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Reconhecimento pela Corte de que mesmo nos processos políticos as garantias

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Academic year: 2021

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSUAL

AS GARANTIAS PROCESSUAIS PENAIS EM FACE DA CONVENÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS

HUMANOS (DPC5820)

UNIDADE V: DIREITO À JURISDIÇÃO PENAL. O JUIZ INDEPENDENTE, IMPARCIAL E PRÉ-CONSTITUÍDO

Alunos: Gustavo Alves Magalhães Ribeiro – nº USP 7962393 Nina Ribeiro Nery de Oliveira – nº USP 11738935

1. CASO DEL TRIBUNAL CONSTITUCIONAL (CAMBA CAMPOS Y OTROS) VS. ECUADOR.

1.1.Resumo do caso: 8 membros do Tribunal Constitucional do Equador foram destituídos de suas funções através da Resolución nº 25-160, editada pelo Congresso Nacional daquele país, em razão de uma suposta ilegalidade em seu processo de nomeação. Poucos dias após esse episódio, alguns dos membros do Tribunal Constitucional do Equador ainda foram alvos de processos políticos instaurados perante o Congresso Nacional equatoriano em razão de suas decisões em 2 julgamentos realizados por aquela Corte. Após o Parlamento do Equador ter votado a rejeição das moções de censura, o Presidente da República convocou uma sessão extraordinária para discutir novamente essa matéria, ocasião em que algumas das moções de censura anteriormente rejeitadas foram aprovadas.

1.2.Contexto histórico: Fatos ocorridos no ano de 2004, período de grande turbulência política e de instabilidades no Equador. Entre 1996 e 2007 o Equador teve 7 Presidentes da República, sendo que nenhum deles cumpriu o seu mandato constitucional de 4 anos. Nesse período, foram frequentes as reformas na Constituição do Equador e na composição de suas Altas Cortes. Em 2005, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos recebeu a denúncia contra o Estado do Equador, a qual foi submetida à Corte Interamericana no ano de 2011, tendo sido julgada em 28.08.2013.

1.3.Aspectos relevantes:

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judicias previstas na CADH, como a de um juiz independente, competente e imparcial, devem ser aplicadas.

1.3.2. A destituição dos membros do Tribunal Constitucional somente poderia ter ocorrido através de um processo político, e não mediante uma resolução do Congresso Nacional. A demora para reverter um suposto processo inadequado de nomeação constitui uma ameaça à garantia da independência judicial.

1.3.3. O processo político que aplicou moções de censura a alguns membros do Tribunal Constitucional violou a garantia da independência judicial, pois o Congresso Nacional não poderia ter imposto essa sanção apenas por questionar o mérito das decisões tomadas pela Corte.

1.3.4. O contexto e a forma como o Parlamento equatoriano agiu em face dos membros do Tribunal Constitucional contaminaram a imparcialidade de seus atos, em prejuízo às dimensões objetiva e subjetiva que essa garantia deve dispor. Isso porque determinados grupos políticos se articularam para intervir na atuação funcional das Altas Cortes judiciais do Equador nesse período, dando sequência a processos que estavam eivados de vícios.

1.4.Reparações: Setença constitui, por si só, uma forma de reparação; publicação da setença pelo Estado; pagamento de multa por danos morais e materiais; pagamanento dos gastos das vítimas. 1.5.Atualidades.

2. CASO CASTILLO PETRUZZI Y OTROS VS. PERÚ.

2.1.Resumo do caso: Os Srs. Jaime Castillo Petruzzi, María Saéz, Lautaro Saavedra e Alexandro Astorga Valdez, todos cidadãos chilenos e apontados como membros do “Movimento Revolucionário Túpac Amaru”, foram detidos e investigados pela Divisão Nacional Contra o Terrorismo (DINCOTE) da Polícia Nacional do Peru, bem como processados e condenados à prisão perpétua por um Tribunal Militar composto por juízes “sem rosto”, pela suposta prática do crime de traição a pátria, previsto no Decreto-Ley 25.659.

2.2.Contexto histórico: Fatos ocorridos no ano de 1993, no período da ditadura do ex-presidente peruano Alberto Fujimori. Esse governo teve como uma de suas políticas o combate a grupos caracterizados como terroristas.

Em 1994, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos a denúncia contra a República do Peru, a qual foi submetida à Corte Interamericana no ano de 1997, tendo sido julgada em

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30.05.1999.

2.3.Aspectos relevantes:

2.3.1. O deslocamento de competências da Justiça Comum para a Justiça Militar e o conseguinte processamento de civis pelo delito de traição à pátria neste foro significa excluir o juiz natural para o conhecimento da causa, vez que a jurisdição militar deve atuar apenas com o propósito de manter a ordem e a disciplina dentro das forças armadas.

2.3.2. Tanto o fato de as próprias forças armadas imersas no combate aos grupos insurgentes terem sido as encarregadas de julgar as pessoas a eles vinculadas, como a forma como a Justiça Militar peruana estava estruturada, colocavam dúvidas sobre a independência dos juízes integrantes daquele Tribunal Militar.

2.3.3. A circunstância de os juízes intervenientes nos processos de delitos de traição serem “sem rosto” implicava na impossibilidade de o processado conhecer a identidade do julgador e, consequentemente, valorar a sua parcialidade. Essa situação se agravava ante a proibição de recusa desses juízes que estava contida na lei.

2.4.Reparações: Promover um novo julgamento; reforma das normas declaradas violatórias da CADH; pagamanento dos gastos das vítimas.

2.5.Atualidades.

3. CASO RADILLA PACHECO VS. MÉXICO

3.1.Resumo do caso: No dia 25 de agosto de 1974, o Sr. Rosendo Radilla Pacheco e seu filho viajavam de ônibus. O ônibus parou em um posto de controle onde agentes militares solicitaram que os passageiros descessem para revisar o interior. Os passageiros foram instruídos a embarcar de volta, exceto Radilla Pacheco, que foi detido porque ele “compôs corridos”. Depois da sua detenção, Radilla Pacheco chegou a ser visto no quartel militar de Atoyac de Alvarez com sinais de maus tratos físicos. Depois disso, nunca mais foi visto e seus restos mortais nunca foram encontrados.

3.2.Contexto histórico: Entre os anos 1960 e 1970, o México viveu um período que ficou conhecido como “Guerra Suja”, caracterizado por uma guerra interna entre o governo mexicano e grupos guerrilheiros estudantis de esquerda. Foi um movimento de repressão política e militar para dissolver o movimento de oposição política e armada contra o Estado, no qual eram comuns os desaparecimentos forçados, a tortura sistemática e execuções extralegais.

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No dia 15 de novembro de 2001, foi oferecida denúncia pela Comissão Mexicana de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos e pela Associação de Familiares de Detidos e Desaparecidos e Vítimas de Violações de Direitos Humanos no México, tendo sido julgada em 23 de novembro de 2009.

3.3.Aspectos relevantes:

3.3.1. Reconhecimento pela Corte que, embora os fatos envolvendo Radilla Pacheco fossem anteriores ao depósito do intrumento de adesão à Convenção Americana, ocrrida em 1981, e da entrada em vigor da Convenção Interamericana Sobre Desaparecimento Forçado de Pessoa, de 2002, os fatos envolvendo desaparecimento forçado de pessoas possui caráter permanente e seus efeitos persistem no tempo mesmo depois da entrada em vigor do tratado. 3.3.2. A Corte entendeu necessária a análise do fenômeno do desaparecimento forçado de pessoas a partir de uma análise sistêmica, diante da necessidade de uma perspectiva integral dessa situação em razão da pluralidade de condutas que vulneram de maneira permanente os bens jurídicos protegidos pela Convenção.

3.3.3. O Estado possui obrigação de providenciar recursos judiciais efetivos às pessoas que aleguem ser vítimas de violações de direitos humanos, recursos que devem ser substanciados em conformidade com as regras do devido processo legal, tudo isso dentro da obrigação geral, a cargo desses mesmos Estados, de garantir o livre e pleno exercício dos direitos reconhecidos pela Convenção a toda pessoa que se encontre sob a sua jurisdição.

3.3.4. A jurisdição militar em estados democráticos, em tempos de paz, tende a reduzir e até mesmo a desaparecer, portanto, se um Estado o conserva, seu uso deve ser mínimo, conforme estritamente necessário, e deve ser inspirado pelos princípios e garantias que regem o direito penal moderno.

3.3.5. A jurisdição militar não é o foro competente para investigar, julgar e sancionar os autores de violações de direitos humanos, de modo que o julgamento dos responsáveis sempre corresponde à justiça ordinária.

3.4.Reparações: Garantir a averiguação dos fatos; continuar com a busca e localização de Radilla Pacheco ou de seus restos mortais; reforma de disposições legais; capacitação de operadores de justiça e capacitação em direitos humanos; publicação da sentença; ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional; reestabelecimento da memória; atenção psicológica; indenizações e custas.

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4. CASO REVERON TRUJILLO VS. VENEZUELA

4.1.Resumo do caso: Em 1982, Maria Cristina Reverón Trujillo ingressou no Poder Judiciário venezuelano, desempenhando diversos cargos de forma ininterrupta. Em 06 de fevereiro de 2002, a Comissão de Funcionamento e Reestruturação do Sistema Judicial (CFRSJ) a destituiu do seu cargo por considerar que a juíza teria incorrido em ilícitos disciplinares segundo a Lei Orgânica do Conselho da Judicatura e a Lei de Carrera Judicial, que incluíam o “abuso ou excesso de autoridade” e o descumprimento de sua obrigação de “guarda devida atenção e diligência” na tramitação da causa. O recurso de Reverón Trujillo foi julgado perante o SPA, que declarou a nulidade da sanção de destituição, mas não ordenou a recondução ao cargo e nem o pagamento dos salários que ela deixou de receber.

4.2.Contexto histórico: Em 1999, o Poder Judiciário venezuelano estava em profunda crise que colocava em risco sua independência, autonomia e imparcialidade. Em 25 de abril de 1999, foi aprovada a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte com o propósito de transformar o Estado, criar um novo ordenamento jurídico e alcançar o funcionamento efetivo de uma democracia social e representativa. Em 12 de agosto de 1999, a Assembleia declarou reorganização de todos os órgãos do poder público devido à grave crise política, econômica, social, moral e institucional. A Constituição da República Bolivariana da Venezuela, de 20 de dezembro de 1999, estabeleceu que o ingresso na carreira judicial seria por concursos públicos, o que culminou no afastamento dos juízes provisórios.

Em 09 de novembro de 2007, a Comissão Interamericana apresentou uma demanda contra a Venezuela, que foi julgada pela Corte em 30 de junho de 2009.

4.3.Aspectos relevantes:

4.3.1. A Corte entendeu que, para que exista um recurso efetivo, não basta que ele esteja previsto na Constituição ou na lei, ou que seja formalmente admissível. O recurso deve ser realmente idôneo para estabelecer que ocorreu uma violação aos direitos humanos e prover o necessário para remediá-la.

4.3.2. Os juízes possuem estabilidade por serem funcionários de carreira. A Corte salientou que os juízes contam com garantias reforçadas devido à independência do Poder Judiciário, que é essencial para o exercício da função judicial.

4.3.3. O princípio da independência constitui um dos pilares básicos das garantias do devido processo, razão pela qual deve ser respeitado em todas as áreas do procedimento e diante de todas as instâncias processuais em que se decido sobre direitos da pessoa.

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4.4.Reparações: Reincorporação ao cargo e pagamento dos salários que deixou de receber; eliminação da sanção de destituição; adequação da legislação interna; publicação da sentença da corte; custas e gastos.

BIBLIOGRAFIA

BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Juiz natural no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Processo penal. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Castillo Petruzzi y otros vs. Perú, sentença de 30 de maio de 1999.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Radilla Pacheco vs. México, sentença de 23 de novembro de 2009.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Reveron Trujillo vs. Venezuela, sentença de 30 de junho de 2009.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Tribunal Constitucional (Camba Campos y otros) vs. Ecuador, sentença de 28 de agosto de 2013.

GIACOMOLLI, Nereu José. O devido processo penal: abordagem conforme a Constituição Federal e o Pacto de São José da Costa Rica. São Paulo: Atlas, 2014

GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães; FERNANDES, Antonio Scarance. As nulidades no processo penal. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

TAVARES, Amarilis Busch. O desaparecimento forçado como uma prática sistemática de estado nas ditaduras da américa latina: uma abordagem sobre o papel do sistema interamericano de direitos humanos. Revista Anistia Política e Justiça de Transição / Ministério da Justiça. – N. 4 (jul. / dez. 2010). – Brasília : Ministério da Justiça , 2011.

OCHOA, José Luis Caballero. A trajetória do processo de justiça transicional do méxico. Um comentário à luz do caso Radilla Pachecho vs. Estados Mexicanos, decidido pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. Revista Anistia Política e Justiça de Transição / Ministério da Justiça. – N. 4 (jul. / dez. 2010). – Brasília : Ministério da Justiça , 2011.

Referências

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