• Nenhum resultado encontrado

HUENDSON VITORINO DA SILVA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "HUENDSON VITORINO DA SILVA"

Copied!
52
0
0

Texto

(1)

8

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO BACHARELADO EM HISTÓRIA

HUENDSON VITORINO DA SILVA

ESCOLA FÁBRICA DE ASAS: EDUCAÇÃO COMO FORMA DE

RESSOCIALIZAÇÃO?

RIO BRANCO 2011

(2)

9

HUENDSON VITORINO DA SILVA

ESCOLA FÁBRICA DE ASAS: EDUCAÇÃO COMO FORMA DE

RESSOCIALIZAÇÃO?

Monografia apresentada à coordenação do Curso de Bacharelado em História, como requisito final para obtenção do título de Bacharel em História, pela Universidade Federal do Acre – UFAC, sob a orientação do Profª. Geórgia Pereira Lima.

RIO BRANCO 2011

(3)

10

HUENDSON VITORINO DA SILVA

ESCOLA FÁBRICA DE ASAS: EDUCAÇÃO COMO FORMA DE

RESSOCIALIZAÇÃO?

FOLHA DE APROVAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em Historia da Universidade Federal do Acre como um requisito final para a obtenção do título de Bacharel em História. Aprovado em: ___/___/2011 Média: __________ BANCA EXAMINADORA: ______________________________________ _______________________________________

(4)

11 _______________________________________

AGRADECIMENTOS

À minha mãe Maria da Conceição Vitorino da Silva, pelo amor, orgulho e honra que sinto em ser seu filho. À minha irmã Elizandra Vitorino por cuidar da nossa mãe. À minha esposa Jaqueline Matos do Nascimento Vitorino, pela paciência e perseverança, minha filha Jasmin Vitorino, À Universidade Federal do Acre pela experiência de um convívio acadêmico e social fantástico.

Aos professores do curso de História, em especial a minha orientadora prof:Msc: Geórgia Pereira Lima, pela paciência e dedicação. Ao professor Dourado símbolo do curso de História Bacharel por não deixar o marxismo morrer. A grande profª. Dr: Maria José pelo seu brilhantismo, e tantos outros como Valdir Calixto, Eduardo Carneiro, Adão Galo um meteoro de sociologia que ajudou muito na escolha do meu tema.

Aos doutores Carlos Alberto, Gerson Albuquerque e Airton Rocha mostraram-me que existe varias maneiras de ser historiador. Aos colegas de curso e a sombra do ingazal que refrescou nossas tardes quentes e ao refúgio da salinha contra cultural.

(5)

12

RESUMO

A Escola Fábrica de Asas, localizada dentro do presidio Francisco de Oliveira Conde na cidade de Rio Branco AC, cuja população carcerária e a maior do Brasil em relação preso/habitantes, foi o objeto de análise deste estudo e a forma de educação e ressocialização questionada em seus âmbitos primários com projetos de alfabetização. A prisão torna-se uma espécie de organização social tardia aos direitos básicos de humanização garantidos na Constituição Federal, a Educação como adestramento ou esperanças de reintegração social.

ABSTRACT

The School Factory Wings, located inside the prison Francisco de Oliveira Conde in the city of Rio Branco AC, whose prison population and the largest in Brazil in relation stuck / inhabitants, was the object of study and analysis of this form of education and rehabilitation questioned on their primary fields with literacy projects. The prison becomes a kind of social organization later for humanization of basic rights guaranteed in the Constitution, education and training or hopes for social reintegration.

(6)

13

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...8

CAPÍTULO I : A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA...10

1.1– A cidade como espaço contraditório da urbanidade...10

1.2 Sentidos de uma educação ressocializadora ...

...15

CapítuloII

CULTURA CRIMINAL, REEDUCAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA EM CÁRCERE.26 2.1 Relações e sobrevivência em Cárcere.

...26

2.2 Educação e ressocialização de jovens e adultos ...35

Capítulo III

: A ESCOLA FÁBRICA DE ASAS: UMA RESSOCIALIZAÇÃO POSSÍVEL?..39

3.1 – Projetos de educação de jovens, cidadania e ressocialização...39

Considerações Finais ...49

Referências Bibliográficas...51

(7)

14

INTRODUÇÃO

Ao verificar a forma de como se aplica o processo de ressocialização no presídio Francisco de Oliveira Conde, observamos poucas formas de se ter resultados satisfatórios para o convívio pacífico destes sujeitos sociais em seu retorno à sociedade, que o tempo de pena ou período de cárcere não atende a proposta de ressocialização, não dar condições de uma nova vida para estes seres sociais .

Envolvidos neste processo caótico de sustentar o presídio sem uma finalidade objetiva de recuperação social surge uma esperança, a educação e um mundo novo abre-se diante dos olhos e outras perguntas e dúvidas surgem à pesquisa que nos leva a um mundo de possibilidades, com as leituras de especialistas no assunto como Michel Foucault, Louic Wankant, Adriana Eiko.

Além da análise da estrutura educacional de jovens e adultos, as tentativas da sociedade de vários anos de projeto de erradicação do analfabetismo, junto com uma estrutura de comunidade criminal que criou suas próprias regras de sobrevivência em um mundo de poder paralelo ao legal, as relações de poder em seus diversos aspectos de micro e macro relações.

O primeiro capítulo “criminalização da pobreza” trata do espaço da cidade de Rio Branco e uma prévia de sua construção e organização como espaço contraditório da urbanidade entre benefícios e exclusões sociais de onde vem a população carcerária e consecutivamente a maioria dos alunos da Escola Fábrica de Asas.

Esse capítulo se subdivide em sentidos de uma educação socializadora onde será exposta as vozes de juristas, de especialistas em presídios e principalmente Michel Foucault em seus livros: “Vigiar e Punir e Microfísica do Poder”, podemos pensar os ganhos e gastos e qual a função social das instituições.

Adriana Eiko em seu trabalho de psicologia de educação faz um retrato detalhado de como esta sociedade usa a educação e qual seus sentidos e significados para estrutura social. Alicerça os fundamentos da importância destes projetos educacionais para pessoas em cárcere.

(8)

15 No segundo capítulo Cultura Criminal, Educação e Sobrevivência em cárcere, traz um pouco a realidade e o ambiente onde a escola pesquisada está em volta ou melhor, dentro, a dificuldade de não tratar o objeto de estudo como uma escola de jovens e adultos fora do presídio pois o objetivo de ressocializar de reintegrar estas pessoas fica claro, principalmente no terceiro capítulo, onde trato os projetos elaborados para educação nos presídios o qual o Acre é pioneiro neste tipo de ação.

A sobrevivência em cárcere e a forma de conscientização dos apenados em querer sair do mundo da criminalidade, a estrutura do presidio e as dificuldades cotidianas deste processo de escolarização e a experiência de quem participou e participa desta jornada educacional pode ser constatada no segundo e terceiro capítulos com relatórios diários que vislumbram ou trazem uma visão de como é necessário ampliar esta relação escolar.

A evolução da escola e do atendimento escolar, juntamente com algumas transformações podem ser notadas nestes dez anos de existência, a experiência desta escola em tentar ressocializar mediante a educação, O ato da leitura é o principal foco deste trabalho, uma forma de pela educação podemos criar algo de novo em cada um, de tentar mudar as estruturas sociais, econômicas, jurídicas e politicas, além de despertar a força que o conhecimento pode trazer para a sociedade e seu caráter transformador.

(9)

16 CAPÍTULO I: A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA

1.1 A CIDADE COMO ESPAÇO CONTRADITÓRIO DA URBANIDADE.

governos e sociedade precisam ter a ousadia necessária para enfrentar realidades de exclusão e invisibilidade, sob pena de que o ideário constitucional de uma sociedade livre, justa e solidária se transforme num mero jogo de palavras.1 (UNESCO, 2006, p.07)

O crescimento desordenado das cidades, especificadamente as capitais brasileiras, tem proporcionado a formação de periferias ou favelas, nas quais é visível a ausência de políticas públicas contribuindo desta forma para o caos urbano, expresso entre outros, através dos graves índices de desemprego, analfabetismo, poder paralelo, crescimento do uso de entorpecentes entre criança, jovens e adultos e por fim o encarceramento social seja nas casa ou nas celas das prisões.

A falência ou incapacidade do Estado em assegurar plenamente os direitos básicos de educação, saúde e, particularmente, segurança previstos na Constituição Federal denota o descaso dos poderes públicos no que se refere aos segmentos populares que constituem os moradores das periferias urbanas. Este fato dificulta o estabelecimento de uma cultura de paz alicerçada em medidas de prevenção a violências de qualquer natureza.

Este assunto gera reflexões acerca da existência das “cidades da violência” e da evolução do processo penal, implica em críticas ao pacto social estabelecido. Neste sentido, Souza (2006 p.140) enfatiza que:

O espaço da cidade torna-se um espaço de varias disputas. Alguns mais pobres preferem pequenos furtos, outros preferem grandes assaltos. Certos ricos preferem roubar o patrimônio público. A polícia demonstra fragilidade no combate ao crime organizado. Grandes traficantes de drogas se aproveitam da situação de miséria e de desemprego de jovens da periferia, que caem em

1Educando para a liberdade: trajetória, debates e proposições de um projeto para a educação nas prisões brasileiras. – Brasília : UNESCO, Governo Japonês, Ministério da Educação, Ministério da Justiça, 2006. 70p.

1. Educação corregedora – Brasil 2. Prisão – Educação – Brasil I. UNESCO

(10)

17

suas mãos, para repassarem drogas a usuários. Os crimes acontecem em seguida. A violência torna-se parte constitutiva das cidades. [Grifos nossos]

Nesta afirmação, o historiador Carlos Alberto Alves de Souza nos remete às mais diversas formas da criminalidade urbana e os arranjos que a situação de miséria provoca na periferia da cidade. Contudo, ainda é preciso compreender o contexto histórico-social dessa questão, particularmente, na cidade de Rio Branco – Acre a partir da década de 1970 em razão do conflito agrário acreano responsável pela expropriação e expulsão de centenas de famílias de seringueiros e a constituição de bairros periféricos na cidade. Como Rocha (2006) evidencia.

o inicio da década de 70 pode ser considerado o marco inicial da constituição dos bairros periféricos da cidade de Rio Branco... evidenciam também que foi principalmente a partir de 1972 ou 1973, que os bairros periféricos começaram a ser constituídos, períodos que correspondem ao inicio da venda dos seringais para grupos empresarias do centro sul do pais.

Importante considerar que essa crise urbana vincula-se à expansão da fronteira capitalista na Amazônia e consequente implementação da política desenvolvimentista pelos governos regionais. No entanto, convém assinalar que em centros urbanos da Europa Ocidental também as mazelas sociais estão associadas à existência de uma ordem social excludente. Mazower (2001, p.336), destaca que:

Com crescimento da pobreza e do abismo entre empregados e desempregados, as populações carcerárias também aumentaram – de forma irregular, porém persistente – em toda a Europa Ocidental. Não é preciso acatar o argumento dos criminalistas marxistas – de que o capitalismo usa a prisão como meio de disciplinar o trabalho e manter a ordem pública – para ver possíveis relações entre problemas sociais e uma volta à política linha-dura de lei e ordem. Como sempre, os pobres corriam maior risco de ser presos.

Ao pensar nas formas de exclusões sociais e divisões de classes em uma ordem de políticas públicas, a evolução no processo penal, o aumento de gastos em prisões, em medidas preventivas e na segurança em geral permite dialogar sobre qual o papel da

(11)

18 segurança em uma sociedade dividida e subdividida em classes, de possuidores e despossuídos que interagem mutuamente e tem seus direitos igualitários perante a lei.

Assim, acreditamos que todos os seres desejam um mundo melhor, procurando soluções para problemas, principalmente, os sociais, é que o papel da educação também é gerar argumentos que propiciem este debate de visões de um futuro melhor. Esta maneira de apresentar o futuro induz a sociedade a lidar com os problemas do presente de forma maquiada enquanto estão ecoando em silencio, se tornam portadores de uma invisibilidade inquietante que a sociedade classista ignora o grito surdo dos encarcerados por uma educação de qualidade e igualdade de possibilidades.

A partir da experiência profissional na área de segurança e dos estudos desenvolvidos no decorrer desta pesquisa, que se propõem a apresentar as alternativas quanto à atuação do Estado no que tange a violência urbana, porquanto destacamos estudos em diversas áreas do conhecimento humano, a implementação de projetos de valorização do trabalho dos educadores e profissionais que atuam no campo da segurança pública, bem como o desenvolvimento de projetos educativos nos presídios, além do diálogo entre a sociedade e os representantes dos poderes constituídos, especialmente as autoridades dos poderes executivo e judiciário.

Entre várias entrevistas e relatos pesquisados sobre o tema, alguns são bem esperançosos e cheios de projetos, outros não vêem saída para a problemática prisão e ressocialização, em quase todos discursos refletem que a educação e de fundamental importância para tentativa de ressocialização.

A entrevista do desembargador, Arquilau de Castro Melo, publicado no site “Notícias da Hora”, é um exemplo deste diálogo. Nessa entrevista o desembargador descreve uma visão acerca do sócio penal, diz:

Os presídios são superlotados. Os presídios são fábricas de bandidos. Não visam a recuperação; não há uma política de introdução do condenado em uma vida normal; se faz um amontoado de presos e o sujeito reage a esse tratamento que ele recebe do poder público. O camarada não tem mais nada, com quem contar e então parte para o tudo ou nada. Não há expectativa para ele [o preso]. Não tem expectativa nem para os que estão fora.

O depoimento acima assinala o nível de desânimo do representante do poder judiciário, no que se trata das políticas de ressocialização e o processo de inclusão

(12)

19 social, principalmente as condições disto ocorrer nos presídios e culpa o poder público de ser o principal gerador da violência e a falta de esperança em um futuro.

No decorrer da pesquisa, mostramos que os presídios são uma parte da sociedade e as transformações e organização desta reflete nas formas de punições.

Em outro enfoque acerca das desigualdades sociais para o desembargador se constituem a fonte geradora da violência alardeada na mídia nacional, com destaque para as grandes capitais:

Nós criamos verdadeiras cobras todos os dias. Na periferia monstros são alimentados pela ausência do poder público. Nós temos uma sociedade altamente discriminatória e altamente injusta. Eu acho que diante de tanta miséria, a violência e pouca. Deviam [os excluídos] tomar as coisas da gente na rua porque a fome que assola este Pais e esse Acre é coisa absurda. Então se isso acontecer de tomar as nossas coisas, é pouco para as injustiças da sociedade, isso é pouco.

O presídio Francisco de Oliveira Conde, localizado na cidade de Rio Branco, foi construído em 1983. Nessa época, a capital acreana passou por um processo de crescimento desordenado que culminou com a formação de um “cinturão de miséria” no seu entorno.

A formação da cidade de Rio Branco conforme o historiador Aírton Chaves da Rocha em sua tese “A reinvenção e representação do seringueiro na cidade de Rio Branco- AC” analisa que a partir dos anos 1971-1996 ocorreram profundas transformações no espaço urbano da capital acreana e ressalta: Rocha (2006)

O jornal o varadouro registraram que em setembro de 1977 que o seringal tinha mudado para a cidade de Rio Branco, estava percebendo as profundas alterações que efetivavam no solo urbano da capital com a chegada de milhares de famílias de seringueiros a cidade... , que não havia ate o inicio da década de 70 “as expressões, cortiço, favela, periferia eram praticamente desconhecidos e alheios ao vocabulário dos acreanos’”. (Rocha, 2006. p49)

Partindo deste estudo podemos perceber o inicio da formação dos chamados bairros periféricos da cidade de Rio Branco, Acre. Estes foram sendo criados de forma espontaneamente e, sem planejamento urbanístico. Esses locais se constituíram sem as condições necessárias para o desenvolvimento da cidadania. Nesse sentido, nos permite perceber a exclusão ou afastamento das grandes massas populares para longe dos centros comerciais, em que os investimentos públicos são maiores, isso implica que o

(13)

20 Estado pode gerar espaços desiguais. Dividindo ou construindo espaços diferenciados, gerando contradições em áreas com grande valor comercial e bairros abandonados

O processo histórico e cultural da criação destes novos espaços desconhecidos do povo acreano, primeiro o progresso desenvolvimentista dos centros urbanos, exclui uma parte da população, geralmente os mais pobres para as periferias, invasões e becos, uma vez que certa parcela destes moradores, os que cometeram crimes irão para os presídios onde a maioria destes não tem formação escolar fundamental.

Assim as periferias, as favelas e os guetos podem representar uma espécie de assepsia local, em que homens e mulheres foram expurgados para áreas onde serão esquecidos, escondidos da urbanização dos grandes centros. Em outras proporções podemos dizer que as periferias, as invasões e os becos da cidade de Rio Branco até a década de 1990 também são representantes desses espaços de exclusão e por fim, os presídios fazem parte deste contexto de exclusão social sob forma legal de excluir e reintegrar na sociedade seres sociais docializados2 pelo processo penitenciário.

Os benefícios públicos presentes imediatamente nas zonas de risco será na área de segurança pública com viaturas e serviços de emergências quando acionados pelo CIOSP – Centro Integrado de Segurança Pública conhecido também sob o código de 190.

O CIOSP tornar-se uma das formas de ação do Estado e aqueles espaços de moradia, mas principalmente, o elo entre a periferia e o Estado tanto na perspectiva de segurança preventiva como coercitiva. Contudo, a maior dificuldade no exercício de seu trabalho é a falta de pavimentação e iluminação pública. Um caos, encontrado em cada ocorrência policial que demostra o descaso ou ausência do poder publico em atendimento a essas populações em risco social e ainda, evidencia as condições sociais que se encontram as pessoas que moram nas vielas, becos e trapiches desta cidade, vítimas da violência, abandono e marginalização.

(14)

21 Ao agir desta forma, o Estado contribui para a marginalização de largas parcelas da população. Mais do que a pobreza material, o descaso do poder público gera abandono e violência. Assim o aumento da população carcerária também torna-se parte “constitutiva das cidades”, conforme expôs Carlos Alberto (2006 ).

Portanto, podemos dizer que é a partir desse abandono e violência geradores da marginalização social que podemos expor o outro lado deste caótico quadro público, a unidade Presídio Francisco de Oliveira Conde, especificadamente, no campo prisional e de ressocialização, o que nos remete a questão da educação destinada aos presidiários.

1.2 SENTIDOS DE UMA EDUCAÇÃO RESSOCIALIZADORA

Em nossa pesquisa acerca da educação nos presídios temos uma obra de mestrado em psicologia da educação “sentidos e significados sobre educação no sistema prisional: o olhar de um preso-aluno, ” que trabalha a estrutura acadêmica e psicológica de um preso-aluno que nos possibilitou compreender as estruturas de um mundo paralelo formado nas cidades e estendido nos presídios.

Neste mesmo viés prisional a obra “punir os pobres ” permitiu entender o sentido de como punir os pobres. Neste trabalho a questão explicita a relação guetos e cárcere e o aumento da taxa dos moradores aos presídios. Neste sentindo no que se refere a formação das cidade cita Vera Malagui Batista “Lado a Lado com a desfiguração, mutilação e aniquilamento das garantias sociais e trabalhistas vai-se delineando a política de “contenção repressiva” dos pobres. As taxas de encarceramento sobem rapidamente.” (apud 2001, p.10)

No Acre o número de presos em 1999 era em média 340 pessoas. Este número aumentou cerca de 927% em uma década, conforme dados oficiais do INFOPEN (informações penitenciarias de 1999 a 2009). Ao analisarmos este crescimento na comunidade carcerária várias são as argumentações que surgem juntamente com os estudos desses sujeitos sociais nos remetem a História social.

Seguindo perspectiva apresentada por Vera Malagui, ao relacionar o que é chamando de submundo criminal, com a realidade cotidiana da cidade e bairros periféricos de Rio Branco para saber, especificamente, quem são de onde vem estes

(15)

22 homens? A relação bairros e presídios como se fosse uma extensão da periferia? O termino do ciclo da criminalização da pobreza, com a punição e o cárcere. O Estado de direito agora tem a chance de oferecer para estes infratores, “cidadania”, mediante a educação e ressocialização para voltarem as ruelas, becos e trapiches . Um paradoxo desta comunidade penal.

Assim, o interesse da pesquisa na Unidade Prisional Francisco De Oliveira Conde, especificamente, da escolaridade destes egressos. Tomaremos por base a partir de 2006 a 2010, quando a taxa de analfabetos em 2006 era de 15,5%, de alfabetizados esta média era de 20% no mesmo ano. No ano de 2009 o índice de escolaridade desta população carcerária tinha uma media de 73% que não concluíram o Ensino Fundamental. Medidas de interversão para a escolarização e alfabetização de adultos nos presídios é uma forma de ressocialização?

Nesse sentido a análise da Escola Fabrica de Asas e possível acompanhar certa de uma década de experiência de educação prisional, de uma proposta de escolarização entre os anos de 2001 a 2010, e compreender como esta escola estruturou-se. Este desafio do cotidiano prisional no processo de aprendizagem e de valorização da vida. Construir uma cultura de paz mediante a educação.

O combate a criminalidade pode ser obtido de varias formas, é importante refletir que as cadeias fazem parte de um processo político histórico-social e não apenas criminal punitivo. Um estudo que possibilita indagações sobre o papel dos intelectuais na sociedade, na educação, dos direitos básicos necessários para um bom convívio social envolve uma discussão sobre vários conceitos, inclusive, o de liberdade, igualdade e fraternidade.

O Ensino Fundamental é de importância primordial para que os sujeitos sociais privados de liberdade ao sair de suas punições legais, tenham igualdade de condições de acesso ao mercado de trabalho, cada vez mais difícil. Entre tantos desafios sociais podemos relacionar a utilização desta mão de obra, desqualificada para o exigente mercado competitivo do mundo do trabalho. Tendo em vista que 73%3

(16)

23 destes, não possuem nível básico de escolaridade, exigido para qualquer função ou atividade remunerada pública.

Considerando que a educação tornou-se, entre outros um processo de capacitação para o mercado de trabalho, uma venda da mão de obra qualificada e especializada, de uma sociedade altamente discriminatória e concorrencial, o ambiente escolar não foge desta regra capitalista, conforme analisa Duarte (2001)

No surgimento da sociedade capitalista a educação escolar institucionalizou-se, passando a uma forma socialmente dominante de educação. A vida cotidiana na referida sociedade tornou-se mais complexa, exigindo uma aprendizagem mais ampla do que aquela que o grupo familiar poderia oferecer. O homem particular começou a precisar de certas capacidades mínimas para atuar na heterogeneidade das esferas que passaram a compor o cotidiano social e educar para o trabalho passou a ser a essência das propostas educativas mais pragmáticas.

Diante disso, se pode dizer que as prisões tornaram-se um processo de adestramento4 e adequação dos apenados a lei e ordem do mundo capitalista, no qual o processo tardio de escolarização ajudar a manter o controle do corpo social atendendo o interesse de políticas neoliberais.

Ao analisar o processo de educação ou escolarização de Jovens e Adultos dentro e fora da unidade prisional Francisco de Oliveira Conde foi possível qualificá-lo de tardio, isso porque a educação é um direito garantindo a todas as crianças e adolescentes no Brasil.

Dessa forma a Educação Fundamental gratuita e obrigatória, nos permite analisar este assunto sem esquecer que este sistema falhou, descumprindo as próprias leis do Estado Brasileiro. Isto fica patente quando analisamos a faixa etária de entrada na unidade penitenciária que apresenta um nível de 73% dos presidiários maiores de 18 anos, são analfabetos ou semi-analfabetos. Porquanto, isso implica dizer que o direito obrigatório do direito a Educação a criança e ao adolescente sob responsabilidade do Estado, da sociedade e da família, em todos os níveis falharam na aplicação do direito a cidadania a estes sujeitos sociais em sua infância e adolescência.

(17)

24 Assim, o Estado não cumpriu o seu papel de promotor dos direitos do cidadão na Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Contudo o que intriga é que não existe pena prescrita para este crime de descaso dos poderes ou representantes público com a obrigação de assegurar plenamente direitos básicos como à permanência das crianças na escola e acompanhamento destes, ou um estudo integral para menores em área de risco. Adriana Eiko em sua dissertação sobre psicologia da educação nos esclarece que:

a educação como um direito social, caracterizado pelos limites da emancipação política e da noção de cidadania, temos na educação de jovens e adultos uma forma tardia de garantir o acesso a um direito que fora negado durante o processo de humanização dos indivíduos não escolarizados

5

A cadeia, como última instância do direito a educação, se torna o espaço para reeducação em tempo integral. Desta forma, a escola básica negada a crianças e aos adolescentes, transfere seu papel para as unidades prisionais . Qual o papel de uma escola de modalidade EJA dentro de um presídio? Sobressai questionamentos sobre a importância da educação para a vida.

Em um processo histórico-social que permita refletir sobre o papel da educação em espaços prisionais, um estudo com um debate aberto para sociedade, principalmente acadêmica, do seu papel social primordial na estrutura e formação de uma sociedade de sujeitos sociais pensantes. Reconhecemos que um trabalho monográfico longe de ser resultado de uma pesquisa de fôlego para dar conta de uma situação importantíssima do que chamamos de bem estar do corpo social6, tanto quanto o problema da educação e o ato de ressocialização.

Neste sentindo, compreender grande parcela dos apenados do Complexo Penitenciário Francisco de Oliveira Conde, como criminosos sem escolaridade, de

5Eiko Adriana sentidos e significados sobre educação no sistema prisional: o olhar de um preso-aluno.

6Corpos Dóceis termo utilizado por Michel Foucault para explicar a função da penas na sociedade moderna, que agora buscar reintegrar os indivíduos na sociedade.

(18)

25 cerca de 73% não completaram o Ensino Fundamental obrigatório. Assim as prisões da alma e das condições sociais do capitalismo dividido em classes homens e mulheres, criam outras formas de resistência e organização social tais como: o trafico de drogas , prostituição, assaltos e uma comunidade criminal e suas regras de condutas morais, éticas e de sobrevivência dentro e fora dos presídios, nas periferias e nas zonas de conflito. Entre várias regras e formas de aprisionamento e exploração dentro de um contexto desta sociedade criminal reformulada, na tentativa de manter corpos dóceis no sistema social.

Esta forma, pensar o presídio como uma comunidade ou extensão da periferia numa sociedade criminal que se forma dentro e fora do aparelho estatal opressor ou com ajuda do mesmo, seria uma forma de relaciona um fazer7 social dentro de uma cultura criminal. Podemos perceber como o Estado utiliza varias maneiras para tentar ter controle ou adestramento do corpo social, que serve muito mais para as pessoas que temem os criminosos e obedecem as leis, de forma que em buscar de uma solução para a criminalidade deste desenfreado sistema capitalista que vive agonizado, sustentado pela exploração e fetichismos de um futuro melhor.

Assim, a utilização do medo e da segurança como plataforma política, seguido da educação e saúde entre outros discursos cada vez mais apreciados pelos palanques nacionais atendendo um apelo da população. Em um trabalho na área jurídica encontramos na introdução a importância da cultura do medo e formação de um estado penal, principalmente para as classes possuidoras de bens e privilégios estendendo-se a todos da sociedade. Nerinhg(2004,P.10)

Ninguém agüenta mais viver sob o constante medo de uma hora ou outra, ser assaltado, estuprado ou morto. Ninguém agüenta mais ter que se trancar em uma casa, cheia de travas, cadeados alarmes e mesmo assim saber que se um bandido quiser poderá entrar e roubar tudo o que demorou anos para conseguir, matar a sua família e ainda assim sair ileso, planejando seu próximo golpe, sem o menor receio de que algum dia será pego, processado

7 Utilizo o termo fazer social partido do conceito utilizado por Aírton Chaves da Rocha em sua tese a reinvenção e representação do serigueiro na cidade de rio branco, que menciona que a construção social é um processo ativo onde a ação humana tem relevância significativa na constituição das estruturas sociais. No presidio este fazer-se social torna-se uma relação de adestramento e resistência.

(19)

26

dentro dos preceitos do devido processo legal e então finalmente cumprir a sua pena, tão aclamada pela sociedade.8

Uma forma de controle das políticas de contenção da pobreza e miséria, uma substituição da política do bem estar social para política penal, a criminalização da pobreza e combate aos pobres, mediante o medo. Medo produzido historicamente utilizando a violência, a delinqüência e a relação desta com os preceitos legais em uma forma de punir mais a mente que o corpo, de domesticar mais que de socializar, utilizando um termo do Exército e bem explorado por Michel Foucault o adestramento9 dos corpos, uma maneira de “amansar” e enquadrar as regras sociais de consumo, a educação também tem um papel importante nesta formação histórica social, discursos como este do Bacharel de direito para exploração do medo, relatando o perigo dos delinqüentes reflete sua função social diferenciada a partir do séc XIX .

Se existe um clamor da sociedade em punir e expurgar este câncer monstros caídos do pacto social, o perigo destes seres em livre convívio com pessoas de ‘bem’, em contrapartida aumenta a força do Estado repressivo gerando o olhar especifico de controle e punição generalizada com garantias de investimentos públicos.

Um exemplo dessa utilização de verba pública pode ser visto no sistema de vigilância de câmeras implantadas na capital da cidade do Acre, na área comercial, monitorando os portões dos bancos vinte e quatro horas, que muitas vezes beneficiam apenas alguns grupos particulares e os setores empresariais.

O jogo político nas estruturas de poder, as relações sociais construídas dia a dia, assim o discurso da ressocialização, a utilização da educação como fonte e aperfeiçoamento técnico ou primário para o mercado de trabalho, se evidencia no

8A importância do estudo das causas do crime e uma critica ao sistema penal brasileiro, mariana nerinhg belo, p10

9Termo utilizado para ensinar cães a se comportarem e aprender alguns truques como sentar, rolar e ficar quietos.

(20)

27 controle da sociedade tanto “delinqüente” como a considerada livre, a punição generalizada.10

Instituições dentro da esfera político – econômica demonstra a maneira que o presídio Francisco de oliveira conde e a sociedade acreana se enquadram ou tentar se molda mediante políticas publicas no desenvolvimento da sociedade penal um enquadramento da forma evolutiva do capitalismo com a modernidade e suas mazelas sociais, as formas de resistência, de um sistema que aproveita sua própria fragilidade para reproduzi-se. Foucault ( pg78 )

Sem delinqüência não há policia. O que torna a presença policial, o controle policial tolerável pela população se não o medo do delinqüente? Você fala de um ganho prodigioso. Esta instituição tão recente e tão pesada que é a policia não se justifica senão por isto. Aceitamos entre nós esta gente de uniforme, armada enquanto nós não temos o direito de o estar, que nos pede documentos, que vem rondar nossas portas. Como isso seria aceitável se não houvesse os delinqüentes? Ou se não houvesse, todos os dias, nos jornais, artigos onde se conta o quão numerosos e perigosos são os delinqüentes?11

A forma educacional como um apelo e ao mesmo tempo uma sentença ao discurso de reeducar visa aprimorar esses sujeitos para um o mercado de trabalho, que talvez não absorverá, um conjunto de valores com apoio da iniciativa privada, um resgate ao sistema de reserva de força de trabalho agora com os problemas da sociedade atual, da sociedade da vigilância. Conforme Michel Foucault, expõe em entrevista para revista Magazine Littéraire: publicado no livro Microfísica do Poder no capitulo intitulado: sobre as prisões.

M.L*12: Você diz que os delinqüentes são úteis, mas não se pode pensar que a delinqüência faz parte mais da natureza das coisas do que da necessidade político−econômica? Porque se poderia pensar que, para uma sociedade industrial, a delinqüência é uma mão−de−obra menos rentável que a mão−de−obra operária.

10Termo utilizado por Michel Foucault para explicar a formação da vigilância constante das instituições como presídios, escolas militares, mosteiros e outras instituições.

11Michel Foucault, Microfísica do Poder 12Magazine Littéraire

(21)

28 A esta pergunta Michel Foucault faz uma analise e traz para o campo do conhecimento as vozes dissonantes da sociedade do pensamento burguês no séc XIX. Fazendo refletir a relação direta entre a ordem social e delinqüência.

Michel Foucault: Por volta dos anos 1840 o desemprego e o sub−emprego são uma das condições da economia. Havia mão−de−obra para dar e vender. Mas pensar que a delinqüência faz parte da ordem das coisas também faz parte, sem dúvida da inteligência cínica do pensamento burguês do século XIX. Seria preciso ser tão ingênuo quanto Baudelaire para imaginar que a burguesia é tola e pudica. Ela é inteligente e cínica. Basta apenas ler o que ela dizia de si mesma e, ainda melhor, o que dizia dos outros. A sociedade sem delinqüência foi um sonho do século XVIII que depois acabou. A delinqüência era por demais útil para que se pudesse sonhar com algo tão tolo e perigoso como uma sociedade sem delinqüência.13

A relação ou interação da penitenciaria com as demais instituições, como as escolas, no caso a Escola Fábrica de Asas faz parte do complexo educacional acreano, sendo dentro do presídio atende atendendo exclusivamente os apenados, juntamente com projetos de qualificação profissional, podemos chama-los de projetos de ressocialização ou de apenas uma segunda chance do Estado de direito cumpri suas leis e socializar grupos sociais em um antagonismo, punição e adequação ao estilo de vida proletário.

A valorização da segurança pública, o aumento da população carcerária, a ressocialização, são alguns temas que vem sendo discutidos no Estado do Acre, Inclui a formação das periferias neste processo de inchamento do presídio Francisco de Oliveira Conde e do descaso com varias outras áreas sociais reflete a ressocialização como uma busca tardia para resolver problemas sociais através da Educação de Jovens e Adultos sendo o principal projeto educacional, com seus módulos e programas de alfabetização chegando o sistema ou o controle do governo no presídio.

Quando analisamos a construção histórica desta escola como um projeto de um secretario de educação que se torna governador conforme relata Roseli Alves em seu artigo:

(22)

29

“A Escola Fábrica de Asas localiza-se dentro da Unidade Penitenciária Dr. Francisco d’Oliveira Conde (UP-FOC). Foi criada em 2001, a partir de um projeto de Arnóbio Marques, então Secretário de Educação do Estado do Acre, em parceria com alguns promotores da Vara de Execuções Penais. Essa equipe julgou importante e necessária a implantação de uma escola, para Jovens e Adultos, capaz de contribuir na recuperação social dos cidadãos privados de liberdade, onde fossem trabalhados os conteúdos que são ensinados nas escolas de todo o Estado, acrescentando-se à grade curricular temas que abordem valores éticos, morais e sociais.”14

O discurso do secretario de educação junto com a Vara de Execuções Penais demonstra que a criação da escola em sua origem traz o processo ou a tentativa de ressocializar com a educação. Trazendo valores morais em sua grade curricular a reeducação as técnicas de reabilitação de um grupo social que devera ser corrigido e utilizado economicamente o projeto penitenciário de educação nestes dez anos de realização com a experiência da Escola Fabrica de Asas, partindo de uma observação e estudo de teóricos e ações que serão apresentadas no decorrer desta monografia como seminários, palestras, e a dinâmica da formação do processo de aprendizagem e organização, digamos diferenciada das outras escolas de jovens e adultos. As peculiaridades de uma educação em área de risco de grupos social excluídos em uma sociedade que tomo a liberdade de chamar de criminal.

Um fato que fica bem claro neste estudo, a necessidade de analise do processo de educação e no que isso implica na sociedade, a esperança deste novo processo punitivo se bem mais eficaz na idéia de reintegração social e algo a se observado nas experiências obtidas em vários lugares e no Francisco de oliveira Conde este processo já pode ser considerado um bom laboratório para analises acadêmicas em entrevista a jornais locais o desembargador Ciro facundo de Almeida expõem um pequeno histórico das formas de punições utilizadas.

A busca por uma forma de recuperação correta é antiga. Historicamente, as punições a condenados se iniciaram com as masmorras, passando pelo degredo, pelas cadeias publicas e mais recentemente pela criação das penitenciarias agrícolas ”Nada disso deu certo. Talvez esteja na educação uma forma de diminuirmos os custos com os presos e de fato fazermos cumprir a ressocialização do condenado”.

(23)

30 A relação custo-benefício fica bem exposta neste discurso de um estudioso do sistema prisional. Ciro facundo que já foi secretario de segurança e juiz de direito demonstra ficar estarrecido com o aumento do índice de encarcerados no estado e dar exemplos de sua experiência no interior.

“quando fui juiz em Cruzeiro do sul, pouco mais de uma década atrás, o número de presos era de 20 pessoas. A penitenciaria vivia inclusive de portões abertos. Hoje temos informações de que em Cruzeiro do Sul há ações de narcotráfico, do crime organizado e de mais de duas centenas de presos”. Esta claro para nos que o sistema não ressocializa ninguém.”

Aesperança no projeto de educação e ressocialização é alvo de entusiasmo para o desembargador que como no discurso anterior do desembargador Arquilau não encontra muita esperança para o sistema de recuperação dos infratores, podemos notar o interesse e a relação destes seres sociais privados de liberdade com a educação e retorno a vida profissional ativa, fica bem esclarecido nos argumentos de Ciro Facundo qual a intenção da pena e reforça a pesquisa quanto aos números de analfabetos e semi-analfabetos nos presídios acreanos Ciro diz:

“ser for analfabeto, como são 36% da população carcerária do Acre, vai ser lotado num programa de alfabetização de adultos. Na população carcerária acreana verifica-se também que cerca de 40% dos presos estudaram até a antiga quarta serie do ensino fundamental.” O preso pode voltar a estudar a partir daí. Se tiver um bom aproveitamento, será automaticamente absorvido por um programa de ensino profissionalizante e pode, ao final de sua pena, sair com uma profissão, como a de motorista, inclusive com a habilitação”. Disse o desembargador .”É isso faz esse programa interessante.’

Desta forma, partindo do conceito do Homo eeconomicus é possível alcançar os objetivos desta forma de educação e a idéia de ressocialização se apresenta como um sistema imposto para reintegrar os indivíduos. A função do presídio no contexto da modernidade não é punir. É corrigir, adestrar. Foucault (2000, p. 101) ao analisar os presídios ressalta a condição do Homo eeconomicus reconstruído nos presídios ao destacar que:

(24)

31

Reconstrução do Homo eeconomicus, que exclui a utilização de penas muito breves _o que impediria a aquisição das técnicas e do gosto pelo trabalho, ou definitiva- o que tornaria inútil qualquer aprendizagem...

A duração da pena só tem sentido em relação a uma possível correção, e a uma utilização econômica dos criminosos corrigidos.

Percebemos que a idéia de educação esta ligada diretamente a utilização da mão de obra dos apenados e que a idade destes criminosos em sua maioria e de jovens em idade ativa para o trabalho trazendo prejuízos. Pois poderiam estar servindo de mão de obra para grandes empresários. Com essa idéia surge o PROJOVEM. Nas entrevistas e enunciados dos projetos educacionais em caráter nacional deixa evidente o publico alvo deste programa jovens de 18 a 29 anos. Informações do portal da juventude governo federal.

Jovens entre 18 e 29 anos que cumprem pena no rio de janeiro e Acre tiveram nesta segunda feira (3) a primeira aula do curso que vai possibilitar a eles a conclusão do ensino fundamental. O programa Projovem urbano, que já funcionava em todo o Brasil, vai atender 260 jovens na fase inicial de implantação nas unidades prisionais. Alem do aumento da escolaridade, os jovens serão beneficiados com qualificação inicial para o mercado de trabalho...dos 260 jovens que serão atendidos inicialmente 200 estão detidos no presídio Milton Dias Moreira e na Cadeia Publica João da silva, em Japeri, no Rio de janeiro. Os outros 60 beneficiados estão detidos no Complexo penitenciário Francisco de oliveira Conde, em rio branco, Acre... o Brasil tem 440 mil detentos em 1.134 prisões. Desses, mais de 280 mil, o equivalente a quase 70%, são jovens entre 18 e 29 anos que não completaram o ensino fundamental, incluindo cerca de 10% analfabetos.

Portanto fica evidente que esta educação de jovens e adultos encarcerados e um problema nacional e que o Acre esta sendo pioneiro nestas tentativas de educação e ressocialização uma nova historia das prisões pode estar ser formando e novas pesquisas, projetos e esperanças surgiram desta experiencia, uma analise histórica e social desta situação e de fundamental importância para obter questionamentos e reformulações de suas praticas.

(25)

32 CAPÍTULO II: CULTURA CRIMINAL, REEDUCAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA EM CÁRCERE

2.1 – RELAÇÕES E SOBREVIVÊNCIA EM CÁRCERE.

As relações de poder exercida na penitenciaria Francisco de Oliveira Conde, como na maioria dos presídios, tem suas próprias regras de condutas morais e de sobrevivência que foge do controle da nornas e técnicas do Direito Penal, Direitos Humanos, etc, e aquelas exercidas pelos dos agentes penitenciários,. O poder paralelo permite percebe-se a existência de uma sociedade carcerária com conceitos e regras próprias típicas, que circula entre os pavilhões. Esse poder se estabelece de diversas formas, podendo ser tipificado: variações do tipo de crime, laços de parentescos e de procedência criminal (localidades como bairros), parecendo uma extensão da periferia, dos guetos, das zonas urbanas abandonadas pelos setores públicos.

Durante a pesquisa foi possível se perceber que no Presidio FOC a existência de uma linguagem própria, coercitiva que podem ser entendida como uma forma de domínio e poder de lideranças presidiárias que ditam modos de comportamento no cotidiano criando normas próprias, conhecida como “leis da prisão”.

Isso implica pensar as relações internas estabelecendo uma ordem disciplinar que se tornar mais importante para os presos do que mesmo os castigos ou as sanções disciplinares como corretivos ou regulamentos diferenciados. Este ambiente intrigante onde o jogo do poder e os constantes interesses é gerador de uma zona de conflito.

Sob essa ótica a sobrevivência se torna o ponto fundamental e esta encontra-se intrinsecamente ligada a ordem do poder de lideranças prisionais. Assim, a maioria dos internados recorrem a proteção de grupos, embora se apresentem em algumas rivalidades, possível de serem identificadas em: vários tipos de intrigas do mundo do crime, na violência permitida e contida dentro das prisões, nos instantes de banho de sol, nas disputas entre grupos e divisões sociais entre celas e com grupos, são exemplos de domínio e poder produzidos dentro da Unidade Prisional em estudo.

(26)

33 Contudo, não podemos deixar de perceber a existência de outros fatores que representam outras ordens de dominação, mas, criam grupos de ordens descordantes presentes em varias situações como: evangélicos, assaltantes, traficantes, homicidas, Cagüetas e ainda as divisões de faixa etária, a exemplo a ‘cela dos coroas’15 etc.

Porquanto, é neste universo multifacetado que se dar o processo de reeducação do reeducando, encarcerado para o acerto de contas tanto com a sociedade que pretende ressocializa-lo e, como a sociedade criminal ou mundo do crime que ao tecer suas regras em um poder paralelo e cada vez mais potente dentro do presídio.

Nos mostra que a existência de um circuito de ações e valores que circulando de fora para dentro e de dentro para fora do presidio, revela uma relação intra-extra muros prisionais como um rodízio de valores que ora esta, sob o domínio do estado, relacionando socialmente como presidiário no interior da prisão, ora esses valores se encontram livres, em uma extensão desta sociedade do crime para a sociedade que se diz livre legalmente.

As regras de condutas e pacto social relativo à “substituição da sociedade da providencia pela sociedade policial” (Loic Wacquant,2003 ) uma sociedade do medo e da vigilância constante tanto dos infratores das leis como dos não infratores um controle hermético estatal das atitudes e sistemas de valores sociais pré-estabelecidos.

Um dado, no minimo curioso nos chama atenção, o crescimento da população carcerária do Estado do Acre tornando por base a estatística oficial o presídio Francisco de Oliveira Conde é o segundo maior dos pais, se comparando os dados por habitantes (colocar os dados). Vejamos em 2009 a relação presos por habitantes , colocou o Estado do Acre no segundo lugar no ranque nacional, no inicio do ano de 2010 superou essa marca e alcançou o primeiro lugar .

O mais contraditório e que estes dados fora comemorados pelo governado do Estado do Acre, naquele momento, diz o governador(blog do altino) .

15Uma cela onde ficam apenas presos com idade mais avançada para não atrapalhar certas atividades dos presos mais jovens.

(27)

34

“O governador Binho Marques (PT) começou a semana comemorando o fato de o Acre ser o número um em população carcerária. - Nenhum crime fica impune. Nós prendemos mesmo - disse Marques.” “Existem no presídio Francisco de Oliveira Conde 677 vagas, que estão ocupadas por 2.180 pessoas - 322% a mais da capacidade. O Acre tem a maior taxa de população carcerária do país. A superlotação e as irregularidade assustam os juízes do CNJ.”

O fato do presídio Francisco de Oliveira Conde esta superlotado neste período nos permite pensar a dificuldade de gerir uma escola, de selecionar os alunos, trabalho este que inicia com a direção do presídio, exemplo deste processo como era feita escolha dos alunos, um policial entrava nos pavilhões e dentro dos corredores, perguntava quem queria estudar. Cada pavilhão tinha listas de aproximadamente 70 a 100 nomes. Estes teriam que passar depois por um processo de seleção junto com a coordenação do presídio.

Processo este que se apresenta como uma estratégia organização levando em conta de oportunidades, de tratamento diferenciado, como aqueles que têm o direito de estudar de trabalhar. Podemos destacar este fato com um professor e também reeducando da escola Fabrica de Asas.

A proposta neste título de sociedade criminal e mostra que existe um mundo paralelo aos dados oficiais, uma historia social dentro de cada individuo, cada aluno na escola fabrica de asas, Nesta entrevista veremos algumas dificuldades do processo educacional prisional, na época o professor relatou avanços no que tange ao processo de seleção dos presos estudantes Entrevista concedida ao pesquisador no dia 30 de janeiro de 2008 podemos ver a “evolução” ou dinâmica que a escola fabrica de asas sofreu no seu processo educacional.

“ Hoje avançou nisto porque a gente pesquisa para que venha para a escola alunos que passara mais tempo na escola, pelo menos o tempo necessário para que terminasse o curso. Pois havia um desperdício de tempo dos professores de material e do próprio aluno que saia sem completar o curso que vinha fazer, por exemplo, estes cursos são dados de três a quatro meses “

Foram verificadas varias nuanças que existe na educação prisional como as evasões que aconteciam por motivos diversos entre eles o próprio processo de escolha.

(28)

35 Uma vez que os alunos que eram escolhidos para estudar eram presos na maioria das vezes com cadeia vencida16 outro aspecto era a evasão por motivos pessoais aos quais não se tem registro,mas possíveis de serem percebidos nas falas e ações dos presos alunos isso resulta que acabava formandos pouquíssimos alunos podemos perceber isso em dados expostos na monografia de marcos, reeducandos: a invenção do discurso da “recuperação social” que expõem: (Marcos 2009)

“No segundo semestre de 2003, de acordo com C. Maia, a central iniciou dois projetos educacionais, o BB educar e o programa ALFA100. Em 15 de junho de 2004, aproximadamente um ano depois ,doze reeducandos concluíram o curso de alfabetização...Em 2005 a turma de alfabetização compunha-se de 17 alunos. Em relatório penitenciário de 27 de julho de 2006 , A fabrica de asas possuía 70 alfabetizandos e 90 no Ensino Fundamental.”

A dificuldade de pesquisar em presídios, as mordaças que impedem o pesquisador ouvir as versões dos presos ou ate mesmos a impossibilidade de ter acesso devido o sistema penal e a certas regras internas que chamamos de cultura criminal, ecoam com o silenciamento destes seres pelo sistema carcerário, dificulta a coleta de dados. Na pesquisa feita pelo Marcos podemos perceber a realidade educacional com programas e alguns números importantes para serem dialogados a escola existe a parti de 2001, de 2003 a 2006 a experiência educacional é somente esta ?

Começamos a trabalhar com a questão da evasão eram dados que não conseguia entender como o aluno preso sendo escoltado na saída e na entrada da escola e com permanência de escoltas no período de aula desistia ou não terminava o curso o porquê? sobre isso o professor responde:

“Muito grande e parecia que era um problema da escola e na verdade é uma característica do sistema, que é entra depois sair não existe prisão perpetua no Brasil.”

Sobre as desistências ele relata que existe, porem era algo raro;

16Penas já esgotadas os prazos, esperando apenas os trâmites judiciais para sua liberdade ou progressão do regime ex: semi- aberto

(29)

36

“Existe isso mais é uma coisa rara, hoje existem 60 alunos homens estudando e uma lista de espera de 365 alunos e qualquer falha desta, ele sairia da escola e implicar em 365 alunos querendo o lugar dele.”

.

Na pesquisa de campo muitas vezes um assunto leva a outro de importância fundamental para o processo cognitivo, quando elaborei o projeto pensávamos no processo seletivo e na demanda de alunos que segundo informações penitenciarias seriam enormes devido à grande quantidade de presos sem escolaridade e encontrei um universo novo de possibilidades ate uma lista de espera já existia.

A lista de espera de 365 alunos na época a importância da educação e carência de escoltas policias e de agentes penitenciários que acompanham os alunos, retira-os da cela e os conduzem para sala de aula termina a aula eles voltam para celas, para os pavilhões uma realidade muito diferente das outras escolas do EJA.

A realidade cotidiana desde a forma como funciona esta escola a seleção dos presos dentro do pavilhão o controle da escolta a aula, o relatório diário dos policiais em um período17. Depois dos agentes penitenciários a dificuldade deste processo com a visão de todos aqueles homens que às vezes iriam algemados um atrás do outro de cabeça baixa escoltados para escola e com seguranças armados18 acompanhando todo o processo educativo e retornando a trancá-los após as aulas a necessidade de cuidados especiais na segurança, o medo de rebeliões, a segurança dos professores e toda ambigüidade desta escola de acreditar que este e o caminho para um futuro melhor dos reeducandos e também a desconfiança ou cautela com eles.

17Um exemplo deste relatório onde apenas dois reeducandos do pavilhão estavam na escola este dia.

18A escolta as vezes armada outras vezes desarmada o processo de pesquisa se deu em mais ou menos 9 anos entre 2001 e 2010 neste período varias mudanças na forma de tratamento da escolta escolar

(30)

37 Diante de uma forma educacional não convencional como uma escola dentro do presídio, podemos observar que, a escolta ela mudou sua forma varias vezes qual é o principal problema com a escolta? na visão do professor e reeducando este caso e importante e tinha que se visto com mais atenção, lembrando que o processo de educação e de penas esta sendo remido tanto para o professor que é presidiário como para os alunos que também são presos.

(31)

38

“Primeiro a quantidade, o sistema alega que (com toda razão) que existem poucas pessoas para fazer esta escolta que deveria ser feita adequadamente este é um problema, porem eu creio que este não e o maior problema. Pois independente da quantidade de reeducandos que vão para o fórum sempre eles dão um jeito ela existe, tem um núcleo acho que a solução seria cria uma escolta escolar nos moldes da judiciária com as pessoas definidas que a questão não é só trazer da cela e levá-los a sala e retorná-los a cela. O tratamento que é dado para estes reeducandos no trajeto, entender seus problemas. E a questão da segurança, já que a escolta e desarmada e existem professoras, a escolta tem que pensa em segurança com um núcleo formado pensante e com mais pessoas.”

Problemas que não estão ligados diretamente com o método educacional porem torna-se um atividade inerente a este processo de educação prisional as dificuldades, a forma diferenciada das outras escolas que oferecem os mesmo cursos alfa100, mova e outras modalidades de educação.

Mostra que a representação de uma escola dentro do chapão19 estão marcados por jogos de interesses, de forças e varias historias estão ligadas diretamente ao processo educacional como o arrombamento desta escola e roubo das garrafas de álcool que eram utilizadas no mimeografo certa vez, e que o banheiro da escola, supostamente serviu de esconderijo para uma fuga do presídio entre outras historias.

Queria apenas evidenciar que a pesquisa dentro do presídio e os resultados obtidos podem surpreender as expectativas nos dados encontrados e a forma de abordá-los, tudo esta em volta de um objeto de estudo. Assim pensamos a prisão em um local tão ambíguo como o processo de ressocialização e educação prisional, não expor esta face e se ater a discursos ou projetos políticos pedagógicos, que na época em que foi iniciada a pesquisa ser quer existia, tornam-se um processo de angustia para quem escreve, uma situação que vai muito alem da escolarização em um estudo que se torna cada vez mais contraditório ou paradoxal.

Podemos ver o poder exercido pelo Estado em seu modo mais radical, o ceifamento a liberdade e modelação do corpo social, dos analfabetos. Qual será o papel

19 local onde encontra-se os pavilhões dos sentenciados em volta de uma muralha e portões de chapa de ferro considerado o local mais seguro do presídio

(32)

39 de uma escola primaria dentro de um presídio? O que representa esta escolarização? Qual é o papel da escola dentro do processo de ressocialização? ela tem um projeto diferenciado ou é uma escola normal dentro do presídio? Ao trata este assunto na entrevista tenho a seguinte resposta:

“Ela esta ambígua, mas esta ambigüidade já é um progresso, pois como muitos professores estão dando aula algum tempo à escola existe desde 2001. Existe sempre o questionamento como se dar algumas disciplinas como estabelecer este dialogo e a situação que a escola e do tipo especial que esta dentro de um presídio, mas não existe uma didática hoje voltada para esta situação especial. Mais existe uma preocupação e uma discussão neste sentido. Os professores de hoje eles são pessoas fundamentais para estabelecer uma discussão deste projeto. Eu acho que ela cumpriu um papel importante neste processo. Por exemplo um reeducando analfabeto é diferente de um alfabetizado o cara chega aqui analfabeto assumi uma nota de culpa sem saber o que esta escrito e agora ele vai ter acesso a mínima possibilidade de ler, ele vai sair da dependência total dos outros isto incluir advogados, etc, etc para uma mínima autonomia. “

Pensar como viver um analfabeto no presídio as dificuldades encontradas e as formas de erradicar o analfabetismo, no jornal pagina 20 dia 25 de janeiro de 2004 a matéria sobre a escola Fabrica de Asas com entrevistas de alguns reeducandos entre eles um analfabeto que aprendeu a ler e escrever diz:

Em apenas cinco meses de aula, Ismael, que já não se lembrava das poucas letras que aprendeu quando criança, está escrevendo e lendo. Ele cursa o módulo 1 do Alfa-100, que corresponde à primeira e segunda séries. Com satisfação ele relembra que: “Ser analfabeto é muito ruim, quando a gente recebe uma carta tem de pedir ao colega para ler, aí a gente não consegue saber se era aquilo mesmo que estava escrito ou se ele está me alugando. Me alugaram muitas vezes, fiquei triste, depois me diziam a verdade, mas a verdade é que a gente sofre. Minha maior alegria foi conseguir ler a carta que recebi de meu pai”.

Podemos perceber um pouco o cotidiano dentro da cela a alugação, conforme relata Ismael e outras atividades como o sofrimento de quem não consegue ler a carta do próprio pai. As entrevistas ou relatos dos presos sobre o cotidiano no cárcere descreve uma realidade diferente do processo ao qual esta inserido os conceitos de ressocialização, dos objetivos da justiça e do processo penal, em pesquisar com

(33)

40 reeducandos, principalmente conversas informais devido atividade profissional exercida escutei relatos fantásticos sobre as atividades escolares, os deveres de casa ou deveres de cela.

Relatos de um reeducando em um leito de hospital, este reeducando dividia celas com dois presos alunos do projeto Projovem comenta, que já fez muitos deveres de casa para os companheiros e que os ajudar, alguns tem muita dificuldade para ler e que ele já fez bastantes trabalhos para os colegas.

A maioria dos reeducandos deve os 100 reais do projovem20 para outros presos em troca de pequenos objetos, principalmente dividas com drogas. A mentalidade da cadeia é perversa é mais fácil um preso oferecer um pega21 no baseado em uma roda de fumo do que um biscoito com suco para os considerados comenta o reeducando.

Sobre o processo de remissão de pena, o estudante tem os dados enviados a vara de execuções penais os quais utiliza como beneficio para progressão do regime as horas aulas são computadas e enviadas ao juiz de execuções penais ou seja existe a remição da pena mediante a educação na escola fabrica de asas, em alguns Estados este processo esta sendo analisado no que consta nas pesquisas e entrevista no Acre sempre foi aceito conforme relata

“os reeducandos que trabalhavam contava apenas o trabalho. Hoje temos computador e fornecemos os dados da participação da aula diretamente para a vara de execuções penais o estudo conta apenas as horas aulas”

Os benefícios da educação como o judiciário, estimular a pratica educativa reduzindo a pena mediante a educação os poderes legais estimulando os reeducandos alunos a concluírem seus cursos e facilitando o processo de reintegração social, também reforça a ideia da educação como penalidade para os infratores e ato de ressocialização.

20Programa de educação de jovens encarcerados, um programa federal que uma paga 100 reais para o preso estudante.

21Um trago, gíria utilizada pelos reeducandos ao fumarem maconha ou pasta a base de cocaína também conhecida como mela.

(34)

41 2.2 – EDUCAÇÃO E RESSOCIALIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

“A proposta do governo é fazer da educação o centro do processo de ressocialização. Os jovens estão sendo preparados para a vida fora do presídio”. ( Laura Okamura )

A visão da educação do processo de ressocialização, que não será apenas com objetivo de vigiar e punir, saindo da relação crime e castigo e admitindo uma estrutura social forjada dentro de um sistema político que usa suas instituições para reproduzi-se, assim a instituição escolar também é responsável pela reprodução de regras, condutas éticas e morais, um conjunto de regulamentos, armadilhas jurídico-políticas pré-estabelecidas. A vigilância e punição, esta ate mesmo dentro de discursos humanitários.

Procurar sair das falácias e armadilhas dos discursos, repensarem esta organização penal, sendo um período neoliberal de políticas de marginalização da pobreza, contenção e adestramento do corpo social. Necessário para evolução do sistema capitalista isto é o que vem sendo proposto por (luic wacquant,2007).

È necessário sair do esquema “crime e castigo” e repensar a prisão como uma instituição política, uma componente central do Estado. Descobre-se então que o surgimento do Estado penal é o resultado de uma política de penalização da miséria, que responde ao crescimento da insegurança salarial e ao afundamento do gueto como mecanismo de controle de uma população duplamente marginalizada no duplo plano material e simbólico. 22

Observar a prisão, o processo de ressocialização, a educação, a sociedade, a vida cotidiana dos encarcerados suas representações do real, do vivido diuturnamente seus aspectos e suas intenções o poder regulamentado pelo Estado, as instituições como escola e a prisão, a forma destes seres sociais encontram de construir uma cultura própria.

22O corpo, o gueto e o Estado penal: entrevista em Lisboa, no quadro da Ethnografeast III , em Junho de 2007, Luic Wacquant

(35)

42 A resistência a forma legal, a exclusão junto com a necessidade de ter relações sociais “adequadas” a cada grupo, especialmente no convívio dos esquecidos e excluídos do sistema social. As necessidades básicas diferenciadas de uma sociedade que se forma e se modifica conforme suas necessidades, em qualquer ambiente até mesmo na prisão, que também exclui seus membros, não existe uma unidade entre os presos.

Não existe um conceito único de comportamentos e regras o lado humano da organização social própria com suas formas algumas vezes veladas, porem este mundo carcerário próprio e organizado com regras e penas às vezes mortais não será analisado profundamente, deixar claro que respeito às particularidades de cada caso, cada processo traz consigo uma historia de vida que pode ser contada de varias formas de várias primas, cada aluno da escola fabrica de asas, professor, funcionários, até mesmo as paredes do presídio tem algo de intrigante para qualquer pesquisador em qualquer área.

Torno a por em evidencia que o processo penitenciário de ressocialização e formas jurídicas de reintegração da sociedade, um contexto amplo de dominação como de transformação histórica social, de um processo de mudança de políticas publicas, do estado neoliberal do bem estar social para o estado policial da cultura do medo, da liberdade vigiada, assistida e controlada pelos detentores do poder.

Não desrespeitando, as visões de mundo muitas delas diferenciada principalmente do mundo criminal, regras aprendidas rapidamente no mundo do crime em uma forma punitiva e de controle tão eficaz e severo quanto os métodos legais.

Entre outros fatores a serem observados em um local onde o processo de aprendizado, educação e esperanças de um futuro para os apenados torna-se uma problemática no que tange punição/reabilitação em um ambiente digamos “hostil” conforme relata o trabalho de educação prisional da psicóloga Adriana eiko:

“um aspecto importante a ser mencionado na trama de relações micro-físicas levadas a cabo no interior das instituições penais, que interfere principalmente na organização e no funcionamento da educação em penitenciarias é que o núcleo de educação esta subordinada à diretoria do centro de reabilitação. Tal fato deixa à mostra a expectativa que se tem da função reabilitadora implementada pelas atividades educativas.

Referências

Documentos relacionados

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

O Fórum de Integração Estadual: Repensando o Ensino Médio se efetiva como ação inovadora para o debate entre os atores internos e externos da escola quanto às

Além desta verificação, via SIAPE, o servidor assina Termo de Responsabilidade e Compromisso (anexo do formulário de requerimento) constando que não é custeado

No primeiro capítulo a pesquisa se concentrou no levantamento de dados da escola no Projeto Político Pedagógico (PPP) e análise dos indicadores do SPAECE. No

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

Esta ação consistirá em duas etapas. Este grupo deverá ser composto pela gestora, pelo pedagogo e ou coordenador pedagógico e um professor por disciplina

O 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) é um estágio profissionalizante (EP) que inclui os estágios parcelares de Medicina Interna, Cirurgia Geral,

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,