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O Dragão e o Menino Gritalhão

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Academic year: 2021

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O Dragão e o Menino Gritalhão é uma história que mostra o olhar da criança sobre a falta de coerência entre o que os adultos ensinam e o que eles fazem. Ressalta o que a criança sente mas não sabe expressar e que no futuro formata sua personalidade e pode ser entendido como trauma.

São situações corriqueiras como um xingamento no trânsito ou uma bronca mal explicada após ele fazer um desenho na parede que geram os primeiros sentimentos desagradáveis em Runã e logo se acumulam criando uma zona de conflito entre ele e seus pais. Porém Runã encontra nos sonhos um Dragão que lhe guia para o entendimento dos sentimentos que lhe apertam o peito e o fazem gritar, não obedecer e se tornar mal criado. Sonhando ele entende que os adultos não sabem tudo o que dizem que sabem, mas agem por amor buscando fazer o melhor que conseguem e cabe a ele ajudá-los a serem mais leves e felizes.

Esta história trabalha a capacidade dos pais de entender as necessidades da criança para o real entendimento dos aprendizados, e possibilita que as crianças tomem consciência de seus sentimentos através da observação clara destes, gerando atitudes positivas e criativas, mantendo foco comprometido nos princípios que os pais admiram e ensinam. Um ensinamento muito profundo que só lendo será possível perceber a simplicidade com que foi transmitido.

Esta história surge de um apanhado de situações reais e levado à linguagem dos sonhos.

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O dragão e o menino gritalhão

História para pais e filhos

Andrea de Oliveira Schiavi CPF 267731298-00 RG 27758175-8

Data de nascimento 10/12/1977 Endereço Rua Luis de Camões 2641 ap 64

Vlia Monteiro – Piracicaba – SP 30/09/2011

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Aos dois anos de idade, de cabelos espiralados como fio de telefone, pele clara como a areia fina da praia e olhos redondos e doces como trufas de chocolate, Runã era um menino encantador. Distribuía sorrisos e abraços sem cerimônia, gostava de companhia, de olhares, de brincadeiras e conversas, compartilhava seus doces, seus brinquedos, suas palmas, gritos, fantasias e dengos sem que ninguém tivesse lhe ensinado, era de sua natureza ser solidário e meigo.

Um dia, estava passeando tranquilamente de carro com seus pais quando, de repente, o papai começou a buzinar e a gritar muito, muito alto, palavras que ele nem conhecia. A mamãe de Runã disse algo para o papai e logo ambos estavam gritando um com o outro. O menino estava completamente assustado e, não sabendo o que fazer, começou a chorar o mais alto que podia. Porém, quando isso aconteceu, eles gritaram com Runã também:

- Cala a boca!

Runã chorou mais ainda até que seus pais acalmaram-se e puderam acalmar o menino que sentia algo muito ruim, como se uma mão estivesse apertando seu coração. Embora ele já soubesse falar, não conseguia explicar o que sentia. Que mal-estar era aquele? Sabia apenas que fora algo que acontecera no meio daquela gritaria.

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A partir daquele dia, Runã começou a perceber que detestava pessoas bravas gritando e agora parecia que todos os dias isso acontecia, ou em sua própria casa ou na casa das tias e avós. Quando tudo parecia em ordem, de repente alguém surgia gritando. Isso o incomodava tanto que ele mesmo tinha vontade de gritar, e assim ele fez:

Estava com o lápis na mão fazendo um desenho lindo na parede. Tinha certeza de que todos adorariam, afinal os adultos elogiavam sempre dos desenhos que fazia. Nesse momento a tia Loloca entrou no quarto e simplesmente soltou um grito bem alto:

- Runã! Que moleque mal-educado! Olhe só o que você fez! Dê-me já este lápis! Que Dê-menino levado!

Parecia que ela nunca mais ia parar de gritar. E Runã que pensava que a titia ficaria tão feliz com o desenho foi ficando muito bravo até dizer:

- Cala a boca!

Aí a coisa enroscou de vez. A titia ficou mais brava ainda e colocou o menino sentado na cadeira da cozinha sem poder sair de lá por algum tempo. Disse que contaria à mãe dele todas as coisas feias que ele tinha feito assim que ela chegasse.

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Runã não queria que sua mãe soubesse de nada feio que ele fizera, porém ele não sabia o que tinha feito de tão feio. Era só um belo desenho na parede para a titia ficar feliz, mas ela ficou muito brava e gritou com ele. E quando ele gritou no mesmo tom que a titia, ela ficou mais brava e gritou ainda mais alto. O que será que tinha acontecido?

O pequeno menino estava com o coração apertadinho e muita vontade de chorar, e mesmo que tentasse não chorar as lágrimas desciam de seus olhos molhando os lábios com gosto de água do mar. Sentia-se errado, desajeitado e sem saber como ser certo, como consertar ou agradar, sem saber nem mesmo como entender o que sentia.

Logo a mamãe chegou e ele ainda estava sentado na cadeira que parecia mais dura do que realmente era olhando para a brancura do piso sentindo-se triste e cansado. Escutou quando a tia Loloca disse à mamãe:

- Olha, eu não sei o que deu nesse menino hoje, ele rabiscou toda a parede do quarto e, quando eu briguei com ele, gritou comigo e me mandou calar a boca! Por isso ele está sentado lá sem poder sair.

A mamãe aproximou-se de Runã perguntando-lhe se era verdade o que tia Loloca estava contando, e ele disse que sim. Então

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papéis, e que também não se deve gritar e mandar calar a boca. Runã pensou e respondeu:

- Mas, mãe, o papai sempre diz cala a boca! E a titia também gritou. Eu fiz um desenho pra ela achar bonito e ela só gritou comigo, e agora só eu tomo bronca?

- Runã, não importa o que os mais velhos façam, você não deve gritar com eles. Aliás, você não deve gritar com ninguém! Agora peça desculpas pra sua tia. – disse a mamãe pacientemente.

Runã não achou muito justa a explicação de sua mãe, algo o incomodava naquilo, mas como tinha que pedir desculpas não pensou no assunto, apenas obedeceu à sua mãe como já sabia que devia fazer. Então elas abraçaram-no e pareceu-lhe que o abraço tinha o poder de levar embora o aperto no peito, a vontade de chorar, e também tinha o poder especial de trazer a alegria de volta!

Runã gostava mesmo de resolver coisas, de ajudar as pessoas no que quer que fosse, adorava receber os sorrisos, ver as expressões de satisfação nos rostos felizes, e se esforçava ao máximo em ser prestativo. Mas vira e mexe os adultos diziam que ele ainda não sabia muito e que saberia quando crescesse. Isso o deixava muito bravo, pois ele gostava de desafios e tinha certeza de que conseguia muitas coisas mesmo sem ser gente grande. O pior era que quando os adultos diziam isso, davam risadas como se crianças não soubessem de nada. No entanto eles faziam as coisas mais

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loucas e às vezes e Runã tinha a impressão de que eles é que não sabiam de nada.

O que Runã não notava era que no fundo ele tinha um imenso desejo de ser como os adultos, principalmente como seus pais, que ele tanto amava. Para Runã eles é que sabiam de tudo, sabiam fazer passar as dores, cuidar de machucados, mexer no fogo sem se queimar, pegar as coisas no alto sem derrubar tudo, fechar botões complicados, dirigir carros, não se assustar com trovões e tanto mais. Assim, sem se dar conta, o menino procurava ser como seus pais em tudo, ou quase tudo. Ao mesmo tempo, sentia-se muito irritado, pois tudo o que ele queria fazer não podia... Só quando crescesse. A frase que ele mais detestava era:

- Isso não é coisa de criança!

Só quando crescesse. Como detestava ser mandado!

Então, nos momentos de irritação, ao menos ele tentava ser como os adultos, gritando mesmo, já não era mais bebê pra ficar chorando e nesta hora alguém teria de ouvi-lo. Não era possível que toda aquela contrariedade ficasse dentro dele! O que sentia era incontrolável - vontade de bater, morder, chutar - porque não conseguia falar de modo que alguém entendesse o que estava dentro dele. E mesmo sabendo que tomaria bronca, tudo aquilo saía de dentro dele aos berros:

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- Eu quero! Eu posso! Eu vou fazer! Que raivaaa!!! Ggrrr!!! Uuuhhh!

Mas isso só piorava as coisas, pois os adultos gritavam mais alto e ele tinha que obedecer. Um dia, quando estava ainda triste e chorando, Runã pegou no sono e teve um sonho interessante.

Um enorme dragão verde de olhos alaranjados apareceu:

- Olá, Runã! – disse o dragão.

- Quem ou o que é você? Como sabe meu nome?- respondeu Runã, assustado.

- Sou Sindi e sou um dragão como você mesmo pode ver.

- Minha mãe disse que dragões não existem. Você tá querendo me enganar, é?

- Mas aposto que você sempre soube aí no fundo que existem sim, e sua mãe é que não sabe disso.

- É... Agora você me pegou... – respondeu Runã, meio desajeitado.

- Por que você ficou tão bravo? – perguntou Sindi.

- Às vezes as pessoas me dizem coisas que me deixam assim, me dá uma vontade de chorar, de gritar e até de bater. Acabo ficando de castigo e depois sei que fiz tudo errado. Quando isso acontece, meus pais gostam menos de mim e isso me deixa muito triste.

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- E depois?

- Depois, quase sempre nós conversamos e, quando me abraçam, isso passa.

O que eles dizem que te faz sentir essa braveza toda?

- Hum... Sei lá, são tantas coisas diferentes, isso já aconteceu tantas vezes. Desta vez foi porque a mamãe disse que eu tinha que desligar o videogame e ir brincar de outra coisa.

- E por que é que ela não deixou você jogar mais videogame?

- Ela disse que eu já joguei demais e que isso não é bom, mas eu acho tão bom! Não entendo quando ela faz isso!

Sindi de repente foi ficando zarolho, com uma cara engraçada, e fumacinhas começaram a sair de suas narinas. Então abriu a boca para o céu e cuspiu uma enorme labareda de fogo!

Runã começou a rir com a careta do amigo e logo deu um pulo com o susto que tomou quando viu todo aquele fogo saindo num estrondo. Logo viu algo extraordinário acontecer.

O céu ficou todo alaranjado e imagens começaram a se formar em meio às labaredas dançantes. Do lado esquerdo, apareciam vários Runãs pequeninos, jogando bola, desenhando, correndo, empinando pipas, ajudando o vovô, o papai, e outras imagens felizes que

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Do lado direito, aparecia a mamãe trabalhando, fazendo comida, brincando com Runã, pondo-se bonitona, abraçando o papai, e outras imagens felizes com a mamãe.

Runã olhava tudo aquilo com brilho nos olhos e sorriso nos lábios, até que escutou Sindi dizer:

- O que acontece, Runã, é que você assim como qualquer pessoa não gosta de receber ordens, você quer decidir por si o que fazer. Também quer se sentir prestativo, correto e apreciado por seus pais e ao mesmo tempo quer fazer tudo o que tem vontade. Quando nada disso acontece, sente-se irritado. Nem sempre o que você tem vontade de fazer será o melhor pra você, e seus pais sabem disso. Contudo, o que eles não sabem é que precisam lhe mostrar isso de uma maneira que você compreenda para poder tomar suas próprias decisões. Eles realmente pensam que crianças não entendem muitas coisas e acham que é difícil explicar.

- Como assim? Perguntou Runã.

- Veja só isto. Disse Sindi ao soprar duas baforadas de fogos dançantes. Uma mostrava um menino gordo e lerdinho que ficava o tempo todo na frente da TV e do videogame. A outra mostrava um menino mais magro e corado, todo espevitado que não parava no lugar, brincava com amigos no quintal, fazia pinturas, nadava, brincava com o vovô, andava de patins, jogava bola , parecia que tinha um fôlego inesgotável de tantas coisas que fazia.

Referências

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