UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
ROBERTA SIMON
CONFLITO TRABALHO-FAMÍLIA E ESTRATÉGIAS DE
COPING EM PROFISSIONAIS COM E SEM FILHOS
Orientadora: Prof. Dra. Maiana Farias Oliveira Nunes
ROBERTA SIMON
CONFLITO TRABALHO-FAMÍLIA E ESTRATÉGIAS DE
COPING EM PROFISSIONAIS COM E SEM FILHOS
Dissertação de mestrado apresentada
como requisito à obtenção de grau de
mestre
em
psicologia.
Área
I
(Psicologia das Organizações e do
Trabalho).
Linha
II
(Formação
profissional,
desenvolvimento
de
carreira e inserção no trabalho).
Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, Centro de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade
Federal de Santa Catarina, sob
orientação da Profa. Dra. Maiana
Farias Oliveira Nunes.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer imensamente a minha orientadora Maiana
Farias Oliveira Nunes que sempre foi o meu modelo e inspiração de
profissional tão dedicada a universidade e a família simultaneamente. Foi
quem me ensinou muito sobre pesquisa e me inseriu na vida científica a
qual eu gostei tanto que não pretendo mais largar. Uma profissional
excepcional que sempre esteve tão perto mesmo à 500km de distância no
segundo ano de mestrado. Uma professora e amiga que levarei para a vida
toda. Agradeço também pelo presente de ter tido uma estagiária
maravilhosa, Louisi Cardozo, inteligente, dedicada e querida e uma
colega, Amanda Vieira, amiga e companheira imprescindível ao longo
desses dois anos.
Preciso agradecer a Manoela Ziebel de Oliveira, professora da
PUCRS que foi quem me apresentou os estudos sobre Conflito
Trabalho-Família e quem me indicou a Maiana como escolha de orientadora na
UFSC. Obrigado a Manoela, pois fiz as melhores escolhas também
através dos seus olhos.
Agradeço a todos os professores da UFSC os quais tive maior
contato e que agregaram muito valor e conhecimento a minha vida
acadêmica e profissional: Prof. Iuri Luna, Prof. Suzana Tolfo e Prof.
Marucia Bardagi.
Quero agradecer ao meu marido que esteve sempre ao meu lado
nesta trajetória intensa de trabalho, família e estudo, e principalmente ao
meu filho que serviu de tanta inspiração para eu pesquisar o CTF e CFT
em profissionais com filhos, aprofundando o entendimento entre as duas
principais esferas da vida, me tornando uma profissional mais completa e
capaz de ajudar as pessoas a equilibrarem melhor as suas vidas pessoais
e profissionais através do meu trabalho de desenvolvimento de carreira,
coaching e consultoria em RH.
Sumário
Apresentação ... 1
1. Introdução ... 1
2. Artigo 1 ... 10
3. Artigo 2 ... 35
4. Considerações Finais Gerais ... 58
Referências ... 60
5. Anexos ... 65
Anexo A: Questionário Sociodemográfico ... 65
Anexo B: Escala de Conflito Trabalho-Família (ECTF) ... 70
Anexo C: Escala de Coping Ocupacional ... 71
Anexo D: Carta Convite ... 72
Anexo E: Termo de Consentimento Livre Esclarecido ... 73
Anexo F: Termo de Concordância ... 77
Resumo
O conflito trabalho-família mostra-se presente no desenvolvimento de
carreira dos profissionais, indicando diversas causas, tais como as
exigências do mundo moderno, inserção da mulher no mercado de
trabalho, casais em que ambos trabalham e possuem filhos, número de
horas trabalhadas, entre outros fatores associados. Diante de situações
conflituosas ou estressoras, os indivíduos tendem a utilizar as estratégias
de coping disponíveis para enfrentar e amenizar o conflito vivenciado,
sendo assim, dada relevância do tema, o presente estudo tem como
objetivo investigar o conflito trabalho-família e estratégias de coping em
profissionais com e sem filhos através de uma pesquisa quantitativa em
um público alvo de 278 profissionais, residentes predominantemente na
região sul do Brasil, sendo a maioria com alto nível de escolaridade e
renda familiar superior a cinco salários mínimos. Utilizou-se um
questionário sociodemográfico, uma escala de Conflito Trabalho-Família
e uma escala de Coping Ocupacional. Os resultados serão apresentados
através de dois artigos. O artigo 1, “Conflito Trabalho-Família e
Estratégias de Coping em Profissionais com e sem filhos”, o qual
apresenta resultados relevantes das variáveis de ter ou não filhos e sexo
dos participantes, através de uma análise de dados utilizando t-student ou
ANOVA, complementada por Tukey e correlação de Person ou
Spearman. O artigo 2, “Fatores Sociodemográficos Associados ao
Conflito Trabalho-Família e Estratégias de Coping”, aponta alguns
fatores associados como a quantidade de horas trabalhadas por semana,
profissionais que possuem mais de uma atividade profissional, nível de
escolaridade, principal responsável pela renda familiar, profissionais que
exercem cargos de chefia e profissionais com filhos, apresentados através
de uma análise de regressão linear. A maioria dos resultados encontrados
no presente estudo vão ao encontro com os achados na literatura, a qual
descreve que o CTF é mais incidente do que o CFT na maioria das
pessoas, profissionais com filhos tendem a apresentar maior CFT do que
os que não possuem filhos, mulheres com filhos apresentam maior CFT
do que os homens com filhos, homens e mulheres lidam de forma
diferente com situações estressoras, sendo que o homens com filhos
utilizam menos as estratégias de coping do tipo esquiva enquanto que as
mulheres com filhos as utilizam mais, cargos de chefia tendem a utilizar
mais as estratégias de coping do tipo controle e menos as do tipo esquiva,
profissionais com filhos e também os que trabalham muitas horas por
semana e são os responsáveis pela renda familiar, utilizam menos
estratégias do tipo manejo. O único resultado que foi de encontro com a
literatura, refere-se à associação de quanto maior o número de horas
trabalhadas, menor a incidência de CFT, podendo ser explicado pelas
características da amostra que apresenta elevado nível
socioeconômico-cultural. Portanto, ambos estudos se mostram relevantes para o
entendimento do conflito trabalho-família e estratégias de coping,
sugerindo a necessidade de mais pesquisas no contexto brasileiro que
investiguem outros fatores associados a esses fenômenos, tais como
personalidade, ansiedade, depressão, estilos parentais, qualidade da
relação conjugal, entre outros.
Palavras-Chave: Conflito Trabalho-Família, Conflito Família-Trabalho,
Estratégias de Coping, Estratégias de Enfrentamento, Fatores
Sociodemográficos, Desenvolvimento de Carreira, Família, Gênero,
Ciclo Vital.
Abstract
The work-family conflict is present in the professionals career
development, indicating various causes, such as the demands of the
modern world, the insertion of women into the labor market, couples that
both work and have children, hours worked, among other factors. In the
face of conflicting or stressful situations, individuals tend to use the
available coping strategies to confront and alleviate the conflict they are
experiencing, so, given the relevance of the theme, the present study aims
to investigate the work-family conflict and coping strategies in
professionals with and without children through a quantitative survey in
a target audience of 278 professionals, predominantly resident in the
south of Brazil, being the majority with a high schooling level and family
income higher than five minimum brasilian salarys. A sociodemographic
questionnaire, a Work-Family Conflict scale and an Occupational Coping
scale were used. The results will be presented through two articles. Article
1, "Work-Family Conflict and Coping Strategies in Professionals with
and without children", which presents relevant results of the variables of
having or not having children and sex of the participants, through a data
analysis using t-student or ANOVA , complemented by Tukey and Person
or Spearman correlation. Article 2, "Sociodemographic Factors
Associated with Work-Family Conflict and Coping Strategies", points out
some associated factors such as the number of hours worked per week,
professionals who have more than one professional activity, level of
education, main responsible for family income, professionals who hold
management positions and professionals with children, presented through
a linear regression analysis. Most of the results found in the present study
are in line with findings in the literature, which describe that CTF is more
incident than CFT in most people, professionals with children tend to
have higher CFT than those without children , women with children have
higher CFT than men with children, men and women deal differently with
stressful situations, whereas men with children use less coping strategies
of the elusive type while women with children use them more, managerial
positions tend to use more coping strategies of the control type and less
the type of avoidance, professionals with children and also those who
work many hours a week and are responsible for family income, use less
strategies of the type management. The only result that was in agreement
with the literature, refers to the association of the greater the number of
hours worked, the lower the incidence of CFT, and can be explained by
the characteristics of the sample that presents a high
socioeconomic-cultural level. Therefore, both studies are relevant for the understanding
of the work-family conflict and coping strategies, suggesting the need for
more research in the Brazilian context investigating other factors
associated with these phenomena, such as personality, anxiety,
depression, parenting styles, quality of the conjugal relationship, among
others.
Keywords: Work-Family Conflict, Family-Work Conflict, Coping
Strategies, Coping Strategies, Sociodemographic Factors, Career
Development, Family, Gender, Life Course.
Listas de Abreviaturas e Siglas
CTF - Conflito Trabalho Família
CFT - Conflito Família Trabalho
ECO - Escala de Coping Ocupacional
ECTF - Escala de Conflito Trabalho-Família
Apresentação
Esta dissertação apresenta como objetivo geral avaliar a relação
entre as vivências de conflito trabalho-família e as estratégias de coping
utilizadas em profissionais com e sem filhos.
O interesse por esta temática surgiu em 2016, quando houve uma
aproximação com pesquisadoras estudiosas sobre o tema de
desenvolvimento de carreira na Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS), em um processo de participação como
respondente de duas pesquisas sobre conflito trabalho-família. Por se
tratar de uma temática bastante incidente, principalmente em
profissionais com famílias já constituídas e filhos pequenos, houve uma
identificação significativa do meu momento de vida com o fenômeno
conflito trabalho-família e conflito família-trabalho. Diante deste cenário,
surgiu o interesse em investigar o conflito trabalho-família, bem como as
diferentes formas de lidar com as situações estressoras que emergem a
partir deste tipo de conflito em um público alvo específico de
profissionais com filhos, levando em consideração que esta fase do ciclo
vital parece ser mais propícia a vivência de conflitos relacionados a
trabalho e família.
A dissertação é apresentada em dois artigos, sendo o Artigo 1
nomeado “Conflito Trabalho-Família em Profissionais com e sem Filhos”
e o Artigo 2 nomeado de “Fatores Sociodemográficos Associados ao
Conflito Trabalho-Família e Estratégias de Coping”. Ambos artigos são
discutidos considerando a literatura nacional e internacional sobre
conflito trabalho-família, estratégias de coping e ciclo vital.
1. Introdução
Transformações na sociedade e no contexto do trabalho, além de
uma maior preocupação na conciliação entre vida pessoal e vida
profissional têm contribuído para ampliação do interesse sobre os
fenômenos conflito trabalho-família e estratégias de coping. Um dos
temas estudados nas teorias da psicologia que abordam o
desenvolvimento de carreira são os variados papéis que as pessoas
assumem durante a sua trajetória de vida. A esse respeito, Super (1990)
salienta a relevância dos papéis profissional e familiar, sendo estes os dois
papéis que mais exigem investimento dos indivíduos ao longo da vida.
Em complemento, Mendonça e Matos (2015) ressaltam a necessidade dos
profissionais desenvolverem habilidades para lidar com os diferentes
contextos de vida em que estão inseridos ao longo do ciclo vital, levando
em consideração a importância da conciliação nos diferentes papéis
exercidos, tais como: conjugal, parental, profissional, entre outros.
O conflito trabalho-família (CTF) assume relevância no
desenvolvimento de carreira, dadas as alterações ocorridas na sociedade
e no mundo do trabalho (Greenhaus, Collins & Shaw, 2003). Tais
mudanças podem ser percebidas na intensificação do tempo dedicado ao
trabalho, nas crescentes demandas por atingimento de metas e nos
arranjos familiares, tais como casais com duplo emprego e filhos,
ampliando, desta forma, as discussões dos impactos frente ao CTF (Allen,
Herst, Bruck & Sutton, 2000). Além disso, percebe-se que, embora as
mulheres tenham conquistado espaço no mercado de trabalho e os homens
estejam assumindo mais as responsabilidades domésticas, ainda há
desigualdades de gênero nas oportunidades de trabalho e na divisão das
tarefas domésticas e familiares, onde a mulher ainda é vista como a
principal encarregada pelo trabalho doméstico e pelo cuidado dos filhos
e os homens vistos como principais provedores da família, tornando
visível que homens e mulheres vivenciam o conflito trabalho-família de
formas diferentes (Matias, Andrade & Fontaine, 2011).
Greenhaus e Beutell (1985) definiram CTF como um fenômeno
bidirecional que ocorre quando as exigências do papel desempenhado no
trabalho ou na família estão incompatíveis entre si, interferindo de alguma
forma no desempenho um do outro. Desta forma, segundo Netemeyer,
Boles e Mcmurrian (1996), a primeira direção do CTF pode ser definida
como um tipo de conflito entre papéis no qual as demandas do trabalho
interferem no desempenho das responsabilidades familiares. Já a direção
oposta, que seria a interferência da família no trabalho, refere-se a um tipo
de conflito entre papéis no qual as demandas da família interferem no
desempenho das responsabilidades profissionais.
Carlson e Frone (2003) descrevem que o CTF é causado por
interferências internas e externas. As interferências internas referem-se a
exigências que o indivíduo coloca em si mesmo, como a preocupação com
o seu desempenho profissional, por exemplo, a qual poderá diminuir a sua
participação na vida familiar. As exigências externas correspondem às
responsabilidades impostas pelo próprio contexto do papel exercido, por
exemplo, um prazo para entregar um relatório no trabalho.
Ao longo do ciclo vital, o indivíduo se depara com o desafio de
conciliar o desempenho de vários papéis em diferentes fases da vida. O
público alvo do presente estudo está na fase de aquisição do ciclo vital
familiar descrito por Cerveny e Berthoud (2009), como a fase do
desenvolvimento associada a aquisições, tais como o nascimento dos
filhos, a qual se apresenta como um período que exige uma reorganização
de papéis familiares.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2016), em relação à aquisição de filhos, cerca de 60,9%
das mulheres entre 15 e 49 anos têm pelo menos um filho e 38,5% não
têm nenhum filho, considerando um nível de escolaridade alto nas que
optam por não ter nenhum filho. Para o total da população,
independentemente do grupo etário analisado, a maioria (57,2%) das
pessoas estavam inseridas em arranjos familiares compostos por casais
com filhos em 2015, seguido pela participação do arranjo de mulher sem
cônjuge com filho (16,5%) e do arranjo de casal sem filho (15,1%). Para
pessoas de 0 a 29 anos de idade, a inserção mais comum foi também no
arranjo formado por casal com filhos (66,3%), sendo que a proporção de
arranjos de mulher sem cônjuge com filhos também foi elevada (20,0%).
No caso das pessoas de 30 a 59 anos de idade, a maioria delas (58,4%)
estava inserida no arranjo de casal com filhos e somente 5,8% viviam em
arranjos unipessoais.
Além disso, houve um aumento na proporção de
arranjos familiares sem a presença de filho(s) ou com menor quantidade
de filhos, relacionando-se diretamente com a queda da fecundidade,
implicando em menos crianças por família ou até mesmo a ausência de
filhos.
Sendo assim, percebem-se novas configurações e tendências nos
arranjos familiares, sendo uma delas apontada por Barbosa e
Rocha-Coutinho (2007) em um estudo que mostra o adiamento da maternidade
devido à inserção das mulheres de classe média e alta no mercado de
trabalho, principalmente aquelas que priorizam suas carreiras
profissionais. Por consequência, segundo os mesmos autores, acaba
havendo uma coincidência na idade de se dedicar à carreira e a de ser mãe,
sendo que essas duas tarefas exigem muita dedicação e disponibilidade
(Lima, 2010).
No entanto, independentemente da idade de se ter filhos, a fase
de aquisição, ou seja, a fase do ciclo vital relacionada ao nascimento dos
filhos exige a capacidade de assumir novos papéis e responsabilidades,
principalmente os papéis parentais, podendo nesta etapa haver um
desinvestimento nos demais papéis exercidos na vida familiar e
profissional, e, por consequência, gerar um desequilíbrio entre vida
familiar e profissional (Carter & McGoldrick, 2001; Mendonça & Matos,
2015). As mesmas autoras ressaltam que problemas típicos desta fase são
os conflitos de papéis e divisão de responsabilidades, tendo em vista que
no casamento moderno, onde ambos adultos trabalham, a maior parte dos
conflitos gira em torno da distribuição de tarefas relacionadas aos
cuidados com os filhos e atividades domésticas.
Diante deste cenário, emergem os conflitos entre trabalho e
família nas duas direções (trabalho-família e família-trabalho) e na busca
pela resolução destes, surgem as estratégias de coping ou estratégias de
enfrentamento. Folkman e Lazarus (1985) definem as estratégias de
coping como o conjunto de estratégias de enfrentamento disponíveis nos
indivíduos para lidar com situações estressoras. Nesta perspectiva,
considera-se que uma resposta de coping é uma ação intencional, podendo
ser física ou mental, dirigida para fatores externos ou estados internos,
orientados geralmente para a redução do estresse (Folkman & Lazarus,
1988).
A literatura aponta que o conflito entre trabalho e família
mostra-se premostra-sente no demostra-senvolvimento de carreira dos profissionais,
apresentando diversas origens, a maioria decorrente de mudanças sociais
na população, tais como inserção da mulher no mercado de trabalho
(Pinto et al., 2016); e o aumento do número de casais onde ambos
trabalham e possuem filhos (Greenhaus & Callanan, 2006). Além disso,
as inovações tecnológicas atuais permitem que o trabalhador esteja
permanentemente disponível para atender as demandas profissionais, o
que pode exceder o horário de trabalho (Chesley, 2005). Devido à
amplitude deste fenômeno na atualidade, percebe-se que o conflito entre
vida pessoal e vida profissional tem recebido destaque, indicando ser
fonte potencial para investigação de estudos científicos sobre o tema no
Brasil.
Segundo Burley (1995), o aumento de casais onde ambos
trabalham gerando renda familiar, deve-se ao aumento do número de
mulheres casadas que valorizam a carreira, ao crescente nível educacional
das mulheres e à busca da igualdade de oportunidades de emprego. Neste
contexto, os casais dão tanta importância ao desenvolvimento de suas
carreiras quanto à valorização e à manutenção do casamento e vida
familiar. Assim, observa-se uma mudança quanto às configurações e
ciclos familiares, onde os casais por vezes optam por não ter filhos ou
optam por fazê-los tardiamente, em comparação com gerações anteriores,
principalmente os de classe média e alta (IBGE, 2016; Lesthaeghe, 2010).
No Brasil, segundo os últimos dados publicados pelo IBGE (2016), a
relação de desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho
teve uma redução em 2015 comparado ao ano anterior, apresentando uma
queda generalizada do rendimento, no entanto, as mulheres ainda
recebiam em média 76% do rendimento dos homens.
As esferas trabalho e família se afetam de forma recíproca,
indicando duas direções, CTF (conflito trabalho-família) e CFT
(conflito-família trabalho), sendo mais prevalente, de acordo com pesquisas
realizadas, a incidência do CTF (Greenhaus & Callanan, 2006).
Segundo Greenhaus e Beutell (1985), o tempo é um dos maiores
determinantes do envolvimento comportamental do indivíduo nos papéis
que exerce. À medida que a quantidade de horas que o indivíduo investe
no seu trabalho aumenta, os níveis de conflito no sentido trabalho-família
tendem a aumentar. Por outro lado, a quantidade de horas dedicadas à
família está associada ao CTF por interferência interna, expressa quando
o indivíduo está no trabalho pensando na sua família, afetando
consequentemente o seu desempenho profissional (Carlson & Frone,
2003).
Greenhaus e Beutell (1985) afirmam que os indivíduos tendem a
despender mais tempo envolvidos em tarefas que são mais importantes
para eles, e, portanto, deixando menos tempo para outras funções, o que
aumenta a possibilidade de conflito e desequilíbrio de investimento nos
papéis exercidos. O modelo explicativo do CTF proposto por esses
autores descreve o conflito em três categorias: conflito baseado no tempo,
na tensão e no comportamento.
O conflito baseado no tempo é o mais comum e fica evidente
quando o indivíduo considera não ter tempo suficiente para cumprir de
forma satisfatória as obrigações associadas a cada um dos papéis, gerando
então um desequilíbrio no investimento de tempo entre as esferas trabalho
e família.
O conflito baseado na tensão mostra-se presente quando as
pressões sofridas em relação a um papel desempenhado afeta o outro
papel. Neste conflito incluem-se as tensões que surgem no desempenho
de um papel (pressões no desempenho, competitividade, problemas
interpessoais e outros) que conduzem à irritabilidade, fadiga ou apatia,
afetando assim o desempenho do outro papel.
O conflito baseado no comportamento surge quando o indivíduo
não consegue se comportar conforme as expectativas de cada papel ou
quando os padrões comportamentais de um determinado papel são
incompatíveis com as expectativas comportamentais de outro papel
(Greenhaus & Beutell, 1985). Desta forma, o indivíduo pode então
vivenciar o conflito, se não ajustar os padrões de comportamentos de
maneira a dar resposta às expectativas agregadas a distintos papéis.
Embora a abordagem teórica de Greenhaus e Beutell (1985)
adotada neste estudo tenha sido desenvolvida no exterior, um estudo
realizado por Andrade, Oliveira, e Hatfiel (2017) com 388 sujeitos, sendo
204 brasileiros e 184 norte-americanos, com ensino médio completo,
envolvidos em relacionamento estável, verificou mais semelhanças do
que diferenças no conflito no sentido trabalho-família vivenciado por
brasileiros e norte-americanos. Isso sugere que a teoria desenvolvida no
contexto estrangeiro apresenta evidências de validade para a população
brasileira. De acordo com alguns resultados obtidos, pode-se constatar
que apenas as variáveis de satisfação apresentaram diferenças
significativas, tendo os brasileiros apresentado índices mais elevados de
satisfação com a vida, família e relacionamento que os norte-americanos.
Apesar das diversas mudanças sociais frente ao trabalho e
família, o desafio de conciliar papéis profissionais e familiares permanece
presente como uma temática importante na atualidade. Pesquisas no
contexto estrangeiro indicam alguns fatores explicativos para o CTF,
como o grau de escolaridade e o número de filhos (Allen & Finkelstein,
2014; Kinnunen e Mauno, 1998; Matias et al., 2011). Vários aspectos são
considerados na tentativa de explicar as causas do fenômeno CTF, dentre
eles, pressões profissionais, o número de horas dedicadas ao trabalho,
sendo esta uma das características profissionais investigadas e apontadas
como um dos principais motivos de CTF, citadas em diversas pesquisas
(Gutek, Searle & Klepa, 1991; Frone, Russell & Barnes, 1996; Jacob,
Allen, Hill, Mead, & Ferris, 2008; Pereira & Ribeiro, 2014).
Segundo Gutek et al. (1991), o número de horas dedicado em
cada esfera da vida, trabalho ou família, é um fator associado ao aumento
ou diminuição do CTF. Nesta perspectiva, se as mulheres tendem a gastar
mais tempo no trabalho doméstico, elas tendem a sentir maior CFT que
os homens e se os homens dedicam mais tempo ao trabalho, eles tendem
a sentir mais CTF do que as mulheres (Gutek et al., 1991; Bruschini,
2006; Hill, 2005; Perista, 2002)
.
O número médio de horas semanais trabalhada na atividade
profissional principal exercida pelos homens no Brasil, segundo dados do
IBGE (2016), foi de 40,8 horas em 2015. Já as mulheres exercem 34,9
horas na média semanal de atividade profissional, no entanto, nas
atividades domésticas, apresentam em média 20 horas semanais,
enquanto os homens uma média de 10 horas, demonstrando que os
homens dedicam mais tempo na atividade profissional que as mulheres,
no entanto, nas atividades domésticas, as mulheres exercem o dobro do
tempo quando comparadas aos homens (IBGE, 2016).
Homens e mulheres tendem a perceber e enfrentar o CTF de
formas diferente, esta diferença é, na maioria das vezes, explicada pelos
aspectos culturais e sociais. Diversas pesquisas descrevem essa diferença
entre os sexos, indicando que as mulheres sofrem com a sobrecarga do
trabalho doméstico e os homens também, pois quando os homens são
solicitados a participar mais efetivamente das atividades do lar e do
cuidados com os filhos, acabam se estressando com mais facilidade do
que as mulheres, considerando que o papel familiar é culturalmente mais
destinado às mulheres. (Aguiar & Bastos, 2017; Matias & Fontaine,
2012).
Ainda sobre a diferença entre sexos, pesquisas apontam que
homens e mulheres tendem a escolher diferentes estratégias de coping
para lidar com situações estressoras, indicando que os homens tendem a
resolver os problemas de forma mais racional, enquanto as mulheres
resolvem de forma mais emocional (Matud, 2004; Parkes; 1990). As
estratégias de coping são ferramentas essenciais na vida dos indivíduos,
consideradas o conjunto de estratégias de enfrentamento utilizadas para a
adaptação frente a situações adversas encontradas no cotidiano e
percebidas como estressantes (Antoniazzi, Dell’Aglio, & Bandeira,
1998).
O modelo desenvolvido por Folkman e Lazarus (1980) com
origem em estudos de diversos pesquisadores dos anos 1970, propõe um
modelo de abordagem cognitivista, dividido em duas categorias: coping
focalizado no problema e coping focalizado na emoção. Nesta
abordagem, coping é definido como um conjunto de esforços cognitivos
e comportamentais, utilizado pelos indivíduos com o objetivo de lidar
com demandas internas ou externas, que surgem nas situações de estresse
e são avaliadas como sobrecarregando ou excedendo os recursos pessoais
(Lazarus & Folkman, 1984). Esta definição sugere que as estratégias de
coping podem ser aprendidas, usadas e descartadas, de acordo com a
necessidade de cada evento estressor.
Nesta perspectiva, o modelo de Folkman e Lazarus (1980)
envolve quatro conceitos principais, sendo: coping como um processo ou
uma interação que se dá entre o indivíduo e o ambiente; coping com a
função de administrar a situação estressora, ao invés de controlar ou
dominar a mesma; coping como forma de perceber os fenômenos,
interpretado e cognitivamente representado na mente do indivíduo e por
fim, coping como uma mobilização de esforço, através da qual os
indivíduos irão empreender os esforços cognitivos e comportamentais
para reduzir, minimizar ou tolerar as demandas internas ou externas que
surgem da sua interação com o ambiente.
Já o modelo desenvolvido por Latack (1986), sustenta estilos
gerais de coping envolvendo cognições e intenções de comportamentos
de manejo, controle e esquiva, no ambiente ocupacional, sendo:
•
Manejo: Manejo de sintomas, referindo-se às ações
popularmente aceitas que minimizem o estresse vivenciado como, por
exemplo, a realização de exercícios físicos, relaxamento, massagem, etc.;
•
Controle: Ações e reavaliações cognitivas para
resolução de problemas, onde há avaliação de atitudes tomadas frente ao
problema como, por exemplo, o enfrentamento do problema através do
diálogo ou através de uma reunião de trabalho agendada para tal fim;
•
Esquiva: Ações e reavaliações cognitivas que geram
comportamento de esquiva ou evitação das situações de estresse,
Em seu modelo para o entendimento de coping ocupacional,
Latack (1986) considerou que ações e reavaliações cognitivas deveriam
estar relacionadas a estratégias de enfrentamento ou de esquiva da
situação estressante no ambiente ocupacional. Às ações e reavaliações
cognitivas relacionadas ao enfrentamento, a autora nomeou como
estratégias de controle, enquanto que ações e reavaliações cognitivas de
conteúdo escapista foram chamadas estratégias de esquiva e as estratégias
de manejo para denominar as tentativas de lidar com os sintomas de
estresse, como o relaxamento ou a prática de exercícios físicos, por
exemplo.
No ambiente de trabalho, a avaliação cognitiva da situação de
estresse inclui a escolha pelas estratégias de enfrentamento disponíveis,
além da percepção de si mesmo frente a capacidade de lidar com tais
demandas estressoras. Os indivíduos mais confiantes em suas habilidades
tendem a usar mais efetivamente as estratégias de coping para lidar com
as situações de estresse (Bandura, 1997; Jex, Bliese, Buzzell, & Primeau,
2001; Latack, 1986).
A distinção entre as abordagens apresentadas por Folkman e
Lazarus (1980) e Latack (1986) para o entendimento do coping diz
respeito às diferentes nomeações de categorias apontadas por cada autor,
além da abordagem de Latack (1986) apresentar um modelo focado no
ambiente ocupacional enquanto o de Folkman e Lazarus (1980) é
apresentado como um modelo para avaliar Estratégias de Coping em
qualquer situação.
O presente estudo tem como objetivo geral avaliar a relação entre
as vivências de conflito trabalho-família e as estratégias de coping
utilizadas em profissionais com e sem filhos. A pesquisa foi dividida em
dois estudos, apresentando objetivos e hipóteses descritas separadamente.
O estudo 1, tem como objetivo mensurar o nível vivenciado de CTF em
profissionais com e sem filhos; comparar os níveis de CTF em mulheres
e homens e entre indivíduos com e sem filhos e verificar se existem
correlações significativas entre as dimensões de conflito CTF, CFT e as
estratégias de coping e como hipóteses apresenta: o CTF ocorre com
frequência elevada em profissionais com filhos em comparação com
profissionais sem filhos (Allen & Finkelstein, 2014); mulheres
apresentam níveis mais elevados de CTF quando comparadas aos homens
(Greenhaus & Beutell, 1985; Matias et al., 2011), profissionais que
utilizam estratégias de coping do tipo controle e manejo tendem a
apresentar níveis mais baixos de CTF em comparação com profissionais
que utilizam outras estratégias de coping (Pinheiro et al., 2003) e, por fim,
profissionais que utilizam estratégias de coping do tipo esquiva tendem a
apresentar maiores níveis de CTF em comparação com profissionais que
utilizam outras estratégias de coping (Pinheiro, Tróccoli & Tamayo,
2003; Tamayo & Tróccoli, 2002).
O Estudo 2 tem como objetivo verificar diferenças de média e
associações entre CTF e estratégias de coping relacionadas à variáveis
sociodemográficas e analisar quais as variáveis sociodemográficas
apresentam maior capacidade preditiva para explicar o CTF e Estratégias
de Coping, apresentando hipóteses de quanto maior o número de horas
trabalhadas, mais elevado é o CTF vivenciado (Greenhaus & Beutell,
1985) e quanto maior o número de horas trabalhadas menos se utilizam
estratégias de coping do tipo manejo (Pinheiro, Tróccoli & Tamayo,
2003; Tamayo & Tróccoli, 2002).
A revisão da literatura deste estudo foi realizada através de
levantamentos da produção nacional e internacional acerca dos
fenômenos Conflito Trabalho-Família (CTF), estratégias de coping e
ciclo vital, considerando famílias com filhos em idade pré-escolar. Para
tanto, pesquisou-se sobre o tema em artigos científicos, teses e livros, nas
bases de dados Web Of Science e BVS-Psi, além de alguns artigos
específicos, dissertações e livros indicados por profissionais estudiosos
da área.
A partir dos resultados gerados neste estudo, pretende-se
contribuir com a produção científica nacional acerca da temática de
desenvolvimento de carreira abordada através do fenômeno conflito
trabalho-família, além de possibilitar uma melhor compreensão acerca de
tais conflitos e suas diferentes formas de manejo em uma população
específica onde se apresentam poucos estudos científicos nacionais na
área. Adicionalmente, visa permitir aos profissionais pertencentes a esta
categoria um entendimento mais amplo acerca do CTF vivenciado no
desenvolvimento de suas carreiras, bem como gerar reflexão para que as
organizações estejam atentas à incidência deste fenômeno. Assim, além
de propiciar uma ampliação teórica e empírica sobre a temática, abre-se a
possibilidade de oferecer um melhor entendimento aos profissionais que
vivenciam tais conflitos, bem como as organizações as quais pertencem,
possibilitando a reflexão sobre aspectos pertinentes a intervenções
futuras.
Por fim, profissionais que atuam na área da psicologia
organizacional, desenvolvimento de carreira e gestão de pessoas, podem
se beneficiar do presente estudo para compreenderem melhor tais
fenômenos em seus clientes ou liderados, fazendo uso de tais
conhecimentos para beneficiar o desenvolvimento e aconselhamento
profissional.
2. Artigo 1
Conflito Trabalho-Família e Estratégias de Coping em Profissionais
Com e Sem Filhos
Resumo
O objetivo deste estudo foi analisar a relação entre as vivências de conflito
trabalho-família (CTF) e conflito família-trabalho (CFT) e as estratégias
de coping, considerando as variáveis de ter ou não filhos e diferença por
sexo em 278 profissionais, sendo 88,1% residentes na região sul do Brasil,
89,5% com nível de escolaridade superior ou mais e 66,9% com filhos.
Utilizou-se um questionário sociodemográfico, uma escala de Conflito
Trabalho-Família e uma escala de Coping Ocupacional. Os resultados
apontam que profissionais que possuem filhos apresentam escore
significativamente mais alto de CFT que os que não possuem filhos
(p<0,001). Também se observou diferenças por sexo, ocorrendo padrões
de correlação distintos entre homens e mulheres, destacando-se o uso de
estratégias de coping do tipo controle e CFT nas mulheres (r= -0,1999;
p=0,005) e estratégias de coping do tipo manejo e CFT nos homens
(r=0,236; p=0,037). Os dados são discutidos considerando a literatura
sobre CTF e como lidar com as demandas conflitantes nesses dois
domínios da vida.
Palavras-Chave: Conflito Trabalho-Família, Conflito Família-Trabalho,
Estratégias de Coping, Estratégias de Enfrentamento, Desenvolvimento
de Carreira, Família, Gênero, Ciclo Vital.
Work-Family Conflict and Coping Estrategies in Professionals With and
Without Children
Abstract
The purpose of this study was to analyze the relationship between the
experiences of work-family conflict (WFC) and family-work conflict
(FWC) and coping strategies, considering the variables of having or not
having children and gender differences in 278 professionals, 88.1% were
residents in the south of Brazil, 89.5% had a higher level of education,
and 66.9% had children. A sociodemographic questionnaire, a
Work-Family Conflict scale and an Occupational Coping scale were used. The
results indicate that professionals who have children present a
significantly higher score of FWC than those without children (p <0.001).
Differences were also observed by gender, with different correlation
patterns occurring between men and women, with emphasis on the use of
control and coping strategies in women (r = -0.1999, p = 0.005) and
coping strategies type management and FWC in men (r = 0.236, p =
0.037). The results are discussed considering the literature about WFC
and how to deal with conflicting demands in these two domains of life.
Keywords: Work-Family Conflict, Family-Work Conflict, Coping
Transformações na sociedade e no contexto do trabalho, além de
uma maior preocupação com a conciliação entre vida pessoal e vida
profissional, têm contribuído para ampliação e interesse sobre o
fenômeno conflito trabalho-família (CTF) e conflito família-trabalho
(CFT). Embora as pesquisas sobre CTF, considerando as duas direções
do conflito, tenham crescido consideravelmente nas últimas décadas,
principalmente fora do país, ainda se fala pouco sobre o CTF,
considerando os estágios de vida em que o indivíduo se encontra (Baltes
& Young, 2007). Por isso, o objetivo deste estudo consiste em analisar o
CTF em suas duas direções, trabalho-família e família-trabalho, e as
estratégias de coping utilizadas por profissionais atuantes no mercado de
trabalho, considerando as variáveis de ter filhos ou não e o sexo dos
participantes. As hipóteses apresentadas neste estudo são, H1: o CTF
ocorre com frequência mais elevada em profissionais com filhos em
comparação com profissionais sem filhos (Allen & Finkelstein, 2014);
H2: mulheres apresentam níveis mais elevados de CTF quando
comparadas aos homens (Greenhaus & Beutell, 1985; Matias et al., 2011),
H3: profissionais que utilizam estratégias de coping do tipo controle e
manejo tendem a apresentar níveis mais baixos de CTF em comparação
com profissionais que utilizam outras estratégias de coping (Pinheiro et
al., 2003) e, H4: profissionais que utilizam estratégias de coping do tipo
esquiva tendem a apresentar maiores níveis de CTF em comparação com
profissionais que utilizam outras estratégias de coping (Pinheiro, Tróccoli
& Tamayo, 2003; Tamayo & Tróccoli, 2002).
Um dos temas estudados nas teorias da psicologia que abordam
o desenvolvimento de carreira são os variados papéis que as pessoas
assumem durante a sua trajetória de vida. A esse respeito, Super (1990)
salienta a relevância dos papéis profissional e familiar, sendo estes os
papéis que mais exigem investimento dos indivíduos ao longo da vida.
Em complemento, Mendonça e Matos (2015) ressaltam a necessidade dos
profissionais desenvolverem habilidades para lidar com os diferentes
contextos de vida em que estão inseridos ao longo do ciclo vital, levando
em consideração a importância da conciliação nos diferentes papéis
exercidos, tais como: conjugal, parental, profissional, entre outros.
Mudanças nas exigências do mundo moderno podem ser
percebidas na intensificação do tempo dedicado ao trabalho, nas
crescentes demandas por atingimento de metas e nos arranjos familiares,
tais como casais onde ambos trabalham e possuem e filhos, ampliando,
desta forma, as discussões sobre os impactos frente ao CTF (Allen, Herst,
Bruck & Sutton, 2000; Frone, 2000). Além disso, percebe-se que, embora
as mulheres tenham conquistado espaço no mercado de trabalho e, com
os homens assumindo mais responsabilidades domésticas, ainda existem
desigualdades de gênero nas oportunidades de trabalho e na divisão das
tarefas domésticas e familiares, sendo que a mulher ainda é vista como a
principal encarregada pelo trabalho doméstico e pelo cuidado dos filhos
e os homens vistos como principais provedores da família, tornando
visível que homens e mulheres vivenciam o CTF e situações de estresse
de formas diferentes (Matias, Andrade & Fontaine, 2011; Matud, 2004).
Greenhaus e Beutell (1985) definiram CTF como um fenômeno
que ocorre quando há incompatibilidades e interferência nas exigências
do papel desempenhado no trabalho ou na família, interferindo de alguma
forma no desempenho um do outro. O CTF é bidirecional, ou seja, pode
ocorrer no sentido trabalho-família e sentido família-trabalho. Desta
forma, o CTF pode ser definido como um conflito entre papéis no qual as
demandas do trabalho interferem no desempenho das responsabilidades
familiares. Já a direção oposta, que seria o CFT, refere-se a um conflito
entre papéis no qual as demandas da família interferem no desempenho
das responsabilidades profissionais. (Greenhaus, Collins & Shaw, 2003;
Greenhaus, & Powell, 2006; Netemeyer, Boles & Mcmurrian, 1996).
Pesquisas apontam uma maior incidência de CTF do que CFT, sugerindo
que as demandas do trabalho interferem de forma mais intensa na vida
dos profissionais (Andrade, Oliveira & Hatfiel, 2017; Greenhaus &
Beutell, 1985, Greenhaus & Callanan, 2006).
O modelo explicativo do CTF proposto por esses autores
descreve o conflito em três categorias: conflito baseado no tempo, na
tensão e no comportamento. O conflito baseado no tempo surge quando
o indivíduo considera não ter tempo suficiente para cumprir
satisfatoriamente as obrigações associadas a cada um dos papéis, ou seja,
os múltiplos papéis exercidos podem estar competindo em termos de
tempo. O conflito com base no tempo tende a ser mais consistente quando
os horários dos indivíduos são longos e pouco flexíveis (Greenhaus &
Beutell, 1985).
O conflito baseado na tensão surge quando as pressões sofridas
em relação a um papel afetam o desempenho no outro papel. Segundo
Greenhaus e Beutell (1985), os papéis são considerados incompatíveis
quando a pressão concebida no desempenho de um papel dificulta o
cumprimento das exigências do outro papel. Neste conflito incluem-se as
tensões que surgem no desempenho de um papel (pressões no
desempenho, competitividade, problemas interpessoais e outros) que
conduzem à irritabilidade, fadiga ou apatia, afetando assim o desempenho
do outro papel. Por sua vez, o conflito baseado no comportamento é
evidenciado quando o indivíduo não consegue se comportar conforme as
expectativas de cada papel. Este conflito ocorre quando os padrões
comportamentais próprios de um determinado papel podem ser
incompatíveis com as expectativas comportamentais de outro papel
(Greenhaus & Beutell, 1985).
O estudo sobre CTF iniciou internacionalmente em 1930 nos
Estados Unidos, quando surgiu a ideia geral de que os papéis familiares e
profissionais eram interdependentes, sendo definido nesta época que o
trabalho era o que influenciava no funcionamento da família. De acordo
com Bruschini (1995),
em 1960 no Brasil com a entrada massiva das
mulheres no mercado de trabalho, abriu-se a possibilidade de estudos
sobre trabalho e gênero.
Entre os anos 1980 e 1990 a temática permanece em estudo,
tendo em vista o aumento do número de mães trabalhadoras e de casais,
os quais ambos possuem emprego gerando renda familiar. As pesquisas
desta época indicam que os profissionais levam suas emoções, atitudes,
competências e comportamentos desenvolvidos no papel profissional
para o papel familiar e vice-versa. Consequentemente, enfrentam maiores
tensões existentes entre o trabalho e a família, além das diferenças entre
as experiências vividas pelos homens e pelas mulheres (Bruschini &
Lombardi, 2000; Bruschini, 2006; Cruz et al., 2003; Gauche et.al, 2013;
Greenhaus & Beutell, 1985; Gutek et al., 1991; Grzywacz & Marks, 2000;
Matias et al., 2010; Matias e Fontaine, 2012).
Sendo assim, percebem-se novas configurações e tendências nos
arranjos familiares, sendo uma delas o adiamento da maternidade devido
à inserção das mulheres de classe média (de 4 a 10 salários mínimos),
média-alta (de 10 a 20 salários mínimos) e alta (a partir de 20 salários
mínimos) no mercado de trabalho, principalmente aquelas que priorizam
suas carreiras profissionais (IBGE, 2106). Por consequência, acaba
havendo uma coincidência na idade de se dedicar à carreira e a de ser mãe,
sendo que essas duas tarefas exigem muita dedicação e disponibilidade
(Barbosa & Rocha-Coutinho, 2007).
A fase do ciclo vital relacionada ao nascimento dos filhos exige
a capacidade de assumir novos papéis e responsabilidades,
principalmente os papéis parentais. Nesta etapa é possível haver um
desinvestimento nos demais papéis exercidos na vida familiar e
profissional e, por consequência, gerar um desequilíbrio entre vida
familiar e profissional (Matias et al., 2011; Matias & Fontaine, 2012;
Mendonça & Matos, 2015).
O aumento de casais em que ambos desenvolvem suas carreiras
profissionais, gerando duplo rendimento familiar, deve-se ao aumento do
número de mulheres casadas que valorizam a carreira, ao crescente nível
de escolaridade das mulheres e à busca da igualdade de oportunidades de
emprego, sugerindo que esses casais dão tanta importância ao
desenvolvimento de suas carreiras quanto a valorização do casamento e
vida familiar. (Burley, 1995). Assim, observa-se uma mudança quanto às
configurações e ciclos familiares, evidenciando que esses casais os quais
valorizam a carreira profissional, tendem a ter filhos mais tardiamente ou
ainda optam por não tê-los, quando comparados com gerações anteriores,
principalmente os de classe média (C), média alta (B) e alta (A) (IBGE,
2016; Lesthaeghe, 2010).
As exigências de cada um dos papéis exercidos pelos indivíduos,
assim como as características individuais das pessoas, constituem
variáveis que podem contribuir para o aumento do conflito entre os papéis
profissionais e familiares, gerando consequências no nível do bem-estar
individual, familiar e profissional (Frone, 2000). Junto a esses conflitos,
surgem as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos indivíduos com o
objetivo de transpor as situações estressoras e elevar o bem estar.
Folkman e Lazarus (1985) definem as estratégias de coping como o
conjunto de estratégias de enfrentamento disponíveis nos indivíduos para
lidar com situações estressoras. Nesta perspectiva, considera-se que uma
resposta de coping é uma ação intencional, podendo ser física ou mental,
dirigida para fatores externos ou estados internos orientados geralmente
para a redução do estresse (Folkman & Lazarus, 1988).
Folkman e Lazarus (1980) elucidam que coping é um
comportamento diretamente ligado às exigências ambientais, ou seja, é
uma resposta individual frente a uma situação de estresse vivida. Se a
situação foi considerada como estressante, o indivíduo tende a avaliar as
estratégias de coping disponíveis, decidindo qual deverá utilizar para
enfrentar com maior eficácia a situação de estresse (Lazarus & Folkman,
1984). Nesta abordagem, coping é definido como um conjunto de
esforços cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivíduos com o
objetivo de lidar com demandas internas ou externas, que surgem nas
situações de estresse e são avaliadas como sobrecarregando ou excedendo
os recursos pessoais (Lazarus & Folkman, 1984).
Nesta perspectiva, o modelo de Folkman e Lazarus (1980)
envolve quatro conceitos principais, sendo: coping como um processo ou
uma interação que se dá entre o indivíduo e o ambiente; coping com a
função de administrar a situação estressora, ao invés de controlar ou
dominar a mesma; coping como forma de perceber os fenômenos,
interpretado e cognitivamente representado na mente do indivíduo; e, por
fim, coping como uma mobilização de esforço, através da qual os
indivíduos irão empreender os esforços cognitivos e comportamentais
para reduzir, minimizar ou tolerar as demandas internas ou externas que
surgem da sua interação com o ambiente.
Já o modelo desenvolvido por Latack (1986) sustenta estilos
gerais de coping envolvendo cognições e intenções de comportamentos
de manejo, controle e esquiva no ambiente ocupacional. Comportamentos
de manejo referem-se às ações popularmente aceitas que minimizam o
estresse vivenciado, como por exemplo, a realização de exercícios físicos,
relaxamento, massagem, etc. Já comportamento de controle indicam
ações e reavaliações cognitivas para a resolução de problemas, onde há
avaliação de atitudes tomadas frente ao problema como, por exemplo, o
enfrentamento do problema por meio do diálogo ou de uma reunião de
trabalho agendada para tal fim.
Por fim, esquiva diz respeito as ações e reavaliações cognitivas
que geram comportamento de fuga ou evitação das situações, tratando-se
de uma estratégia adaptativa e socialmente aceita que ocorre quando, por
exemplo, postergamos ou nos esquivamos da resolução de algum
problema.
A distinção entre as abordagens apresentadas por Folkman e
Lazarus (1980) e Latack (1986) para o entendimento do coping diz
respeito às diferentes nomeações de categorias apontadas por cada autor,
uma vez que a abordagem de Latack apresenta um modelo focado no
ambiente ocupacional, enquanto o modelo de Folkman e Lazarus é
apresentado como um modelo geral, sugerindo utilidade para avaliar
estratégias de coping em qualquer âmbito da vida. Assim, ambos os
referenciais são considerados úteis e complementares nos estudos da área.
Método
Trata-se de uma pesquisa de delineamento descritivo
correlacional, abordando as relações entre o CTF, CFT e as estratégias de
coping. Foi utilizado método de coleta e análise de dados quantitativos
com recorte transversal e coleta de dados realizada online.
Participantes
Participaram da pesquisa 278 profissionais, com idade entre 25 e
65 anos (M= 39,2, DP= 7,8), sendo 186 com filhos e 92 sem filhos, todos
atuantes profissionalmente, (73,4%) casados, (89,5%) com nível superior
ou mais e (79,5%) com renda familiar a partir de cinco salários mínimos.
A pesquisa contou com 873 acessos online, sendo que 378 iniciaram a
pesquisa, 80 não concluíram a pesquisa e 20 não trabalhavam, e por esse
motivo foram excluídos da amostra. (73,4%), possuem nível de
escolaridade superior (29,1%) ou pós-graduação (60,4%) e 79,5%
possuem renda familiar a partir de cinco salários mínimos.
Instrumentos
Inicialmente, os participantes responderam um questionário de
dados sociodemográficos que apresentou questões referentes a aspectos
pessoais (tais como idade, sexo, renda, moradia, profissão, dependentes,
número de integrantes na família, entre outros) e laborais (ocupação atual,
horas diárias dedicadas ao trabalho, turno de trabalho, tipo de vínculo,
entre outros). Em seguida, responderam a Escala de Conflito
Trabalho-Família (ECTF) e a Escala de Coping Ocupacional (ECO).
A ECTF foi proposta originalmente por Netemeyer et al. (1996),
criada no contexto estrangeiro e adaptada para a realidade brasileira por
Aguiar e Bastos (2013). Trata-se de uma escala bidimensional,
constituída pelas dimensões interferência do trabalho na família (ITF)
composta por cinco itens, e a interferência da família no trabalho (IFT)
também composta por cinco itens. Para responder, o participante utiliza
uma escala Likert com opções de resposta de 1 a 6, sendo 1 “discordo
totalmente” e 6 “concordo totalmente”. As pontuações mais altas indicam
níveis elevados de CTF, enquanto os valores mais baixos indicam baixos
níveis de CTF avaliados nas duas direções do conflito. Para o seu
processo de validação, a escala foi aplicada em uma amostra de 994
trabalhadores brasileiros de diferentes contextos, apresentando precisão
entre α = 0,90 e α = 0,91 para o fator trabalho-família e entre α = 0,85 e α
= 0,86 para o fator família-trabalho considerando diferentes amostras. A
análise fatorial confirmatória apresentou níveis de ajuste considerados
adequados (Aguiar & Bastos, 2013).
Por sua vez, a ECO foi desenvolvida por Latack (1986) e
traduzida e adaptada para o uso no Brasil por Pinheiro, Tróccoli e Tamayo
(2003). A ECO é formada por três principais dimensões: I- Manejo (11
itens, α = 0,81) entendida como uma série de estratégias popularmente
aceitas pelo indivíduo para administrar eventos relacionados ao estresse,
tais como relaxamento e atividades físicas; II- Controle (11 itens, α =
0,78), entendido como ações e reavaliações cognitivas proativas com o
sentido de contornar a situação estressante e III- Esquiva (08 itens, α =
0,74), que constitui ações e reavaliações cognitivas que sugerem fuga ou
algum modo de evitação. A escala apresenta 29 itens, sendo as respostas
mensuradas em uma escala Likert com frequência de cinco pontos (1
“Nunca” a 5 “Todos os dias”). Embora essa escala tenha sido
desenvolvida para avaliar as estratégias de coping no ambiente
profissional, apresenta a limitação de não avaliar as estratégias de coping
no ambiente familiar. Essa foi a única escala localizada com estudos de
validade para o Brasil que apresenta resultados psicométricos adequados,
reforçando o modelo teórico que sustenta os estilos gerais de coping
envolvendo cognições e intenções de comportamentos de controle,
esquiva e manejo de sintomas, com índices de consistência interna
considerados satisfatórios (Pinheiro et al., 2003).
Procedimentos de coleta e análise de dados
O projeto foi aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa com
base na resolução 510/2016. Antes do início da coleta de dados, foi
realizada uma etapa piloto com 10 participantes, a fim de verificar o
tempo de resposta e a clareza nas instruções e questões apresentadas nos
instrumentos de pesquisa, resultando em um tempo médio de 10 minutos
e pequenas alterações no questionário sociodemográfico.
A coleta de dados foi realizada online e os participantes foram
abordados por meio de convites ou de indicações. Os potenciais
participantes foram contatados através de convite eletrônico enviado por
meio da rede de contatos das pesquisadoras e divulgação em redes sociais.
Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa,
recebendo o Termo de Concordância. Os instrumentos de pesquisa
ficaram disponíveis para coleta online por dois meses.
Quanto aos procedimentos de análise de dados, foi gerada a
estatística descritiva das variáveis e a comparação de médias foi realizada
através dos testes t-Student ou Análise de Variância (ANOVA)
complementada por Tukey. Para avaliar a associação entre as variáveis
numéricas e ordinais, os testes da correlação de Pearson ou Spearman
foram utilizados. O nível de significância adotado foi de 5% (p<0,05) e
as análises foram realizadas no programa SPSS versão 21.0.
Resultados
Os resultados serão apresentados por meio de quatro tabelas,
iniciando pela caracterização dos participantes, seguido da análise de
diferença de médias e dos padrões de associação entre variáveis. As
tabelas 2 e 3 apresentam a descrição da amostra utilizada no estudo.
Tabela 2
Caracterização da amostra
Variáveis N=278
Estado civil – n(%) Casado/União estável
204 (73,4) Em um relacionamento 14 (5,0) Solteiro 44 (15,8) Divorciado 16 (5,8) Primeiro casamento/união estável – n(%) 179 (64,4) Tempo de relacionamento
com o parceiro (anos) – mediana (P25-P75) 12 (8 – 18) Nível de escolaridade – n(%) Ensino Fundamental 2 (0,7) Ensino Médio 27 (9,7) Ensino Superior 81 (29,1) Pós-graduação 168 (60,4) Nível de escolaridade do companheiro – n(%) Ensino Fundamental 4 (1,8) Ensino Médio 48 (22,0) Ensino Superior 71 (32,6) Pós-graduação 95 (43,6) Renda familiar total –
n(%)
Até 1 salário mínimo 2 (0,7) Entre 1 e 3 salários mínimos 16 (5,8) Entre 3 e 5 salários mínimos 39 (14,0) Entre 5 e 10 salários mínimos 73 (26,3) Entre 10 e 15 salários mínimos 41 (14,7) Entre 15 e 20 salários mínimos 31 (11,2) Acima de 20 salários mínimos 76 (27,3) Principal responsável
pela renda familiar – n(%) Companheiro (a) 38 (13,7) Eu mesmo (a) 122 (43,9) Ambos 111 (39,9) Família 6 (2,2) Pensão 1 (0,4)
Conforme a tabela 2 observa-se que a maior parte dos
participantes são casados (73,4%), possuem nível de escolaridade
superior (29,1%) ou pós-graduação (60,4%) e 79,5% possuem renda
familiar a partir de cinco salários mínimos. Além dos dados apresentados
na tabela 2, verificou-se que 41,7% exerciam cargo de chefia, sendo
33,8% com regime de contratação conforme consolidação de leis de
trabalho (CLT), 21,2% autônomos, 13,3% servidores públicos, 25,2%
empresários e 6,5% em outros regimes de contratação. Quanto à média de
horas trabalhadas, verificou-se uma média semanal de 39,7 horas
(DP=14,0), sendo que 49,6% dos participantes relataram trabalhar
também aos finais de semana e 30,2% possuíam mais de uma atividade
profissional.
Na sequência, a tabela 3 apresenta outros dados pertinentes para
a caracterização da amostra, especificamente no que tange às
características familiares e do cuidado com os filhos.
Tabela 3
Dados sobre profissionais com filhos
Variáveis N=186
Período do desenvolvimento dos Filhos – n(%)
Na infância 143 (76,9) Na adolescência 37 (19,9) Adultos que já saíram de casa 18 (9,7) Adultos que moram junto 19 (10,2) Participantes com netos 7 (3,8) Número de filhos – mediana (P25-P75) 1 (1 – 2) Idade dos filhos – n(%) Filhos de 0 a 2 anos 60 (32,3) Filhos de 3 a 5 anos 61 (32,8) Filhos de 6 a 7 anos 26 (14,0) Filhos de 8 anos ou mais 84 (45,2)
Filho frequenta pré-escola/creche/educação infantil – n(%) 106 (57,0)
Período que o filho frequenta a pré-escola – n(%) 1
Manhã 11 (10,4)
Tarde 52 (49,1)
Integral 43 (40,6) Responsável pelos filhos quando estes não
estão na escola – n(%) 2 Babá/funcionária doméstica 54 (29,0) Avós 56 (30,1) Outros familiares 8 (4,3) Vizinho/amigos 1 (0,5) Companheiro(a)/Esposo(a) 92 (49,5) Eu mesmo (a) 109 (58,6)
1 Em relação aos que possuem filhos que frequentam pré-escola (N = 106) 2 Os participantes tinham a opção de marcar mais de um cuidador nessa questão
Conforme dados apresentados na tabela 3, verificou-se que
76,9% dos respondentes possuíam filhos na primeira infância, com
mediana de um filho (112 participantes tinham apenas um filho, 64
possuíam dois filhos, nove possuíam três filhos e um possuía cinco filhos,
resultando na Moda=1), 57% dos filhos frequentavam a pré-escola, 29%
tinham apoio doméstico de uma funcionária ou babá nos cuidados com os
filhos, 30% contava com o auxílio dos avós, 49,5% contavam com o apoio
do companheiro e 58,6% respondeu que era o próprio cuidador dos filhos
quando não estavam na pré-escola.
A tabela 4 apresenta a estatística descritiva dos escores nas
escalas de CTF e estratégias de coping e uma análise de diferença de
média no que se refere ao fato de possuir ou não filhos.
Tabela 4
Estatística descritiva e teste t-Student para CTF, CFT e coping,
considerando possuir ou não filhos
Legenda: * p < 0,05; ** p < 0,01; *** p < 0,001.
A tabela 4 indica que profissionais com filhos apresentam
significativamente maior escore de conflito no sentido família-trabalho
do que os que não possuem filhos (p<0,001). Também se identifica uma
diferença marginalmente significativa para a estratégia de esquiva, em
que os participantes sem filhos as utilizam com maior frequência. Ao
comparar CTF com o CFT, observa-se um nível mais elevado de conflito
no sentido trabalho-família com a amostra completa e também dividida.
As estratégias de coping mais utilizadas pela amostra geral foram
respectivamente controle, esquiva e manejo.
A tabela 5 apresenta os resultados separadamente por sexo dos
participantes.
Escalas Amostra Total (N=278) Possui filhos (N=186) Não possui filhos (N=92) pMédia ± DP Média ± DP Média ± DP Conflito Trabalho-Família 3,76 ± 1,12 3,71 ± 1,13 3,87 ± 1,11 0,246 Família-Trabalho 2,71 ± 1,27 2,89 ± 1,29 2,35 ± 1,13 <0,001 *** Coping Controle 3,78 ± 0,47 3,78 ± 0,47 3,79 ± 0,47 0,870 Esquiva 2,61 ± 0,57 2,56 ± 0,59 2,70 ± 0,53 0,052 Manejo 2,46 ± 0,60 2,43 ± 0,58 2,54 ± 0,62 0,146