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A Matemática e as articulações curriculares de uma escola do Campo do Município de Ijuí: uma perspectiva pelo viés da Etnomatemática

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Academic year: 2021

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A MATEMÁTICA E AS ARTICULAÇÕES CURRICULARES DE UMA

ESCOLA DO CAMPO DO MUNICÍPIO DE IJUÍ: UMA PERSPECTIVA

PELO VIÉS DA ETNOMATEMÁTICA

1

Bruno Megier Oizimas 2

Resumo: A presente pesquisa busca através da modalidade de uma escola do campo do município de Ijuí compreender as suas preposições, no espaço, no sujeito e da realidade em que ela está inserida. A partir da realidade e dos sujeitos que fazem parte deste meio, foi desenvolvida uma pesquisa, que propiciou entendimentos capazes de compreender e identificar a importância desta modalidade de ensino, bem como embasar-se nos processos de formação do professor, de como qual deve tomar as melhores ações e encaminhamentos para que seu planejamento contemple o ensino envolvendo a realidade dos estudantes. A partir da etnomatemática foram identificados aspectos que articulem o entendimento matemático nessa escola do campo, as preposições serão discutidas através de Ubiratan D’Ambrósio, das Leis e Diretrizes que norteiem as escolas do campo, o Projeto Político Pedagógico, e um questionário aplicado à duas educadoras da escola que se constitui como campo de pesquisa. Assim podemos destacar que os resultados obtidos possibilitam compreender como as professoras se constituem enquanto sujeitos pertencentes a este espaço educativo, bem como, de que forma se organiza as proposições nesta escola, havendo indícios de que ocorram articulações com da etnomatemática, bem como salientar a especificidade da escola em geral.

Palavras-Chave: formação continuada, contextualização, saberes escolares.

1- Introdução

O ensino e aprendizagem são processos nos quais qualquer pessoa independentemente da idade, gênero, condição social ou lugar onde vive tem o direito ao acesso, e este de preferência deve ser fornecido de maneira clara e objetiva se encaixando nos parâmetros e da realidade destes. Para proporcionar um ensino com conhecimento, devem ser dadas condições que esse de fato ocorra, tanto no conteúdo, quanto na maneira de ensinar, um ensino significativo é formado de diferentes abordagens. Nas escolas do campo essa realidade não pode ser diferente, estas encontram-se alocadas em zonas rurais e contempla alunos dessas localidades das quais compartilham um modo de viver diferente dos polos urbanos, hoje claro bem menos distantes nestes processos, graças a evolução nos campos tecnológicos.

1 Artigo produzido através da disciplina de Trabalho de Conclusão de curso (Matemática), pela Universidade

Regional do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, orientado pela Mestra Emanueli Bandeira Avi.

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2 A Política de Educação do Campo destina-se à ampliação e qualificação da oferta de educação básica e superior às populações do meio rural, e é desenvolvida pela União em regime de colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, de acordo com as diretrizes e metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação.

Segundo as diretrizes nacionais para a educação do campo:

A escola do campo tem compartilhado dos mesmos anseios que a escola da cidade, mas entendemos que cada uma com suas particularidades distintas. A educação do campo é garantida por lei, não deve ser tratada como inclusão na zona rural, mas deve ser respeitada como integrante do processo educacional.

Dessa forma, cabe ressaltar que ela é um campo de possibilidades, pois através da sua ação, a comunidade local poderá desenvolver um crescimento social e econômico. Assim, o currículo deve atender às demandas sociais em suas comunidades, por isso precisa ser flexível, vivo, multicultural.

Levando em consideração o currículo e os conteúdos, são os mesmos na escola do campo e da cidade, porém devemos adapta-los a realidade e a necessidade dos alunos na escola rural, bem como os conhecimentos que trazem para sala de aula. Adaptar sem desprezar a realidade do lugar que a escola está situada. (BRASIL, 1998).

A educação do campo é uma forma de educação oferecida à população neste meio inserida, essa envolve diversos níveis e modalidades de ensino, possui legislação própria e está vinculada a um projeto de desenvolvimento sustentável, articulado com outras instituições ligadas ao meio rural. O objetivo dessas escolas visa qualificar os espaços escolares e garantir o acesso à educação, contribuindo para a permanência dos jovens no meio rural.

Nesta modalidade de escola se propunha a trabalhar com contextos, assim proporcionando construir significados e vincular conhecimento a sua aplicação, compreensão das aprendizagens e experiências no seu cotidiano, tornando estes alunos protagonistas do seu próprio saber.

É justamente nesse sentido que as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, de 2010, estabelecem, em sua Seção IV, artigo 35:

Art. 35 Na modalidade de Educação Básica do Campo, a educação para a população rural está prevista com adequações necessárias às peculiaridades da vida no campo e de cada região, definindo-se orientações para três aspectos essenciais à organização da ação pedagógica: I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural; II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III - adequação à natureza do trabalho na zona rural (BRASIL, 2010, p. 12).

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3 Nesta pesquisa procura-se compreender o currículo de uma escola do campo considerando aspectos da etnomatemática, e assim, buscar responder a seguinte questão:

De que forma se organiza o currículo de uma escola do campo do município de Ijuí? Que aspectos da etnomatemática podem ser identificados na proposta curricular dessa escola?

2- METODOLOGIA

Considerando a matemática em uma escola do campo, foi feita uma análise qualitativa de cunho documental, assim verificando de que forma se dá a organização da proposta curricular dessa escola, considerando, a realidade do ambiente escolar, as formas metodológicas desenvolvidas, o plano de ensino da escola e do professor, além do processo de formação do professor, e as leis e bases que regem o ensino nas escolas do campo.

A pesquisa foi realizada em uma escola de ensino fundamental designada como escola do campo no município de Ijuí, através de interações com a equipe pedagógica e professor da disciplina de matemática, bem como ocorreu pelos meios bibliográficos, nas diretrizes e bases curriculares para o ensino do campo. O foco desta pesquisa está na formação do professor e a organização desta modalidade de escola, metodologias, planos de ensino e estudos da área da matemática e de como ela se faz presente neste ambiente, embasando essa pesquisa nas contribuições de D’Ambrósio enfatizando o conhecimento através da etnomatemática.

Se configura como material empírico dessa pesquisa a aplicação de dois questionários, (quadro 1 e 2), um aplicado a equipe diretiva e outro a professora da disciplina de matemática (denominados aqui de P1 e P2), os documentos da escola: Projeto político pedagógico (PPP) e plano de estudos (PE), e ainda o projeto interdisciplinar (PI) que está sendo desenvolvido na mesma.

Quadro 1- Questões para a equipe pedagógica

1- O que você entende por escola do campo?

2- Na tua concepção uma escola do campo se diferencia de uma escola urbana? De que forma?

3- Vocês têm acesso a formação continuada específica para gestores de escolas do campo?

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4 4- Que tipos de orientações, por parte dos órgãos públicos, vocês recebem por se tratar

de uma escola do campo?

5- De que maneira ocorre o ensino neste modelo de escola? (Temas geradores, metodologia, problematizações, outros)

6- Existem articulações entre as disciplinas? Se sim, de que forma isso é subsidiado pelo planejamento?

7- A escola trabalha com elementos da realidade dos alunos? Se sim quais?

8- Como ocorre as relações aluno, professor e conhecimento nas escolas do campo? 9- Como é fazer parte de uma escola do campo?

Fonte: Autor, 2019.

Quadro 2- Questões para o professor de matemática

1- O que você entende por escola do campo?

2- Na tua concepção uma escola do campo se diferencia de uma escola urbana? De que forma?

3- Vocês têm acesso a formação continuada específica para educadores do campo? 4- Que tipos de orientações, por parte dos órgãos e da equipe gestora, vocês recebem por

se tratar de uma escola do campo?

5- De que maneira ocorre o ensino neste modelo de escola? (Temas geradores, metodologia, problematizações, outros)

6- Existem articulações entre as disciplinas? Se sim, de que forma isso é subsidiado pelo planejamento?

7- O planejamento de aulas de matemática é diferenciado em uma escola de campo? Se sim, cite aspectos do teu planejamento.

8- Que aspectos da realidade dos alunos são consideradas no planejamento: 9- O que você entende por etnomatemática? Você contempla aspectos no seu

planejamento? Quais?

10- Como é fazer parte em uma escola do campo?

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5 A análise é focada nos processos da formação do professor e da aprendizagem de matemática em uma escola do campo. Assim com a coleta de dados das entrevistas e nos materiais bibliográficos visou compreender como ocorre o ensino neste meio, se ela possui características voltadas a realidade dos estudantes. Outro ponto a ser discutido é a presença de elementos que contemplem aspectos relacionados a etnomatemática, assim se os alunos presenciam uma articulação no ensino nas escolas do campo. Para tantas considerações têm-se como base nas teorizações as diretrizes curriculares para a educação do campo, e através das colocações do professor e autor Ubiratan D’Ambrósio (2001).

A escrita contempla duas unidades de análises, a primeira considera o currículo da escola do campo considerando o espaço no qual se insere e a realidade local, buscando entender os sujeitos e sua realidade. A segunda análise traz uma articulação do ensino da Matemática praticado na escola envolvida através dos elementos defendidos pela etnomatemática.

3- Currículo Escolar: os elos entre a cultura e o saber científico

O currículo escolar é um processo construtivo, onde a partir de um processo reflexivo que visa a cultura, juntamente com a interação entre os sujeitos, mais as bases teóricas dão condições ao processo de compreensão do conhecimento escolar. O currículo escolar é algo fundamental do trabalho pedagógico realizado todos os dias nas escolas.

Veiga (2002):

Currículo é uma construção social do conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para que esta construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e as formas de assimilá-los, portanto, produção, transmissão e assimilação são processos que compõem uma metodologia de construção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito. (VEIGA, 2002, p.7)

Há muitas possibilidades para se definir um currículo e não é tarefa simples selecionar o que irá compor cada proposta. São essas escolhas que ajudarão o ambiente educacional a formar cidadãos que viverão em um mundo mais globalizado, mas que também trazem em sua bagagem de vida os valores regionais, portanto, ao se considerar o ensino voltado a realidade das escolas do campo, valoriza-se um currículo através das

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concepções da realidade em que este sujeito está inserido, voltado a ensinamentos engajados na sua cultura e a necessidade de resolver problemas do cotidiano, ajudando a melhorar a qualidade de vida, essas características são relacionados na discussão nos itens (3.1 e 3.2), dispostos a seguir.

3.1 A escola do campo: espaço, sujeito e realidade

Pertencer a zona rural (não urbana), onde vivem pequenos grupos de pessoas que utilizam as atividades da agropecuária, agroindústrias, agricultura, silvicultura ou para a conservação ambiental, de modo geral compreende o espaço onde a maioria dos produtos consumidos nos centros urbanos são produzidos, nestes locais há grande diversidade na fauna e flora, sendo um local com vastas riquezas naturais.

O Brasil é um país muito diverso, além de possuir grandes extensões territoriais, possui um “mundo” dentro de si em se tratar do processo de colonização, para tanto possuímos diferentes realidades em cada canto do nosso país, essa diversificação também ocorre nos espaços do interior, campo. Possuímos sujeitos oriundos de diferentes realidades, assim com essa forma tão grande de ser, reflete na educação daqueles que fazem parte destes locais, estando ligadas diretamente à diversidade nos seus espaços, suas peculiaridades onde cada lugar a representa, assim cada uma tem por objetivo qualificar os espaços escolares e garantir o acesso à educação, contribuindo para a permanência dos jovens no meio rural.

Porém toda essa diversidade não tem sido garantia da permanência do jovem no campo. Muitos, ainda hoje, acreditam que a vida no campo tenha menos valor e ou seja mais difícil do que a vida da cidade. Esse cenário retrata a necessidade de uma educação voltada para o desenvolvimento do pertencimento e orgulho desses sujeitos, daí surgem as escolas do campo como um importante espaço de constituição e valorização.

A Educação do Campo hoje ocorre em espaços que envolvem diversos níveis e modalidades de ensino, possui legislação própria e está vinculada a um projeto de desenvolvimento sustentável, articulado com outras instituições ligadas ao meio rural. As escolas estão assim identificadas segundo a Resolução CNE/CEB, de 3 de abril de 2002, das diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas escolas do campo, Art. 2º, parágrafo único.

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A identidade da escola do campo é definida por sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país (BRASIL, 2002, p.1).

Os sujeitos da pesquisa P1 e P2 citam o decreto número 7.352/2010, escola do campo “... aquela situada em área rural, conforme definida pela Fundação Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística - IBGE, ou aquela situada em área urbana, desde que atenda predominantemente a populações do campo.”. Os espaços das escolas trazem um ambiente mais familiar visando um aconchego e bem-estar, tanto para alunos quanto professores e familiares, como diz P1 “...vejo a Escola do Campo como uma grande família, onde se

estabelece uma importante parceria, com abertura ao diálogo e gestão participativa, as famílias atuam ativamente na vida escolar dos filhos”.

Assim apresentam-se importantes reflexões quanto as primeiras exposições das escolas do campo.

Verificara, em primeiro lugar, o fracasso completo da escola rural comum, tal como ainda se organiza entre nós, fracasso recorrente do fato de ser ela uma simples escola da cidade transportada e enxertada nas atividades rurais, enxerto realizados em a menor dose de inteligência e de observação. (...) se a escola comum dava resultados apreciáveis na cidade, havia de dá-los também no campo, tal maneira de pensar geral, esquecidos os seus propugnadores de que a escola da cidade estava em harmonia com as preocupações e as aspirações citadinas, mas em oposição formal aos desejos campesinos. (MENNUCCI, 1932b apud MONARCHA, 2007, p.29)

Vincula-se aí então uma importante reflexão sobre a necessidade de mudanças nas escolas do campo, reforçando a importância de pensar nos espaços, nos alunos e na formação do professor. E assim.

Uma escola normal, portanto, para a formação de professores rurais, deve ter estas três diretrizes básicas: formar um profissional entendido na agricultura, formar um professor que seja ao mesmo tempo enfermeiro, formar um mestre que entre para o campo com a convicção inabalável de que precisa ser ali um incentivador de progresso, seja qual for o atraso, a desconfiança ou a hostilidade do meio. (MENNUCCI, 1932b apud MONARCHA, 2007, p. 29)

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8 A educação no campo tem como marco de sua origem as discussões ocorridas no 1º Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária, em 1997, como um marco nesse processo. Com a realização da 1ª Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo, que segundo Sachs (2018), rem sua nomenclatura até então usada pelos movimentos sociais alterada no ano seguinte e, posteriormente, pelo governo para se referir à educação – antes rural e, agora, do campo. Mas, mais do que uma simples mudança de termos, trata-se de uma mudança de concepção já que “educação rural”, que até então vinha carregada de descaso e de subordinação ao capital, é substituída por uma nova concepção de educação, a “educação do campo” se constitui de preceitos políticos e pedagógicos diferentes, havendo assim, a necessidade de mudança nos termos a que se referem.

Assim, embasados na constituição histórica, Caldart (2005, apud DCE Educação do Campo, 2006) “[...] A escola precisa cumprir sua vocação universal de ajudar no processo de humanização, com as tarefas específicas que pode assumir nesta perspectiva.” Sendo assim as características das escolas do campo criam perspectivas que possibilitem particularidades, e essas ajudem na constituição de gerações futuras de trabalhadores.

Os sujeitos da escola que serviu como campo de pesquisa, segundo o questionário responderam que pertencem à comunidade escolar, residindo e compreendendo as necessidades e a importância desde espaço, apresentando uma identidade, e assim manifestam alegria em constituir a realidade da escola do campo, pois passaram por lá na sua formação inicial, no ensino básico. Para P2 ...” fazer parte da escola do campo é realizador de minha parte por

pertencer a comunidade, por esta ser a minha realidade de vida, vinda do campo. Acredito que a questão do pertencimento é de extrema importância, pois vemos professores que em seu trabalho apresentam lacunas em alguns aspectos de compreensão e de envolvimento nas suas atividades.” A constituição do profissional da educação em pertencer a este espaço, seja eles

oriundos ou não do local, é de criar vínculos bem mais afetivos, do que apenas profissional, é sentir prazer e vontade de trabalhar nesses tipos de escolas, sendo assim a medida em que os sujeitos criam identidades contribuem nesse processo de humanização e seu papel de atuação neste local ficam mais claras e evidentes.

Pode-se afirmar, dessa forma, que a construção de uma identidade local se faz fundamental na efetivação do currículo de uma escola do campo para tanto a realização de projetos interdisciplinares como os propostos no PPP da escola que contemplem esses aspectos se faz de suma importância (em destaque o projeto Resgatar para Valorizar, que traz um

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9 trabalho voltado aos interesses da comunidade, articulando a realidade social e histórica do campo).

Mas é fundamental que não se perca de vista o papel dessa escola, ou seja, o desenvolvimento de saberes científicos escolares. Segundo Sachs (2018), pesquisas destacam que na educação no campo a escola se configura “como local privilegiado para acesso ao conhecimento”, deveria também incluir em seus currículos os saberes que historicamente deles foram excluídos. Aí entram os chamados “saberes locais” e reforça que “a escola e as aulas de matemática objetivam o conhecimento matemático curricular e não o conhecimento cotidiano e criam-se meios para atingi-lo” (p. 406).

A matemática que deve ser abordada nos currículos escolares é única, ou seja, não existe uma matemática especificamente do campo. Mas sim, deve-se possibilitar que a matemática considere os diferentes meios inclusive no campo, isso exige conhecimento, tanto do conteúdo matemático quanto da realidade local, e isso se dá pelo também pelo professor deste a sua formação inicial, na graduação, e continuada, qual amplia seus entendimentos na medida em que o professor se coloca à disposição desse processo, proporcionando assim movimentos de reflexão nas atividades futuras, sendo melhores planejadas e mais ricas em argumentos e matérias.

Um dos caminhos pelos quais os professores entendem o processo de ensino nas escolas do campo é através da formação continuada. Diante deste processo os docentes vão enriquecendo e melhorando seu potencial, este realizado ao longo da vida profissional, também com o objetivo de assegurar uma ação docente efetiva que promova aprendizagens significativas. Esse conjunto de ações, vivências e saberes transforma essa formação, pois sendo compreendida e validada, ajuda a qualificar os conhecimentos adquiridos pelos educadores durante o seu processo de constituição acadêmica, como também no cotidiano da sua prática educativa. Nessa perspectiva, Freitas (2004) observa que:

A luta pela definição de uma política global de formação dos profissionais da educação, visando à sua profissionalização e valorização, é condição indispensável para a definição de políticas educacionais que buscam construir, de forma prioritária, novas relações educacionais no campo da escola, da formação e da educação. Essa política global deve contemplar em condições de igualdade a sólida formação inicial no campo da educação, condições de trabalho, salário e carreira digna e a formação continuada como um direito dos professores e obrigação do Estado e das instituições contratantes. (p.90).

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10 Os processos por onde perpassa a formação nos espaços para atuação com alunos do campo, vem de diversas demandas, como as federais, estaduais e municipais, assim sendo como muitos professores não atendem apenas essa modalidade de escola, segundo P2 “ nos últimos

anos houve formação direcionadas para educadores do campo, mas em 2019 não está acontecendo, apenas formação da área e via plataforma Moodle”.

As escolas do campo apresentam grandes desafios diários, pois muitos acham que estudar nelas é um atraso social, deste sempre elas foram discriminadas, muitas escolas estão sendo fechadas, além de muitas estarem situadas em áreas isoladas. Desde que foi criada a Primeira Lei Geral de educação no Brasil, de 15 de outubro de 1824 que dispunha sobre a educação no Brasil, os habitantes do meio rural foram sendo excluídos, devidos à construção de planos educacionais que fossem condizentes com sua realidade e modo de vida.

Ao nos depararmos sobre o tema da educação do campo, fica evidente que ela foi tratada com descaso. Fato comprovado por a educação do campo não ter nem sido tratada diretamente pelas constituições brasileiras. A este respeito, a primeira lei, em 15/10/1827 que tratava sobre educação no Brasil não tocava na educação do campo, falava somente de modo geral, como no artigo 6º:

[...] os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática de língua nacional, e os princípios de moral cristã e da doutrina da religião católica e apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil. (IMPÉRIO DO BRASIL, Lei de 15 de Outubro 1827).

Trazendo assim aspectos de como deveria se organizar as práticas de ensino, não levando em consideração o modo de vida específico da sociedade rural.

Em 1937 durante o Estado Novo a importância de que a Educação do Campo começou a ser mais discutida, assim muitos documentos começaram a olhar e dar destaques para o seu ensino, primeiramente voltada à necessidade de aprendizado das pessoas deste local, visando que com o êxodo rural, muitos começaram a vir para os grandes centros trabalhar nas indústrias. Ela começou a ser trabalhada na formação de professores, e hoje também com destaque para a seguinte meta, onde no novo Plano Nacional de Educação (PNE – Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014), dentre as diretrizes expressas no art. 2º, aponta-se a melhoria da qualidade da

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11 educação (inciso IV). Essa diretriz é possível identificar a preocupação com os espaços escolares:

Consolidar a educação escolar no campo de populações tradicionais, de populações itinerantes e de comunidades indígenas e quilombolas, respeitando a articulação entre os ambientes escolares e comunitários e garantindo: o desenvolvimento sustentável e preservação da identidade cultural; a participação da comunidade na definição do modelo de organização pedagógica e de gestão das instituições, consideradas as práticas socioculturais e as formas particulares de organização do tempo; a oferta bilíngue na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, em língua materna das comunidades indígenas e em língua portuguesa; a reestruturação e a aquisição de equipamentos; a oferta de programa para a formação inicial e continuada de profissionais da educação; e o atendimento em educação especial (BRASIL, 2014).

O trabalho dos professores exige um conhecimento do real, no qual estão inseridas as determinações políticas, culturais, econômicas, sociais, que perpassam o processo educativo, para que a educação aconteça enquanto totalidade, e não de forma fragmentada, sendo a realidade do sujeito o ponto de partida e o ponto de chegada, observando no currículo escolar, a realidade do sujeito, conforme destaca o PNE atual:

Desenvolver currículos e propostas pedagógicas específicas para educação escolar para as escolas do campo e para as comunidades indígenas e quilombolas, incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades e considerando o fortalecimento das práticas socioculturais e da língua materna de cada comunidade indígena, produzindo e disponibilizando materiais didáticos específicos, inclusive para os (as) alunos (as) com deficiência. (BRASIL, Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014/PNE)

A escola que se configura como campo de coleta das informações da presente pesquisa apresenta uma série de projetos onde segundo P1 e P2 “... os projetos são estruturados em

reuniões coletivas, bem como através dos meios tecnológicos abrangendo todas as áreas, que juntas elencam ações e assim as criam e desenvolvem de formas colaborativas.” Nelas

considera- se as temáticas relativas a realidade local trazendo a identidade dos alunos, são por exemplos os projetos de educação ambiental, conhecer para valorizar, jornal da galera, assim possibilitando o desenvolvimento cultural dos alunos.

Costa (2012) aponta que “no contexto da educação do campo determinados elementos disponíveis na própria comunidade como as plantações, as construções, as crenças podem servir

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12 como elementos instigadores para o processo de ensino da matemática na escola” (p. 48). Surge assim um cenário que possibilita a percepção dos diferentes campos do ensino englobados, a interdisciplinaridade como um meio que os liga, proporcionando reflexões e análises.

Nesse contexto a própria área da matemática, na qual se deve buscar promover uma construção através dos próprios saberes dos alunos, desenvolvendo diversas atividades relacionadas tais ao seu cotidiano, assim possibilita o aparecimento de diferentes áreas do conhecimento discutindo relações do cotidiano local e nesta perspectiva a etnomatemática surge como uma temática ser compreendida, ajudando a entender este cenário de educação matemática nas escolas do campo.

3.2 Etnomatemática: uma possibilidade de articulação entre contextos da Matemática e as orientações curriculares das escolas do campo

O conhecimento matemático é fundamental na nossa realidade, através dele podemos realizar, interpretar e desenvolver muitas habilidades em prol das nossas práticas sociais. Podemos enxergar a Matemática em uma infinidade de contextos, formas e aspectos, assim não seria diferente em relação à sua aparição e aplicação no meio do contexto ligado ao campo, pois neste espaço percebe-se de forma muito presente os conceitos matemáticos utilizados diariamente.

Muitas pessoas no contexto escolar, têm dificuldades em aprender e compreender os conceitos matemáticos, tomam por si um sentimento de pavor, nessas perspectivas ao longo da história humana, muitos filósofos, cientistas e educadores buscam apresentar contribuições as quais tentam diversificar e tornar a matemática mais clara o possível, ideias que percorrem gerações e constituições propostas sobre o ensino. Organizar o ensino matemático considerando o uso de contextos é um dos caminhos utilizados para melhor compreender os conceitos matemáticos pelos estudantes, nesta perspectiva considerando a matemática imbuída nas diferentes culturas e práticas sociais, surgiram as discussões sobre a etnomatemática.

A etnomatemática surgiu em meados da década de 1970 com uma justificativa causada pelas contradições entre a matemática escolar e a produzida nos diferentes meios culturais, principalmente em países do terceiro mundo. Essa perspectiva foi constituída no Brasil por Ubiratan D’ Ambrósio, professor emérito de Matemática da Universidade Estadual de

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13 Campinas/ Unicamp, qual atuou em diversos cursos de pós-graduação, além de lecionar em diversas universidades nacionais e do exterior. Para D’Ambrósio 2005, (...) “a etnomatemática não é o estudo de matemática de diversas etnias”, ele interpreta que:

Para compor a palavra etnomatemática utilizei as raízes tica, matema e etno para significar que há várias maneiras, técnicas, habilidades (tica) de explicar, de entender, de lidar e de conviver (matema) com distintos contextos naturais e socioeconômicos da realidade (etno) (2005, p. 70).

D’Ambrósio (2005), define que a etnomatemática são as diferentes formas em que a matemática se apresenta, e que são próprias nos grupos culturais, ele compreende que a matemática está presente na cultura de todos os povos, principalmente voltada em resolver as necessidades do dia a dia, para a sobrevivência, na aplicação das técnicas e nos problemas que surgem, P2 evidencia que nos seus planejamentos (..) “evidenciam vivências ocorridas no

campo, assim dando condições o aluno de relacionar o conhecimento construído com a sua aplicação”. Trazer a matemática voltada no sentido de valorizar as práticas de costureiras,

pescadores, ambulantes, pedreiros, bem como nas diferentes culturas, como por exemplo a dos indianos, ciganos, ribeirinhos, procurando entender o saber matemático ao longo da história da humanidade.

D’Ambrósio assim afirmava que:

A Educação matemática, no enfoque de tendência da etnomatemática, contempla o saber oriundo do cotidiano, a qual acredita que está imbuído de saberes e fazeres próprios da cultura. A todo instante, os indivíduos estão comparando, classificando, qualificando, medindo, explicando, generalizando, inferindo e, de algum modo, avaliando, usando os instrumentos materiais e intelectuais que são próprios à sua cultura. (2005, p. 22).

O fazer matemático é inserido no cotidiano, a partir das necessidades, portanto, a etnomatemática é um forte instrumento que potencializa, valoriza e aproxima culturas e saberes, assim ela pode também fazer parte das escolas que pertencem ao campo, pois dentre as distintas maneiras do fazer e do saber, a educação do campo é uma vertente em que se pode embasar a aquisição do conhecimento em suas escolas, para P2 (...) a etnomatemática acontece quando

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campo, assim como em culturas diferentes, a forma de trabalhar os conhecimentos, também se faz dentro de cada cultura.

Outros aspectos que D’Ambrósio (2005), referência ao ensino da matemática, é que seja voltado ao sujeito afim de trabalhar os conhecimentos da realidade, focando sua forma contextualizada, passíveis das diferentes áreas do conhecimento e a vida do grupo social, uma característica marcante deste processo de ensino é considerar a concretude do saber considerado nas diferentes práticas sociais e realidades na organização do ensino da matemática.

A proposta pedagógica da etnomatemática considera uma educação multicultural, assim segundo ele possibilitando uma forma “para preparar gerações futuras para construir uma civilização mais feliz” (2005, p. 47). Em nenhum momento a etnomatemática destaca um ensino que tem por finalidade substituir a matemática acadêmica, porém de ajudar os sujeitos a resolver situações problemas do seu cotidiano.

O papel do professor para que ocorresse um ensino voltado a uma matemática dinâmica, integrando saberes, seria em oferecer e promover aos alunos uma visão crítica e de instrumentos adequados para que possam viver bem na sociedade, pois para D’ Ambrósio.

Está pelo menos equivocado o educador matemático que não percebe que há muito mais na sua missão de educador do que ensinar e fazer continhas ou a resolver equações e problemas absolutamente artificiais, mesmo que, muitas vezes, tenha a aparência de estar se referindo a fatos reais. (2005, p.46)

Na perspectiva para o ensino voltada a educação do campo, os sujeitos da pesquisa deixam bem claro que o professor é um mediador no processo de construção dos conhecimentos, trazendo o aluno ao seu protagonismo, proporcionando uma aprendizagem onde os elementos da sua realidade, além do diálogo, e de trocas entre ambos. Trabalhar com aspectos relacionados as características do projeto da etnomatemática, são possíveis, segundo P2 (...) “acontece, pois sempre em que é possível, na escola do campo é trabalhado com o

conhecimento a partir da realidade cultural do aluno”. As práticas desenvolvidas nesta escola

envolvem elementos da realidade dos alunos, assim P1 destaca que os aspectos econômicos, históricos e culturais são buscados para relacionar as diferentes áreas, tornando os planejamentos mais adequados ao desenvolvimento da aprendizagem e que assim os alunos consigam abstrair de forma mais clara e proveitosa possível. Porém, essa interação não fica evidente, sabemos que há momentos em que as disciplinas trabalham coletivamente com o

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15 contexto do campo, mas, através dos materiais disponibilizados não é apresentada de maneira clara, como no caso da matemática, não sabendo de qual apropriação conceitual ela está disposta no decorrer destas atividades.

A leitura do Projeto Político Pedagógico (PPP, 2014), da escola aponta para existência de um item denominado projetos da escola. A análise desse, indica como uma descrição de um conjunto de ações que são desenvolvidas anualmente na escola, envolvendo várias temáticas. As ações descritas neste, evidenciam-se nos seguintes itens:

a) Boa convivência: buscando melhorar as relações entre alunos.

b) Sessão Cívica Semanal: promover uma consciência cívica, conhecendo a Pátria e o Estado.

c) Conhecer para valorizar: objetiva a construção e a vivência de valores éticos, morais e sociais.

d) Horta e jardim: complementar a merenda escolar, e desenvolver o gosto pela terra. e) Educação ambiental: enfatiza a responsabilidade de cada um com o meio ambiente, campanhas de redução de lixo, reflorestamento e uso da água da chuva.

f) Resgatar para valorizar: voltado a interesses da comunidade, articulando a história do passado com a realidade social atual, construção da identidade.

g) Conhecendo a minha história: conhecimento das próprias potencialidades, visando a sua própria identidade como cidadão.

h) Leitura, alicerce do conhecimento: despertar o gosto pela leitura.

i) Alimentação saudável: introduzir bons hábitos alimentares, enfatizar a saúde, mostrando os alimentos benéficos e maléficos.

j) Jornal da escola: divulgar o trabalho realizado na escola e valorizar a identidade de escola do campo.

k) Trabalho de conclusão de curso: viabiliza, de maneira contextualizada, a construção de conhecimento por parte dos alunos, que escolhem um assunto, relacionado a propriedade e/ou comunidade fazer uma intervenção, relatando e observando, tirando suas conclusões e apresentando os seus resultados.

Nestes itens não está especificado o que de matemática é desenvolvido, porém, o projeto da horta e jardim pode possibilitar que sejam explorados os conceitos de área, perímetro, transformações de unidades de unidades de medida, analise da produção considerando medidas estatísticas, por exemplo.

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16 Da mesma forma ao propor a realização de projetos que considerem a “redução de lixo,

reflorestamento e uso da água da chuva” (PI, 2014) a utilização dessas temáticas pode

possibilitar a exploração de conceitos relacionados a volume, razão, capacidade e proporção, conceitos estatísticos, unidades de medidas entre outros.

Nas ações como no do “armazenamento e uso da água da chuva, e da composteira,

além de que o projeto da alimentação saudável” pode ser possibilitado o estudo de

porcentagens, frações e análise de dados, através da análise de rótulos, por exemplo.

Os projetos são engajados nas concepções do aluno pertencer, conhecer e conviver com a sua própria realidade, segundo P1 “realizar ações que despertem o sentimento de

pertencimento ao campo”. Saviani (2001, p. 14) apresenta suas ideias sobre escola:

[...] a escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado. Vejam bem: eu disse saber sistematizado; não se trata, pois, de qualquer tipo de saber. Portanto, a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; à cultura erudita e não à cultura popular.

É importante reforçar que cabe a escola esse papel no desenvolvimento desses conceitos, enquanto outros como, preservação ambiental, cultivo de hortas, entre outros, encontram também outros espaços adequados para o seu desenvolvimento. Dessa forma é fundamental que a escola não perca de vista seu papel, sendo ou não uma escola do campo.

Para Saviani:

Se as escolas se limitarem a reiterar a cultura popular, qual será sua função? Para desenvolver cultura popular, essa cultura assistemática e espontânea, o povo não precisa de escola. Ele a desenvolve por obra de suas próprias lutas, relações e práticas. O povo precisa da escola para ter acesso ao saber erudito, ao saber sistematizado e, em consequência, para expressar de forma elaborada os conteúdos da cultura popular que correspondem aos seus interesses (2011, p. 69-70).

A etnomatemática na perspectiva pedagógica de educação também é inserida assim neste local, mesmo que as vezes despercebida, pois a medida em que desenvolve o sujeito uma capacidade crítica de provocar ações transformadoras no seu próprio contexto. Portanto D’Ambrósio diz que:

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A proposta pedagógica da etnomatemática é fazer a matemática algo vivo, lidando com as situações reais no tempo (agora) e no espaço (aqui). E, através da crítica, questionar o aqui e o agora. Ao fazer isso, mergulhamos nas raízes culturais e praticamos dinâmica cultural. Estamos, efetivamente, reconhecendo na educação a importância das várias culturas e tradições na formação de uma nova civilização, transcultural e transdisciplinar. (2005, p. 46)

A escola do campo analisada, portanto é assim apresentada, com uma forma de ensinar viva, que busca produzir no espaço situações em que se prevaleçam as relações com a sua realidade, engajada na sua cultura, proporcionando questionamentos e reflexões ligadas as tradições, favorecendo o desenvolvimento da sua capacidade e estreitando os laços da escola e a comunidade que pertence, sem que se percam os conhecimentos elaborados, mais sim que haja um estreitamento nestas relações, onde um subsidie elementos para a compreensão do outro.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em vista dos argumentos apresentados a escrita contemplou as concepções da escola do campo, e a partir de aspectos ligados à sua constituição na história, cultural, social e educacional compreender essa modalidade de ensino. Buscando responder a seguinte questão de pesquisa: De que forma se organiza o currículo de uma escola do campo do município de Ijuí? Que aspectos da etnomatemática podem ser identificados na proposta curricular dessa escola?

A oferta de ensino para a população das zonas rurais visa qualificar os sujeitos ali presentes, garantindo assim uma aprendizagem contextualizada com a realidade na qual o estudante está inserido, os preparando para melhor fazer a leitura para o mundo do trabalho e otimizar seu vínculo com o lugar onde vive.

Considerando o currículo como tudo aquilo que se efetiva no dia a dia da escola, aspectos relacionados com a constituição da identidade dos sujeitos que pertencem a esta escola ficaram evidenciados tanto na fala das professoras quanto na proposição do Projeto Interdisciplinar.

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18 Dessa forma o vínculo com a realidade proporcionado neste meio educativo muito se dá pela ação dos docentes que ali desenvolvem seu papel de ensinar, muitos voltados à sua própria realidade, e outros inseridos e moldados pelos processos de formação integral e continuada. Cada professor tem um papel fundamental e importante na formação das pessoas que envolvem este ensino, em primeiro por propor um ensino científico ligado as concepções e o papel da escola, e a partir dessa interação com a própria realidade do estudante, que melhora as técnicas e condições de vida no local inserido.

Os sujeitos envolvidos na pesquisa apresentam uma formatação de pertencimento ao local em que está inserida esta escola, destacando várias ações que culminam com um sentimento de prazer em fazer parte deste local, perpassando um pouco qual é a sua especificidade, e seus objetivos, não deixando claro em suas ações a descrição dos conceitos matemático envolvidos, apenas nas respostas das entrevistadas há indícios que existam essa abordagem.

O ensino através dos projetos foi um ponto que possibilitou as relações com a realidade dos estudantes, voltando assim a planejamentos estruturados nas práticas interdisciplinares capazes de promover uma aprendizagem contextualizada, também se identifica as possibilidades da etnomatemática se fazer como instrumento potencial nas atividades, e assim, enaltecer uma identidade que possibilite a formação escolar e do cidadão.

Considerando que a escola do campo abrange diversas possibilidades de ensino, as ações nela desenvolvidas proporcionam enxergar elementos da etnomatemática que podem ser evidenciadas como uma forma potencializadora do conhecimento neste ambiente, que voltado a realidade dos estudantes amplia as visões, transformando a matemática em algo vivo, capaz de produzir concepções e entendimentos adequados a sua própria cultura e realidade.

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BRASIL. Plano Nacional de Educação - PNE/Ministério da Educação. Brasília, DF: INEP, 2014.

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19 BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jun. 2014.

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Referências

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