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Anais do VI Seminário Nacional Gênero e Práticas Culturais João Pessoa PB 22 a 24 de novembro 2017 ISSN

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POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE PARA A POPULAÇÃO LGBT: reconhecimento dos direitos da identidade de gênero e da orientação sexual no âmbito da saúde

brasileira

Ana Lúcia Tavares de Oliveira1 Josemar Elias da Silva Junior2 Universidade Federal da Paraíba 1 Introdução

Os debates acerca da sexualidade ganharam destaque nos últimos anos. Discutir a sexualidade no Brasil é uma questão necessária no contexto social e político, trata-se de um elemento fundamental, pois permeia toda a trajetória de um indivíduo, desde a sua relação interpessoal, como a forma de se ver, ser, e se apresentar para a sociedade. A sexualidade é constituída como pedra basilar para a construção da personalidade e da identidade, pois, interliga os níveis biológico, psicológico e social dos indivíduos. (ABDO; GUARIGLIA FILHO, 2004)

Neste viés, extrai-se que as manifestações da sexualidade, irão beber da fonte de muitos fatores no contexto social no qual os indivíduos estejam inseridos, ou seja, em seu desenvolvimento psicossocial o indivíduo irá expressar sua sexualidade observando os contatos sociais, culturais e históricos do seu meio, construindo assim o que é mais comumente tratado por identidade de gênero. Assim, infere-se que o gênero é uma construção social (SCOTT, 1995), constitutivo das relações sociais de homens e mulheres, haja vista que os desenhos para os papéis de homens e mulheres na sociedade, são construídos pela mesma.

O gênero é instituído a partir de símbolos, instituições e normas que estabelecem modelos do que é ser homem e do que é ser mulher. Sendo assim, o sistema sexo/gênero conduz a relações de poder (PISCITELLI, 2001), em um primeiro momento ao ditar os comportamentos masculino e feminino e em segundo momento ao promover de forma genérica as expressões da diversidade sexual dos indivíduos.

Nessa perspectiva, não podemos categorizar uma identidade de gênero como normal, como é o caso da heterossexualidade, em detrimento as outras expressões de gênero como

1 Especialista em Educação em Direitos Humanos pela UFPB. Graduada em Pedagogia pela UFPB. Mestranda

em Ciência da Informação - PGCI/UFPB.

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Graduado em Direito pela FESP - Faculdades. Mestrando em Ciência da Informação - PGCI/UFPB. Discente do curso de Arquivologia da UFPB.

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travesti e transexual. A categorização nega qualquer outro tipo de identidade seja ela, sexual, étnica, de classe ou de gênero como uma construção social, de caráter mutável e inacabado, ou seja, em constante modificação. (LOURO, 1998)

O estopim para as discussões de gênero ocorreu com o movimento feminista em 1912 na Alemanha, onde mulheres brancas da classe operária se viam reprimidas e silenciadas pela sociedade revestida do patriarcado (SAFFIOTI, 2011) e que colocava o homem como superior e dominante, inclusive nas relações de trabalho, onde as mulheres eram postas para exercer o trabalho braçal e homens em serviços administrativos. Desta forma, buscavam a legalização do direito ao voto para as mulheres como forma de se abrir os caminhos para outras consideráveis mudanças. Este episódio se chamou sufrágio universal (SOCOTT, 1989).

“Desde o início da década de 1980, assistimos, no Brasil, a um fortalecimento da luta pelos direitos humanos de gays, lésbicas, travestis, transgêneros e bissexuais (GLTB). Associações e grupos ativistas se multiplicam pelo País” (CONSELHO Nacional de Combate à Discriminação, 2004, p. 15). Isso se intensifica no âmbito da saúde, pois, tal população em face a sua identidade de gênero sofre diversos preconceitos e com isso restam por ter seu direito básico violado, o que vem consubstanciar a necessidade de se haver políticas públicas para dar apoio e respaldo legal a tal público. Os ativistas juntamente com a participação dos movimentos sociais são atores imprescindíveis no enfrentamento de todas as formas de preconceitos contra a população LGBT, inclusive na garantia da saúde integral e igualitária.

Na contemporaneidade surgem vários movimentos feministas na luta pelos direitos das mulheres, sobretudo, pela igualdade de gênero (DESCARRIES, 2002). Com o passar dos tempos, o termo mulheres foi substituído por gênero, este último por ser considerado um termo relacional (SCOTT, 1989), neutro e sem trazer uma carga política em sua pronúncia. A sua generalidade comtempla a ampla diversidade sexual presente no contexto social, desta forma, está inclusa neste limiar a população LGBT.

Buscando demonstrar a relevância das políticas públicas no reconhecimento dos direitos da identidade de gênero e da orientação sexual no âmbito da saúde, que no contexto brasileiro está amplamente pautada em três princípios: Integridade, Equidade e Universalidade. Unificando a esse fenômeno, uma política afirmativa, sobretudo, a democratização da saúde, surgem os seguintes questionamentos: A população LGBT usufrui de uma saúde pública universal? Identidade de gênero e orientação sexual são determinantes sociais na violação do direito à assistência a saúde da população LGBT? Qual a relevância da militância dos movimentos LGBT na criação, implantação e efetivação de políticas afirmativas em saúde para essa população.

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Neste limiar, aspirando encontrar respostas para tais questionamentos, o estudo buscará através de uma pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo, levantar discussões no tocante ao acesso da população LGBT ao Sistema Único de Saúde – SUS, compreendendo a questão de gênero e diversidade sexual como marcadores sociais que impactam diretamente no acesso e prestação de assistência a uma saúde humanizada e igualitária. Almejando ainda estabelecer um levantamento acerca dos marcos históricos legais das políticas públicas em saúde para a população LGBT.

2 Marcadores sociais e preconceitos com a população LGBT

A sociedade brasileira é permeada de diversidades e, em contrapartida de desigualdades sociais. As diferenças entre as pessoas são de natureza biológica e de caráter humano, exemplo, tonalidade da pele, gênero, tipo de cabelo, altura, geração, personalidade, nível de escolaridade, profissão, condição social entre outras características pessoais de cada ser humano (HEILBORN et al., 2005). Porém, as representações sociais da dominação são também de dimensão simbólica e inconsciente. (BOURDIEU, 2010)

Lobo (1992) alega que as relações sociais instituem as categorias da sociedade, enquanto a divisão sexual do trabalho é um locus essencial das relações que são estabelecidas entre homens e mulheres. Nessa perspectiva, temos uma relação, na maioria das vezes desigual entre homens, mulheres e as diversidades de gêneros, ainda pautada no conceito weberiano de patriarcalismo que “trata-se de um tipo de dominação em que o senhor é a lei e cujo domínio está referido ao espaço das comunidades domésticas ou formas sociais mais simples, tendo sua legitimidade garantida pela tradição”. (CASTRO; LAVINAS, 1992, p.237) O Brasil tem uma dívida social com a população negra, indígena, quilombola e também com a população LGBT, que no caso destas últimas, no contexto da sociedade heteronormativa, são consideradas as pessoas que “fogem às normas de gênero” (BENTO, 2006). O capitalismo busca legitimar as desigualdades sociais, contudo, na atualidade não vivemos apenas com esses conflitos, mas, também com os conflitos de gêneros e diversidades sexual. (MACHADO, 2000)

Mesmo diante das lutas dos/as ativistas, dos movimentos feministas e dos movimentos LGBT, que reivindicam igualdade de direitos e da liberdade de expressão da sexualidade, ainda convivemos em certa medida com a violação dos direitos básicos e fundamentais inclusive o direito a saúde integral desta população. Cotidianamente essa população ainda é vítima de agressões psicológicas, verbais e físicas, assinalando o distanciamento do cenário de

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igualdade de direitos, além disso, acentuando o preconceito e a exclusão social. (VALENTE, 2004)

O fato de uma pessoa declarar-se Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti, Transexual e Não-binário constitui motivo para serem colocadas à margem da sociedade, sem o apanágio de ter seus direitos garantidos. Mesmo esta população estando em todos os “ambientes”, exceto nos espaços de poder, salvo em raríssimas exceções, são invisíveis aos olhos da sociedade, configurada como heteronormativa em face a supremacia da onda de conservadorismo que nos assola. Entretanto, a população LGBT ao deter oportunidade de acesso às várias formas de conhecimento é capaz de exercer qualquer profissão, pois, possuem a mesma capacidade intelectual, quiçá maior, que uma pessoa que se enquadra nos padrões da heteronormatividade. (ARÁN; MURTA; LIONÇO, 2009)

Orientação sexual, gênero, raça/etnia, grau de escolaridade, condição de prostituição, situação de rua, posição profissional, baixo poder aquisitivo, localização territorial, sobretudo, em bairros periféricos são marcadores sociais que colocam a população LGBT em situação mais vulnerável em detrimento à parcela da população que se encontra nos padrões da “heteronormatividade” (SANTOS, 2007). Tais circunstâncias na perspectiva da ideologia dominante – frisa-se: não a ideologia que necessitamos - são determinantes para explicar as desigualdades e a legitimação das ações preconceituosas, que exclui a população LGBT dos seus direitos fundamentais, entre eles o direto a saúde. (OLIVEIRA, 2000)

Nos casos em que a população LGBT consegue um cargo de chefia, seja na esfera pública ou privada, na maioria das vezes, sua capacidade intelectual e profissional são subjugadas. Esta população é alvo de discriminação entre seus colegas de trabalho, e ainda são vítimas da “LGBTfobia: a lesbofobia, a homofobia, a transfobia e a bifobia” (PERES, 2013), comprometendo a saúde psicossocial sobretudo, dessa população.

Destacamos que situações de desigualdade e opressão são decorrentes de no mínimo cinco marcadores sociais, a saber: classe, gênero, geração, raça/etnia e de orientação sexual (BRASIL, 2013). Tanto a desigualdade, como a opressão e, no que se refere a orientação sexual acrescentamos as ações preconceituosas contra a comunidade LGBT, podem comprometer categoricamente a dignidade humana de todas as pessoas que estão inseridas em algum desses cinco marcadores sociais, e isso pode se refletir quando um LGBT está sendo submetido ao atendimento no serviço de saúde brasileiro, comprometendo o princípio da isonomia presente em nossa Carta Magna.

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Louro (1998, 2000), Oliveira (1998), Scott (1995) e Segato (1997), entendem que o conceito de gênero é relacional e político, independente do sexo, mas, que determina, os papéis que homens e mulheres exercem na sociedade, e que não se reduz à sexualidade.

Neste sentido, gênero

remete a todas as formas de construção social, cultural e linguísticas implicadas com processos que diferenciam mulheres de homens, incluindo aqueles processos que produzem seus corpos, distinguindo-os e nomeando-os como corpnomeando-os dotadnomeando-os de sexo, gênero e sexualidade (MEYER, 2004, p. 15).

A ideologia dominante de uma sociedade machista, sexista e heteronormativa, que busca justificar suas ações discriminatórias e preconceituosas pautada nesta ideologia, a qual não condiz com os preceitos assegurados no Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra LGBT e promoção da cidadania homossexual.

Nesse sentido, Abramovay, Castro e Silva (2004, p.29) afirmam que “A sexualidade é uma das dimensões do ser humano que envolve, gênero, identidade sexual, orientação sexual, erotismo, envolvimento emocional, amor e reprodução”, enquanto que a “identidade sexual é o sentimento de masculinidade ou feminilidade que acompanha a pessoa ao longo da vida”. No caso desta última, nem sempre está de acordo com o sexo biológico ou com a genitália da pessoa. E a orientação sexual “é a atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa sente pela outra”. (CONSELHO Nacional de Combate à Discriminação, 2004, p. 29)

Para Chaves (2012, p. 43), “a homossexualidade se consubstancia num modo de ser que não pode ser confundido com doença ou moléstia”, pois desde 1993 que a Classificação Internacional de Doenças - CID não considera a homossexualidade uma doença, compreendendo que os homossexuais são indivíduos que apresentam orientação sexual e afetiva por pessoas do mesmo sexo. Enquanto a pessoa bissexual se relaciona sexual e/ou afetivamente com o sexo que desejar.

O termo “lésbica” é empregado para nomear a homossexualidade feminina. Já a nomenclatura “transgêneros” é usada tanto para as travestis quanto para as transexuais, trata-se de um homem fisiologicamente falando, mas que não trata-se reconhece como tal, mas sim, como uma mulher ou vice-versa. Para Butler (2003), a identidade de gênero ‘trans’ não é expressão de uma performance, mas das construções sociais e históricas que assinalam a particularidade de pessoas que não se reconhecem no gênero masculino e feminino socialmente estabelecido. Neste sentido “o tornar-se mulher e tornar-se homem constitui obra das relações de gênero” (SAFFIOTI, 1992, p. 18). De acordo com Brasil (2009, p. 80) “[...] a

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travesti não é masculino nem feminino: é travesti”, e para o movimento LGBT trata-se de um conceito que ainda encontra-se em processo de construção.

3 Políticas públicas em saúde e os principais marcos legais

Por muitos anos a homossexualidade foi associada a um quadro de doença ou distúrbio mental, bem como estigmatizada com a AIDS, regulamentada no manual de perturbações mentais da Associação Americana de Psiquiatria em 1973, como também na lista de doenças mentais da Classificação Internacional de Doenças - CID da Organização Mundial de Saúde, felizmente, esse quadro foi revertido e se considera o estopim para os avanços legais na área da saúde para esse público.

Lionço (2009, p. 52) pontua este processo, afirmando que, em síntese

A retirada do termo homossexualismo do Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana, na década de 80, que se desdobrou, na década de 90, na retirada do mesmo termo da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde da Organização Mundial da Saúde (CID/ OMS), se sustentou na afirmação de que a homossexualidade não seria patológica.

Entretanto, “ainda persiste, nos setores conservadores da sociedade, a associação das orientações sexo-diversos à patologização desses sujeitos, por entenderem não serem condutas “naturais”, a partir de uma heterossexualidade compulsória hegemônica”. (DUARTE, 2014, p.82). Desta forma, quando do atendimento a/ao paciente LGBT, este ainda enfrenta a carga de preconceito, sendo vista/o como “doente”, em face de sua não adequação sexual à heteronormatividade, e muitas vezes seu quadro clínico é relacionado à sua orientação sexual ou identidade de gênero. Trajetória semelhante dos homossexuais, que nos anos 80, são considerados majoritariamente grupos de risco na transmissão da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, conhecida popularmente como AIDS.

Tendo em vista o panorama de discriminação e violência sofrida pela população LGBT, é de se frisar que “Serviços de saúde devem estar diretamente envolvidos na resposta à violência homofóbica existente no Brasil, uma vez que acolhem – com mais ou menos qualidade – vítimas desta mesma violência de grande magnitude”. (BITTENCOURT; FONSECA; SEGUNDO, 2015, p. 62)

Outrossim, embora os entraves enfrentados pela população LGBT, há de se considerar que no decorrer das lutas e militâncias, algumas vitórias foram conquistadas na esfera da saúde, como é o caso da aprovação pelo Ministério da Saúde da Política Nacional de Saúde

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Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que na sua elaboração conta com a presença dos princípios e diretrizes do SUS, assim como as diretrizes do programa “Brasil sem Homofobia” – proposto em 2004 pelo governo federal com a participação da sociedade civil, que buscava entre outras coisas subverter a discriminação através das políticas públicas, programas e ações, além de promover a cidadania homossexual (BRASIL, 2004). Frisa-se que o objetivo da Política Nacional de Saúde Integral para a população LGBT é propor a equidade no serviço público de saúde, desde o acesso até o efetivo atendimento.

Outro marco legal importantíssimo para a população LGBT, em especial aos transexuais, foi a Resolução nº 1.652/02 aprovada pelo Conselho Federal de Medicina, que “Dispõe sobre a cirurgia de transgenitalismo e revoga a Resolução CFM nº 1.482/97”. Tal resolução visa contemplar as pessoas que possuem comprovadamente o diagnóstico de transexualismo o direito de alterar suas características sexuais secundárias, conforme dispõe nos seus artigos:

Art. 1º Autorizar a cirurgia de transgenitalização do tipo neocolpovulvoplastia e/ou procedimentos complementares sobre gônadas e caracteres sexuais secundários como tratamento dos casos de transexualismo. Art. 2º Autorizar, ainda a título experimental, a realização de cirurgia do tipo neofaloplastia e/ou procedimentos complementares sobre gônadas e caracteres sexuais secundários como tratamento dos casos de transexualismo.

Tal iniciativa é de extrema importância, uma vez que reduz significativamente a procura por parte das travestis, na tentativa de se realizar uma readequação corporal, da rede ilegal para procedimentos como a aplicação de silicone industrial e uso indiscriminado de hormônios, procedimentos estes que podem causar danos irreversíveis. (CARDOSO; FERRO, 2012)

A criação do SUS foi regulamentada na forma da Lei nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências”, e também da Lei nº. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que “dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências”. Embora a conquista advinda com a criação e implantação do SUS e dos avanços que ele proporcionou à população num contexto geral, sob uma perspectiva estrutural há de se considerar que alguns obstáculos precisam ser superados para que se consiga prestar um serviço de saúde integral e universal para todas as pessoas de forma igualitária e humanizada.

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Atualmente, a crescente obtenção de direitos por parte da comunidade LGBT e o inegável aumento da visibilidade dessa população poderão fazer pensar que o preconceito e a discriminação em razão da orientação sexual e da identidade de gênero já não mais se constituem expressões da questão social. Contudo, a realidade é bem diferente, cruel, perversa e grave quanto à existência de preconceito e discriminação em setores da sociedade civil, levando esses sujeitos à morte, e, em particular, em determinadas instituições sociais que envolvem mediações das políticas públicas e direitos humanos.

Para o Ministério da Saúde, todas as formas de discriminação, a exemplo da homofobia, “devem ser consideradas como fatores impulsionadores na produção de doenças e sofrimento”. Todavia, diante deste fator discriminatório, outros devem ser levados em conta, tais como a falta de alimentação, o desemprego e racismo, como subsídio para se alavancar o processo de adoecimento dessa população. (BRASIL, 2008a, p. 570)

No entendimento de Miller (2002), ao pensar acerca do profissional da saúde e o contexto social, o mesmo considera que se deve haver uma postura reflexiva diante dos padrões heterossexuais arraigados socialmente, uma vez que auxilia na prevenção à discriminação. O autor afirma reiteradamente o fato urgente de se pensar ações no tocante a formação do profissional em saúde para práticas que atendam efetivamente a demanda da população LGBT, compreendendo suas especificidades e necessidades.

Desta forma, é preciso ainda fomentar e buscar a efetivação das políticas públicas no âmbito da saúde para a população LGBT, e para tal, os movimentos sociais precisam intensificar ainda mais a militância, pois, embora tenhamos alguns avanços consideráveis, o acesso à saúde pode até estar sendo pensado de forma universal e integral, contudo, a realidade das práticas nas instituições de saúde ainda encontramos muitos entraves, principalmente em relação ao preconceito e a discriminação acerca da orientação sexual. 4 Conclusão

Com a leitura deste artigo podemos inferir que o Brasil ainda apresenta um quadro de violação dos direitos humanos LGBT. Mesmo diante dos esforços de gestores/as, do controle social dos membros dos Conselhos de Saúde, reivindicação das/os ativistas, do movimento LGBT e também dos movimentos feministas, os programas governamentais e as políticas públicas, especialmente, a Política de Saúde Integral da População LGBT, são fragmentadas e, em certa medida não são efetivadas na sua integridade, desconsiderando na maioria das vezes as reais necessidades dessa população.

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Discorrer sobre estas questões é refletir sobre desenvolvimento humano e direitos humanos. A não efetivação das políticas públicas, tende a comprometer a garantia dos direitos básicos e fundamentais de todas e todos. Para que o Brasil democratize a saúde pública, de forma que a população LGBT tenha acesso a saúde integral nas unidades de saúde, nos ambulatórios e hospitais, ou seja, nos serviços da atenção básica, média e alta complexidade em saúde. Para que então, seja garantido as especificidades da saúde integral da população LGBT, inclusive a terapia hormonal e o procedimento cirúrgico para mudança de sexo.

A discussão acerca da sexualidade dos indivíduos ainda é considerada um tabu na sociedade contemporânea. E quando partimos para as especificidades desta temática, tais como, as identidades de gênero e sexual, tais categorias ainda são vistas com olhos tortuosos, haja vista o forte teor discriminatório e preconceituoso que alimenta a sociedade de uma forma geral.

Em face a este panorama, identificamos a necessidade de se haverem mais pesquisas e produções científicas em torno desta temática, como forma de proporcionar maior visibilidade à causa buscando dirimir as desigualdades sociais, e que aprofundem os aspectos da efetivação do direito de acesso a saúde pública da população LGBT.

Referências

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