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Afetividade na construção da identidade na educação infantil: potencializando o sujeito que aprende

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

AFETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NA EDUCAÇÃO

INFANTIL: POTENCIALIZANDO O SUJEITO QUE APRENDE

LUANA FRIES

Ijuí – RS 2017

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LUANA FRIES

AFETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NA EDUCAÇÃO

INFANTIL: POTENCIALIZANDO O SUJEITO QUE APRENDE

Trabalho de Conclusão de Curso, sob a orientação da professora Eulália Beschorner Marin, Curso de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Departamento de Humanidades e Educação – Curso de Pedagogia – Habilitação em Pedagogia.

Ijuí – RS 2017

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AGRADECIMENTOS

Ao concluir este trabalho quero agradecer:

A Deus, que esteve sempre olhando por mim, me mantendo com a cabeça no lugar, dando-me forças para não desistir.

A minha mãe, que nunca mediu esforços para que eu conseguisse seguir o meu sonho, foi sempre meu ponto seguro e hoje, segue em minhas orações e sei que estás vibrando comigo ao chegar a conclusão desta etapa.

As minhas colegas de trabalho que sempre estiveram do meu lado me apoiando e me incentivando.

Ao meu querido Lucas que esteve sempre comigo em momentos de desespero dizia que me acalmasse e confiasse em minha capacidade.

A minha fada madrinha Mariana que sempre me apoiou e me ajudou quando eu precisei.

A todos meus professores, que durante toda minha vida escolar me proporcionando o necessário para o sucesso de minha aprendizagem.

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“O difícil não é impossível. Quem vive para o que der e vier, sabe que semeando a boa semente, ainda que seja pela umidade das lágrimas, um dia verá nascerem plantas. Pode mesmo acontecer que os outros não valorizem o quanto custou esse trabalho. Não faz mal: você se comprometeu pelo ideal do bem. Não importa também se, nesse esforço, tropeçou e caiu, pois é aos que tombam na luta que se costuma chamar de heróis. Apenas o que se lhes pede é o testemunho da perseverança”.

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RESUMO

Este estudo busca apresentar reflexões sobre a importância dos vínculos afetivos na aprendizagem de crianças, especialmente na Educação Infantil. Para fundamentar a construção deste trabalho, busquei informações nos referenciais teóricos baseados nas ideias de Wallon e Vygostky. Da mesma forma, as contribuições de Saltini foram importantes para caracterizar um professor com olhar afetivo, que é aquele que se preocupa com a aprendizagem, que deve ser significativa para a criança, onde ele possa trazer suas experiências, fazer trocas, interagir, enfim estabelecer vínculos. A partir deste trabalho entendo que a educação infantil deve ser orientada pelo afeto.

Palavras-chave: Afetividade. Aprendizagem. Educação Infantil.

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INTRODUÇÃO

Falar do tema educação é bastante abrangente e traz consigo muitos debates. Pode-se dizer que não é possível falar de educação dando enfoque somente ao conhecimento e esquecendo das emoções, pois sabemos que o ser humano é dirigido por dois polos: razão e emoção. É notável que a afetividade no contexto escolar favorece uma aprendizagem mais sadia onde o aluno se reconhece como indivíduo responsável pela construção da sua identidade e consequentemente de seu conhecimento.

Segundo Wallon (1979), a personalidade é formada por duas funções básicas: inteligência e afetividade. A inteligência ou conhecimento está vinculado ao mundo físico, à construção do objeto. Já a afetividade está ligada ás sensibilidades internas e orientada à construção da pessoa. Assim, a afetividade assume papel anterior à inteligência, no sentido de que assume função essencial no desenvolvimento humano, definindo os interesses e as necessidades individuais da pessoa.

A partir de reflexões e revisões teóricas acerca do tema em questão, desejo investigar a importância da afetividade no processo de aprendizagem das crianças da Educação Infantil. Para isso recorro suporte as contribuições teóricas de Wallon e Vygotsky, tendo base também em minhas observações realizadas em uma turma de Educação Infantil numa escola pública do município de Coronel Barros.

Ao voltar nossos olhares para a educação infantil, esse tempo em que à educação e o afeto estão trabalhando juntos, onde o educar não é somente repassar informações e conhecimentos, mas sim o ato de cuidar e educar que só ocorre quando o afeto é complementado de amor, o desenvolvimento da criança não acontece somente da relação de aspectos cognitivos, mas também e principalmente, aos aspectos afetivos.

Segundo Vila (2000, p. 41): “A educação infantil tem três atores: crianças, famílias e profissionais da educação [...]”. É por isso que é de extrema importância auxiliar as crianças a construírem suas identidades, para isso precisamos oferecer oportunidades afetivas, em uma parceria entre família, escola, professores.

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A criança necessita e deseja ser amada, ouvida, aceita, acolhida para que possa despertar para a vida do aprendizado e da curiosidade.

A relação de afeto entre a criança e o educador é, portanto um apoio ao conhecimento é um elemento fundamental na prática pedagógica, tornando relevante que o processo de cuidar e educar se envolvam, pois, são partes essenciais que formam um todo.

Busco também da abordagem Reggio Emilia a Pedagogia da Relação, onde a criança é o foco de toda a abordagem, mas, é fundamental para a educação das crianças também os professores e a família. Esta participação não é apenas burocrática como reuniões bimestrais ou chamados aos pais para irem à escola ouvirem do comportamento de seus filhos, como vemos frequentemente. Esta participação é como se os três componentes centrais fizessem parte de uma família, e a escola é preparada para que se sintam em casa. Segundo Malaguzzi:

Ela deve incorporar meios de intensificar os relacionamentos entre os três protagonistas centrais, de garantir completa atenção aos problemas da educação e de ativar a participação e pesquisas. Estas são as ferramentas mais efetivas para que todos os envolvidos – crianças, professores e pais – tornem-se unidos e conscientes das contribuições uns dos outros. Estas são as ferramentas mais efetivas para que nos sintamos bem cooperando e produzindo, em harmonia, um nível superior de resultados (In: EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999, p. 75).

Através da Pedagogia da Relação, tanto as crianças quanto os adultos aprendem na diferença com o outro, com o diálogo, com a troca de ideias, mas isso só acontece porque o ambiente democrático e aberto proporciona esta prática e ampliam seus horizontes. As famílias são chamadas às reuniões para discutirem o currículo, os projetos e pesquisas, ideias para a organização das atividades. As crianças recebem todos os endereços e telefones das outras crianças e de seus professores, são encorajadas a visitarem as casas de seus colegas e aos locais de trabalho dos pais. Tudo isso coopera no desenvolvimento de uma educação em que a criança tem um papel ativo na construção e aquisição da aprendizagem e da compreensão. Esta concepção pedagógica é a base que origina o currículo, a arquitetura e o sistema administrativo das escolas municipais de Reggio Emilia.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) destacou melhor cada um dos direitos da criança e do adolescente bem como os princípios que devem delinear as políticas de atendimento. Determinou ainda a criação dos Conselhos da Criança e

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do Adolescente e dos Conselhos. Os primeiros devem zelar pelo respeito aos direitos das crianças e dos adolescentes, entre os quais o direito à educação, incluindo para as crianças pequenas o direito a creches e pré-escolas (BRASIL, 2001). A creche e a pré-escola têm, portanto, uma função de complementação e não de substituição da família como tantas vezes foi entendido.

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SOBRE AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM

Inicialmente, é importante relembrar e retomar o significado de alguns termos relacionados a este trabalho, para que possa servir de auxilio no entendimento e concepção dos mesmos e assim dar início ao trabalho. Assim, procurei o auxílio na enciclopédia livre da internet, a Wikipédia, para compreensão do termo abaixo:

A afetividade permite ao ser humano demonstrar os seus sentimentos e emoções a outro ser ou objetos. Pode também ser considerado o laço criado entre humanos, que, mesmo sem características sexuais, continua a ter uma parte de “amizade” mais aprofundada. Em psicologia, o termo afetividade é utilizado para designar a suscetibilidade que o ser humano experimenta perante determinadas alterações que acontecem no mundo exterior ou em si próprio. Tem por constituinte fundamental um processo cambiante no âmbito das vivências do sujeito, em sua qualidade de experiências agradáveis ou desagradáveis.

A afetividade está diretamente relacionada com experiências dos indivíduos nos mais diversos espaços, como família, escola e comunidade. Essas experiências podem ser negativas como positivas e ainda interferem nas relações sociais que os sujeitos estabelecem com seus semelhantes.

É fato que a interação social forma os processos de relação entre afeto e cognição. Neste caso, as contribuições das teorias de Wallon e Vygostsky sobre estes dois processos dirigem seus estudos na fase infantil, em especial quando falam das etapas de evoluções da criança e suas relações afetivas.

Segundo o Wallon (2007 p. 122), “é inevitável que as influências afetivas que rodeiam a criança desde o berço tenham sobre sua evolução mental uma ação determinante”, o que reforça mais uma vez que a aprendizagem tem uma ligação com a afetividade. Ainda, segundo ele, o choro de um bebê recém-nascido, mesmo que seja de fome, carregado de valor afetivo, pois, além de ser a expressão de uma necessidade básica, no caso, alimentar, pode ser também emocional.

Falamos agora então sobre a afetividade: segundo a corrente psicogenética de Wallon (DANTAS, 1992), “a afetividade não é só uma das dimensões da pessoa, mas uma fase do seu desenvolvimento, talvez uma das mais arcaicas”. Isso significa que assim que o ser humano deixa a sua vida orgânica, e passa a ser afetivo, ele vai mudando para a vida racional. Daí pode-se deduzir (DANTAS, 1992) “que no início

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da vida, afetividade e inteligência estão misturadas, com o predomínio da primeira”. E a partir de então:

A sua diferenciação logo se inicia, mas a reciprocidade entre os dois desenvolvimentos se mantem de tal forma que as aquisições de cada um repercutem sobre a outra permanentemente. Ao longo do trajeto, elas alteram preponderâncias a afetividade reflui para dar espaço a intensa atividade cognitiva, assim que a maturação põe em ação o equipamento sensório motor necessário a exploração da realidade (Idem, p. 90).

É importante compreender que as crianças desde pequenas precisam relacionar-se com outras crianças com o fim de interagir e dar espaços ao desenvolvimento da afetividade e aprendizagem. Sendo assim, se dá início a evolução da personalidade, sempre relembrando que as emoções estão ligadas a este processo. Segundo Wallon (2007, p. 124):

À emoção compete o papel de unir os indivíduos entre si por suas relações, mais orgânicas e mais íntimas, e essa confusão de ter consequência ulterior as oposições e os desdobramentos dos quais poderão gradualmente surgir as estruturas da consciência.

É na família que a criança começa a vivenciar suas primeiras experiências afetivas. Mas é na escola que esse processo se torna mais rico e significativo. Isso porque o ambiente escolar proporciona as mais diversas oportunidades de interação somando o que as crianças trazem de casa, ou seja, suas vivências e conhecimentos. Nesse caso, a educação:

[...] é um processo em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o outro (MATURANA, 2002, p. 29).

As ideias de Wallon defendem a afetividade como sendo o aspecto mais importante, pois o considerava o fator primordial de sobrevivência do ser humano. Wallon sempre fundamentou suas pesquisas abordando três aspectos das pessoas: afetivo, motor e cognitivo.

Vygostsky, também defendia a não divisão dos aspectos cognitivos e emocionais no ser humano, sendo que em suas obras nunca utilizou o termo cognição (DANTAS, 1992, p. 75), pois ele preferia usar os termos consciências ou

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funções mentais. Vygotsky (Idem, p. 76) afirmava que: “o pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção”.

Desta forma, Vygotsky defende também a importância das interações sociais, traz a ideia da internalização como aspecto fundamental para a aprendizagem e também a interação entre os sujeitos envolvidos.

Analisando conjuntamente as teorias defendidas por Henri Wallon e Vygotsky, pode-se dizer, que há alguns pontos comuns que os autores assumem no que se refere à afetividade. Segundo Leite (2006, p. 24) estes pontos são:

A) Assim que as manifestações, inicialmente orgânicas, vão ganhando complexidade à medida que o indivíduo desenvolve-se na cultura, passando a atuar no universo simbólico, ampliando-se suas formas de manifestação. B) Assumem, pois o caráter social da afetividade. C) Assumem que a relação entre afetividade e inteligência é fundamental para o processo de desenvolvimento humano.

Piaget (1896 – 1980) em seus estudos e escritos reconheceu que a afetividade desencadeia a atividade cognitiva do aprender. Para ele a afetividade seria uma ação e a razão seria o que o possibilita ao sujeito identificar, conhecer os seus desejos, os seus mais diversos sentimentos, conseguindo então êxito nas suas ações.

Furth descreve que a afetividade impulsiona o desenvolvimento da inteligência e agirá na resolução dos problemas que a vida nos oferece, principalmente nos problemas apresentados ou surgidos, no interior da escola. Ele diz: “Obviamente, para a inteligência funcionar deve ser motivada por um poder afetivo. Uma pessoa jamais resolverá um problema se não se interessar. O ímpeto para tudo reside no interesse, motivação afetiva [...]” (FURTH, 1995, p.11). Nesta perspectiva, uma pessoa somente resolverá um problema qualquer se estiver interessado, estando o ímpeto, para qualquer atividade, no interesse, portanto, na motivação afetiva. Desta forma, é pela afetividade que o aluno faz as suas escolhas, estabelece e vai em busca de seus objetivos.

Espindolla considera o desenvolvimento intelectual como tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo. “O desenvolvimento afetivo se dá

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paralelamente ao cognitivo e tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual.” (ESPINDOLLA, 2004, P.1).

As relações entre afetividade e aprendizagem faz-nos compreender que Piaget concebe a afetividade como resultado de uma construção ativa, não estática, que se estabelece e acontece nas relações cotidianas entre o sujeito e o objeto e, portanto, a afetividade resulta da construção diária e permanente durante todo o processo da existência humana, sendo a sala de aula, a escola, o ambiente escolar um espaço por excelência de construção ativa da afetividade nas múltiplas relações estabelecidas e que resultarão em interferências na construção e elaboração do projeto vital da criança.

A afetividade, os sentimentos e as emoções passam a ser instrumentos que podem beneficiar a criança, na tomada de decisões, pois são constitutivos do psiquismo humano. Desta forma, os sentimentos são instrumentos de que o sujeito dispõe para estabelecer as relações afetivas com pessoas, animais, coisas e relacionar-se consigo mesmo.

Diante de todos os apontamentos trazidos pelos referenciais teóricos, podemos afirmar que falar de emoção, afetividade, aprendizagem, inteligência, enfim, cognição, significa abrir as portas para as inter-relações que acontecem nos diversos ambientes, experiências estas que devem ser facilitadoras para nossos alunos aprenderem mais e serem felizes.

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OS EFEITOS DA AFETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DAS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE ESCOLA PÚBLICA, REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA

Esse capítulo traz as minhas observações durante um período de início de ano letivo em uma escola pública do município de Coronel Barros. Período este de adaptação, que para muitas crianças é o primeiro contato com a Escola.

A adaptação é um período delicado que requer muita paciência e muita dedicação tanto da professora como da família.

Iniciei minha vida escolar na referida escola da pesquisa lembro-me que sempre gostei de ir para escola, quando minha mãe dizia que naquele dia não iria ir era aquela briga. Eu ia todos os dias de transporte escolar, na volta chegava em casa de “noite”.

Minha primeira professora, é a mesma que hoje observo durante minha pesquisa, foi ela que me ensinou a ler e escrever. Eu gostava muito de minha professora.

Agora retornando a escola não mais como aluna, mas com o olhar de futura professora, me sinto com orgulho de ter estudado ali. A escola mudou muito tanto em estrutura como no pedagógico, mas a essência, o acolhimento, é o mesmo. Poder retornar a minha escola base é uma experiência maravilhosa para minha formação como professora.

Dividi minhas observações em três partes: 1ª relação criança x criança, 2º relação professor x criança e 3ª relação criança x professor x família.

Neste período de observação busquei aprender ao máximo de experiências para levar para minha constituição como professora. Percebi o quanto a afetividade é importante para trabalhar com a Educação Infantil, pois eles são bem mais sensíveis e verdadeiros na hora de expressarem seus sentimentos, mas também mais vulneráveis às manifestações emotivas de colegas e do professor.

AS CRIANÇAS

“Uma criança não é uma criança para ser pequena, mas para tornar-se adulta” (CLARARÈ, 2004, p. 30).

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A turma é constituída por 26 crianças. Destes 70 % fazem uso do transporte escolar porque residem no interior. Muitas crianças chegam na escola cansados e já com fome devido ao fato de residirem em localidades mais distantes, necessitando permanecerem 1 hora ou mais no transporte para chegar na aula. E ao término da tarde, retornam para suas casas chegando muitas vezes de noite em casa.

Morando em locais mais afastados, muitas crianças não têm amigos da mesma idade próximos para brincarem. Alguns têm irmãos, mas percebe-se claramente a diminuição do número de filhos. Aprender a brincar com os iguais, dividir os brinquedos (que são também novidades, diferentes dos de casa) é uma longa aprendizagem.

Ao iniciar as observações, procurei construir uma relação de carinho com as crianças, buscando não interferir negativamente no que a professora planejava. Aos poucos a professora foi introduzindo a rotina da turma. Saltini (2008, p. 102) defende a rotina, no sentido de que esta dá suporte psicológico à criança:

O que regra a vida quotidiana é a sequência dos acontecimentos. A duração de cada atividade pode mudar, aumentar ou diminuir (roda, lanche, pátio, história, etc.), porém não a sua ordem... O hábito e os rituais em sequência são essenciais para a segurança psicológica da criança; estes são um porto seguro para o novo.

Interessante observar que a rotina é facilmente assimilada pelas crianças. Quando outra professora entra em sala, as crianças orientam quanto aos tempos e questionam se não realizaram alguma atividade que habitualmente fazem em aula.

Ir na pracinha e a hora do recreio são os momentos favoritos. Brincam, correm, gritam e também criam conflitos os quais muitas vezes necessitam a intervenção do adulto para solucionar. Ao longo dos dias, das semanas, a professora vai proporcionando momentos que exijam que sentem, que compartilhem os materiais e que aprendam a escutar e respeitar a vez de cada um falar.

A RELAÇÃO CRIANÇA X CRIANÇA

Durante minhas observações pude perceber muitos pontos sobre os relacionamentos entre crianças, a construção de afinidades e também a falta de afinidades com alguns.

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As crianças mesmo nesta faixa etária já se permitem realizar experiências afetivas, trocas, acordos, e sem tantas brigas, chamando a professora apenas quando não há nenhum acordo.

Aos cinco anos torna-se mais sociável. E mais amistosa que hostil. Os desejos dos companheiros começam a ser considerados, com promessas compensatórias, mas ele ainda se coloca em primeiro lugar (FERREIRA, 2002, p. 16).

Nesta fase costumam ouvir mais o colega entram facilmente em um acordo, aceitam a ideia e a solicitação do outro, Fortuna (2004, p. 49), diz que, as crianças desta faixa etária já estabelecem vínculos afetivos, como sugere a citação a seguir: “por outro lado, tanto jogo quando brincadeira contem a ideia de laço, relação, vínculo, pondo indivíduos em relação consigo mesmos, com os outros, com o mundo enfim”.

Muitas crianças ao ingressarem na Educação Infantil, tinham até o momento como relação principal apenas seus familiares. Aprender a olhar, a perceber a presença, a brincar com outras crianças da mesma idade é uma grande aprendizagem a ser realizada nesta etapa de ensino.

Outro fator muito relevante é que cada turma tem suas características. Turmas mais falantes, mais quietas, em alguns anos se tem alunos na maioria á do interior, em outros na maioria da cidade e que vários já frequentaram a Escola Infantil. Todas estas peculiaridades devem ser observadas na hora de planejar as aulas.

A PROFESSORA

O processo de formação docente não se dá de forma singular, ocorre no dia a dia com os demais professores através da troca de experiências e observações diárias. Trabalhar na coletividade não é fácil, aprender a receber críticas e compartilhar os saberes somente o tempo ensina, mais do que o diploma, nos constituímos professores no cotidiano da Escola.

O sucesso escolar se dá no esforço coletivo e não nos interesses pessoais. O ser professor é um desafio diário. A pesquisa, a busca por novas alternativas, o pensar juntos é que vão contribuir ao processo de ensino.

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A formação docente é um contínuo, ao longo de nossas experiências vamos nos constituindo professores, através da reflexão de nossas práticas ampliamos os conhecimentos, pois um professor nunca está formado por definitivo, a constante mudança requer que o docente esteja paralelamente acompanhando-a, seja mudanças pela sociedade, pelas tecnologias e até mesmo por suas próprias práticas que envolvam a relação professor-aluno.

A professora regente da turma é formada em Biologia e a 23 anos trabalha com Educação Infantil e Anos Iniciais. Conversamos informalmente, percebe-se claramente o quanto gosta de trabalhar na Educação Infantil.

Nós como educadores defendemos a lógica de que cada educando e educanda são sujeitos históricos. E apostamos na capacidade de cada um educar-se em interação com educar-seus pares. O nosso desafio está em nos prepararmos para conviver, conhecer, entender e lidar pedagogicamente, com as diferenças culturais que se multiplicam.

As crianças cada vez mais vem para escola por obrigação e não por interesse. O ensinar e o aprender deve ser em conjunto criança e professor e é por isso que o interesse deve ser por igual.

Devemos como professores buscar a cada dia trazer motivos para as crianças voltarem no dia seguinte, é nosso dever criar ou recriar o interesse pela escola e pelo aprender. Muito do que falta na escola é a comunicação entre professor e criança.

E é tarefa nossa, estudantes, que estamos em formação de buscar alternativas, sabemos que em toda escola tem aquela professora que não aceita ideias novas, e continua naquele método que aprendeu há muitos anos atrás. Temos que aprender que somos professores e não temos que simplesmente dar aulas, dar conteúdos... trabalhamos com vidas precisamos considerar esses sujeitos que temos em sala de aula, em suas singularidades e acreditar sempre que todos tem condições de aprender cada um de acordo com suas possibilidades.

A CRIANÇA E SUA PROFESSORA

O educador tem um papel de fundamental importância na construção da identidade autônoma de cada criança, principalmente na educação infantil, onde as

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crianças estão mais abertas à aprendizagem, ao se identificarem com o modelo que lhe foi apresentado.

Há uma grande importância também em reconhecer o trabalho desenvolvido pelos educadores que trabalham com a educação infantil, pois é através deles que acontece a estimulação para a longa caminhada da construção da identidade. Mas por outro lado pode-se pensar nas possibilidades de exemplos negativos que esse mesmo educador pode cometer.

O educador atuante na educação infantil e no processo de construção da identidade proporciona situações onde a criança reconheça suas particularidades e interaja com outras crianças, seja qual for a faixa etária.

A criança ao ingressar na escola traz consigo uma grande expectativa quanto à sua futura professora. Como para muitas crianças é o primeiro contato com a escola, seus primeiros anos da vida, vão marcar para sempre seu percurso como estudante.

A Educação Infantil é uma etapa privilegiada, atua com crianças autênticas, criativas e com muita energia. O educador promove muitas situações de escuta, principalmente na rodinha os alunos compartilham suas vivências, relatando em vários momentos, situações que ocorrem em casa, muitas vezes constrangedoras, necessitando a professora intervir para evitar futuros desentendimentos.

Nesta etapa escolar o que a professora diz é “lei”. Por isso, nas brincadeiras, imitam muitas vezes sua professora e adoram brincar de escolinha.

A FAMÍLIA

Ao iniciar o processo escolar as crianças precisam se sentir seguras. Muitos problemas de adaptação que a escola enfrenta vem da insegurança da família.

A forma como os pais interagem com seus filhos, suas expectativas em relação dos filhos desempenham papel fundamental no processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças.

A família precisa “viver a escola” junto com a criança. Vibrar com suas conquistas, elogiar suas produções, organizar a mochila e o lanche com carinho, perguntar e estimular o filho à contar o que fez na escola. Tudo isto ajuda muito no aprendizado e traz um diferencial para a sala de aula.

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Trabalhar com uma turma de crianças em que as famílias estejam comprometidas com a vida escolar de seus filhos, que venham até a escola, que conheçam como a professora faz com que o trabalho pedagógico flua, as crianças aprendem mais rápido o que faz sentido para elas, o que elas vivenciam. Daí a importância de família e escola caminharem na mesma direção.

Em um dos dias observados a professora pediu para que cada um desenhasse sua família, para que tivessem a confiança que mesmo estando na escola a família estaria ali junto. Saltini (2008, p. 103) defende a participação dos pais na escola e na sala de aula, sendo que o autor dá algumas dicas:

O educador poderá pedir aos pais que venham falar do que sabem e do que fazem... na medida do interesse das crianças por um determinado tema, fazendo as devidas ligações das declarações dos pais com os fatos evidenciados pelas próprias crianças.

A RELAÇÃO CRIANÇA X PROFESSORA X FAMÍLIA

Cada vez mais nos dias de hoje está entrando em discussão qual o papel da família e da escola quanto à educação da criança, a família tem feito sua parte? Ou é a escola que acaba fazendo o que não é de sua função?

A família tem um papel muito importante, quando a criança começa sua vida escolar. Precisa dar apoio emocional para a criança, incentivar. A criança só vai confiar na escola se a família confiar.

Durante meu período de estudo, trabalho, observações e conversas percebi muito a falta e participação da família no desenvolvimento das crianças, cada vez mais a educação das crianças está terceirizada para a escola. Cresci ouvindo de meus pais que a educação vinha de casa e o que se aprendia na escola era o conhecimento. Mas, hoje já não é mais assim, me parece que os pais não têm mais tempo para dar educação para os filhos e assim deixam essa responsabilidade para a escola.

E isto está refletindo diretamente nas salas de aula, crianças desinteressadas, todos os dias ouvimos nos noticiários os resultados de aprendizagem no Brasil hoje que a cada dia baixam as médias. Com tanta tecnologia, e acessibilidade, professores capacitados nas escolas hoje, estes números são inadmissíveis. Podemos perguntar então “O que está faltando?”.

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O que falta é dar valor à educação. A escola é decisiva para a vida futura de todos. Temos que buscar, reconquistar as famílias para que famílias, crianças e professores possam trabalhar e tornar o aprendizado mais significado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizar uma reflexão de pesquisa e observação é tarefa complexa ainda mais quando os sentimentos e as emoções aflora juntamente as aprendizagens construídas. Ter abordado a afetividade neste trabalho foi algo que me possibilitou aprendizagens pessoais que jamais serão esquecidas.

Sempre procurei estabelecer vínculos afetivos com as crianças, mas sei que existe uma linha tênue entre os afetos e as pressões sociais, por isso que este tema é tão delicado e muitas vezes não é levado em consideração por grande parte dos educadores.

A afetividade é a propulsora da aprendizagem, pois é fundamental para o desenvolvimento cognitivo. É importante que o professor planeje e proporcione atividades e brincadeiras para as crianças, fazendo com que se sintam bem, queiram brincar e, ao mesmo tempo, aprender.

A aprendizagem é mentora da identidade, isto é, uma vez que cada um é único se diferencia dos demais, para tanto o professor precisa oportunizar aos alunos situações de aprendizagem que evidenciem seus sentimentos na escola e não apenas sua inteligência e/ou sua capacidade de aprender.

Os sujeitos infantis, suas professoras e seus pais precisam estar em aliança, para que a criança possa tirar o máximo de proveito. E que esta aliança perdure por toda a vida escolar.

Este trabalho busca contribuir e para tal reafirmo a ideia de que o professor afetivo é mais feliz no seu ato docente, estabelece relações mais significativas com as crianças tornando a aprendizagem mais prazerosa.

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REFERÊNCIAS

AFETIVIDADE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Afetividade&oldid= 47780650>. Acesso em: 19 jan. 2017.

DANTAS, Heloysa. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. IN: LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl e DANTAS, Heloysa. Piaget. Vygotsky e Wallon. Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 1996.

FURASTÉ, P. A. Normas técnicas para o trabalho científico: explicitação das normas da ABNT. 17. ed. Porto Alegre: Dáctilo-Plus, 2014.

MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: UFMG, 2002.

SALTINI, Cláudio. Afetividade e inteligência. Rio de Janeiro: DP&A, 2008.

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

WALLON, H. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Referências

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