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GT 14. "Guerra às Drogas" e políticas públicas: é proibido ter direitos OS JOVENS ALVOS DA VIOLÊNCIA: QUEM SÃO?

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GT 14. "Guerra às Drogas" e políticas públicas: é proibido ter direitos

“ OS JOVENS ALVOS DA VIOLÊNCIA: QUEM SÃO? ”

Martha Emanuela da Silva Figueiró Universidade Potiguar Ingrid Jordana Sousa Diniz

Universidade Potiguar Ana Luíza de Macêdo Norberto Universidade Potiguar

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Resumo

Com base nos dados do Mapa da Violência (2016), o Rio Grande do Norte ocupa o quarto lugar no ranking dos homicídios por arma de fogo no Brasil. Tal estatística aumentou drasticamente desde 2000, principalmente entre homens jovens e negros. Esses jovens alvos da violência têm cor, idade e endereço. No RN, 94,6% dos mortos são homens, 95,3% são jovens entre 15 e 29 anos, 52% são negros e pobres. Tais características não são apenas reflexo de uma realidade do nosso Estado, mas do Brasil como um todo. Parte desses jovens tem relação com o tráfico de drogas por alguns motivos, entre eles a manutenção do vício, e a coação. Não é o consumo das drogas por si só que estimula a violência, mas outras atribuições que essa forma de consumo traz. Para haver a manutenção do consumo é necessário que haja uma forma de pagamento, podendo ser em dinheiro ou através de prestação de serviço para o narcotráfico. A coação é utilizada pelos chefes do tráfico como forma de submeter à comunidade a participar de alguma forma da conservação do tráfico, sendo através da sedução e táticas de dominação pelo terror. Como bem sabemos a falta de infraestrutura das comunidades, a carência de políticas públicas direcionadas a essa parcela, faz com que, esses chefes acabem atuando como líderes de tal território, dessa forma, tornando esse espaço sede de todo o esquema do tráfico de drogas. As comunidades que vivem diante dessa realidade precisam de uma rede de cuidados e proteção que deveria ser provida pelo Estado, como forma de diminuir a força dos chefes do tráfico. Contudo o índice de violência só propende a aumentar devido à forma como o Estado pensa e atua frente à política de drogas do país, através da prevenção do uso e da coibição do comércio.

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Introdução

Atualmente há uma crescente discussão sobre o aumento da criminalização e encarceramento por tráfico de drogas no Brasil devido ao crescimento no número de jovens presos por tal crime, após a promulgação da Lei de Drogas nº 11.343/2006. Dessa forma, o presente artigo pretende elucidar a forma como esse processo de aprisionamento se dá mediante a lei, quais as outras esferas sociais que esse quadro atravessa e suas influências na sociedade.

Dentro deste cenário de violência o jovem negro, do sexo masculino e pobre representa o “modelo” de criminoso no imaginário da sociedade atual. Nesse seguimento de criminalização é notória a estruturação de uma sustentação legítima para o aumento de repressão e violência correspondente a estes jovens.

Nosso artigo está exatamente relacionado a realidade de tantas chances negadas a essa “população alvo” e o combate pela sua sobrevivência, que a situação desordenada e desgastada de vida e a indefensabilidade levaram até a criminalização: a criminalização dos excluídos. Zaffaroni (1991, p. 270) nos ajuda a compreensibilidade do assunto, quando diz que:

A posição ou estado de vulnerabilidade é predominantemente social e consiste no grau de risco ou perigo que a pessoa corre só por pertencer a uma classe, grupo, estrato social, minoria, etc., sempre mais ou menos amplo, como também por se encaixar em um estereótipo, devido às características que a pessoa recebeu.

Nesse contexto, para realizarmos essa pesquisa, utilizamos fontes de natureza bibliográfica apontando autores críticos sobre a criminalização das drogas, o encarceramento e os direitos humanos. Além disso, apresentaremos uma averiguação documental de órgãos oficiais a respeito da enunciação proposta, a fim de demonstrar que o uso de substâncias psicoativas não é o fator primordial no aumento da violência, mas acaba reverberando na condição fundamental para o aumento do encarceramento de jovens negros e pobres.

A Lei de Drogas e o Aumento da Criminalização

A nova Lei nº 11.343/2006 mais conhecida como a Lei de Drogas, tem por objetivo regular os meios para o combate às drogas. A referida lei afirma que há distinção entre traficantes de usuários de drogas, consequentemente, haveria formas de punição diferenciada. Para os que são apontados como traficantes a pena se torna mais severa, a depender da situação o acusado pode pegar de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos de reclusão.

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Aqueles que são apontados como usuários receberiam um tratamento diferenciado, como aponta o Art. 28. §1º:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

Com a criação dessa lei acreditava-se que poderia haver uma redução na população carcerária que responde por crimes relacionados à proibição das drogas, mesmo reiterando a perspectiva estereotipada do usuário ao colocá-lo a mercê de uma intervenção médica penal (OLIVEIRA & RIBEIRO, 2016). É notório que a política proibicionista é o destaque do nosso sistema penal, em razão de transformar o uso e a movimentação de drogas em uma questão substancialmente penal, ao invés de percebê-lo com um tema que está em consonância a questão social e às políticas de saúde.

Rodrigues (2008), aponta que o fenômeno do proibicionismo é recente na história da humanidade, ela vem sendo utilizada pelos Estados desde o final do século XIX como forma de controle social. Dessa forma, esse paradigma de domínio guiaria as políticas de drogas até os dias atuais se pautando, essencialmente, na repressão – estimulado por influência de âmbitos moralistas da sociedade.

O proibicionismo traz à tona a necessidade do Estado em controlar o sujeito e suas condutas, dessa forma, reduzindo a subjetividade do indivíduo e punindo-o através das leis penais. Segundo Karan (2010, p.1), podemos entender tal conceito como:

Um posicionamento ideológico, de fundo moral, que se traduz em ações políticas voltadas para a regulação de fenômenos, comportamentos ou produtos vistos como negativos, através de proibições estabelecidas notadamente com a intervenção do sistema penal – e, assim, com a criminalização de condutas através da edição de leis penais –, sem deixar espaço para as escolhas individuais, para o âmbito de liberdade de cada um, ainda quando os comportamentos regulados não impliquem em um dano ou em um perigo concreto de dano para terceiros. De acordo com o Levantamento de Informações Penitenciárias (INFOPEN), após 11 (onze) anos da promulgação da citada lei houve um aumento de 31 para 164 mil pessoas por narcotráfico no Brasil. Em dezembro de 2014 a população penitenciária chegou a 622.202 pessoas, desse total, 28% são jovens acusados por crime de tráfico. Além disso o

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perfil social desses sujeitos mostra que 61,6% são negros, 55% têm entre 18 e 29 anos e 75,08% possuem apenas o ensino fundamental completo.

De acordo com os dados apresentados é possível fazer então uma correlação entre o aumento do encarceramento dos jovens e problemática das drogas, e de como a política de proibicionismo reverbera na superlotação carcerária (CARVALHO apud OLIVEIRA & RIBEIRO, 2016).

Relação entre as Drogas e a Desigualdade Social

A desigualdade social acompanha a sociedade brasileira desde o seu reconhecimento como território. A organização das riquezas sempre foi pautada no monopólio de direitos, influenciando assim, na relação de poder entre os diferentes sujeitos sociais. Como bem sabemos, atualmente essa realidade não é diferente e ela influencia diretamente a forma como se concede o encarceramento dos nossos jovens.

Aquelas pessoas que são vistas como sujeitos usuários de drogas e, principalmente, imersas em diversas situações de vulnerabilidade, não têm seus direitos totalmente reconhecido pelo Estado. Na visão moralista da sociedade, esses jovens não se encaixariam no que é conhecido como “cidadão de bem”, mediante isso, eles não são dignos de gozar da sua autonomia e liberdade.

Segundo a pesquisa sobre a Mortandade da Juventude (2014), mostra que no município de Natal as pessoas que mais são vítimas de algum tipo de crime letal intencional são jovens entre 15 (quinze) e 24 (vinte e quatro) anos, negras e pardas, que moram na zona norte – essa área é onde encontramos os maiores níveis de vulnerabilidade da cidade, são bairros, em grande maioria, desassistido pelo o Estado e pelas políticas públicas, além disso, é a zona mais populosa da cidade de Natal. Só no ano de 2014 foram contabilizados 720 (setecentos e vinte) homens mortos dentro do perfil mencionado.

Os indicadores acima apresentados, concernentes à

concentração de renda e desigualdade social, em somatório a precários investimentos em políticas públicas, tem se mostrado diretamente relacionado ao quadro de violência urbana e de gênero, ao genocídio racial e juvenil, bem como ao considerado aumento de sujeitos que apresentam problemas em relação ao uso abusivo de álcool e outras drogas, além do tráfico existente, especialmente, em territórios pobres e invisibilizados em matéria de direitos humanos, porém visíveis no aspecto da coerção e opressão estatal. (COSTA & PAIVA, 2017)

Hoje, os jovens alvos do encarceramento por narcotráfico têm o mesmo perfil dos sujeitos vítimas de alguma violência, são os ditos “excluídos social”. Para a comunidade,

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assim como para o Estado, é mais natural associar a “culpa” da violência, da mortandade, dos aprisionamentos, nas substâncias psicoativas. Contudo, tal problemática é influenciada por fatores sociais, culturais que atravessam a sociedade brasileira desde o princípio. Se torna mais confortável culpabilizar as drogas e criar uma Lei penal para expor a sociedade que há um trabalho para que haja decremento na taxa de violência, do que ter consciência de reconhecer que o fator principal desta discursão é a desigualdade existente. Sai mais caro, a curto prazo, e tem uma repercussão mais demorada para o Estado fazer um trabalho efetivo de políticas públicas e cuidado dessas comunidades, do que o aprisionamento, já que seu efeito é imediato é passa uma falsa sensação de “trabalho feito”.

Considerações Finais

Portanto a partir do que se foi discutido neste trabalho, com bases nos dados coletados e o referencial teórico apresentado, podemos compreender que a questão da política proibicionista e a ”guerra às drogas”, é uma forma de controle social e de punição das classes mais vulneráveis. A problemática da criminalização não tem apenas uma restrita correlação com o uso ou venda das substancias psicoativas, mas sim, de uma desigualdade social constantemente sustentado na sociedade brasileira que reverbera no aumento do encarceramento dos jovens, se configurando em um quadro opressor e que afeta diretamente a vida desses sujeitos e da comunidade que eles se encontram.

Nesse contexto podemos observar que o proibicionismo tem criminalizado e encarcerado uma juventude negra e pobre, sem vínculos legítimos com organizações criminosas, apanhados muitas vezes desarmados e sozinhos, que acabam sendo enquadrados como traficantes (OLIVEIRA & RIBEIRO, 2016). É necessário compreender que a Lei de Drogas veio apenas para punir essa parcela da sociedade que se encontra privada de direitos e são marginalizados por sua cor e seu endereço.

Se não houver um real esforço por parte do Estado em cuidar dessas pessoas e de suas violações o número de encarceramento de jovens que hoje chega a 28% só vai alargar e aos poucos a juventude terá seus direitos enterrados com sua identidade. Dessa forma, precisamos compreender o que o território é atravessado por singularidades e necessidades daqueles que o compõe.

Isto posto, é necessário assegurar políticas públicas de qualidade, que não enxergue apenas um cuidado voltado para a saúde do sujeito, mas ações que promova e acolha as diversas demandas da comunidade e do indivíduo. Precisamos investir na assistência, educação, previdência. Esses investimentos previnem a longo prazo a barbárie social que hoje vivenciamos na sociedade brasileira.

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Referências

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OLIVEIRA, L.; RIBEIRO, L.. A CRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS COMO MOTOR DO (SUPER) ENCARCERAMENTO NACIONAL: UM OLHAR A PARTIR DOS DIREITOS HUMANOS. IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS DA UFPB. Brasil,

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