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(1)

A responsabilidade social

nos negócios: um conceito

em construção

R e s u m o

E

ste capítulo aborda a questão da responsabilidade social como

um conceito que ainda não está suficientemente consolidado e

que, portanto, pode ser considerado em construção. Neste

senti-do, serão levantadas algumas definições que se têm apresentado

para a responsabilidade social nos negócios.

Ao longo deste livro, o termo responsabilidade social nos

negóci-os incluirá as suas variantes responsabilidade social corporativa,

responsabilidade social empresarial, responsabilidade social das

empresas ou, reduzidamente, responsabilidade social.

Entretan-to, todas as terminologias apresentadas terão, aqui, o mesmo

sig-nificado geral, ou seja, das responsabilidades da empresa com a

sociedade, através das diversas relações estabelecidas entre ambas

as partes, em vista da operação dos negócios associados à

organi-zação empresarial.

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Introdução

O

crescente aumento da complexidade dos negócios, principalmente em decorrência do processo de globalização e da velocidade das inova-ções tecnológicas e da informação, impõe ao empresariado nacional uma nova maneira de realizar suas transações. Além disso, as crescentes disparidades e desigualdades de nossa sociedade obrigam a repensar o desenvolvimento econômico, social e ambiental.

Por outro lado, o incremento da produtividade em função do avan-ço das novas tecnologias e da difusão de novos conhecimentos levou a um aumento significativo da competitividade entre as empresas. Dessa forma, elas buscam cada vez mais investir em novos processos de ges-tão, visando obter diferenciais competitivos.

Para responder a esse crescente desafio, governos, empresas e soci-edade organizam-se para trazer novas respostas visando um

desenvolvi-mento sustentável que englobe tanto os aspectos econômicos como os

sociais e ambientais.

O mundo empresarial vê, na responsabilidade social, uma nova es-tratégia para aumentar seu lucro e potencializar seu desenvolvimento. Essa tendência decorre da maior conscientização do consumidor e con-seqüente procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio ambiente ou comunidade, valorizando aspectos éticos ligados à cidadania. Além disso, essas profundas transformações mostram-nos que o crescimento econômico só será possível se estiver alicerçado em bases sólidas. Deve haver um desenvolvimento de estratégias empresariais com-petitivas por meio de soluções socialmente corretas, ambientalmente sus-tentáveis e economicamente viáveis.

A economia mundial vem enfrentando uma transformação radical nas últimas décadas. As distâncias geográficas e culturais estão se redu-zindo significativamente, ainda mais com o advento das novas tecnologias e da comunicação em rede mundial. A metáfora de fábrica global surgiu justamente por causa disso: o mundo, hoje, é uma imensa fábrica em que se expressam e sintetizam todas as forças produtivas1.

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A evolução tecnológica facilita a fluidez da comunicação de tal forma que generaliza a informação e derruba fronteiras com impressio-nante rapidez. Sua própria noção engloba várias concepções distintas: informação de base como base de dados; acervos digitais; arquivos multimídias; informação cultural, como filmes, vídeos, jornais, progra-mas televisivos e livros; e know-how, como invenções, patentes e protó-tipos2.

Estamos em uma nova fronteira na qual o avanço das novas tecnologias, envolvendo informática, telecomunicações, vídeo, televi-são a cabo, enciclopédias digitais e bancos de dados levam a uma mu-dança qualitativa. Uma mumu-dança maior ainda, no entanto, resulta das próprias transformações sociais que essa revolução está provocando; o número de funcionários ou fábricas não é mais fator fundamental, e sim o conhecimento3.

A entrada de novos competidores estrangeiros, principalmente de-pois da abertura do mercado em meados da década de 1990, intensifi-cou a velocidade de lançamento de novos produtos e serviços, formas e práticas de gestão e de relacionamento da empresa com clientes, fun-cionários, fornecedores, colaboradores e comunidade em que está inserida.

2. MORAES, 1998, p. 51. 3. DOWBOR, 1993, p. 2.

4. SANTOS, Chico. Saldo de investimentos cresce 172%. Folha de S. Paulo, 3/10/99, p. 1-11.

RESPONSABILIDADE Em retrospectiva

Na última metade dos anos 1990, o número de aquisições de empresas brasileiras por empresas estrangeiras cresceu 196,25%. Segundo a Pricewaterhouse & Coopers, 772 empresas brasileiras, sem incluir incorporações, acordos e associações, foram adquiri-das pelo capital estrangeiro4.

Esse processo de entrada do capital internacional atingiu quase todos os setores da economia. Segundo dados da consultoria KPMG, alimentos, bebidas e fumo lideraram o ranking de investimentos

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es-trangeiros em número de aquisições nos últimos anos, seguidos pela área financeira, química e petroquímica e de telecomunicações5.

O movimento de desnacionalização das empresas traz, também, resultados positivos: as companhias experimentam novas práticas de gestão, processos de produção mais eficientes e diferentes tecnologias no mercado.

A nova realidade de mercado fez com que as empresas investissem mais em outros atributos hoje essenciais, além de preço e qualidade: confiabilidade, serviço de pós-venda, produtos ambientalmente corretos e relacionamento ético da empresa com seus consumidores, fornecedo-res e varejistas, além da valorização de práticas ligadas ao ambiente in-terno, como a política adotada em relação à segurança de seus funcio-nários ou produtos e à qualidade e preservação do meio ambiente.

Essas inovações, no lado tecnológico, nos processos de produção, nas formas de organização, no relacionamento da empresa com seus funcionários e comunidade e no lado social e ambiental, dizem respeito a um tema que não é novo mas que, nos últimos anos, apresenta impor-tância crescente: a responsabilidade social das empresas.

Afinal, o que é responsabilidade

social?

A

expressão “responsabilidade social” suscita uma série de inter-pretações. Para alguns, representa a idéia de responsabilidade ou obri-gação legal; para outros, é um dever fiduciário, que impõe às empresas padrões mais altos de comportamento que os do cidadão médio. Há os que a traduzem, de acordo com o avanço das discussões, como prática social, papel social e função social. Outros a vêem associada ao compor-tamento eticamente responsável ou a uma contribuição caridosa. Há ainda os que acham que seu significado transmitido é ser responsável por ou

socialmente consciente e os que a associam a um simples sinônimo de

legitimidade ou a um antônimo de socialmente irresponsável ou não

responsável6.

5. MOREIRA, Assis; REBOUÇAS, Lúcia; HÁFEZ, Andréa. Investimento migra para serviços, diz a UNCTAD. Gazeta Mercantil, 28/9/1999, p. A-6.

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Em 1953, Bowen, nos primórdios da literatura sobre responsabili-dade social dos executivos, definiu responsabiliresponsabili-dade social como “a obri-gação do homem de negócios de adotar orientações, tomar decisões e seguir linhas de ação que sejam compatíveis com os fins e valores da sociedade”7.

Nota-se, contudo, a partir de então, uma crescente conscientização no sentido de que as organizações podem e devem assumir um papel mais amplo dentro da sociedade. A responsabilidade social leva, no âmbito interno da empresa, à constituição de uma cidadania organizacional e, no âmbito externo, à implementação de direitos sociais8.

Um dicionário de Filosofia define “responsabilidade” como:

a possibilidade de prever os efeitos do próprio comportamento e de corrigir o mesmo comportamento com base em tal previsão... O primeiro significado do termo foi o político, em expressões como “governo responsável” ou “responsabilidade do governo”, que ex-primiam o caráter pelo qual o governo constitucional age sob o controle dos cidadãos e em função deste controle9.

Um dicionário de Ciências Sociais10 traz “responsabilidade social” definida como:

responsabilidade daquele que é chamado a responder pelos seus atos face à sociedade ou à opinião pública... na medida em que tais atos assumam dimensões ou conseqüências sociais.

Responsabilidade social pode ser definida como o compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de

7. Esse livro, baseado na ética cristã e na realidade da sociedade norte-americana da época, discute os limites da ação do homem de negócios em relação aos problemas da sociedade em geral, analisando até que ponto os interesses co-merciais se fundem com os interesses da sociedade.

8. SROUR, 1998, p. 294-5. 9. ABBAGNANO, 1970, p. 822. 10. BIROUI, 1976, p. 361.

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contas para com ela. A organização, nesse sentido, assume obrigações de caráter moral, além das estabelecidas em lei, mesmo que não diretamente vinculadas a suas atividades, mas que possam contribuir para o desenvolvi-mento sustentável dos povos. Assim, numa visão expandida, responsabili-dade social é toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade.

Na opinião de Votaw:

Responsabilidade social significa algo, mas nem sempre a mesma coisa, para todos. Para alguns, ela representa a idéia de responsa-bilidade ou obrigação legal; para outros, significa um comporta-mento responsável no sentido ético; para outros, ainda, o signifi-cado transmitido é o de responsável por, num modo causal. Mui-tos, simplesmente, equiparam-na a uma contribuição caridosa; outros tomam-na pelo sentido de socialmente consciente11. Para Jaramillo e Ángel:

Responsabilidade social pode ser também o compromisso que a empresa tem com o desenvolvimento, bem-estar e melhoramento da qualidade de vida dos empregados, suas famílias e comunidade em geral12.

Peter Drucker chama a atenção para o fato de que é justamente em função de a empresa ser bem-sucedida no mercado que cresce a necessi-dade de atuação socialmente responsável, visando diminuir os proble-mas sociais. Assim, a responsabilidade social é um fator importante para que as companhias mantenham sua sustentabilidade.

Além disso, a responsabilidade social é resultado dos questionamentos e das críticas que as empresas receberam, nas últimas décadas, no campo social, ético e econômico por adotarem uma política baseada estrita-mente na economia de mercado13. Mesmo assim, ainda é alvo de polê-micas por suas fortes conotações políticas e ideológicas.

11. VOTAW, 1975, apud DUARTE e DIAS, 1986, p. 55. 12. JARAMILLO e ÁNGEL, 1996, p. 60.

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Robert Dunn14 é presidente do Business for Social Responsibility (BSR), organização norte-americana sem fins lucrativos dedicada à di-vulgação da responsabilidade social nos negócios. Em sua opinião, ser socialmente responsável é um dos pilares de sustentação dos negócios, tão importante quanto a qualidade, a tecnologia e a capacidade de inova-ção. Quando a empresa é socialmente responsável, atrai os consumido-res e aumenta o potencial de vendas, gerando maioconsumido-res lucros para os acionistas. Além disso, também é, hoje, um sinal de reputação corporativa e da marca.

14. DUNN, Robert. Quer uma vantagem competitiva? Exame, 669, ano 32, no 18,

26/8/98, p. 5.

15. BOWEN, 1957, apud OLIVEIRA, 1984, p. 205. 16. 1977, apud OLIVEIRA, 1984, p. 205.

17. MELO NETO e FROES, 1999, p. 104.

RESPONSABILIDADE Em retrospectiva

Segundo a BSR, mais de dois terços dos consumidores pre-ferem produtos desenvolvidos por empresas socialmente respon-sáveis.

Responsabilidade social: para

quem?

S

egundo os autores clássicos da área, como Howard Bowen15, há cinco tipos de público beneficiados com a responsabilidade soci-al: funcionários, clientes, fornecedores, competidores e outros com os quais a empresa mantenha transações comerciais. Peter Blau e W. Richard Scott ressaltaram que, dentre todas essas categorias, a em-presa deveria escolher apenas uma como a principal, que seria a ra-zão para a existência da organização, enquanto as outras representa-riam apenas despesas16.

Para autores contemporâneos17, a responsabilidade social assume outras características, englobando o público interno e externo, além do investimento na preservação ambiental, mas não necessariamente privi-legiando uma categoria em particular. Há pelo menos sete vetores, ilus-trados no Quadro 1.1.

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18. Ibid, p. 79.

19. MELO NETO e FROES, 1999, p. 104. 20. CERTO & PETER, 1993.

RESPONSABILIDADE SOCIAL N A P R Á T I C A

A Gessy Lever, em parceria com o governo do Estado do Paraná, montou o Centro Rexona de Excelência no Vôlei, com um investimento da ordem de R$ 4 milhões por ano. Os dois lados ganham: o comercial e o social. De um lado, a empresa proporci-ona à marca Rexproporci-ona uma imagem inovadora, jovem e moderna, condizente com seu público-alvo; de outro, investe no social, pro-porcionando assistência social e esportiva a milhares de crianças, e contribui para desenvolver talentos para o vôlei19.

apoio ao desenvolvimento da comunidade na qual atua

preservação do meio ambiente

investimento no bem-estar dos funcionários e

dependentes e em um ambiente de trabalho agradável satisfação de clientes e consumidores sinergia com os parceiros retorno aos acionistas comunicações transparentes Vetores da responsabilidade social

V55555 V66666 V77777 V11111 V22222 V33333 V44444

Esses vetores direcionam o processo de gestão empresarial para o

fortalecimento da dimensão social da empresa e facilitam o

investimen-to das empresas na responsabilidade social, pois permitem o seguimeninvestimen-to de alguns padrões e critérios como os já definidos18.

Quadro 1.1 Vetores da responsabilidade social

A leitura especializada diverge tanto ao que vem a ser responsabili-dade social quando se é correto aplicar recursos para o desenvolvimento de ações na área social20. Esse debate é transparente na obra de dois grandes economistas: Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia, e Keith Davis, da Universidade Estadual do Arizona.

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Os argumentos contra a responsabilidade social das empresas têm sido mais fervorosamente articulados por Milton Friedman, embora ou-tros autores, como Neil Chamberlain21 e Hanry Manne, compartilhem de suas idéias. Para eles, a única responsabilidade que a empresa tem é conseguir lucro, otimizando o uso dos recursos organizacionais, e con-seqüentemente aumentar o retorno do capital para os acionistas.

Friedman reforça a idéia de que a empresa é socialmente responsá-vel ao gerar novos empregos, pagar salários justos e melhorar as condi-ções de trabalho, além de contribuir para o bem-estar público ao pagar seus impostos. A empresa que desvia seus recursos para ações sociais pode prejudicar sua competitividade.

Contrário à idéia defendida por Friedman de que a única responsa-bilidade da empresa é buscar o lucro, Keith Davis afirma que a empresa acarreta, para a sociedade, alguns custos decorrentes de suas atividades; por isso mesmo, tem responsabilidade direta e condições de abordar muitos dos problemas que atingem a sociedade. Ser socialmente responsável, contudo, tem um preço; assim, seria necessário repassar tais custos aos consumido-res na forma de aumento de preços.

RESPONSABILIDADE Em retrospectiva

Segundo a BSR, mais de US$ 1,3 trilhão são investidos, ape-nas nos EUA, em ações de companhias reconhecidas como soci-almente responsáveis.

21. CHAMBERLAIN, 1979, p. 361, apud OLIVEIRA, 1984, p. 204.

O Bradesco avalia seus investimentos sociais a partir de cin-co categorias de retorno:

• imagem;

marca (visibilidade e recall);

• mercado (facilitação da entrada em novos mercados); • vendas (captação de novos clientes);

• tributos (dedução do imposto de renda).

(10)

As organizações têm responsabilidade direta e condições de abordar muitos problemas que afetam a sociedade. Segundo esse enfoque, acredita-se que tarefas, técnicas e recursos empregados por empresas para alcançar seus objetivos materiais podem também estar voltados para a solução de problemas sociais. A empresa deve ter consciência e visão de que, a cada dia que passa, é maior a expectativa dos indivíduos e sua demanda quanto ao papel social a ser desempenhado por executivos e empresários.

A empresa socialmente responsável assume uma postura proativa, ou seja, considera responsabilidade sua buscar e implementar soluções para os problemas sociais. Cultiva e pratica um conjunto de valores que podem ser explicitados em um código de ética, formando a própria cul-tura interna e funcionando como referência de ação para todos os dirigen-tes em suas transações22.

A manifestação da responsabilidade social no âmbito da empresa também pode ser entendida como relacionada a um processo de evolu-ção da atuaevolu-ção das empresas. Depois de começarem com a filantropia pura e atribuírem a alguns setores — como o de Recursos Humanos — a responsabilidade pelo comportamento ético e social da companhia e seus funcionários, as empresas, então, passam a repensar sua função e seus procedimentos, implementando mudanças conceituais e agindo de for-ma socialmente responsável, seja sozinha ou em parceria com ONGs ou governo23.

Independentemente do porte da empresa, nota-se que a responsabi-lidade social é considerada cada vez mais como uma das principais es-tratégias para alavancar seu crescimento. Nesse sentido, o Instituto Ethos24 afirma que empresas socialmente responsáveis são:

22. MARTINELLI, 1997, p. 83.

23. DUNN in SCHARF, Regina & GUIMARÃES, Suzana. Temas sociais chegam ao topo das empresas. Gazeta Mercantil, p. A-8. 28/6/1999.

24. TRANSPARÊNCIAS Ethos, Plano de ação do Instituto Ethos. São Paulo, junho/ 1999.

• agentes de nova cultura empresarial e de mudança social; • produtoras de valor para todos — colaboradores, acionistas

e comunidade;

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RESPONSABILIDADE Em retrospectiva

De acordo com o Perfil da empresa que investe em projetos

sociais na comunidade, estudo realizado pelo Serviço Nacional

do Comércio (Senac) de São Paulo, 55% das empresas incorpo-ram o investimento social a suas prática comerciais, constando em documento de conhecimento de todos os funcionários. Em-bora a doação de produtos (22%) e de equipamentos (18,5%) ainda seja a forma mais comum de realização desse tipo de in-vestimento, 14,6% afirmaram repassar recursos diretamente às comunidades a partir de projetos criados pela própria empresa. Para 38,8%, o investimento está organizado dentro da própria empresa, que normalmente delega essas atribuições a mais de um departamento.

Entre as razões mais apontadas para a realização de investi-mentos sociais estavam consciência e cidadania empresarial (26,6%), visão e missão (26,2%) e o sentimento de que a empresa é uma extensão da comunidade, sendo responsável por sua quali-dade de vida (23,5%). Quase metade (43%) das empresas realiza investimentos sociais com parceiros — os mais citados foram as instituições sociais (24%) e as escolas (21,2%).

RESPONSABILIDADE SOCIAL N A P R Á T I C A

A Iochpe-Maxion, com seu forte senso de responsabilidade social, desenvolvendo vários projetos na área de educação, cultu-ra e bem-estar social, como o Formare (implantação de escolas técnicas para jovens entre 14 e 17 anos), passou de patrocinadora de programas sociais a gestora de iniciativas sociais. Ou seja, em vez de ter seus recursos divididos por vários programas e projetos, ela passou a focá-los, otimizando os resultados e ganhando maior retorno institucional e de vendas.

(12)

A responsabilidade social disseminada como uma atitude estraté-gica permite criar uma nova cultura dentro da empresa, sendo praticada e incorporada na gestão e em atividades regulares como produção, dis-tribuição, recursos humanos e marketing.

Segundo uma pesquisa da You & Company com mais de 2 mil MBAs que procuravam emprego, 83% deles disseram que, entre duas ofertas com condições semelhantes, escolheriam a da empresa que demonstrasse maior responsabilidade social.

RESPONSABILIDADE Em retrospectiva

A existência de tantas definições de responsabilidade social mos-tra como há uma mistura de idéias, conceitos e práticas em construção que tem provocado acaloradas discussões. Para que o conceito de res-ponsabilidade social corporativa possa ser melhor fundamentado, o pró-ximo capítulo apresentará uma revisão da literatura acadêmica sobre esse tema. Em seguida à revisão da literatura, será apresentado um modelo conceitual — “Mandala da empresa socialmente responsável” — que orienta uma gama de possibilidades de incorporação da responsabilida-de social nos negócios.

(13)

Toda empresa industrial que se respeita e pretende desenvolver-se cada vez mais deve basear-se nos seguintes princípios:

1o) O verdadeiro objetivo de uma indústria não é ganhar dinheiro, e sim

bem servir ao público, produzindo artigos de fabricação conscienciosa e ven-dendo-os pelos preços mais moderados possíveis. A indústria que se norteia por esses princípios nunca pára de crescer nem de desdobrar-se em benefícios para todos quantos nela cooperam. Torna-se uma obra de paciência, consciência e boa vontade — três elementos sem os quais nada se consegue no mundo.

2o) Uma empresa industrial depende da cooperação de três elementos:

os diretores, os operários e o consumidor. Sem o concurso desses três fatores, a indústria não pode subsistir. Assim, os diretores, os operários e o consumi-dor funcionam como sócios da empresa, e nessa qualidade têm direito a parti-cipação nos lucros:

ANEXO ANEXOANEXO ANEXOANEXO

Apelo aos nossos operários

25

por Monteiro Lobato

25. Programa proposto por Monteiro Lobato aos operários da editora que trazia seu nome.

3o) Os diretores da empresa fazem parte do seu operariado, com a única

diferença que lhes cabe o trabalho mental da organização e da coordenação. A eles incumbe promover com inteligência a segurança e a venda dos produtos de modo que nunca falte trabalho na fábrica e que, pela boa direção dos negó-cios, os três sócios aufiram os lucros a que têm direito.

• sócio-consumidor participa nos lucros recebendo artigos cada vez mais caprichados e por preços cada vez mais baixos. A indústria que procura lesar esse sócio impingindo artigos mal-feitos e caros não é indústria, é pirataria;

• sócio-operário participa nos lucros sob forma de constantes aumentos de salários. A indústria que não sabe ou não pode proporcionar esse lucro ao sócio-operário não cumpre a sua alta missão;

• sócio-capitalista participa dos lucros sob forma de dividendos razoáveis. Ele forneceu o capital necessário à montagem da indústria e tem direito a uma remuneração proporcional.

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Mas a todo direito corresponde um dever. O dever do sócio-capitalista é não desprezar os outros sócios, querendo tudo para si; é contentar-se com uma quota justa, que não sacrifique o sócio-consumidor nem o sócio-operário.

O dever do sócio-operário é dar à empresa a soma de trabalho que ao nela ser admitido se comprometeu a dar. Tanto lesa a indústria e a aniquila o mau patrão como o mau operário. Por mau operário entende-se todo aquele que trabalha de má vontade, procurando nas horas de oficina encher o tempo, em vez de produzir. O operário que assim procede prejudica a si próprio, a sua família e a sociedade em que vive. Se todos fizessem o mesmo, que sucederia? A empresa cessaria de dar lucros, teria de baixar os salários e por fim de fechar as portas, privando de trabalho inúmeras criaturas humanas.

Precisamos não nos esquecer nunca de que o trabalho é a lei da vida. Sem trabalho não se vive. Tudo que na terra existe a mais na natureza é produto do trabalho humano. Só o trabalho pode melhorar as condições de vida dos homens. Se assim é, nada mais inteligente do que trabalhar com ale-gria, consciência e boa vontade.

Nas empresas industriais de alto tipo, o salário é uma forma prática de dar ao sócio-operário a sua parte nos lucros da produção. Mas como há de uma empresa auferir lucros suficientes para isso se o operário produz pouco e de má vontade? Quem paga o salário não é o capital. Este apenas fornece as má-quinas. Quem paga o salário é a produção, o que vale dizer que o operário se paga a si próprio. Ora, se assim é, quanto maior, mais eficiente, mais econômi-ca e rápida for a produção, mais os lucros avultam e maiores serão os salários. Como pode pretender melhoria de salário o operário que produz mal, se o salário é uma conseqüência da sua produção?

A economia de tempo e material representa lucro e aumento de salário. Quem pode fazer um serviço em uma hora e o faz em duas; quem mata o tempo em vez de produzir; quem dá dez passos em vez dos oito necessários; quem espicha a sua tarefa; quem se esconde atrás de uma porta; quem maltrata uma máquina; quem estraga uma folha de papel; quem perde um minuto que seja de trabalho, lesa a empresa e lesa, portanto, a si próprio. No fim do ano, a soma desses pequenos desperdícios representa muito. A empresa que conse-gue evitá-los habilita-se a beneficiar o público com melhoria de preços e o operário com melhoria de paga.

Trabalhemos, pois, com amor e boa vontade, conscientes de que somos um organismo capaz de ir ao infinito, se todas as células cooperarem em harmonia

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para o fim comum. Podemos nos transformar numa empresa que nos orgulhe a todos — e a todos beneficie cada vez mais. Para isso o meio é a preocupação constante de produzir com o mais alto rendimento em perfeição e presteza.

Quem não pensar assim prestará um verdadeiro serviço à empresa, ao pú-blico e aos seus colegas retirando-se. Nossa empresa saiu do nada, é filha de um modesto livrinho e tendo vencido mil obstáculos já faz honra em São Pau-lo. Mas devemos considerá-la apenas como um início do que poderá vir a ser. Está em nossas mãos torná-la um jequitibá majestoso à cuja sombra todos nós possamos nos abrigar — nós e mais tarde nossos filhos. Mas, se não trabalhar-mos com boa vontade e consciência do que estatrabalhar-mos fazendo, o jequitibá não assumirá nunca a majestade que tem na floresta e não dará a sombra de que todos precisamos.

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