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Arquivo Geral
da Cidade
Expediente
Prefeitoda Cidade do Rio deJaneiro
Eduardo Paes
Vice-prefeito
Adilson NogueiraPires
Secretário-ChefedaCasaCivil
Guilherme Nogueira Schleder
Diretorado ArquivoGeraldaCidadedoRio deJaneiro
BeatrizKushnir Editora BeatrizKushnir EditoraAssistente CarolinaFerro ConselhoEditorial
AndréLuiz Vieirade Campos(UFF/UERJ)
ÁngeladeCastro Comes (CPDOC/FGC/UFF) IsmêniadeLima Martins (UFF)
limar R.de Mattos (PUC-Rio)
JamesN. Creen (BrownUniversity)
JeffreyD.Needell(UniversityofFlorida)
José Murilo de Carvalho(UFRJ)
Lend Medeiros deMenezes (UERJ)
Luciano Raposode AlmeidaFigueiredo(UFF)
Maria Luiza Tucci Carneiro (USP)
Mary DelPriore (UNIVERSO)
StellaBresciane (UFF/Museu HistóricoNacional)
Tania Bessone (UERJ)
R E V I S T A D O
Arquivo
Geral
da Cidade
do Rio
de
Janeiro
números 10 e 11- 2016
ISSN1983-6031 publicação semestral revista.agcrj@cvl.rio.rj.gov.br
Conselho Consultivo
Aldrin Moura deFigueiredo(UFPA)
Daniel Flores(UFSM)
LucianaQuillet Heymann (CPDOC/FGV)
Revisão
Bella Stal
Versãoparaoinglês
Peter Lenny
Projetográfico
www.ideiad.com.br
Projeto dosite
www.akadem.com.br
Produção executiva www.emtempo.com
Fotode capa
Obrasde Abertura da Presidente Vargas-Semautor,
1942-BRRJAGCRJ.APV.ALB.01.07
Oconteúdo dostextosé de únicaresponsabilidade deseusautores.
R E V I S T A D O
Arquivo Geral
da
Cidade
do
Rio
de
Janeiro
números 10e 11, 2016 ^f‘ l P réT i l o d e Monografiafill
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RIO
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A. ARQUIVOGERALA Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de
Janeiro
completa uma década dedivulgação ediscussãosobrenumerosos aspectos da historia dacapital fluminensecom
grandesnovidades. Nesteano, em vezdeurna únicaedição, teremosdoisexemplarescom
dossiês,artigos livrese resenhas relevantes sobreArquivologia,Urbanismoe História. E é claro que a PrefeituradoRiocontinua amparandoessa iniciativa,calcada naexcelência de seu Conselho EditorialeConsultivoe na competência desuas editoras, responsáveis
por uma publicaçãoextremamente rigorosa e de grande qualidade acadêmica
.
É nossocompromisso apoiar esta revista que vem crescendo junto com nossa administração a
passos largos para a construçãode umacidade muito maisque maravilhosa: conectada,
cidadã eque valorizasuas raízes e seulegado.
Nessas edições, os saberes das áreas das Ciências Humanas e da Informação são
discutidos e compartilhados com todos os públicos, sejam especialistas ou não
.
Osprofessores de nosso município e de todoo Brasil têm a oportunidadedese atualizar e
discutir sobreo nosso passado, nossopresentee nossofuturoem prolde uma urbe cada vez mais democrática
.
Além disso, os pesquisadores têm um ambiente acolhedor paradivulgar seus trabalhos, apresentar seus resultados e tornar público o que há de mais
recentenasáreassupracitadas.
O Arquivo Geral da Cidade do Rio de
Janeiro
demonstra, mais uma vez, seu compromisso comafunçãohíbrida dosarquivospúblicos dehoje,queunema demonstraçãodo bom governode nosso município, nossa transparência e nossa responsabilidade pela
implementação de PolíticasPúblicas deGestãode Documentos
.
APrefeitura doRiocompreende queos arquivosdevem servistoscomoequipamentos
do Estado,voltados para a eficiênciadosserviçosgovernamentaiseparaoatendimento da
populaçãocarioca
.
Porestarazão,desde2013ainstituiçãoestáligada
àSecretariada CasaCivil.Asduasinstânciasdemonstramconstanteenvolvimento naconstrução depolíticasde transparência,dedados abertos,dacomposiçãode processosadministrativoseletrónicos,
das políticas de “governosem papel”, bem como garantem o acesso sem negligenciar o
tratamento, a preservação e a disseminação de fontes de interesse acadêmico e para a defesa de direitos de cidadania.
Nesteanode2016,emqueo Riode
Janeiro
torna-sesede dasOlimpíadas-agrandecelebraçãodo esporte mundial-, nada melhor do que duas excelentes ediçõessobrenossa
história.Maisumaformade receber nossosvisitantescomosbraçosabertosede demostrar a riquezaculturalea produçãointelectual de nossa cidade.
GuilhermeNogueira Schleder
Sum
ário
- número10Apresentação 1 3
DossiêPesquisaem Arquivologia
Apresentação
EliezerPiresdaSilva e)oséMariaJardim
AImplementaçãodaLeideacesso à informação noPoder Executivodo Estado doRiodeJaneiro: DimensõesArquivísticas
Zenaide deFreitas Santos eJoséMariaJardim
Diagnósticodosserviçosarquivísticos do Poder Executivodomunicípio de Duquede Caxias
Leandro Pinheiro deCarvalho,Paulo Roberto Elian dosSantose AnaCeleste Indolfo
ArquivoeEscola: buscando açõesextensionistascomopossibilidadedeaproximação
Priscila Ribeiro Gomes eMagnoVinicius da Silva Monteiro
Aatuaçãodo arquivistaentreodever dememória e odesejo de Arquivo
BiancaTherezinhaCarvalho PanisseteJoãoMarcusFigueiredo deAssis
Adispersãode fundos de arquivos pessoais
EliezerPiresdaSilvaeMariana Tavaresde Melo
19 21 37 61 81 91
DossiêAvenidaPresidenteVargas:vamosfazê-la!
Apresentação
Andréade LacerdaPessoaBorde
AvenidaPresidenteVargas:narrativashistóricas
Andréade Lacerda Pessoa Borde
OCaminhodo Aterradoe o pensamentourbanístico noBrasil(1825-1853)
Priscilla Peixoto
Deteatrodopodera centrofinanceiro eadministrativo.Setedécadas de transformações na
Avenida Presidente Vargas
Evelyn Furquim WerneckLima
Ofinanciamentoda abertura da AvenidaPresidente Vargas:estratégiasinstitucionaiselegais
Fernanda FurtadoeVera F.Rezende
Umolhar sobreahistória do urbanismo daÁreaCentraldo Rio deJaneiro: entre a renovação
e a conservação
Andréada RosaSampaio
Àmargemdapreservação: opatrimónio edificado da Avenida PresidenteVargas
GuilhermeMeirelles Mesquita deMattos
105 109 133 157 175 193 213
Artigos
AZona Oestecoloniale osmapas depopulaçãode1797:algumas consideraçõessobre lavradores 233
partidistaseproduçãoagráriade jacarepaguá,Campo Grandee Guaratiba no século XVIII
Victor LuizAlvaresOliveira
Arremateseimpostos:a atuaçãodo Senado daCâmara naeconomiafluminense(1790-1807)
Maria Beatriz GomesBellensPorto
Ochorocariocado gramofoneao tocante:relação ediferenças nasformasdeprodução e
divulgaçãoda músicapopularurbanaentreasesferaseruditaepopularda cidade do Rio deJaneiro
LeonardoSantana da Silva
259
279
Resenha
Arquivologia:abordagenseObjetos
Resenha de:SCHMIDT,Clarissa MoreiradosSantos.Aconstruçãodo Objetocientíficonatrajetória
histórico-epistemológica daArquivologia.SãoPaulo:Arq-SP,2015. NatáliaBolfariniTognoli
O
Caminho
do
Aterrado
e o pensamento
urban
í
stico no
Brasil
(
1825
-
1853
)
The Caminho do Aterrado and urban
planning
in
Brazil
(
1825
-1853
)
Priscilla Peixoto
DoutorandanoPrograma dePós-Craduação emUrbanismoda
Universidade Federal doRiode janeiro (PROURB/FAU/UFRJ)ebolsista daCoordenaçãode Aperfeiçoamentode Pessoal de Nível Superior(CAPES)
priscillapeixoto@gmail.com
RESUMO:O presente artigo enfoca um
conjunto depropostasfeitasentre 1821e 1855paraaregiãoqueiada antiga Ponte dos MarinheirosatéaPraçaOnze, no Riode
Janeiro.Conhecido também como Caminho do Aterrado,nosdiasde hojeestelocalfazparte
da Avenida Presidente Vargas.Esteestudose
detém maisespecíficamente naspropostas
deGrandjean de Montigny(1827),Aureliano
Coutinho(1833),Henrique de Beaurepaire
-Rohan(1843) eIrineuEvangelistadeSouza
(1851-55),pois setempor hipótesequecom elas se consolidou aexpansãodesta área da cidade.Aodesenvolveresteestudo,abordando
os atores sociaisesuaspráticas,busca-seum
olharmaiscomplexosobreesseprocessode
“interiorização”. Observando,portanto,a
conformação de umcampodesaberconstruir
cidades ondesedistinguemdiferentes grupos
-arquitetos,engenheiros,políticose
empresários-,emmeiode umasériede
debates,nemsempreconvergentes,eguiados
por diferentesvisõesdemundo.
Palavras-chave:Caminhodo Aterrado;Cidade
Nova;RiodeJaneiro;Urbanismo.
ABSTRACT: This articlefocusseson aseries
of proposalsmade between1821and1855
fortheareaextendingfromtheformerPonte dos Marinheirostothe Praça Onze in Rio de
Janeiro,whichwasalso knownasthe Caminho
do Aterrado and today formspartof Avenida Presidente Vargas
.
This studyisconcerned more specificallywiththe proposals of Grandjean de Montigny( 1827),AurelianoCoutinho( 1833),HenriquedeBeaurepaire
-
Rohan( 1843)andIrineuEvangelistadeSouza( 1851
-
55),onthe hypothesisthattheystructuredexpansion ofthisarea ofthecity
.
Inconsideringthe social stakeholders and theirpractices,thestudy sought totakeamorecomplex viewofthisprocessof“intériorisation”
.
Accordingly,itobservedtheformation of afield ofknow-how inbuilding
cities inwhichdifferentgroups(architects, engineers,politiciansand businessmen)can
bedistinguished,amida seriesof
-
notalwaysconvergent
-
debatesguided by differing worldviews.
Keywords:Caminho do Aterrado;Cidade Nova;
RiodeJaneiro;Urbanism.
PRISCILLA PEIXOTO
Interioriza
çã
o
da
área
urbanizada
do
Rio
de
Janeiro
:dos
mapas
aos atoressociais
A análise cartográfica nos mostra que, sobretudo
entre os séculos XVIII e XIX, à medida que o Rio de
Janeiro
seestabelececomocidade-capitaleintensificasuaatividadeeconómicacomocidade portuária,elaexpande
seu territoriosobre avárzeaentreos morrosdoCastelo,
deSãoBento,deSantoAntonioedaConceição.
Éjustamentecomparandoosmapascolocadoslado a lado e organizados cronologicamente que se pode
chegar a essa conclusão.Contudo,deve-sesalientar que
esta constataçãonãoponderapor quantosséculoseaque
custosesse modo de expansão do território urbanizado da cidade se consolidou.
Naspalavrasdos historiadores, interpreta-seassima
“estrutura” desse“processo”,aquiloque semodificoumuito lentamente, e que só pode ser percebido na análise da
longaduração
.
Noentanto,seriamessasas únicasreflexõesdespertadas pelo espraiamento da área urbanizada da
cidadeemdireção aointeriorde seuterritório?
ÉMarcelRoncayolo(2011)quem, em umaentrevista, nosajudaa colocar a questãode forma maisevidente:
ÁREAURBANIZADA DO RIODEJANEIRO 1750I1826I1864 SÃO CONCEIÇÃO BENTO '
iV
'C
#1' á«5 SANTOANTÔNIO CASTELO
1750
(.
..
)Je
nevoispaspourquoilalogiquedesformes n’auraitaucun rapportavecle restede l’histoire,en particulierla formation des systèmes depensée,des representations,
de la sensibilitéet du goût que inspirent les architectes. En outre,les formes de ce
mondedel’urbanismeetdel’architecturenesontpas desexercicesgratuits;ellessont
lieuetsupport des fonctions,vuesetperçus comme signes,images,symbolesparune
population1.
Comopodeserobservadoaqui,parece que, em nosso caso,deter-sesomentena análise cartográfica deixaria defora,justamente, osdeterminantes destasformasmateriais,ou seja,
aquilo que Roncayolochama desistemasde pensamento,de representações,de sensibilidades
ede gosto
.
Outro autor, Michel de Certeau, aponta como pouco percebemos que esse olhar do
plano- edo mapa-é uma construçãoquepermitiu aohumanoum“olho solar”,umolhar
divino,quecriaaficção de tudover (esaber)
.
Aosimplificarasformasmateriaisda cidadeem uma projeçãode topo, ao“congelar” o tempofugidiodas dinâmicasurbanasem uma
única representação,produzem-seanálises que,muitasvezes,podemserredutoras.
O CAMINHO DO ATERRADO E O PENSAMENTO URBANÍSTICO NOBRASIL (1825-1853) N
0
SÂO CIDADE NOVA SÂO CIDADENOVA BENTO CONCEIÇÃO BENTO
ANTÔNIO CASTELO
ANTÔNIO CASTELO
1800 1850 1900
Figura01- ÁreaUrbanizada do RiodeJaneiro1750|1826|1864.Montagem realizadapelaautora apartir
de pormenores dos seguintes mapas(daesquerda para direita): (1) FILGUEYRA,AndréVaz.CartaTopográfica
daCidadedeSãoSebastiãodo Rio deJaneiro.RiodeJaneiro,1 750; (2) ALCANTARA,J.J.D'.Plantada cidade de S. Sebastiãodo Rio deJaneiroeda maior parte deseustermos:Começadaalevantarem1826e
interrompida desde1828pelosofficiaisempregadosnoArchivoMilitar da Corte. [S.I.: s.n.];(3) LAEMMERT. Novaplanta da cidade doRiodeJaneiro.RiodeJaneiro,1864.Fonte:(1)FundaçãoBiblioteca Nacional,
códigoARC,1,4,3.(2) e (3)FundaçãoBiblioteca Nacional,disponíveis emhttps://bndigital.bn.br/.
Este mesmo autor nos mostra, portanto, como esse olhar,que para ele pareceser o mesmodaquele que observava a ilha de Manhattan do alto do World Trade Center, está
vaziodeexperiências
.
Acidade,observadatãodo alto,nãoapresenta as feiçõesqueafetamosdemais sentidos do corpo humano. Emsuaspalavras,“acidade-panorama éumsimulacro‘teórico’(ou seja,
visual),(
...
), um quadroquetem comocondiçãode possibilidade um esquecimento e umdesconhecimento das práticas” (CERTEAU, 2014, pp. 158-159)
.
Assim,Certeau nos levaa pensar em outra maneira deconstruir a história dos espaços urbanos
.
Um modo que considere,então, como essesespaços sãomoldadospelos“praticantesda cidade”.
Contudo,serianecessárioelegerapenasumadestasformas-ou umolhar sistematizador
daquelequeapenasobservaasformasmateriaisnalongaduração, ou umolharantropológico
que se detém nas cidades produzidas em suas práticas cotidianas - para se estudar a
construçãodas cidades(edoRiode
Janeiro
,nonosso casoparticular)?PRISCILLA PEIXOTO
Para responder a essa pergunta, é necessário tratar de dois aspectos: (1) como a
historiografiarecolocou essa questão e(2)como,desdeoséculoXVII,vem seestabelecendo
umsaber específico paratratardas questõesda cidade
.
Com relação aoprimeiroaspecto,devem ser observados os apontamentos de Bernard Lepetit. Atentoàspráticasdosgeógrafosedosarquitetos,eleviualiinsumospara repensar
aescritada história.Para Lepetit(1998,p.94), o hábil historiador deve, como o arquiteto e
ogeógrafo,trabalhar com diferentes escalasparaconstruirseudiscurso.Éelequemescreve:
O mapa não é o território: duas figuras, uma em escala de 1:25.000 ea outra em
escala de1:500.000, não permitemqueseleia da mesma maneiraa organizaçãodo
espaço.Ao apagar asvariações quese revelariam em outrasescalas e dariam uma
outra imagem do mundo,todas as duas sesituam,a partirde um ponto devistade
conhecimentoespecífico e comapreocupação de respondera um casoparticular,
numnível escolhido degeneralização.Masumanão émaisverdadeira doqueaoutra.
Ouseja, no nosso caso emparticular,não se tratadeumaescolhaentresedeter apenas noolharantropológico das práticasemdetrimento do olhar morfológico dacartografia,ou
vice-versa.Trata-se, justamente,de pôr em jogo
-
“jogosde escalas”, comoapontaJacquesRevel(1998) - asdiferentes aberturas dessa lenteobjetiva quemanuseamosaoconstruirmos
anarrativahistórica
.
Contudo, aqui se faz necessário trazer à baila o segundo aspecto mencionado
anteriormente:como vem seestabelecendo umsaber paratratardas questõesda cidade
.
Énecessáriopôremquestãoque,apartirdoséculo XVII,a cidadefoiobjetode discursoede ações cada vez maisespecializados
.
Esse aspecto seamplificariasobretudo no século XIX,tornando-se, no século seguinte,um campo profissional comaformação (ea nomeação)
dadisciplinachamada“urbanismo”2
.
Trata-sede uma informação importante,pois, aoenfocar os“praticantes da cidade”,
existem aígrupos distintos,dentreos quais,inclusive,osque fazem das cidades objetode
suasações.
Com relação a esse último grupo - os urbanistas e aqueles que deram origem à conformação desta disciplina-, os trabalhos de Françoise Choay (1970, p
.
1143-1154) eJean
-PierreGaudin (2014) sãobalizares.
Estesautores nosmostram como esse camposeconstituia partir de uma sériede reflexões eaçõestomadas por indivíduos - cada vezmais
especializados-diante desituaçõesespecíficas.
São esses autoresque nos ensinam também a necessidade desituar cada um desses discursos e observar as generalizaçõesempreendidasà medida que eles sãodifundidos e
ressignificadosem outros contextos
.
Trata-se,portanto,deumaatençãometodológica queseriasintetizada,anosmaistarde,
naafirmação de Bernard Lepetit (2001)sobre a necessidade de“levar osatores [sociais] a
sério” naescritada história.
O CAMINHO DO ATERRADOE O PENSAMENTO URBANÍSTICO NOBRASIL (1825-1853) Diantedessaabordagem,poderíamos então nosperguntar:quaisseriamosatores, suas
intenções eaçõesque delinearamasmudanças nasformasmateriaisdoRiode
Janeiro
equeaslevaram aexpandiraáreaurbanizada da cidade na direção oeste?
É justamente emtorno dessa pergunta queconstruiremosaqui nossa argumentação
.
Neste artigo, centraremos nossa atenção nas propostas que consolidaram o crescimento da cidade na direçãooeste,sobretudo a partirdaimplementação edo desenvolvimento do Caminho do Aterrado,também conhecido comoCaminhodas Lanternas
.
Enfocaremostantoo momentoem queessecaminho parecesefixarcomoobjeto de
desejodaquelesque buscavam remodelá-loou,em termosda época,“melhorar”suasformas
materiais,quantoomomentoemque elesetorna tambémobjeto deintervenções.
Trataremos aqui, portanto, de um conjunto de propostas elaboradas entre 1821 e a década de1850paraaregiãoqueseestendia desde aantiga Pontedos MarinheirosatéaPraça Onze,eque hojeintegra a Avenida PresidenteVargas
.
Mais específicamente,centraremos nossoestudonaspropostas deGrandjeande Montigny(1827),Aureliano Coutinho(1833),Henrique de Beaurepaire-Rohan (1843) e IrineuEvangelistadeSouza (1851)
.
Porfim, comesteartigovisamosa apresentar, mesmoquedemaneiratópica, como esse
processode“ interiorização” da área urbanizada da cidade foiempreendida por diferentes
grupos de atores sociais - arquitetos,engenheiros, políticos e empresários-, em meio a
uma sériede debates- nemsempre convergentes-guiadospor diferentesvisõesde mundo. Ouseja,buscamosaqui articulardiferentes escalasdessa“história”
.
CRONOLOGIA DAS PROPOSTAS
PARAOCAMINHODO ATERRADO |AV.PRESIDENTE VARGAS
RELATORIO DE HENRIQUE DEBEAUREPAIRE ROHAN (1843) PROPOSTASOE AURELIANO COUTINHO (1833) COMISSÃODAI CARTACADASTRAL (PEREIRAPASSOS) (1900-1909)
COMISSÃODO PLANO
DA CIDADE
(D0DSW03TMI
(1936-194S)
PRIMEIRORELATÓRIO
DACOMISSÃODE MELHORAMENTOS (1875) INAUGURAÇÃODAFÁBRICA DEGÁSDEIRINEUE.SOUZA (1851) PLANODE ALINHAMENTOOE FRANCISCO ALVESDEBRITO
(1833) INAUGURAÇÃO DO CANAL DO MANGUEDE IRINEUE.SOUZA (1853) PROJETODEGRANDJEAN DEMONTIGNY (1827) PROPOSTADE JOSÉ CLEMENTE LISBOA (1821*1822) PROJETODE HADDOCK LOBO (1853) 1800 1850 1900 1950
Figura02-Cronologia das PropostasparaoCaminhodo AterradoeparaaAvenida Presidente Vargas.Infográfico realizado pelaautora apartir deinformaçõesde: AZEVEDO,M.D.Moreirade.ORiode
Janeiro-Suahistória,homensnotáveis,usos ecuriosidades,v.II.RiodeJaneiro:B.L Garnier,1877; BORDE,
Andrea Pessoa.Vazios Urbanos:Perspectivas Contemporâneas.Rio deJaneiro:PROURB,2006.(Tesede
doutoramento); PEREIRA,MargarethA.S.Rio deJaneiro:L'ephemereetlapérennité-histoire de la villeau
XIXeme siècle.Paris:Ecole dêsHautes EtudesemSciencesSociales,1988.(Tesede Doutoramento Ciências Sociais).
PRISCILLA PEIXOTO
O
projeto
do
Campo
da
Aclamaçã
o
de Grandjean de
Montigny
Oprocesso deinteriorizaçãodaáreaurbanizada da cidade pareceseacelerar apartirdo iníciodoséculo XIXcom otranslado da Corte portuguesa paraoRiode
Janeiro
e,sobretudo, com oestabelecimento das residênciasreais.
Apesar de havernotíciasdeintervençõesnaregião no começodaqueleséculo,defatoé
com Pedro I,ainda como prínciperegente do Brasil,que essas obrasganhamvulto. Trata-se daproposiçãode
Jos
éClemente Lisboa para aconstrução (realização-cortar)deumcanal queconectasse o RossioPequeno(atual Praça Onze) à Rua Direita (atual Primeirode Março),
entre1821e 1822.Poucoseconhece desta proposta,salvoumrelato deMoreirade Azevedo,
em Riode
Janeiro
:suahistória,
monumentos,
homens notáveis,
usos ecuriosidades(1877).
Contudo,o mesmonão podeserdito deoutroprojeto queseestabelece na sequência
eque é abordadocom ênfase por PereiraeBordeetoda umabibliografia ligadaà história
da produção arquitetônicanacidade3:o projeto doarquitetoGrandjeande Montigny para
oCampo da Aclamação,propostoem 1827,jáno contextodoPrimeiroReinado.
Grandjean de Montigny foi o arquiteto que integrou a Missão Francesa, iniciativa
responsávelpelainstitucionalizaçãodoensinoartísticonoBrasilcomacriaçãoda Escola Real de Ciências,Artes eOfícios
.
Posteriormente,essainstituiçãopassou a se chamar AcademiaImperialde BelasArtes.
MontignychegouaoBrasil em1816comosdemaisintegrantesdaMissão,e foiumdos poucos que residiram nopaís atémorrer,em 1850
.
Durantetodoessetempo,foiprofessordearquiteturada Academia,tendo exercido inclusive a função de diretorinterino
.
Ele tambémelaborou projetosde arquiteturapereneeefémera para aCorte
.
É justamentenocontexto destes últimos que Montigny propõe o projeto para o Campo da Aclamação, situado no entãoCampo deSantana.
Atéaquele momento,oCampo deSantana era utilizado para manobras militares dos
quartéislocalizados na região e umverdadeiro hiato queseparavaacidade antiga da cidade nova(área naregiãodoMangaide São Diogo,que começou a seadensar com a instalação da residênciareal naQuintadaBoa Vista4)
.
Com a proposta de Montigny,aquelelocalpassariaaser umapraçacívicaem homenagemaoimperadordamaisnovanaçãoindependente.O
projeto do novocampoera formado porumconjunto de edificaçõesdasquaispodem ser
destacadaso Fórum Imperialda Aclamação, o Palacete ou Tribuna doImperador,a Casa
dosMinistrosde Estado,asCasas das Câmarasea Igreja de SãoPedro de Alcântara.
O projeto tem também dois outros aspectos que merecem a nossa atenção, ambos
concernentes à implantação dessas edificações na malha urbana existente:(1) aviaque se esboçanoeixodo FórumImperiale(2)aquelaque Montigny chama de“ViaTriunfal”,uma
espéciedepasseioorganizadoentreasRuas SãoPedroeSãoJoaquimeosquartéis,formado por arco do triunfo e chafariz
.
GRANDJEAN DEMONTIGNY
CAMPODAACLAMAÇÃO(1827)
QUARTEL RUA SÃOLOURENÇO
ARCO DOTRIUNFO RUADOAREAL
.
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RUASÃO JOAQUIM L
VIA TRIUNFAL
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I FÓRUMIMPERIAL RUADA ALFANDEGA -4S
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PORMENOR DE MAPA INDICANDO REGI ÃO DO CAMPODESANTANAEM1826 MONUMENTO
DE GRATIDÃO RETIFICAÇÃODA
RUADO AREAL
Figura03- Grandjean de Montignye o
CampodaAclamação (1827).Montagem
realizadapelaautoraa partir de(da
esquerda paradireita): (1) MONTIGNY, Grandjean.[Campo deSantana:Projeto de urbanização,planta baixa],1827; (2) ALCANTARA,J.J.D\Plantadacidade de
S.Sebastiãodo Rio deJaneiroedamaior partedeseustermos:Começadaalevantar
em1826 einterrompida desde1828pelos
officiaisempregadosnoArchivoMilitarda Corte.[S.I.: s.n.].Fonte:(1) MuseuNacional de BelasArtes,n°8693.(2)Fundação
BibliotecaNacional,disponívelem:https:// bndigital.bn.br/
RUADOS CIGANOS
RUA DOCONDE
PRISCILLA PEIXOTO
Em ambos os casos,observa-seaintenção deconexão coma porção oesteda cidade
.
Noprimeiro,oeixoestabelecido apartirdo Fórumparece induzir a abertura deuma novavia que retificaria a Rua do Areal
.
Nosegundo,nachamada“ViaTriunfal”,émantidoo traçadodasviasadjacentes,mas remodeladooespaçode conexão comonovo projeto.
A intenção observada no plano, de fazer da proposta arquitetônica uma espécie de
“elemento decostura” entreáreas jáedificadasda cidade,torna-seainda maisevidente na leitura da notaexplicativadoprojeto.Nela,Montigny escreve:
APraçaterá quatro entradasprincipaisque dividirãoosEdifíciosem quatro partes
.
(..
.
) Será decorada com Pórticosqueservirãodepasseiospúblicos,edebaixo destes Pórticos se poderão reunir diferentes ramos de Comércio. Por esta disposição,aCidade não será maiscomoéagora,dividida em duas partes(...)5.
Ao trazer um novo programa arquitetônico para a região, este claramente cívico e orientado para a adoração doimperador, masque passava a conjugar também atividades
civiscomoo comércio,Montignyparece promoveruma“costura” entreas partesjá edificadas
da cidade a leste e aoeste.Além disso,deforma menosexplícita,parecetambém procurar
induziroseucrescimentoemdireção aoMangaide SãoDiogo.
Avalorizaçãodesseprocessodeinteriorizaçãoda áreaurbana da cidadejáestavapresente
emoutroprojetode Montigny,a“Planta deParteda Cidade doRiode
Janeiro
,situando umnovoPalácioImperial” (1825).Diferentemente do queseverificarianas propostas posteriores,
tratava-sede valorizarumcaminho, jámaisconsolidado, junto aos morrosdeSanto Antônio
edoSenado,equecruzava importantes monumentos existentes,o Paço e Rossio (atualPraça
Tiradentes).Na proposta de1825,Montignysugeriagrandesintervençõesno trajeto, como
aampliaçãodo PaláciodoPaço ea abertura denovaspraçasque parecemreforçaro caráter
de cortejoimpressopelocaminho.
Evidentemente, ambas as propostas são tratadas como ações tópicas, ou seja,
centradas na conexãode monumentos a partirda abertura degrandeseixosde circulação e embelezamento6. Defato, esteé o cernedelas. No entanto, não se pode afirmar que há
negligênciaemoutrosaspectos,comoa salubridade e a dimensãosocial,vistoque oarquiteto
é zeloso quantoàs questões doasseio eda qualidade do ar,sobretudoao propor fontes e
canalizaçãodos riossobapraçado Campo da Aclamação
.
Nessemesmo projeto,ele ainda pauta atributos dasegurançapromovida pelamaiorefervescênciada vida citadina.Possivelmente devido às instabilidades políticas a partir de 18317, os projetos de
Grandjeanelaborados na década de1820nãoforamimplementados
.
Masaregiãocontinuoua despertar propostas
.
Entre 1833 e 1838, já no período da Regência, ganham destaqueaspropostas elaboradaspor homens públicos envolvidos napolíticaimperial,como Aure
-liano Coutinho.
O CAMINHO DO ATERRADOE O PENSAMENTO URBANÍSTICO NOBRASIL (1825-1853)
Aureliano Coutinho
:oCaminho
do
Aterrado
como umarticulador
de
melhoramentos
De modo geral, a biografia de Aureliano Coutinho8,visconde deSepetiba, tem sido
abordada commaisfrequêncianostrabalhos de históriapolíticada RegênciaedoSegundo
Reinado no Brasil.Sua trajetóriafoi marcada, sobretudo a partir da década de1840, pela
acusaçãofeitaporseusopositoresde liderar uma“facção” que interferia na formaçãoena
dissolução de gabinetes, e até mesmo na condução da vida do jovem imperador, sendo
apontadoinclusive como articulador daantecipação da maioridade9
.
A ação de Aureliano Coutinho nas formas da cidade, apesar de ser um importante
capítulo para se estudar a história do pensamento urbanístico noBrasil do Oitocentos,é,
contudo,umaspectomenosexplorado poraquelesquesededicaram à vida eà obra dessa
personagem. Apesar depouco abordadanesse contexto,umadesuas principaiscontribuições
foi ter participado, como presidente da província do Rio de|aneiro, da Proposição de
Petrópolis10.Lacombe lhe atribuioincentivoàadoçãode mãode obra livre naconstrução
dacidade. E,conformeviemosapontando,AurelianoCoutinho,juntocomPauloBarbosa da Silva (2011), contribuiu também para transformar este empreendimento em uma obra conjunta-dacasaimperialedaadministraçãodaProvíncia- etorná-la,assim,maisdo que
uma nova residênciadoimperador
.
Tratava-sede pensá-latambémcomo uma importanteação civil,uma novacidade orientadapelosprincípiosde embelezamento,circulação,salu
-bridadee,sobretudo,por ambiçõesdeigualdadeentreoshomens
.
Apesar de a ação urbanísticanaprimeirametade do século XIXnãoconstituiraindaum
saberautónomo,ou,como sediriaposteriormente,umsaberespecializado,deve-sesublinhar
a atenção destegrupo em agenciar três virtudes (ou competências) necessárias para que
essaspropostas fossempensadasdeformasistémica:ocapital político-dealinhardiferentes esferas depoder-, ocapitaleconómico-aoconsorciaros provimentosdefontes distintas,
comoa CasaImperialeaadministraçãoda Província-eocapitalcultural-porse tratarde
umaaçãodeengenheiroseadvogadosexperientes na administraçãode obras públicas, ou,
emoutraspalavras,detentores deum“saber edificar”,deumaculturaconstrutiva.Pode-se
pensar que esse tipodeinteligência permitiuque essegrupo transformassesuas reflexões
sobreascidadesemaçõescomcerta rapidez
"
.
Olhar para a áreada antiga Rua do Aterradopermiteobservaroutraproposta de Aureliano Coutinho,que,comoserianotadoemPetrópolisanosmaistarde,extrapolasuas ações como
políticoehomem públicoe mostrasuaatençãoàsformas da cidade
.
Assimé que,em 1833,momentoem queocupavaocargodeministrodeNegóciosdoImpério-postoque na época,
além das atribuiçõesdo ministério, cumpria funções dos futuros presidentes das Provín
-cias -,Coutinho elabora uma proposta para a abertura do Canal do Mangueea execução
deum conjuntode obras de melhoramentos12
.
ÉnovamenteAzevedo quemcomentaa ação:PRISCILLA PEIXOTO
(...) Aureliano de Souza Coutinho(...) [propôs] queospossuidores deterrenosno
Mangue,de um ououtrolado da Rua do Aterradoquecomunicavaa Cidade Nova
com obairro de Mata Porcos,hojeEstáciode Sá,fossem obrigadosaaterrá-los no
prazode doisanos,e,senãoofizessem,perderiamaposse deles;queamunicipalidade
aforasse osterrenosdevolutos com a condição deaterrá-losquemosquisesse tomar,
edesse princípio a um canal paraleloà Rua do Aterrado,comunicando o maraté a
Praça Onze,tendo essecanalumbraçoqueseestenderiaaté aoedifíciodaCorreção;
arborizandoasmargens,bordadas decasasdamesmaperspectivaehavendopontes
rodantesparadarempassagema barcos desdeailha deJoãoDamascenoatéa Praça
OnzedeJunho13
.
Além do relato de Azevedo, pode-se também acompanhar as ações do ministro de Negóciosdo Império naspáginas do CorreioOficialduranteosquasecinco mesesemque ocupouocargo14
.
Nele,observa-sequediaapósdia, jánessaépoca-vale lembrar,maisdedezanosantesda concepçãode Petrópolis-, suasações pareciam tender a articular vários
projetosaparentementeautónomos
.
Ouseja,um pensamento sistematizador.
Em 1833, o Rioapresentava sinais de ter sido atingido pela epidemia de cólera que assolava diversas cidadesno mesmoperíodo
.
Nascartasoficiais,Aureliano Coutinhopediaaos engenheiros da Câmara Municipal que apresentassem (e apressassem) um plano de
salubridade para a cidade
.
Desta preocupação parece decorrer também sua insistência emintervirnaSanta CasadeMisericórdia. Observa-se umapreocupaçãodoministroem dar
uma solução mais “higiénica” aos cemitérios da cidade, deslocando-os para fora da área urbana
.
Éele quem escreve:Sendo oâmbito doCemitériodaSantaCasadeMisericórdiaextremamentepequeno
emrelação ao número deCorposqueali sesepultam;eacontecendoalém dissoque
a terra já saturada setem tornado imprópria para consumi-los; resultando destas
circunstâncias,eda localidade emqueele se acha alocado,o caráterdaviração sobre
a Cidade, comconhecido detrimento desaúde dos habitantes,os miasmasqueali
se exalam:Manda a Regência,em Nome do Imperador,que a Câmara Municipal
desta Cidadedesigneosterrenospúblicosexistentesforadopovoado,hum oumais,
quepelasuasituação ecapacidade sirva paraaquele fim;enelefaça estabelecero
CemitériodaditaSanta Casa,proibindo,doprazoquelheparecer razoávelemdiante,
o enterramentodeCorposno que oraexiste15.
Sobreesse aspecto, écurioso notar também que, no mesmo periódicoem queeram
publicadas essas cartas do ministério, em uma seção para comunicações não oficiais,
havia um artigoquestionando a necessidade de esse“equipamento” seradministrado pela
municipalidade, e nãomaisporumaordemreligiosa. Ora,como sepodenotar,aspropostas
enunciadas por Aurelianosecoadunavamcom outros críticosda cidade.Ouseja,participava
e promovia um campo de debates.
Aspreocupaçõescomrelaçãoà salubridade, como opróprio textode Azevedo já denun
-ciava,não se restringiam aoscemitérioseencampavam tambémintervençõesnosmangues.
O CAMINHO DO ATERRADOE O PENSAMENTO URBANÍSTICO NOBRASIL (1825-1853)
Aqui,salientamos as suas propostasparaa canalizaçãoeodessecamento doMangaide São Diogo
.
Emrelatóriode atividades doministério,estaquestãotambém seexplicita:Oextensomangueaolongodo Aterrado,que seguedolargodoRocioda Cidade Nova
aponte do Curtume,merece,senhores,a Vossaatenção,afimde melhoraroarque
respiramoshabitantesdaquelaimportanteparte dacapital.Talvezconviesseaforar,
pormódicospreços,essesterrenosalagadiçosapessoas queseobriguema secá-los.
Pelomeiodos ditosterrenospretendeoGoverno mandarconstruirumCanal,que
venha terminar em uma bacia no referido largo;conciliando assim a salubridade
e aformoseamento dolugar,com a comodidade dos habitantes aosquaisserãoali
levadosmuitosgêneros,que ora vêm procurar aos mercados da Cidade.
As águas,que o mau estado das calçadas em umas ruas,e emoutrasafaltaabsoluta
delas,conservaestagnadas, atéqueaação do Sol asfaz desaparecer pela evaporação,
não podem deixar de exercer uma nociva influência na saúde dos habitantes. O
Governo,poreste motivo,determinou à CâmaraMunicipal que fizesse procederao
Orçamentodadespesa,queumtalobjetopoderá exigir:eacha-sedispostoatomá-lo
emconsideração,logo que oorçamentolhe sejaapresentado16
.
Noentanto,a questãodo dessecamentodasterraseaatribuiçãodepropriedadeàqueles
queosrealizassem,mencionadosporAzevedo,talvez toque tambémemoutroaspecto,não tãoexplícito: o incentivoà mão deobra colona, oque, naquelecontexto,
significava
“nãoescrava”.
EstahipótesesedesenhaaoseobservaremoutrascorrespondênciasnasquaisAureliano Coutinho solicita, no mesmo ano, olevantamento dasterrasimprodutivas paraadoçãode
mãode obra colona17
.
Ora,acredita-se aquique taisaspectos nãodevem serinterpretadosde forma isolada. Sobretudo porque,cerca dedez anos depois,seria o mesmo Aureliano Coutinho quemproporiaa adoçãode colonização estrangeira naconstruçãode Petrópolis
.
Com relação à luta silenciosa de Aureliano Coutinhocontra umaeconomia baseada na mãode obra escrava,nãodevepassar despercebidoocomunicadoqueele mesmoredige
solicitando a destruição do pelourinho
.
Justifica
esse pedido recriminando as puniçõespraticadasali18
.
Defato,alémdessa proposta,observa-se que a questãode métodospunitivos
mais dignosefocados nacorreção do infrator (não nasua humilhação pública) também
orientavasuaspreocupações.Umadesuas principaispropostasquandoministrodessa pasta
foijustamente aconstrução deumaCasade Correção. No texto de Azevedopode-seobservar que ela tambémparecesearticularàspropostas sobreoentornodo Caminho do Aterrado. Porfim,deve-sesublinhar que,nesseperíodo,aatenção de Aurelianoorienta-setambém
paraostransportesporembarcações.Duranteo anode1833,Aureliano Coutinho fez um
grandeinvestimentonaestruturaçãode uma empresa de paquetes queservissea umamaior
extensão doImpério.Tratava-sede melhorarosistemadecomunicações,tantonodecorreios quanto naassistênciaaotransporte decargasepessoas.
PRISCILLA PEIXOTO
Comosepodeobservar,parece que,comotambémaconteceríaem Petrópolis,Aureliano Coutinho parte deumaaçãonecessáriaà melhoria da casaimperial,nestecaso,a melhoria da
ligaçãoentreasresidênciasimperiaisdo Paço edaQuinta,para,apartirdelas,desenvolver
equipamentos urbanos - nas palavras de hoje- necessáriosa uma melhor qualidade da vida citadina
.
Paraalém do reconhecimento dessa açãourbanísticacadavezmais sistémica-ou seja,
cada vezmaispróximadoquesechamarianofuturo de urbanismo-,éimportantesalientar tambémopossível méritodessas ações noprópriocampo urbanísticodaépoca.
Essa questãoseexplicita quando,porexemplo,observa-seque a proposta de Aureliano Coutinho para o Aterrado pareceser evocada pelo engenheiroHenriquede
Beaurepaire-Rohan no relatórioemque consolida uma sériede sugestões para a cidade19,cercade dez anosmaistarde
.
Ao tratardas ações necessáriasparaodesenvolvimentodessa área,embora nãomencionada nominalmente,a proposta de Aurelianoparecesercitada:OmanguedaCidadeNova
Ainda que muito conviria extinguir-se éste foco de miasmas, êste obstáculo à
edificação,abster-me-eicontudode indicaragoraummeioqualquerparachegarmos
a êsteresultado;porqueistodependedeexplorações,aquenãotenho procedido.É
preciso porém notar-sequeaesta paragem afluigrande quantidadede água,quese
deriva das montanhas vizinhas
.
Esta circunstância justifica talvez um antigoplanodeseestabelecerali um canal denavegação,desdeabica dos marinheiro,atéo Rocio
pequeno;e mesmode os ramificaratéa casa da Correção,plano queoutrosampliam,
querendoqueocanalcortea cidade, atéa praiadosMineiros;ecomoestaidéiapode
seralgumdiaaproveitada,acho razoável nas arruações,quese vãoefetuar,debaixo
da direção dos Ilms. vereadores Moura, Getúlio e Tavares, reservar-se oespaço
necessário,para queemqualquertempo seexecuteoprojetoem questão20.
Comesteresgate feitonorelatóriode Beaurepaire-Rohan,é possível pensar que,apesar das mudanças deconjuntaraspolíticasquemarcamofinaldo períodoregencialeocomeço
doSegundoReinado,eque resultaram,consequentemente,em umainstabilidade dopapel
políticode Aureliano Coutinhoenainexequibilidadedesuaspropostas,suasideias parecem
sercompartilhadas por umgrupode indivíduos interessados nasquestões urbanas. Ideias
quefazem parte,portanto,deumaespéciedememóriacoletiva,contribuindoparaconstituir
um“campo”,para utilizarmoso termode Bourdieu(1980 e 1992),ou uma“nebulosa”,para
usarmosaquele empregado por Topalov(1999)ePereira (2007)
.
A própria necessidade de elaboraçãodeum relatórioconsolidando numerosaspropostas,como oécasodo trabalhoredigido por Beaurepaire- Rohan, parece ser um indicador deste novo momento para o
desenvolvimento de umsaber específico sobreascidadesnoBrasil.
O que veremos em seguida, com a proposta de implementação da Fábrica de Gás
(c
.
1851)-para mudar a iluminaçãourbana de óleo de baleia paragás -e,por consequência,daO CAMINHO DO ATERRADOE O PENSAMENTO URBANÍSTICO NOBRASIL (1825-1853)
proposta de canalizaçãoeembelezamento do Canal do Mangue(1855),ambosempreendidos
porIrineuEvangelistade Souza,ofuturo visconde deMauá,éoutrosintomada articulação
desse novo campo:como essasideiassãocompartilhadas paraalém dos posicionamentos
políticodeseus integrantes.Ou seja, comoestesaber sobre cidades,antesmesmodeganhar
um nome,inicia sua autonomizaçãoe não pode maisser confundido com o pensamento
estritamentepolitico/éticodeseusatores.Elecomeça aconstituirvalorescomunsespecíficos.
Irineu
Evangelista de
Souza
e ocaminho
da
‘modernidade
’:oCanal do
Mangue
e
a Fá
brica
de
Gás
Nadécada de1830,aindajovem,IrineuEvangelistadeSouza,futuro visconde deMauá,
jápodiaserconsideradoum promissorcomerciante
.
Emmeados da década de1840,comacompra ea modernização do Estabelecimento de Fundição e Estaleiros da Ponta deAreia,
situadaem Niterói,iniciatambémsua atuação comoindustrial(CALDEIRA,1995,p.180).
Em1851,somariaaos seusempreendimentos também a atividade debanqueiro.
Contudo,conforme apresenta um deseus biógrafos,Jorge Caldeira,seria justamente entreasdécadas de1840e1850que,alémdoempreendedorismoeda boa administração,
Mauápassariaacontar,defato,com apoiopolítico(oudepolíticos) nodesenvolvimento de
seusempreendimentos
.
Nesse período,ele seaproximadogrupo políticoconservador.
Eraogrupo queseopunha a Aureliano Coutinhoequemarcariaofuturo visconde de Sepetiba
com aalcunha dementorde uma “facçãoáulica”
.
Esta aproximação podeser observada de maneira mais explícita, por exemplo, com
o empreendimento que introduz Mauá no mundo da indústria,a Fundição da Ponta da
Areia. Essafábricaassegurousuaviabilidadesomenteapartirdeumcontratofirmadocom
a Câmara da cidade para a canalização do Rio Maracaná (1846) (CALDEIRA, p.187). A
fundiçãohavia sidoadquiridaemodernizada com a finalidade deproduzirostubos para a obra. Noentanto,enquantoogrupo de Paulino
Jos
éSoaresdeSouza e Honorio HermetoCarneiroLeão -líderes dos conservadores-não seestabeleceunopoder,Mauá nãoobteve pagamento pelas obras realizadas. A situação só mudariaapós oretorno dessegrupoaos
maisaltos postos da administraçãoimperial,em1848
.
Com os aliados políticos no poder, Mauá seria levado à presidência da Comissão da
Praçade ComérciodoRiode
Janeiro
(CALDEIRA, p.199),se beneficiaria daguerra paraa reunificaçãodo Uruguai (CALDEIRA, pp
.
209-219)com o aumentode encomendas naPontadeAreiadestinadasaofornecimento deequipamentos e armaspara aguerra,passaria
asercredor dogoverno uruguaioe,em poucotempo, um dos homensmaisinfluentes do
Império.Poroutrolado,tamanhoinvestimentoem seuspréstimoséretribuídocompropostas
de melhoramentos e “modernização” da Corte.É em 1851que começam,então,asobras para aligaçãodoRiode
Janeiro
aPetrópolis, uma rotaarticulada de vaporeselinhaférrea;PRISCILLA PEIXOTO
Mauá torna-se presidente do Banco do Brasil e ainda assina contrato de provimento de iluminaçãoagás paraacidade
.
A instalação da iluminaçãoa gástrazia novos aresàcapital do Império.Não só pelo
novo tipode luz-que davamaisnitidezerealçavamaisas coresdo que a iluminaçãopública feita comóleo de baleia adotadaatéentão -,mastambémpeloinvestimentonacidade como
um todoporconta da instalaçãodanovarede. Umexemplodesse trabalhoquese conjuga
à iluminação em si pode ser observado em uma nota na Revista Guanabara
,
de autoria de Manoel de Araújo Porto-Alegre,que mencionao nivelamento da cidade para queestapudesseserimplementada.
Sabemosqueseestá nivelando a cidade [
...
] equeestetrabalhoestámuitoadiantado,mastambém sabemosqueestenivelamento é encomendadopeloSr.Irineu,quenão
é uma Câmara,equeé umtrabalhopreparatórioparaailuminaçãode gás21
.
A questão do nivelamento das calçadas era um problema que havia muito tempo chamava aatençãodostécnicosligadosàsobras de melhoramentos nacapital.Orelatóriode Henrique de Beaurepaire-Rohan(1843) já indicavaa necessidade dessa obra
.
Porto-Alegre,nessemesmo artigoparaa RevistaGuanabara
,
desdobraria aindamaisa questãoincitando aFigura04-A Fábrica deGás.BERTICHEM,PieterGodfred.Gazometro: noatterrado.RiodeJaneiro,RJ:Lith.
Imp.deRensburg,[1856],Fonte: FundaçãoBiblioteca Nacional,disponívelem:https://bndigital.bn.br/. 146 REVISTA DOARQUIVOGERALDA CIDADE DO RIO DEJANEIRO
O CAMINHO DO ATERRADOE O PENSAMENTO URBANÍSTICO NOBRASIL (1825-1853)
CâmaraMunicipalaparticiparda mediaçãodestaimportanteobraparaacidade(PEIXOTO,
2013)
.
Contudo,foi defatopelasmãosdo industrial Mauá-logo,comrecursosprivados-que a obra finalmente foi executada
.
Com a nova fonte de iluminação, novos hábitos e novas formas de consumo se
desenharam na cidade
.
Em outra nota na Revista Guanabara,
observa-se o anseio pelautilizaçãode iluminaçãoagásnareforma do TeatroSãoPedro de Alcântara.
Em maio do ano próximo,deverá abrir-seoTeatroS.Pedro de Alcântara, que de
novo sereedifica;oSr.JoãoCaetanodos Santoscontratouparaeste teatrocom oSr.
Irineua iluminaçãoagás:comoemmaioainda não estaráestabelecida a iluminação
geraldegás,prepara-sena Ponta daAreiagasómetrosemaisaparelhosnecessários
para aquele fim22
.
Esta citação nos lembra também como os investimentosde Mauá estavam atrelados unsaos outros:enquanto umade suas fábricas distribuíaogás,aoutra produziaostonéis deferro paraarmazená-lo
.
Assim,quandofinalmente a iluminaçãoagásfoiinaugurada, em 25de marçode1854,
foi possível ver as áreas valorizadas na cidade de meados de século XIX se iluminarem sob a luz dos novoslampiões.Ou seja, um caminho queligavao Paço Imperialà Cidade Nova,apartir deentão,iluminado com amais nova tecnologia.
Contudo, se osinvestimentosde Mauátraziam os novos signosda modernidade para a cidade-aatividade industrial,a iluminaçãourbana agás e a própriavalorizaçãoda vida
burguesa-,noquedizrespeito àrealizaçãodesuasobras,elenegociavahaviaalgumtempo
com aspectos menos progressistas,comoamanutençãoda escravidão
.
O apoiooferecidopelo grupoconservador,formadoemgrandeparteporescravocratas,
atuavadiretamentenessesentido. Alémdisso,acompraeaproduçãoda fundiçãona Ponta da Areiasóforam viabilizadascomamanutençãodessa prática
.
Caldeira observa queo usode mãode obraescrava nosempreendimentos iniciaisde
Mauá era muito mais uma condição imposta pelo meio do que uma vontadedeliberada
do industrial. De fato, em declaraçõespúblicasposteriores,Mauá buscaria,cadavez mais,
manifestarseuinteresseem incorporartrabalhadores livres
.
Comolimitadoràadoçãode mãode obra livre,Caldeira sublinha queotrabalho não conseguiasedesenvolvercomopráticanoseiodas elites locais(do Brasil),sendopercebido
comodetentorde valorespejorativos edegradantes
.
Essasituação sócomeçariaasealterar apartirde1845,quandoessas mesmaselitesforampressionadas pela Inglaterraaacabar com
o tráfico deescravos e,portanto,incentivaremalguma medidaotrabalho livre23
.
É nesse cenárioainda confuso,onde o trabalho assalariado era um desejo, mas ainda
estavalongedeconstituir umapráticageneralizada,quevemos serconstruída a Fábrica de
Gás. Portanto, é diante dessa nova conjunturaque devem ser enfocados osoutros atores envolvidosnoprocessodeimplementação da fábrica e seu programaarquitetônico
.
PRISCILLA PEIXOTO
Além dapresençadopróprioMauá como articulador intelectual,políticoe económico da proposta,a fábrica degáscontavatambémcom umquadrode funcionárioscontratados para viabilizá-latecnicamente
.
Tratava-sedosengenheirosWilliamBraggeeWilliam Gilbert Gintyedeumadezena de trabalhadores livres-
sobretudomecânicos-vindos daInglaterra(DUNLOP, 2008, pp. 40-43)
.
Estes, claramente com uma postura frente ao trabalho-tantodo ponto devistasocial quanto ideológico -muitodistinta das encontradasnoBrasil
daquelaépoca.
Énessanovadémarche aindaemergentequesedeve observar oprogramaarquitetônico
da fábrica e atentar para a proposição de habitações para seus trabalhadores (PEREIRA,
2010,pp.305-307).ÉMargarethPereira quemescreve:
(..
.
)Lesrecherchesquenous avonseffectuées surles plansdespremiersétablissements‘industriels’crées parMauá,commelaCompagniePontadeAreia etlaCompagnie
du Gaz,sesont avéréespour l’instantdécevantes.Toutefois,les quelquesprécisions
que nous donne l’historien Brasil Gerson sur le programme de la Compagnie du
Gaznousfont penser queMauáavait integré non seulement les idéaux réformistes
des socialistesutopiquesdu début du XIXèmesièclemaisaussiles solutionsspatiales
préconisées parcertainsd’entreeux.
Ainsi,Brasil Gersonnousinformeque la Compagnie du Gaz réunissaitdans le même
immeuble lesespacesaffectes auxactivitésproductives,leslogementsdes travailleurs
et une serie d’équipements et d’espacescollectifs pour les familles : bibliothèque,
jardins,petits magasins,lavoirs alinge, cuisines, etc.(...)24.
Como sepodeconstatar,Pereira aproxima essaespecificidadedoprogramadafábrica dasproposiçõeselaboradaspelosreformadoressociaisOwen,Fourier,Considérant eGodin
.
Apesar da aparente ambiguidade expressa nessa aproximação,Mauá aparece, a partir de
então,como umdos precursores do pensamento socialnoBrasil.
Épossívelqueesse aparentecontrassensoilustre, noentanto,oslimites daconsciência dos direitoscivisnoperíodo,ou entãoaparticipação dos própriosengenheiros-queatuaram
maisdiretamente naproposiçãodopartidoarquitetônicoda obra- emumaposiçãomenos secundária
.
Mesmo que não seja possível precisar as causas dessa mudança que se opera nos
empreendimentos de Mauá, o dessecamento e a canalização do Canal do Mangue,
complementam a ampliaçãodas questõessociais noléxicoda proposta do industrial para
acidade
.
Elasconsagram,por fim, uma nova experiênciana vida urbana, naquele RiodeJaneiro
de meados doséculo XIX.Qual seja:a valorizaçãodopasseiopúblico paraoshomens comuns,ostrabalhadores livres, umsegmento da população que, comovimos,sequer erapercebidoatéentão.
OCanal do Mangue parece,assim,erigidopara dotar a“CidadeNova” de um passeio
nãomaisconcebidocomo umrecintofechado-como oPasseioPúblicoprojetadoporMestre
Valentim-,massimcomo umaparte da cidadequepermitia aoshomens livres desfrutaro 148 REVISTA DOARQUIVOGERALDA CIDADE DO RIO DEJANEIRO
O CAMINHO DO ATERRADOE O PENSAMENTO URBANÍSTICO NO BRASIL (1825-1853)
prazereodeleite da paisagem citadina
.
Mesmoqueincompletoelimitadopela precariedadedastécnicas construtivasdo Brasil naépoca,asfotografiasatestamesse novoaspecto.
Figura05 - Fotografias da Fábrica de Gás eCanaldo Mangueem c.1860.Montagem realizada pelaautora
apartirde (da esquerda paradireita,do altoparabaixo):(1) KLUMB,RevertHenrique. Vuegénérale du Canal
del'Aterradoetla SerradaTyjuca. Rio deJaneiro,RJ:[s.n.],[ca.I860]; (2) KLUMB,RevertHenrique. Le canal
del'Atterradoetla serrade la Tijuca.RiodeJaneiro, RJ:[s.n.],[ca.I860]; (3) KLUMB,RevertHenrique.Ruede l'Atterrado.RiodeJaneiro, RJ:[s.n.],[ca.I860]; (4) KLUMB,RevertHenrique.Canalde l'Atterrado,laCaixa
d'agua,leMorrode Sto.RodriguesetleCorcovado.RiodeJaneiro, RJ:[s.n.],[ca.1860].Fonte:Fundação
Biblioteca Nacional,disponívelem:https://bndigital.bn.br/.
PRISCILLA PEIXOTO
À
guisa
de conclus
ão
O presenteartigo começou sublinhando a necessidade deseempreenderemestudos de história urbana quemanejassemdiferentes escalas de análisee interpretação. Aolongo
do artigo,no entanto,nosinterrogamos maisespecificamentesobre como essaabordagem
poderiaserutilizadaparanos aproximardas condicionantesquecontribuíramparaoprocesso
deinteriorizaçãoda cidade.Assim,tomamoscomofiocondutor as propostas para a abertura
ea consolidaçãodoCaminho do Aterrado, no século XIX.
Se, logo de início,tomamosa cartografia histórica como fonte de pesquisa,aolongo
do artigo declinamos a escala de análise e passamos a observar também um grupo de indivíduos que seenvolveram diretamente no delineamento desse processo; passamos a
analisar,portanto, suaspropostase seusprojetos para aregião emfoco.
No entanto, à medida que acompanhamos as práticas desses propositores - como
arquitetos, engenheiros, políticos e industriais -, vimos emergir a necessidade de
problematizartambém umaoutraescala de análisee interpretação.Tratava-sedeum nível
maistransversal, umaespéciede cultura,quefaziacomqueseusintegrantescompartilhassem
um mesmoléxico
.
É nestesentido quevimosserem compartilhadosecriticados aspectos diversos das noções de circulação,deembelezamentoedehigiene. Bem como, pouco a pouco,danoçãodeigualdadededireitoscivis.Contudo,observar aatençãodestageraçãoparaestevocabulárionãoéumaconstatação
realmente nova quando se estuda o pensamento urbanístico na primeira metade do século XIX
.
A bibliografiaatentaao tema - Roncayolo(1992) paratratar da formaçãodo urbanismo na França e Pereira (2010) do caso brasileiro- já apontou nessa direção.
Noentanto,gostaríamosde sublinharaquiaindaoutrasespecificidadesdesse vocabulárioque
o presenterecorteajudouaaproximar. Sãoelas:(1) asdiferentes competênciasenvolvidas na promoção da ação urbanística; (2) a mudança nos catalisadores das propostas para a cidade;(3) asambiguidadesrelativasà crescentevalorizaçãodaigualdadedos direitoscivis emmeioaumaculturaescravista.
Comrelação à primeira
-
asdiferentescompetênciasenvolvidasnapromoçãodaaçãourbanística -,deve-seobservar um saber que,noscasosanalisadosaqui,começa a emergir
com a atuação de Aureliano Coutinho. Como exposto, percebe-sequea ação urbanística aparececomo uma práticaque articula,ao menos,trêsdimensões:a política,a económica
ea cultural.Oagenciamento deste conjunto pareceseromecanismoquefaráa cidadenão
maisser pensada apenas de maneira tópica, mas, pouco a pouco, tornar-se objetode um
saber sistémico,que a enxergacomo um todoequetem a ambiçãode ser científico, para utilizarmos adefiniçãode urbanismo de FrançoiseChoay(1975,pp.492-499).