CLÍNICA
MÉDICA
Autoria e colaboração
INFECTOLOGIA
Durval Alex Gomes e Costa
Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Especialista em Infectologia pelo Hospital Heliópolis. Doutor em Doenças Infecciosas pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Médico in-fectologista do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Estadual Mário Covas, Santo André. Médico infectologista do Serviço de Moléstias Infecciosas do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.
Carolina dos Santos Lázari
Graduada em Medicina pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialista em Infectologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Ex-preceptora do Programa de Residência Médica em Infectologia da FMUSP. Médica infectologista do Serviço de Extensão ao Atendimento a Pa-cientes com HIV/AIDS da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do HC-FMUSP no período de 2006 a 2012. Médica assistente da Enfermaria da mesma Divisão.
Carolina Luisa Alves Barbieri
Graduada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto (FMUSP-RP). Especialista em Pediatria e em Infectologia Pediátrica pela FMUSP.
Ralcyon F. A. Teixeira
Graduado pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Especialista em Infectologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Mé-dico assistente do Hospital Universitário (HMCP) da PUC-Campinas. MéMé-dico Infectologista do Hospital Sírio-Libanês. Maria Daniela Di Dea Bergamasco
Graduada em Medicina e especialista em Infectologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestranda na UNIFESP, fazendo parte do Grupo de Infecções em Onco-Hematologia e Transplante de Medula Óssea da Disci-plina de Infectologia.
Rodrigo Antônio Brandão Neto
Graduado pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Especialista em Clínica Médica, em Emergências Clínicas e em Endocrinologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), onde é médico assistente da disciplina de Emergências Clínicas.
Atualização 2016
Durval Alex Gomes e CostaAssessoria didática
Natália Varago FranchiosiApresentação
O estudante de Medicina, pela área escolhida considerado um apaixonado por desafios, depois de anos submetido a aulas teóricas e plantões em di-versos blocos deve enfrentar uma maratona ainda maior: a escolha de uma especialização, sobretudo se esta exige pré-requisito, seguida da conquista do ingresso em um centro e programa de Residência Médica de renome. Mas isso só é possível com o auxílio de um material didático prático, bem estruturado e preparado por quem é especialista no assunto, e a Coleção R3, da qual fazem parte 8 volumes só de Clínica Médica, foi desenvolvida nesse contexto. Os capítulos baseiam-se em temas recorrentes nas provas dos principais concursos do Brasil, com pré-requisito em Clínica Médica, ao passo que os casos clínicos e as questões são comentados a fim de oferecer a interpretação mais segura possível de cada resposta.
Índice
Capítulo 1 - Pneumonia adquirida na
comunidade ...19 1. Introdução e definições ...20 2. Etiologia ... 23 3. Diagnóstico ...30 4. Tratamento ... 38 5. Profilaxia ... 43 Resumo ...44
Capítulo 2 - Patogênese do HIV e AIDS ... 45
1. Introdução ...46
2. Conhecendo o vírus ...46
3. Epidemiologia ... 49
4. Patogênese ... 49
Resumo ... 54
Capítulo 3 - Infecção pelo HIV e AIDS ...55
1. Tipos de infecção ... 56
2. HIV agudo – síndrome do HIV agudo ... 56
3. Diagnóstico ... 59
Resumo ...64
Capítulo 4 - Manifestações oportunistas na AIDS ... 65
1. Doenças oportunistas ... 66
2. Doenças oportunistas específicas ...67
3. Sistemas nervosos central e periférico ...68
4. Doenças pulmonares associadas ao HIV ...77
5. Doenças gastrintestinais associadas ao HIV ...88
6. Manifestações dermatológicas ... 92
7. Lesões oculares associadas ao HIV...94
8. Outros órgãos acometidos ... 96
Resumo ... 98
Capítulo 5 - Tratamento da AIDS ... 99
1. Tratamento antirretroviral ...100
2. Síndrome de reconstituição imune ...110
3. HIV e transmissão vertical ...111
4. Profilaxias no HIV ... 115
5. E a cura? ... 115
Resumo ... 116
Capítulo 6 - Hepatites virais ... 117
1. Introdução ...118 2. Hepatite A ...118 3. Hepatite B ...123 4. Hepatite C ...135 5. Hepatite D ...143 6. Hepatite E ...144 7. Em gestantes ...144 Resumo ... 146
Capítulo 7 - Doenças sexualmente transmissíveis ...147 1. Sífilis adquirida ...148 2. Cancro mole ...157 3. Uretrite gonocócica ...159 4. Linfogranuloma venéreo ...162 5. Donovanose ...163 6. Herpes genital ...165 7. Infecção pelo HPV ...167 8. Abordagem sindrômica ... 168 Resumo ... 171
Capítulo 8 - Infecção hospitalar ...173
1. Introdução ...174
2. Infecção do trato urinário ...174
3. Pneumonia hospitalar ...180
4. Infecção relacionada a cateteres venosos ... 189
Resumo ...195
Capítulo 9 - Tuberculose ...197
1. Epidemiologia ... 198
2. Fisiopatologia ... 200
3. Apresentação clínica ...202
4. Procura de casos – “busca ativa” ...207
5. Tratamento ... 214 6. Efeitos colaterais ... 218 7. Situações especiais ...220 8. Seguimento ...226 9. Prevenção ...226 Resumo ...230 Capítulo 10 - Hanseníase ...231 1. Introdução ...232 2. Histórico ...234 3. Agente etiológico ... 235
4. Imunopatogenia e fatores genéticos ...236
5. Classificação ... 237
6. Diagnóstico ...240
7. Tratamento ...242
8. Estados reacionais ...244
9. Prevenção e vigilância epidemiológica ...246
10. Hanseníase e gravidez ...246 Resumo ... 247 Capítulo 11 - Paracoccidioidomicose ... 249 1. Introdução ...250 2. Mecanismo de infecção ...251 3. Diagnóstico ...256 4. Tratamento ... 257 Resumo ...259
Capítulo 12 - Doença de Chagas ...261
1. Introdução ...262
2. Conhecendo o T. cruzi e o ciclo da doença ...263
3. Fisiopatologia da infecção e formas clínicas ...264
4. Diagnóstico ...268
5. Tratamento ...270
6. Prevenção de novos casos ...271
Resumo ... 272 Capítulo 13 - Dengue ... 273 1. Etiologia ... 274 2. Transmissão ... 274 3. Epidemiologia ... 275 4. Fisiopatogenia ... 277
5. Quadro clínico e classificação ...279
6. Avaliação laboratorial e diagnóstico ...283
7. Tratamento ...284
8. Prevenção ...287
9. Outras arboviroses de importância crescente no Brasil ...288 Resumo ... 291 Capítulo 14 - Ebola ... 293 1. Introdução ...294 2. Conhecendo o vírus ...295 3. Período de transmissão ...296
4. Ciclo de ação e fisiopatologia ...296
5. Sinais e sintomas...297
6. Diagnóstico ...298
7. Tratamento ...298
8. Profilaxia de novos casos e vacina ...298
Resumo ... 300
Capítulo 15 - Infecção pelo vírus influenza pandêmico ... 301 1. Introdução ...302 2. Histórico ...302 3. Patogênese e transmissão ...303 4. Quadro clínico ...305 5. Diagnóstico laboratorial ...306 6. Diagnóstico diferencial ...307
7. Tratamento e quimioprofilaxia antiviral ...307
8. Indicações de internação hospitalar ...309
Resumo ...312
Capítulo 16 - Febre amarela ...313
1. Icterícias febris ... 314
2. Epidemiologia... 314
3. Ciclo da doença e fisiopatologia ...316
4. Quadro clínico ... 318 5. Diagnóstico ... 318 6. Tratamento ...319 7. Profilaxia ...319 Resumo ...321 Capítulo 17 - Malária ... 323 1. Introdução ...324
2. Ciclo de vida e fisiopatologia ...326
3. Quadro clínico ...328 4. Diagnóstico ...331 5. Tratamento ... 332 6. Profilaxia e vacina ... 337 Resumo ...338 Capítulo 18 - Leptospirose ... 339 1. Introdução ... 340
2. Ciclo de vida e fisiopatologia ... 340
3. Quadro clínico e formas ...342
4. Diagnóstico ...345
5. Tratamento ...346
6. Profilaxia e medidas de controle ...347
Resumo ...348
Capítulo 19 - Febre tifoide ...349
1. Introdução ...350 2. Ciclo e transmissão ...351 3. Quadro clínico ...351 4. Diagnóstico ... 352 5. Tratamento ... 353 6. Profilaxia ...354 Resumo ...354 Capítulo 20 - Hepatoesplenomegalias crônicas ... 355 1. Introdução ...356 2. Leishmaniose visceral ...356 3. Esquistossomose ...363 Resumo ...370
Capítulo 21 - Síndrome da mononucleose infecciosa ...371 1. Introdução ... 372 2. Epidemiologia ... 372 3. Virologia e fisiopatologia ... 372 4. Manifestações clínicas ... 374 5. Complicações ... 376 6. Diagnóstico ...378 7. Tratamento ...378 Resumo ... 380 Capítulo 22 - Citomegalovírus ...381 1. Introdução ...382 2. Infecção aguda ...383 3. Infecção em AIDS ...384 4. Infecção em transplantados ...385 5. Infecção congênita...388 6. Tratamento ...388 Resumo ...390
Capítulo 23 - Toxoplasmose ...391
1. Introdução ...392
2. Etiologia e transmissão ...392
3. Imunocompetentes ... 393
4. Imunossuprimidos ...394
5. Pacientes com AIDS ...396
6. Toxoplasmose ocular em imunocompetentes .. 397
7. Toxoplasmose congênita ...398
8. Diagnóstico ...399
9. Tratamento ...401
Resumo ...403
Capítulo 24 - Endocardite infecciosa ...405
1. Introdução ... 406
2. Importância do agente etiológico ...407
3. Fisiopatologia e quadro clínico ...410
4. Diagnóstico ... 416 5. Tratamento clínico ... 418 6. Tratamento cirúrgico ...422 7. Complicações ...423 8. Indicações de profilaxia ...424 Resumo ...426
Capítulo 25 - Meningite e outras infecções do sistema nervoso central ... 427
1. Definição ...428 2. Fisiopatologia ...428 3. Apresentação clínica ...428 4. Etiologia ...430 5. Complicações e prognóstico ...435 6. Diagnóstico ...436 7. Tratamento ...439
8. Quimioprofilaxia das meningites bacterianas ... 444
9. Imunização ativa ... 444
Resumo ... 446
Capítulo 26 - Neutropenia febril ...447
1. Introdução ... 448 2. Causas ... 448 3. Definições e epidemiologia ...449 4. Manifestações clínicas ...450 5. Investigação diagnóstica ...450 6. Classificação do episódio ...455 7. Estratificação de risco ...456 8. Tratamento ...458
9. Principais tópicos do capítulo ...462
Resumo ...463 Capítulo 27 - Sepse ...465 1. Introdução ...466 2. Manifestações clínicas...471 3. Diagnóstico etiológico ...473 4. Tratamento ...475
5. Febre de origem indeterminada ...478
Resumo ...483
Capítulo 28 - Imunizações e terapia pós-exposição ...485
1. Introdução ... 486
2. Mordeduras de animais domésticos ... 486
3. Tétano acidental ...487
4. Raiva ...493
5. Outras doenças passíveis de imunização pós-exposição ...498
6. Acidente com material biológico...499
7. Calendário nacional de vacinação ... 501
Resumo ...506
Capítulo 29 - Acidentes por animais peçonhentos ... 507
1. Introdução ... 508
2. Acidentes por serpentes ... 508
3. Acidentes por aranhas ...515
4. Acidentes causados por escorpiões ...518
5. Acidentes causados por insetos ...519
Resumo ...520
Capítulo 30 - Parasitoses intestinais ...521
1. Introdução ...522 2. Helmintos ...524 3. Ancilostomíase ...526 4. Estrongiloidíase ...528 5. Toxocaríase ...529 6. Teníase e cisticercose ...531 7. Himenolepíase ...534 8. Enterobíase ... 535 9. Tricuríase ...536 10. Protozoários ... 537 11. Giardíase ...539 12. Cólera ... 541 Resumo ...543
Capítulo 31 - Principais antimicrobianos .... 545
1. Antibióticos ...546
2. Antifúngicos ...566
3. Antiparasitários ... 572
4. Antivirais ... 576
Casos clínicos ... 583
Questões
Cap. 1. Pneumonia adquirida na comunidade ....611Cap. 2. Patogênese do HIV e AIDS ...616
Cap. 3. Infecção pelo HIV e AIDS ...616
Cap. 4. Manifestações oportunistas na AIDS ...618
Cap. 5. Tratamento da AIDS ...621
Cap. 6. Hepatites virais ...623
Cap. 7. Doenças sexualmente transmissíveis ...629
Cap. 8. Infecção hospitalar ... 633
Cap. 9. Tuberculose ...636
Cap. 10. Hanseníase ... 640
Cap. 11. Paracoccidioidomicose ...642
Cap. 12. Doença de Chagas ... 644
Cap. 13. Dengue ...645
Cap. 14. Ebola ...647
Cap. 15. Infecção pelo vírus influenza pandêmico ... 648
Cap. 16. Febre amarela ...649
Cap. 17. Malária ...650
Cap. 18. Leptospirose ...651
Cap. 19. Febre tifoide ...654
Cap. 20. Hepatoesplenomegalias crônicas ...654
Cap. 21. Síndrome da mononucleose infecciosa ....656
Cap. 22. Citomegalovírus ...656
Cap. 23. Toxoplasmose ... 657
Cap. 24. Endocardite infecciosa ...658
Cap. 25. Meningite e outras infecções do sistema nervoso central ...661
Cap. 26. Neutropenia febril...666
Cap. 27. Sepse ...667
Cap. 28. Imunizações e terapia pós-exposição ...671
Cap. 29. Acidentes por animais peçonhentos ... 673
Cap. 30. Parasitoses intestinais ... 674
Cap. 31. Principais antimicrobianos ... 677
Outros temas ... 680
Comentários
Cap. 1. Pneumonia adquirida na comunidade ..685Cap. 2. Patogênese do HIV e AIDS ...690
Cap. 3. Infecção pelo HIV e AIDS ...691
Cap. 4. Manifestações oportunistas na AIDS .... 693
Cap. 5. Tratamento da AIDS ...696
Cap. 6. Hepatites virais ...698
Cap. 7. Doenças sexualmente transmissíveis ...704
Cap. 8. Infecção hospitalar ... 707
Cap. 9. Tuberculose ... 711
Cap. 10. Hanseníase ...715
Cap. 11. Paracoccidioidomicose ...718
Cap. 12. Doença de Chagas ...719
Cap. 13. Dengue ...720
Cap. 14. Ebola ... 723
Cap. 15. Infecção pelo vírus influenza pandêmico ... 723
Cap. 16. Febre amarela ... 725
Cap. 17. Malária ... 725
Cap. 18. Leptospirose ... 726
Cap. 19. Febre tifoide ...729
Cap. 20. Hepatoesplenomegalias crônicas ...729
Cap. 21. Síndrome da mononucleose infecciosa ....730
Cap. 22. Citomegalovírus ...731
Cap. 23. Toxoplasmose ...731
Cap. 24. Endocardite infecciosa ... 732
Cap. 25. Meningite e outras infecções do sistema nervoso central ...737
Cap. 26. Neutropenia febril... 742
Cap. 27. Sepse ...743
Cap. 28. Imunizações e terapia pós-exposição .. 749
Cap. 29. Acidentes por animais peçonhentos ...750
Cap. 30. Parasitoses intestinais ... 752
Cap. 31. Principais antimicrobianos ... 755
Outros temas ...758
1
Pneumonia
adquirida na
comunidade
Durval A. G. Costa
A Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) é defi nida como aquela que aparece em pacientes que não estão internados ou naqueles que se internam, mas é detec-tada antes de 48 horas da internação, sendo o principal agente etiológico o Streptococcus pneumoniae. O quadro clínico é composto por tosse, febre, expectoração e dor torácica, constituindo indicação de raio x de tórax para melhor elucidação diagnóstica. O tratamento é feito de forma empírica com macrolídeos e betalactâmicos no tratamento ambulatorial, e nos casos internados opta-se por quinolona ou betalactâmico + macrolídeo. Este capítulo possui grande importância na prática clínica, sendo por isso um tema muito cobrado nas questões de Residência Médica.
20
R3
CLÍNICA MÉDICA - INFECTOLOGIA1. Introdução e defi nições
A pneumonia é defi nida como um processo infl amatório (e infeccioso) do parênquima do pulmão. Ocorre, por conta disso, consolidação da área do parênquima pulmonar (podendo ser do lobo pulmonar ou de segmento específi co). A característica microscópica é de preenchi-mento dos espaços alveolares com exsudato infeccioso, cheios de cé-lulas infl amatórias e fi brinas (frutos da resposta celular do organismo). O broncograma aéreo é a descrição radiológica de uma imagem de preenchimento dos alvéolos com secreção, o que se apresenta com imagem radiológica diferente dos bronquíolos, que estão cheios de ar. Quando ocorre a passagem de raio x, a imagem de ar no bronquíolo é mais facilmente visualizada. Se o pulmão estivesse sem infecção, o parênquima pulmonar estaria cheio de ar, e os raios x passariam igua-litariamente pelo parênquima e pelo brônquio, não sendo possível visualizá-lo.
Figura 1 - Presença do bronco-grama aéreo: como existe con-densação em um pulmão com pneumonia, a imagem não é de ar (que sai preto na radiografi a normal), mas ressalta o bron-quíolo ao redor, facilitando sua visualização
Microscopicamente, a evolução de uma pneumonia passa por 4 fases, na sequência:
-Congestão e edema: apenas exsudato plasmático, com congestão dos
vasos;
-Hepatização vermelha: extravasamento de hemácias, fi brina e
neu-trófi los nos alvéolos;
Figura 2 - Aspecto macroscópico de hepatização vermelha em processo difuso de infecção pulmonar (broncopneumonia)
-Hepatização cinzenta: hemácias se desintegram, com exsudato
supu-rativo com fi brina, pela ação dos macrófagos;
-Resolução: recuperação da arquitetura do alvéolo.
Figura 3 - Hepatização cinzenta: há bastante exsudato – observar que o alvéolo se encontra cheio de células leucocitárias (mais especifi camente neutrófi los)
Dica
As 4 fases da pneumonia vistas ao microscópio são: congestão e edema, hepatização vermelha, hepatização cinzenta e resolução.
7
Doenças
sexualmente
transmissíveis
Rodrigo Antônio Brandão Neto / Ralcyon F. A. Teixeira
Durval A. G. Costa / Carolina dos Santos Lázari
Neste capítulo, serão abordados os principais tipos de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), bem como os tratamentos indicados para cada uma delas. Den-tre as DSTs abordadas, tem-se a sífi lis, causada pelo
Trep onema pallidum, cuja manifestação inicial é com
um cancro duro, e seu tratamento é feito com penici-lina benzatina. Outra doença presente neste capítulo é o cancro mole, que se apresenta como lesão ulcerada de base mole, rasa, com bordas irregulares, envolta por halo eritematoso, constituindo um importante diagnós-tico diferencial com sífi lis primária. Além dessas 2 causas de DSTs, o texto aborda outras, como a donovanose, o lin-fogranuloma venéreo e o herpes genital. Há um enfoque no tratamento sindrômico dessas doenças (síndrome da úlcera genital, síndrome do corrimento uretral e síndrome do corrimento vaginal), uma vez que a presença de DSTs aumenta o risco de infecção concomitante pelo HIV.
158
R3
CLÍNICA MÉDICA - INFECTOLOGIAB - Etiologia
Doença produzida por bacilo Gram negativo denominado Haemophilus
ducreyi.
C - Achados clínicos
Importante
O cancro mole apresenta-se como lesão ulcerada de base mole, rasa, com bordas irregulares, en-volta por halo eritematoso
e recoberta por exsudato necrótico e purulento. As lesões são dolorosas e têm odor fétido.
Apresenta período de incubação curto, que varia de 3 a 5 dias, surgindo, posteriormente, lesão ulcerada de base mole, rasa, com bordas irregula-res, envolta por halo eritematoso vivo e recoberta por exsudato necrótico e purulento. As lesões são dolorosas, geralmente múltiplas, com apre-sentação em número, formas e tamanhos variados, devido à sua carac-terística de autoinoculação. A borda é irregular, apresentando contornos eritematoedematosos e fundo irregular recoberto por exsudato necrótico, amarelado, com odor fétido que, removido, revela tecido de granulação com sangramento fácil.
Nos homens, as lesões localizam-se, principalmente, junto ao frênulo, sulco balanoprepucial, glande e face interna do prepúcio. Nas mulheres, acomete, preferencialmente, a região do fórnice vaginal e pequenos e grandes lábios.
Em 30 a 50% dos casos, ocorre enfartamento ganglionar regional, for-mando o chamado “bubão”; 2/3 destes evoluem com fl utuação e fi s-tulização, com drenagem de material purulento, caracteristicamente através de um único orifício. São unilaterais na maioria dos casos. As lesões não evoluem para cura espontânea e, geralmente, deixam pequena cicatriz após a cura.
Figura 8 - Lesões genitais de cancro mole
Figura 9 - Lesões de cancro mole em prepúcio e glande
Importante
No caso do cancro mole, deve-se lembrar que as lesões têm aspecto mais raso e são muito dolorosas, com a base mole e irregular. Além disso, pode haver mais de 1 lesão, e existe cicatriz residual, o que não ocorre na sífi lis.
CLÍNICA MÉDICA
INFECTOLOGIA
Cas
os
C
líni
co
s
R3
2015 - SUS-BA - CLÍNICA MÉDICA
1. Uma mulher de 22 anos é internada em hospital de referência com quadro de tosse seca há 10 dias. Refe-riu febre de 38°C no período, quase diária, mialgia e dispneia. Nega tabagismo. Ao exame físico, estava fe-bril, com Tax = 38,5°C, desidratada, FR = 28irpm, AR = MVBD, sem ruídos adventícios. Foi solicitado raio x de tórax, que evidenciou infi ltrado intersticial bilateral. Leucograma = 12.200/mm3 (75% de segmentados, 5%
de bastões, 6% de eosinófi los). Gasometria arterial com pH = 7,46, pO2 = 68, pCO2 = 30, HCO2 = 23, SatO2 = 91%. Diante do quadro apresentado, indique:
a) Duas possibilidades etiológicas que podem ser respon-sáveis pelo diagnóstico da paciente.
b) Duas medidas de suporte clínico, não farmacológico, para a paciente.
Caro leitor,
Este espaço é reservado para os Casos Clínicos das instituições que optam por esse formato de prova em seus concur-sos, além de questões dissertativas sobre condutas diagnósticas e terapêuticas elaboradas pelo corpo docente Medcel. Isso signifi ca que o seu conteúdo é exclusivo, servindo como complementação às questões comentadas ao fi nal do livro. Para tanto, foi extraído material de importantes provas, além de novos casos, com base nos temas mais abordados em processos seletivos para Residência Médica, o que permite estudar resolvendo testes semelhantes aos aplicados nos principais concursos do país. Temos certeza de que, com mais forma de revisar o conteúdo dos capítulos, você se sentirá mais preparado para garantir a sua vaga na especialidade e na instituição desejadas.
CO NTE ÚDO M EDC EL CONTEÚDO MEDCEL
Casos Clínicos
Infectologia
c) A opção terapêutica específi ca mais adequada, consi-derando a suspeita principal.
2015 - SUS-BA - CLÍNICA MÉDICA
2. Uma mulher de 23 anos, moradora de bairro de periferia em Salvador, deu entrada na Emergência com relato de ce-faleia intensa, adinamia, artralgia difusa, mialgia intensa, 2 episódios de vômitos não borráceos e febre de 39°C há 5 dias. Nega sintomas respiratórios. Informa casos seme-lhantes no bairro onde mora e que sua irmã está com os mesmos sintomas há 2 dias. Ao exame físico, encontra-se lúcida e auto-orientada, PR = 100bpm, rítmico e cheio, PA = 110x80mmHg, FR = 24irpm, Tax = 39°C, extremidades quentes e coradas, bulhas regulares em 2 tempos, MVBD sem RA ou sinais de desconforto respiratório. A prova do laço foi negativa. Diante desse quadro, indique:
R3R3
C
as
os
C
líni
co
s
sic infectologia 600 R3os positivos, indolor à palpação, sem visceromegalias e massas palpáveis; membros inferiores = pulsos positivos, sem edema. O paciente apresenta, ainda, à inspeção, 2 sinais clínicos, um que ocorre na doença e outro induzido:
a) Qual é a alteração notada ao e xame físico?
b) Qual é a suspeita diagnóstica inicial?
- Hb = 12,5g/dL; - Ht = 49%; - 3.500 leucócitos; - 68.000 plaquetas/mm3;
- TGO = 30, TGP = 36;
- Bilirrubina total = 1mg/dL, ureia = 47mg/dL, creatinina = 1,3mg/dL.
c) Qual é o diagnóstico diferencial?
d) Quais exames complementares se devem realizar para o diagnóstico?
e) Qual é o tratamento?
RESPOSTAS
Caso 1
a) Mycoplasma, Chlamydia e Legionella. Pneumonias por atípi-cos e tuberculose.
b) Hidratação com soro fi siológico a 0,9% ou hidratação oral e oxigenoterapia.
c) Macrolídeo (azitromicina ou claritromicina) ou quinolona respiratória (moxifl oxacino ou levofl oxacino) ou associação de betalactâmico e macrolídeo.
Caso 2
a) Dengue.
b) Avalia a fragilidade capilar/lesão endotelial.
c) Hidratação oral vigorosa em domicílio, uso de antitérmicos (indicando evitar Aspirina®/AAS®) ou Anti-infl amatórios Não Hormonais (AINHs). Orientação para observação de manifesta-ções hemorrágicas espontâneas e outros sinais de alarme (dor abdominal, dispneia, síncope).
Caso 3
a) Qualquer paciente com quadro de obstipação crônica com risco de difi culdade de manejo deve ter a investigação de doen-ça de Chagas no Brasil, pelo alto risco de megacólon chagásico. Portanto, um dos exames iniciais nessa investigação deve ser a sorologia para doença de Chagas.
Além da doença de Chagas, outros exames que podem estar alterados em uma paciente com obstipação crônica devem ser pedidos. A avaliação do perfi l da tireoide é um deles, já que o hipotireoidismo é uma condição que leva a obstipação crônica.
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Questões
Infectologia
Pneumonia adquirida na comunidade
2015 - PUC-PR - CLÍNICA MÉDICA
1. Durante um plantão noturno no pronto-socorro, você atende um rapaz de 23 anos com queixa de febre de até 39°C, tosse com secreção amarelada e dor torácica à di-reita. Ao exame físico, o paciente encontra-se em regu-lar estado geral. Seguem os dados vitais: PA = 130x82m-mHg, FC = 100bpm, T = 38,6°C e FR = 20irpm. O exame do tórax revela aumento do frêmito toracovocal, submaci-cez e estertores fi nos na base direita. A alternativa mais adequada para o tratamento domiciliar é:
a) levofl oxacino 500mg/d, por 7 dias b) levofl oxacino 750mg/d, por 7 dias c) moxifl oxacino 400mg/d, por 5 dias
d) amoxicilina 500mg, a cada 8 horas, por 7 dias e) claritromicina 500mg/d, por 5 dias
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2015 - AMP - CLÍNICA MÉDICA
2. Um paciente de 23 anos, com quadro de tosse, expec-toração amarelada, mialgia e febre, apresenta radio-grafi a com consolidação na base direita. Para esse caso, assinale a alternativa incorreta:
a) raio x não é frequentemente necessário no diagnósti-co diferencial de pneumonia
b) a identifi cação do agente etiológico é questionável, isto é, não é essencial na prática
c) uma opção terapêutica para o caso seria doxiciclina 100mg VO cada 12 horas
d) a hemocultura é um exame que não está indicado de-vido ao baixo rendimento e à grande chance de cresci-mento de bactéria que já é coberta no esquema empírico e) as principais etiologias para o quadro são vírus,
Strep-tococcus pneumoniae, Haemophilus infl uenzae, Mor-axella catarrhalis e bactérias atípicas, como Mycoplasma pneumoniae e Chlamydophila pneumoniae
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2015 - UFG - CLÍNICA MÉDICA
3. Qual é o sinal mais precoce de aspergilose em um pa-ciente com neutropenia febril?
a) sinal “do halo” na tomografi a de tórax
b) velamento “em vidro fosco” na radiografi a de tórax c) elevação persistente da galactomanana
d) detecção de hifas em escarro
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2015 - UFG - CLÍNICA MÉDICA
4. Leia reportagem a seguir:
Caso esse paciente tivesse apresentado um quadro de tosse com secreção purulenta, febre e dor torácica an-tes de completar 48 horas de internação, o diagnóstico de pneumonia deveria considerado. Diante dessa hipó-tese, qual seria o antibiótico preconizado?
a) claritromicina 500mg, de 12/12h b) cefepima 1g, de 12/12h
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Comentários
Infectologia
Pneumonia adquirida na comunidade
Questão 1. O caso descreve um padrão de pneumonia
adquirida na comunidade em paciente jovem sem indi-cação de internação. A pressão está boa, não há sinais de sepse nem alteração de consciência, e o paciente é jovem (CURB 65 não fecha critérios de internação). Não há descrição de comorbidades que aumentem o risco de pneumonia atípica (idade abaixo de 18 anos, bronquite ou asma). Nesse tipo de paciente, o principal causador de pneumonia comunitária é o pneumococo (S.
pneu-moniae), e o tratamento indicado é com betalactâmico,
como amoxicilina, na dose de 500mg a cada 8 horas. Tanto levofl oxacino como claritromicina seriam usados se houvesse risco aumentado de atípicos, o que não se justifi ca a um jovem de 23 anos sem comorbidades des-critas.
Gabarito = D
Questão 2. O exame radiológico é essencial no
diag-nóstico de pneumonia e no descarte de complicações como derrame pleural ou cavitações. Por isso, apesar de não ser obrigatório para o início do tratamento, é citado em todos os protocolos de tratamento de pneu-monia da comunidade ou hospitalar como um critério importante para fechar o diagnóstico – a alternativa “a” é a incorreta. A identifi cação do agente etiológico é muito importante, especialmente em pacientes que não respondem bem a terapias iniciais ou com compli-cações como diabetes, fi brose pulmonar etc. Porém, na prática, o tratamento é iniciado com a cobertura para a bactéria que mais causa pneumonia de comu-nidade (S. pneumoniae). Na maioria dos casos (80%), o tratamento tem êxito sem necessidade da cultura. A doxiciclina é uma tetraciclina de boa cobertura para o pneumococo e pode, sim, ser usada para o tratamento de pneumonia comunitária. Apesar da baixa sensibili-dade (em torno de 23%) da hemocultura, sempre que possível é importante coletar, porque a especifi cidade é grande em caso de pneumonia (1 em cada 4 pacientes terá cultura positiva). Pensando em um jovem de 23 anos, a 1ª hipótese é sempre o pneumococo (S.
pneu-moniae). Os vírus são frequentes causadores (infl uen-za, entre eles), e as bactérias que causam pneumonias
de apresentação atípica aumentam nessa fase, sendo muito frequentes Moraxella (talvez a atípica mais fre-quente em jovens), Mycoplasma e Chlamydia. O
Hae-mophilus infl uenzae é cada vez mais raro por conta da
vacina HiB da infância, feita há 20 anos na rede públi-ca. Mas ainda é possível haver tal infecção ainda nessa fase da vida.
Gabarito = A
Questão 3. A galactomanana é um exame de ELISA que
detecta parte da parede do fungo fi lamentoso
Asper-gillus. Isso é um bom sinal quando é persistentemente
aumentada, pois indica infecção que está no início. É im-portante saber que a galactomanana pode vir positiva em pacientes com uso de antifúngicos previamente, ou alguns antibióticos como piperacilina/tazobactam. Esse é o sinal mais precoce da infecção – a melhor resposta é a “c”. As hifas no escarro não confi rmam a infecção por
Aspergillus, o sinal do halo ocorre após a infecção já ter
causado lesão pulmonar, e o “vidro fosco” é mais carac-terístico de outra infecção por fungo, Pneumocystis
jiro-vecii.
Gabarito = C
Questão 4. A claritromicina pode ser utilizada para
tra-tar um paciente com infecção pulmonar por estreptoco-co, com a possibilidade de fazer, ainda, cobertura para bactérias atípicas. Desde que não se tenham passado mais de 48 horas de internação, o tratamento pode ser feito com espectro para essas bactérias, de comunida-de. Após 48 horas de internação, deveria ser usada uma droga com espectro hospitalar, como a cefepima, da alternativa “b”, mas não na dose descrita; seria neces-sário dose maior. A cefuroxima é uma cefalosporina de 1ª geração que não trata adequadamente pneumonias, e a ceftazidima é uma cefalosporina de 3ª geração com cobertura para Pseudomonas, que pode ser utilizada na suspeita de infecção por essa bactéria, não sendo aplica-da a essa questão.
Gabarito = A
Questão 5. Trata-se de um caso de pneumonia
bacte-riana comunitária. Neste caso, diversos são os métodos que podem ser utilizados para determinar a necessidade de internação ou não. Uma das escalas mais conhecidas é a CURB-65: