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Discurso do Deputado Ronaldo Caiado sobre oftalmologia brasileira feito na Sessão da Câmara dos Deputados do dia 07 de junho de 2006.

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Discurso do Deputado Ronaldo Caiado sobre oftalmologia brasileira feito na Sessão da Câmara dos Deputados do dia 07 de junho de 2006.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados. "Um profundo desalento deve caber a cada brasileiro, em notar suas instituições da ordem de uma classe profissional e de governos estaduais ou federal podem ser amesquinhadas pela grotesca farsa de uma pretensa ajuda humanitária que pode, isto sim, transformar-se em perdas visuais irreversíveis a estes hoje esperançosos patrícios."

É desta forma que o presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), Harley Edison Amaral Bicas terminou sua manifestação sobre o fato de habitantes do município pernambucano de Abreu de Lima serem transportados para a Venezuela para serem submetidos a cirurgias oculares pagas às custas do governo daquele país.

A abdução de pernambucanos para sofrerem cirurgias em outro país ocorre justamente no momento em que mudanças na política governamental reduziram significativamente o número de cirurgias de catarata realizados por médicos brasileiros, no país, em condições de excelência técnica e coloca em risco programas de realização de cirurgias oculares apontadas como exemplares em todo mundo.

De acordo com projeções do IBGE, o Brasil tem aproximadamente 186 milhões de habitantes em 2006. Destes, mais de 32 milhões têm mais de 55 anos; 17 milhões mais de 60 anos; 11 milhões mais de 65 anos e quatro milhões mais de 75 anos.

A catarata, ou opacificação do cristalino, atinge principalmente as pessoas de idade mais avançadas. Numa população urbana, com necessidades de leitura, utilização de computador, televisão, deslocamento em veículos motorizados etc, a redução da qualidade de vida em decorrência da opacificação do cristalino começa a afetar 50% das pessoas com mais de 60 anos, aumentando a porcentagem até atingir a quase totalidade das pessoas com 75 anos.

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Em 1993 foi feito um levantamento e chegou-se à conclusão que, dentro do sistema público de então, realizava-se então entre 60 e 80 mil cirurgias de catarata por ano e que no mesmo período surgiriam 120 mil novos casos de cegueira ou de incapacidade de realização das atividades cotidianas devido à catarata.

Em 1994, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia lançou uma campanha de caráter nacional para a realização de exames e cirurgias de catarata para atender a população carente, baseada no voluntariado e na experiência adquirida nos vários projetos "Zona Livre de Catarata", iniciados na década de 80 pela UNICAMP. Esta primeira campanha resultou na realização de aproximadamente 6.000 cirurgias.

Em 1996, o CBO fez a segunda edição de sua campanha de catarata, que resultou na realização de aproximadamente 17 mil cirurgias. Em 1999, o Ministério da Saúde lança a Campanha Nacional de Cirurgias de Catarata que apresenta os seguintes dados:

 Cirurgias realizadas através da campanha: 142,404

 Cirurgias realizadas pela rotina do SUS/SAI: 94.723

A partir de então, a média de cirurgias de catarata realizadas anualmente dentro do sistema público subiu de 90.000 para aproximadamente 330.000 procedimentos/ano. Estima-se outras 100.000 cirurgias sejam feitas através do sistema de convênios e/ou particular.

Os programas de oftalmologia comunitária, executados pelos oftalmologistas brasileiros, é reconhecido como o maior dos países em desenvolvimento, detentor de vários prêmios internacionais, e é exemplo em todo mundo.

Este sistema, que contou com a colaboração decidida de milhares de oftalmologistas brasileiros, sofreu um golpe em março de 2006, quando o Ministério da Saúde, através da portaria 252, modificou toda a sistemática de pagamento destes procedimentos, burocratizando um mecanismo que vinha dando resultados excelentes, jogando nas costas de secretarias municipais despreparadas a função de elaborar complexos sistemas para previsão de dezenas de procedimentos médico-cirurgicos e

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implantando uma árdua disputa por recursos. Como resultado tivemos uma redução brutal na realização de cirurgias de catarata, ainda impossível de ser avaliada, mas que em alguns serviços chega aos 90%.

Deve-se levar em conta, que a Oftalmologia é uma das especialidades médicas que mais progrediu no Brasil nas últimas décadas. O grau de excelência científica e tecnológica da oftalmologia brasileira é reconhecido em todo mundo e seu sistema de ensino situa-se entre os mais eficientes da medicina brasileira. Médicos espalhados em centenas de consultórios, clínicas, hospitais e departamentos universitários criaram um sistema eficientíssimo para prover a saúde ocular da população.

Prova desta excelência de nossa oftalmologia tivemos em fevereiro de 2006, com a realização do Congresso Mundial de Oftalmologia, que reuniu mais de 12 mil profissionais de todo mundo em São Paulo, numa maratona de transmissão e geração de conhecimentos técnicos e científicos ligados à saúde ocular e à oftalmologia. Este evento, que recebeu elogios de todas as partes do mundo teve como uma de suas vertentes principais a oftalmologia social, com a realização conjunta do Congresso Brasileiro de Prevenção da Cegueira e a Reabilitação Visual.

É justamente todo este sistema que se vê brutalmente amesquinhado pela atitude irresponsável, invasiva, demagógica, desnecessária, inadequada, anti-ética do governo venezuelano, com a cumplicidade de autoridades brasileiras.

Em manifestação pública, o presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Harley Edison Amaral Bicas, fez um pequeno histórico do episódio e denuncia suas graves conseqüências. A íntegra do documento divulgado pelo presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia é a seguinte:

"Outubro de 2005: para debater denúncias de que Cuba teria mandado dinheiro para financiar a campanha de Lula à presidência da República, o embaixador de Cuba diz que isto é intriga do imperialismo americano e que seu país quer, mesmo, ajudar brasileiros, operando suas cataratas no país de Fidel. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia suspeita

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que a intenção desta oferta é a de aprendizagem de técnicas de cirurgias de catarata, usando brasileiros para treinamento.

Dezembro de 2005: o presidente da República Bolivariana da Venezuela assina carta de intenção, firmando um pacto social com o ... prefeito de Abreu e Lima, município de Pernambuco! Sem comentários.

Fevereiro de 2006: a Associação Pan-Americana de Oftalmologia repudia, energicamente, a pretensa ajuda de Cuba a países da América Latina, por sua falta de embasamento técnico e ético.

Março de 2006: o CBO envia correspondência ao Ministério da Saúde e, dias depois, reitera suas denúncias da impropriedade de atendimentos oftalmológicos cirúrgicos em brasileiros, por cubanos ou venezuelanos. E reafirma sua disponibilidade de ações. Em resposta: silêncio.

31 de maio de 2006: notícias de 79 pernambucanos levados à Venezuela para serem lá operados.

Ficam sem considerações:

1) a clandestinidade das indicações e realizações, muitas delas, provavelmente, errônea;

2) desconhecimento da capacitação técnica dos operadores, sem que tivesse sido sequer afastada a suspeita de que sejam principiantes;

3) o risco inerente às cirurgias de catarata, mesmo em mãos muito hábeis e experientes;

4) necessidade de um seguimento pós-operatório prolongado (vários meses) e rigoroso, que não será feito na Venezuela;

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5) o alto risco de complicações pós-cirurgicas, mormente nestas circunstâncias, cujas dificuldades de tratamento, no Brasil, seriam agravadas pelo desconhecimento das técnicas e materiais usados nas cirurgias;

6) a leviandade de fazer isto à revelia da Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco e, com provável omissão de nosso Ministério da Saúde, por sua falta de providências.

7) as autoridades de defesa do consumidor, incluindo as da Justiça e do Ministério Público, devem se manifestar conjuntamente contra este ato político que não conta com o apoio da Sociedade Pan-Americana de Oftalmologia e da Sociedade Venezuelana de Oftalmologia.

Em recurso, uma indignidade à Oftalmologia Brasileira e os 13.000 médicos oftalmologistas (o 2º maior número do mundo) que, apesar de ter seu alto padrão internacionalmente reconhecido e com recursos humanos e materiais seguramente mais adequados e convenientes para o atendimento da saúde ocular e visual de nossa população, disponibilizados ao Governo Federal, é humilhada por esta atitude de desrespeito a suas recomendações e avisos."

Referências

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