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A HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA E ANTIGA Karl Josef Romer 2014

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A HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA E ANTIGA

Karl Josef Romer – 2014

Tema 18

IX. O CISMA DO OCIDENTE (1378-1417)

1) A imposição do Cisma

Gregório XI (1370-78) tinha voltado a Roma como um santo. Mas a Cúria, em Roma, continuou no espírito e com os abusos de Avignon. Com a eleição do sucessor de Gregório XI, inicia-se a crise mais violenta que jamais caiu sobre a Igreja: o Cisma. A luta contra o Islã e a reforma interna da Igreja foram vencidas pelas lutas internas, oriundas, em parte das perturbações do século XIV.

Uma semana antes da morte, Gregório XI tinha formulado normas para o próximo conclave. Toda eleição, mesmo realizada sob condições extraordinárias, deve ser considerada válida, desde que ela tenha a maioria dos votos dos Cardeais. Dos 23 Cardeais, 16 estavam em Roma, dos quais somente 4 eram italianos. Os outros doze, com exceção de um espanhol, eram todos franceses. Mas não havia união entre os franceses: os cardeais da região de Limousin, da qual tinham sido os últimos quatro Papas, queriam outro candidato da mesma região, dois franceses estavam sem opinião clara e quatro, sob a direção do Cardeal Roberto de Genebra. No dia 7 de abril começou o Conclave, enquanto o povo em tempestade de sentimentos pedia um Papa romano ou pelo menos italiano. Finalmente, os Cardeais concordaram no nome do Arcebispo de Bari, Bartolomeo Prignano, súdito da rainha de Nápoles, parenta da família real da França. (Ele tinha vivido certo tempo em Avignon). A eleição teve o apoio de Roberto de Genebra (posteriormente anti-papa Clemente VII) e de Pedro Luna (posteriormente anti-papa Bento XIII).

Como o povo não quereria um semi-italiano (semi-francês), o Cardeal Orsini apresentou-se ao povo: “Vós tendes um Papa”. Mas não falou o nome. Chegaram ao povo, porém, suspeitas e insinuações. O povo tomou de assalto o

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palácio papal. A eleição era válida, não podia ser mudada. Os Cardeais, com medo de morte, não ousavam anunciar o nome do eleito. No desespero, encenaram uma posse solene. Colocaram no trono papal, contra a vontade dele, o Cardeal muito ancião Tebaldeschi, que era romano; vestiram-no com o manto papal e o entronizaram (falsamente). O povo, encantado, já não ouvia mais os gritos do ancião: “Eu não sou o Papa, é um outro!” O povo começou a cantar o Te Deum e os Cardeais, por uma porta secundária, fugiram.

Quando, aos poucos, a verdade ficou conhecida, o povo aceitou o verdadeiro Papa. Os Cardeais, alguns dias depois, voltaram e começaram a prestar sua veneração ao Papa. Urbano VI (1378-1389) foi coroado solenemente na Páscoa de 1378 (8 de abril).

Circunstâncias infelizes. O Papa Urbano VI, em si de grande capacidade, era de caráter bem difícil. Sua autoconsciência não só não aceitava oposições mas também nem mesmo conselhos. Irritava-se veementemente e não duvidava de agredir, sem nenhuma consideração, pessoas de alta posição e dignidade. Tentou iniciar a reforma no seu contexto mais próximo. Em lugar de identificar os males e as virtudes, ele era capaz de gritar insultos direto a pessoas presentes. Após uma pregação, passando perto dos cardeais, ele parou e dirigiu a uns cardeais os mais duros insultos. As advertências de Santa Catarina de Sena, ele não queria ouvir. Sob a direção de Roberto de Genebra organizou-se a resistência e argumentou-se que a eleição de Urbano VI era inválida, porque tinha sido feita sob veementes pressões das circunstâncias. No dia 2 de agosto eles dirigiam ao Papa a exigência de sua renúncia e no dia 9 de agosto publicavam um manifesto apaixonado declarando nula a eleição e a vacância da sede apostólica.

Os Cardeais revoltosos reuniram-se e, não sem influência do Rei Carlos V da França, que desejava a volta do Papa a Avignon, escolheram como novo Papa Roberto de Genebra, com o nome de Clemente VII (1378-1394).

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Surgiu a ideia de convocar um Concílio independentemente dos dois Papas (com a teoria do “conciliarismo”: acima do Papa estaria o concílio ecumênico).

Após a morte de Urbano VI (1389), sucedeu-lhe Bonifácio IX (1389-1404), Inocêncio VII (1404-1406) e Gregório XII (1406-1415). Em Avignon, após a morte de Clemente VII (1394), foi eleito Bento XIII (1394-1422).

A Universidade de Paris, de grande influência sobre a opinião eclesiástica na França, declarou no dia 1º de setembro de 1403, que reassumiria a obediência a Bento XIII se ele convocasse dentro de um ano um Concílio universal. A teimosa obstinação de Bento não se deixou mover.

Quando o Rei francês Carlos VI se distanciou totalmente de Bento XIII, a maioria dos cardeais fiéis a Gregório XII separou-se dele e se uniu a Bento XIII para, com ele, convocar um Concílio universal. Com isto, o Cisma entrou em

uma fase nova.

3) Três Papas: O CONCÍLIO DE PISA (1409)

Não obstante os protestos formais de Bento XIII e Gregório XII, os cardeais sozinhos convocaram um Concílio. (Cada um dos dois Papas convocou também os seu Concílio). O Concílio dos Cardeais foi aberto no dia 25 de março de 1409, com 24 Cardeais, 80 Bispos, mais de 100 representantes de Bispos ausentes, representantes de Universidades, etc.

Em 26 de junho de 1409, foi eleito o manso e pacífico Cardeal de Milão, como Alexandre V. Agora, a cristandade tinha três Papas. Além do recentemente e invalidamente eleito Alexandre V, também Gregório XII e Bento XIII. Mas Alexandre V morreu já em 3 de maio de 1410.

ROMA AVIGNON Urbano VI (1378-89) Bonifácio IX (1389-1404) Inocêncio VII (1404-1406) Clemente VII (1378-1394) Bento XIII (1394-1422) No 28 de julho de 1398, um sínodo nacional francês negou-lhe a obediência, a

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Gregório* XII (1406-1417)

No Conclave de 1406, foi combinado que o novo Papa (Gregório XII) renunciaria ao múnus, se o anti-papa Bento o também fizesse.

Alexandre V, (1409-10)

(Pisa)

João XXIII 1410 (Pisa)

região provençal fez o mesmo, também a Castilha, Navarra e Nápoles – um exército francês o manteve preso durante 4 anos. Ele não cedeu.

Já no dia 17 de maio do mesmo ano 1410, foi “eleito” o Cardeal Balthasar Cossa, vaidoso, astuto e, segundo as palavras do Santo Antonin, “tão experto em coisas mundanas como ignorante em coisas espirituais”. Ele tomou o nome de João XXIII. No dia 24 de maio, foi ordenado sacerdote. No dia seguinte, teve lugar a (consagração e) coroação como Papa novo. Homem de alta capacidade de organização, mas sem espiritualidade, não se interessava pela reforma da Igreja.

O novo rei da Alemanha Sigismundo (de Luxemburgo) ofereceu toda ajuda para recuperar a unidade. Pediu ao “Papa” João XXIII que convocasse um Concílio. Este concordou, mesmo que fosse em terra alemã.

4) O CONCÍLIO DE CONSTANÇA (1415)

4.1 O Imperador Sigismundo: Ele anunciou (em 1413) o novo Concílio; convidou também o Papa de Roma Gregório XII e o de Avignon Bento XIII. João XXIII lançou em dezembro 1413 a bula de convocação.

Compareceram representantes dos reis da França, da Inglaterra, da Escócia, da Polônia, da Suécia, Dinamarca, Noruega, Nápoles e Sicília; mais tarde chegou também o representante do rei da Espanha. João XXIII apareceu com um séquito de seiscentas pessoas. Estavam presentes 5 Patriarcas, 33 Cardeais, 47 Arcebispos, 145 Bispos, 93 Bispos auxiliares e mais de 500 príncipes , 2000 representantes de 37 Universidades e 5300 sacerdotes e alunos. Segundo os cálculos do cronista de Constança estavam presentes mais do que 72.000 hóspedes. Contra a tradição, o direito de voto foi dado não só aos Bispos, mas também a todos os doutores de teologia, de direito canônico e mesmo civil, e isto mesmo em questões de fé.

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4.2 João XXIII percebeu rapidamente que sua pessoa tinha pouco peso; sentiu-se preterido. Quando soube de um panfleto que revelava a sua vida anterior bastante escandalosa, ele se viu perdido. Na noite de 20 a 21 de março de 1415, fugiu, disfarçado de vigilante com uma “besta” (balestra). O príncipe Frederico o protegia assumindo-o no seu séquito.

4.3 A difícil vitória em Constança O Concílio declarou sua superioridade sobre o Papa, denunciou a gravíssima imoralidade de João XXIII e o declarou deposto.

A situação difícil do Concílio de Constança, sua falta de legitimidade, encontrou uma solução pela iniciativa de Gregório XII, o único Papa legítimo. Este, de Rimini, enviou o dominicano Giovanni Dominici como legado para Constança, para que, em nome de Gregório XII, convocasse o Concílio e pronunciasse a livre e espontânea renúncia do Papa autêntico, Gregório XII. (Gregório foi então nomeado Cardeal-Bispo de Porto; mas morreu já no dia 18 de outubro de 1417). Com isto, o Concílio tinha toda a sua legitimidade e a sede papal estava realmente livre. Os representantes do conciliarismo aceitavam mais exteriormente a convocação pelo Papa Gregório. Mas com isto era evidente que todas as decisões anteriores do Concílio eram nulas.

A causa de Bento XIII, apoiado por seguidores da França do Sul e da Espanha, em Avignon, demorou ainda. Sigismundo assumiu contato com o rei de Aragon. Quando Bento entrou em briga com seus seguidores, muitos franceses e espanhóis chegaram ao Concílio. O Concílio declarou Bento XIII cismático e herético e o declarou deposto.

Em outubro de 1417, o Concílio divulgou 5 grandes decretos sobre a reforma. E o novo Papa teria que assumir tal reforma.

4.4 O Papa Martinho V No dia 11 de novembro de 1417, o Cardeal-Diácono

Otto Colonna foi eleito Papa e tomou o nome de Martinho V (1417-31).

Finalmente, após 39 anos de divisão e confusão, a Igreja tinha de novo uma cabeça reconhecida por todos. Martinho, descendente de uma das mais ilustres famílias italianas, e conhecido pela austeridade de seus costumes, por sua erudição e por sua nobreza serena, gozava da mais alta estima.

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Ele não aprovou formalmente os Decretos do Concílio, porque a maioria dos presentes, pensando “conciliarmente”, não o teria aceitado. Apesar disso, o Papa condenou indiretamente a teoria “conciliar”, proibindo expressamente a apelação do Papa ao Concílio. Na presença do Imperador e dos representantes de todas as nações, ele foi coroado no Domo de Constança. O Imperador Sigismundo teria desejado que o Papa escolhesse como residência uma cidade alemã. E os franceses ainda não tinham perdido seu orgulho por ter um Papa em Avignon. Todavia, Martinho V, conhecendo as dificuldades e rivalidades na Itália, somente no dia 29 de setembro de 1420 pôde entrar em Roma.

F. Gregorovius1, Geschichte der Stadt Rom im Mittelalter, Bd. 6³, Leipzig 1878-1880, p. 620, embora fosse por princípio contra o Papado, escreveu: “Qualquer império deste mundo teria encontrado sua destruição definitiva; mas tão maravilhosa era a organização do Império espiritual e tão indestrutível a ideia do Papado mesmo que esse mais profundo cisma não fez mais do que provar sua indivisibilidade”2

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X NOVA ÉPOCA, NOVOS DESAFIOS, NOVAS ESPERANÇAS

De um lado, já era passado o tempo em que Papa e Imperador reinavam sobre toda a cristandade.

Os Estados nacionais estavam em plena evolução (França, Espanha, Alemanha, mas Itália ainda não). Destarte já não bastava a concordância entre essas duas autoridades supremas. Era absolutamente necessário que o Papa tratasse com os príncipes nacionais. A autonomia dos Estados já era fato consumado. O Papa, cabeça universal da Igreja, tinha que constituir relacionamentos estáveis com as Igrejas “nacionais” e com suas respectivas

1 Segundo LThK² 4, 1215s diz que a obras de Gregorovius Ferdinand (1821-1891) é até hoje não

superada. “É uma obra literária de alta arte, na base de suas fontes, mas é concebido em espírito protestante liberal”

2 Citado em G. Castella, Papstgeschichte, I, 348. Aliás, na porta central da entrada em São Pedro,

transferida para dentro da nova Basílica, feita por Martinho V, vemos, além do signo da família Colonna, a bela imagem em que o Papa recebe a chave diretamente da mão de Jesus Cristo e não do Concílio.

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autoridades civis. Conseqüência disso era uma relativa impossibilidade de o Papa assumir, em pessoa, a renovação “na cabeça e nos membros da Igreja”.

Ao mesmo tempo, a maioria dos participantes do Concílio de Constança continuavam pensando em categorias “conciliares”. Não esperavam do Papa propriamente uma renovação espiritual da Igreja, mas uma mudança profunda da estrutura básica da Igreja.

Coincide com isto o tempo da renascença que caracterizava a cultura e a vida da sociedade italiana e europeia. O humanismo cultivava a “bela literatura” antiga pagã. Nascia uma insaciável sede desta “modernidade”, isto é, da Renascença, que consistia essencialmente na volta à bela literatura da Antigüidade pagã. A cultura ocidental tirou grande proveito dessa tendência, mas para o Papa, e para os profundos interesses da Igreja e do Evangelho, isto era senão funesto sob não poucos aspectos, pelo menos muito ambíguo.

Na cúria romana predominava o espírito da renascença. Mas, enquanto muitos bons esperavam a mudança para melhor de um Concílio, o Papa tinha medo das tendências do conciliarismo e já nem queria ouvir a palavra “Concílio”. Ele bem entendia que o caráter monárquico da Igreja devia se abrir para uma estrutura formalmente constitucional.3

Além da mundanização do Vaticano no final do séc. 15 e início do séc. 16, a falta de renovação profunda do povo de Deus, do Clero e da unidade dos Bispos na Alemanha entre si, com o evangelho e com o Papa, levaram a conseqüências funestas na revolta de Lutero que não conseguiu uma renovação nem uma autêntica reforma, mas – o que no início ele não queria – uma divisão de difícil superação.

3 O Concilio Vaticano II (1962-5) chegará a formular, de modo claro, sábio e incisivo, que o Bispo, é em

nome de Cristo, sucessor do s apóstolos, embora isto não diminua em nada o poder supremo do Papa também dentro de uma diocese. “O Romano Pontífice, em virtude do seu múnus de Vigário de Cristo e Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode sempre livremente exercer este seu poder. Mas a Ordem dos bispos, que sucede ao Colégio Apostólico no magistério e no regime pastoral e na qual em verdade o Corpo Apostólico continuamente perdura, junto com seu chefe, o Romano Pontífice e nunca sem ele, é também detentora do poder supremo e pleno sobre a Igreja inteira” (LG 22.2; cf. LG 20.3; 22.2). E o Bispo não é só um representante do Papa, mas, sem em nada diminuir o Múnus supremo do Papa, “os Bispos – como vigários e legados de Cristo – governam as Igrejas particulares que lhes foram confiadas... também com autoridade e com sacro poder... Este poder que eles pessoalmente exercem em nome de Cristo é próprio, ordinário e imediato, embora seu exercício seja em última instância regido pela autoridade suprema e possa ter certos limites segundo a utilidade da Igreja ou dos fieis” (LG 27.1).

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