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1. A Bacia do rio Santo Antônio no Programa de Geração Hidrelétrica de Minas Gerais...3

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Apresentação

A Associação de Defesa e Desenvolvimento Ambiental de Ferros é uma entidade de natureza jurídica criada em 2001 para atuar nas questões relativas à conservação ambiental do município de Ferros, através do apoio a práticas de defesa do meio ambiente junto aos órgãos ambientais locais, e implementação de ações de educação ambiental e de formação cidadã.

Desde 2008, a ADDAF vem participando da forte mobilização popular e do Poder Público de Ferros em defesa do patrimônio natural e cultural do município, gravemente ameaçados pelo Programa de Geração Hidrelétrica de Minas Gerais (PGHMG). Amparados na legislação municipal e na forte resistência da população aos empreendimentos, vereadores, prefeito e sociedade civil lutam para evitar a implantação dos dois mais graves, entre oito, aproveitamentos hidrelétricos apontados para Ferros pelo Programa: PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras.

Vivenciamos atualmente o momento decisivo para futuro de Ferros, pois os empreendimentos colocam em risco os valores naturais e culturais mais relevantes do município, essenciais à sustentabilidade social de sua população. Com o objetivo de embasar uma Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público, capaz de assegurar a proteção do patrimônio natural e histórico do município, e da população rural tradicional ameaçada, encaminhamos à Promotoria de Justiça da Comarca de Ferros o presente documento técnico que, fundamentado em informações disponibilizadas pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, demonstra a incoerência e inviabilidade ambiental e social dos aproveitamentos propostos para o município.

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Índice

1. A Bacia do rio Santo Antônio no Programa de Geração Hidrelétrica de

Minas Gerais ... 3

2. Ferros: patrimônio natural e cultural estratégicos ameaçados... 8

3. Diretrizes para a implantação do PGHMG ... 21

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1. A Bacia do rio Santo Antônio no Programa de Geração Hidrelétrica de Minas Gerais

O Programa de Geração Hidrelétrica de Minas Gerais 2007-2027 foi concebido pelo Governo do Estado com o propósito de ampliar o parque gerador de energia hidrelétrica de Minas, em dimensão necessária para suprir toda a demanda energética interna neste horizonte de tempo, e gerar excedentes exportáveis. Para o alcance de metas tão ousadas, o programa prevê a instalação de 380 novos empreendimentos hidrelétricos em território mineiro, sendo 45 Usinas Hidrelétricas (UHE) e 335 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH)1.

A Bacia do rio Doce concentra o maior número de aproveitamentos hidrelétricos propostos pelo programa, um total de 114, sendo 08 UHE e 106 PCH (tabela 01) 2. Localizada nas regiões Central e Leste de Minas Gerais, a Bacia do rio Doce é dividida em 06 unidades territoriais de gestão dos recursos hídricos (UPGRH): DO1: Bacia do rio Piranga, DO2: Bacia do rio Piracicaba, DO3: Bacia do rio Santo Antônio, DO4: Bacia do rio Suaçuí, DO5: Região do rio Caratinga, e DO6: Bacia do rio Manhuaçu (figura 01).

TOTAL Bacias UHE MW PCH MW MW % São Francisco 20 1.964 81 960 2925 38 Jequitinhonha 11 990 05 61 1051 14 Mucuri - - 01 22 23 - Doce 08 774 106 1.343 2118 28 Paraíba do Sul - - 53 465 465 6 Piracicaba/ Jaguari - - 12 39 39 1 Grande 02 177 44 400 521 7 Paranaíba 04 195 33 301 550 7 TOTAL 45 4.100 335 3.591 7691 100 1

SEDE/SEMAD. 2007. Avaliação Ambiental Estratégica do PGHMG 2007-2027, p. 10. 2

Op. cit., p. 16.

Tabela 01: Distribuição dos 380 Aproveitamentos Hidrelétricos apontados pelo Programa de Geração Hidrelétrica de Minas Gerais, entre as bacias hidrográficas do estado.

(4)

Dentre as seis unidades territoriais da bacia do rio Doce em território mineiro, a sub-bacia do rio Santo Antônio se destaca pelas características ambientais que apresenta:

• É a única que mantém elevados índices de qualidade da água na maior parte de seus rios;

• Sustenta elevada riqueza de espécies de peixes, incluindo espécies endêmicas, ameaçadas de extinção e migradoras;

• Detém a mais alta porcentagem de cobertura vegetal nativa preservada (31,51%);

Figura 01: Unidades de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas de Minas Gerais.

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• É a mais vulnerável à perda de sítios arqueológicos bem preservados3.

Associadas a estas potencialidades ambientais marcantes, estão presentes na sub-bacia do rio Santo Antônio restrições ambientais que têm efeitos severos sobre os corpos hídricos e empreendimentos hidrelétricos aí instalados: a alta susceptibilidade a movimentos de massa (deslizamentos) e erosão dos solos4, que resultam em processos de acentuado assoreamento dos rios5.

A despeito das potencialidades e restrições ambientais apresentadas pela sub-bacia, o PGHMG aponta 22 aproveitamentos hidrelétricos em seu território (tabela 02). A maior parte deste conjunto está localizada na região do Alto rio Santo Antônio, um total de 17 aproveitamentos, sendo dez no rio Santo Antônio, cinco no rio do Peixe, um no rio do Tanque e um no rio Riachinho. A quantidade e a proximidade dos barramentos previstos são notórias nesta proposta.

3

SEDE/SEMAD. Avaliação Ambiental Estratégica do PGHMG 2007-2027, pp. 43 e 53. 4

Op. cit., p. 43. 5

EPE. Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia do rio Doce: Relatório Final, p.119.

Figura 02: Localização dos aproveitamentos hidrelétricos apontados pelo PGHMG para a sub-bacia do rio Santo Antônio (DO 03). A linha tracejada delimita os aproveitamentos situados na região do Alto rio Santo Antônio, um total de 17 entre os 22 empreendimentos previstos.

(6)

Eixo do barramento: município Nº Empreendimento Potência (MW) Área do reservatório (HA) Rio Ferros 173 PCH Brejaúba 12 45

175 PCH Santa Rita 5 122 Rio do Peixe

177 PCH Sapé 19,5 356 Rio do Tanque

185 PCH Ferros 16,6 428 184 PCH Ferradura 23 428 186 PCH Ouro Fino 28,4 236 190 PCH Sentinela 18,4 20.600 191 PCH Sete Cachoeiras 17,6 122

Rio Santo Antonio

Total 08 140,5 22.337

Demais municípios

Belo Oriente 34 UHE Escura 75 885 Rio Doce

Carmésia 172 PCH Axupé 6 - 174 PCH Monjolo 15 33 176 PCH São João 10 - Rio do Peixe Dores de Guanhães 178 PCH Dores de Guanhães 14 424 179 PCH Funil 22,5 11 180 PCH Jacaré 10,5 17 181 PCH Senhora do Porto 12 77 Rio Guanhães Conceição do Mato Dentro 182 PCH Coronel Américo Teixeira 5,6 42 Rio Riachinho 183 PCH Conceição 6,5 -

192 PCH Sumidouro 13 140,5 Rio Santo Antonio Morro do Pilar 187 PCH Porcos 5,5 178 Rio Santo Antonio Santo Antônio

do Rio Abaixo

188 PCH Quinquim 15,5 300

189 PCH Santo Antônio 7 160

Rio Santo Antonio

Total 14 218,1 2.267,5

Tabela 02: Empreendimentos hidrelétricos previstos pelo PGHMG para a sub-bacia do rio Santo Antônio.

(7)

O Alto rio Santo Antônio está entre as regiões mais relevantes para a conservação da biodiversidade no estado. O alto curso do rio Santo Antônio e seus tributários, onde se concentram os aproveitamentos hidrelétricos do PGHMG, são classificados pelos governos federal e estadual como áreas de importância biológica alta e extremamente alta, prioritárias para a conservação, por abrigarem espécies endêmicas e ameaçadas de extinção da ictiofauna brasileira (figura 03). Pela dimensão de sua proposta, o PGHMG estabelece um conflito de grande proporção e de graves implicações na gestão pública do patrimônio ambiental da região.

Figura 03: Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade na sub-bacia do rio Santo Antônio, segundo PROBIO (MMA, 2003) e Fundação Biodiversitas (2005). O rio Santo Antônio e seus ecossistemas são classificados como áreas de relevância biológica extremamente alta (Especial), em razão de abrigarem espécies de peixes endêmicas e ameaçadas de extinção: Andirá (Henochilus wheatlandii - espécie ameaçada e endêmica da sub-bacia do rio Santo Antônio), Surubim-do-doce (Steindachneridion doceanum - espécie ameaçada e endêmica da bacia do rio Doce), Pirapitinga (Brycon opalinus), Timburé (Leporinus thayeri) e Piabanha (Brycon devillei). Delineada em rosa está a extensa área do rio Santo Antônio ameaçada pela PCH Ferradura, no município de Ferros. A d a p ta d o d o E IA - P C H F e rr a d u ra

DO 03

(8)

A sensibilidade ambiental da sub-bacia do rio Santo Antônio é reconhecida e destacada pelo instrumento elaborado para subsidiar as decisões do Poder Público relativas à implantação do PGHMG na bacia do rio Doce, a Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia do rio Doce (AAI), sob responsabilidade da Empresa de Pesquisa Energética. Ao se referir aos empreendimentos hidrelétricos previstos para a bacia do rio Santo Antônio e seus riscos ambientais, a AAI afirma:

“Seus efeitos se sobrepõem a uma situação de alta sensibilidade dos ecossistemas aquáticos. Trata-se de uma área com destaque no presente estudo, na medida em que a situação identificada no cenário atual mostra um relativo equilíbrio neste subespaço, que poderá ser rompido com a introdução de novos impactos cumulativos ou sinérgicos”. 6

A constatação apresentada por este instrumento específico de apoio à decisão demonstra a necessidade de redobrada atenção do Poder Público no que se refere à condução do PGHMG nesta região, tornando obrigatória a adoção de medidas para compatibilizar a geração hidrelétrica à manutenção da qualidade ambiental da bacia do rio Santo Antônio e de seus municípios.

A despeito desta evidência, a iniciativa de reformulação (adequação) do programa para a prevenção de danos graves à região ainda não foi demonstrada pelos órgãos gestores do PGHMG (SEDE e SEMAD). Ao contrário, projetos básicos de aproveitamentos estão sendo elaborados e processos de licenciamento referentes a subconjuntos isolados de empreendimentos hidrelétricos vêm sendo conduzidos junto ao órgão licenciador estadual, o que potencializa o quadro de vulnerabilidade da região e de sua população aos reconhecidos riscos impostos pelo PGHMG.

2. Ferros: patrimônio natural e cultural estratégicos ameaçados

Entre os municípios do Alto rio Santo Antônio inseridos no PGHMG, Ferros é o que concentra o maior número de aproveitamentos previstos pelo programa: oito, sendo cinco deles no rio Santo Antônio, dois no rio do Peixe e um no rio do Tanque (figura 03). A incoerência e inviabilidade deste conjunto se tornam evidentes a partir do conhecimento das características do município, de sua relevância regional, e das conseqüências ambientais dos empreendimentos planejados, que afetam bens naturais e culturais de valor estratégico na região.

6

EPE. Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia do rio Doce: Relatório Final, p. 137.

(9)

Valor econômico

O rio Santo Antônio desempenha um papel extremamente relevante na organização territorial e identidade cultural do município de Ferros. Eixo principal de ocupação do município, em suas margens estão localizados núcleos urbanos (Sede municipal e Sede do Distrito de Sete Cachoeiras), vias de acesso de importância histórica (Estrada Real), e numerosas propriedades rurais, habitadas por uma população que mantém com suas várzeas um vínculo estreito e secular.

O vale do rio Santo Antônio sustenta os terrenos mais férteis da região7, sendo matriz da significativa produção econômica da zona rural.8 Ferros detém a posição de primeiro produtor agropecuário da região, setor que contribui com 26% do PIB municipal (tabela 03). A importância da produção agropecuária para o PIB do município merece destaque, estando dez pontos percentuais acima dos demais municípios inseridos no PGHMG.

7

Estudo de Impacto Ambiental da PCH Ferradura: Meio Físico, p. 32 8

Fonte: http://www.cmferros.mg.gov.br/cidade.htm

Figura 03: Municípios do Alto rio Santo Antônio inseridos no PGHMG, tendo Ferros em destaque. Situado no limite leste da mesoregião Metropolitana de Belo Horizonte, Ferros é drenado pelo rio Santo Antônio e seus afluentes rio do Peixe e rio do Tanque. Sua distância até a capital mineira é de 180 km, com acesso através da BR-381 e MG-120.

F o n te : h tt p :/ /p t. w ik ip e d ia .o rg /w ik i/ F e rr o s B a s e d e d a d o s : I G A M

(10)

Valor adicionado (R$)

Município Agropecuária Indústria Serviço

PIB per capita %PIB (Agrop) Ferros 12.575.000 4.687.000 28.734.000 4.384 26% Serro 12.441.000 9.168.000 53.679.000 3.547 16% Itabira 11.895.000 1.549.218.000 783.208.000 22.504 0% Conceição do Mato Dentro 10.262.000 5.218.000 45.198.000 3.419 16% Santa Maria de Itabira 7.468.000 7.195.000 32.583.000 4.962 15% Alvorada de Minas 4.212.000 965.000 7.401.000 3.997 32% Dom Joaquim 2.765.000 1.578.000 10.271.000 3.354 18% Itambé do Mato Dentro 2.104.000 798.000 6.892.000 4.129 21% Morro do Pilar 1.739.000 1.288.000 9.049.000 3.429 14% Carmésia 1.342.000 721.000 6.912.000 4.110 15% Passabém 1.224.000 607.000 5.188.000 3.362 17% São Sebastião do Rio

Preto 1.189.000 476.000 4.656.000 4.237 18%

Santo Antonio Rio Abaixo 968.000 559.000 4.800.000 4.014 15%

A zona rural abriga a maior parte da população de Ferros, que corresponde à quarta mais numerosa da região (tabela 04):

“Assim como a grande maioria dos municípios da bacia do Santo Antônio e diferente do que ocorre no Estado de Minas Gerais, a maior parte da população [de Ferros] está instalada na zona rural (7.703 habitantes, correspondendo a 62,5%)”9.

A qualidade de vida no município se assemelha à média estadual, segundo valores do Índice de Desenvolvimento Humano avaliados em 2000. Os indicadores utilizados revelam que a ampliação da renda per capta constitui fator determinante para o aumento da qualidade de vida de sua população:

“Todos os índices (educação, longevidade e renda) evoluíram positivamente [entre 1991 e 2000]. O IDH-Educação foi dos três, o que teve um crescimento maior, fato que está associado ao significativo aumento das taxas de alfabetização. O IDH-Renda foi o que menos cresceu, demonstrando que a baixa renda da população continua sendo o principal agravante para a melhoria das condições sociais de Ferros”.10

9

Estudo de Impacto Ambiental da PCH Ferradura: Meio Socioeconômico, p.16. 10

Op. cit., pp. 66 e 67.

Tabela 03: Municípios do Alto rio Santo Antônio organizados segundo o valor adicionado ao PIB municipal pela produção agropecuária, conforme Censo IBGE 2006. Destacados em cinza estão os municípios inseridos no PGHMG. %PIB (Agrop): Importância relativa da produção agropecuária sobre o valor total do PIB.

(11)

Município Habitantes Área (Km2)

Itabira 105159 1257

Serro 20862 1218

Conceição do Mato Dentro 18070 1671

Ferros 11387 1090

Santa Maria de Itabira 10445 510

Dom Joaquim 4530 407

Alvorada de Minas 3482 375

Morro do Pilar 3474 476

Carmésia 2550 336

Itambé do Mato Dentro 2434 381

Passabem 1801 95

Santo Antonio Rio Abaixo 1753 107 São Sebastião do Rio Preto 1700 127

Os empreendimentos hidrelétricos planejados para o rio Santo Antônio no município comprometem áreas produtivas e valores ambientais que constituem, respectivamente, uma das bases atuais da economia e a principal alavanca para o fortalecimento econômico e social da população de Ferros. As perspectivas de aumento da arrecadação municipal e da geração de renda em diferentes setores de comércio e de prestação de serviços, a partir de investimentos na conservação da biodiversidade e patrimônio cultural que promovam sua valorização e uso pela sociedade, são elevadas, considerando as potencialidades do município no cenário regional e o posicionamento da sub-bacia do rio Santo Antônio entre as áreas preferenciais de aplicação de recursos oriundos das compensações ambientais de empreendimentos hidrelétricos licenciados na bacia do rio Doce11.

A destruição do patrimônio ambiental associado ao rio Santo Antônio esterilizaria o município, subtraindo de seu território os valores naturais e culturais mais relevantes, e agravaria o quadro de baixa renda per capita apresentada pela população, comprometendo claramente a sustentabilidade social de Ferros.

11

EPE. Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia do rio Doce: Relatório Final, p. 207.

Tabela 04: Municípios do Alto rio Santo Antônio organizados segundo o número de habitantes, conforme censo IBGE 2007. Destacados em cinza estão os municípios inseridos no PGHMG.

(12)

Valor ecológico

As potencialidades do rio Santo Antônio para a conservação da biodiversidade e preservação de valores culturais no município de Ferros são notórias, e têm importância vital para a sustentabilidade social do município.

Ferros preserva, ao longo do rio Santo Antônio, sítios históricos e paisagísticos que constituem referências fundamentais da memória e da identidade cultural de sua população e de outros milhares de cidadãos mineiros. Associados à Estrada Real, no trecho entre a sede do município e o Distrito de Sete Cachoeiras, estão verdadeiros refúgios naturais, de grande beleza cênica e extrema relevância ecológica (figura 04).

Figura 04: Sítios de importância ecológica prioritária para a conservação da biodiversidade no rio Santo Antônio, no município de Ferros, Distrito de Sete Cachoeiras. Em destaque estão hábitats essenciais para espécies ameaçadas de extinção (corredeiras sobre leito rochoso no rio Santo Antônio e remanescentes da Mata Atlântica Semidecidual). O valor paisagístico e histórico do rio Santo Antônio no trecho entre Sete Cachoeiras e a sede municipal reforça a importância social desta área para o município de Ferros, que se constitui em espaço destinado pelo Poder Público local à recreação, turismo, educação e preservação da memória do município. Fotos: Beatriz Lisboa.

(13)

A recente pesquisa realizada na bacia do rio Santo Antônio para atualizar as informações acerca da distribuição do Andirá, e predizer os efeitos da implantação de empreendimentos hidrelétricos sobre a sua população, confirma a importância fundamental do rio Santo Antônio no município de Ferros para a conservação desta espécie ameaçada (figura 05).12

Ao longo de quatro anos de pesquisa (2004 a 2007), registros do Andirá foram obtidos em 19 de 68 localidades amostradas na bacia do rio Santo Antônio (rios Santo Antônio, do Peixe, do Tanque, Preto do Itambé, Guanhães) e Corrente Grande. Os resultados demonstram que o rio Santo Antônio concentra as maiores probabilidades de ocorrência da espécie (calculadas a partir de dados de características e disponibilidade de hábitats), e, evidentemente, ambientes imprescindíveis para sua conservação. As conclusões do estudo confirmam a situação de grave ameaça enfrentada pela espécie frente ao PGHMG:

“(...) em função dos recentes estudos realizados, esta espécie [Andirá

-Henochilus wheatlandii] é, sem dúvida, bastante susceptível a impactos nesta

região, uma vez que sua distribuição ainda é bastante restrita”.

12

Anderson Latini, D. Resende, R. Figueira e R. Latini. Atualização e análise da distribuição do Andirá (Henochilus

wheatlandii Garman, 1890) na bacia do rio Santo Antônio, MG. Belo Horizonte: VI Simpósio Brasileiro sobre

Pequenas e Médias Centrais hidrelétricas, 2007.

Figura 05: Probabilidade de ocorrência do Andirá (Henochilus wheatlandii - espécie de peixe endêmica da bacia do rio Santo Antônio, ameaçada de extinção) na bacia do rio Santo Antônio e Corrente Grande, em 2007. As áreas com probabilidade de ocorrência da espécie acima de 80% somam 96,84 Km na bacia. Destes, 63,7 Km (66%) estão situados no município de Ferros. A barra vermelha indica a localização e extensão do trecho do rio Santo Antônio ameaçado pelas PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras, no município de Ferros.

(14)

Valor histórico-cultural

O rio Santo Antônio abriga em suas várzeas uma população que mantém vivas as raízes da cultura mineira, através da reprodução de um modo de vida tradicional, e da preservação de um relevante acervo do patrimônio histórico de Minas Gerais, incluindo edificações do século XIX e trechos imponentes de pavimentação da Estrada Real (figuras 06 e 07). O forte vínculo das famílias da região às suas terras e costumes, notadamente observado no Distrito de Sete Cachoeiras, evidencia o grande valor atribuído pela população à sua herança cultural.

Os bens históricos e paisagísticos associados ao rio Santo Antônio constituem elementos fundamentais da identidade e dos valores da sociedade local, desempenhando importante papel na formação social de milhares de cidadãos mineiros. No intuito de promover a sua preservação, uma parcela destes bens culturais foi recentemente tombada pelo Poder Público Municipal.

Figura 06: Sítios históricos e áreas produtivas associadas à várzea do rio Santo Antônio, no Distrito de Sete Cachoeiras. Em destaque, edificações do século XIX e extensas planícies aluviais utilizadas na agricultura familiar e pecuária. Fotos: Beatriz Lisboa.

(15)

Figura 07: Trecho da Estrada Real instalado por mão-de-obra escrava no século XIX, ligando Sete Cachoeiras à sede do município de Ferros. Fotos: Beatriz Lisboa.

Figura 08: Sítios históricos mapeados no Distrito de Sete Cachoeiras, no primeiro inventário arqueológico realizado na região. Segundo os Estudos de Impacto Ambiental realizados, pelo menos 13 sítios encontram-se ameaçados pelas PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras. Impactos graves, causadores de danos irreversíveis, estão previstos sobre os sítios de mais alto valor do município: as pavimentações da Estrada Real (06 trechos) e as construções do século XIX mais antigas e preservadas do município (Fazenda Castelão, Fazenda Antônio Ribeiro).

A d a p ta d o d o E IA - P C H F e rr a d u ra

(16)

As informações disponibilizadas evidenciam o valor estratégico, em nível local e regional, do patrimônio ambiental associado ao rio Santo Antônio no município de Ferros. Às funções ambientais e sociais que desempenha hoje, adiciona-se o potencial extremamente elevado que apresenta para a captação de recursos financeiros destinados à conservação da biodiversidade e expansão do turismo ecológico-cultural, que tendem a se ampliar largamente nos próximos anos em razão das compensações ambientais previstas para a sub-bacia, e da preparação do estado para os eventos do cenário mundial a serem realizados em nosso país.

Diante dos riscos impostos pelo PGHMG ao município de Ferros e à sua região, a atuação da sociedade civil e das instituições públicas de defesa dos interesses da coletividade assumem papel decisivo para assegurar a integridade, o direito de acesso, bem como o direito à herança de valores ambientais e sociais tão relevantes às gerações atuais e futuras de nossa população.

Características dos Aproveitamentos Hidrelétricos do PGHMG

As características do conjunto de aproveitamentos hidrelétricos apontados para Ferros evidenciam a gravidade do que propõe o PGHMG para o município. Cinco dos oito aproveitamentos indicados estão entre os causadores dos mais graves impactos ambientais na sub-bacia do rio Santo Antônio, fazendo parte dos 35% mais impactantes de todo o estado, como demonstra a Avaliação Ambiental Estratégica do PGHMG (tabela 05).

Considerando os valores ambientais da sub-bacia do rio Santo Antônio e suas funções sociais estratégicas (conservação da biodiversidade, manutenção da identidade cultural mineira e formação de valores), bem como o risco iminente de rompimento do equilíbrio ecológico regional pelos empreendimentos do PGHMG13, torna-se imperativo o estabelecimento de um plano de geração ajustado para a sub-bacia, capaz de compatibilizar a geração hidrelétrica com a sustentabilidade ambiental e social de seus municípios.

A despeito desta evidência, nenhuma ação reguladora foi adotada pelo Poder Público estadual para a adequação do PGHMG. Desde 2007, a ANEEL vem expedindo autorizações para a elaboração de Projetos Básicos dos aproveitamentos propostos, e processos de licenciamento vêm sendo abertos, gerando grande risco para o patrimônio ambiental da região e forte pressão sobre a população e a administração pública locais.

13

EPE. Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia do rio Doce: Relatório Final, p. 137.

(17)

AHE Classificação IA MW Município Estágio do Licenciamento PCH Senhora do Porto 17º 12 Dores de Guanhães LI PCH C. A. Teixeira 26º 5,6 Conceição do Mato Dentro PCH Jacaré 29º 10,5 Dores de Guanhães LI PCH Funil 56º 22,5 Dores de Guanhães LO

PCH Porcos 112º 5,5 Morro do Pilar

PCH Brejaúba 122º 12 Ferros LP

PCH Santo Antonio 138º 7

S. Antônio do Rio Abaixo

PCH Santa Rita 150º 5 Ferros

PCH Ouro fino 175º 28,4 Ferros

PCH Sumidouro 183º 13 Conceição do Mato Dentro LP PCH Monjolos 184º 15 Carmésia LP PCH Dores do Guanhães 209º 14 Dores de Guanhães LI PCH Quinquim 210º 15,5 S. Antônio do Rio Abaixo LP

PCH Sete Cachoeiras 227º 17,6 Ferros

PCH Ferros 239º 16,6 Ferros

PCH Sapé 258º 19,5 Ferros

PCH Conceição 233º 6,5

Conceição do Mato Dentro

PCH São João 265º 10 Carmésia

PCH Ferradura 274º 23 Ferros

PCH Axupé 289º 6 Carmésia

UHE Escura 296º 75 Belo Oriente

PCH Sentinela 333º 18,4 Ferros

Dados relativos ao licenciamento ambiental dos empreendimentos planejados para a sub-bacia do rio Santo Antônio mostram que oito aproveitamentos hidrelétricos (36%) já contam com licença referente a alguma das fases do processo de licenciamento (LP, LI ou LO) (tabela 05), o que indica que a sub-bacia do rio Santo Antônio deverá contribuir dentro de alguns anos com 114MW de potência instalada para a Matriz Energética do estado.

Tabela 05: Classificação dos Aproveitamentos Hidrelétricos (AHE) indicados pelo PGHMG para a sub-bacia do rio Santo Antonio, segundo o Índice de Impacto Ambiental (IA). Esta classificação baseia-se em valores de IA calculados para 345 AHE, e está organizada em ordem crescente de níveis de impactos gerados.

(18)

Em 2009, com a abertura de processos de licenciamento de dois dos empreendimentos mais impactantes planejados para o rio Santo Antônio, PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras, deu-se início à fase decisiva da gestão do valioso patrimônio ambiental do Alto rio Santo Antônio, instalando-se o risco iminente de extensa e irreversível degradação ambiental no município de Ferros, com implicações graves sobre a sustentabilidade social e qualidade de vida de sua população.

Em razão dos impactos ambientais previstos, os dois empreendimentos enfrentam fortíssima resistência pela sociedade quanto à sua implantação, demonstrada através de representações junto à Promotoria de Justiça local, requerimento de Audiência Pública ao órgão licenciador, abaixo-assinado, cartas ao prefeito e à população do Alto rio Santo Antônio, Audiência Pública junto à Comissão de Minas e Energia da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, tendo sido declarados pela Prefeitura Municipal de Ferros como conflitantes com a legislação ambiental municipal e com o interesse público, pelas perdas graves e irreversíveis que impõem de patrimônio cultural de valor fundamental para o município:

“O Município de Ferros está inserido no Monumento Nacional Caminhos da Estrada Real. Temos em Ferros parte desta história que, com a construção das PCH em questão, poderá desaparecer para sempre. É fundamental preservar a riqueza e promover o resgate histórico da Estrada Real e de nosso povo, como fonte de orgulho perante todos os brasileiros. Para tanto fazemos parte do Circuito Turístico Caminhos dos Rios da Serra do Espinhaço, juntamente com mais seis Municípios, na luta pela preservação e pelo desenvolvimento do turismo na região, principalmente o turismo cultural, rural e ecológico.

Esses empreendimentos afetarão diretamente construções da arquitetura rural do século XIX e pavimentações erigidas por mão de obra escrava para trânsito de tropeiros ao longo do rio Santo Antônio. A Sede do distrito de Sete Cachoeiras possui construções históricas que também serão afetadas pelas PCH, destruindo a sociedade local.”14

Os Estudos de Impacto Ambiental referentes aos empreendimentos PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras confirmam a gravidade dos impactos ambientais associados a estes dois aproveitamentos hidrelétricos.

14

(19)

As represas a serem formadas cobrem mais de 23 km de extensão ao longo do rio Santo Antônio, e inundam mais de 590 hectares de áreas estratégicas e indispensáveis à sustentabilidade ambiental e social do município (figura 09).

Os impactos ambientais previstos em decorrência do extenso alagamento incluem: • Destruição de áreas produtivas essenciais para a população rural tradicional do

município, residente há cinco gerações no vale do rio Santo Antônio;

• Destruição de remanescentes de grande importância de Mata Atlântica Semidecidual, categoria de floresta mais ameaçada no Brasil e no mundo, em que estão presentes espécies raras e ameaçadas de extinção da flora brasileira15 ;

• Degradação de ecossistemas aquáticos classificados como prioritários para a conservação de espécies endêmicas e ameaçadas, em conseqüência da

15

Estudo de Impacto Ambiental da PCH Ferradura. Meio Biótico, p. 81.

PCH FERROS A d a p ta d o d o E IA P C H F e rr a d u ra e E IA P C H S e te C a c h o e ir a s

Figura 09: Área do rio Santo Antônio ameaçada pelos reservatórios das PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras no município de Ferros, correspondente a mais de 23 km de extensão, e a um total de 590 hectares de terras afetadas por inundação. Os círculos azuis indicam a localização aproximada no rio Santo Antônio e no rio do Tanque de outros três aproveitamentos hidrelétricos com Projeto Básico em elaboração, segundo ANEEL: PCH Ouro Fino, PCH Ferros e PCH Sapé.

PCH OURO FINO

PCH SAPÉ

(20)

destruição da mata ciliar, alteração do fluxo da água e de suas propriedades físico-químicas (peixes);

• Destruição de sítios históricos e paisagísticos de altíssima relevância para a sociedade mineira e para o município de Ferros, incluindo trechos da Estrada Real, construções do século XIX, praias e matas do rio Santo Antônio tombados pelo Poder Público Municipal.

Como explicita o Estudo de Impacto Ambiental da PCH Ferradura:

“Os maiores impactos desse empreendimento serão de ordem social (a perda de parte da propriedade rural, justamente onde os solos são mais propensos à agricultura, para que seja criado o lago artificial) e principalmente de cunho biótico (fauna e flora, destacadamente para a ictiofauna que se deparará com um ambiente totalmente adverso, já que seu meio é de água rica em oxigênio, ou seja, de um rio com corredeiras e não um lago)”.16

As ameaças impostas pelos dois aproveitamentos hidrelétricos – PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras – ao patrimônio ambiental de importância prioritária para a região foram denunciadas ao poder público em 2008 (período em que os estudos de impacto ambiental eram conduzidos na região), pela sociedade civil de Ferros através de representação encaminhada à Promotoria de Justiça local e à SEMAD. De acordo com informações apresentadas no Estudo de Impacto Ambiental da PCH Ferradura, a representação encaminhada representa o primeiro registro sobre o relevante acervo do patrimônio cultural mineiro preservado nesta região do rio Santo Antônio. Em sua seção referente a Arqueologia, o Estudo de Impacto Ambiental expressa claramente a gravidade das perdas de patrimônio cultural impostas pelas PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras:

“Considerando o exposto acima, bem como os resultados apresentados ao longo deste relatório, ratificamos que o empreendimento, tal como foi proposto em documentação básica fornecida para a elaboração do presente diagnóstico, acarretará ao patrimônio, dano irreversível e inestimável. Salientamos que, caso sensibilizados, os empreendedores apresentem alternativas para a não destruição por submersão do patrimônio – ESTRADA REAL, alguns programas que envolvam o fomento das rotas turísticas, prospecção, resgate de sítios históricos e pré-históricos e uma ampla ação de educação patrimonial, serão de extrema relevância para a região”.17

16

Estudo de Impacto Ambiental da PCH Ferradura: Meio Físico, pp 76 e 77. 17

(21)

3. Diretrizes para a implantação do PGHMG

O governo de Minas Gerais tem como diretriz para o processo de implantação do PGHMG a manutenção da sustentabilidade ambiental e social das áreas onde irão se inserir os novos empreendimentos hidrelétricos, dispondo de instrumentos de suporte à decisão especialmente desenvolvidos para este fim:

“O instrumento Avaliação Ambiental Estratégica do PGHMG visa estabelecer as bases conceituais e operacionais à tomada de decisão no âmbito do processo de planejamento do setor elétrico mineiro no que diz respeito às suas finalidades, visão estratégica, projetos e ações com a perspectiva de se promover o desenvolvimento da geração hidrelétrica de forma ambientalmente sustentável”.18

“(...) entendido como instrumento de planejamento indicativo (...) [a AAE] objetiva assegurar que as decisões tomadas no âmbito de uma política, plano ou programa (PPP) tenham sido permeadas e/ou orientadas por informações, dados e conhecimentos socioambientais, que possam direcionar as ações de modo a se evitar comprometimentos à sustentabilidade socioambiental das áreas/regiões a serem impactadas; que, no caso do PGHMG são os sítios de recepção dos aproveitamentos hidrelétricos do PGHMG e seus entornos, rios, municípios, bacias hidrográficas e respectivas Unidades de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos (UPGRH) do Estado de Minas Gerais”.19

“Em síntese, considerando o conceito de AAE utilizado e os contornos de seu objeto de aplicação, o PGHMG, a motivação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico com a aplicação da AAE, é identificar os conjuntos de aproveitamentos, que conciliem o máximo de geração hidrelétrica e benefícios socioeconômicos com o mínimo de efeitos adversos ao meio ambiente e à sociedade. Tendo assim, uma ferramenta ou instrumento de apoio ao processo decisório ao longo da implantação do programa de expansão de seu parque gerador”.20

Aos órgãos estaduais de gestão ambiental e de desenvolvimento econômico, compete “o direcionamento territorial do processo de expansão associado ao desenvolvimento econômico regional e que provoque a menor interferência no espaço e/ou impactação socioambiental, aonde irão se inserir as novas unidades geradoras”.21

18

SEDE/SEMAD. 2007. Avaliação Ambiental Estratégica do PGHMG 2007-2027, p. 09. 19 Op. cit., p. 138. 20 Op. cit., p. 10. 21 . Op. cit., p. 10.

(22)

Conforme a análise realizada pela Avaliação Ambiental Estratégica do PGHMG, do conjunto de 380 aproveitamentos hidrelétricos (AHE) previstos para o estado, 21 % apresentam potencial restrição ambiental para sua implantação. Entre os aproveitamentos da sub-bacia do rio Santo Antônio, esta freqüência é de 59% (13 de 22 AHE), e em Ferros se eleva ainda mais, sendo de 62,5%: cinco dos oito aproveitamentos hidrelétricos estão classificados entre os que apresentam potencial restrição ambiental à implantação, entre eles as PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras (tabela 06).

A ameaça imposta pelos efeitos cumulativos destes empreendimentos sobre o equilíbrio ecológico da região e, consequentemente, sobre a sustentabilidade socioambiental da sub-bacia do rio Santo Antônio, é alvo de destaque na Avaliação Ambiental Integrada dos AHE da bacia do rio Doce:

“Seus efeitos se sobrepõem a uma situação de alta sensibilidade dos ecossistemas aquáticos. Trata-se de uma área com destaque no presente estudo, na medida em que a situação identificada no cenário atual mostra um relativo equilíbrio neste subespaço, que poderá ser rompido com a introdução de novos impactos cumulativos ou sinérgicos”. 22

Antes mesmo da condução dos Estudos de Impacto Ambiental, a Avaliação Ambiental Estratégica, com base nas informações disponíveis sobre o rio Santo Antônio em 2007, aponta a PCH Ferradura como causadora de impactos do mais elevado grau sobre a ictiofauna nativa (-8), sobre os hábitats terrestres legalmente protegidos (-8), e de impactos elevados sobre ecossistemas terrestres (-4,5). A PCH Sete Cachoeiras é também classificada como causadora do mais elevado grau de impacto sobre a ictiofauna nativa (-8). A extensão e localização dos danos previstos sobre ecossistemas aquáticos do rio Santo Antônio (extensão superior a 23 Km, em porção central de área essencial para a sobrevivência de espécie endêmica e sob risco de extinção), confirmam a gravidade dos impactos da PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras sobre a ictiofauna da região.

Dentre 300 PCH classificadas pela AAE, estes dois aproveitamentos estão entre as 16 PCH causadoras do mais elevado impacto sobre a ictiofauna nativa do estado (tabela 06). A PCH Ferradura integra ainda o grupo das 28 PCH causadoras do mais elevado nível de impacto sobre hábitats terrestres e áreas legalmente protegidas em todo o estado (tabela 07).

22

EPE. Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia do rio Doce: Relatório Final, p. 137.

(23)

Id e n ti fi c a ç ã o E m p re e n d im e n to S c o re I A D e p re c ia ç ã o Ic ti o fa u n a N a ti v a IA -R H In te rf .h a b it a ts te rr e s tr e s e Á re a s L e g a lm e n te P ro te g id a s IA -E C O T D in a m iz a ç ã o E c o n o m ia L o c a l B e n e fí c io E n e rg é ti c o (G W h /a n o ) P o te n c ia l R e s tr iç ã o A m b ie n ta l P C H S e n h o ra d o P o rt o -2 ,2 5 -2 -0 ,7 5 -2 -1 2 6 3 P C H J a c a ré -2 ,7 5 -2 -0 ,7 5 -2 -1 2 5 5 P C H C o ro n e l A m é ri c o T e ix e ir a -2 ,7 5 -4 -1 ,2 5 -2 -1 2 2 9 P C H F u n il -3 ,2 5 -2 -0 ,7 5 -2 -2 2 1 1 8 P C H P o rc o s -4 -8 -2 ,5 -2 -1 ,5 4 2 9 S IM P C H B re ja ú b a -4 ,2 5 -4 -1 ,2 5 -4 -2 1 6 3 P C H S a n to A n tô n io -4 ,5 -8 -2 ,5 -2 -1 ,5 8 3 7 S IM P C H S a n ta R it a -4 ,7 5 -4 -1 ,2 5 -4 -2 ,5 0 ,5 2 6 P C H O u ro F in o -4 ,7 5 -8 -2 ,2 5 -1 -1 ,5 2 1 4 9 S IM P C H M o n jo lo -5 ,2 5 -4 -1 ,2 5 -4 -2 ,5 8 7 9 P C H S u m id o u ro -5 ,2 5 -8 -2 ,7 5 -2 -1 ,5 2 6 8 S IM P C H D o re s d o G u a n h ã e s -5 ,7 5 -2 -1 ,2 5 -4 -2 ,5 2 7 4 P C H Q u in q u im -5 ,7 5 -8 -2 ,7 5 -2 -2 8 8 1 S IM P C H S e te C a c h o e ir a s -6 ,2 5 -8 -2 ,2 5 -4 -3 2 9 3 S IM P C H F e rr o s -6 ,5 -4 -1 ,5 -4 -4 2 8 7 P C H C o n c e ã o -6 ,5 -8 -2 ,5 -4 -3 1 3 4 S IM P C H S a p é -7 ,2 5 -4 -1 ,7 5 -8 -4 ,5 2 1 0 2 S IM P C H S ã o J o ã o -7 ,5 -4 -1 ,5 -8 -5 0 ,5 5 3 S IM P C H F e rr a d u ra -7 ,7 5 -8 -2 ,2 5 -8 -4 ,5 2 1 2 1 S IM U H E E s c u ra -8 ,5 -2 -1 -4 -2 ,5 1 3 9 4 S IM P C H A x u p é -8 ,5 -4 -1 ,5 -8 -5 4 2 6 S IM P C H S e n ti n e la -1 2 ,5 -8 -4 ,5 -4 -6 2 9 7 S IM T a b e la 0 6 : V a lo re s d o s Ín d ic e s d e Im p a c to c a lc u la d o s p a ra o s a p ro v e it a m e n to s h id re lé tr ic o s d a s u b -b a c ia d o ri o S a n to A n tô n io . O s a p ro v e it a m e n to s e n c o n tr a m -s e o rg a n iz a d o s e m o rd e m c re s c e n te d o Í n d ic e d e I m p a c to A m b ie n ta l. I A : Ín d ic e d e I m p a c to A m b ie n ta l, I A -R H : Ín d ic e d e I m p a c to s o b re R e c u rs o s H íd ri c o s , IA -E C O T : Ín d ic e d e I m p a c to s o b re E c o s s is te m a s T e rr e s tr e s . C la s s e s d e i n te n s id a d e d e i m p a c to n e g a ti v o s o b re o o b je to d e a n á lis e : (-8 ) M u it o A lt a , (-4 ) A lt a , (-2 ) M é d ia , (-1 ) B a ix a , (> -1 ) N ã o S ig n if ic a ti v a . F o n te : A A E P G H M G 2 0 0 7 -2 0 2 7 , M a tr iz d e S im u la ç ã o e S e n s ib ili z a ç ã o d e I m p a c to s .

(24)

UPGRH Identificação Empreendimento Potência (MW) Área alagada (ha) Depreciação da Ictiofauna Nativa IA

SF8 UHE São Romão 250 57300 -8 -17,00

SF8 UHE Escaramuça 50 55810 -8 -16,00

SF9 UHE Bananeiras 200 52690 -8 -14,50

SF9 UHE Januária 180 52770 -8 -14,50

SF7 UHE Paracatu 75 34570 -8 -13,00

JQ1 UHE Terra Branca 90 16200 -8 -12,50

DO3 PCH Sentinela 18,4 20600 -8 -12,50

SF5 UHE Alívio 90 19400 -8 -12,25

SF1 UHE Doresópolis 60 2443 -8 -12,00

SF5 UHE Cedro 80 16350 -8 -12,00

SF5 UHE Santo Hipólito 95 19570 -8 -12,00

SF6 UHE Formoso 306 30700 -8 -12,00

PN1 UHE Escada Grande 41 4074 -8 -12,00

SF1 UHE Noruega 27,2 8814 -8 -11,50

PN1 UHE Gamela 47 3018 -8 -11,00

PN1 UHE Davinópolis 107 4409 -8 -9,50

GD5 UHE Sapucaí 57 -8 -9,00

PN3 PCH Pirapitanga Baixo 11,2 320 -8 -9,00

DO1 UHE Biboca 57 2627 -8 -8,00

PN3 PCH Cruz Velha 22,8 860 -8 -8,00

PN3 PCH Cutia Alto 29,4 790 -8 -8,00

DO3 PCH Ferradura 23 428 -8 -7,75

GD5 PCH Sapucaí 15,6 2050 -8 -7,75

PN3 PCH Bugres 18,6 410 -8 -7,00

DO3 PCH Sete Cachoeiras 17,6 122 -8 -6,25

PN3 PCH Da Vertente 10,8 450 -8 -6,00 DO3 PCH Quinquim 15,5 300 -8 -5,75 DO3 PCH Sumidouro 13 140,5 -8 -5,25 PN3 PCH Cachoeira do Gambá 15,9 240 -8 -4,75 PN3 PCH Mosquito 12,3 220 -8 -4,75 PN3 PCH Salto do Baú 19,8 200 -8 -4,75

DO3 PCH Ouro Fino 28,4 236 -8 -4,75

PN3 PCH Jacu 10,2 390 -8 -3,75

Tabela 07: Aproveitamentos Hidrelétricos do PGHMG causadores do mais elevado nível de impacto sobre a ictiofauna nativa, segundo Índice de Impacto calculado pela Avaliação Ambiental Estratégica do PGHMG, 2007. São considerados nesta classificação 345 aproveitamentos hidrelétricos, sendo 45 UHE e 300 PCH. IA: Índice de Impacto Ambiental.

(25)

UPGRH Identificação Empreendimento Potência (MW) Área alagada (ha)

Interf. sobre habitats terrestres e áreas

legalmente protegidas IA

SF8 UHE São Romão 250 57300 -8 -17,00

SF8 UHE Escaramuça 50 55810 -8 -16,00

JQ3 UHE Almenara 100 6200 -8 -16,00

SF9 UHE Bananeiras 200 52690 -8 -14,50

SF9 UHE Januária 180 52770 -8 -14,50

JQ3 UHE Lua Cheia 190 -8 -14,50

JQ3 UHE Jequitinhonha 175 15100 -8 -13,50

SF5 UHE Rodeado 55 2560 -8 -13,25

JQ1 UHE Terra Branca 90 16200 -8 -12,50

SF1 UHE Doresópolis 60 2443 -8 -12,00

DO4 UHE Crenaque 81 614 -8 -11,25

SF7 PCH Unaí Baixo 21 1050 -8 -11,00

DO1 PCH Cipotânea 7,5 1002 -8 -11,00

JQ2 UHE Santa Rita 80 3020 -8 -10,50

SF9 PCH Larguinha 10,7 1350 -8 -10,00

SF7 PCH Mata Velha 24 568 -8 -9,75

DO1 PCH Pontal 30 887 -8 -9,50

PS2 PCH Cataguazes 27 321 -8 -9,50

DO4 PCH Santo Aleixo 8 4740 -8 -9,50

JQ2 UHE Berilo 40 1050 -8 -8,50 SF5 PCH Pacífico Mascarenhas 11 -8 -8,50 PS2 PCH Xopotó 15 980 -8 -8,50 DO3 PCH Axupé 5 -8 -8,50

DO1 PCH Canta Galo 30 491 -8 -8,25

DO1 PCH Normandes 17 980 -8 -8,25

DO1 PCH Encoberto 8 830 -8 -8,25

JQ1 UHE Peixe Cru 45 578 -8 -8,00

DO3 PCH Ferradura 23 428 -8 -7,75 DO4 PCH Beija-Flor 20 970 -8 -7,75 DO1 PCH Cachoeira Grande 4,3 1002 -8 -7,75 DO4 PCH Traíra I 30 -8 -7,50

DO3 PCH São João 10 -8 -7,50

DO4 PCH Canastra 6 330 -8 -7,50

DO4 UHE Resplendor 164 354 -8 -7,25

DO3 PCH Sapé 19,5 356 -8 -7,25 PS1 PCH São Gerônimo I 9,2 -8 -7,00 PJ1 PCH Pitangueira 2,1 -8 -7,00 PJ1 PCH Salto de Baixo 1,4 -8 -7,00 PJ1 PCH Salto Meio 1,9 -8 -7,00 DO4 PCH Matão 9 520 -8 -6,75 SF9 PCH Capivara 5,4 -8 -6,50 DO1 PCH Carmo 1 11 338 -8 -6,25

DO4 PCH Beija Flor II 20 970 -8 -6,25

Fonte: AAE PGHMG 2007-2027, Matriz de Simulação e Sensibilização de Impactos.

Tabela 08: Aproveitamentos Hidrelétricos do PGHMG causadores do mais elevado nível de impacto sobre hábitats terrestre e áreas legalmente protegidas, segundo Índice de Impacto calculado pela Avaliação Ambiental Estratégica do PGHMG, 2007. São considerados nesta classificação 345 aproveitamentos hidrelétricos, sendo 45 UHE e 300 PCH. IA: Índice de Impacto Ambiental.

(26)

Os graves impactos comprovados sobre patrimônio ambiental de importância prioritária para estado e para a região (ecossistemas aquáticos de extrema importância para a conservação da biodiversidade, áreas produtivas essenciais para a população, patrimônio cultural tombado pelo Poder Público Municipal), demonstram a inviabilidade ambiental dos aproveitamentos hidrelétricos PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras.

A inviabilidade de implantação de aproveitamentos hidrelétricos do PGHMG em razão da gravidade de seus impactos socioambientais é uma condição apontada pela Avaliação Ambiental Estratégica, que fornece ao setor elétrico mineiro uma série de recomendações para a ampliação da geração de energia no estado, entre elas (i) repotencialização e retomada de operação de usinas já implantadas, (ii) investimentos em fontes alternativas de energia (eólica, termelétrica, solar), com elaboração de Planos de Geração semelhantes ao elaborado para a Geração Hidrelétrica, e (iii) redução de perdas, através do aprimoramento tecnológico de aparelhos e alteração dos padrões sociais de consumo.23

Uma das constatações mais significativas da Avaliação Ambiental Estratégica é que as metas traçadas pelo Programa de Geração Hidrelétrica de Minas Gerais – a geração de energia hidrelétrica para atendimento de toda a demanda energética do estado e exportação de excedentes em um horizonte de 20 anos – são impossíveis de serem alcançadas, e que a utilização de fontes de energia alternativas será imprescindível à sua Matriz Energética24. Alternativas para o suprimento energético do estado estarão necessariamente previstas no planejamento da Matriz Energética de Minas Gerais.

Concluímos que o cenário inicialmente traçado pelo PGHMG, que, fundamentado em metas irreais, considera todo o potencial hidrelétrico mineiro inventariado passível de exploração, fere princípios fundamentais da legislação ambiental brasileira, entre eles o princípio do equilíbrio, o princípio da equidade e o princípio da participação, configurando abuso de poder pelos entes que o propõem. Sobre este cenário, tem se baseado a ANEEL para a concessão de autorizações de elaboração de Projetos Básicos de aproveitamentos hidrelétricos em território mineiro, condição que vem expondo ao risco de destruição patrimônio ambiental essencial para a sustentabilidade social no estado.

23

SEDE/SEMAD. Avaliação Ambiental Estratégica do PGHMG 2007-2027, p.138. 24

(27)

Como nos ensina Paulo Affonso Leme Machado:

“(...) o esclarecimento da razão final do que se produz seria o ponto de partida de uma política que tenha em vista o bem-estar de uma comunidade. No questionamento sobre a própria razão de existir de uma determinada atividade colocar-se-ia o início da prática do princípio da precaução.”25

O esclarecimento proporcionado pela Avaliação Ambiental Estratégica quanto à incoerência das metas traçadas pelo PGHMG torna imperativo o reposicionamento dos órgãos gestores estaduais (SEDE e SEMAD) no processo de implantação do programa. A tendência apontada de se promover a geração hidrelétrica a qualquer custo carece de fundamento e legalidade, uma vez que a Matriz Energética mineira deverá necessariamente contar com o aporte de energia a partir de fontes alternativas e externas ao estado.

O ordenamento do programa, ou, a priorização real pelo Poder Público dos conjuntos de aproveitamentos que conciliem geração hidrelétrica e a manutenção do equilíbrio ecológico dos municípios e regiões de implantação, mais do que uma diretriz, é uma obrigação imposta pela Constituição, e deve ser exercida de forma consistente com as recomendações apresentadas pelos instrumentos de planejamento do PGHMG (Avaliação Ambiental Integrada e Avaliação Ambiental Estratégica).

O município de Ferros evidencia a condição de extrema vulnerabilidade a que o patrimônio ambiental mineiro encontra-se exposto em razão da omissão do Poder Público em sua tarefa de gerenciar o PGHMG, segundo as normas constitucionais. Ferros está inserido em uma região em que o risco de rompimento do equilíbrio ambiental é reconhecido e claramente apontado pela Empresa de Pesquisa Energética, através da Avaliação Ambiental Integrada dos aproveitamentos hidrelétricos da bacia do rio Doce. Os dados disponíveis sobre a relevância dos ecossistemas aquáticos do município para a sobrevivência de espécies sob risco de extinção, bem como sobre a relevância social do patrimônio cultural ameaçado pelos empreendimentos em licenciamento demonstram a urgência da ação do Poder Público para a prevenção de danos irreversíveis a estes bens ambientais de direito coletivo, essenciais à sadia qualidade de vida das gerações atuais e futuras de nosso estado.

25

Paulo Affonso Leme Machado, citando Direito Ambiental Econômico. Direito Ambiental Brasileiro, 2005, p. 74.

(28)

Diante das evidências disponíveis, e com base nos fundamentos legais aplicáveis, solicitamos aos órgãos responsáveis pela gestão e proteção do patrimônio natural e cultural de Minas Gerais, e aos órgãos estaduais responsáveis pelo direcionamento do PGHMG, o reconhecimento da inviabilidade ambiental dos aproveitamentos hidrelétricos PCH Ferradura e PCH Sete Cachoeiras, assim como a revisão de outros aproveitamentos indicados para o município de Ferros, de forma a compatibilizar a geração hidrelétrica na sub-bacia do rio Santo Antônio à sustentabilidade ambiental e social do município e de sua região.

4. Uma nova proposta para Ferros

O município de Ferros detém um papel central para a manutenção do equilíbrio ecológico e sustentabilidade social do Alto rio Santo Antônio. Em seu território, estão 63,7 Km (66%) de ecossistemas aquáticos essenciais para a proteção de espécies de peixes ameaçadas de extinção, como também sistemas produtivos e bens culturais associados ao rio Santo Antônio de importância fundamental para a população local e regional.

As características ambientais e sociais de Ferros, ao mesmo tempo em que evidenciam a ilegalidade da proposta do PGHMG para o município, demonstram seu potencial para a implementação de diretrizes e práticas voltadas para a conservação ambiental, recomendadas pelo instrumento de planejamento do Programa para bacia do rio Doce (Avaliação Ambiental Integrada), dentre as quais destacamos:

• Estabelecer um Programa de Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção, com foco no Peixe-Serra (Pristis perroteti), na Pirapitinga (Brycon opalinus), em Brycon sp, no Andirá (Henochilus weathlandii) e no Surubim (Steindachneridion doceana) 26, quatro das quais com ocorrência significativa no município de Ferros27;

• Implantar novas Unidades de Conservação de Proteção Integral nos altos cursos das sub-bacias em análise, especialmente nas bacias formadoras do rio Doce (Carmo, Piranga e Rio Casca), rio Santo Antônio e rio Manhuaçu, uma vez que serão (...) os que sofrerão as maiores interferências por empreendimentos hidrelétricos;

26

EPE. Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia do rio Doce: Relatório Final, p. 204.

27

(29)

• Incrementar as oportunidades de processos descentralizados e participativos na criação de Unidades de Conservação com vistas a garantir a efetiva assunção da sociedade civil na proteção do meio ambiente;

• Definir mecanismos de compensação ambiental em áreas que sejam estratégicas para a consolidação dos esforços de proteção dos recursos naturais da bacia do rio Doce. 28

Como reconhecem os instrumentos federal e estadual de priorização de áreas para a conservação da biodiversidade, e reforçam os estudos recentemente conduzidos sobre a fauna de peixes da bacia do rio Santo Antônio e do município, Ferros abriga ecossistemas imprenscindíveis à conservação de espécies de peixes sob risco de extinção. Um Programa de Conservação efetivo para as espécies da ictiofauna ameaçadas da bacia do rio Doce implicará na destinação de áreas do município à conservação dos ecossistemas aquáticos e suas espécies.

Setores do rio Santo Antônio no município de Ferros que apresentam elevado potencial para destinação ao Programa de Conservação da Ictiofauna, através da implantação de Unidade de Conservação de Proteção integral, já se encontram atualmente sob regime especial de proteção, em decorrência de atos de tombamento conduzidos pelo Poder Público Municipal, que declaram o interesse público na conservação de seus ecossistemas e bens culturais associados, em razão das funções sociais e ambientais estratégicas que desempenham na região, entre elas: a conservação de espécies ameaçadas de extinção, a preservação da memória do processo de formação da sociedade local e a manutenção da identidade cultural de sua população, constituindo espaços destinados a atividades de recreação e turismo em contato com a natureza, bem como de práticas de educação ambiental, em estreita relação com a cultura tradicional da região.

De fato, o rio Santo Antônio no município de Ferros proporciona aos seus visitantes experiências culturais riquíssimas e formadoras de valores, desempenhando papel fundamental no desenvolvimento humano dos cidadãos mineiros da região.

28

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Ações para a consolidação dos setores tombados do rio Santo Antônio como Unidades de Conservação de Proteção Integral estão em curso por representantes da sociedade civil organizada (ADDAF) e do Poder Público local (Vereadores), que buscam junto ao Conselho Estadual de Políticas Ambientais (COPAM) a escolha do município de Ferros para a implantação de um Parque Estadual, destinado à conservação e produção de conhecimentos científicos sobre a ictiofauna da bacia do rio Santo Antônio. A implantação de um Parque Estadual constitui uma medida de compensação ambiental proposta pela empresa responsável pela instalação e operação dos 08 empreendimentos hidrelétricos licenciados para a bacia do rio Santo Antônio, e deverá resultar no aporte de mais de dois milhões de reais para a instalação e mais de sete milhões de reais para a manutenção do Parque ao longo de 30 anos:

“Com este intuito e procurando demonstrar que é possível começar um novo tempo, de verdadeiras mudanças em ações e comportamentos em prol da

Bacia do Rio Santo Antônio, é que a GPI Participações e Investimentos,

controladora de Guanhães e Peixe Energia, motivada por um conjunto de resultados positivos e um tanto quanto surpreendentes no campo das pesquisas realizadas, apresenta proposta objetiva ao Governo do Estado

de Minas Gerais para a criação de uma Unidade de Conservação, na categoria de Parque Estadual, onde seria instalado um Centro de

Estudos e Pesquisas da Ictiofauna da Bacia do Rio Santo Antônio”.29

Em razão das características ambientais que apresenta (remanescentes de mata bem preservados, grande beleza cênica, presença de sítio histórico e de hábitats essenciais para espécies de peixes ameaçadas), a confluência do rio Santo Antônio com o rio do Tanque é apontada pela sociedade civil de Ferros como área com elevado potencial para o estabelecimento do Parque Estadual e Centro de Pesquisas da Ictiofauna da bacia do rio Santo Antônio.

Adicionalmente à atuação que visa à implantação no município do Parque Estadual proposto para a região, a sociedade civil do município vem preparando uma iniciativa popular de lei que propõe o estabelecimento de áreas protegidas capazes de fortaceler a proteção e a gestão coletiva do relevante patrimônio ambiental do rio Santo Antônio em Ferros.

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Peixe Energia S.A. Proposta de Criação de Parque Estadual e Centro Avançado de Pesquisas da Ictiofauna da bacia do rio Santo Antônio, 2009, p. 04.

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A sociedade e o Poder Público de Ferros, através de ações de vigilância, proteção e promoção do patrimônio ambiental do rio Santo Antônio, têm proporcionado as condições necessárias para o reposicionamento do Governo do Estado em tempo hábil, no que se refere ao gerenciamento adequado e proteção dos bens ambientais do município, e ao ordenamento territorial do PGHMG.

Confiamos que as evidências aqui apresentadas orientarão os órgãos estaduais de meio ambiente e de defesa dos direitos da coletividade na adoção de medidas eficazes para a prevenção da extensa degradação ambiental e social que ameaçam o município de Ferros, assegurando assim o cumprimento dos deveres e direitos atribuídos pela Constituição Federal ao Poder Público e aos cidadãos de Minas Gerais.

Referências

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