Propedêutica Bíblica
ORAÇÃO
Ezequiel 33, 30-33
30«E tu, filho de homem, fica sabendo que os filhos do teu povo te
criticam, ao longo das paredes e às portas das casas. Dizem uns aos outros: 'Vinde ouvir a palavra que vem da parte do SENHOR.' 31Depois,
acorrem em multidão a tua casa, sentam-se diante de ti, escutam o que dizes, mas não o põem em prática. Não fazem senão o que lhes agrada e não procuram senão o seu proveito. 32És para eles como um
trovador dotado de bela voz e que toca bem a sua cítara. Ouvem as tuas palavras, mas não as põem em prática. 33Porém, quando tudo isto
se realizar e eis que está já a acontecer reconhecerão que havia um profeta entre eles.»
Cultura e texto Bíblico
Verdade na Bíblia
Que a Sagrada Escritura não engane, está
subentendido no próprio Dogma da Inspiração.
Jo 10,35 – A Escritura não pode ser colocada em
dúvida
Lc 24, 44 / Act 1,16 – A Escritura deve cumprir-se
Mt 4,4 (…) “Está escrito” – introduz a escritura
Inerrância – consequência da inspiração
É em virtude da inspiração que os Livros da Bíblia são para nós Palavra de Deus: oferecem ao homem a verdade sem erro, que o guia para a salvação histórica e escatológica
A Bíblia é uma unidade. AT e NT juntos, como conjunto unitário (analogia scripturae / semelhante à analogia fidei), permite o entendimento de cada texto no seu sentido autêntico
“Os padres sinodais sublinhavam justamente que o tema da inspiração está também ligado ao tema da verdade das Escrituras. Por isso, um aprofundamento da dinâmica da inspiração levará, sem dúvida, também a uma maior compreensão da verdade contida nos livros sagrados” – VD 19
A bíblia contém (como veremos mais adiante) afirmações que os nossos conhecimentos actuais rotulariam de “erróneas” (Gn 1, 6-7)
Estão presentes 2 concepções de verdade:
Gregos (Alêtheia) – o ser verdadeiro, realidade permanente e fixa, apreendida intelectualmente. Opõe-se à ilusão e ao engano
Verdade na Bíblia
Para os israelitas (emet), significava sobretudo firmeza, fidelidade aos outros e à palavra dada, aquilo ou aquele a que se pode dar fé. Dava coesão, estabilidade, segurança, realismo à vida. Não é apenas objecto de ensino ou de estudo; exige compromisso e entrega pessoal. Obtinha-se mais com a acção. Sobretudo, salvava; libertava do mal, não da ignorância. Era um ser pessoal: Deus!
A verdade hebraica é essencialmente religiosa. Como a religião é histórica, realiza-se nos acontecimentos e na fidelidade de Deus à sua Aliança com os homens.
Verdade na Bíblia
Em última análise, a verdade como revelação
consiste na autenticidade do encontro entre os
interlocutores, Deus e o homem
Jesus manifesta plena e definitivamente Deus: “Eu
sou a verdade” (Jo 14,6).
Na polémica com os autores pagãos, os cristãos
resvalarão para a concepção grega: quem aceita a
Sagrada Escritura, procura fazer uma síntese
criativa entre verdade grega e cristã; quem a
rejeita, combaterá precisamente a partir da
pretensa verdade absoluta greco-romana.
Verdade na Bíblia
Os apologistas cristãos procuram demonstrar
coerência entre verdade bíblica e mentalidade
grega. Momentaneamente, ganharam terreno,
mas enveredaram por um caminho que
conduziu a situações difíceis. Aos poucos e
poucos, foi-se entendendo a verdade bíblica à
maneira grega.
Embora Santo Agostinho tenha retomado a
posição dos Padres (verdade religiosa), com a
cristandade, a Bíblia foi considerada com todas
as verdades: histórica, científica, filosófica…
Verdade na Bíblia
Com a escolástica medieval, a Escritura foi
considerada como fonte: cada afirmação
aceitava-se como verdadeira em si, sem
necessidade de demonstração, capaz de gerar
um discurso racional donde se poderia deduzir
mais conhecimento do sobrenatural.
Valorizava-se ao máximo a verdade lógica; tinha
o mesmo valor em cada uma das frases,
tivessem a ver com o religioso, com as ciências
naturais, ou com a história.
Verdade na Bíblia
Esta redução teve pontos positivos: defendeu o
realismo e evitou o relativismo; mas era
problemática a sua aplicação às diversas
formas
linguísticas.
A
preocupação
pela
verdade e pelo erro estreitava o horizonte da
verdade a descobrir no texto. A Escritura era
como um catálogo de afirmações.
A perspectivação estreita da verdade foi
proposta agressivamente pelo racionalismo e
aceite por muitos teólogos católicos.
Verdade na Bíblia
Quer o conceito semita, quer o grego,
coincidem num ponto: a relação de
conformidade ou de correspondência. E
isto não se deve minimizar. Nos semitas,
conformidade com Palavra dada e o seu
cumprimento; nos gregos, conformidade
entre os factos e a sua percepção
intelectual.
Verdade na Bíblia
• S. Justino em diálogo com Trifão dizia: “Que as Escrituras
possam opor-se entre si, é coisa que não ousarei pensar. E se houvesse algo na Escritura que assim parecesse, preferiria confessar que não compreendo o que aquilo significa.”
• Santo Ireneu: “Se não podemos encontrar uma solução para todas as dificuldades que aparecem na Bíblia, seria impiedade querer procurar um Deus diferente do que Ele É!”
• As discordâncias levaram muitos escritores a recorrerem à
interpretação alegórica, como a forma de recuperar a verdade que, de outra forma, pareceria comprometida.
Verdade na Bíblia
Já no judaísmo estavam presentes discordâncias (pelo
menos aparentes) entre os Livros do AT.
A tradição transmitia que que uma das bênçãos que
se receberia com o regresso de Elias seria a
explicação das aparentes discordâncias, por
exemplo, entre Ezequiel e a Torah.
As dificuldades foram patentes no cristianismo
nascente, obrigando a uma comparação entre AT e
NT. A primeira resposta foi ditada pela fé.
Verdade na Bíblia
• No que respeita às discordâncias dos sinópticos
e do evangelho de João, Orígenes lembra que “é
necessário precisar que a verdade, no que se
refere a estes factos, está no seu significado
inteligível
• No que respeita à pretensão da verdade
científica na bíblia, Agostinho disse: «(O Senhor)
queria fazer cristãos, não cientistas» “O Senhor
não quis ensinar nada que fosse inútil para a
Verdade na Bíblia
Até finais de séc. XVII (e mais tarde), a Bíblia era
tomada por um livro de informações científicas:
origem do mundo natural, da vida humana, das
línguas, dos povos…
Outra corrente (Galileo, por exemplo – 1564-1642)
procurava distinguir enunciados científicos de
enunciados bíblicos. Galileo foi um dos momentos
particularmente dramático deste conflito.
Verdade na Bíblia
- S. Tomás de Aquino diz que a verdade na Escritura é questão de direito (não de facto). O dado de fé da verdade da Escritura deve ser objecto de um exame crítico.
-É preciso manter firmemente a “verdade na Escritura” -Quando a Escritura permite várias interpretações, é preciso descartar aquelas que a razão mostra serem inexactas
- A primeira e realmente contestação aconteceu na era
moderna, com o caso Galileo. Foi uma discussão – choque sobre a inerrância da Escritura, em confronto com as
Verdade na Bíblia
- Regressemos à posição exegética de Galileo:
-“… Descendo destas coisas ao que nos interessa,
segue-se por necessária consequência que não tendo querido o Espírito Santo ensinar-nos se o céu se move ou se está parado, nem se a sua figura é plana ou em forma de esfera (…) Se o Espírito Santo não quis ensinar-nos semelhantes posições por não corresponderem à sua intenção, acaso poderá haver posição herética que não se refira de maneira alguma à salvação das almas? (…) atenho-me ao que ouvi (Cardeal Barónio), a
intenção do Espírito Santo é ensinar-nos como se vai ao céu , e não como vai o céu.”
o homem e para sua
Verdade na Bíblia
Mesmo com as condenações de Galileo, as
reflexões teológicas sobre a autoridade das
escrituras continuaram: Pe. Mersenne
(1588-1648);
Descartes,
Pascal,
Pe.
Malebranche diziam, cada um com o seu
matiz,
que
as
Escrituras
não
têm
autoridade em matéria de filosofia natural.
Descartes insistia que a Bíblia foi escrita para
Verdade na Bíblia
Para
muitas
dificuldades
que
surgiam,
procuravam-se soluções de tipo concordista.
Mais graves, foram as questões levantadas, no
séc. XIX, no campo da história e da arqueologia,
e com o estudo das literaturas do antigo
Próximo Oriente.
Inicialmente,
deram-se
soluções
deficientes:
limitou-se a inspiração e a inerrância às partes
da fé e costumes (posição corrigida pela
“Providentissimus Deus”)
Verdade na Bíblia
- Respostas da Exegese Católica:
-Limitar o âmbito da Sagrada Escritura. Newman, por exemplo, julgava que a inspiração não se estendia ao material de pouca importância (meramente
anedótico, sem relação com a matéria de fé e de moral
-Em 1902, outra teoria é elaborada na revista Études: o Pe. Prat fala da teoria das Citações Implícitas,
segundo a qual os autores sagrados, ao mencionarem narrações de outros sem dizerem expressamente a proveniência, não se tornariam fiadores delas
Verdade na Bíblia
A Pontifícia Comissão Bíblica deita esta teoria por terra: admitindo que existam citações implícitas na Bíblia, pressupõe-se que o autor as faça suas pelo facto de não citar as fontes
A resposta que mais atenção teve foi a do Mons. Maurice D’Hulst (em 1893): “Uma coisa é revelar, outra é inspirar. A revelação é um ensinamento divino que só pode referir-se à verdade. A inspiração é uma acção motora que leva o escritor sacro a escrever, guia-o, impele-o e vigia-o. A inspiração garante o escrito de todo o erro em matéria de fé e de moral. Mas não além disso. A inspiração teria os mesmos limites da infalibilidade da Igreja”
Verdade na Bíblia
Esta teoria parecia resolver a questão… mas fez uma
distinção artificial e acabou por prejudicar a
universalidade da inspiração.
“Uma distinção entre doutrina religiosa e coisas
profanas na Bíblia, pressupõe uma concepção
intelectualista da revelação, como se Deus apenas
tivesse revelado e comunicado doutrinas.
Por outro lado, a limitação da inerrância apenas às
coisas religiosas, implicaria que muitas coisas na
Bíblia fossem profanas…
Como entender a inspiração dos autores para estes
escreverem coisas profanas?
Verdade na Bíblia
- Encíclica Providentissimus Deus (Leão XIII)
contradisse a solução de D’Hulst: “É totalmente
ilícito, ou restringir a inspiração a algumas partes
da Sagrada Escritura, ou pensar que o autor
sagrado tenha errado. Não se pode tolerar que,
para se desfazer das objecções que nos são feitas,
restrinjamos o âmbito da inspiração a algumas
partes apenas. Por sua essência, a inspiração
divina exclui todo o erro
Verdade na Bíblia
As encíclicas Spiritus Paraclitus (Bento XV),
Pascendi (Pio X) e Divino Afflante Spiritu
(Pio XII) reforçam este pronunciamento.
Todavia,
podemos
reconhecer
que,
na
posição de D’Hulst havia uma intuição justa:
é necessário (de alguma forma) interpretar
a verdade Bíblica sob o aspecto religioso,
como dirá o Concílio Vaticano II (DV, nº 11).
Verdade na Bíblia
• Embora fossem notáveis esforços de precisão, a verdade é que abriam espaços a equívocos: Não há paridade entre fenómenos da natureza e acontecimentos históricos no âmbito da história da salvação. Que tipo de história seria “segundo as aparências”? Que semelhança pode haver entre as coisas naturais e a história, quando as coisas físicas se referem a tudo o que aparece sensivelmente (deve concordar com o fenómeno); pelo contrário, a principal lei da história é esta: a necessidade de que o escrito concorde com as coisas acontecidas.
Verdade na Bíblia
Outras respostas inadequadas apareceram depois da
Providentissimus Deus:
Teoria da Verdade Relativa e da falibilidade parcial
(admitiam-se erros na Bíblia para as coisas científicas e históricas.)- A. Loisy
Teoria das aparências históricas
(estendia-se às secções narrativas históricas da Bíblia o que se pode e o que se deve dizer das coisas científicas: o teólogo, ao não descrever a essência íntima do fenómeno científico, mas apenas a sua aparência sensível, expõe não os factos objectivamente, mas como são
Verdade na Bíblia
• A Encíclica Divino Afflante Spiritu abre um
novo caminho de compreensão: recorda que
os escritores expunham os factos com uma
técnica expositiva e linguística diferente da
nossa: “trata-se de modos nativos e usuais
de dizer ou narrar, que usavam nas suas
conversas e troca de ideias.” Isto é,
reconhece-se a legitimidade dos géneros
literários, e convidam-se os exegetas a uma
correcta compreensão destes
Verdade na Bíblia
• Ler DV 11
• Será importante percorrer o itinerário da
formação do texto para melhor o entender
• O esquema pré-conciliar era negativo. O
vocabulário usado gira em torno de “erro e
inerrância”. O termo Verdade aparecia 3
vezes, sem relação com a revelação e a
salvação
Verdade na Bíblia
• Verdade era apenas conformidade com a
realidade objectiva que o autor sagrado quis
narrar por escrito.
• O esquema I afirma que a Inspiração exclui
necessariamente todo o erro em qualquer coisa
religiosa ou profana. Cita a Providentissimus Deus
e a Divino Afflante Spiritu, que afirmam que a
Verdade na Bíblia
• O esquema II não foi discutido (foi distribuído e
pediram-se observações por escrito).
• Preocupa-se sobretudo com a interpretação da
Sagrada Escritura; o termo verdade adquire
conteúdo teológico (Verdade que Deus quis
comunicar).
• Deixou de se dizer: “não tem erro”, para se afirmar:
“ensina sem erro a Verdade” – é o Livro de Deus não
porque isenta de erros, mas porque ensina sem erro
a verdade de Deus
Verdade na Bíblia
Espontaneamente surge a questão: Que
Verdade ensina a Bíblia?
O esquema IV dá uma resposta: o tema do cap
11 passa a ser o facto da Inspiração e da
Verdade (enquanto verdade salvífica).
Na discussão do esquema III, solicitou-se que
se especificasse (lealmente) que verdades a
Bíblia nos quis ensinar. Sublinhou-se que, em
termos de história natural, a Bíblia tem um
“deficit a veritate”
Verdade na Bíblia
• Se, por um lado, as descobertas do Oriente confirmavam a credibilidade do AT, por outro, ofereceram um resultado que não seria contradito pelo progresso das ciências.
• Mc 2,26, lido em paralelo com 1Sm 21, 5ss. Mt 27,9 cita Zc 11,12, e não Jeremias; Dn 1,1 (assédio de Jerusalém) aconteceu não no terceiro ano de Joaquim, mas 3 anos mais tarde.
• No que se refere à veste exterior, manifesta-se a
condescensio Verbi Divini, de que fala a DV 13. a sua
falibilidade não questiona a Verdade da Bíblia.
• A escolha da expressão veritatem salutarem
compreendem-se os factos que estão relacionados com a história da salvação.
Verdade na Bíblia
• Assim, a verdade salvífica contida na Escritura é o
desenvolvimento da história da salvação, e portanto
refere-se não só às palavras e às doutrinas, mas
também aos factos.
• Este termo vinha já de Trento; mas era novidade
aplicá-lo ao problema da inerrância bíblica.
• No entanto, muitos julgaram que se oporia à
providentissimus Deus, dando largas a que se
resumisse a verdade a questões da Fé e da moral. A
14 de Outubro de 1965, escreveram a Paulo VI
alertando que a introdução desse conceito
restringiria inerrância na Bíblia
Verdade na Bíblia
• A comissão, mesmo tendo esclarecido que a
fórmula não queria introduzir nenhuma
limitação, renunciou a ela. Optou por uma
equivalente: “por isso mesmo se deve
acreditar que os livros da Escritura ensinam
com certeza, fielmente e sem erro a verdade
que Deus, para nossa salvação, quis que
fosse consignada nas sagradas Letras”
Verdade na Bíblia
• O Concílio assumiu uma atitude positiva quanto a este problema. Não nos abeiramos da Escritura simplesmente porque ela não erra, mas porque nos transmite a “Palavra da Salvação”.
• Inspiração e inerrância devem ser entendidas em primeiro lugar à luz da vontade de Deus 2 Tim 3, 16-17
• A formulação anterior prestava-se a equívocos. A nova formulação não permite uma interpretação errada. Não há limite à inspiração, mas indica a sua especificação formal. Assim devem-se resolver as dificuldades das suas inexactidões geográficas e cronológicas. O Concílio dá doutrina; não constrói uma teoria.
Verdade na Bíblia
• Objecto formal da Revelação e da verdade Bíblica:
– A revelação histórica da Bíblia tem conteúdos que também são objecto da filosofia, da história e das ciências exactas. Não se deve partir deles isoladamente, mas do como e quanto o objecto formal da inspiração (a razão da salvação) se realiza neles.
– Inspiração e verdade aplicam-se a toda a escritura: a segunda em diferentes graus, dependendo da maneira como se realiza o objecto formal da Escritura inspirada
Verdade na Bíblia
• No âmbito da metafísica: não pretende ser um
sistema coerente como Aristóteles ou Platão.
Deste ponto de vista técnico, a Bíblia nada
ensina. Em contrapartida, traz a afirmação
explícita ou difusa de realidades ou valores que
regem a metafísica: a unicidade de Deus vivo, a
criação, a antropologia sem dualismos…
Verdade na Bíblia
• No âmbito das ciências naturais: as ideias
podem mudar, a ciência deve evoluir, sem que a
mensagem bíblica venha a sofrer com isso. O
Biblista e o teólogo devem vigiar para que não se
emprestem à Bíblia afirmações que ela não faz…
• A ideia de criação deixa intacta a questão de
como Deus cria, que partes confia às causas
segundas…
Verdade na Bíblia
• No âmbito da História envolvem-se muitos aspectos, tais como o da variedade dos géneros literários. É importante
não confundir “História exacta” com “História
verdadeira”. O ensinamento dos livros sagrados não pode ignorar a história, porque a revelação não se refere a verdades abstractas (espiritualidade desencarnada), mas a um facto: a realização da salvação por meio de Cristo: ponto de chegada de uma longa preparação histórica, e ponto de partida para uma nova etapa no desígnio salvífico
Verdade na Bíblia
• Géneros Literários e verdade na Bíblia: é necessário identificar e fazer correcto uso dos géneros literários para chegarmos às autênticas afirmações bíblicas e à sua verdade. O seu carácter específico é o nexo íntimo entre forma literária e conteúdo que se quer exprimir e comunicar. Esta questão fora já identificada na Divino
Afflante Spiritu. O nº 12 DV faz disso um imperativo
precioso. O Livro de Jonas, por exemplo: dá ideia de ser um relato histórico da vida daquele homem. O peixe poderá ser um carácter imaginário e miraculoso (insere-se no contexto de mitos de ingestão, muito difundidos…)
Verdade na Bíblia
• Progresso da Revelação e verdade das afirmações bíblicas: a Bíblia é o Livro do Povo de Deus, instrumento da sua divina educação. O mistério da salvação é revelado na história e através da história (cresce com o tempo). Deus conduz os homens gradualmente (Heb 1, 1-2). A este propósito, ler DV 15
• Do ponto de vista dogmático, nenhum texto do AT apresenta uma doutrina completa sobre qualquer ponto da fé. É necessário relê-los todos a partir de Cristo, projectando neles a Sua luz, para entender o seu alcance exacto (por exemplo, o messianismo régio…)
Verdade na Bíblia
• Do ponto de vista moral, é a mesma coisa. A Lei da perfeição veio até nós com Jesus. Inclusivamente, a Escritura comportava imperfeições por causa da dureza do nosso coração (Mt 5, 17-19).
• Pontos de maior dificuldade: herem (ordem de matar e destruir tudo e todos nas terras conquistadas), A
matança no monte Carmelo por obra de Elias, Vingança e Salmos imprecatórios.
• A Lei de Talião (Ex 21, 23-24) tende a limitar os excessos da vingança, louvada em Gn 4, 23-24).
Verdade na Bíblia
• Nos salmos imprecatórios, invoca-se a vingança divina (tem-se um sentido agudíssimo da justiça de Deus; a verdadeira solução está no NT)
• A verdade de cada texto está na globalidade de toda a mensagem do AT e do NT. É o princípio da Analogiae
Scripturae, consagrado na DV 12. Hugo de S. Vitor dizia
que a Escritura é um só Livro, e este único Livro é o próprio Cristo.
Verdade na Bíblia
• A verdade de cada texto do AT não tem carácter
definitivo, mas é aberta e complementar, em relação a todo o conjunto dos livros do AT no Cânone: “O todo
compreende e conserva também o particular”. Sem o NT, estão incompletos, sem a total dimensão da sua verdade. • Mas deve ficar claro o valor perene do AT. Também o NT
carece do AT para ser perfeitamente claro.
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