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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA

FRANCISVAL CANDIDO DA COSTA

PROCESSOS DE SUBJETIVIDADES, INTERAÇÕES E PERTENCIMENTO NA BANDA DE MÚSICA ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO NA BANDA MARCIAL

RANULPHO PAES DE BARROS, EM CUIABÁ/MT

CUIABÁ – MT 2020

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FRANCISVAL CANDIDO DA COSTA

PROCESSOS DE SUBJETIVIDADES, INTERAÇÕES E PERTENCIMENTO NA BANDA DE MÚSICA ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO NA BANDA MARCIAL

RANULPHO PAES DE BARROS, EM CUIABÁ/MT

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea. Área de concentração: Estudos Interdisciplinares de Cultura. Linha de pesquisa: Epistemes Contemporâneas.

Orientadora: Profa. Dra. Taís Helena Palhares

CUIABÁ – MT 2020

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Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

C837p Costa, Francisval Candido da.

Processos de subjetividades, interações e pertencimento na banda de música escolar: um estudo de caso na Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros, em Cuiabá/MT / Francisval Candido da Costa. – 2020.

94 f. ; 30 cm.

Orientadora: Taís Helena Palhares.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Comunicação e Artes, Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea, Cuiabá, 2020.

Inclui bibliografia.

1. Banda de música escolar - Interações. 2. Banda marcial - Cultura. 3. Práticas musicais. 4. Banda musical - Cuiabá-MT. I. Título.

CDU 785.1.084:316.7(817.2) Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO: PROCESSOS DE SUBJETIVIDADES, INTERAÇÕES E PERTENCIMENTO NA BANDA DE MÚSICA ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO NA BANDA MARCIAL RANULPHO PAES DE BARROS, EM CUIABÁ/MT

Autor: Mestrando – FRANCISVAL CANDIDO DA COSTA Dissertação defendida e aprovada em 14/07/2020.

COMPOSIÇÃO DA BANCA EXAMINADORA Doutora Taís Helena Palhares (Presidente da Banca / Orientadora) Universidade Federal de Mato Grosso

Doutora Teresinha Rodrigues Prada Soares (Examinadora Interna) Universidade Federal de Mato Grosso

Doutora Nilceia da Silveira Protásio Campo (Examinadora Externa) Universidade Federal de Goiás

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Documento assinado eletronicamente por TAIS HELENA PALHARES, Docente da

Universidade Federal de Mato Grosso, em 14/07/2020, às 16:16, conforme horário oficial de

Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

Documento assinado eletronicamente por TERESINHA RODRIGUES PRADA SOARES,

Coordenador(a) do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea - FCA/UFMT, em 14/07/2020, às 16:20, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no

art. 6º, § 1º, doDecreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

Documento assinado eletronicamente por Nilceia da Silveira Protásio Campos, Usuário

Externo, em 19/10/2020, às 14:31, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art.

6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015. A autenticidade deste documento pode ser conferida no site

http://sei.ufmt.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_exte rno=0, informando o código verificador 2626965 e o código CRC 6E6AC480.

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Dedico este trabalho aos meus grandes incentivadores na vida. Aos meus pais, Benedito Francisco e Marlene Cândida.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profa. Dra. Taís Helena Palhares, o meu reconhecimento pela oportunidade de realizar este trabalho de dissertação e pelas valiosas contribuições e disposição para ensinar durante a pesquisa: meu respeito e admiração pela sua serenidade e pelo dom de ensinar e de trilhar caminhos para uma educação mais justa e inclusiva.

Às professoras Dra. Nilcéia Campos e Teresinha Prada por terem aceitado o convite para banca examinadora e pelas excelentes contribuições na qualificação e durante a pesquisa.

A Agência de Fomento CAPES por viabilizar financeiramente esta pesquisa.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso (ECCO-UFMT) com quem tenho aprendido tanto ao longo do curso: Giordanna Santos, Rita Domingues, Yuji Gushiken e Maria Thereza Azevedo; e ao amigo Glaucos Monteiro pela disposição sempre em ajudar.

Aos amigos e professores do Grupo de Pesquisa Música e Educação.

Aos colegas do curso em especial a amiga Magna Domingues (In Memoriam). Ao meu amigo Alex Teixeira por ter incentivado a entrada no mestrado.

Aos amigos da turma W 2008 do curso de Graduação em Licenciatura em Música, em especial, Jone Luiz, Michael Alves, Thiago Augusto e Josemar Augusto pelos incentivos.

Às professoras Eby Regina Bezerra Ito e Maria Auxiliadora Ricciluca Bueno (Doia) pelos relatos de depoimento na entrevista e por acreditarem no meu trabalho desde o primeiro dia frente à regência da Banda Ranulpho Paes de Barros.

Aos alunos, responsáveis/pais, professores do projeto e à equipe gestora da Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros pelas excelentes contribuições e por terem aceitado participar das entrevistas na pesquisa.

À minha companheira Graciele dos Santos, pela paciência e incentivo durante os estudos mesmo quando as dificuldades pairavam no meu caminhar; e à Maria Graziella Santana, por acompanhar a minha trajetória nos estudos.

Aos meus irmãos Francislene, Francismeire, Tânia e Marcelo por todo carinho e atenção.

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COSTA, Francisval Candido da. Processos de subjetividades, interações e pertencimento na banda de música escolar: um estudo de caso na Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros, em Cuiabá/MT. Dissertação (Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea) – Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2020.

RESUMO

Esta pesquisa tem como proposta investigar os processos de ressignificação da cultura e do pertencimento na Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros, situada no bairro Santa Isabel, na cidade de Cuiabá-MT. Considerou-se necessário entender os processos de ressignificação da cultura de banda, e as subjetividades que ocorrem no processo de interação entre os atores culturais e a relação de pertencimento com esta banda. Propõe-se como objetivos específicos: realizar um estudo bibliográfico envolvendo cultura, banda e pertencimento; investigar as ressignificações de um grupo específico da banda estudada; verificar os aprendizados adquiridos a partir da relação que este grupo de componentes estabelece com a música e com os demais componentes. A metodologia utilizada contempla o estudo de caso sob a perspectiva qualitativa, tendo como objeto de investigação a banda acima mencionada. Os procedimentos metodológicos envolveram a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental, observação participante, uma vez que o pesquisador é o regente da banda investigada, e entrevista com grupo focal. A pesquisa bibliográfica foi fundamentada a partir dos estudos sobre bandas nos seguintes autores: Alves da Silva (2018); Campos (2008); Lima (2000, 2005); Soares (2018); e sobre o conceito de cultura e pertencimento em Castro (2011); Maffesoli (2014); Hall (2003); Williams (1992). Verificou-se, através dos dados analisados, que convite, círculo de amizades, experiência anterior, amor pela música e aprender a tocar um instrumento musical, apresentam-se como motivações encontradas pelos alunos no processo de participação na banda. No que diz respeito às questões referentes às experiências nas aprendizagens dos músicos da banda, as dificuldades encontradas no aprendizado do instrumento, as habilidades adquiridas durante este processo de aprendizagem, as práticas de estudo/aprendizagem elaboradas por eles e pelos professores da banda e as atuações colaborativas, demostram os processos pelos quais esses alunos buscam a prática destes saberes para a construção cultural e de pertencimento no grupo.

Palavras-chave: Cultura de banda marcial. Ressignificações de práticas musicais. Relação de pertencimento.

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COSTA, Francisval Candido da. Subjectivity processes, interactions and belonging in school music band: a case study in Marching Band Ranulpho Paes de Barros, in Cuiabá/MT. MSc Dissertation – Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2020.

ABSTRACT

This research aims to investigate the processes of resignification of culture and belonging in Marching Band Ranulpho Paes de Barros, located in the Santa Isabel neighborhood, in Cuiabá City (Mato Grosso, Brazil). It was considered necessary to understand the processes of resignification of band culture, and the subjectivities that occur in the process of interaction between cultural actors and the relationship of belonging. The specific objectives are: to carry out a bibliographic study involving culture, band and belonging; to investigate the reframings of a specific group in the studied band; and to verify the lessons learned from the relationship that this group of components establishes with music and with the others. The methodology used contemplates the case study in a qualitative approach, with the aforementioned band as the object of investigation. The methodological procedures involved bibliographic research, documentary research, participant observation - the researcher is the conductor of the investigated band - and interview with a selected group. The bibliographic research was based on studies about bands by the following authors: Alves da Silva (2018), Campos (2008), Soares (2018) and Lima (2000, 2005). And the concept of culture and belonging are based in Hall (2003), Williams (1992), Maffesoli (2014) and Castro (2011). It was verified, through the analyzed data that invitation, the circle of friends, previous experience, love for music, and learning to play a musical instrument are presented as motivations found by students in the process of participation in the band. And what corresponds to the questions regarding the experiences in the learning of the band's musicians are: the difficulties encountered in learning the instrument, the skills acquired during this learning process, the study/learning practices developed by them (and by the band's teachers) and the performances collaborative demonstrates the processes by which these students seek to practice this knowledge for the cultural construction and belonging of group.

Keywords: Marching band culture. Resignifications of musical practices. Relationship of belonging.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - O bairro Santa Isabel ... 39

Figura 2 - Primeira apresentação da banda com a formação de categoria banda marcial. ... 43

Figura 3 - Práticas oferecidas no projeto da banda. ... 45

Figura 4 - Apresentação e divulgação do projeto na EMEB Ranulpho Paes de Barros. ... 45

Figura 5 - Aula de instrumento de sopro na igreja. ... 47

Figura 6 - Ensaio no espaço demarcado com linhas. ... 48

Figura 7 - Alunos iniciantes praticando no instrumento de sopro. ... 49

Figura 8 - Alunos iniciantes praticando no instrumento de percussão. ... 49

Figura 9 - Masterclass de práticas de marcha, postura e lateralidade. ... 51

Figura 10 - Atividade de leitura rítmica em grupo. ... 53

Figura 11 - Desfile cívico de 7 de setembro na avenida Getúlio Vargas. ... 55

Figura 12 - Ensaio do corpo coreográfico na EMEB Ranulpho Paes de Barros. ... 56

Figura 13 - Desfile cívico em comemoração aos 300 anos da cidade de Cuiabá. ... 57

Figura 14 - Campeonato nacional de bandas e fanfarras no Estado de Goiás. ... 57

Figura 15 - Preparação de aquecimento e organização da banda. ... 58

Figura 16 - Apresentação no 4º Seminário de Pesquisa Música e Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, ano de 2018. ... 59

Figura 17 - (Grupo 1 – M) ... 64

Figura 18 - (Grupo 2 – m) ... 65

Figura 19 - Quadro do Grupo 3 (responsáveis/pais) ... 65

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 CULTURA E PERTENCIMENTO NA BANDA ESCOLAR ... 14

2.1 A cultura como prática significativa ... 15

2.2 O pertencimento na relação de grupos ... 19

2.3 A Banda: conceitos, particularidades e formação ... 24

2.3.1 Banda Marcial: aspectos de formação e repertório ... 29

2.3.2 Prática pedagógica na Banda Marcial Escolar ... 32

2.3.3 Banda Marcial Escolar: interações e pertencimento... 33

3 CONTEXTOS E PRÁTICAS DE UMA BANDA EM CUIABÁ ... 36

3.1 A Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros ... 38

3.1.1 Localização: o bairro Santa Isabel ... 39

3.1.2 A constituição da banda na escola EMEB Ranulpho Paes de Barros ... 40

3.1.3 A banda: período de 2018 a 2019 ... 45

3.1.4 O ensino na banda ... 48

3.1.5 A equipe de professores ... 53

3.2 Caracterização da banda ... 54

4 PROCESSOS DE INTERAÇÃO E SUBJETIVIDADES ... 62

4.1 Caracterizações dos grupos estudados ... 63

4.2 Unidades de análise ... 66

4.2.1 Motivação ... 66

4.2.2 Processos metafóricos ... 70

4.2.3 Experiências nas aprendizagens ... 74

4.2.4 Convivência ... 78

4.2.5 Autoavaliação ... 81

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 88 REFERÊNCIAS ... 92

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1 INTRODUÇÃO

As bandas de música se configuram como um importante campo de possibilidades e transformação social capaz de oferecer vivências e aprendizados diversos aos sujeitos participantes. Nesse contexto, olhar os seus aspectos memoráveis remete-nos a enxergar o quanto as bandas ao longo do tempo têm contribuído para o advento e transformações – passando especificamente por um processo de hibridização cultural – necessárias para a sua sobrevivência e para o surgimento de bandas em diversos outros espaços. Assim, ouvimos o som das bandas, notamos as pessoas que as integram, observamos os movimentos, instrumentos e os sons que elas produzem nas ruas e avenidas, e também a sua presença em outros ambientes, como nos espaços escolares. Porém, nem sempre entendemos as razões que levam as pessoas a se dedicar em prol do grupo, a estabelecer vínculos de amizade, aprendizados, interações nas trocas de conhecimentos, informações e vivências. Nesse sentido, esta pesquisa busca compreender os meios construtivos que estabelecem a relação de pertencimento na constituição cultural de uma banda escolar à luz dos processos subjetivos e interações sociais compreendidas na participação de crianças e jovens.

Para Guattari (1992), os processos de subjetividade são determinados a partir de modelizações diversas estabelecidas por cada indivíduo ou grupo social, que estão presentes no seu estado de sentimentos, gostos, afetos e emoções por meio das interações sociais e do sentimento de pertencimento, dando-lhe o sentido da vida.

Desta forma, a presente pesquisa propõe-se, como objetivo geral, investigar os processos de ressignificação da cultura de banda, considerando as subjetividades que ocorrem no processo de interação entre os atores culturais e a relação de pertencimento. Para isso, fez-se necessário compreender como são construídos os entendimentos acerca da banda e as ligações na participação dos atores sociais na/para constituição das práticas culturais e o desenvolvimento desses grupos musicais.

Os motivos que levaram à escolha temática se deram em virtude das experiências na participação como aluno e pelas atuações como professor de bandas escolares dedicados ao ensino de instrumentos musicais e outros aprendizados referentes a constituição de banda. A possibilidade de dar continuidade à pesquisa realizada no trabalho de conclusão do curso da graduação com os grupos escolares também foi um fator decisivo. Além destes fatores, o contexto investigativo foi o local de atuação do pesquisador tornando-se, então, a Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros como propícia para o desenvolvimento da pesquisa.

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A Banda Marcial Ranulpho Paes de Barros oferece atendimento para cerca de 70 alunos com faixa etária de 07 (sete) a 17 (dezessete) anos de idade e localiza-se na Escola Municipal de Educação Básica Prof. Ranulpho Paes de Barros, no bairro Jardim Santa Isabel, na cidade de Cuiabá-MT, tendo como unidade mantenedora a Secretaria Municipal de Educação. A cidade de Cuiabá é a capital do Estado de Mato Grosso, localizado na região Centro-Oeste do país. A cidade também é conhecida como Cidade Verde, e é reconhecida geograficamente por se localizar no Centro Geodésico da América do Sul1.

Como objetivos específicos, o presente trabalho se propôs a: a) realizar um estudo bibliográfico envolvendo cultura, banda e pertencimento; b) investigar as ressignificações de um grupo específico da banda estudada; c) verificar os aprendizados adquiridos a partir da relação que este grupo de componentes estabelece com a música e com os demais componentes. Para apoiar as discussões envolvendo a temática de banda foram considerados autores como Alves da Silva (2018); Campos (2008); Lima (2000, 2005) e Soares (2018), que discutem acerca das práticas de ensino/aprendizagem; as formas de atuação desses grupos e os termos que constituem o conceito de bandas. Campos, em sua pesquisa de doutorado realizada com três bandas escolares da cidade de Campo Grande, no Estado de Mato Grosso do Sul, buscou investigar aspectos importantes que dizem respeito às práticas de ensino e atuação das bandas escolares. Aspectos presentes neste estudo de Campos, tais como a formação de bandas escolares, suas funções, relacionamento entre grupos, valores e comportamentos incorporados, serviram de embasamento para o entendimento acerca das questões norteadoras na construção do referencial teórico apresentado no segundo capítulo desta pesquisa.

Compartilhando do mesmo pensamento de Campos, Alves da Silva (2018) ressalta a importância da banda no ambiente escolar que, nos dizeres deste autor, contribuem no processo educativo e socializador dos jovens, além de oportunizar vivências e aprendizados musicais diversos aos alunos. Esses aprendizados também foram notados por Soares (2018) nas práticas de ensino/aprendizagem, observadas em sua pesquisa de doutorado realizada com a Orquestra de Metais Lyra Tatuí-SP, na qual o autor considera importante que os alunos tenham acesso a um trabalho musical de excelência para que músicos, professores e bandas sejam contemplados com uma boa formação musical e primada por valores que auxiliem na transformação social e humana.

Democratizar o acesso ao estudo da música e à participação nessa formação tão tradicional da cultura brasileira contribui não somente para a continuidade

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dessa manifestação, bem como para a formação de amizades saudáveis, calcadas pelas experiências de vidas compartilhadas em um bem comum (SOARES, 2018, p. 158).

Lima (2005) relata que manter a banda em “cena” não é só uma questão estética, é mais do que isso, é um espaço de oportunidades para a profissionalização, mas também para manter crianças e jovens longe da violência. Assim, o autor entende que “o espaço social da banda, a integração que é buscada pelos jovens; a afetividade, as amizades, o crescimento em decorrência da percepção do outro” (LIMA, 2005, p. 144, grifo do autor) contribuem significativamente para a participação da família no desenvolvimento do grupo em vários aspectos, “como voluntários em viagens e apresentações” da banda. Com efeito, a banda é capaz de promover, dentre vários aspectos elencados, a possibilidade para o crescimento e formação de músicos, educadores musicais e cidadãos.

A metodologia utilizada contempla o estudo de caso sob a perspectiva qualitativa, apoiada nos pressupostos de Robert Yin (2001) sobre estudo de caso e, para a análise dos dados da entrevista, nos apropriamos dos conceitos discutidos por Graham Gibbs (2009) nas formas de categorização e codificação temáticas; e as ideias de Laurence Bardin (2011) sobre análise de conteúdo que contribuíram no processo das etapas de organização dos dados da entrevista.

O trabalho está organizado em cinco capítulos. No capítulo 1, consta a presente introdução. O capítulo 2 apresenta o entendimento acerca da relação cultura e pertencimento na banda escolar, tendo como aportes teóricos o conceito de cultura a partir das concepções de Garcia Canclini (2005, 2013); Hall (2003); Williams (1992), sobre os processos resultantes das experiências compartilhadas na construção e produção das práticas significativas na cultura, e sobre o pertencimento na relação de grupos, contamos com as contribuições de Castro (2011); Lazzarato (2006); Maffesoli (2014), aproximando este entendimento ao conceito de banda, aos aspectos presentes em uma banda marcial, bem como o desenvolvimento das práticas pedagógicas presentes na banda marcial escolar e a sua presença neste ambiente.

O capítulo 3 concentra-se em apresentar o contexto e práticas de banda, bem como o significado cultural das bandas da cidade de Cuiabá, inserindo a Banda Marcial Ranulpho nesta discussão, desde aspectos relacionados à sua formação e transformação no decorrer do tempo até as questões relacionadas ao ensino/aprendizagem e a sua forma de atuação.

O capítulo 4 apresenta a metodologia utilizada na pesquisa qualitativa a partir das perspectivas de Mynaio (2009), e as técnicas de entrevista com grupo focal apoiadas nos conceitos discutidos por Barbour (2009). Em seguida, apresenta os procedimentos metodológicos adotados na entrevista semiestruturada, a formação dos grupos e os critérios

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adotados para a seleção dos participantes e, nesse mesmo contexto, a análise dos dados das entrevistas e as observações realizadas, incluindo os apontamentos finais que demostram a partir do olhar analítico do autor da pesquisa, conexões possíveis observadas entre as unidades de análise.

No capítulo 5 são tecidas as considerações finais do autor acerca dos aspectos presentes nas experiências de aprendizagem dos alunos da banda, dos processos pelos quais eles buscam a prática destes saberes para a construção cultural e os motivos principais que descrevem o processo de interação dos alunos com a banda e, por fim, as contribuições da pesquisa para o campo científico.

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2 CULTURA E PERTENCIMENTO NA BANDA ESCOLAR

É nos entrelaçamentos das atividades sociais humanas que encontramos os sentidos e valores que nascem entre as classes e grupos sociais diversos, com base em suas relações cotidianas, históricas, de conhecimento e saberes culturais. Os acontecimentos cotidianos provocam as experiências e modos de ser e estar no mundo pelo viés da singularidade que nos atravessa. Assim, todas as atividades sociais surgem nos entrecruzamentos, no modo de se fazer, cultivar e transmitir conhecimento, possibilitando campos possíveis de relações nas formas de se pensar, refletir e estabelecer meio profícuos de abertura para compreender a cultura contemporânea e a sociedade. Isto é, suas formas culturais, instituições e práticas culturais, assim como suas relações com a sociedade e as mudanças sociais emergentes de novos dispositivos de agenciamentos culturais.

É possivel notar que a cultura, como campo social, tecnológico, cultural e comunicacional, é capaz de abrir caminhos a diversos setores da sociedade. É fato que a cultura será desenvolvida de acordo com cada prática cultural, pois ela representa um modo de ser e estar no espaço. Contudo, as culturas não são fixas, elas são mutáveis e possuem a capacidade de se reinventarem e dar novos sentidos de acordo com o sistema social que a rege; à medida que as sociedades evoluem, também novas formas de trabalho e produção surgem e, nesse contexto, temos observado como o campo da cultura é capaz de abarcar uma serie de relações entre o homem, máquina, natureza e modo de vida das sociedades.

Nesta perspectiva, o termo Cultura pode ser definido como práticas sociais que se desenvolvem a partir das experiências, relações, aprendizados, produções dos indivíduos através dos saberes que se constroem e que caracterizam o gosto e o sentimento de um grupo. Essas características são permeadas pelas atividades individuais e coletivas, providas de afetos e emoções conjuntas, ou seja, um sentimento de pertencer e se identificar com um determinado grupo.

Cremos que a experiência humana se dá a partir de determinados acontecimentos, eventos ou situações inesperadas que podem ter efeitos positivos e negativos numa sociedade, como nas lutas dos movimentos sociais, nos conflitos de guerras, na preservação do meio ambiente e nas cidades, pois “[...] as nossas experiências deixam um resíduo em nós, um vestígio, uma representação que pode não entrar de forma consciente, mas que pode ser ativada em outras situações” (SWANWICK, 2003, p. 34). A experiência é inerente a qualquer situação que decorre de processos através dos quais sentimos, vemos, vivenciamos e compartilhamos.

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Assim, utilizamos a experiência para transformar e dar sentido a novos processos experimentais, à vida.

Esses processos possibilitam a caracterização, bem como a transformação de determinado grupo de pessoas, reunidas dentro de uma sociedade para compartilharem experiências condizentes com seus anseios sociais. Estes grupos sociais podem ser caracterizados como artísticos, educacionais, musicais, entre outros, e se identificam pela experiência no fazer e no transformar.

Cada grupo desempenha uma função específica na sociedade na qual está inserido, proporcionando experiências aos seus integrantes e às pessoas próximas. No caso de um grupo educacional, as experiências são compartilhadas por toda uma comunidade, envolvendo crianças, jovens, adultos e idosos. Vários grupos são encontrados em determinada cultura e, entre eles, as bandas, formadas por músicos que representam as suas comunidades, instituições, escolas, fundações ou mesmo formada por grupos de amigos. No que diz respeito às bandas escolares, estas desempenham um papel social através da música como elemento de transformação sociocultural. Além disso, participam de festivais, apresentam-se em ruas e avenidas, demonstrando uma versatilidade nos espaços de suas apresentações, bem como na escolha do seu repertório e função social.

No caso de uma banda marcial escolar, foco deste estudo, esta experiência pode ser sentida por todos os envolvidos, de uma maneira específica, através das relações de amizade, dos interesses conjuntos, nas experiências musicais e na convivência em grupo.

Este capítulo tem como objetivo estabelecer uma discussão acerca dos conceitos de cultura, pertencimento e banda. Para isso, recorremos a alguns pesquisadores e estudiosos como Néstor García Canclini (2000; 2005), Raymond Williams (1992), Stuart Hall (2003), que discutem sobre o conceito de cultura; bem como Jorge Larrosa (2002), Keith Swanwick (2003), Michel Maffesoli (2014), Paula Almeida de Castro (2011), Zygmunt Bauman (2005), sobre o entendimento acerca da experiência, pertencimento e identidade. Os estudos de Adalto Soares (2018), Lélio Eduardo Alves da Silva (2018), Marco Aurélio de Lima (2000; 2005) e Nilceia da Silveira Protásio Campos (2008), dentre outros, foram consultados por discutirem acerca da banda e o seu significado cultural.

2.1 A cultura como prática significativa

Compreendemos cultura como uma composição de tudo aquilo que é compartilhado, vivenciado pela sociedade e que se transforma em conhecimento a partir das realizações das

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atividades conjuntas. De acordo com Hall (2003), a cultura deve ser entendida como processos que emanam das relações sociais que são construídas a partir de padrões e práticas significativas que atuam no modo de viver, no compartilhamento de ideias e nas atividades comuns numa sociedade. Para este mesmo autor, estas práticas são regidas pelos gostos, valores, sentidos, experiências e interações em grupos, ou seja, são construídas a partir de processos de identidade e estabelecem a relação de pertencimento entre os indivíduos por meio da cultura.

Diversos grupos em uma determinada sociedade se organizam por meio da experiência, do compartilhamento de ideias e construção de significados. Dentre estes grupos, encontram-se bandas marciais, cujas práticas encontram-se deencontram-senvolvem de maneira organizada e são construídas a partir de ideias oriundas dos significados construídos entre os sujeitos participantes. Nesse sentido, as bandas e suas diversas formações também constituem suas práticas a partir desses processos integrados que produzem conhecimento entre os atores culturais que dela participam.

Conforme comentado anteriormente, a cultura preexiste aos sujeitos que dela se constituem, que buscam produzir campos de relações sociais por meio dos saberes adquiridos culturalmente, e estas relações refletem diretamente na cultura à qual estes sujeitos pertencem. Em outras palavras, as culturas são constituídas daquilo que representam os indivíduos que a compõem, estabelecendo assim uma série de sentidos, reflexões e significados no campo social. Da mesma forma, a cultura se manifesta a partir das produções de indivíduos diferentes, que têm como objetivo ressignificar o modo como se constroem as práticas no campo cultural.

De acordo com Williams (1992), a cultura é integrada por processos de significações que se constituem das “produções culturais” nas práticas culturais diversas. O autor deixa claro que a cultura deve abarcar todas as “práticas significativas”, sobretudo que compreenda também as diversas áreas de conhecimento como as linguagens, as artes, a filosofia, dentre outras. Para ele, estas diversas áreas também produzem cultura e atuam em conjunto para a construção social das atividades humanas, refletindo também a cultura como um modo de vida entre as sociedades.

Vistas dessa maneira, as produções realizadas no contexto dos mais diversos grupos são formas de relações sociais que partem das práticas artísticas, cujo caráter é produzido e projetado no campo cultural e social. No caso específico de bandas marciais, estas relações podem ser observadas tanto no lugar onde acontecem os ensaios, nas apresentações públicas, nas viagens, nas atividades culturais e nas práticas instrumentais, bem como no ensino de música.

Williams (1992) estabelece uma discussão acerca do “modo de vida global” entendido como sistemas de significações que envolvem as produções culturais e sociais. Ou seja, todas

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as atividades que compõem a organização social de qualquer grupo contribuem para a constituição da ideia de cultura. Na banda, apontamos a forma de comunicação entre os indivíduos, os hábitos, a postura nos ensaios, a execução de obras de compositores de bandas e os pressupostos e compromissos presentes nesta prática cultural.

Podemos dizer que tanto Hall (2003) como Williams (1992) entendem a cultura como processos que se constituem das práticas e produções socioculturais oriundas das atividades humanas. Para o primeiro, a cultura é entendida como processos resultantes das experiências compartilhadas e produzidas, que proporcionam saberes comuns a todos os sujeitos no campo cultural tendo a sociedade papel fundamental na construção dessas práticas culturais. Para este mesmo autor, as práticas culturais se constituem de diferentes processos sociais que emergem das experiências e significados culturais, aproximando os sujeitos em determinados grupos. Do mesmo modo, Williams considera que a prática cultural, como processo resultante dos sistemas de significações, é tudo aquilo que envolve o campo de produção cultural e institui relações sociais em diferentes contextos, possibilitando, assim, que a cultura seja entendida como “modo de vida”.

Esses diversos aspectos sociais constituem elementos importantes em determinada prática cultural, como o sentimento de pertencimento, as habilidades, os saberes, os valores e as interações que são transmitidas e construídas socialmente. Dessa forma, as práticas culturais, sejam elas de música, bandas marciais, orquestras, ou constituídas de outras práticas, como nas comunidades periféricas e nas cidades, são elementos importantes que oportunizam e ampliam os conhecimentos. Ademais, estas práticas representam a cultura através da sociedade, possibilitando que ela se mantenha viva e seja um elemento importante de valor cultural, social e simbólico. Na opinião de García Canclini (2005, p. 45):

[...] a cultura é vista como uma instância simbólica da produção e reprodução da sociedade. A cultura não é um suplemento decorativo, entretenimento dominical, atividade de ócio ou recreio espiritual para trabalhadores cansados, mas algo constitutivo das interações cotidianas, à medida que no trabalho, no transporte e nos demais movimentos comuns se desenvolvem processos de significações. Em todos estes comportamentos estão entrelaçados a cultura e a sociedade, o material e o simbólico.

García Canclini (2005), ao falar sobre o “valor signo” e “valor simbólico”, toma-os emprestado de Baudrillard2 para descrever esses dois termos como resultados dos “processos

2 Jean Baudrillard (1929 – 2007) é de origem francesa, sociólogo; seu campo de estudos gira em torno da comunicação e das mídias na sociedade e na cultura contemporânea. Discute sobre os impactos causados pelo efeito pós-guerra na sociedade francesa que fez surgir uma cultura de massa voltada para o consumo de bens

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de significações” que se constituem da materialidade do objeto na organização social da vida, a cultura. Para o autor, isso se dá de tal forma que a cultura, como resultado dos processos sociais e das misturas interculturais, tende a buscar outros significados – um novo contexto –, não porque ela se degradou ou perdeu o sentido, mas porque “mudou o significado ao passar de um sistema cultural a outro” (GARCÍA CANCLINI, 2005, p. 42). Em outras palavras, a cultura, ao adquirir função diferente da anterior, também adquire outros sentidos, deixando de ser uma cultura pura para se apresentar como uma prática resultante de outras misturas culturais.

García Canclini (2013) traz o conceito de cultura partindo da ideia de misturas, no qual explica que práticas que se constituíam de formas fechadas se cruzam para gerar novas formas de produção e divulgação, e assim ele esclarece que “Entendo por hibridação processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de formas separadas, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas” (GARCÍA CANCLINI, 2013, p. xix).

Valendo-nos das palavras do autor, a hibridação surge como um novo campo em que se estabelecem outros meios de interação e produção cultural, possibilitando que a cultura seja ampliada e se estabeleça como um novo território cultural. Nesse sentido, a hibridação surge a partir daquilo que não se concebe como ideia de pureza, mas a partir dos cruzamentos de práticas culturais não atuantes refletindo então em outro significado cultural.

Sobre esses cruzamentos e o significado cultural, também podemos percebê-los nas bandas e nas suas diversas formações. Lima (2000), em pesquisa realizada sobre as transformações que ocorrem nas bandas e fanfarras do Estado de São Paulo, detectou os meios que esses grupos utilizaram para a continuidade das suas tradições. Diversos aspectos foram discutidos pelo pesquisador, dentre eles: a busca por novos espaços de apresentações; o surgimento de novas categorias de formação instrumental; a inserção de instrumentos de orquestra; as adaptações instrumentais; a influência das Drum Corp3 americanas; o repertório

sinfônico; a “bricolagem” de outros métodos; e os campeonatos que surgem como instrumento de motivação para a manutenção e existência das bandas. O uso do termo bricolagem diz respeito à reunião de recortes de diferentes métodos de ensino e teoria musical utilizados pelas bandas. Em decorrência disso, também surgiram novas concepções de bandas, desencadeando assim em novos significados, práticas culturais e identidades diversas. Como resultado da

tecnológicos e negócios, no qual entende que “Os objetos formam um sistema num novo contexto - a sociedade do consumo – e isso requer uma análise, não de sua função social, mas de sua linguagem, reveladora das contradições do capitalismo” (SANTOS, 2011, p. 127).

3 Termos utilizado pelas bandas americanas, e que, traduzido para o português, significa corpo de percussão, porém a Drum Corp é composta por instrumentos de percussão e sopros.

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pesquisa o autor aponta que “as bandas de estudantes são estimuladas pelos campeonatos e utilizam de astúcias para a sua sobrevivência” (LIMA, 2005, p. XI).

Nesse sentido, percebemos que para a continuidade dos trabalhos musicais e artísticos, as bandas têm buscado se (re)inventar, passando a inserir novos elementos de outras práticas culturais. Assim, as bandas, enquanto campo de relações sociais e culturais se ressignificam não somente do campo musical, mas também das artes como um todo.

Mesmo com as transformações pelas quais estes grupos bandísticos vão atravessando, o sentimento de pertencer ao grupo e a sua identidade dentro da cultura torna-se inerente aos mesmos. E é acerca deste sentimento que iremos discutir no próximo tópico.

2.2 O pertencimento na relação de grupos

Partindo do pressuposto de que as práticas culturais se constituem dos entrelaçamentos que geram encontros e produzem novos significados, Bauman (2005) entende que o “pertencimento” e a “identidade” não atuam como um processo fixo, mas como uma ideia que vai se construindo naturalmente. Trata-se de um processo que vai se configurando na medida em que as experiências acontecem. Estas experiências são consequências dos acontecimentos que tendem a aproximar os grupos a partir das relações de amizade e interesses em comum por meio das práticas culturais que constituem a identidade de um grupo ou indivíduo.

Sobre a questão do acontecimento em detrimento das experiências, Lazzarato (2006) diz que os acontecimentos surgem como um campo de possibilidade e transformações sociais, através dos quais o sujeito deverá estar aberto para ver, vivenciar o tempo e as coisas em seu entorno. O autor entende que os acontecimentos têm como característica marcante despertar a sociedade para um novo olhar, de tal forma que seja capaz de moldar todas as experiências boas e ruins decorrentes dos acontecimentos em novas oportunidades. No pensamento de Lazzarato (2006, p. 12), “O acontecimento nos faz ver aquilo que uma época tem de intolerável, mas faz também emergir novas possibilidades de vida. Essa nova articulação de possibilidades e de desejos inaugura, por sua vez, um processo de experimentação e de criação”. Sendo assim, os acontecimentos surgem a partir de determinadas situações e criam outros agenciamentos. O autor ainda enfatiza a abertura do ser humano de tornar oportuno o conhecimento, a vivência e o entrelaçamento em outros territórios, como aqueles que decorrem das ações em grupos.

Essas ações coletivas que sobrevêm de acontecimentos têm como proposta romper os distanciamentos que existem entre os indivíduos que fazem parte das práticas culturais, possibilitando também a ideia do encontro, do estar-junto, do tornar-se, que decorre de situações

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que permeiam questões de gosto, afetos, segredos e compartilhamento das mesmas ideias, mas que por outro lado também trazem consigo seus saberes históricos, de vivências e lutas.

Nesse contexto, Maffesoli (2014) descortina na pós-modernidade o tempo das tribos, nos presentando como decorrência dos acontecimentos as diversas formações dessas tribos que se evidenciam por processos proxemicos, estar-junto e as redes que compreendem esses “nós”.

Assim ao meu ver, o estar-junto é um dado fundamental. Antes de qualquer outra determinação ou qualificação, ele consiste nessa espontaneidade vital que assegura a uma cultura sua força e sua solidez específicas. Em seguida, essa espontaneidade pode se artificializar, quer dizer, se civilizar e produzir obras (políticas, econômicas, artísticas) notáveis (MAFFESOLI, 2014, p. 148).

O estar-junto se caracteriza como ideia de comunhão, interação, onde tudo no grupo é compartilhado e cada um é responsável por si e pelos outros. Maffesoli (2014) nos esclarece que essa busca proximal que as pessoas constroem a partir de gosto, liberdade, afinidades e o prazer de estar junto é uma característica dos grupos atuais nos quais os sujeitos são atores que exercem papeis de acordo com seus interesses pessoais e nos objetivos que se propõe a trilhar. Estes sentimentos de pertencimento são uma característica que surge a partir da forma como cada sujeito concebe seu envolvimento dentro de um grupo social; esses grupos, na concepção metafórica empregada por Maffesoli, denominam-se de tribos.

Segundo o autor, as tribos são caracterizadas por pequenos grupos que se estabelecem a partir de um conglomerado de pessoas que não se apoiam em uma identidade, buscam crescer dentro do próprio ambiente em que estão inseridos e cada um exerce papel dentro deste grupo, não existindo superioridade entre eles, mas sim o respeito.

As tribos se constituem através de processos de identificação, gosto, sentimentos e por causa das singularidades presentes nas partilhas; estas formas de construções dos grupos também se fazem presentes na banda por ser a mesma formada por grupo e subgrupos de pessoas que compartilham de diversas experiências, representações e emoções, tais como: os subgrupos formados pelos naipes de membros do próprio grupo e os responsáveis/pais. Os membros da banda formam redes de sociabilidade e possuem interesses comuns; formam amizades que se constroem no grupo social e estes grupos são criados por sentimentos de pertencimento (ligações que criam os laços na rede), buscando atuar cooperativamente.

Estas formas de atuação se transformam em experiências que oportunizam momentos únicos enquanto sujeito participante em um grupo e, estes sentidos são percebidos nas questões relacionadas a identidade, apontadas por Castro (2011), no que diz respeito à noção de

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pertencimento, são situações que vão além da identificação do sujeito com o seu lugar de origem. Para ela, o indivíduo está sujeito a diversos processos experimentais que darão a ele a capacidade de se sentir parte de uma cultura. O sujeito não vê obstáculos em seu trajeto, mas enxerga como um processo que vai sendo construído aos poucos, ou seja, naturalmente. O processo é longo, chega até a ser cansativo, mas a vontade do tornar-se para pertencer os caracteriza como parte integrante. Podemos intuir que experiência e pertencimento caminham lado a lado, pois estão na busca dos mesmos resultados, no sentido de identificação com o grupo. Porém, a experiência é singular para cada indivíduo, e mesmo assim o grupo, composto de pessoas com experiências diversas, se organiza para a realização de atividades comuns proporcionando-lhe unicidade.

Esta organização é um processo de colaboração mútua e de adaptações entre indivíduos na busca das realizações de tarefas, que geram experiências que podem ser sentidas de maneira única. Para Castro (2011), o ser humano é capaz de se adaptar a situações que exijam novos conhecimentos, desde que ele esteja aberto a outras experiências. Acerca destas experiências, Larrosa (2002) esclarece que se tratam das experiências vividas, aquelas que se adquirem no modo como se responde ao que acontece ao longo da vida, e no modo como vamos dando sentido a este acontecido. Este mesmo autor aponta a prontidão do ser humano para aprender sobre as coisas, sobre si mesmo e sobre tudo que lhe acontece, pois a experiência é individual.

Podemos ser assim transformados por tais experiências, de um dia para o outro ou no transcurso do tempo, pode ler-se outro componente fundamental da experiência: sua capacidade de formação ou de transformação. É experiência aquilo que “nos passa”, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação (LARROSA, 2002, p. 25).

Deduzimos que se trata de um processo de construção e conexão de pontos que convergem e criam redes comunicacionais, que dão subsídios para entendermos as etapas em que ocorrem estas experiências. Assim, esta forma de experimentação também pode ser notada metaforicamente na música e na banda.

Para entendermos esta relação metafórica que produz experiências, utilizaremos o conceito de metáfora discutido por Swanwick (2003), no qual a música acontece num processo metafórico, quando ouvimos notas como melodias e a reconhecemos como música e essa nos é familiar. Não identificamos a música como sons isolados, porque neste processo já tendemos psicologicamente a organizar os sons e agrupá-los. Ou seja, notas musicais se transformam em

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melodias e empreendem uma nova concepção; mesmo que a música não seja um elemento palpável, ela traz consigo sentimentos de afetos e prazer.

Para Swanwick (2003), estas formas expressivas se transformarão em novos processos experimentais, que se transformarão em novas relações e nos reportarão a novas experiências. No caso da banda, estas relações e experiências poderão acontecer quando um integrante toca o seu instrumento sozinho, e quando toca com os demais integrantes da banda. São duas situações semelhantes que apresentam novos processos experimentais. Em outra situação, novas experiências são observadas quando este mesmo integrante está marchando sozinho, ou num agrupamento de pessoas marchando. E estas experiências também se refletirão em outras situações, como no ambiente onde acontecem os ensaios, nas apresentações; na organização dos componentes, durante o movimento da marcha, no preparar para tocar, no ritmo, no movimento coreográfico, entre outras situações.

Mesmo se constituindo de forma subjetiva, a música, além de outras funções, desenvolve a sensibilidade, a percepção auditiva e os aspectos cognitivos do ser humano. Por esse meio, reflete também nas relações, no gosto, no sentimento e na identidade, apresentando-se como um meio transformador que condiciona a cultura. Como processo de interação, a música possibilita com que as pessoas se envolvam na participação e desenvolvimento da mente, sobretudo, quando se faz presente em um campo social repleto de possibilidades como meio de transformação do indivíduo que, por muitas vezes, não teve a oportunidade de participar ou vivenciar a música ao longo da vida.

O processo de formação identitária que descreve a atuação de uma sociedade no seu campo cultural tem como característica revelar as singularidades presentes entre os sujeitos, perfazendo a sua trajetória no âmbito cultural e social. Esses processos organizacionais que engendram a própria capacidade de transformação que a música imprime tanto para quem ouve como também para quem a executa é o que se configura como forma de realização musical em que a música por si só é capaz de gerar novas formas quando “a música parece quase sempre ter vida por si própria” (SWANWICK, 2003, p. 32).

Nessas interpretações, o ambiente, o momento, o lugar e o contexto perceptivo, também permitirão estas novas relações. Pois, quando a banda se apresenta fora da escola ou participa de concursos, novos elementos perceptíveis são acionados, os quais são decorrentes do sentimento de cada integrante. Estas percepções decorrem das experiências que acontecem de acordo com que os sujeitos são expostos a esses novos territórios de experimentação. Em síntese, neste mesmo processo metafórico passa-se também a ideia da experiência em novas relações culturais e informa-se a “vida do sentimento” (SWANWICK, 2003). Esse despertar

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em novas relações está ligado ao modo como vamos compartilhando culturalmente as nossas experiências e, ao nos deslocarmos de um lugar para o outro, reconhecemos também o que é característico do nosso contexto social e cultural.

De acordo com Swanwick (2003), quando transitamos em outras práticas culturais identificamos como as pessoas falam, se comportam, se organizam e se relacionam. A tudo isso Swanwick define como “sotaques”, forma como as coisas são apresentadas e através delas reconhecemos o que também é inerente a nossa própria cultura. Ou seja, aquilo que compartilhamos culturalmente e socialmente em um contexto específico, como valores, significados e interações, nos molda de acordo com como agimos em relação a nossas convicções.

Outrossim, as bandas possuem suas características próprias, “sotaques”, seja nas cores dos seus uniformes, na execução de músicas das diferentes culturas, ou mesmo na forma como se organizam culturalmente.

A banda da universidade estava tocando, sem desfilar, na abertura de um jogo de bola, uma versão de The star-splanged banner, e uma pequena peça durante os sete intervalos do jogo. Mas, no final, os integrantes da banda estavam realmente querendo tocar mais, e marchar. Então, organizaram-se fora do ginásio de esportes. A percussão entrou primeiro, ritmicamente demarcou sua posição e, logo, toda a banda estava posicionada, circundada por uma multidão extasiada. O regente desempenhou um papel menor, e os estudantes pareciam estar tomando as decisões, embora no contexto de rotinas bem ensaiadas. Embora isso estivesse acontecendo, a maioria deles não era aluno de música, e o evento não era estritamente musical, ainda que eles estivessem realizando coisas musicais (SWANWICK, 2003, p. 38).

Com base na citação acima, quando envolvidos com a música, somos capazes de realizar tomadas de decisão que surgem de um momento em que nos sentimos realizados e envolvidos com o lugar. Podemos dizer que cada grupo pratica aquilo que é significativo e de valor cultural; estas características são permeadas de sentimentos pelos quais as pessoas são afetadas no momento em que decidem realizar algo além do que foram designadas a cumprirem. Essas tomadas de decisões caracterizam-se na forma como cada grupo é tomado por emoções conjuntas.

Partindo desse contexto, podemos observar que as bandas empreendem a sua própria forma de comunicação. Cada banda interpreta e compartilha socialmente a música de acordo com as suas características regionais e culturais, a exemplo da linguagem verbal nos discursos sobre as diversas formações de banda e a não-verbal na representação dos gestos, movimentos e representações musicais que são particularidades de cada grupo.

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Swanwick (2003) argumenta que ao “[...] entramos em contato com outras práticas culturais identificamos o ‘sotaque’”. Nesse processo podemos utilizar como exemplo os encontros e apresentações musicais de bandas em diferentes espaços. É possível identificarmos as características regionais de cada formação de banda, pois cada uma interpreta a música e estabelece uma forma de relação movida de afetos com o público e seus integrantes, pois “A exposição a outras culturas ajuda-nos a entender algo da nossa” (SWANWICK, 2003, p. 37).

Para entendermos tal relação, utilizaremos este exemplo, no qual uma certa banda estava tocando uma música em um encontro em que reunia diversos outros agrupamentos musicais, os músicos da banda reconheceram que já haviam executado este mesmo repertório, porém a forma como a outra banda tocou aquela música era diferente da que a primeira banda executara, pois os instrumentos utilizados não eram da mesma formação musical do primeiro grupo. Nesse sentido, as bandas são agrupamentos musicais que possuem diferentes “sotaques”, cada uma compartilha de forma específica suas diferentes práticas culturais, refletindo socialmente na vida das pessoas, possibilitando, através da subjetividade, o aparecimento de novos campos existenciais.

Em suma, cada sujeito deve estar aberto para abarcar essas redes de informações que acontecem em diversos espaços, e que de certa forma traduzem as experiências que capacitam os sujeitos de modo a transformá-los. Cabe, assim, destacar as transformações que ocorrem no contexto dos diversos grupos musicais, mais especificamente com a banda, objeto deste estudo.

2.3 A Banda: conceitos, particularidades e formação

Enquanto elemento difusor das artes, da história, do contexto social e das práticas culturais que as constituem, as bandas musicais revelam-se também como um importante campo de produção, divulgação e transmissão de saberes entre os atores sociais na representação da cultura e transformação social dos indivíduos.

A música na banda é interpretada de forma consciente, cada músico atua de modo a construir eventos sonoros a partir das atuações musicais num processo de interações e ressignificações musicais. O ritmo surge a partir de construções de percepções e escutas que são realizadas buscando a consciência através do tempo cronológico.

Ela também acontece como um processo metafórico, por meio da experiência estética. Cada integrante desempenha um papel na construção do sentido textural, no qual existem motivos, frases e gestos, isto é, o que compartilhamos consciente ou inconscientemente na produção musical. O som produzido pela banda se dá por meio de conexão entre o instrumento

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musical e o corpo humano; e cada integrante tem função específica na emissão deste som através do emprego do ar, da força, da articulação, da respiração e dos músculos.

O fazer musical é ir além destes parâmetros e objetos sonoros, é expressar aquilo que construímos socialmente e descrevemos como representação do cultural.

[...] os sentimentos primários que as pessoas têm em seus corpos são experiências de diferentes tipos de impulso interno. Mais que sensações de emoções particulares ou estados físicos, elas podem escolher interpretar tais sentimentos com linguagens contemporâneas da emoção e outras metáforas culturalmente familiares (BLACKING, 2007, p. 215).

Por meio dos eventos sonoros podemos compartilhar e entender aquilo que cada sociedade tem como meio de sobrevivência, como seus hábitos, vivências, experiências e modo de vida. A música é compartilhada por diversos povos e culturas, e em cada contexto ela se apresenta de forma única. O tempo, o espaço e o lugar empreenderá formas distintas de produção e divulgação cultural para cada sociedade. Dessa forma, dentro de um mesmo segmento é possível identificar diversos outros agrupamentos que produzem música.

Um “grupo sonoro” é um grupo de pessoas que compartilha uma linguagem musical comum, junto com idéias comuns sobre a música e seus usos. A pertença aos grupos sonoros pode coincidir com a distribuição das linguagens verbais e das culturas, ou pode transcendê-las, como em partes da Europa e nas Terras Altas de Papua Nova Guiné. Numa mesma sociedade, as diferentes classes sociais podem ser distinguidas como grupos sonoros distintos, ou podem pertencer ao mesmo grupo sonoro, embora estejam profundamente divididas em outras circunstâncias (BLACKING, 2007, p. 208).

Blacking argumenta que essa capacidade humana de produzir música em diferentes contextos culturais e sociais ficou passível de uma análise pormenorizada devido às invenções tecnológicas que revolucionaram o modo de registrar as músicas em diversos sistemas culturais, a exemplo do fonógrafo e do gravador de rolo. Estas invenções permitiram realizar os registros das músicas de diversas culturas e que, de certa forma, foram se expandindo e viabilizando a repetição e o aprofundamento na análise, na interpretação, na escuta consciente e no desenvolvimento das formas musicais pautadas na música tonal, na “análise de sistemas musicais” e na cultura musical das sociedades.

Nesse sentido, o autor nos esclarece que “[...] a música é o aspecto mais importante do fazer musical, não somente para quem a estuda, mas também para aqueles que participam dela” (BLACKING, 2007, p. 204). Portanto, a música vai além do que pensamos como representação do cultural e social, mais do que isso, ela promove “[...] o desenvolvimento individual, a

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renovação cultural, a evolução social, a mudança” como um todo (SWANWICK, 2003, p. 39). Desse modo, os conjuntos musicais propiciam a interação e a socialização por meio de práticas culturais que emergem dos processos de ressignificação, significados, valores, pertencimento e saberes no campo da cultura.

Alves da Silva4 explicita seus pressupostos ao afirmar que a origem das bandas no Brasil

remonta à chegada dos padres jesuítas, que no processo de catequização indígena já apresentavam ressonâncias da formação de grupos musicais, e logo depois o surgimento das bandas nas fazendas dos senhores de engenhos, das quais participavam pessoas escravizadas.

Na busca pela compreensão do que seja uma banda, Lima (2005) argumenta que a banda é um conjunto artístico-musical composto por instrumentos de sopro e percussão, além disso dispõe de características bem peculiares que a distingue, como as apresentações em ruas, avenidas, quadras poliesportivas e salas de concerto. Além disso, o autor afirma que a banda é um importante campo de difusão da cultura local, suas práticas assemelham-se a uma família, com a qual é possível compartilhar atitudes, dificuldades, sentimentos e a busca por um ideal através da música.

Sobre os espaços em que emergem as bandas, Souza (2010) argumenta que esses grupos estão presentes em diversas instituições como escolas, ONGs, fundações, associações, institutos e federações. Segundo o autor, as bandas no Brasil têm sido um celeiro na formação e divulgação de músicos, e também contribui para o desenvolvimento da cultura e das manifestações em eventos comunitários e sociais.

[...] a banda vem há décadas animando festas cívicas, desfiles e diversas formas de apresentações, em ginásios, teatros, salas de concertos, estádios de esporte, ruas entre outras. Sua história sempre esteve ligada ao povo e às comemorações diversas, como uma formação que chama a atenção pelo repertório, número de instrumentos, instrumentistas e um fardamento elegante. As bandas marciais foram se desenvolvendo e, hoje é o modelo de bandas escolares mais presentes no território brasileiro (SOUZA, 2010, p. 35). A banda é um meio que possibilita as interações e socializações, capaz de atuar de forma transformadora na vida de muitos jovens músicos, bailarinos, dançarinos que dela participam. A banda compreende a área de música, dança, arte cênica, teatro, dentre outras e, dessa forma, desempenha diversos outros papéis culturais e sociais numa sociedade. A música produzida pela banda se caracteriza pela capacidade humana e os processos reflexivos discutidos por

4 Para saber mais, ver: ALVES DA SILVA, Lélio Eduardo (org.). Manual do mestre de banda de música. 1ª ed. Rio de Janeiro: FAPERJ, 2018, p. 10-26.

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Blacking (2007). De acordo com este autor, a música como processo reflexivo representa parâmetros sonoros musicais, partituras, instrumentos musicais e manifestações da cultura, já enquanto capacidade humana, traduz-se no modo de pensar, fazer, ouvir, expressar, comunicar e compartilhar experiências que não estamos acostumados a ouvir, mas que pode ocorrer intencionalmente, resultando em produções de sentidos nas práticas culturais.

Alves da Silva (2018) relata que existe uma confusão sobre os termos que são empregados na classificação ou definição do que seja uma banda. De acordo com este autor, algumas bandas têm sido classificadas de forma equivocada como orquestra, somente pelo fato de serem equiparadas pela qualidade técnica que desempenham. Já sobre a questão dos termos empregados para nomear uma banda, o mesmo autor aponta a vasta utilização do termo ao afirmar que as divergências ocorrem devido ao “uso do termo genérico banda, empregado para denominar diferentes grupos musicais, tais como as bandas de pagode, bandas de rock, dentre inúmeras outras” (ALVES DA SILVA, 2018, p. 10).

É notório que as bandas possam ser interpretadas como um conjunto musical constituído por pessoas que executam melodias e ritmos dançantes ou não, porém podemos categorizá-las pela forma de atuação que desempenham num determinado meio social. O que vai caracterizar uma banda é a sua forma de atuação, representação e constituição, bem como o tipo de repertório e instrumentação que utiliza.

Na concepção de Fagundes (2010), a banda é um tipo de organização que possui características próprias que as diferencia de outros agrupamentos musicais e uma delas diz respeito às transformações e atuações sociais ao longo da história.

As bandas são organizações diferentes de outros grupos musicais, pois, mantém, enquanto arte, a prática de música para esse tipo de formação e para cumprir o tipo de função social atrelada historicamente a ela, tocando um repertório que demonstra tanto a sua atualidade quanto a sua capacidade de sobreviver no tempo. Para seus participantes, mestres, músicos, presidentes e até igrejas, esses grupos são conjuntos por excelência e executam suas peças com beleza e zelo capazes de comover o espírito e animar uma plateia (FAGUNDES, 2010, p. 43).

O termo banda, de acordo com determinada região, pode assumir diversas características e formações. Se utilizarmos como exemplo o regulamento da Confederação Nacional de Bandas – CNBF, as bandas se dividem por categoria e faixa etária de idade, podendo ser composta de instrumentos de sopro: metais e madeiras; percussão de marcha, percussão sinfônica, instrumentos de corda, voz ou instrumento eletrônico. Algumas bandas têm uma característica

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mais versátil de apresentação, podendo tocar tanto em ambientes abertos como em ruas, avenidas e ginásios, e também em salas de concertos.

Como exemplificação, uma mesma banda pode se desdobrar em diversos outros agrupamentos, como as que participam nos concursos de bandas e fanfarras, em que um mesmo grupo apresenta mais de uma vez. Esta situação ocorre por conta de algumas bandas que participam desses eventos competirem com um grupo completo na categoria sopro, à qual compreende instrumentistas de sopro e percussão, e na outra categoria competem somente o naipe de instrumentos da família da percussão. Além disso, temos os desdobramentos que surgem através das combinações de formações de instrumentos de sopro de metais, madeiras, percussão ou a combinação deles, como os quartetos, quintetos e sextetos de metais ou madeiras, que surgem da própria banda.

É fato que as bandas têm versatilidade em se adequar aos ambientes em que se apresentam, pois nem sempre é possível se apresentar com a sua formação completa devido às questões de locomoção e logística. Entretanto, podemos empreender que esses grupos musicais são dinâmicos, no sentido de se desdobrarem em diversas outras formações, podendo ter em suas formações instrumentos de sopro, metais, madeiras e percussão.

Tomando como exemplo as categorias de bandas descritas pelo regulamento da CNBF, existem diversas formações de bandas, como banda marcial, banda de concerto, banda musical, fanfarra simples, fanfarra marcial, banda de percussão, banda de percussão marcial, banda de percussão sinfônica e banda sinfônica. Algumas formações de banda são acrescentadas de acordo com a região, como esclarecido anteriormente, e também seus regulamentos podem contemplar outras formações de bandas, como as filarmônicas, bandas coreografadas, bandas de tambor, dentre outras.

A banda de música, bem como suas diversas ramificações de categorias, civil, militar, escolar, marcial, dentre outras, vem cumprindo diversas funções, inclusive função educacional, desde longas datas na nossa sociedade. Nesse contexto, a música tem sido reconhecida como uma excelente ferramenta para o desenvolvimento das capacidades humanas (SILVA, 2012, p. 14).

É importante destacar que a banda tem um papel fundamental na construção social do ser humano. Sua principal característica é disseminar o processo de transformação cultural e a construção de valores humanísticos, contribuindo na formação musical, artística e educativa dos seus participantes.

As bandas marciais ou musicais são espaços de excelente formação, nas quais o participante vai aprender a tocar um instrumento, a conviver em

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comunidade, a assumir um papel social. As crianças das bandas se agregam em torno de um trabalho cotidiano de aprendizagem musical e assumem esse papel social quando fazem os concertos e apresentações musicais (SOARES, 2018, p. 87).

Soares (2018), em suas experiências como idealizador e autor da pesquisa realizada com a Banda Marcial “Lyra de Tatuí”, ressalta que o músico de banda cumpre bem o seu papel na realização de um trabalho que refletirá na sua autoestima. Este autor entende que os jovens que participam da banda marcial são os próprios atores que lidam com o sucesso do seu grupo. Em outras palavras, digamos que cada membro da banda traz para si uma responsabilidade, principalmente quando essa o envolve de maneira a colocá-lo como o personagem principal numa apresentação a um público5. No tópico a seguir iremos apresentar a formação da categoria

banda marcial, uma vez que o grupo em estudo se caracteriza como tal.

2.3.1 Banda Marcial: aspectos de formação e repertório

Sua formação compreende a “linha de frente”6 que compõe o Pelotão Cívico (traz a

frente da banda seu distintivo de identificação, como estandarte, faixa ou flâmula); Pavilhão Nacional (composto de três ou quatro bandeiras sendo a nacional, estadual, municipal e da entidade representativa da banda); Corpo Coreográfico (utiliza movimentos corporais, marcha e aparelhos coreográficos); baliza (figura que executa movimentos da ginástica rítmica e artística durante as apresentações do corpo musical); Capitão Mor (responsável por conduzir o corpo musical durante seu trajeto na rua; na ausência do regente, este dá a voz de comando ao grupo durante o deslocamento do corpo musical). Corpo musical é composto por instrumentos de sopro da família dos metais e da família dos instrumentos de percussão de altura definida e indefinida.

Vale destacar que em campeonatos de bandas existe o quesito premiação geral, que é concedido para a banda que apresenta com a sua formação completa (pavilhão nacional, corpo coreográfico, baliza capitão mor, regente e corpo musical) na soma das pontuações. Assim sendo, a banda que tiver com maior pontuação, mesmo faltando outras formações, também poderá concorrer à premiação do quesito geral. Porém, de acordo com o regulamento da CNBF, é facultativo às bandas se apresentarem com o corpo coreográfico, baliza e capitão-mor.

5 Essas questões relacionadas a autoestima e a responsabilidade podem abarcar quaisquer tipos de grupos. 6 Para um estudo mais aprofundado sobre Linha de frente, ver: CORRÊA, Elizeu de Miranda. Linhas de frente

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No que concerne a questões referentes a composições para bandas, destacamos à carência de compositores dedicados a comporem para esta especificidade de formação musical; na maioria das vezes o regente da banda faz adaptações do repertório de músicas escritas para orquestras ou bandas sinfônicas7 para serem executadas em seus grupos.

No Brasil, há um mercado editorial pequeno destinado às bandas, diferentemente dos Estados Unidos que possuem uma ampla gama de interessados em vender suas mercadorias para as High School Bands e grupos de sopros universitários (abundantes no país) (BOTA, 2018, p. 13, grifo do autor).

Estas questões relacionadas a um mercado editorial dedicado às composições para diversas formações de bandas no Brasil afetam também as bandas marciais, principalmente as escolares que não encontram compositores e arranjadores dedicados a escreverem música, métodos e material didático para este tipo de formação instrumental.

Pensando nisso, as adaptações ou arranjos são realizados de acordo com os instrumentos que a banda possui, como no caso da banda marcial; não existem os instrumentos de madeiras e nem de cordas, muitos maestros realizam adaptações nas quais um instrumento de som ou timbre próximo possa executar.

Bandas marciais e bandas de concerto dispõem de um repertório que, na sua maioria, é formado por repertório de músicas estrangeiras e adaptações de obras sinfônicas. Fazem também uma bricolagem de métodos produzidos mais para a realidade dos conservatórios do que para o aprendizado nas bandas (LIMA, 2000, p. 24).

Em outras situações, muitas músicas adaptadas ou arranjadas seguem algo pensado na facilidade que tais instrumentos poderiam ter na hora de executarem uma passagem ou trecho do naipe de cordas, e também pelo simples fato de a extensão do instrumento proporcionar certa semelhança com o instrumento da composição original. No Brasil, temos muitas obras compostas para banda de música, tais como o ritmo do dobrado8, tendo como compositores

músicos e maestros militares. Muitas dessas composições fazem homenagem a pessoas ligadas às instituições militares.

7 A banda sinfônica, também conhecida como banda de concerto, pode ser caracterizada por ser um grupo que se apresenta em locais apropriados, além disso utilizam em sua formação instrumentos que também estão presentes na orquestra, como contrabaixo, harpa e violoncelo. Sua apresentação requer que seja em um ambiente acústico próprio para “a apresentação do repertório de banda sinfônica” (FAGUNDES, 2010, p. 89).

Referências

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