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Arquitetura em madeira: influência da imigração no Alto Uruguai Gaúcho

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Academic year: 2021

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Natália Biscaglia Pereira

ARQUITETURA EM MADEIRA:

INFLUÊNCIA DA IMIGRAÇÃO NO ALTO URUGUAI GAÚCHO

Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Doutor em Arquitetura e Urbanismo

Orientadora: Prof. Dr.ª Ângela do Valle.

Florianópolis 2019

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Pereira, Natália Biscaglia

Arquitetura em madeira: influência da imigração no Alto Uruguai Gaúcho / Natália Biscaglia Pereira ; orientador, Ângela do Valle, 2019.

514 p.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Florianópolis, 2019.

Inclui referências.

1. Arquitetura e Urbanismo. 2. Arquitetura em madeira. 3. Imigração. 4. Alto Uruguai Gaúcho. 5.

Preservação cultural. I. do Valle, Ângela. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. III. Título.

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A todos os moradores das edificações em madeira no Alto Uruguai Gaúcho.

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AGRADECIMENTOS

A conclusão desta pesquisa, iniciada em 2015, só foi possível graças ao apoio e o auxílio de muitas pessoas e instituições.

Inicialmente, agradeço a Deus e ao apoio familiar, este último sendo extremamente importante nos momentos mais difíceis desta jornada. Agradecimento especial ao meu marido Carlos Eduardo Weidlich e aos meus pais José Maria Dias Pereira e Vera Lúcia Biscaglia Pereira, por estarem sempre ao meu lado, inclusive em várias idas a campo. O amor de vocês é o que me faz querer ser melhor. Também agradeço os meus sogros, Luciano Weidlich e Denise Weidlich, pelo zelo e incentivo de sempre.

Agradeço à minha orientadora professora Ângela do Valle, que acreditou no tema da pesquisa e me aceitou como sua orientanda, e cuja orientação foi fundamental para guiar o caminho a ser seguido, contribuindo com conselhos e sugestões, sem me esquecer também da sua paciência e amizade, que vigoram desde o mestrado em 2009.

Aos professores que aceitaram participar da banca e avaliação desta pesquisa, que proporcionaram muitas reflexões e grandes contribuições para o aprimoramento do trabalho: Maria Ângela Pereira Bortolucci, Nelson Pôrto Ribeiro e Margarita Barretto. Ao professor Renato Holmer Fiori, da UFRGS, pelas trocas de e-mail com valiosas sugestões e Maríndia Izabel Girardello, gerente técnica do CAU/RS.

À Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), a qual sou vinculada como docente no curso de Arquitetura e Urbanismo, pelo afastamento de dois anos concedido em benefício para a minha capacitação, o que permitiu dedicação integral nesse período à elaboração da Tese.

Aos amigos e colegas professores da UFFS, titulares e substitutos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS, agradeço pelo apoio e aprendizado constante com a convivência. Sou grata, especialmente aos amigos queridos Edison Kiyoshi Tsutsumi, Melissa Laus Mattos e Natália Bula, que me cederam abrigo e o conforto de suas casas em Erechim para a realização desta pesquisa, e a Murad Jorge Mussi Vaz, Luiz Brandão e Luísa Sopas Brandão, pelo carinho e amizade.

Aos meus alunos e egressos da UFFS, com quem aprendo muito diariamente e os bolsistas e voluntários de projetos de iniciação científica vinculados ao tema da pesquisa (UFFS/UFSC), que com dedicação contribuíram em momentos distintos para o sucesso deste trabalho.

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Em especial, agradeço a todos os moradores e proprietários das construções visitadas na pesquisa por compartilharem o seu tempo e saber, pela hospitalidade e generosidade em permitir o acesso ao seu espaço privado, sem o qual este trabalho seria impossível, e que proporcionaram momentos inesquecíveis de receptividade e de muita aprendizagem.

Aos interlocutores, habitantes antigos das cidades visitadas, que foram essenciais para o desenvolvimento da pesquisa de campo, intermediando o meu contato com os moradores de casas em madeira, e me guiando em locais por mim desconhecidos. Gostaria de citar, a grande generosidade de Marina Onysko, de Áurea; Géssica Steffens, de Severiano de Almeida; Waldemar Heltor Dornfeld, de Erechim; Carlos e Letícia Lohmann, de Erebango. Entre esses, devo destacar Marisa Marcelli de Marcelino Ramos e o casal Olevino Paulino Camerini e Maria Cleia Alves Camerini, de Paulo Bento, que foram verdadeiros “anjos” ao longo da pesquisa, colaborando muito na busca de construções antigas em madeira na região, graças ao seu vasto conhecimento sobre a zona rural das suas cidades, e que me auxiliaram em muitas visitas in loco. Sou extremamente grata a todos.

Ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFSC (PósARQ) e ao Grupo Interdisciplinar de Estudos da Madeira (GIEM), agradeço pelo apoio institucional e oportunidade de estudo, e também aos professores e colegas, que auxiliaram nessa trajetória por meio de apontamentos, conselhos ou um “ombro amigo”.

Agradeço a todas as instituições que cederam materiais ou disponibilizaram o acesso a fontes de pesquisa, entre as quais: Arquivo Municipal Juarez Illa Font, em Erechim; Arquivo Histórico do Estado (AHRS); Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, em Porto Alegre; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE); Projeto Elementos Culturais das Antigas Colônias Italianas na Região Nordeste do Rio Grande do Sul (ECIRS) da Universidade de Caxias do Sul (UCS); Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN-RS), Arquidiocese de Erechim; Memorial do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-RS); Biblioteca Municipal de Erechim; Biblioteca da UFFS; UCS; Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS); Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Regional Integrada (URI-Erechim).

Por fim, agradeço a todos que não foram mencionados, mas que, direta ou indiretamente, colaboraram para a realização desta pesquisa. Espero honrar a confiança em mim depositada.

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Não haveria nada mais delicioso no mundo, se as margens do Jacuí ou do Uruguai fossem habitadas por homens trabalhadores; se um dia as casas de campanha e jardins margeassem esses rios e se, no meio das árvores que cobrem essas ilhas de que falei, avistássemos plantações e moradias. (SAINT-HILAIRE, 2002, p.275 – Viagem ao Rio Grande do Sul no campo de Belém em 17/01/1821).

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo compreender o desenvolvimento da arquitetura em madeira na região do Alto Uruguai Gaúcho e as trocas ou influências culturais no uso de técnicas construtivas em madeira, decorrentes dos diferentes fluxos étnicos de colonos imigrantes e migrantes (majoritariamente descendentes de alemães, italianos e poloneses) que chegaram à região no início do século XX, com a fundação da Colônia Erechim. A madeira utilizada nestas construções era proveniente da mata de Araucaria angustifólia, cuja exploração econômica se deu por meio da utilização de balsas que atravessavam o Rio Uruguai e pela ferrovia São Paulo - Rio Grande. A maioria dessas construções foi erguida até a década de 1950, quando ocorreu um declínio da exploração econômica da madeira na região. Foi realizada a coleta de dados com base em fontes bibliográficas e visitas exploratórias in loco de cidades escolhidas na região, identificando edificações relevantes para aprofundamento da análise. Foram adotados instrumentos de pesquisa tais como registros fotográficos e infográficos, entrevistas e fichamentos na forma de inventários, compilando dados das edificações com análise tipológico-arquitetônica. Com base nas análises demonstramos que houve uma hibridização de técnicas construtivas em madeira relacionadas ao saber-fazer dos imigrantes e migrantes de diferentes origens que colonizaram oficialmente a região, resultando em soluções construtivas em madeira similares. Por meio dos levantamentos a campo e coleta de dados, conseguimos registrar e organizar informações sobre a arquitetura em madeira produzida no Alto Uruguai Gaúcho, como forma de contribuir para o conhecimento desta arquitetura e colaborar para sua preservação.

Palavras-chave: Arquitetura em madeira. Imigração. Alto Uruguai Gaúcho. Preservação cultural.

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ABSTRACT

This work’s goal is to understand the development of wooden architecture in the Alto Uruguai region of Rio Grande do Sul, as well as the cultural exchanges and influences on the use of timber construction techniques, spanning from the various ethnic flows of immigrant and migrant settlers (mostly descendants of germans, italians and poles) who arrived in the region at the beginning of the 20th century with the foundation of the Erechim Colony. The wood used in these constructions came from the Araucaria angustifolia forest, whose economic exploitation took place through the use of ferries crossing the Uruguay River, and the São Paulo-Rio Grande railway. Most of these buildings were erected until the 1950s, when a decrease in the economic exploration of wood took place in the region. The research’s method was based in data collection, both bibliographical and through on-site exploratory visits of selected cities in the region, identifying buildings that were relevant to deepening the analysis. Furthermore, research instruments such as photographic and infographic records, interviews, and inventories were used, compiling data from buildings with a typological-architectural analysis. As a result, it is demonstrated that there was a hybridization of constructive techniques in wood, related to the knowhow of immigrants and migrants from different origins that officially colonized the region, resulting in similar wooden constructive solutions. Through these field surveys and data collection, we were able to record and organize information about the timber architecture of the Alto Uruguai Gaúcho, as a way to contribute towards the knowledge of this architecture and its preservation.

Keywords: Wooden architecture. Immigration. Alto Uruguai Gaúcho. Cultural Preservation.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- A Região Geográfica Imediata de Erechim, pertencente ao Alto Uruguai (RS). ... 33 Figura 2- Critérios para a seleção de cidades para amostra das construções em madeira no Alto Uruguai Gaúcho. ... 39 Figura 3- Modelo de ficha cadastral utilizada na pesquisa. ... 43 Figura 4- Região de origem dos imigrantes italianos, indicada no mapa da Itália. ... 48 Figura 5- Residência rural característica da Itália no século XIX. ... 49 Figura 6- Ballatoio com estrutura em madeira e a substituição pela galeria em arcadas. ... 50 Figura 7- Residências rurais venezianas, com a separação entre setor produtivo e habitação em dois volumes e em um único volume. ... 51 Figura 8-Exemplo de detalhe tábua e mata-junta. ... 53 Figura 9- Estrutura independente utilizada por imigrantes italianos. .... 53 Figura 10- Planta-tipo do pavimento da casa de dormir, família Valentini, Caxias do Sul. ... 54 Figura 11- Região de origem dos imigrantes poloneses, indicada no mapa da Polônia. ... 55 Figura 12- Casa de três espaços. ... 56 Figura 13- Esquema de encaixe de troncos no Blocausse. ... 57 Figura 14- Casa da região de Lublin- Dubienka, construída em 1926. . 57 Figura 15- Região de origem dos imigrantes alemães, indicada no mapa da Alemanha. ... 60 Figura 16- Esquema das casas Pomeranas e Vestfalianas. ... 61 Figura 17- Esquema demonstrando o sistema construtivo Enxaimel (a) baixo saxão - Pomerânia e Vestfália (b) franco- Renânia ... 62 Figura 18- Casa de telhado assimétrico (a) e simétrico (b) conforme Jean Roche... 64 Figura 19 - Localização dos COREDES no Rio Grande do Sul, em destaque os COREDES do Alto Uruguai. ... 84 Figura 20- Região geográfica imediata de Erechim, delimitada ao estudo. ... 85 Figura 21- Colônia Erechim na evolução político-administrativa do Estado. ... 89 Figura 22- Mappa da Região Missioneira; Evaristo Afonso de Castro, 1887. ... 96 Figura 23- Stampa do Theatro da Guerra na Província do Rio de Grande de S. Pedro do Sul. Nicolau Dreys, 1839. ... 98

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Figura 24- Planta da Colônia Erechim e terras adjacentes s/d. ... 106

Figura 25- Planta da Colônia Erechim e terras adjacentes ampliada s/d. ... 107

Figura 26- Um dos barracões de imigrantes da Colônia Erechim, em 1911. ... 109

Figura 27- Ponte no Rio Uruguai em Marcelino Ramos, com vagão tombado, 1930... 116

Figura 28- Mapa da viação férrea do Estado do Rio Grande do Sul, com destaque e ampliação do trecho Tronco Norte e suas estações, W. Regius, 1926. ... 117

Figura 29- Linhas e estações de Passo Fundo a Marcelino Ramos. .... 118

Figura 30- Planta da zona colonizada com o auxílio da União nos anos de 1907-1913. ... 119

Figura 31 - Casa de negócio na colônia Erechim, 1911. ... 122

Figura 32- Jornal alemão com propaganda da Luce Rosa e Cia e da colônia em Boa Vista do Erechim. ... 125

Figura 33- Toldos Indígenas na região do Alto Uruguai Gaúcho, entre 1889 e 1925. ... 130

Figura 34- Modelo para moradia de indígenas da DTC. ... 132

Figura 35- Moradia indígena em Rio Novo, Aratiba, 1924. ... 133

Figura 36- Modelo de casa para nacionais. ... 134

Figura 37- Casa particular na colônia Erechim, 1911. ... 135

Figura 38- Casas de imigrantes poloneses na cidade de Áurea, nos primórdios da colonização. ... 138

Figura 39- Trecho do Plano do traçado de Paiol Grande, 1914. ... 141

Figura 40- Sede da comissão de Terras (vulgo Castelinho), em Paiol Grande final da década de 1917. ... 142

Figura 41- Edifício da Prefeitura Municipal, 1932. ... 144

Figura 42- Incêndio na avenida, em Boa vista do Erechim, 23 de junho de 1933. ... 146

Figura 43- Balsas para transporte de toras e madeiras no Rio Uruguai. ... 149

Figura 44- Madeireira Achylles Caleffi e Cia, situada ao lado da viação férrea, Erechim, 1928. ... 151

Figura 45- Propaganda da Madepinho seguradora S/A e da Federação das Sociedades Cooperativas de madeira de pinho no Rio Grande do Sul. ... 152

Figura 46- Distribuição das serrarias no Rio Grande do Sul, 1916 a 1950. ... 152

Figura 47- Vista em diferentes sentidos da Avenida Maurício Cardoso, em 1930 (a), e em 1939 (b). ... 155

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Figura 48– Estreito do Rio Uruguai na década de 1910, Marcelino

Ramos. ... 156

Figura 49- Edificações em madeira realocadas em Aratiba- A casa do pastor (a), o museu municipal (b) e a igreja de navegantes (c). ... 160

Figura 50- Casa da década de 1930, Linha Sarandi, Aratiba. ... 161

Figura 51- Edificações demolidas no Alto Uruguai Gaúcho. ... 165

Figura 52- Linha Dourado, Erechim/RS, 1912. Casa de um colono Polonês e detalhe no oitão. ... 173

Figura 53- Paiol de propriedade do Sr. Letvin (ficha 34), com tábuas de madeira rachada, Paulo Bento. ... 174

Figura 54- Paiol de propriedade de Waszczuc (ficha 35), com uma das águas da cobertura em tabuinhas, Áurea. ... 175

Figura 55- Engenho de Serra em Três Arroios, no ano de 1920. ... 176

Figura 56- Boa Vista do Erechim, Serraria Manual de Tábuas, na década de 20. ... 177

Figura 57- Ferramentas de carpintaria do Sr. Mieceslau Waszczuc (ficha 35), em Áurea. ... 178

Figura 58- Tabuinha lascada do Sr. Camerini, Paulo Bento (ficha 11). ... 179

Figura 59- O processo de desdobro da tabuinha lascada, a partir da seção transversal do tronco. ... 180

Figura 60- Família Marquardt, de origem russa e proprietária da casa, e os vizinhos da família Ludke, em 1914. ... 180

Figura 61- Fogões à lenha. ... 185

Figura 62- Muros em taipa de pedra (a) Casa Wasczuc (ficha 35), e (b) Casa Loss (ficha 06). ... 186

Figura 63- Casa Rigoni (ficha 17), urbana e Casa Camerini (ficha 11), rural. ... 188

Figura 64- Tipologia com dois volumes conectados por passadiço. ... 190

Figura 65-Tipologia com lucarna e cumeeira paralela à fachada frontal. ... 191

Figura 66- Balaústres trabalhados em madeira. ... 192

Figura 67- Detalhes de ornamentação. ... 192

Figura 68- Esteios inclinados de contraventamento. ... 194

Figura 69- Estrutura do porão. Fonte: a autora, 2018. ... 196

Figura 70- Tipologia do telhado em quatro águas de grande porte contígua a edificação de telhado em duas águas de menor porte. ... 197

Figura 71- Frechal com ensambladuras do tipo “meia-madeira”. ... 199

Figura 72-Tipologia do telhado em duas águas com cumeeira paralela a fachada frontal e anexo lateral de uma água. ... 200

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Figura 73- Lambrequins. ... 200

Figura 74- Tipologia rural Vêneta e casa Piovesan. ... 203

Figura 75- Detalhes de ornamentação. ... 206

Figura 76- Revestimento interno em lambri. ... 207

Figura 77- Tipologia do telhado em duas águas com cumeeira paralela a fachada frontal e anexo lateral de uma água, com varanda. ... 208

Figura 78- Torre sineira incorporada nas igrejas luteranas. ... 210

Figura 79- Pinturas decorativas internas (a) Igreja São Paulo (b) Igreja Santa Tereza (c) Igreja Navegantes... 211

Figura 80- Janelas de igrejas com bandeira. ... 212

Figura 81- Ensambladuras no frechal e vigas- mestras. ... 213

Figura 82- Ligação do cepo de fundação com o baldrame. ... 215

Figura 83- Quadro estrutural sem vergas e contra-vergas. ... 215

Figura 84- Estrutura da cobertura. ... 216

Figura 85- Tabuinhas de cobertura e galbo. ... 217

Figura 86- Projeto de casa de madeira com inserção de esteios inclinados no quadro estrutural aprovado em 1939. ... 218

Figura 87- Foto da construção casa do Sr. Antonio Sciesleski, sistema entramado, em 1946, Áurea. ... 221

Figura 88 - Typo de escola construída em madeira para a região colonial. ... 222

Figura 89-Carteira profissional de Mansueto Vanz. ... 228

Figura 90- Edificações construídas por Leopoldo Shäffer, atualmente demolidas. ... 229

Figura 91- Projeto de casas em madeira para Sr. Modesto Rigoni, 1958. ... 231

Figura 92- Casa de madeira construída por Santo Sfredo na Rua São Paulo, 121, pertenceu ao Sr. Santo Dalazen. Foto do ano de 1987. .... 231

Figura 93- Casa de madeira localizada na Avenida 7 de setembro, 339, construída em 1922 por José Bortolazza. ... 232

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- As três etapas de pesquisa, distribuídas entre os capítulos.. 37 Quadro 2- Quadro síntese: relação entre objetivos, procedimentos e métodos da pesquisa. ... 45 Quadro 3- Comparação de seções das peças estruturais- sistema porticado. ... 219 Quadro 4- Seções das peças estruturais- sistema entramado. ... 220 Quadro 5- Carpinteiros, período e local de atuação, no Alto Uruguai Gaúcho. ... 225 Quadro 6- Carpinteiros, suas origens e anos de atuação, no Alto Uruguai Gaúcho. ... 233

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Resumo de informações dos municípios que abrangem a pesquisa: destaque (em cinza) para os que possuem exemplares levantados- continua. ... 87 Tabela 2- Resumo de informações dos municípios que abrangem a pesquisa: destaque (em cinza) para os que possuem exemplares levantados- conclusão. ... 88 Tabela 3- Mapa demonstrativo do movimento de imigrantes com destino à Colônia Erechim. ... 112 Tabela 4- Dados estatísticos sobre os nascimentos de Erechim segundo a origem dos pais, anos de 1922 e 1927. ... 128 Tabela 5- Dados estatísticos sobre os casamentos em Erechim segundo a profissão anos de 1922 e 1926. ... 129 Tabela 6- A renda da exportação de Passo Fundo em 1913. ... 150 Tabela 7- Madeiras exportadas de setembro a dezembro de 1925, com destaque para as de maior produção. ... 153

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AHRS- Arquivo Histórico do Estado do Rio Grande do Sul AMAU- Associação dos Municípios do Alto Uruguai

CAU/RS- Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul CEEE- Companhia Estadual de Energia Elétrica

COREDE- Conselho Regional de Desenvolvimento

COMPHAC- Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Erechim)

CONAMA- Conselho Nacional de Meio Ambiente

COREDE- Conselho Regional de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul

CRAB- Comissão Regional de Atingidos por Barragens CREA- Conselho Regional de Engenharia e Agronomia CTG- Centro de Tradições Gaúchas

DNEE- Departamento Nacional de Energia Elétrica DTC- Diretoria de Terras e Colonização (RS)

ECAU- Elementos Históricos e Culturais do Alto Uruguai

ECIRS- Elementos Culturais das Antigas Colônias Italianas na Região Nordeste do Rio Grande do Sul

EFSPRG- Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande ELETROSUL - Centrais Elétricas do Sul do Brasil

EMATER/ RS- Associação Riograndense Empresa Técnica Extensão Rural

FCC- Fundação Catarinense de Cultura FEE- Fundação de Economia e Estatística (RS) FUNAI (Fundação Nacional do Índio)

GERASUL- Centrais Geradoras do Sul do Brasil S/A GIEM- Grupo Interdisciplinar de Estudos da Madeira IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICA- Jewish Colonization Association

ICCROM- International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property

ICOMOS- International Council of Monuments and Sites IHGRS- Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul IIWC- International Wood Committee

IMHC – Instituto Memória Histórica e Cultural (UCS) INP- Instituto Nacional do Pinho

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IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional LIC/ RS - Lei de Incentivo à Cultura do Estado do RS

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens PME- Prefeitura Municipal de Erechim

PRR- Partido Republicano Rio-Grandense RIMA- Relatório de Impacto Ambiental

SICG- Sistema integrado de conhecimento e gestão do IPHAN SPI- Serviço de Proteção aos Índios

UCS- Universidade de Caxias do Sul UHE - Usina Hidrelétrica

UFFS – Universidade Federal da Fronteira Sul UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina

UNESCO- United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

VAB- Valor Adicionado Bruto

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 27 ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS ... 36

2 ARQUITETURA EM MADEIRA: IMIGRAÇÃO,

PATRIMÔNIO E CONSERVAÇÃO ... 47 2.1 A PRODUÇÃO DA ARQUITETURA NAS REGIÕES DE ORIGEM DOS IMIGRANTES E DESCENDENTES ... 47 2.2 O PATRIMÔNIO E A ARQUITETURA EM MADEIRA ... 66

2.3 A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CONSTRUÍDO

EM MADEIRA ... 71 3 O ALTO URUGUAI GAÚCHO ... 83 3.1 CARACTERIZAÇÃO REGIONAL ... 83 3.2 O TERRITÓRIO DO ALTO URUGUAI GAÚCHO ANTES DA IMIGRAÇÃO ... 90 3.3 A IMPLANTAÇÃO DA COLÔNIA ERECHIM ... 105 3.3.1 A ferrovia Tronco Norte ... 113 3.3.2 A atuação das companhias particulares de colonização 120 3.3.3 As migrações internas e a miscigenação ... 126 3.3.4 A política de colonização para os indígenas e os nacionais e a introdução de imigrantes de diferentes origens ... 129 3.3.5 A nova sede geral da colônia ... 139 3.3.6 O ciclo econômico extrativista da madeira ... 148 3.4 A CONSTRUÇÃO BARRAGEM DE ITÁ E O IMPACTO SOBRE O PATRIMÔNIO EM MADEIRA ... 156

3.5 SOBRE A PRESERVAÇÃO DA ARQUITETURA EM

MADEIRA NA REGIÃO ... 165

4 ANÁLISE DA ARQUITETURA EM MADEIRA NO

ALTO URUGUAI GAÚCHO... 170 4.1 FASES DE DESENVOLVIMENTO ... 170 4.2 ASPECTOS GERAIS DA OCUPAÇÃO ... 183

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4.3 TIPOLOGIAS FORMAIS E FUNCIONAIS ... 189 4.3.1 A casa de madeira teuto-brasileira ... 189 4.3.2 A casa de madeira ítalo-brasileira ... 196 4.3.3 A casa de madeira polono-brasileira ... 203 4.3.4 Edificações Religiosas ... 209 4.4 O SISTEMA CONSTRUTIVO ... 213 4.5 OS CONSTRUTORES ... 224 4.5.1 Mansueto Vanz ... 227 4.5.2 Leopoldo Shäffer ... 228 4.5.3 Santo Sfredo ... 229 4.5.4 José Bortolazza ... 232 4.5.5 Origem e atuação dos profissionais ... 233 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 237 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ... 246 REFERÊNCIAS ... 249 GLOSSÁRIO ... 277 APÊNDICE A- FICHAS CADASTRAIS TEUTO-BRASILEIROS ... 280 APÊNDICE B- FICHAS CADASTRAIS ÍTALO-BRASILEIROS ... 329 APÊNDICE C- FICHAS CADASTRAIS POLONO-BRASILEIROS ... Erro! Indicador não definido. APÊNDICE D- FICHAS CADASTRAIS CAPELAS ... 469 APÊNDICE E- TCLE- Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido e Parecer Consubstanciado no CEP/UFSC ... 503 APÊNDICE F- Formulários de Levantamento de dados- entrevista com morador e entrevista com artífice... 512

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1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa aborda o estudo da fase construtiva em madeira da região do Alto Uruguai Gaúcho1, ao norte do Rio Grande do Sul, na divisa com o estado de Santa Catarina, compreendendo o desenvolvimento desta produção arquitetônica e a relação com as diferentes culturas de colonos2 imigrantes e migrantes descendentes3 de distintas origens que chegaram à região no início do século XX, com a fundação da Colônia Erechim.

Durante a primeira metade do século XX4, a exploração econômica da madeira, realizada pelos colonos e por empresas colonizadoras, foi uma realidade no sul do Brasil. A madeira, que tanto abastecia o mercado interno quanto servia para exportação, provinha da devastação da floresta ombrófila mista (Araucaria angustifolia), a qual se estendia do Planalto gaúcho até o norte do Paraná. Como resultado, durante o período de exploração nessas regiões, foi produzida uma arquitetura em madeira, a qual remonta não somente a este ciclo econômico, mas também ao processo histórico da política de colonização.

1 Desde a primeira divisão administrativa da Província de São Pedro do Rio

Grande do Sul, em 1809, até 1857, quando ocorreu a emancipação de Passo Fundo, quando se tornou um distrito deste município, a “Região do Alto Uruguai” denominou a porção do território que formou, mais tarde, o município de Erechim em 1918 (DUCATTI NETO, 1981, p.43). A fim de distinguir este território do Alto Uruguai localizado no Estado de Santa Catarina, é usual o acréscimo do termo “Gaúcho”. A região do Alto Uruguai, assim denominada pela proximidade com o rio Uruguai, compreendeu a antiga Colônia Erechim, até 1918, quando esta região ainda pertencia ao município de Passo Fundo. Esta colônia compreendia o território onde estão localizados atualmente os trinta municípios da Região Geográfica Imediata de Erechim.

2 Denominação do imigrante que adquiria um lote de terra em projeto de

colonização. Na acepção restrita, colonização é toda ação pública ou privada que visa à utilização da terra por uma classe de pequenos proprietários (LA SALVIA E HANDSCHUNCH, 1974, p.3).

3 Os migrantes descendentes provinham de fluxos migratórios internos das

chamadas “colônias velhas”, onde se localizavam os núcleos iniciais de povoamento do estado.

4 O retraimento do comércio de madeiras na região, segundo Wentz (2004, p.11)

inicia na década de 40 e perdura até 1950, quando ocorreram muitas transferências de serrarias para outros estados, principalmente para o oeste de Santa Catarina.

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Estas construções em madeira pertencentes à história regional e ao “Ciclo da Madeira” estão desaparecendo. É necessário estudar, registrar e refletir sobre o significado cultural desta produção arquitetônica regional. Sem uma documentação que possa favorecer a compreensão dessa arquitetura e sua relevância na contemporaneidade, a tendência é que a mesma continue desvalorizada e desconsiderada como patrimônio, com vistas a desaparecer da paisagem.

Como será tratada mais detalhadamente ao longo da pesquisa, a colonização do Alto Uruguai Gaúcho foi efetivada por meio da ocupação de terras devolutas, a partir da instauração da Lei de Terras (Lei n. 601/1850, regulamentada pelo Decreto n. 1.318, de 1854). Por meio desta, o Estado passou a regulamentar a cessão do uso das terras e vendê-las por meio de companhias colonizadoras públicas e particulares. A Colônia Erechim foi caracterizada por uma dinâmica econômico-espacial de pequenas propriedades rurais com agricultura diversificada. A implantação da rede ferroviária “São Paulo - Rio Grande” nesta região, em 1910, foi de grande importância para facilitar a circulação de pessoas e impulsionar o escoamento de produtos excedentes para outras regiões do Brasil.

Além de ser considerada uma região de colonização “nova”, em comparação com as colônias velhas5, A Colônia Erechim também pode ser caracterizada como uma colônia “mista”, por possuir uma representação mais equilibrada de diversos grupos étnicos no processo de colonização oficial, entre os quais, predominaram os de ascendência alemã, polonesa e italiana. A possibilidade de trocas culturais interétnicas, particularmente no campo das técnicas construtivas em madeira, evidencia a dimensão cultural destas edificações, além da iminência de estudo e devido reconhecimento na historiografia da arquitetura regional.

A arquitetura em madeira pode abranger conceitos de patrimônio material e imaterial demonstradas nas construções como um típico “modo de saber/fazer”, característico do início do desenvolvimento regional vinculado à imigração. Não somente a representação material

5 As “colônias velhas” denominavam os núcleos iniciais de povoamento do

período imperial, localizadas nas encostas inferior e superior do nordeste do Rio Grande do Sul, sendo as colônias alemãs, iniciadas em 1824 e prosseguidas até 1875 no Vale do Rio dos Sinos, Vale do Caí e Taquari, e as quatro colônias italianas no Rio Grande do Sul, instaladas de 1875 a 1889. Estas colônias eram formadas fundamentalmente por ilhas étnicas de única nacionalidade.

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está evidenciada nestas construções, mas também subjetividades como memórias afetivas e usos cotidianos que representam igualmente os modos de viver dessa população. Considera-se que a compreensão desta fase construtiva no contexto regional é a primeira etapa para sua posterior valorização e preservação.

Partindo do pressuposto da possibilidade de intercâmbios entre estes três povos imigrantes majoritários, esta pesquisa pretende responder a seguinte pergunta: as construções em madeira produzidas até a década de 50 do século XX no Alto Uruguai Gaúcho sofreram influência e refletem a diversidade de ascendência dos povos imigrantes e de seus descendentes?

A hipótese levantada é a de que houve intercâmbio ou fusão de técnicas construtivas em madeira relacionadas ao saber-fazer dos imigrantes e migrantes de diferentes origens, levando a criação de uma nova técnica, adaptada ao contexto local.

Por se tratar de uma região de colonização mista, com a influência cultural das diferentes etnias de povoamento, mas sob as mesmas condições locais de produção, materiais e recursos disponíveis, é de se esperar que houvesse um intercâmbio cultural ou fusão no que tange às técnicas construtivas ou, ainda, em termos de tipologia arquitetônica. Outro fator que leva a acreditar nessa hipótese é o fato de a região ser formada parcialmente por descendentes de imigrantes oriundos das colônias velhas do Estado, o que pode ter facilitado a perda de referências culturais identitárias de cada grupo étnico, levando a um hibridismo cultural.

O objetivo geral da pesquisa é caracterizar o desenvolvimento da arquitetura em madeira na região do Alto Uruguai Gaúcho, antiga colônia Erechim, investigando as influências culturais no uso de técnicas construtivas em madeira, decorrentes dos fluxos migratórios de diversas etnias (majoritariamente descendentes de alemães, italianos e poloneses) que chegaram à região no início do século XX.

Fazem parte dos objetivos específicos desta pesquisa: a) Caracterizar a região do Alto Uruguai;

b) Investigar a arquitetura em madeira e os aspectos construtivos, funcionais e formais relacionados aos diferentes grupos étnicos no Alto Uruguai Gaúcho;

c) Analisar a transformação da arquitetura em madeira, a partir das regiões de origem dos imigrantes e descendentes;

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d) Analisar a ocorrência de intercâmbio técnico-construtivo entre as etnias dos maiores fluxos migratórios (ascendência alemã, italiana e polonesa) na produção da arquitetura em madeira;

e) Interpretar o significado material e imaterial da arquitetura em madeira da imigração na região.

Apesar de existirem estudos e publicações sobre a arquitetura da imigração italiana e alemã no Rio Grande do Sul, esses estudos são, sobretudo, restritos às regiões onde se situaram as colônias velhas, formadas por “ilhas” culturais com a presença predominante de um grupo étnico. A justificativa da tese é estudar a arquitetura em madeira produzida sob a influência da imigração em uma região não abordada na historiografia. Tendo em vista a confluência e possibilidade do intercâmbio entre os povos imigrantes de distintas origens no Alto Uruguai, o período tardio de inserção destes em um território “virgem” e o áureo ciclo econômico da madeira, essa temática se apresenta como um campo fértil do conhecimento ainda inexplorado.

A pesquisa foi feita por meio do levantamento documental, iconográfico e coleta de dados a campo do objeto de estudo, além de pesquisa bibliográfica. Parte das fontes documentais e primárias utilizadas na pesquisa, tais como, periódicos, artigos de jornais, relatórios governamentais, mapas, relatórios técnicos, dados estatísticos, correspondências, material iconográfico, plantas, documentos governamentais, entre outros, foram encontrados principalmente no Arquivo Municipal Juarez Illa Font, em Erechim; no Arquivo Histórico do Estado (AHRS), no Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, em Porto Alegre; no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE-RS), no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRS), no acervo do Projeto Elementos Culturais das Antigas Colônias Italianas na Região Nordeste do Rio Grande do Sul (ECIRS) da Universidade de Caxias do Sul (UCS); no Museu do Imigrante, em Bento Gonçalves; e no Arquivo e no site da hemeroteca da biblioteca nacional.

Outras buscas de fontes foram feitas no IPHAN-RS; no memorial do CAU-RS; no Museu Municipal Irmã Celina Schardong, em Gaurama; no Museu do Imigrante, em Jacutinga; no Museu João Modkowski, em Áurea; assim como no setor de departamento de obras e cadastro imobiliário de obras na prefeitura municipal e no Registro de Imóveis de Erechim. Houve dificuldade, entretanto, em achar fontes primárias relacionadas diretamente ao tema da pesquisa, que são escassas, tais como autoria da construção ou informação sobre os construtores, data de construção, plantas ou desenhos originais e

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documentos de escrituras6. Por isso, os levantamentos cadastrais da situação atual das edificações realizados a campo, com registros fotográficos e levantamento métrico-arquitetônico foram utilizados como material documental principal para a análise proposta nesta pesquisa.

Trata-se, portanto, de uma pesquisa bibliográfica e documental, não participante, com método de abordagem hipotético dedutiva, com método de procedimento descritivo e comparativo, de tratamento qualitativo e de natureza aplicada, abrangendo um estudo exploratório de campo (LAKATOS, 2003; GIL, 2008;).

Como revisão de literatura sobre a arquitetura da imigração no sul do Brasil, salientam-se como fontes bibliográficas secundárias principalmente os autores Posenato (1983; 2005), que apresenta a arquitetura da imigração italiana no Rio Grande do Sul, e Weimer (1987; 2012; 2005), que aborda a arquitetura da imigração alemã neste estado. A arquitetura da imigração de origem polonesa, uma das etnias presentes no Alto Uruguai Gaúcho, não possui bibliografia específica dedicada no Rio Grande do Sul. Por isso, buscou-se o aporte teórico em autores que trataram deste tema no estado do Paraná, tais como Imaguire e Imaguire Jr. (2011), Valentini (1982) e Zani (2003); e em bibliografia de outros campos do conhecimento no âmbito do Rio Grande do Sul, como a história e a antropologia, como Vicroski (2011), Wenczenovicz (2010), Kokuska (2006), Gritti (2004) e Gardolinski (1958).

As publicações existentes sobre a história da arquitetura e urbanismo, bem como sobre preservação do patrimônio na região do Alto Uruguai Gaúcho, em geral são dissertações que se restringem à cidade de Erechim. São voltados à formação urbana e paisagem (AVER, 2008); (FUNFGELT, 2004), às renovações urbanas após a ocorrência dos incêndios (SKOWRONSKI, 2008), acerca da preservação do patrimônio cultural (PRESTES, 2012) e às manifestações Art Déco (PETRY, 2009).

Para esta Tese foram utilizados diversos estudos de outras áreas com a finalidade de contextualização do objeto de investigação, como fontes bibliográficas, livros, artigos, teses, dissertações e documentos relativos à preservação do patrimônio, à arquitetura em madeira, ao fenômeno imigratório no Rio Grande do Sul e à entrada de diversas

6 A exigência da aprovação de projetos na prefeitura cidade de Erechim foi

realizada somente a partir de 1945. A Diocese de Erechim foi fundada apenas em 1971, quando iniciou o arquivamento de documentação.

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etnias; sobre o Alto Uruguai, à formação urbana regional, à atuação de empresas colonizadoras e da Comissão de Terras Estadual, ao ciclo econômico da madeira, à implantação da ferrovia, à instalação da Usina Hidrelétrica de Itá, entre outros assuntos.

Acerca da delimitação da pesquisa, o recorte geográfico são algumas cidades que compõem ao Alto Uruguai Gaúcho, na antiga Colônia Erechim. Esta colônia foi pertencente ao oitavo distrito de Passo Fundo, entre 1910 até 1918, quando foi emancipada e denominada Erechim, com sede a Vila de Boa Vista. Hoje este território compreende a região geográfica imediata de Erechim (IBGE, 2017), abrangendo trinta municípios (Fig.1).

O recorte temporal da pesquisa compreende o período da fundação da Colônia Erechim, em 1908, até o período de retração do Ciclo da madeira, na década de 19507, quando as construções em madeira passam a ser menos frequentes.

A multiculturalidade da região do Alto Uruguai vai muito além dos povos que chegaram ao início do século XX, cuja ascendência é europeia. Os indígenas, por exemplo, povoavam a região bem antes da colonização oficial, como será tratado adiante. Nesta pesquisa, porém, decidiu-se por delimitar a análise às contribuições europeias de ascendência italiana, polonesa e alemã, dos imigrantes e migrantes, por algumas razões: para que fosse possível viabilizar a pesquisa no tempo e recurso disponíveis foi necessário restringir o número de povos estudados, decidindo-se, então, pelas composições de origem majoritárias, após o período de instalação da Colônia Erechim. Outra razão para esta decisão: seria bastante difícil examinar a produção arquitetônica indígena no recorte temporal estabelecido, já que remanescentes de suas construções não possuem referências documentais suficientes. Ou seja, é necessário anteceder um estudo aprofundado e específico sobre a produção arquitetônica vernacular dos povos indígenas da região, levando em consideração sua especificidade cultural e carência documental e bibliográfica.

7 Para estimar o recorte temporal do Ciclo da Madeira, utilizou-se como

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Figura 1- A Região Geográfica Imediata de Erechim, pertencente ao Alto Uruguai (RS).

Fonte: elaborado por Natália Pereira, adaptado de IBGE (2017).

1. Mariano Moro 2.Faxinalzinho 3.Severiano de Almeida 4.Erval Grande 5.Itatiba do Sul 6.Barra do Rio Azul 7. Aratiba 8.Marcelino Ramos 9.Três Arroios 10.Benjamin Constant do Sul 11.Entre Rios do Sul 12.São Valentim 13.Barão de Cotegipe 14.Cruzaltense 15.Gaurama 16.Viadutos 17.Ponte Preta 18.Paulo Bento 19.Carlos Gomes 20.Áurea 21.Erechim 22.Campinas do Sul 23.Centenário 24.Erebango 25.Jacutinga 26.Quatro Irmãos 27. Floriano Peixoto 28. Estação 29. Getúlio Vargas 30. Ipiranga do Sul

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Em função da extensão da região, os custos, a inexistência de uma equipe a campo e o limite temporal, esta pesquisa não examina todos os municípios do Alto Uruguai Gaúcho, nem esgota a totalidade das edificações remanescentes em madeira do período estudado, mas restringe-se a uma quantidade suficiente, a fim de permitir, para além de uma amostra quantitativa, a busca pelo aprofundamento das análises do desenvolvimento da arquitetura em madeira na região e a influência da imigração. As catorze cidades levantadas compreendem 75,13% da população total regional e 55,37 % da área relativa ao recorte da Região Geográfica Imediata de Erechim.

A escolha das cidades para a amostra da arquitetura em madeira justifica-se com base na evolução administrativa da região, priorizando inicialmente as regiões mais antigas, tendo em vista a possibilidade da maior quantidade de edificações compreendidas no período da pesquisa. Até 1955, os municípios federalizados existentes eram: Erechim (1918), Getúlio Vargas (1934), Marcelino Ramos (1944), Gaurama (1954) e Aratiba (1955). Compreendidas na área destes primeiros municípios, outras regiões foram se emancipando mais tarde, até 1996.

Entre os municípios emancipados após 1955, foram incluídos nesta pesquisa: Erebango, Três Arroios, Ponte Preta, Severiano de Almeida, Quatro Irmãos, Áurea, Jacutinga, Paulo Bento e Barão do Cotegipe. Os critérios que delinearam a inclusão destes municípios obedeceram à soma de múltiplos fatores, entendidos como apropriados para a compreensão da ampla diversidade regional, os quais:

-Que sejam municípios apontados por fontes primárias e/ou secundárias que compreendiam edificações em madeira remanescentes pertencentes ao período pesquisado (de 1908 até a década de 1950);

-Que alguns munícipios representassem a diversidade de empresas colonizadoras: Comissão de Terras do Estado (Erechim, Getúlio Vargas, Barão de Cotegipe; Paulo Bento e Ponte Preta), ICA (Quatro irmãos, Erebango e Jacutinga), Luce Rosa e Cia (Aratiba, Gaurama, Três Arroios e Severiano de Almeida), Soc. Territorial Eberle e Mosele (Marcelino Ramos) e Cia Riograndense (Áurea);

-Que alguns municípios tivessem sido atingidos pela Barragem de Itá (Marcelino Ramos, Severiano de Almeida e Aratiba);

-Que alguns municípios contivessem estações férreas remanescentes, que impulsionaram o desenvolvimento na região (Erechim, Marcelino Ramos, Erebango, Gaurama);

-Que alguns municípios apontados por fontes primárias e/ou secundárias tivessem predominância de um grupo étnico majoritário, a fim de investigar possíveis características identitárias (Áurea-

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Poloneses; Três Arroios- Alemães; Severiano de Almeida- Italianos; Quatro Irmãos- Poloneses e Russos);

Para desenvolver a pesquisa, buscou-se fornecer uma amostra representativa de edificações em madeira remanescentes pertencentes à região do Alto Uruguai Gaúcho no recorte geográfico e temporal delimitado. Elencaram-se edificações com características que pudessem demonstrar a variedade tipológica e técnico-construtiva pertencente aos três povos imigrantes majoritários e de seus descendentes.

Ao total, foi realizado o levantamento métrico-arquitetônico e fotográfico de 42 edificações em madeira remanescentes, que compõem um panorama dessa produção arquitetônica no Alto Uruguai Gaúcho. Em outras seis construções, na impossibilidade de aceder o seu interior e realizar o levantamento métrico8, foi realizado o registro fotográfico externo. A análise comparativa destes exemplares foi relacionada às transformações espaciais deste território: ao fenômeno imigratório e a preterição dos “nacionais”, a implantação da ferrovia, a exploração da madeira e agricultura de pequena propriedade, o comércio e vendas de terras e, mais recentemente, na instalação da barragem da Usina Hidrelétrica de Itá. Quando possível, realizaram-se entrevistas semiestruturadas com moradores, proprietários ou carpinteiros9, a fim de coletar informações gerais sobre a construção e suas origens e referências identitárias.

O trabalho é estruturado em cinco capítulos, referências e apêndice. O primeiro capítulo, Introdução, da qual é parte da presente seção, apresenta os aspectos fundamentais da pesquisa, como a pergunta de pesquisa, a justificativa, objetivos, hipótese e a delimitação da pesquisa.

O segundo capítulo, Arquitetura em madeira: imigração, patrimônio e conservação, inicialmente descreve as principais características das construções dos imigrantes e descendentes que chegaram ao Alto Uruguai, edificadas nas suas regiões de origem, especificamente, no contexto europeu ou nas colônias velhas, com apoio em autores de referência e fontes documentais. O objetivo deste item é servir como apoio para a posterior análise comparativa entre estas

8 A impossibilidade se deu pela não autorização do proprietário ou morador,

pelas condições inseguras das construções ou, ainda, pela grande dimensão e dificuldade em proceder ao levantamento métrico na disponibilidade de tempo dos proprietários.

9 Os carpinteiros mais antigos que permanecem atuantes na região começaram o

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construções e as da região de estudo. Em seguida, aponta algumas questões teóricas específicas relacionadas à esfera patrimonial, a fim de contextualizar aspectos pertinentes aos bens edificados em madeira e se aproximar do objeto de estudo. Esse capítulo também apresenta aspectos técnicos relacionados à conservação do patrimônio construído em madeira aportados em documentos internacionais de preservação.

O terceiro capítulo, “O Alto Uruguai Gaúcho”, introduz aspectos geográficos, econômicos e limites administrativos da região de estudo. Descreve-se a ocupação e o povoamento do território antes do fenômeno migratório e após a implantação da Colônia Erechim, com a mescla de imigrantes e descendentes, com aporte de fontes primárias e secundárias. Particularmente, articulam-se questões históricas que fizeram parte da formação regional: a implantação da ferrovia, a atuação da comissão de terras do estado e das companhias particulares, a transformação da sede da colônia, a agricultura e o ciclo econômico extrativista da madeira e a instalação da barragem de Itá-SC, já na década de 1990. Por fim, contextualiza-se sobre a preservação da arquitetura em madeira na região.

O quarto capítulo, “Análise da arquitetura em madeira no Alto Uruguai Gaúcho”, apresenta os resultados da análise das construções em madeira dos imigrantes de diferentes origens (italiana, polonesa e alemã), localizados nas fichas no apêndice deste trabalho, caracterizando a arquitetura em madeira no Alto Uruguai Gaúcho conforme as fases de desenvolvimento, os aspectos de implantação, as características tipológicas e funcionais, as técnicas construtivas e os seus construtores. Comparam-se os resultados encontrados com as construções da região de procedência dos imigrantes, no exterior ou na primeira adaptação dos imigrantes no contexto sul brasileiro, nas colônias velhas.

No quinto capítulo são apresentadas as considerações finais, a partir da reflexão e análise sobre as interfaces e intercâmbio técnico cultural no contexto da imigração no Alto Uruguai Gaúcho, avaliando o pressuposto principal da pesquisa. Reflete-se sobre a importância do saber-fazer dos imigrantes, além do significado material e imaterial da arquitetura em madeira da imigração na região. A partir destas considerações, são indicados desdobramentos para a realização de novas pesquisas.

ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS

Esta pesquisa apresenta uma abordagem de cunho analítico-histórico, sob o ângulo técnico, arquitetônico, histórico e da conservação

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do patrimônio. É de natureza qualitativa e com caráter exploratório. Os procedimentos de análise são baseados na pesquisa teórica, com levantamento documental e iconográfico, e na pesquisa de campo, por meio de visitas exploratórias nas cidades da região do Alto Uruguai Gaúcho e a busca de exemplares remanescentes em madeira que compreendem o período histórico estudado (1910-1950).

Estruturou-se a pesquisa em três etapas: 1) Aporte teórico, 2) Levantamentos 3) Análise e resultados, conforme mostra o quadro 1.

Etapas

Introdução Aporte teórico Levantamentos Análise e resultados Capítulo 1 Introdução e Estratégias metodológicas Capítulo 2 Arquitetura em madeira: imigração, patrimônio e conservação. Apêndices A, B, C, D Levantamentos da arquitetura em madeira no Alto Uruguai Gaúcho. Capítulo 4 Análise da arquitetura em madeira no Alto Uruguai Gaúcho. Capítulo 3 O Alto Uruguai Gaúcho. Capítulo 5 Considerações finais: interfaces e intercâmbio técnico-cultural no contexto da imigração. Quadro 1- As três etapas de pesquisa, distribuídas entre os capítulos. Fonte: autora, 2018

No Aporte teórico, foi realizada a revisão acerca de temas que visam embasar as etapas e análises posteriores da pesquisa. Os temas tratados abrangem a preservação do patrimônio e a conservação da arquitetura em madeira, além disso, abrange aspectos sobre a arquitetura produzida por diferentes grupos de imigrantes na sua região de origem e no âmbito sul brasileiro (capítulo 2). Também foram realizados estudos sobre o processo histórico de formação da região do Alto Uruguai Gaúcho (capítulo 3).

A etapa de Levantamentos pode ser subdivida em: levantamento documental e levantamento a campo. Realizou-se o levantamento documental em fontes primárias com consulta em arquivos históricos municipais, museus, prefeituras, secretarias, IPHAN, IPHAE-RS, e demais órgãos de interesse, conforme relatado na introdução. Foram levantados materiais gráficos e iconográficos, reportagens e anúncios

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antigos em jornais e revistas locais, entre outros documentos que embasam a contextualização histórica. Os dados pesquisados são relacionados à história da região e imigração, entre os quais: a exploração econômica da madeira, a agricultura familiar relacionada ao meio rural, a instalação das empresas colonizadoras particulares em contato com o papel da implantação da ferrovia, a formação urbana da sede da colônia e a vinda de imigrantes de múltiplas origens. De modo particular, pesquisaram-se os bens culturais imóveis em madeira que integram o acervo desta região e as políticas públicas relacionadas tanto ao patrimônio cultural quanto ao planejamento urbano. Estes dados foram pesquisados também em fontes secundárias, por meio da investigação bibliográfica de contribuições já existentes relacionadas à temática da pesquisa, tais como teses, dissertações, livros e artigos.

Quanto ao levantamento a campo, a pesquisa faz uso de visitas exploratórias nas cidades que compreendem sua região, considerando as edificações em madeira remanescentes erguidas até a década de 1950. Foi realizada uma primeira seleção por meio de pesquisa bibliográfica e documental, em seguida houve a realização de visitas exploratórias. Foram levantadas 14 cidades do Alto Uruguai Gaúcho: Erechim, Getúlio Vargas, Marcelino Ramos, Gaurama, Aratiba, Erebango, Três Arroios, Ponte Preta, Severiano de Almeida, Quatro Irmãos, Áurea, Jacutinga, Paulo Bento e Barão do Cotegipe. Os critérios que delinearam a inclusão destes municípios para a amostra foram explicitados na introdução deste trabalho. De modo geral, escolheram-se primeiro as cidades mais antigas, emancipadas até 1955, e incluíram-se outras cidades, abrangendo: as apontadas por moradores antigos da região e por bibliografia que contivessem edificações remanescentes do período pesquisado; alguns munícipios que representassem a diversidade de empresas colonizadoras; ainda, aqueles que tivessem sido atingidos pela Barragem de Itá ou contivessem estações férreas remanescentes; contudo, sempre havendo predominância de um grupo étnico majoritário, a fim de investigar possíveis características identitárias (fig. 2). Em algumas cidades, em função da maior disponibilidade dos moradores e da concordância em participação na pesquisa, conseguiram-se levantar mais edificações e, consequentemente, mais dados em relação a outras. Em função de seu grande volume, as fichas de levantamento encontram-se no apêndice do trabalho. Essas foram sistematizadas e agrupadas por origem étnica ou função, tais como plantas-baixas, fotografias internas, externas, descrição arquitetônica, dados histórico-construtivos e entrevistas com os moradores.

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Sobre a aproximação a campo, Minayo (2002) relata que tal metodologia é facilitada por meio do conhecimento daqueles que mantém sólidos laços de intercâmbio com os sujeitos a serem estudados. Assim, por meio de aproximações, indicações e recomendações de moradores antigos destas cidades, com o auxílio da pesquisa bibliográfica, documental e da expedição aleatória, fez-se uma varredura sobre as construções históricas em madeira remanescentes nas cidades e de possíveis carpinteiros que participaram destas construções. Na mesma obra a autora considera que a aproximação gradual é importante para estabelecer uma relação de respeito e confiança entre o sujeito e o pesquisador. Esta aproximação gradual foi realizada, sobretudo, com alguns moradores destas cidades, os quais foram fundamentais no processo de pesquisa de campo. Estes moradores, não somente possuíam um amplo conhecimento sobre a região e a localização de edificações em madeira, como também foram mediadores na apresentação aos sujeitos de pesquisa.

Figura 2- Critérios para a seleção de cidades para amostra das construções em madeira no Alto Uruguai Gaúcho.

Fonte: autora, 2018.

A partir dessas aproximações foram realizadas visitas às propriedades localizadas, momento em que, inicialmente, tratou-se das primeiras apresentações, expondo o objetivo da pesquisa e a importância da participação do morador. Fez-se, então, o convite ao sujeito para a

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participação na pesquisa. Quando autorizado, leu-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice E), aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (UFSC) /Plataforma Brasil e deixou-se uma via com o morador. Aplicou-se o formulário de entrevista semiestruturada com os moradores (Apêndice F). Procedeu-se a visita no interior das edificações com a anotação das características gerais e realizou-se o levantamento fotográfico interior e exterior. Em algumas casas houve restrição quanto o procedimento de fotografar seu interior. A partir dos dados coletados, preencheu-se a ficha cadastral para sistematização (Apêndices A, B, C e D).

A etapa de análise de resultados tem como objetivo compreender os dados coletados, validar ou não os pressupostos da pesquisa, responder a pergunta de pesquisa e ampliar o conhecimento sobre o assunto pesquisado articulando-o ao contexto regional. Correspondem às análises dos levantamentos (referente ao capítulo 4), relativas à caracterização tipológica, aspectos de implantação, às técnicas construtivas, ao programa de necessidades, às intenções plásticas, às fases de desenvolvimento e aos construtores. Ainda, considerando o desenvolvimento das técnicas construtivas e as tipologias arquitetônicas do país de origem das três maiores populações de imigrantes que povoaram a região no Alto Uruguai Gaúcho, realiza-se uma análise comparativa com a arquitetura em madeira encontrada na região de origem dos imigrantes, do exterior, ou das zonas de colonização antiga no estado, descritas no capítulo dois, com os resultados encontrados na região de estudo, de colonização nova.

Por fim, verifica-se a hipótese da pesquisa, refletindo sobre a existência de um intercâmbio técnico-construtivo entre etnias de correntes migratórias majoritárias e adaptações técnicas realizadas na arquitetura em madeira do Alto Uruguai Gaúcho, refletindo sobre o seu significado material e imaterial no contexto regional.

Instrumentos de pesquisa

Como suporte à pesquisa a campo, utilizaram-se instrumentos de pesquisa como entrevistas semiestruturadas (Apêndice F), registros fotográficos, levantamento métrico-arquitetônico e fichas cadastrais para suporte da análise arquitetônica (Apêndices A, B, C e D).

As entrevistas semiestruturadas focaram no relato de informantes, tais como moradores de casas em madeira ou artesãos que auxiliaram na construção dessas obras. Elegeu-se o instrumento de entrevista porque permite a aproximação dos sentimentos e costumes dos sujeitos,

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possibilitando a maior coleta de informações. Essa técnica permite o maior envolvimento entre o pesquisador e o interlocutor, a qual Minayo (2002) aponta como uma característica fundamental da pesquisa qualitativa. Formularam-se questões pré-estabelecidas com clareza que tratassem do tema da pesquisa. Conforme se estabelecia a interação com o pesquisado, quanto mais o mesmo adotava uma postura mais espontânea, as questões foram sendo preenchidas de uma maneira informal. Enquanto acontecia a entrevista utilizou-se o método da observação participante, na qual se realiza a observação em uma interação com os interlocutores para colher dados e compreender a realidade social do contexto da pesquisa (Cf. MINAYO, 2002). As observações anotadas eram relacionadas especialmente com os objetivos da pesquisa, considerando o uso do ambiente, a organização da paisagem, as características construtivas e a relação dos sujeitos com a afirmação identitária.

A fotografia retrata um momento histórico do objeto arquitetônico, no qual é possível captar a iluminação, as sombras, a ênfase e os contrastes, além da vivência e a apropriação no espaço dos moradores. Assim, utilizou-se o registro fotográfico como instrumento para documentar os instantes a campo e verificar detalhes da obra arquitetônica e de seu uso. As fotografias foram tiradas no exterior das edificações, mas, em seu interior somente quando foi permitido. Também foram tiradas fotografias das propriedades a fim de ilustrar a utilização do lote em conformidade com o uso agrícola e a formação da paisagem rural.

O levantamento arquitetônico foi realizado a partir da descrição das características gerais tipológicas, histórico conforme entrevistas com moradores e a partir de dados bibliográficos, do estado de conservação e preservação, das técnicas construtivas e da ambiência. Quando consentido, realizou-se o levantamento métrico-arquitetônico interno. A partir do levantamento, pretendeu-se identificar e registrar a arquitetura em madeira da imigração no Alto Uruguai Gaúcho, fornecendo uma amostra representativa de exemplares desta região. Entretanto, é importante esclarecer que se trata de uma amostragem, a qual está longe de esgotar todos os remanescentes do período estudado. Procurou-se contemplar a diversidade étnica-cultural dos mais numerosos contingentes de imigrantes e descendentes que chegaram à região. As indicações e relatos orais serviram de guia para a escolha das cidades levantadas e seleção de edificações, assim como algumas referências bibliográficas e fontes documentais, entre as quais, o “Inventário do

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Patrimônio Cultural do Território atingido pelo reservatório da Usina Hidrelétrica de Itá”, finalizado em 1997, que abarcava algumas cidades compreendidas no Alto Uruguai, e o “Inventário do patrimônio edificado do município de Erechim – RS”, elaborado em 2016, em parceria da Prefeitura Municipal de Erechim com a Universidade Federal da Fronteira Sul.

Ao longo dos levantamentos a campo, houve ocasiões em que, depois de realizados os primeiros registros fotográficos externos de edificações, ainda na fase de mapeamento das mesmas, ocorreram algumas demolições. Também, na busca por alguns exemplares referenciados pelo aporte bibliográfico e documental, houve ocasiões em que não se encontrou remanescentes.

As fichas cadastrais foram elaboradas para sistematizar as características e elementos gerais das construções visitadas (fig.3). Esta foi preenchida posteriormente à ida a campo, de modo a organizar e sintetizar as informações colhidas. Utilizou-se como base o modelo proposto pelo Sistema integrado de conhecimento e gestão do IPHAN (SICG), módulo cadastro de Bem imóvel (Arquitetura), de forma simplificada, tendo em vista a quantidade de exemplares analisados, integrando a caracterização externa e interna.

Nos cadastramentos, já estão inseridos os dados colhidos nas entrevistas e os pesquisados em fontes documentais. Há ainda muitas lacunas, pois em muitos casos não foi possível descobrir dados sobre o construtor e sua procedência. Houve a carência de dados de fontes primárias relacionadas com o objeto da pesquisa, como explicado na introdução desta pesquisa. Assim, quando não se soube a origem do construtor, optou-se por apresentar as edificações agrupadas por ascendência do primeiro morador, que pode não ter sido necessariamente o construtor, mas pode ter influenciado nas características construtivas. Também em alguns casos, foi possível constatar que o morador era de uma origem étnica enquanto o construtor era de outra.

As edificações levantadas se dividem em duas tipologias principais de análise: a residencial ou de uso misto e a religiosa, por serem em maior quantidade. Entre estas, duas eram utilizadas inicialmente como escolas. Os exemplares se localizam em áreas rurais e urbanas. Além destas tipologias, incluiu-se um hospital e um moinho.

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Figura 3- Modelo de ficha cadastral utilizada na pesquisa.

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A fim de ilustrar a relação entre os objetivos, os procedimentos e os métodos da pesquisa, sintetizando o que foi descrito, apresenta-se o Quadro 2.

Objetivos

específicos Procedimentos Métodos utilizados a) Caracterizar a região do Alto Uruguai Gaúcho; -Investigar a importância da ferrovia no fluxo migratório e no ciclo da madeira na região; -Averiguar o papel das Cias. Colonizadoras no povoamento da região; -Contextualizar a região acerca das questões referentes à preservação e transformações recentes (Barragem de Itá). -Pesquisa documental, iconográfica e bibliográfica (fontes primárias e secundárias). b) Investigar a arquitetura em madeira e os aspectos construtivos, funcionais e formais relacionados aos diferentes grupos étnicos no Alto Uruguai Gaúcho;

-Seleção das cidades e edificações para a amostra regional;

-Identificar as técnicas construtivas, as tipologias, e a distribuição interna em relação ao modo de vida. -Compreender a história das construções e adaptações ocorridas no decorrer do tempo. -Buscar identificar os profissionais envolvidos nas construções. -Visitas exploratórias; -Levantamento de edificações por pesquisa de campo; -Levantamento fotográfico e métrico arquitetônico; -Pesquisa documental, Iconográfica,bibliográfica; -Entrevistas com moradores/profissionais;

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c) Traçar um roteiro de transformação da arquitetura em madeira a partir da região de origem dos imigrantes e descendentes; -Comparar a arquitetura produzida na região de origem dos imigrantes e migrantes (colônias

velhas) com as

construções em madeira do Alto Uruguai gaúcho, a partir do levantamento a campo realizado; -Relacionar a disponibilidade de materiais locais às tecnologias construtivas empregadas; -Pesquisa documental, iconográfica e bibliográfica. -Pesquisa de campo e levantamento fotográfico e métrico arquitetônico; -Entrevistas com moradores/ profissionais; d) Analisar a existência de intercâmbio técnico-construtivo entre etnias de correntes migratórias majoritárias (ascendência alemã, italiana e polonesa) na arquitetura em madeira da região; -Caracterizar as construções em madeira na região, conforme as soluções tipológicas mais recorrentes, das três etnias;

-Escolher exemplares para realizar a análise da fusão da arquitetura em madeira entre as etnias;

-Sistematização de dados das construções – ficha cadastral;

-Análise das edificações pesquisa a campo. e) Analisar o significado material e imaterial da arquitetura em madeira da imigração na região. -Refletir sobre a importância do saber-fazer dos imigrantes e do valor da arquitetura em madeira no contexto regional; -Comparar as adaptações técnicas que comprovem ou não a fusão da arquitetura em madeira das três etnias.

-Análise e interpretação de resultados da pesquisa a campo.

Quadro 1- Quadro síntese: relação entre objetivos, procedimentos e métodos da pesquisa.

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(...) Não faz nenhum bem a uma comunidade esquecer passagens de sua própria história, às vezes dolorosas e terríveis. A arquitetura, como as cidades, são os testemunhos de todas estas etapas e, como tal, participam da condição de uma herança histórica inevitável (WAISMAN, 2013, p.196).

Referências

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