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Barcelos. 2º Juízo Cível Processo nº 2204/12.4TBBCL Insolvência de José da Silva Araújo e Maria Deolinda Ribeiro Miranda

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Página 1 de 1 Exmo(a). Senhor(a) Doutor(a) Juiz de Direito do Tribunal do Judicial de Barcelos

2º Juízo Cível

Processo nº 2204/12.4TBBCL V/Referência: Data:

Insolvência de “José da Silva Araújo e Maria Deolinda Ribeiro Miranda”

Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva, Economista com escritório na

Quinta do Agrelo, Rua do Agrelo, nº 236, Castelões, em Vila Nova de Famalicão,

contribuinte nº 206 013 876, Administrador da Insolvência nomeado no processo à

margem identificado, vem requerer a junção aos autos do relatório a que se refere o

artigo 155º do C.I.R.E., bem como o respectivo anexo (inventário).

Mais informo que não foi elaborada a lista provisória de créditos prevista no

artigo 154º do CIRE, uma vez que já foi junto aos autos a relação de credores a que

alude o artigo 129º do CIRE.

P.E.D.

O Administrador da Insolvência

(Nuno Oliveira da Silva)

Castelões, 11 de Setembro de 2012

NUNO RODOLFO Digitally signed by NUNO RODOLFO DA NOVA OLIVEIRA DA SILVA DN: c=PT, o=Cartão de Cidadão, ou=Assinatura

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I – Identificação dos Devedores 

José  da  Silva  Araújo,

  N.I.F.  129  630  330  e 

Maria  Deolinda  Ribeiro 

Miranda

, N.I.F. 180 912 992, residentes na Rua Nossa Senhora da Apresentação, 327,  freguesia de Viatodos, concelho de Barcelos. 

II  –  Actividade  dos  devedores  nos  últimos  três  anos  e  os  seus 

estabelecimentos 

(alínea c) do nº 1 do artigo 24º do C.I.R.E.)

 

Os devedores, casados entre si no regime de comunhão de adquiridos, têm dois  filhos menores e habitam actualmente em casa de sua propriedade na morada acima  identificada. 

O  devedor  marido  exerce  actividade  na  área  da  indústria  e  comércio  de  mobiliário, na qualidade de empresário em nome individual. Tendo trabalhado como  funcionário do devedor marido durante diversos anos, a devedora esposa encontra‐se  actualmente desempregada. 

Ao longo dos anos, os devedores foram acumulando um passivo que, de acordo  com  os  dados  que  o  signatário  dispõe,  ascende  actualmente  a  cerca  de  Euros  400.000,00. Este passivo é composto da seguinte forma: 

1‐ Cerca  de  Euros  242.180,00  em  dívida  para  com  o  “Banco  Comercial  Português, S.A.” fruto de: 

a. Dois  contratos  de  mútuo  para  compra  de  habitação  realizados  em  Julho  de  2007  no  valor  de  Euros  150.000,00.  Estes  contratos  encontram‐se em incumprimento desde Setembro de 2010 

b. Contrato de crédito realizado em Junho de 2010 para regularização  de responsabilidades sob a forma de conta bancária, letras cambiais  e outras, no valor de Euros 16.000,00. 

2‐ Mais  de  Euros  59.000,00  de  passivo  acumulado  junto  do  “Instituto  da  Segurança Social, I.P.” a título de contribuições obrigatórias não pagas entre 

(3)

os  anos  de  2004  e  2010  e  decorrentes  da  actividade  empresarial  desenvolvida pelo devedor marido; 

3‐ Euros 80.000,00 em dívida para com os requerentes do presente processo  de  insolvência,  fruto  do  não  cumprimento  de  um  contrato  promessa  de  compra  e  venda  de  um  imóvel  realizado  em  Novembro  de  2008  e  que  os  devedores, na qualidade de promitentes‐vendedores. 

A  juntar  a  esta  situação  é  possível  verificar  que,  no  decurso  dos  últimos  três  anos,  os  rendimentos  dos  devedores,  dependentes  da  actividade  profissional  do  devedor marido, têm vindo a diminuir gradualmente. 

Os  rendimentos  dos  devedores  que,  no  ano  de  2011,  ascenderam  a  cerca  de  Euros  7.310,00  brutos  anuais,  são  claramente  insuficiente  para  fazer  face  ao  passivo  acumulado.  E  apesar  de  possuírem  algum  património,  identificado  no  inventário  em  anexo,  este  não  é  o  bastante  para  responder  perante  todos  as  obrigações  acima  referidas. 

Estes incumprimentos geraram a interposição de diversas acções executivas1 e  ainda  a  interposição  da  presente  acção  pelos  promitentes‐compradores  do  contrato  referido  no  ponto  3,  não  tendo  os  devedores  forma  de  negarem  a  sua  situação  de  insolvência. 

A actividade do devedor marido permite‐lhe actualmente um rendimento anual  bruto  de  cerca  de  Euros  7.310,00,  segundo  dados  de  2011.  Já  a  devedora  esposa  encontra‐se actualmente desempregada e não aufere qualquer rendimento. 

III – Estado da contabilidade dos devedores 

(alínea b) do nº 1 do artigo 155º do C.I.R.E.)

 

Não aplicável. 

IV – Perspectivas futuras 

(alínea c) do nº 1 do artigo 155º do C.I.R.E.)

 

1

Processo de execução nº 4255/08.4TBBCL do 4º Juízo Cível, nº 4256/08.2TBBCL do 1º Juízo Cível, nº 4257/08.0TBBCL do 2º Juízo Cível, nº 4258/08.9TBBCL do 3º Juízo Cível, todos do Tribunal Judicial de Barcelos.

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Os  devedores  apresentaram,  com  a  contestação,  o  pedido  de  exoneração  do  passivo restante, nos termos do artigo 235º e seguintes do Código da Insolvência e da  Recuperação de Empresas. 

Estabelece o nº 4 do artigo 236º do Código da Insolvência e da Recuperação de  Empresas  que  na  assembleia  de  apreciação  do  relatório  é  dada  aos  credores  e  ao  administrador  da  insolvência  a  possibilidade  de  se  pronunciarem  sobre  o  requerimento do pedido de exoneração do passivo. 

Por  sua  vez,  o  artigo  238º  do  Código  da  Insolvência  e  da  Recuperação  de  Empresas  enumera  as  situações  em  que  o  pedido  de  exoneração  do  passivo  é  liminarmente indeferido. 

A  aceitação  do  pedido  de  exoneração  do  passivo  determina  que  durante  um  período  de  5  anos  o  rendimento  disponível  que  os  devedores  venham  a  auferir  se  considere  cedido  a  um  fiduciário.  Integram  o  rendimento  disponível  todos  os  rendimentos que advenham a qualquer título aos devedores com exclusão do que seja  razoavelmente necessário para o sustento minimamente digno dos devedores e do seu  agregado  familiar,  não  podendo  exceder  três  vezes  o  salário  mínimo  nacional  (subalínea  i  da  alínea  b)  do  nº  3  do  artigo  239º  do  Código  da  Insolvência  e  da  Recuperação de Empresas). 

Actualmente  o  salário  mínimo  nacional  mensal  é  de  Euros  485,00.  Conforme  atrás foi referido, o devedor marido aufere actualmente um rendimento anual bruto  de  Euros  7.310,00,  o  que  corresponde  a  um  rendimento  mensal  bruto  de  cerca  de  Euros  609,00,  pelo  que  o  seu  rendimento  disponível  poderá  ser  fixado,  legalmente,  entre os Euros 124,00 e os Euros 0,00. Já a devedora esposa não aufere actualmente  qualquer rendimento, pelo que o seu rendimento disponível é nesta altura nulo. 

De  acordo  com  a  alínea  d)  do  nº  1  do  artigo  238º  do  CIRE,  o  pedido  de  exoneração  é  liminarmente  indeferido  se  o  devedor  tiver  incumprido  o  dever  de  apresentação à insolvência ou, não estando obrigado a se apresentar, se tiver abstido  dessa apresentação nos seis meses seguintes à verificação da situação de insolvência,  com  prejuízo  em  qualquer  dos  casos  para  os  credores,  e  sabendo,  ou  não  podendo 

(5)

ignorar  sem  culpa  grave,  não  existir  qualquer  perspectiva  séria  de  melhoria  da  sua  situação económica. 

No  caso  em  apreço,  temos  de  distinguir  a  situação  da  devedora  esposa  e  do  devedor marido. 

No caso do devedor marido, sendo ele empresário em nome individual, insere‐ se  na  categoria  de  titular  de  uma  empresa,  estando  obrigado  a  apresentar‐se  à  insolvência  nos  termos  previstos  no  nº  1  e  nº  3  do  artigo  18º  do  CIRE.  Ou  seja,  presume‐se  o  conhecimento  da  insolvência  por  parte  do  devedor  marido  nos  três  meses  sobre  o  incumprimento  generalizado  de  obrigações  de  algum  dos  tipos  referidos  na  alínea  g)  do  nº  1  do  artigo  20º  do  CIRE,  entre  as  quais  se  encontram  referidas  as  contribuições  para  a  segurança  social.  Na  reclamação  de  créditos  apresentada pela Segurança Social é possível verificar que o devedor marido incumpriu  as  suas  obrigações  perante  a  Segurança  Social  nos  períodos  de  Março  de  2004  a  Outubro  de  2005,  de  Janeiro  de  2007  a  Agosto  de  2007,  de  Dezembro  de  2007  a  Fevereiro  de  2008,  de  Abril  de  2008  a  Outubro  de  2008,  de  Dezembro  de  2008  a  Setembro  de  2009  e  de  Fevereiro  de  2010  a  Maio  de  2010.  Nos  termos  acima  descritos,  presume‐se  que  o  devedor  tinha  conhecimento  da  sua  situação  de  insolvência pelo menos desde o fim do ano de 2004. 

Nesses  termos,  desde  Março  de  2005  que  o  devedor  está  obrigado  a  apresentar‐se à insolvência nos termos acima descritos. Ainda assim, o devedor não o  fez, continuando a exercer uma actividade que se demonstrava desde logo deficitária e  incapaz de suportar todos os custos a si inerentes.  Já no caso da devedora esposa, este pressuposto não se aplica. No entanto, e  tendo em consideração as declarações de rendimentos apresentadas pelos devedores  na sua oposição, é possível verificar que pelo menos desde o ano de 2010 a devedora  esposa não apresenta qualquer rendimento. E já nesse ano o rendimento do agregado  familiar  se  apresentava  manifestamente  reduzido,  tendo  em  consideração  que  os  devedores  têm  dois  filhos  menores  de  idade,  diversos  contratos  de  crédito  para  cumprir, execuções judiciais em curso e um rendimento bruto anual de Euros 9.364,40 

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(cerca  de  Euros  780,00  por  mês).  Este  rendimento  diminui  para  Euros  7.310,00  em  2011. 

Já em 2010 os devedores demonstravam também dificuldade em cumprir com  o  contrato‐promessa  realizado  em  Novembro  de  2008  e  que  nunca  chegou  a  ser  cumprido.  Afirmam  os  devedores  não  sua  oposição  que  logravam  com  este  contrato  de  compra  e  venda  do  imóvel  de  sua  propriedade  resolver  o  passivo  que  detinham  perante a Segurança Social e perante os autores das acções executivas interpostas em  2008  no  Tribunal  Judicial  de  Barcelos  e  nas  quais  foi  penhorado  o  imóvel  alvo  do  contrato promessa. 

No  final  de  2010,  quase  dois  anos  depois  da  data  em  que  deveria  ter  sido  realizada  a  escritura  de  compra  e  venda  do  imóvel,  os  devedores  continuam  sem  resolver esta questão, têm os promitentes‐compradores a pressionarem no sentido de  ser cumprido o contrato, as dívidas junto da Segurança Social continuaram a acumular  e estão já em incumprimentos perante a generalidade dos seus credores, tendo o seu  rendimento vindo a diminuir gradualmente2. Não podem os devedores duvidar nesta  fase  da  irreversibilidade  da  sua  situação,  já  que  em  dois  anos  apenas  os  seus  rendimentos diminuem para metade e o seu passivo aumenta ainda mais. 

É claro, portanto, para o signatário que os devedores incumpriram o seu dever  de apresentação à insolvência, nos termos definidos anteriormente. 

Da análise da alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE verifica‐se que, para além  do  incumprimento  de  apresentação  à  insolvência  se  torna  necessário  que  disso  advenha prejuízo para os credores e, ainda, que os devedores saibam, ou não possam  ignorar  sem  culpa  grave,  não  existir  qualquer  perspectiva  séria  de  melhoria  da  sua  situação económica. Tal significa que, se do atraso na apresentação não advier prejuízo  para os credores, o mesmo não deve ser negativamente valorado. E ainda é necessário  que o devedor saiba que a sua situação é definitiva, no sentido de não ser alterável a  curto  prazo,  ou  que  não  possa  deixar  de  disso  estar  consciente,  a  não  ser  por  inconsideração grave. Tais requisitos são cumulativos. 

2

Em 2008 a actividade do devedor marido apresenta um rendimento anual bruto de Euros 20.905,52. Em 2009 este valor diminui para Euros 13.403,00 e em 2010 para Euros 9.364,40.

(7)

A nível doutrinal e jurisprudencial têm existido diferentes entendimentos sobre  o segundo requisito (advir prejuízo para os credores): enquanto uma corrente defende  que  a  omissão  do  dever  de  apresentação  atempada  à  insolvência  torna  evidente  o  prejuízo  para  os  credores  pelo  avolumar  dos  seus  créditos,  face  ao  vencimento  dos  juros e consequente avolumar do passivo global do insolvente, outra corrente defende  que o conceito de prejuízo pressuposto no normativo em causa consiste num prejuízo  diverso  do  simples  vencimento  dos  juros,  que  são  consequência  normal  do  incumprimento  gerador  da  insolvência,  tratando‐se  assim  dum  prejuízo  de  outra  ordem,  projectado  na  esfera  jurídica  do  credor  em  consequência  da  inércia  do  insolvente (consistindo, por exemplo, no abandono, degradação ou dissipação de bens  no período que dispunha para se apresentar à insolvência), ou, mais especificamente,  que  não  integra  o  ‘prejuízo’  previsto  no  artigo  238º,  nº  1,  d)  do  C.I.R.E.  o  simples  acumular do montante dos juros. 

O signatário tem defendido esta última posição, entendendo que não basta o simples  decurso do tempo para se considerar verificado o requisito em análise (pelo avolumar  do  passivo  face  ao  vencimento  dos  juros).  Tal  entendimento  representaria  uma  valoração de um prejuízo ínsito ao decurso do tempo, comum a todas as situações de  insolvência,  o  que  não  se  afigura  compatível  com  o  estabelecimento  do  prejuízo  dos  credores  enquanto  requisito  autónomo  do  indeferimento  liminar  do  incidente.  Enquanto  requisito  autónomo  do  indeferimento  liminar  do  incidente,  o  prejuízo  dos  credores  acresce  aos  demais  requisitos  –  é  um  pressuposto  adicional,  que  aporta  exigências  distintas  das  pressupostas  pelos  demais  requisitos,  não  podendo  por  isso  considerar‐se preenchido com circunstâncias que já estão forçosamente contidas num  dos outros requisitos. O que se pretende valorizar neste quesito, como acima foi posto  em evidência, é a conduta do devedor, de forma a apurar se o seu comportamento foi  pautado  pela  licitude,  honestidade,  transparência  e  boa‐fé  no  que  respeita  à  sua  situação  económica,  devendo  a  exoneração  ser  liminarmente  coarctada  caso  seja  de  concluir pela negativa. 

Ao  estabelecer,  como  pressuposto  do  indeferimento  liminar  do  pedido  de  exoneração, que a apresentação extemporânea do devedor à insolvência haja causado 

(8)

prejuízo  aos  credores,  a  lei  não  visa  mais  do  que  penalizar  os  comportamentos  que  façam  diminuir  o  acervo  patrimonial  do  devedor,  que  onerem  o  seu  património  ou  mesmo aqueles comportamentos geradores de novos débitos (a acrescer àqueles que  integravam  o  passivo  que  estava  já  impossibilitado  de  satisfazer).  São  estes  comportamentos desconformes ao proceder honesto, lícito, transparente e de boa‐fé  cuja  observância  por  parte  do  devedor  é  impeditiva  de  lhe  ser  reconhecida  possibilidade (verificados os demais requisitos do preceito) de se libertar de algumas  das suas dívidas, e assim, conseguir a sua reabilitação económica. O que se sanciona  são  os  comportamentos  que  impossibilitem  (ou  diminuam  a  possibilidade  de)  os  credores  obterem  a  satisfação  dos  seus  créditos,  nos  termos  em  que  essa  satisfação  seria conseguida caso tais comportamentos não ocorressem. 

No caso em apreço, o signatário entende que este pressuposto não se encontra  preenchido. 

Mais ainda, nos termos da alínea e) do 1º do artigo 238º do CIRE, o pedido de  exoneração  é  liminarmente  indeferido  se  constarem  já  no  processo,  ou  forem  fornecidos  até  ao  momento  da  decisão,  pelos  credores  ou  pelo  administrador  da  insolvência, elementos que indiciem com toda a probabilidade a existência de culpa do  devedor na criação ou agravamento da situação de insolvência, nos termos do artigo  186º. 

A  alínea  g)  do  nº  2  do  artigo  186º  do  CIRE  determina  que  a  insolvência  é  culposa quando o devedor tenha prosseguido, no seu interesse pessoal ou de terceiro,  uma  exploração  deficitária,  não  obstante  saber  ou  dever  saber  que  esta  conduziria  com grande probabilidade a uma situação de insolvência. 

Com  as  devidas  adaptações,  já  que  estamos  perante  uma  pessoa  singular,  o  signatário  entende  que  o  comportamento  do  devedor  enquadra‐se  no  disposto  na  alínea  g)  do  nº  2  do  artigo  186º  do  CIRE  e,  como  tal,  consubstancia  um  motivo  para  que o pedido de exoneração formulado seja liminarmente rejeitado. 

A exoneração do passivo restante foi uma das inovações introduzidas no nosso  ordenamento  jurídico  pelo  CIRE.  Baseada  no  princípio  do  “fresh  start”,  este  mecanismo, previsto para as “pessoas singulares de “boa‐fé” incorridas em situação de 

(9)

insolvência”, pretende atribuir “a possibilidade de se libertarem de algumas das suas  dívidas,  e  assim  lhes  permitir  a  sua  reabilitação  económica.  ”  Nessa  medida,  é  necessário averiguar “se o seu comportamento anterior ou actual pode ser reputado  de lícito, honesto, transparente e pautado pela boa‐fé no que respeita à sua situação  económica”. Esta avaliação passa pela verificação da existência de culpa do insolvente  na criação ou agravamento da situação de insolvência. 

Vejamos: 

1‐ Pela  reclamação  de  créditos  apresentada  pela  Segurança  Social  é  possível  verificar  que  desde  2004,  em  períodos  reiterados,  o  devedor  vinha  a  incumprir com os pagamentos das suas contribuições, quer na qualidade de  entidade empregadora, quer na qualidade de trabalhador independente;  2‐ No final do ano de 2006 o devedor apresentava já um passivo de cerca de 

Euros 20.000,00; 

3‐ Ainda  assim,  o  devedor  nunca  cessa  a  sua  actividade,  mantendo  a  sua  esposa  durante  diversos  anos  como  sua  funcionária.  Quando  a  actividade  deixou  de  ser  suficiente  para  suportar  o  salário  desta  a  devedora  esposa  ficou desempregada, até à presente data; 

4‐ Ou  seja,  o  agregado  familiar  dependia  unicamente  da  actividade  exercida  pelo devedor marido; 

5‐ Considerando  as  dívidas  acumuladas  perante  a  Segurança  Social,  apenas  podemos concluir que a actividade seria deficitária, não cobrindo todas as  suas  despesas,  ou  o  devedor  marido  simplesmente  não  pagava  estas  contribuições  como  forma  de  aumentar  os  “rendimentos  líquidos”  do  seu  agregado; 

6‐ De qualquer forma, esta dívida, que ascendia já a Euros 20.000,00 em 2006  (sem  fazer  contagem  ao  valor  dos  juros),  não  inibiu  os  devedores  de  realizarem  em  Julho  de  2007  dois  contratos  de  mútuo  para  aquisição  de  habitação no valor de Euros 150.000,00; 

7‐ No  ano  de  2007  o  devedor  acumulou  mais  Euros  4.800,00  de  passivo  de  contribuições não pagas à Segurança Social; 

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8‐ Em  30  Novembro  de  2008  os  devedores  realizam  o  contrato  promessa  de  compra e venda de um imóvel de sua propriedade, contratando a realização  da respectiva escritura para 30 de Janeiro de 2009; 

9‐ Os  devedores  afirmam  não  ter  realizado  esta  escritura  por  força  das  penhoras realizadas sobre o imóvel em causa no âmbito dos processos de  execução acima já identificados, que deram entrada em Tribunal no dia 9 de  Dezembro de 2008; 

10‐ Logravam  os  devedores  com  a  venda  do  imóvel,  no  valor  de  Euros  80.000,00  proceder  ao  pagamento  da  dívida  da  Segurança  Social  e  das  dívidas  que  geraram  essas  execuções,  que,  de  acordo  com  os  valores  relacionados pelos devedores, ascendem a cerca de Euros 40.000,00; 

11‐ Ora,  tendo  os  devedores  recebido  de  sinal  aquando  da  realização  do  contrato‐promessa  a  quantia  de  Euros  40.000,00,  não  conseguiram  a  resolução  das  dívidas  relativas  às  execuções  nem  tão‐pouco  pagaram  os  valores em dívida para com a Segurança Social; 

12‐ Aparenta também ao signatário que a realização deste contrato promessa  foi,  no  mínimo,  de  uma  enorme  irresponsabilidade.  Dado  que  tanto  as  execuções quanto o contrato promessa foram realizados em 2008, deviam  os  devedores  ter  noção  das  dificuldades  que  poderiam  ter  no  seu  cumprimento  e  dos  riscos  que  tal  incumprimento  acarretaria  para  o  seu  passivo,  visto  que  o  sinal  exigido  foi  de  metade  do  valore  de  venda  do  imóvel, o que levaria a que perdessem a totalidade do valor do imóvel em  caso de incumprimento do contrato; 

13‐ Basta verificar que, tendo a escritura de compra e venda data marcada para  apenas dois meses depois da data do contrato promessa, os devedores não  foram desde logo capazes de a realizar. 

14‐ Ou  seja,  no  início  do  ano  de  2009  os  devedores  estão  perante  a  seguinte  situação: 

(11)

a. A  dívida  à  Segurança  Social  ascende  já  a  Euros  35.000,00.  Só  no  decurso  do  ano  de  2008  o  devedor  marido  acumulou  dívidas  no  valor de mais de Euros 10.000,00; 

b. Têm quatro execuções pendentes com um passivo exigível de cerca  de Euros 40.000,00; 

c. Estão  com  dificuldades  no  cumprimento  do  contrato‐promessa  realizado, o que implicará um passivo acrescido de Euros 80.000,00  em caso de incumprimento; 

15‐ Ainda assim, os devedores não se apresentam à insolvência; 

16‐ No  decurso  dos  anos  de  2009,  2010,  2011  e  2012  esta  situação  apenas  piora: 

a. Os  rendimentos  decorrentes  da  actividade  do  devedor  vão  gradualmente  diminuindo,  passando  de  Euros  20.905,52  em  2008  para Euros 7.310,00 em 2011; 

b. Em  2010  deixam  de  cumprir  os  contratos  de  mútuo  realizados  em  2007; 

c. A  dívida  à  Segurança  Social  acresce  em  Euros  4.785,41  e  os  juros  são, na presente data, de Euros 16.146,94; 

d. O  contrato  promessa  realizado  não  foi  cumprido  pelos  devedores,  após vários aditamentos ao mesmo postergando a data da escritura,  pelo que os promitentes‐compradores procederam à sua resolução  em Junho de 2012, exigindo agora o sinal em dobro, ou seja, Euros  80.000,00; 

17‐ A  declaração  de  insolvência  dos  devedores  foi  finalmente  requerida  pelos  promitentes‐compradores do imóvel no decurso do presente ano. 

 

Por tudo o que foi exposto é evidente para o signatário que a insolvência dos  devedores  se  deveu  ao  comportamento  dos  mesmos  e  não  a  um  conjunto  de  circunstâncias fortuitas e fora do controlo dos devedores. 

(12)

Desde  logo  o  devedor  marido  revela  uma  total  desconsideração  pelo  passivo  que  vinha  a  acumular  perante  a  Segurança  Social,  realizando  novos  contratos  de  crédito quando já tinha valores em dívida. 

Mais  ainda,  dependendo  todo  o  agregado  familiar  da  actividade  do  devedor  marido, os devedores foram realizando uma série de negócios, que se revelavam logo  à partida ruinosos para uma situação financeira que se revelava desde logo frágil. Com  as  informações  existentes  no  processo  e  nas  reclamações  de  créditos,  é  para  o  signatário  evidente  que  o  comportamento  dos  devedores  foi  decisivo  para  a  sua  situação de insolvência. 

Face  a  toda  esta  situação,  considero  que  se  encontram  preenchidos  os  pressupostos da alínea g) do nº 2 do artigo 186º e da alínea e) do nº 1 do artigo 238º,  ambos do CIRE. 

Por tudo o que foi explanado anteriormente, sou do parecer que o pedido de  exoneração  deve  ser  indeferido  nos  termos  da  alínea  g)  do  nº  2  do  artigo  186º  e  da  alínea e) do nº 1 do artigo 238º, ambos do CIRE. 

Os  credores  deverão  ainda  deliberar  no  sentido  da  liquidação  dos  activos  constantes do inventário, elaborado nos termos do artigo 153º do CIRE.      Castelões, 11 de Setembro de 2012  O Administrador da Insolvência  ______________________________________  (Nuno Oliveira da Silva) 

(13)

I n v e n t á r i o  

(14)

   

Relação  dos  bens  e  direitos  passíveis  de  integrarem  a 

massa insolvente: 

  O Administrador da Insolvência  _____________________________________  (Nuno Oliveira da Silva)    Castelões, 11 de Setembro de 2012 

Verba  Espécie  Localização  Descrição  Valor 

Imóvel:  Prédio  Urbano 

Rua  Nossa  Senhora  da  Apresentação,  327,  freguesia  de  Viatodos,  concelho  de Barcelos 

Prédio  urbano  composto  por  casa  de  rés‐do‐chão  e  andar,  com  logradouro,  destinado  a  habitação,  com  área  total  de  266  m²,  sendo  216  m²  de  área  coberta e 50 m² de área descoberta.  Descrito  na  Conservatória  do  Registo  Predial  de  Barcelos  sob  o  nº  376  da  freguesia  de  Viatodos  e  inscrito  na  respectiva  matriz  predial  urbana  sob  o  artigo 602º.  Com valor  patrimonial  de  €10.438,82 2  Imóvel:  Prédio  Urbano 

Lugar  de  Febros  ou  Lobar,  freguesia  de  Viatodos,  concelho  de Barcelos 

Composto  por  casa  de  rés‐do‐chão  e  andar,  com  logradouro,  destinado  a  habitação. 

Descrito  na  Conservatória  do  Registo  Predial  de  Barcelos  sob  o  nº  187  da  freguesia  de  Viatodos  e  descrito  na  respectiva  matriz  predial  urbana  sob  o  artigo 801. 

Com valor  patrimonial 

de  €27.200,00

3  Móvel    Veículo  automóvel,  de  marca  Mercedes 

Benz  €9.000,00 

4  Móvel 

Rua  Nossa  Senhora  da  Apresentação,  327,  freguesia  de  Viatodos,  concelho  de Barcelos  Recheio da casa de morada da família    5  Móvel   

Recheio  do  estabelecimento  de  exploração  comercial,  em  bom  estado  de conservação. 

 

6  Móvel   

Imobilizado  e  inventário  do  estabelecimento  de  exploração  comercial,  composto  por  móveis  já  fabricados e em stock. 

Referências

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