História do Direito O Direito Romano 5) A família
A estrutura da família romana era patriarcal.
O chefe da família era chamado paterfamilias que tinha o poder supremo
perante sua família.
A razão desse poder provém da religião.
Na religião antiga (Grécia e Roma antiga), as pessoas cultuavam
antepassados mortos que eram reverenciados como deuses (eram verdadeiros deuses domésticos – cada família tinha seus próprios deuses).
Todos os familiares falecidos eram, a princípio, enterrados na propriedade.
As pessoas acreditavam que os seus espíritos guardavam e zelavam pela e pela família.
Os deuses que guardavam a casa eram chamados de deuses Lares.
Toda casa tinha um altar, no qual havia o fogo sagrado que nunca devia ser
apagado.
Era atribuição pessoal e exclusiva do paterfamilias zelar pela manutenção
do fogo sagrado, em honra aos deuses Lares (deuses familiares).
O paterfamilias era, dessa forma, um sacerdote.
O paterfamilias deveria dirigir o culto doméstico e tinha uma série de
obrigações. Dele dependia a felicidade e a proteção da família.
Havia a crença que se não houvesse o culto aos antepassados (dos deuses
lares) estes desapareceriam e a família ficaria desprotegida.
Cada família tinha seus deuses particulares que protegiam a casa, ou seja, o
local onde estavam enterrados.
Tamanha era a importância do culto familiar que a mulher, quando casava,
passava a residir na casa do marido e a adorar os deuses da família do marido, repudiando seus antigos deuses familiares.
Outro aspecto interessante que deriva dessa religião antiga é o surgimento
A necessidade de manter a propriedade se confundia com a necessidade de
perpetuar o culto aos antepassados mortos.
Os antepassados mortos (deuses familiares) eram enterrados na propriedade e ali deveria haver o permanente culto a suas memórias . Dessa forma, a propriedade deveria ser preservada como local sagrado.
Quando o paterfamilias morria, suas funções passavam ao filho homem
mais velho, que se tornava o novo chefe e assumia inclusive as obrigações de sacerdote.
Então, caso o paterfamilias não tivesse filho (homem), ou se este falecesse
antes dele, deveria adotar um filho (mesmo adulto) para sucedê-lo nas obrigações do culto doméstico.
Dessa forma, explica-se porque o paterfamilias tinha poder supremo sobre
sua família. Ele era sacerdote e tinha amplos poderes (conferido pelos deuses domésticos) sobre tudo e sobre todos.
6 - O Casamento Romano
O casamento do cidadão romano era baseado nas regras do Jus Civile. O casamento de cidadão romano era também chamado de justae nuptiae
(justas núpcias), ou matrimonium.
As justas núpcias podiam ser, basicamente:
Cum manu - (literalmente com a mão – significa, simbolicamente,
com o poder da família do marido): a mulher deixava sua família e ingressava na família do marido, passando a adotar os deuses da família do marido. O pai da noiva perdia a patria potestas (o pátrio poder), que era adquirido pelo paterfamilias de seu marido. Era como se sua antiga família, para ela, deixasse de existir.
Sine manu: a mulher não entrava para a família do marido, embora
fosse morar na casa do paterfamilias do marido, continuava ainda sob o pátrio poder de seu pai, mantendo seus deuses originários.
A noiva era como se fosse uma visita na nova casa. Contudo, essa modalidade de casamento que apareceu no final do período da República (510 a. C.- 27 d. C.), por ser mais simples, passou a ser mais adotada.
Os casamentos podiam ser, também, classificados quanto à forma de
solenidade:
Confarreatio : o casamento acontecia numa cerimônia religiosa e
solene, na presença de 10 testemunhas e os noivos comiam um bolo de cereais (farreus panis). Era o casamento próprio dos patrícios.
Coemptio : era o casamento privativo dos plebeus. Constituía-se
numa cerimônia na qual o noivo comprava simbolicamente a noiva, na presença do libripens (homem que portava uma balança). Esse ritual lembra o antigo costume no qual o homem realmente comprava a mulher, pagando ao pai da noiva certa quantidade de metal, daí a necessidade da balança para pesar os metais.
Usus : esse casamento só se tornava concreto, depois que o
marido convivesse com a mulher durante um ano ininterrupto. Após esse prazo o marido adquiria a manus (a mão, ou simbolicamente, o poder sobre a mulher). Durante esse primeiro ano, caso a mulher deixasse a casa do marido por três noites consecutivas, a manus (o poder do marido sobre a mulher) não se concretizava.
Os casamentos entre romanos e estrangeiros (peregrinos) ou entre
peregrinos era considerados sem conúbio (não tinham o jus conubii) - ou
matrimonium sine conubium ou matrimonium injustum (casamento fora do
direito civil, mas celebrados segundo as regras do Jus Gentium).
Chamava-se Concubinatum (concubinato) eram as uniões de fato entre
homem e mulher que coabitam sem serem casados.
No nosso direito civil, não se usa mais o termo concubinato (que tem
A união entre escravos era chamada de Contubernium.
6.1 - Esponsais (Sponsalia)
Era o compromisso assumido pelos paterfamilias dos noivos para o futuro
casamento de seus filhos.
Atualmente o noivado não tem consequências jurídicas, mas em Roma a sponsalia era garantida com uma quantia em moeda que revertia, em caso
de rompimento, para a parte que não lhe deu causa (a garantia chamava-se
arras sponsalicia).
6.2 - Requisitos do Casamento
Eram três os requisitos:
a puberdade : era fixada em 14 anos para o homem e 12 para as mulheres;
o consentimento : se os noivos fossem Sui Juris (plena capacidade), deviam expressar esse consentimento. Caso estivessem sob o poder do paterfamilias (patria potestas)- portanto, neste caso eram Alieni
Juris - o pater deveria expressar o consentimento;
Jus conubii - era impedimento para as justas núpcias (que, no
início, era direito apenas dos patrícios) os que não tinham direito ao casamento.
No início, não tinham esse direito os latinos, os peregrinos (estrangeiros) e os escravos. Contudo, diversas leis foram beneficiando os latinos e os estrangeiros. Somente os escravos nunca tiveram esse direito. 6.3 – Legitimações
Os filhos nascidos fora do casamento eram considerados ilegítimos.
A partir do Baixo Império, com o Imperador Constantino, caso os pais se
casassem após o nascimento de filhos, os filhos ilegítimos passaram a ser legitimados.
Outra forma de legitimação, era a chamada oblação à cúria. Se o filho
ilegítimo fosse nomeado decurião1, a pedido de seus pais ilegítimos, e passavam a recolher impostos para o Império Romano. Assim, eram legitimados.
Havia também outra maneira. O pai ilegítimo requeria ao Imperador que o
tornasse filho legítimo. 6.4 - Divórcio e repúdio
Divórcio é a dissolução completa da sociedade conjugal.
Não se confunde com a separação judicial (litigiosa ou consensual). Na
separação, permanece ainda o vínculo matrimonial, impedindo os interessados de se casar novamente.
1
Decurião era o segundo nível na hierarquia militar romana.
Cada decurião era responsável pelo controle de sua fileira em
uma centúria romana. A centúria era um quadrado de 10 x 10
soldados (ou seja, 100 soldados), sendo que no início de cada
fila o decurião era reponsável por organizar a sua fileira
dentro deste quadrado. O líder geral da centúria era o
centurião, que dava os comandos e ordenava que os soldados
entrassem em formações militares.
Os decuriões não tinham qualquer prestígio entre os
demais soldados, dormiam nas mesmas tendas e recebiam o
mesmo soldo. Igualmente não tinham qualquer símbolo de
status em sua vestimenta, ao contrário dos centuriões que
usavam capactes especiais e uma faixa para que fossem
reconhecidos.
No divórcio, desfaz-se o vínculo matrimonial, passando os cônjuges a ter
direito a contrair novas núpcias.
Em Roma, na fase do direito arcaico (anterior à Lei das XII Tábuas –
quando não havia direito escrito, mas somenteaquele baseado no costume e na religião), o divórcio era raro.
Era permitido AO MARIDO o repúdio da mulher adúltera, ébria contumaz
ou que provocasse aborto.
O repúdio (instituto não adotado no Brasil) era diferente do divórcio
porque era unilateral.
Então, em Roma o divórcio dependia da vontade de ambos os cônjuges,
caso um deles não desejasse era possível o repúdio (um só cônjuge desejava se separar).
O repúdio assemelhava-se ao atual divórcio litigioso.
Após o período clássico, o divorcio passou a ser muito comum em Roma.
7 - Adoção
Adoção (ADOPTIO) é o ato jurídico pelo qual alguém deixa sua família e ingressa em outra família.
Em Roma, era a forma utilizada pelo paterfamilias que não tinha filho homem para sucedê-lo.
Era importante que o paterfamilias tivesse um herdeiro homem, para houvesse continuidade ao culto familiar (culto aos antepassados mortos). O adotado deveria ser Alieni Juris, ou seja, deveria estar sob a patria
potestas (pátrio poder) de algum paterfamilias. Poderia inclusive ser
adulto. Com a adoção, o adotado passava ao pátrio poder do adotante, na mesma condição de filius.
A adoção era utilizada também por questões políticas. O Imperador Justiniano foi adotado pelo Imperador Justino e foi por ele indicado para ser seu sucessor.
Havia também o instituto da Ad-rogação (Adrogatione ou Arrogatione – em vários textos aparecem as duas grafias).
Ad-rogação é a adoção de alguém que é paterfamilias, portanto alguém que é Sui Juris.
Pela Ad-rogação, um paterfamilias ingressava na família de outro pater, na condição de filius, ficando sob sua patria potestas (pátrio poder), tornando-se Alieni Juris (trata-tornando-se de uma Capitis deminutio mínima – mudança na situação familiar, no Status Familiae).
Para a ad-rogação era necessário, além do consentimento do ad-rogado, a revelação do motivo da ad-rogação e a autorização do comício das cúrias. Na ad-rogação, todo o patrimônio, filhos e a mulher cum manu passavam a
ficar sob a patria potestas do ad-rogante (poder do pai que o adotou). Os interesses eram, quase sempre, patrimoniais (o ad-rogado visava à
herança do ad-rogante) e políticos (em geral sucedia o ad-rogante).
Com o tempo, também passou a ser possível ad-rogação por rescrito imperial (Lex ou Constituição) ou mediante testamento.
Júlio César (Cônsul e ditador Romano) ad-rogou (adotou) Augusto (o Príncipe) por testamento, transformando-o em seu herdeiro político.