecadação para obtenção de recursos com este intuito. Assim, Regina Helena Costa, assevera que:

A prestação de serviços públicos e a manutenção do patrimônio coletivo implicam elevados gastos, daí por que o Estado, como regra, não pode prescindir de exigir de seus administrados prestações de caráter compulsório qualificadas como tributos. (COSTA, 2009, p. 18).

Deste modo, a tributação é instrumento necessário para abastecer os cofres públicos de recursos suficientes à manutenção dos serviços públicos, promovendo, assim a satisfação dos interesses coletivos, que caracterizam essencialmente a função do Estado.

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Assim, demonstrada a necessidade do poder de tributar para que possa ser efetivada a função estatal, surge à obrigação de inserir o tributo nesse contexto. Contudo, verifica-se que a função do tributo se confunde com a do Estado, pois, define-se a atender as necessidades sociais.

Um brilhante apontamento de Celso Antônio Bandeira de Mello (2007, p. 68) sobre a aplicação do termo ―função‖ no direito reforça esse entendimento. Afirma ele que ―existe função quando alguém está investido no dever de satisfazer dadas finalidades em prol do interesse de outrem‖.

Deste modo, pode-se afirmar que a função social do tributo é colaborar com o bem estar social; à idéia de justiça tributária e distributividade. Na Constituição Federal a função social do tributo fundamenta-se no artigo 3º e determina que são objetivos da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988). À vista disso, percebe-se que a promoção da justiça social depende da arrecadação e aplicação de recursos no bem de todos, para que todos colham os benefícios da vida em sociedade, dentre os quais, o maior deles é a solidariedade humana, que reduz as desigualdades. Contudo, somente através da correta aplicação das receitas públicas é imaginável se alcançar o desenvolvimento nacional.

Desta forma, a compensação individual de um tributo, apresenta-se como fator determinante para a realização do bem comum, buscando o ideal da vida em sociedade que é por si a comunhão de esforços em busca da igualdade para todos. Assim, o particular tem o dever de pagar o tributo e o Estado tem o dever de utilizar o que arrecada em benefícios coletivos.

Por fim, tem-se que os tributos assumem o dever de proporcionar o bem comum, por meio da arrecadação, tornando-se a principal fonte de recursos de um Estado em busca do bem comum. Contudo, ressalta-se que não basta os tributos conseguirem atingir seus objetivos arrecadatórios, mas principalmente garantirem a população sua função social, mostrando a preocupação em conformidade ao que estabelece o Estado Democrático de Direito e aos fundamentos da República Brasileira estabelecidos no art. 1o da CRFB/88.

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Também, percebe-se no Direito Tributário, vários princípios, dispositivos legais, institutos e interpretações que se definem por buscar garantir a correta aplicação da função social do Estado e dos particulares.

Pode-se dizer que a função social do tributo está relacionada aos princípios constitucionais tanto os da ordem tributária quanto aos da isonomia tributária, da capacidade contributiva. Essa função social prima pelo desenvolvimento econômico sustentável, a qualidade de vida cada vez mais pleiteada e a justiça social, regional e ambiental.

3.2 PRINCÍPIOS COMO LIMITES AO PODER DE TRIBUTAR

A Constituição Federal apresenta os princípios que regulamentam o dia a dia das pessoas e que definem a organização administrativa, financeira e política do Estado. Esses princípios são fundamentais para que as relações de todos os ramos do direito aconteçam de forma harmônica. São juízos abstratos de valor que orientam a interpretação e a aplicação do Direito, possuem um caráter de dever e de obrigação. Assim, ―os princípios jurídicos podem ser definidos como enunciados lógicos, implícitos ou explícitos, com elevado grau de generalidade que vinculam tanto o entendimento quanto a aplicação da norma jurídica‖. (CARRAZZA, 2002, p. 33).

Os princípios são normas fundantes de um sistema, tipificadas pelo forte conteúdo axiológico e pelo amplo alcance de seus efeitos, que cumprem o papel fundamental de orientar a interpretação e a aplicação de outras normas. (COSTA, 2009, p. 44).

Ou seja, definem-se como a espécie normativa mais importante do ordenamento jurídico, são os transmissores principiológicos para concretização da função social do tributo.

Os princípios não são apenas a lei, mas o próprio direito em toda a sua extensão e abrangência. Da positividade dos textos constitucionais alcançam a esfera decisória dos arestos, constituindo uma jurisprudência de valores que determina o constitucionalismo contemporâneo, a ponto de fundamentar uma nova hermenêutica dos tribunais. (ROSENVALD 2005, p 45-46).

Os princípios servem de instrumentos para dar unidade ao sistema jurídico afastando as lacunas e apontando melhores ações dos aplicadores. Dentre os princípios jurídicos, os princípios constitucionais são os mais importantes na órbita interna de um determinado sistema jurídico constitucional. São eles que mostram a verdadeira unidade ao ordenamento jurídico. São os princípios

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constitucionais que criam e dão suporte aos demais princípios de um sistema pautado em uma constituição.

Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes formas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a modalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe da sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes de todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. (BANDEIRA DE MELLO, 1987, p. 230). Contudo, os princípios possuem também outra função importante, pois, no Direito Tributário eles são limitações ao poder de tributar, ou seja, as relações tributárias são marcadas por uma bipolaridade, proveniente da tensão entre a autoridade do Poder Público e a liberdade individual. Assim, por restringirem o poder de tributar os princípios são essenciais na repressão dos abusos originados em desfavor dos cidadãos, impedindo que a Administração Pública pratique atos atentatórios aos direitos individuais com a justificativa de efetivação da função social do tributo, que não deve ser considerada de forma absoluta.

Muitos são os princípios que controlam o poder de tributar e que estabelecem a função social dos tributos, entre eles: legalidade, anterioridade, isonomia, capacidade contributiva, vedação ao confisco, proporcionalidade, solidariedade, irretroatividade, igualdade, dentre outros. Entretanto, esta de pesquisa irá apresentar apenas alguns destes princípios mais correlacionados com o objeto do trabalho. (PINHEIRO, 2016).

Portanto, os princípios constitucionais aplicáveis à tributação devem servir como norte de todo o ordenamento jurídico, bem como da atividade administrativa relacionada à tributação, tudo concorrendo para a consecução dos objetivos constitucionais da Nação.

3.2.1 Princípio da Capacidade Contributiva

Presente na Carta Magna no artigo 145, § 1º, determina que os impostos, sempre que possível, terão caráter pessoal e serão graduados de acordo com a capacidade econômica do contribuinte.

Para Eduardo Sabbag (2009, p. 109) o princípio da capacidade contributiva, profundamente ligado ao da igualdade:

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Evidencia uma das dimensões da isonomia, a saber, a igualdade na lei, quando se busca tratar de forma distinta situações diversas [...] Nesse sentido, diz-se o princípio da capacidade contributiva está profundamente ligado ao da igualdade, mas neste não se esgota. Enquanto a isonomia avoca um caráter relacional, no bojo do confronto entre situações jurídicas, o princípio da capacidade contributiva, longe de servir apenas para coibir discriminações arbitrárias, abre-se para a consecução de um efetivo ideal de justiça para o Direito Tributário.

Determina o princípio da capacidade contributiva que deverão contribuir com o mesmo quantum os contribuintes providos de igual capacidade de pagar, da mesma forma que os contribuintes que possuam capacidade desigual deverão contribuir com parcelas desiguais. O objetivo é diminuir a desigualdade de renda existente entre as classes sociais.

Compete ao princípio da capacidade contributiva, como verdadeiro motor operacional do princípio de igualdade, duas importantes funções, como define Sacha Calmon Navarro Coelho (1999, p. 47):

a) em primeiro lugar afirma a supremacia do ser humano e de suas organizações em face do poder de tributar do Estado; b) em segundo lugar, obriga os Poderes do Estado, mormente o legislativo e o judiciário, sob a égide da Constituição, a realizarem o valor justiça através da realização do valor igualdade, que no campo tributário só pode efetivar-se pela prática do princípio da capacidade contributiva e de suas técnicas.

A aplicação da capacidade contributiva é necessária para a obtenção da função social do tributo e para a justiça tributária, que somente ocorrerá quando a participação individual for de equivalência. Portanto, a capacidade contributiva resguarda o chamado ―mínimo existencial‖, definido como a quantia mínima de recursos necessária para a manutenção da vida do indivíduo e de sua família, nos parâmetros da dignidade da pessoa humana.

Interessante esclarecimento traz ainda Sacha Calmon Navarro Coelho (2005, p. 96) sobre este princípio:

Ao dar poderes ao Fisco para investigar as pessoas e seus negócios, a Constituição optou pela verdade real, por isso que o princípio da capacidade contributiva rejeita as técnicas básicas de presunção, em razão mesmo de sua essência, fulcrada nas idéias de justiça e verdade. Desta forma, apresenta-se o verdadeiro valor do princípio da capacidade contributiva no exercício da função social do tributo. Assim, instituição dos impostos deve ser pautada levando-se em consideração a capacidade contributiva do contribuinte, observando-se no Sistema Tributário Brasileiro atual, os que têm menos recursos financeiros pagam muitos tributos sem ter renda compatível para tal tributação e acabam sufocando na miséria deste país. Esse princípio atende ao

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imperativo da redistribuição de renda. Em respeito ao princípio, a legislação tributária deve aplicar alíquotas diferenciadas e efetuar redução parcial ou total da base de cálculo, objetivando conformar o tributo o mais próximo possível da real capacidade de pagamento de cada contribuinte. (BRASIL, 2009).

3.2.2 Princípio da Igualdade

Um dos princípios constitucionais mais importantes do sistema jurídico brasileiro é o da igualdade que se manifesta na busca da isonomia jurídica e da justiça tributária. Apresenta-se na Constituição de 1988, tanto no seu artigo 5º onde trata dos Direitos e Deveres individuais e Coletivos, quanto no artigo 150 onde trata das Limitações do Poder de Tributar, conforme se segue:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; (...)

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...)

II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos. (BRASIL, 1988). Desta forma, orientando um dos mais importantes dispositivos da atual ordem jurídica o princípio da igualdade compreende uma ordem direcionada ao legislador, que apesar de toda discricionariedade que possui no desempenho da atividade legislativa, encontrará limites justamente no princípio inscrito. Contudo, pretende tratar igualmente os que se encontrem em iguais condições e desigualmente os desiguais, tornando o tratamento igualitário mediante as suas desigualdades. (BARROS, 2012).

Assim defende Andre Elali (2008, p. 12) ―a tributação desigual entre contribuintes que estejam em igualdade de situação desrespeita o valor igualdade e gera situações reprimidas na ordem econômica, ferindo diversos outros princípios‖.

Ainda, de acordo com Eduardo Sabbag o princípio da igualdade em Direito Tributário consiste em ―aquinhoar igualmente aos iguais e desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam‖. (SABBAG, 2009, p. 91).

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Na procura pela efetivação do verdadeiro princípio da igualdade, a Carta Magna brasileira criou um mecanismo de busca pela máxima realidade da justiça tributária, permitindo que se tratem desigualmente as diversidades financeiras.

Dessa forma, é perfeitamente justa a cobrança desigual de um tributo pela proporcionalidade da capacidade contributiva de cada contribuinte. Não permitindo assim que a classe menos abastada seja cruelmente atingida com pesados encargos que muitas vezes limita as suas próprias condições de sobrevivência. No que se refere a esse princípio destaca-se ainda o pensamento do autor Hugo de Brito Machado (2010, p.43):

Não fere o princípio da igualdade, antes o realiza com absoluta adequação, o imposto progressivo. Realmente, aquele que tem maior capacidade contributiva deve pagar imposto maior, pois só assim estará sendo igualmente tributado. A igualdade consiste, no caso, na proporcionalidade da incidência à capacidade contributiva, em função da utilidade marginal da riqueza.

Dessa lição percebe-se que o cumprimento do princípio da igualdade somente será praticado acertadamente quando aqueles que têm maior capacidade contributiva estiverem pagando maiores tributos do que aqueles que têm menor capacidade contributiva. Destarte, quando existir uma rígida obediência à proporcionalidade entre a capacidade contributiva e o quantum devido de tributos, mais eficiente será a busca pela tão desejada igualdade social.

3.2.3 Princípio da Solidariedade

Ao analisar a solidariedade, verificam-se pontos de vista diferentes, porém, o resultado sempre será semelhante. Ela efetiva-se na análise das inter relações entre os membros de uma mesma sociedade e provém das obrigações mútuas de uns com os outros.

O princípio da solidariedade, ao lado do princípio da dignidade humana, compõe o núcleo essencial da organização sócio, político, cultural e jurídica. Desta forma, a solidariedade pode ser vislumbrada como virtude ético-religiosa, como valor, como princípio e, finalmente, como direito.

A solidariedade é um valor jurídico que aparece ao lado da liberdade, da justiça e da igualdade ―mas se projeta também, como princípio, para o campo constitucional, em íntimo relacionamento com os princípios vinculados à liberdade, à justiça e à segurança‖. (TORRES, 2005, p. 583).

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Cláudio Sacchetto define a solidariedade como ―capacidade dos membros de um determinado grupo, família, nação, toda humanidade, de prestar-se recíproca assistência.‖ (SACCHETTO, 2005, p. 15).

Ao conceituar a solidariedade a partir de uma visão jurídica, Weiss define: A solidariedade é o vínculo jurídico que une todos os membros de uma sociedade politicamente organizada. Mesmo que não haja sentimento entre eles, são todos titulares de um condomínio indissolúvel sobre o Estado, que é a própria personalização do patrimônio material e cultural pertencente a todos. Esta titularidade gera direitos de utilização e deveres voltados à preservação. (WEISS, 2006, p. 55).

Com objetivo de cumprir suas metas o Estado, necessita de meios para suas realizações, e é através dos tributos que retira as riquezas dos contribuintes com a finalidade de efetivar aos seus cidadãos os direitos e garantias fundamentais previstos na CRFB/88, como educação, saúde, moradia, lazer, trabalho e seguridade social.

Desta forma, Weiss defende que:

Os direitos fundamentais proclamados na Constituição somente são exercíveis se o Estado puder provê-los ou garanti-los, o que demanda recursos financeiros por parte da sociedade. A inclusão compulsória de todas as pessoas na estrutura de uma sociedade organizada, natural conseqüência da existência do Estado, faz com que todos sejam credores e devedores solidários dos direitos fundamentais, de forma irrenunciável. (WEISS, 2006, p. 119).

O mesmo doutrinador define o princípio da solidariedade da seguinte forma:

O princípio da solidariedade é a denominação deste elo social participativo em prol dos direitos, tendo fundamento constitucional expresso no inciso I, do art. 3º, da Constituição Federal, que estabelece como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidária. Também está de acordo com o disposto no inciso III, do mesmo artigo, que trata da meta de erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais e regionais. (WEISS, 2006, p. 119).

Consequentemente, o princípio da solidariedade une todos os cidadãos por um mesmo objetivo, na condição de responsáveis pela manutenção do Estado. Assim, o Estado para se manter e para garantir e preservar os direitos e garantias dos seus cidadãos precisa das contribuições dos seus cidadãos que são efetivadas por meio dos mais diversos tributos.

No Direito Tributário, desta forma, a solidariedade é o princípio que justifica a atividade de arrecadação do Estado, ou seja, justifica a cobrança das parcelas de riqueza dos contribuintes aos cofres do Estado. Portanto, na medida em que o Estado é responsável pelo controle e manutenção dos direitos e garantias fundamentais de todos, tem-se paralelamente o princípio da solidariedade que liga

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todos os sujeitos passivos da relação jurídica do Estado Contribuinte, unindo todos estes contribuintes como responsáveis pela manutenção desse mesmo Estado.

Este princípio é o confirmador da retirada compulsória pelo Estado das riquezas dos contribuintes e, logicamente, se faz necessário, pois sem ele o Estado não promoveria os Direitos tão fundamentais aos cidadãos. Daí a necessidade de arrecadar recursos através de imposto. Assim, todos se tornam responsáveis pela conservação do todo e ao Estado compete à viabilização dos direitos e garantias individuais, coletivas e sociais a todos os seus cidadãos, como: saúde, educação, moradia, lazer, trabalho e seguridade social, sendo assim, também são deveres de todos a busca pela manutenção e conservação do Estado. (SANTOS, 2011).

Também é competência do Estado construir uma sociedade, justa, solidária, garantir o desenvolvimento regional, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais, sem preconceitos de origem, raça, cor, sexo, idade, opção sexual e outras formas de discriminação.

Assim, todos os cidadãos têm o dever de contribuir, pois uma sociedade igualitária depende da união dos esforços individuais e coletivos de todos. E desta maneira, após a análise da importância dos tributos na diminuição das desigualdades, da apresentação de suas funções sociais e da relevância dos princípios da capacidade contributiva, da igualdade e da solidariedade na busca da verdadeira justiça social, a pesquisa tratará dos efeitos da não instituição do imposto sobre grandes fortunas na sociedade brasileira.

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4 IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS

Para introduzir o tema remete-se à história da humanidade onde desde o princípio das civilizações organizadas, os indivíduos doavam, pagavam, entregavam ou emprestavam bens, direitos, dinheiro, serviços ou a própria vida a outro individuo, grupo de indivíduos, instituição ou Estado, detentores do poder político, tributário, militar, divino e religioso. Muitas vezes estas relações eram obrigatórias e cobradas de forma ditatorial, por força do poder da nobreza, que assim exigiam essas doações de povos derrotados ou dominados militarmente.

Consequentemente os impostos tornaram-se indispensáveis para a manutenção do Estado. Hoje em dia, os valores arrecadados pelo Estado servem para custear os gastos públicos com saúde, segurança, educação, transporte, cultura, pagamentos de salários de funcionários públicos, etc. O dinheiro recebido com impostos também é usado para investimentos em obras públicas. Os impostos incidem sobre a renda e patrimônio das pessoas físicas e jurídicas e a utilização do dinheiro proveniente da arrecadação de impostos não é vinculada a gastos específicos. O governo, com a aprovação do legislativo, é quem define o destino dos valores, através do orçamento.

De forma explicativa, tem-se que todo tributo é imposto e são obrigatórios. Assim, o imposto é uma espécie de tributo, como a taxa, a contribuição de melhoria e as contribuições sociais, como bem especifica a Constituição da República, em seu artigo 145.

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

I - impostos;

II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;

III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas. (BRASIL, 1988). O Código Tributário Nacional, no caput do artigo 3°, nos traz uma definição de tributo:

Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. (BRASIL, 1966).

Reafirmando o conceito de impostos, Maria Helena Diniz (2008, pag. 851) define que:

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Imposto é um tributo cobrado pela autoridade e destinado a atender as despesas alusivas às necessidades gerais da administração pública, sem, todavia, assegurar ao contribuinte, qualquer vantagem direta em contraprestação ao seu pagamento.

Desta senda, a tributação de uma nação torna-se importante no controle e combate das desigualdades sociais e econômicas, um sistema tributário equilibrado e justo tende a diminuir a concentração de riquezas e rendas. Assim, a função do tributo em uma sociedade não é somente financiar o Estado, mas, também, servir de instrumento de transformação social para resgatar direitos não realizados. Essa prerrogativa não envolve somente os tributos, mas todo o sistema jurídico no qual ele está inserido, tendo o dever de agir como instrumento transformador de uma sociedade mais justa.

Ao que se refere ao ISGF, apesar de estar previsto na CRFB/88, este ainda não está regulamentado, trata-se de um imposto Federal, ou seja, da União e, para a sua instituição e aplicação a regulamentação necessita de lei complementar que até hoje não foi aprovada.

Neste imposto, uma pessoa com patrimônio considerado grande fortuna pagaria sobre a totalidade de seus bens uma alíquota. Seria o caso de tentar corrigir a histórica desigualdade tributária brasileira, transcendendo os princípios da igualdade tributária do mundo fenomênico para o mundo dos fatos, da realidade.

Destarte, os que apóiam a instituição do imposto consideram que o ISGF ajudaria no combate à extrema desigualdade social, característica marcante da sociedade brasileira. Por outro lado, os que são contrários a sua regulamentação, defendem que o tributo afastaria o patrimônio dos contribuintes brasileiros para fora do país, o que acabaria sendo negativo para a economia nacional.

Bons argumentos existem dos dois lados, no entanto o que se busca nesse estudo é verificar se o ISGF está alinhado com Constituição Federal e como ele se relaciona com a desigualdade social e a justiça tributária.

A Constituição Federal de 1988 autorizou o estabelecimento de vários princípios tributários, dentre eles a necessidade de cada ente da federação possuir uma esfera de competência tributária que lhe garanta sua própria manutenção para o pleno exercício de suas autonomias política e administrativa. Desta forma, a competência tributária é ―a aptidão para criar, in abstracto, tributos, descrevendo, legislativamente, suas hipóteses de incidência, seus sujeitos ativos, seus sujeitos passivos, suas bases de cálculo e suas alíquotas‖. (CARRAZZA, 2010, p. 53.)

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Neste caso, as competências tributárias devem ser exercidas observando-se as normas constitucionais, obedecendo às limitações do poder de tributar.

A preocupação com a concentração de renda no Brasil está exposta na elaboração da Carta Magna brasileira de 1988, que ensejou a inclusão do Imposto sobre Grandes Fortunas no artigo 153, VII, dispondo que ―compete à União instituir imposto sobre: [...] VII – grandes fortunas, nos termos de lei complementar‖ (BRASIL, 1988). Trata-se de espécie de imposto direto a incidir sobre o patrimônio líquido do contribuinte.

Assim, a definição do âmbito constitucional desse imposto ficou, indiscutivelmente, a depender de lei complementar que venha a definir o que devemos entender por grande fortuna.

É razoável entender que a própria criação do imposto, neste caso, há de ser feita por lei complementar. Entretanto, mesmo que se entenda que a criação do imposto pode ser feita por lei ordinária, a definição do que seja grande fortuna será matéria própria da lei complementar. (MACHADO, 2015, p. 345).

Desta forma, há algumas diretrizes para a implantação do ISGF pelo legislador, observa-se que a implantação dar-se-á nos termos de lei complementar, pois ela tem a função precípua de integrar a eficácia de algumas normas da Constituição. Esta é a idéia clássica de lei complementar, pois, tal espécie normativa não pode ser definida exclusivamente com base no papel que desempenha no ordenamento, sendo fundamental à sua caracterização, também os aspectos formais. Vale lembrar que as leis complementares versam sobre matérias próprias, subtraídas do campo de atuação das demais espécies normativas, de forma que apenas neste universo delimitado são validamente exercitáveis.

O ISGF é o único imposto dentre aqueles de competência privativa da União que ainda não foi regulamentado, isso se deve ao fato de que, desde sua concepção pela Assembléia Constituinte, o significado de grande fortuna e o fato gerador do tributo em questão não possuem definição unânime e envolvem constantes discussões doutrinárias.

Destarte, como já apresentado acima por Hugo Brito Machado, o inciso VII do art. 153 da CRFB/88, cuidou de determinar que o ISGF incidirá sobre as grandes fortunas, porém, não detalhou o exato montante a partir do qual será considerado grande fortuna. Portanto, a definição conceitual do que vem a ser grande fortuna seja talvez um dos maiores obstáculos à instituição do imposto, pois,

Referências

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