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Integração de políticas de assistência social nos municípios brasileiros

Rômulo Paes-Sousa

1

Jeni Vaitsman

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Cláudia Baddini Curralero

3

Daniela Peixoto Ramos

4

O Brasil experimenta um processo acelerado de expansão de cobertura de serviços de assistência social. Duas grandes iniciativas delineiam este processo: a constituição do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e a universalização do Programa Bolsa Família, programa de transferência de renda com condicionalidades nas áreas de educação, saúde e nutrição, dentre a população elegível. O objetivo deste texto é discutir os desafios relacionados à implantação do SUAS e sua necessária articulação com o Programa Bolsa Família, no âmbito do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome ( MDS). Em primeiro lugar, aborda-se os programas relacionados ao SUAS e o Bolsa Família quanto ao seu contexto histórico e institucional, a definição dos programas, a descrição do público-alvo, a cobertura dos serviços de assistência social, a distribuição dos conselhos de gestão social e os recursos financeiros envolvidos. Em seguida, apresenta-se o marco lógico das políticas de assistência social no contexto do Ministério de Desenvolvimento Social. Por fim, discutem-se os desafios de articulação destes programas no âmbito municipal.

O Sistema Único de Assistência Social - SUAS

O SUAS é fortemente influenciado pelo modelo adotado pelo setor saúde no Brasil. Como este último, o SUAS busca integrar as políticas de assistência social em um modelo racional, eqüitativo, descentralizado, participativo e com financiamento partilhado entre os entes federados – que no caso brasileiro são: governos federal, estaduais e municipais.

Desde o início da construção do Sistema Único de Assistência Social em 2004, em cumprimento à deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em dezembro de 2003, a política de assistência social tem passado por mudanças institucionais importantes. A implementação plena do sistema deverá implicar na reorganização desta política nos moldes do sistema construído para a área de saúde, embora com distinções importantes, decorrentes das próprias especificidades da área de assistência social. A nova Política de Assistência Social, pautada pelo objetivo de instituir o sistema único marcou o início deste processo em novembro de 2004. Em linhas gerais, a nova Política de Assistência Social e por conseguinte o novo sistema pretende resgatar os princípios postos na Lei

1

Secretário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social. SCS Quadra 2 Bloco C, Edifício Toufic, 7 º andar, CEP 70302-918, Brasília-DF, telefone: 55-61-33257850, fax:55-61-33257759, e-mail:

romulo.paes@mds.gov.br. 2

Diretora do Departamento de Avaliação e Monitoramento da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social, e-mail: jeni.vaitsman@mds.gov.br.

3

Coordenadora do Departamento de Avaliação e Monitoramento da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social, e-mail: claudia.curralero@mds.gov.br.

4

Assessora do Departamento de Avaliação e Monitoramento da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social, e-mail: daniela.peixoto@mds.gov.br.

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Orgânica da Assistência Social (Loas), promulgada em 1993, que estabelece as diretrizes gerais da política e de sua gestão.

A Loas veio tornar operacional os princípios estabelecidos na Constituição de 1988, que instituiu a participação dos representantes de associações e organizações da sociedade na gestão das políticas públicas, implicando ao mesmo tempo na criação de novas arenas decisórias ao nível dos executivos municipais, estaduais e federal.

A descentralização e a participação são as principais inovações incorporadas nesta lei, que foram implementadas na forma de novos foros institucionais, como conselhos nacional, estaduais e municipais de assistência social, comissões intergestoras bipartites e tripartites, além dos fundos de assistência social, pelos quais são realizados os repasses de recurso do governo federal para os demais entes federados.

No gráfico 1, podemos verificar que em 2001, em 93% dos municípios já existiam conselhos de assistência social, um percentual abaixo apenas da área da saúde.

Outra peça normativa fundamental da política é a Norma Operacional Básica (NOB). As NOBs 1 e 2 destinaram-se a operacionalizar as diretrizes e princípios contidos na Loas e na Política de Assistência Social formulada a partir dela, respectivamente. Ao pretender especificar o modo de operacionalização do sistema de gestão descentralizado e participativo, a NOB/2 estabeleceu uma divisão de competências entre os entes federados que é considerada pouco clara5. O modelo preconizado e vigente até hoje (visto que ainda não foi editada a nova NOB) delega ao governo federal a tarefa de coordenar a política nacionalmente, fixando, de forma participativa, suas diretrizes gerais, e supervisionando sua implementação. O governo estadual é encarregado de apoiar os municípios na implementação da política, além de também elaborar e executar “programas e projetos de caráter regional” (Lima, 2004, p. 83) embora não disponha de recursos para tanto.

Em cada nível de governo, deve haver um órgão governamental encarregado de gerir a política. Ao governo municipal cabem a gestão e a implementação dos serviços e ações assistenciais em conjunto com a rede local, formada por instituições sociais não-governamentais provedoras de serviços assistenciais, que participam do processo decisório da política nos conselhos de assistência social, cuja composição é paritária entre governo e sociedade civil.

Como instâncias componentes do sistema descentralizado, têm-se as comissões intergestoras tripartite e bipartite, que constituem espaços de negociação e pactuação entre os entes federados a respeito dos aspectos operacionais e da gestão da política, incluindo divisão de recursos entre eles. Estas são instâncias que propiciam a participação dos gestores de todos os níveis de governo no processo decisório da política.

Um dos objetivos expressos na concepção do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) é a redefinição das atribuições de União, Estados e Municípios, dividindo-as de maneira mais equânime e atribuindo maior poder e voz aos níveis subnacionais. A nova Política Nacional de Assistência Social tem como referência o território, especialmente o município, cuja autonomia pretende reforçar.

Na medida em que o SUAS propõe reforçar o princípio de descentralização, coloca-se também o desafio, ressaltado por Lima (2004, p. 90), de aumentar a capacidade institucional de estados e

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Para uma descrição da divisão de competências estabelecida pelas NOB 1 e 2, ver Lima (2004, p. 83). 2

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municípios para que estes níveis de governo possam executar, de forma eficaz, tanto as tarefas que lhe cabem desde a Constituição de 1988, quanto as novas a serem assumidas com o sistema único. Para isso, é também necessário que estados e municípios disponham de recursos correspondentes às suas atribuições. O financiamento da política seguirá novas regras, as quais neste momento encontram-se em fase de definição, e estará vinculado ao piso de atenção atribuído a cada município, considerando-se principalmente o tamanho de sua população. A alocação de recursos para estados e municípios é uma questão atualmente debatida nas discussões da nova Norma Operacional Básica.

Outro ponto central da nova política é a matricialidade sociofamiliar, ou seja, a família como alvo das ações de proteção social e a busca por fortalecer o convívio familiar e comunitário. Também constitui público usuário prioritário da assistência social aqueles grupos que vivem em situação de maior vulnerabilidade, como: população em situação de rua, adolescentes em conflito com a lei, indígenas, quilombolas, idosos e pessoas com deficiência.

A provisão de proteção social, objetivo básico da política de assistência social, passou a se dividir, desde 2004, em duas modalidades: básica e especial. A chamada Proteção Social Básica se destina a prevenir situações de risco e fortalecer os vínculos familiares e comunitários de pessoas que vivem “em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (...) e/ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social” (PNAS, 2004, p. 27). O Programa de Atenção Integral à Família, que realiza a coordenação da rede de serviços socioassistenciais local, o Projeto Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano e o Benefício de Prestação Continuada são exemplos de serviços e benefícios de proteção social básica.

Já a Proteção Social Especial destina-se a famílias em situação de risco pessoal e social, isto é, famílias que tiveram seus direitos violados. Desta forma, para restabelecer os direitos destas famílias, por exemplo, para retirar crianças e adolescentes da situação de trabalho ou de abuso e exploração sexual, a idéia é que os gestores da assistência social trabalhem em conjunto com órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e outros órgãos do Poder Executivo. A Proteção Social Especial divide-se ainda entre os serviços de média complexidade e alta complexidade, sendo que os primeiros são aqueles que se destinam as famílias e indivíduos que ainda preservam os vínculos familiares e comunitários, ao contrário dos últimos.

O desenvolvimento de um Sistema Nacional de Informação da Assistência Social é outra das deliberações da nova política. Trata-se, portanto, de institucionalizar as práticas de monitoramento e avaliação de um conjunto de ações, serviços e benefícios da política assistencial. A implantação desse sistema pressupõe o conhecimento das distintas dimensões da realidade sobre a qual deve atuar a política (órgãos provedores de serviços governamentais e não governamentais, capacidade institucional e técnica das secretarias municipais e estaduais, condições socioeconômicas das famílias beneficiárias, instâncias de controle social etc).

A Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação, do MDS, tem trabalhado para promover avaliações dos principais programas e construir sistemas de monitoramento baseados em indicadores de estrutura, processos, resultados e impactos. A produção e utilização sistemática da informação para o aprimoramento da gestão requer, porém, o treinamento dos gestores da área em monitoramento e avaliação. Na realidade, a assistência social é um setor com grande demanda por contratação de servidores públicos de carreira e de capacitação do seu quadro de pessoal, especialmente neste momento em que se pretende implementar uma mudança de paradigma.

A concepção do SUAS implica em uma perspectiva de intersetorialidade, ou seja, de articulação entre a política de assistência social e as demais políticas sociais (saúde, educação, cultura, emprego,

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habitação, saneamento) com vistas a atender as necessidades integrais das famílias beneficiadas. Na figura 1, visualiza-se o marco lógico da Política de Assistência Social no Brasil.

Os serviços de assistência social cobrem um largo espectro de atividades, compreendendo: prestação de serviços; provimento de benefícios financeiros; promoção de direitos e referenciamento a políticas sociais, notadamente saúde e educação. Estima-se que essa variada gama de serviços de assistência social seja prestada por mais de 30 mil instituições sem fins lucrativos, que geram a contratação de mais de 226 mil pessoas, conforme se observa na Tabela 1.

A prestação de serviços de assistência social pressupõe a seleção dos usuários de políticas específicas; prestação de serviços especializados de assistência social; o acompanhamento dos inscritos nos programas de proteção social; a fiscalização dos programas. Recentemente, grande parte dos recursos municipais tem sido mobilizados para a inscrição da população elegível em políticas de transferência de renda.

Dois grandes programas de transferência de renda, Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC), respondem por grande concentração de recursos orçamentários, ampla cobertura e distribuição geográfica quase universal entre os municípios brasileiros. O Programa Bolsa Família6 destina-se às famílias pobres e o BPC7 aos idosos pobres e deficientes físicos incapacitados para o trabalho.

O Programa Bolsa Família é um programa de transferência condicionada de renda voltada à população pobre que surgiu em setembro de 2003, a partir da fusão progressiva de quatro diferentes programas de transferência de renda, devendo atingir, em junho de 2006, mais de quarenta e cinco milhões de beneficiários. No tocante à extensão de cobertura e expansão de direitos sociais, o Programa Bolsa Família é comparável a três importantes iniciativas em termos de política social da história brasileira: extensão do direito previdenciário aos trabalhadores rurais não contribuintes, nos anos 60; implantação do Sistema Único de Saúde, a partir de 1988 e ampliação da cobertura do ensino básico, nos anos 90. A assistência social é parte de uma rede de proteção social, dentro de uma concepção de desenvolvimento social, cujo objetivo é diminuir as enormes disparidades de oportunidades de vida da população. Dentro desta concepção, são centrais as estratégias de crescimento econômico, ao lado de políticas sociais envolvendo a garantia de direitos universais voltados para que as pessoas possam adquirir as mesmas capacidades e oportunidades. Implica uma agenda inclusiva, ou seja, a priorização de metas de erradicação da pobreza, e da eliminação dos diferentes tipos de desigualdades e vulnerabilidades sociais, sobretudos aquelas em que critérios de cor, gênero e etnia se articulam à pobreza e produzem as piores formas de exclusão social.

Estratégias de desenvolvimento social devem incluir políticas de “crescimento pró-pobre” (Nakwani e Pernia, 2000), com programas voltados para a diminuição das desigualdades, por meio da geração de renda e de emprego para os pobres, particularmente mulheres e outros grupos tradicionalmente excluídos. O fortalecimento de políticas e instituições voltadas para os grupos mais vulneráveis, de incentivo à inserção ou reinserção produtiva constituem então, um meio para se produzir maior eficiência e eqüidade.

6

O Programa Bolsa Família, com o objetivo de combater a fome e a miséria, destina-se às famílias com renda per capta inferior a US$ 42,50 mensais e condiciona a transferência do benefício financeiro às ações da família relacionadas a direitos sociais, nas áreas da saúde, da alimentação e da educação.

7

O BPC é um benefício assistencial, não contributivo, previsto na Constituição Brasileira, que garante um salário mínimo mensal (US$ 127,50) aos idosos com 65 anos ou mais, impossibilitados de prover sua manutenção, e aos portadores de deficiência incapacitados para a vida independente e para o trabalho.

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O Financiamento e o Gasto da Assistência Social

O Orçamento Social do setor público no Brasil, considerando todos os níveis governamentais (federal, estadual e municipal) corresponde a quase um quarto do PIB brasileiro, valor semelhante à média dos países da OCDE e superior ao da média dos demais países latino-americanos.

Os gastos federais sociais diretos somaram, em 2004, R$248,9 bilhões ou US$105,9 bilhões8, o equivalente a 14,1% do PIB. Deste total, os gastos federais com a Previdência Social, representaram 9,6 % do PIB, os com Saúde 1,8% do PIB e os da Assistência Social 0,9% do PIB9. Embora os gastos com Assistência Social representem apenas 6,4% do gasto social realizado diretamente pelo governo federal em 2004, observa-se que houve um aumento de mais de 20% na sua participação desde 2001. Esta elevação se deveu principalmente a prioridade concedida pelo governo federal aos programas de transferência de renda condicionada, a partir da unificação dos programas de transferência de renda e lançamento do Programa Bolsa Família em 2003.

A unificação dos programas (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio-Gás e Cartão Alimentação) no Programa Bolsa Família, representou uma racionalização que vem permitindo expandir o orçamento, beneficiando um número expressivamente maior de famílias em situação de pobreza. Em 2004, o gasto com o programa Bolsa Família alcançou R$5,8 bilhões ou US$2,46 bilhões10, representando um significativo aumento em relação aos quatro programas sociais que o precederam11. O Programa Bolsa Família, além de ampliar o número de famílias beneficiadas, aumentou o valor médio do benefício pago, que passou de R$28,00 (US$11,91) para R$75,00 (US$31,91).

Com a criação do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, em janeiro de 200412, a priorização dos programas de transferência de renda foi acompanhada pela proposta de integração da política de proteção e desenvolvimento social, composta pelos programas de transferência de renda, a política de combate à fome e a política nacional de assistência social, por meio. O MDS passou a contar com importantes instrumentos financeiros e com relevantes espaços de participação social, está sob sua responsabilidade a gestão do Fundo Nacional de Combate e Erradicação da Pobreza e Fundo Nacional de Assistência Social.

O Fundo Nacional de Combate e Erradicação da Pobreza é a principal fonte de recursos do Bolsa Família. O Fundo Nacional de Assistência Social financia os programas de Assistência Social e tem na Cofins, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, sua principal fonte de recursos. O Programa Bolsa Família, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, o Programa Agente Jovem

8

Considerou-se o dólar de julho de 2005 (US$1,00 equivalente a R$2,35). 9

Utilizou-se como referência para a análise da evolução do gasto social público no Brasil, o documento “Orçamento Social do Governo federal: 2001-2004”, da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, que analisa exclusivamente o orçamento federal. A metodologia empregada neste relatório considera os benefícios previdenciários como gastos sociais, embora sejam estes financiados em sua maior parte por contribuições dos próprios beneficiários. Deve-se considerar que, na medida em que os gastos previdenciários repreDeve-sentam mais de 67,5% do total dos gastos públicos federais considerados sociais, qualquer análise estatística feita sobre os gastos sociais, reflete, acima de tudo, o que acontece com os gastos previdenciários.

10

Neste valor estão incluídos os gastos de aproximadamente R$300 milhões com o Bolsa-Cidadã, transferências feitas às famílias inscritas no programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI)

11

Observa-se que o dispêndio com os programas correlatos ao programa Bola Família saltou de R$2,4 bilhões em 2002 para R$5,8 bilhões em 2004, um aumento de aproximadamente 150% (p.32).

12

A criação do MDS foi realizada pela Medida Provisória nº163, de 23 de janeiro de 2004, transformada na Lei nº 10.868, de 13 de maio de 2004.

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de Desenvolvimento Social e o Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, representaram, em 2004, 38,9% do total gasto com Assistência Social, sendo que só o Programa Bolsa Família foi responsável por 29,4% do gasto total.

Os programas voltados à assistência aos idosos, como o Benefício de Prestação Continuada - BPC e o Atendimento à Pessoa Idosa, representaram, em 2004, 15,7% do valor total gasto com Assistência Social. O BPC também beneficia pessoas portadoras de deficiências se constituindo assim, juntamente com o Bolsa Família, num dos principais programas de transferência de renda. Em 2004, o BPC transferiu aproximadamente R$7,3 bilhões (US$3,10) para idosos e portadores de deficiência, o que representou 38,7% do total de gastos com assistência13.

Considerações Finais

Os desafios da articulação entre os diferentes níveis de proteção social que compõem o SUAS e o Programa Bolsa Família em nível municipal são grandes. Embora o SUAS, assim como o Programa Bolsa Família esteja submetido à coordenação do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), este último não faz parte do SUAS. Uma primeira questão então é de natureza conceitual, pois as definições em relação aos públicos – alvo dos diferentes programas não são convergentes. Enquanto para o Bolsa Família, as famílias em situação de pobreza beneficiárias são definidas em função da renda per-capita familiar até R$100,00 (cerca de U$42,00) que representa 1/3 do salário mínimo atual, para outros programas da assistência social, o público-alvo são famílias que, em decorrência da pobreza, encontram-se em situações de diferentes tipos de vulnerabilidade, privadas de renda e do acesso a serviços públicos, com vínculos afetivos frágeis, discriminadas por questões de gênero, etnia, deficiência, idade, entre outras.

Uma segunda questão é de natureza operacional. A promoção dos direitos se faz por meio da integração de políticas e programas e ocorre em duas vias. Por um lado, a assistência social estabelece procedimentos de referência de seus usuários o para os programas de saúde e educação, notadamente o Programa Saúde da Família (PSF) e Programa Brasil Alfabetizado. O primeiro refere-se ao atendimento domiciliar básico de saúde e o segundo ao programa de alfabetização de adultos. Por outro lado, profissionais do PSF e agentes de escolas públicas devem referenciar os usuários elegíveis, ou seus responsáveis ao Programa Bolsa Família. Apesar de relatos deste referenciamento cruzado aparecerem em reuniões entre agentes públicos de políticas sociais, a magnitude deste fenômeno ainda não foi medida por nenhuma das instituições envolvidas.

Ainda do ponto de vista da coordenação, a implementação de programas de diferentes tipos e dirigidos a distintos públicos-alvos, a implementação descentralizada exige não apenas a integração entre diferentes programas, mas também a coordenação entre níveis de governo; ou seja, pressupõe uma articulação não só entre setores de governo, mas entre níveis federativos - entre União, Estados e Municípios, de forma a garantir a gestão dos programas e o acesso da população a todos os níveis de proteção social.

A implementação da política requer, portanto, integração e coordenação, o que vem de encontro ao novo paradigma da gestão pública, que pressupõe formas descentralizadas de gestão, intersetorialidade e territorialidade.

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Nestes valores estão incluídos também o total de transferências realizadas por meio da Renda Mensal Vitalícia, que também tinha por público-alvo idosos e portadores de deficiência.

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Um dos pressupostos da descentralização foi o de que os governos locais são capazes de ser mais eficientes e eficazes no uso dos recursos públicos, permitindo também a institucionalização mais efetiva de canais de participação da sociedade civil no acompanhamento das políticas públicas. A descentralização transferiu poder de decisão, competências e de recursos, dando autonomia às administrações locais na elaboração de diagnósticos sociais, diretrizes, metodologias, formulação, implementação, execução, monitoramento, avaliação e sistema de informação das ações definidas, com garantias de canais de participação local. Esse processo não se faz sem a participação da população. No entanto, a descentralização não pressupõe a retração do nível central, pelo contrário, pois este deve ter o papel de coordenação. A construção do SUAS vem exigindo uma articulação fina entre o MDS e os demais gestores da política de assistência social, ou seja, as secretarias municipais e estaduais. Com o desenho integrador do SUAS reafirma-se o caráter de política pública da assistência social, resgatando-se também o papel do Estado enquanto principal executor desta política. Neste sentido, o SUAS estabelece um movimento inverso ao que foi instituído pelas políticas sociais no Brasil no início da década de 1990, num período caracterizado por alguns autores como a fase de “contra-reforma conservadora”14, devido às repercussões negativas que as reformas econômicas orientadas para o mercado tiveram sobre as políticas sociais. O exercício da intersetoralidade – sobretudo nas áreas de saúde e educação, mas também em ações de inserção produtiva faz com que a atual política de assistência venha se contrapor às concepções de caráter assistencialista e seletivo, direcionando-se para a universalidade na proteção social.

Bibliografia

DRAIBE, Sônia. “A política social na América Latina: o que ensinam as experiências recentes de reformas?”, em: DINIZ, Eli e AZEVEDO, Sérgio. Reforma do Estado e democracia no Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997, pp. 213-258.

FAGNANI, Eduardo. “Ajuste econômico e financiamento da política social brasileira: notas sobre o período 1993/98”, em: Economia e Sociedade. Campinas (13), dezembro de 1999, pp. 155-178.

LIMA, Ângela Maria de Loudes Dayrell. “Os desafios para a construção do sistema único da assistência social”, emCARNEIRO, Carla e COSTA, Bruno (Orgs.). Gestão social: o que há de novo? Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2004, pp. 81-100.

KAKWANI, Nanak & PERNIA, Ernesto M., 2000. “What is Pro-Poor Growth”? . Asian Development Review; vol. 18, no. 1

PIERSON, Paul. Dismantling the welfare state? Reagan, Thatcher, and the politics of retrenchment. New York: Cambridge University Press, 1994.

14

Ver Fagnani (1999).

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Gráfico 1:

Percentual de Municípios que têm Conselhos Municipais - 2001 5 5 6 11 13 22 29 34 73 77 93 98 Orçamento Transportes Política Urbana Habitação Cultura Turismo Meio Ambiente Trabalho Educação Direitos da Criança e do Adolescente Assistência Social Saúde

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais, 2001.

%

Percentual de Municípios que têm Conselhos Municipais - 2001 5 5 6 11 13 22 29 34 73 77 93 98 Orçamento Transportes Política Urbana Habitação Cultura Turismo Meio Ambiente Trabalho Educação Direitos da Criança e do Adolescente Assistência Social Saúde

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Pesquisa de Informações Básicas Municipais, 2001.

%

Tabela 1:

Entidades Sem Fins Lucrativos Totais e de Assistência Social - Brasil/2002

Unidades locais Pessoal ocupado assalariado

em 31.12 Total Assistência Social % Total Assistência Social % Entidades sem Fins Lucrativos 275.895 32.249 11,7 1.541.290 226.510 14,7

Fonte: As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil 2002, IBGE 2004.

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Figura 1:

Manutenção e fortalecimento da atividade produtiva rural

Incentivo a re-inserção produtiva

Assistência social Atenção parcial Marco Lógico da Política de Assistência Social no Brasil

DESENVOLVIMENTO SOCIAL PROTEÇÃO SOCIAL Assistência social Atenção plena Transferência de renda Manutenção e fortalecimento da atividade produtiva rural

Manutenção e fortalecimento da atividade produtiva rural

Manutenção e fortalecimento da atividade produtiva rural

Incentivo a re-inserção produtiva Incentivo a re-inserção produtiva Incentivo a re-inserção produtiva Assistência social Atenção parcial Assistência social Atenção parcial Assistência social Atenção parcial Marco Lógico da Política de Assistência Social no Brasil

DESENVOLVIMENTO SOCIAL DESENVOLVIMENTO SOCIAL PROTEÇÃO SOCIAL PROTEÇÃO SOCIAL Assistência social Atenção plena Assistência social Atenção plena Assistência social Atenção plena Transferência de renda Transferência de renda Transferência de renda 9

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