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NÚCLEO MARIA DA PENHA – UNICENTRO: PREVENÇÃO E ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM GUARAPUAVA/PR

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Academic year: 2021

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NÚCLEO MARIA DA PENHA – UNICENTRO: PREVENÇÃO E ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM

GUARAPUAVA/PR

Direitos Humanos e Justiça

Coordenador da Atividade: Rosângela Bujokas de SIQUEIRA1 Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO)

Autores: Ana Claudia da Silva ABREU2, Anderson FRANCESCHI3, Bruna Almerinda Santos de CARVALHO4, Luanna Krüger dos SANTOS5, Micheli Souza CORDEIRO6.

Resumo:

O século XX marca um período importante de conquista de direitos humanos e de implementação de políticas públicas no âmbito da seguridade social, contudo, as contradições econômicas, sociais, políticas e culturais revelam uma série de desigualdades e violação de direitos. A violência contra a mulher é um exemplo e as estatísticas colocam o Brasil, o Paraná e Guarapuava, respectivamente, no ranking de localidades com expressivos índices de violência desta natureza. Portanto, as Instituições de Ensino Superior devem contribuir para compreensão desta temática, produzindo conhecimento científico e transformando aspectos da realidade. Diante deste entendimento, o Núcleo Maria da Penha atua no acolhimento e atendimento gratuito a mulheres em situação de violência doméstica ou familiar, além de promover ações de prevenção por meio de práticas socioeducativas, visando o efetivo cumprimento da legislação. O Projeto conta com três áreas, Direito, Psicologia e Serviço Social, a equipe é composta por nove membros e atua em dois Eixos: Intervenção e Prevenção. Os resultados revelam que o Núcleo vem contribuindo para a formação profissional, produção de conhecimento e conquistou um espaço importante na Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher.

Palavras-chave: Direitos Humanos; Violência de Gênero; Enfrentamento à Violência

Contra a Mulher.

1 Coordenadora e Supervisora Pedagógica de Serviço Social no NUMAPE. Doutora em Ciências Sociais

Aplicadas (UEPG) e Docente na UNICENTRO.

2 Supervisora Pedagógica de Direito no NUMAPE. Mestre e Doutoranda em Direito do Estado (UFPR) e

Docente no Centro Universitário Campo Real.

3 Estagiário no NUMAPE. Discente do Curso de Direito no Centro Universitário Campo Real. 4 Estagiária no NUMAPE. Discente do curso de Serviço Social na UNICENTRO.

5 Psicóloga no NUMAPE. 6 Assistente Social no NUMAPE.

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Introdução

Nas sociedades ocidentais, o século XX foi um período importante para a construção dos direitos humanos, tendo na Declaração Universal dos Direitos Humanos (de 1948) um marco dessa dinâmica. Foi um período de legitimação da democracia como forma de governo e edificação de certos sistemas de seguridade social, com ampliação de direitos sociais e de políticas públicas para materializá-los (BEHRING e BOSCHETTI, 2007; COUTO, 2008).

Apesar disso, as contradições derivadas do imbricamento dos aspectos econômicos, sociais, políticos e culturais geram desigualdades que continuam assolando o tecido social da vida em sociedade. São exemplos dessas contradições, entre outras, a pobreza, a crise climática, o racismo estrutural e a violência de gênero.

Para Faleiros (2019), a violência de gênero estrutura-se social, cultural, econômica e politicamente a partir da noção de que os indivíduos estão divididos entre machos e fêmeas, cabendo a cada sexo lugares, papéis, status e poderes desiguais na vida privada e na pública, na família, no trabalho e no âmbito da política (FALEIROS, 2019).

De acordo com a Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, a violência doméstica ou familiar contra a mulher pode ser identificada como “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”, ocorrendo no âmbito doméstico, familiar ou nas relações íntimas de afeto (BRASIL, 2019, Art. 5°).

Os dados acerca da realidade brasileira nos dão a dimensão desta problemática. Os indicadores apontam que o país ocupa o 5° lugar dentre os 83 listados no Mapa da Violência (2015), com base em dados sistematizados pela Organização Mundial de Saúde, considerando os casos de feminicídio. No ano de 2017:

A cada 17 minutos uma mulher é agredida fisicamente no Brasil. De meia em meia hora alguém sofre violência psicológica ou moral. A cada 3 horas, alguém relata um caso de cárcere privado. No mesmo dia, oito casos de violência sexual são descobertos no país, e toda semana 33 mulheres são assassinadas por parceiros antigos ou atuais. O ataque é semanal para 75% das vítimas, situação que se repete por até cinco anos. Essa violência também atinge a parte mais vulnerável da família, pois a maioria dessas mulheres é mãe e os filhos acabam presenciando ou sofrendo as agressões (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2018, p. 06).

A realidade do Paraná corrobora as estatísticas nacionais, sendo que o estado ocupa o 6° lugar no ranking geral acerca dos registros de feminicídio entre todas as unidades da

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federação, sendo esta a modalidade mais extrema de violência praticada contra as mulheres (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2018).

Segundo a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres (2016), de Guarapuava, a cidade ocupa a posição 373° entre as cidades mais violentas do país, no que se refere à violência praticada contra mulheres.

A cidade conta com 167.328 habitantes, destes, 85.531 são mulheres. Semanalmente, a Polícia Militar de Guarapuava envia à esta Secretaria os Boletins de Ocorrência referentes as situações de violência doméstica e familiar. Em 2013, somaram-se 511 registros, uma média de dois Boletins de Ocorrência por dia. Em 2014 os registros totalizaram 479 Boletins e em 2015 chegaram a 526 (SPPM, 2016).

Com isso, os dados nos indicam que, apesar do cenário de ampliação dos direitos humanos, a sociedade brasileira ainda carece de ações que contribuam para a efetivação dos direitos conquistados formalmente.

Para tanto, é necessário que se produza conhecimento acerca das principais problemáticas existentes, seus determinantes e formas efetivas de combate à violação de direitos. Este é o papel das Instituições de Ensino Superior, que devem atuar, além da formação para o mercado de trabalho, nos âmbitos da pesquisa e da extensão, articulando a produção do conhecimento com as demandas e mazelas da sociedade contemporânea.

Diante desse entendimento, e do cenário aqui apresentado, este trabalho retrata a atuação do Projeto de Extensão Núcleo Maria da Penha (NUMAPE). O NUMAPE, de Guarapuava – PR, é um Sub-programa inserido no âmbito do Programa de Extensão Universidade Sem Fronteira (USF), da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) do Paraná. Está vinculado à Pró Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), sendo coordenado pelo Departamento de Serviço Social (DESES).

O NUMAPE tem por objetivo desenvolver ações que promovam o acolhimento e o atendimento gratuito a mulheres em situação de violência familiar doméstica. Além disso, atua na promoção de ações de prevenção por meio de práticas socioeducativas, visando o combate à violência contra as mulheres e o efetivo cumprimento da Lei Maria da Penha.

Metodologia

O NUMAPE – UNICENTRO está alocado no Campus CEDETEG, conta com uma equipe composta por três áreas de atuação, sendo: Direito, Psicologia e Serviço Social. Ao todo, nove pessoas compõem a equipe de trabalho, dividida entre coordenação, supervisão,

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profissionais recém formados e estagiários. O público alvo deste Projeto são as mulheres que estão vivenciando situação de violência familiar doméstica, que possuam renda familiar de até três salários mínimos. Para isso, o NUMAPE atua em dois eixos, sendo: 1. Intervenção e 2. Prevenção.

A Intervenção se refere ao atendimento individualizado de mulheres que estão em situação de violência familiar doméstica, com atendimento sócio assistencial, jurídico, psicológico e encaminhamentos a rede de serviços. O Serviço Social atua como porta de entrada, faz o acolhimento e a primeira escuta. A partir disso, realiza o cadastro, mapeia as demandas apresentadas, se necessário, realiza visitas domiciliares e media o repasse para as demais áreas e para a rede, quando a situação exige. O Direito ajuíza ações como as medidas protetivas, medidas cautelares cíveis (separação de corpos e alimentos provisórios), divórcio, partilha de bens, divisão de guarda, entre outras. A Psicologia presta o atendimento psicoterápico individual, realiza orientações, visitas psicossociais e grupos terapêuticos, para o fortalecimento das mulheres.

Já a Prevenção é desenvolvida através de ações socioeducativas, com a participação das três áreas, de forma interdisciplinar, visando prevenir a violência familiar doméstica contra as mulheres por meio de oficinas, palestras e rodas de conversa em escolas, universidades, grupos de mulheres, unidades de saúde, entre outros espaços. Para isso, são produzidos materiais como cartilhas, folders, etc.

No que se refere a dinâmica interna de trabalho, mensalmente realizam-se: uma reunião entre os profissionais e estagiários, para a discussão dos atendimentos; uma reunião geral entre profissionais, estagiários, supervisores e coordenação, para planejamento das atividades, divisão de tarefas e resolução de impasses cotidianos; uma reunião geral de formação, onde são convidados pesquisadores ou profissionais que atuam em temas correlatos que possam trazer contribuições teóricas e práticas ao Projeto e uma reunião de estudo, onde a equipe estuda previamente uma obra sugerida e discute sua contribuição para a atuação do NUMAPE.

Além das ações aqui pontuadas, a equipe também se divide para acompanhar sistematicamente os Conselhos, Conferências e Reuniões da Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, como forma de qualificar a atuação do Projeto.

Desenvolvimento e processos avaliativos

O NUMAPE deu início as suas atividades em janeiro de 2018, com as tarefas de planejamento das ações e seleção da equipe de trabalho. Em março de 2018, o Projeto

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firmou um convênio de cooperação com a Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres e passou a compor a Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, junto das demais instituições como: Polícia Civil e Militar; Delegacia da Mulher; Instituto Médico Legal (IML); Unidades de Saúde, Hospitais; Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e Centro de Referência de Assistência Social (CRAS); Conselho Tutelar; Casa Abrigo, destinada para mulheres em risco de morte; Defensoria Pública; Ministério Público; Núcleo de Estudos dos Direitos e Defesa da Infância e Juventude (NEDDIJ) e Patronato – UNICENTRO; Faculdades; Coletivos e Movimentos de Mulheres.

Ao longo do ano de 2018, no que tange o Eixo 1 de atuação, as diferentes áreas do NUMAPE realizaram o seguinte quantitativo de intervenções individuais: 177 atendimentos na área de Direito; 273 pela Psicologia e 164 no âmbito do Serviço Social. Neste mesmo período, o Eixo 2, voltado para prevenção, abarcou um quantitativo de 162 ações realizadas, atingindo 2.802 pessoas. Em relação a produção de conhecimento, foram apresentados seis resumos e sete artigos em eventos científicos, bem como um artigo submetido à revista indexada. Da parte dos supervisores, nas atividades da graduação, foram orientados onze trabalhados de conclusão de curso com temáticas afetas à área e um trabalho de iniciação científica e ministradas disciplinas em cursos de graduação acerca da temática. Por parte dos profissionais, houve a participação em cursos de aprimoramento, como disciplinas isoladas na pós graduação e especialização, enriquecendo a compreensão da temática afeta ao NUMAPE e qualificando os atendimentos prestados.

Na avaliação interna realizada pela equipe, consta o reconhecimento do NUMAPE como um espaço de formação importante para os profissionais e alunos, bem como aos professores, uma vez que fornece matéria prima para a produção de conhecimento acerca dos aspectos da realidade que envolvem o campo da violação dos direitos humanos e da violência de gênero. Por se configurar como um espaço para a realização do estágio supervisionado, o Projeto tem contribuído para a formação dos discentes na medida em que proporciona o planejamento, a execução e avaliação das ações, além da produção do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades técnicas importantes.

Destaca-se, ainda, que o atendimento prestado responde a uma demanda da sociedade guarapuavana e pode ser percebido pelo reconhecimento por parte da rede de atendimento, que tem realizado encaminhamentos constantes ao Núcleo.

Por meio do desenvolvimento das ações aqui listadas, avalia-se que o NUMAPE atende a concepção de Extensão Universitária preconizada pela UNICENTRO, sendo “uma atividade acadêmica, articulada de forma indissociável ao Ensino e à Pesquisa,

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marcada por um processo educativo, cultural e científico que orienta a relação transformadora entre Universidade e Sociedade” (UNICENTRO, 2012, p.01).

Considerações Finais

O NUMAPE – UNICENTRO conquistou um espaço importante na Rede de Enfretamento à Violência Contra a Mulher no município de Guarapuava, uma vez que atende à duas lacunas na prestação de serviços à mulheres que vivem em situação de violência familiar doméstica, sendo: 1. Acolhe, interpõe e acompanha as ações das mulheres junto à justiça e 2. Realiza continuamente diversas ações de prevenção, com enfoque nos trabalhos com grupos, nos quais desenvolve de forma sistemática um ciclo de discussão, com, pelo menos, cinco ações diferenciadas com o mesmo grupo, sensibilizando, apresentando e aprofundando aspectos da violência de gênero, proporcionando maior efetividade no âmbito da prevenção.

Referências

BEHRING, Elaine Rossetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história. 3ª. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

BRASIL. Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponível em: https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/95552/lei-maria-da-penha-lei-11340-06 Acesso em: 01. mai. 2019.

COUTO, Berenice Rojas. O Direito Social e a Assistência Social brasileira: uma equação possível? 3ª. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

FALEIROS, Eva. Violência de Gênero. In: TAQUETTE, Stela (org). Violência contra a mulher adolescente/jovem. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/ 265336500_Violencia_contra_a_mulher_adolesc entejovem/download Acesso em: 20. abr. 2019.

MAPA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER – 2015. Brasília: Câmara dos Deputados.

MAPA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER – 2018. Brasília: Câmara dos Deputados.

SECRETARIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES (SPPM). Plano

Municipal de Políticas Públicas para Mulheres – 2016/2026. Não publicado.

UNICENTRO. Resolução N° 7 CEPE-CAD/UNICENTRO, de 2012. Regulamento de

Extensão. Disponível em:

https://www2.unicentro.br/proec/files/2013/05/resolu%C3%A7%C3%A3o.pdf?x59049 Acesso em: 05 de maio de 2019.

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