Produzido como parte do projeto Counti ng Culture: What Do We Need to Know About How the Creati ve Industries Can Deliver Equitable, Just and Sustainable Development in Brazil and the UK?), no âmbito da bolsa Briti sh Academy Newton Advanced Fellowship outorgada ao Prof. Dr. Leandro Valiati , 2018-2020
POLICY BRIEFING
GLASGOW
Gerenciado e produzido por
Financiado por
Apoiado por
Equipe de pesquisa e editorial: Dr. Leandro Valiati , Dr. Meghan Peterson, Gustavo Möller, Joana Búrigo Vaccarezza, Bruno Palombini Gastal, Larissa Couto, Mariana Steff en, Bruna Cataldo, Luisa Lachan.
Editor geral: Gustavo Möller Ilustrações: Ellen Rose
Projeto de design: Gris Estúdio
Versão original em inglês de dezembro de 2020 Traduzido para o português em janeiro de 2021
Um projeto do People’s Palace Projects - Queen Mary University de Londres
Policy Briefing
GLASGOW
RESUMO
De acordo com a estratégia cultural da Escócia: A Escócia é um lugar onde a cultura é valorizada, protegida e alimentada. A cultura é tecida através da vida cotidiana, molda e é moldada pela sociedade, sendo seu potencial transformador vivido por todos. O rico patrimônio cultural escocês e a criatividade de hoje são inspirados por pessoas e lugares, anima cada comunidade e é celebrada ao redor do mundo.
(Governo Escocês, 2020, p.3, tradução livre)
Sendo a maior cidade da Escócia, Glasgow é mais diversa que o resto do país, e impulsiona um alto nível de engajamento em seus museus entre vários grupos socioeconômicos — algo
incomum em outras cidades. A cena criativa em Glasgow é bem diferente da de outros lugares do país, beneficiando-se do forte envolvimento para escutar novas vozes. Com o novo canal BBC Scotland e o Hub Criativo do
Channel 4 tendo sido lançados na cidade em
2019, oportunidades estão crescendo na área, particularmente em cinema e televisão. As indústrias criativas escocesas relatam um total de 87 mil empregos, representando 3,3% do total do país e 5,6% do total do Reino Unido. O governo escocês está planejando também um projeto-piloto da Renda Básica Cidadã, que poderia impactar profundamente os artistas escoceses de maneira geral, e especialmente os trabalhadores informais (ou freelancers).
Counting Culture é um projeto liderado por Leandro Valiati e Paul Heritage como parte da bolsa British Academy Newton Advanced Fellowship. Ao longo da última década, o modelo britânico de
indústrias criativas influenciou fortemente as políticas realizadas no Brasil. Elaborou-se esta pesquisa para levantar questões sobre quão exitoso foi esse modelo comum em relação à mitigação de desigualdades em termos de distribuição de renda, gênero e etnia nos setores econômicos da indústria criativa desses países. O foco do processo de pesquisa foi tentar caracterizar como o modelo em evolução da política das indústrias criativas é visto no Reino Unido, bem como identificar os impactos de sua influência no Brasil.
Como parte do projeto, oficinas foram realizadas em Glasgow, Cardiff, Londres e Manchester de modo a explorar as percepções a respeito da política britânica para as indústrias criativas e sua relevância para as atividades artísticas e culturais, em contextos variados pelo Reino Unido. Em cada oficina participaram acadêmicos locais, elaboradores de políticas públicas e profissionais da cultura, assim como jovens.
Este relatório é baseado numa conferência que se deu no dia 23 de setembro de 2019 como parte da Oficina de Políticas Públicas para Indústrias Criativas, organizado pelo Prof. Philip Schlesinger, da Universidade de Glasgow.
O resumo, as afirmações e as recomendações a seguir foram baseados em notas feitas por relatores escolhidos pela universidade organizadora, exceto quando citadas outras fontes.
Resumo de dados sobre as indústrias criati vas e sobre inclusão social no mercado laboral
GVA growth rate (UK CI vs. UK economy) (%)
Mercado de trabalho – inclusão social (2018) (%)
Nota: Dados com esti mati vas econômicas do Departamento de Digital, Cultura, Mídia e Esporte (DCMS, 2019), ajustado pelo índice de preços ao consumidor (CPI) do Reino Unido (World Bank, 2019).
Nota: Dados para esti mati vas econômicas do DCMS (2018), ajustadas pelo CPI (World Bank).
Notas: Dados para gênero, etnia e informações socioeconômicas são do Departamento Britânico de Estatí sti cas Nacionais (ONS, 2019); e para pessoas com defi ciência de Full Fact (2018).
47.30 12.29 32.17 12.85 37.16 14.14 7.50 11.32 16.00 14.00 12.00 10.00 8.00 6.00 4.00 2.00 0.00 8.00 6.00 4.00 2.00 0.00 Gender
(Female) Ethnicity(BAME)
ScotlandTotal Economy UK Total Economy
2011 2011 1.25 1.36 4.55 4.46 5.14 4.14 5.68 5.49 1.83 3.91 2.43 3.12 2.76 3.19 2.30 4.34 5.47 3.67 8.10 13.85 10.34 7.72 9.71 6.57 6.94 6.27 1.75 5.39 2014 2014 2012 2013 2015 2016 2017 2012 2013 2015 2016 2017 Scotland CI UK CI Socio-economic Status (Less Advantage) Disability (Disable) 50.00 45.00 40.00 30.00 25.00 20.00 15.00 10.00 0.00 In UK’s jobs In UK’s CI
Taxa de crescimento do Valor Adicionado Bruto (VAB) (%)
Scotland UK 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 93.69 93.59 93.55 93.58 93.60 93.73 93.87
IC Total país IC Total país IC Total país IC Total país
1.44 1.44 1.29 1.29 1.19 1.13 1.10 3.67 3.69 3.95 4.02 4.10 4.08 3.95 1.20 1.27 1.21 1.11 1.10 1.06 1.07 84.64 84.97 85.02 85.38 85.78 85.95 85.87 3.48 3.49 3.48 3.41 3.42 3.43 3.42 7.74 7.75 7.82 7.84 7.68 7.63 7.60 2.18 2.20 2.17 2.14 2.14 2.18 2.18 Ano Inglaterra Gales Escócia Irlanda do Norte
PRINCIPAIS QUESTÕES E DESAFIOS
Potencial para educação, treinamento e empregabilidade
Educação para os que querem trabalhar nas indústrias criativas pode ser desconectada do que o setor realmente necessita. Não há uma dedicação suficiente de cursos profissionais ou vocacionais, visto que habilidades artísticas e criativas gerais têm de encontrar seu lugar numa indústria mais ampla, focada em trabalho. O setor continua a treinar graduados baseando-se num sistema ultrapassado que é desconectado do que realmente é necessário.
Inovação, sustentabilidade e colaboração
Parcerias são fundamentais para a inovação. Em Glasgow, instituições como a Rede de Bibliotecas, a Universidade de Glasgow e outras têm potencial para prover novos conteúdos com diferentes perspectivas. Elas são essenciais nesse setor para que ele floresça como um coletivo, ao invés de fracassar como indivíduos. Somos todos usuários e produtores, criando e compilando nossos próprios conteúdos e dados (mesmo que privados), de modo que é importante encontrar interseções que ajudem a descobrir sinergias colaborativas que gerem inovação. Uma das chaves para a inovação é a geração de novas experiências, mais do que novos produtos. A natureza do trabalho está mudando, e a maneira com que nos envolvemos está mudando; portanto, é importante olhar como as indústrias criativas fazem as coisas, abandonando o que não funciona e trazendo coisas que vão funcionar.
Políticas culturais
As políticas culturais britânicas estão atualmente perpetuando um modelo ultrapassado dos anos 1990 que poderia se beneficiar de um novo foco e de um afastamento de hierarquias industriais. As indústrias criativas são políticas devido à natureza do financiamento no Reino Unido, e é importante entender o seu valor entre outras indústrias, bem como como elas podem se beneficiar da economia em geral. Esforços devem ser integrados de modo a evitar
de políticas públicas que não funcionam. As políticas públicas, no entanto, ainda são feitas de cima para baixo (Up-down), enquanto a maior parte da atividade se dá de baixo para cima (Bottom-up). Há de haver atenção à integração dos dois.
A força das indústrias criativas em Glasgow é a sua diversidade de arquitetura, música, etc., com uma indústria criativa forte por si só. Entretanto, há uma diversidade por todo o país, não somente em áreas específicas como Glasgow. Para honrar completamente essa diversidade, uma definição e um entendimento mais amplos sobre o quê significa cultura se fazem necessários. O setor cultural está se preparando para o impacto do Brexit na atração de talentos para a Escócia, e as políticas culturais têm de olhar criticamente para esse impacto para continuar a retê-los.
Desigualdade social e acessibilidade
Em Glasgow, há alguns expoentes da indústria que falam com regularidade e atraem os holofotes, de modo que se escutam sempre as mesmas pessoas, sendo a maioria vinda de organizações maiores. Há pouco valor em ter sempre as mesmas vozes falando e, ainda que isso seja reconhecido como um problema, ele não parece estar sendo tratado. Glasgow tem sido exitosa no engajamento de audiências de uma ampla gama de trajetórias diferentes: 25% dos mais pobres do país frequentam museus, o que é muito mais do que em outros lugares do Reino Unido. Nesse sentido, foi fundamental elaborar exposições para uma grande variedade de pessoas, mais do que somente o público tradicional das artes, que pode ser elitizado.
Impacto social e avaliação
Evidências do valor e do impacto das artes é de importância crítica para que o setor ganhe reconhecimento, apoio e financiamento, facilitando a demonstração da relevância do setor criativo. No entanto, ainda há uma lacuna a respeito do que é considerado bons dados, como eles podem ser produzidas, e como eles podem cumprir o papel de informar a elaboração de políticas públicas. As indústrias criativas são particularmente deficitárias em relação a dados
o seu desenvolvimento, mais do que só o seu crescimento. Além do mais, subsistem tensões entre o elemento narrati vo e a pesquisa de fato que o sustenta, ambos sendo essenciais. Não importa se você tem evidências concretas se não há uma boa história para complementá-la, e, se você tem uma boa narrati va, mas a sua evidência é irrelevante: ela não consegue precisar o seu valor.
PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES
Potencial para educação, treinamento e empregabilidade
Há a necessidade de uma ênfase em quê ti po de graduados as insti tuições educacionais querem produzir, reestruturando seus currículos e abordagens de acordo com as habilidades em falta na Escócia. Focar na educação escolar e na popularidade de matérias numa tenra idade pode informar como encorajar o engajamento criati vo e até a formação de públicos, como através de visitas a escolas para incenti var carreiras nas indústrias criati vas e, se não, a construção de público futuro.
Inovação, sustentabilidade e colaboração
Nas indústrias criati vas, a atenção deve ser redirecionada a conexões e novas relações entre setores, ao invés de estar dirigida para dentro. Mais do que gastar tanto tempo planejando, o melhor seria começar conversas informais e, iterati vamente, fazer a mudança acontecer.
Políti cas culturais
As políti cas culturais na Escócia devem refl eti r a diferença entre desenvolvimento e crescimento. O primeiro é mais informado, mais responsivo, mas o discurso está, no momento, focado demais no crescimento. Tudo cresce — é um processo natural — enquanto que o desenvolvimento é deliberado. A políti ca pública para as indústrias criati vas deve estar mais alerta e fl exível, entendendo que é um construto interconectado. De maneira a melhor reconhecê-lo, o governo necessita envolver mais os criati vos no discurso e nas tomadas de decisão, para fazer políti cas que sirvam as indústrias e suas necessidades futuras.
Desigualdade social e acessibilidade
Novos expoentes da indústria são necessários, mais gente com experiência independente além daqueles que trabalham em grandes organizações.
Impacto social e avaliação
Dinheiro não é a única representação de valor. Há também os valores cultural e social, além do econômico, e existe muito potencial em experimentar como dados baseados naqueles ti pos de valor podem orientar inovações que possam mudar audiências e a sociedade como um todo.