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Lei do Inquilinato e solidariedade: litisconsórcio necessário ou facultativo?

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Lei do Inquilinato e solidariedade: litisconsórcio necessário ou

facultativo?

Regina Márcia Gerber

Doutoranda em Lingüística pela UFSC/SC. Mestre em Teoria e Análise Lingüística. Aluna da 6ª fase de Direito da UNISUL/SC. Bolsista CNPq/Brasil.

Publicado em 18/01/2008

Sumário: 1. Introdução; 2. Litisconsórcio; 3. A posição da doutrinária acerca do litisconsórcio: necessário ou facultativo?; 4. Reflexões finais; 5. Referências.

1. Introdução

Ao estudar a Lei do Inquilinato foi possível verificar que, quando há mais de um inquilino, num contrato de locação de imóvel, há solidariedade entre eles. Tanto que, por exemplo, em caso de inadimplemento, todos responderiam solidariamente pelo feito, caracterizando assim um caso de litisconsórcio. Entretanto, do mesmo modo que é pacífico o entendimento de que, no caso de inadimplemento, os inquilinos solidários serem litisconsortes, não é pacífica a decisão quanto ao tipo de litisconsórcio: se necessário ou facultativo.

Deste modo, para desenvolver este artigo, toma-se como objeto de estudo, esta divergência. Entretanto, sabe-se que, antes de entrar nesta questão é necessário apresentar, primeiro, conceitos acerca de litisconsórcio, bem como caracterizar tanto o necessário quanto o facultativo. Segundo, abordar a questão do inadimplemento e da solidariedade na Lei do Inquilinato. Em seguida, tratar da questão da divergência doutrinária e, por fim, apresentar reflexões finais sobre a questão inicial, já exposta no título deste material.

Assim, passa-se a tratar do litisconsórcio, dedicando atenção especial à suas espécies: necessário e facultativo.

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2. Litisconsórcio

Normalmente a relação jurídica se estabelece através da angularização formada pelo autor, juiz e réu. Entretanto, em alguns casos, pode ocorrer que num dos pólos da relação, ou em ambos, atuem mais de uma pessoa. A esse fenômeno dá-se o nome de litisconsórcio[1] e, a esta pluralidade de pessoas, dá-se o nome de litisconsortes (PAULA, 2003; p. 225-226; DINAMARCO, 2002, p. 39-40; FERRAZ, 1979; p. 78; BARBI, 2002; MARQUEZ, 2001, p. 110). Deste modo, de maneira resumida, pode-se dizer que o “litisconsórcio é o fenômeno processual que reúne dois ou mais litigantes num dos pólos da ação, com identidade de interesses e de atuação processual” (PAULA, 2003, p. 225). Segundo Cândido Rangel Dinamarco, a admissão do litisconsórcio comporta a pressuposição de que cada um dos co-litigantes, ou todos quando o litisconsórcio é necessário, possui legitimidade para ocupar o pólo da relação jurídica a que tem direito (2002, p. 43). Esta imposição de legitimidade dos litigantes encontra-se expressa no artigo 6º do Código de Processo Civil: “ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei” (1973, p. 328). “Assim, com referência ao objeto do processo, ou seja, à demanda posta em juízo, só poderá haver litisconsórcio se a todos e cada um tocar a qualidade que lhes autorize a condição do processo” (DINAMARCO, 2002, p. 43).

Jônatas Luiz Moreira de Paula, citando Enrico Tullio Liebman, informa que existem dois requisitos básicos, e essenciais, à formação do litisconsórcio: “a conexão de ações, em razão do pedido ou da causa de pedir, e a obediência à competência, que não pode ser de forma alguma absolutamente incompetente” (2003, p. 230). Por este motivo, os litisconsortes se unem, num só processo, em busca de um direito comum.

De maneira resumida, pode-se dizer que o litisconsórcio pode ser ativo (quando há mais de um autor), passivo (quando há mais de um réu), misto ou recíproco (quando há mais de um autor e mais de um réu). Pode ser também inicial ou ulterior (de acordo com a pluralidade de litisconsortes no início ou em momento posterior da ação), bem como simples (ocorre quando a decisão pode ser diferente para cada litigante) ou unitário (ocorre quando a decisão deve ser igualitária para todos os litisconsortes). Além disso, pode ser necessário ou facultativo, as espécies que interessam para este estudo e que passo a tratar.

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O litisconsórcio necessário ocorre quando a ação deve ser proposta, impreterivelmente, por dois ou mais litigantes. Deste modo, percebe-se que há uma obrigatoriedade e, esta, de acordo com o artigo 47 do Código de processo Civil (1973), deriva da lei ou da natureza da relação jurídica. Pode-se citar, como exemplos de litisconsórcio necessário, a citação obrigatória (1) de ambos os cônjuges nas ações que versem sobre direitos reais imobiliários (artigo 10, § 1, I, Código de Processo Civil, 1973); (2) de todos os sócios, nos casos de dissolução de sociedades; (3) bem como de todos os credores do devedor insolvente (artigos 761 e 762, Código de Processo Civil, 1973). Assim sendo, caso o autor da ação não promova a citação de todos os litisconsortes, o processo será extinto sem julgamento do mérito, segundo parágrafo único do artigo 47 do Código de Processo Civil (1973). Celso Agrícola Barbi acrescenta que, o litisconsórcio necessário, “é aquele que não pode ser dispensado, mesmo que todos os interessados estejam de acordo” (2002, p. 191).

O litisconsórcio facultativo ocorre quando é facultado às partes participarem ou não do litisconsórcio, de modo que, sua instauração fica subordinada à vontade das partes. Segundo Cândido Rangel Dinamarco, “é o ato de iniciativa do processo que determinará soberanamente se o processo se fará entre só um autor e só um réu, ou entre três ou mais pessoas” (2002, p. 67). Para ser facultativo o litisconsórcio não pode se encaixar nas condições previstas no artigo 47 do Código de Processo Civil (1973).

O Código de Processo Civil (1973), em seu artigo 46, enumera quatro hipóteses de formação do litisconsórcio facultativo.

A primeira, impresa no inciso I, determina que haverá litisconsórcio facultativo quando entre os litisconsortes “houver comunhão de direitos ou de obrigações relativas à lide”. Segundo Celso Agrícola Barbi, “comunhão de obrigações existirá quando vários devedores o sejam em conjunto, quer solidariamente, quer em partes definidas. Tem-se o exemplo de várias pessoas que adquiriram uma coisa a prazo, responsabilizando-se cada uma por uma parte do preço, ou mesmo assumindo a posição de devedores solidários. Existe aí uma obrigação comum que pode ser exigida pelo credor. Se não houver solidariedade, o credor poderá cobrar de cada um a sua parte, em ações distintas; mas pode preferir cobrar de todos, reunindo suas diversas ações em um só processo. Da mesma forma, se houver solidariedade naquela dívida, tanto poderá o credor acionar cada um separadamente, como propor suas várias ações contra todos, ou alguns, em um só processo” (2002, p. 196).

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será admitido quando “os direitos e obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato e de direito”. Para Celso Agrícola Barbi, “é importante observar que o inciso cuida de causa originadas do mesmo fato (idem factum), e não de fatos iguais (factum símile). São coisas diversas: estes últimos, ainda que iguais, não são o mesmo acontecimento. Dois incidentes iguais são sempre dois acidentes, e não o mesmo e único fato” (2002, p. 196, grifos do autor). Como exemplo pode-se citar, de acordo com Jônatas Luiz Moreira de Paula, “ação promovida por dois proprietários de veículos atingidos pelo acidente provocado pelo réu” (2003, p. 233).

A terceiro, impressa no inciso III, prevê o litisconsórcio facultativo quando “houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir”. Pode-se citar como exemplos: “a) dois ou mais acionistas impugnam juntos a deliberação tomada em assembléia geral da sociedade anônima; ou quando os sócios de uma sociedade por cotas agem em condições idênticas; b) dois ou mais locatários demandam no mesmo processo contra o locador que os notificou de um aumento de aluguel, previsto no contrato por todos assinados; e c) dois ou mais credores propõem juntos ação declaratória de nulidade por fraude contra credores (CC, art. 166, VI), ou por simulação, fundada no art. 167 do Código Civil” (BAPTISTA DA SILVA, 1991, p. 208-209).

Por fim, a quarta, impressa no inciso IV, estipula que há litisconsórcio facultativo quando “ocorre afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito”, ou seja, quando há “fatos iguais, semelhantes (factum símile) que ocorrem, por exemplo, quando um proprietário rural entra com ações contra seus vizinhos porque estes soltam seus animais em sua fazenda, sem haver acordo prévio quanto a isso” (COSTA

apud BARBI, 2002, p. 199).

Em seguida, passa-se a tratar do posicionamento da doutrina em relação ao litisconsórcio, se necessário ou facultativo, no caso de inadimplemento em contratos de locação, quando há solidariedade.

3. A posição da doutrinária acerca do litisconsórcio: necessário ou facultativo?

O artigo 2 da Lei nº 8.245 de 1991, a Lei do Inquilinato, preceitua que “havendo mais de um locador ou mais de um locatário, presumem-se que são solidários, se o contrário não se estipulou”.

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solidariedade e, esta, pode ocorrer tanto no pólo ativo como no passivo.

Quanto à solidariedade ativa, pode-se dizer que é aquela onde há mais de um locador, exemplo: Pedro e João são locadores e Débora é a locatária de um apartamento. Considerando que o valor do aluguel seja R$ 600,00, caberia a qualquer um dos dois locadores cobrar o valor de Débora.

Quanto à solidariedade passiva, pode-se dizer que é aquela onde há mais de um locatário, exemplo: Cláudia, João e Mateus são locatários e Laura é a locadora de uma casa de praia. Considerando que o valor do aluguel também seja R$ 600,00 e que Cláudia pagou o valor do aluguel sozinha, nesse caso, ela poderia se sob-rogar nos direitos do locatário e, através de uma ação de regresso, cobrar de João e Mateus a quota-parte deles.

Nos exemplos acima, no que tange ao aspecto civil, não há problemas. Mas, se acrescentássemos uma condição de inadimplemento, no caso da solidariedade passiva, e, ocorrendo a falta de pagamento por parte dos locatários, Laura poderia propor uma ação de despejo. Neste caso, ela deveria propô-la contra um dos locatários ou contra todos? Seria caso de litisconsórcio passivo necessário ou facultativo? Nestes pontos, na doutrina, residem às controvérsias, ou seja, o problema não se coloca no plano civil, mas no processual e, por isso, as divergências levam a duas correntes.

A primeira defende que o locador, nos casos de pluralidade subjetiva, poderá escolher contra quais dos locatários irá propor a ação de despejo, desde que não esteja estipulado, no contrato, cláusula diversa. Neste caso, o litisconsórcio aplicado seria o facultativo, em vista da solidariedade, “podendo a ação de despejo ser promovida por um só dos locadores contra o locatário ou um só dos locatários. Isso também se aplica à cobrança por via autônoma de aluguéis, encargos e mais penalidades dirigida contra qualquer locatário, devedor solidário, de livre escolha do credor” (AGUIAR, 1993, p. 25). Neste caso, poderia, igualmente, no pólo oposto, ser também aplicada uma ação que visasse cobrar perdas e danos, bem como aplicar penalidade, caso houvesse infração por parte dos locadores solidários. Segundo Sylvio Capanema de Souza, esta posição não é adotada apenas pelo Desembargador João Carlos Pestana de Aguiar, mas também pelo magistrado Dr. José Guy de Carvalho Pinto, por Gildo dos Santos, por Alcides Tomasetti e por Oswaldo Optiz e Silva Optiz (2001, p. 39). Neste caso, o litisconsórcio aplicado seria o facultativo.

A segunda considera que, por causa da solidariedade passiva, “pode-se cobrar o aluguel de cada um dos locatários, mas não demandar apenas contra um deles e

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querer que os efeitos atinjam os demais, visto a questão ser processual” (AURÉLIO, 2005, p. 4).

Sobre esta questão, Maria Helena Diniz esclarece que esta solidariedade situa-se apenas no plano da obrigação ou da responsabilidade pecuniária. Deste modo, ocorrendo a ação de despejo e havendo vários locatários, deverá Laura propor a ação contra todos eles e não apenas contra um deles, “pois visa declarar rescindida a locação, rompendo o vínculo contratual, e retomar prédio e não cobrar débitos, conservando-se o liame jurídico e a posse direta. Se todos participaram da formação da relação locatícia, todos deverão participar de sua ruptura” (DINIZ, 1992, p. 39).

4. Reflexões finais

Sendo assim, a partir do exposto, é possível verificar que, no tocante às questões referentes ao inadimplemento por parte de locatários de imóveis, há divergências entre os doutrinadores. Para uns, dentre eles, por exemplo, João Carlos Pestana de Aguiar (1993, p. 25), a solidariedade leva a interpretação de que o locatário pode propor a ação de despejo contra qualquer um dos locatários solidários. Para outros, como por exemplo, para Maria Helena Diniz (1992, p. 39), o fato de haver solidariedade não permite ao locador, deliberadamente, propor a ação de despejo somente contra um dos locatários, sendo-lhe, necessariamente obrigatório, em vista da solidariedade, propô-la contra todos eles.

Particularmente, considerando as questões levantadas, considero ser mais coerente a aplicação da segunda vertente, a de Maria Helena Diniz. Não me parece adequada a aplicação da primeira vertente pelo fato de parecer-me incoerente, numa ação que visa despejar vários locatários, e sendo todos solidários, propor a ação apenas contra um eles. Além disso, um fato que me parece crucial e muito importante, é que os efeitos da decisão do juiz irão atingir, necessariamente, a todos os locatários. Por isso mesmo, parece ser inquestionável a necessidade de aplicação do artigo 47 do Código de Processo Civil (1973), porque a sua não aplicação poderia acarretar extinção do processo.

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AGUIAR, João Carlos Pestana. Nova lei das locações comentada. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1993.

AURÉLIO, Marco. Direito Civil. Diex-Ielf/extensivo. 2005. Disponível em:

<http://www.diex.com.br/material/int_trabalho/marco_15_07_05.pdf>. Acesso: 16 out. 2006.

BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao código de processo civil, v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

BAPTISTA DA SILVA, Ovídio. Curso de processo civil, v. 1. 2ª ed. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1991.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Litisconsórcio. 7ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002.

DINIZ, Maria Helena. Lei de locação de imóveis urbanos comentada. São Paulo: Saraiva, 1992.

FERRAZ, Sérgio. Assistência litisconsorcial no direito processual civil: breves notas. São Paulo: Revista dos Tribunais,1979.

LIMA, Gustavo Bayerl. Litisconsórcio e intervenção de terceiro. Geocities, 2000. Disponível em: <http://www.geocities.com/juristantum2000/dpc1.htm>. Acesso: 29 nov. 2006.

MARQUES, José Frederico de. Manual de Direito Processual Civil. 2ª ed. São Paulo: Millenium, 2001.

PAULA, Jônatas Luiz Moreira de. Comentários ao Código de Processo Civil, v. 1: 1º ao 261. São Paulo: Manole, 2003.

SOUZA, Sylvio Capanema de. A nova Lei do Inquilinato: comentários, jurisprudência, formulários e legislação. Rio de Janeiro: Forense, 1979.

______. Da locação do imóvel urbano: direito e processo. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

[1] Litisconsórcio é uma palavra de origem latina que se compõe de três vocábulos: “lis, litis: que significa processo, pleito; cum: que significa junção e sors, sortis: que significa quinhão, resultado ou sorte” (LIMA, 2000, p. 1). Deste modo, pode-se dizer, que um processo comporta um litisconsórcio quando há a junção de várias pessoas com interesses comuns.

Referências

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