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IMPACTOS DA CRISE HÍDRICA 2014/15 SOBRE OS PRINCIPAIS USUÁRIOS DA BACIA DO GUANDU

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XXII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

IMPACTOS DA CRISE HÍDRICA 2014/15 SOBRE OS PRINCIPAIS

USUÁRIOS DA BACIA DO GUANDU

Laís Lima Ambrosio1; Rosa Maria Formiga-Johnsson2.

Resumo - A crise hídrica 2014/15, afeta na região Sudeste do Brasil especialmente as áreas com

maior densidade populacional, as Regiões Metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro. O Estado do Rio de Janeiro é fortemente dependente do Sistema Hidráulico do Paraíba do Sul. A crise hídrica impacta o abastecimento urbano, rural, a irrigação, a captação de água bruta de indústrias e a produção energética. O presente trabalho tem por objetivo identificar os impactos da crise hídrica sobre os principais setores usuários da bacias hidrográficas do rio Guandu a partir dos registros de reunião do Grupo de Trabalho e Acompanhamento das Operações Hidráulicas - GTAOH, outros documentos institucionais e artigos publicados em periódicos. A pesquisa evidenciou que recomendações do GTAOH associadas a resoluções dos órgãos gestores minimizaram os possíveis impactos da crise hídrica. O setor usuário mais impactado foi a indústria.

Palavras-Chave - crise hídrica, Sistema hidráulico do Paraíba do Sul, gestão de recursos hídricos.

Abstract - The water crisis 2014/15, affects in the Southeast region of Brazil especially the areas

with greater population density, the Metropolitan Regions of São Paulo and Rio de Janeiro. The State of Rio de Janeiro is heavily dependent on the Paraíba do Sul Hydraulic System. The water crisis impacts on urban, rural, irrigation, raw water collection of industries and energy production. The present work aims to identify the impacts of the water crisis on the main user sectors of the Guandu river basins from the meeting records of the Working Group and Monitoring of Hydraulic Operations - GTAOH, other institutional documents and articles published in periodicals. The research showed that GTAOH recommendations associated with management resolutions minimized the possible impacts of the water crisis. The user industry most impacted was the industry.

Keywords - water crisis, Paraíba do Sul water system, water resources management.

1 Autor Correspondente. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ – Mestrado em Engenharia Ambiental. laislambrosio@gmail.com.

2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ - professora adjunta do Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente. formiga.uerj@gmail.com

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XXII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2

INTRODUÇÃO

A crise hídrica no Sudeste brasileiro nos anos de 2014/15, causada principalmente por uma severa estiagem, afeta em especial nas áreas com maior densidade populacional, onde a demanda muitas vezes, excede a oferta hídrica, a Região Metropolitana de São Paulo e a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O Estado do Rio de Janeiro apresenta situação singular frente à crise hídrica por ser fortemente dependente do Sistema Hidráulico do Paraíba do Sul, onde o principal curso d'água, o rio Paraíba do Sul, é de domínio da união, o uso de suas águas é compartilhado por mais dois estados, São Paulo e Minas Gerais.

O Sistema Hidráulico do Paraíba do Sul é composto por um conjunto de estruturas hidráulicas, que inclui reservatórios, usinas hidrelétricas, e estações elevatórias, construído inicialmente para a produção de energia. Este sistema possibilita o aumento da vazão do rio Guandu, principal manancial do sistema de abastecimento da RMRJ, através da transposição de águas dos rios Paraíba do Sul e Piraí. A ETA Guandu faz a captação e tratamento da água para o abastecimento público. Fica evidente a interdependência entre as bacias do Paraíba do Sul e do Guandu, o que torna essencial a gestão integrada entre as duas, assim como, entre outras bacias contribuintes ao Paraíba do Sul tanto a jusante, quanto a montante. Pode-se afirmar que embora haja avanços na integração da gestão entre as bacias do Paraíba do Sul e do Guandu ainda há dificuldades a serem superadas.

Para gestão da crise hídrica, foi instituído o Grupo de Trabalho Permanente de Acompanhamento da Operação Hidráulica na bacia do rio Paraíba do Sul, para atuação conjunta com o Comitê da bacia do rio Guandu - GTAOH, pela Deliberação CEIVAP Nº 211/2014 de 20 de Maio de 2014. O GTAOH já havia atuado alguns anos antes, durante a seca de 2003, vivenciada na mesma região. Os Registros de reunião do GTAOH encontram-se disponíveis no site do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP). Outros documentos produzidos no âmbito do grupo de trabalho também poderão ser utilizados como fonte de informação. Assim como documentos de outras instituições de pesquisa e órgãos gestores. Outra fonte de informação são artigos publicados em periódicos ao longo do período da seca. Além de notícias e reportagens veiculadas em sítios na internet de jornais de grande circulação.

É objetivo geral desta pesquisa identificar e sistematizar os impactos da crise hídrica 2014/15 sobre os principais usuários do Guandu. Caracterizar a crise hídrica 2014/15, o Sistema hidráulico do Paraíba do Sul e o sistema de abastecimento do Guandu são importantes para entendermos como a crise pode gerar impactos sobre estes sistemas e consequentemente em seus principais usuários, identificados nesta pesquisa.

CRISE HÍDRICA

As chuvas durante os anos de 2014 e 2015 apresentaram anomalias na sua distribuição sobre o território brasileiro. As chuvas esperadas na região Sudeste para o período chuvoso não ocorreram, levando a queda no volume de armazenamento nos reservatórios. Na Região Nordeste, especialmente no semiárido verifica-se seca histórica com mais de 100 anos de retorno. Enquanto na região Norte ocorreram chuvas intensas que causaram cheias históricas como a do Rio Madeira em 2014 (ANA, 2015c). Em 2016, os reservatórios do Sudeste recuperaram o volume de armazenamento.

A crise hídrica vivenciada no estado do Rio de Janeiro nos anos 2014/15 tem como causas além do período de estiagem severa verificada desde outubro de 2013 na região Sudeste do país, o fator gestão da demanda e oferta que pode ter contribuído para agravar a crise (ANA, 2015c).

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XXII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3 Entre os setores usuários mais prejudicados devido à crise hídrica estão o abastecimento público, o de irrigação e o de energia hidrelétrica (ANA, 2015c). A indústria, no caso da RMRJ também tem suas atividades prejudicadas.

A Agência Nacional de Águas (ANA) em seu Relatório de Conjuntura dos Recursos hídricos identifica a bacia do rio Paraíba do Sul como trecho crítico, pois mesmo que não ocorram eventos extremos, o balanço quali-quantitativo requer atenção (ANA, 2015a). A bacia do Paraíba do Sul, principalmente no trecho em que atende a RMRJ possui uma alta demanda de água e lançamento de grande quantidade de esgotos (ANA, 2011). O principal manancial de abastecimento da RMRJ é o rio Guandu, que é viabilizado pelo Sistema hidráulico do Paraíba do Sul.

SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE ÁGUAS DO RIO PARAÍBA DO SUL PARA A BACIA DO RIO GUANDU

O sistema hidráulico do Paraíba do Sul/Guandu abastece grande parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), que abriga 75% da população do ERJ, cerca de 9 milhões de pessoas. Os sistemas integrados Acari, Ribeirão das Lajes e Imunana-Laranjal, e outros isolados, menores em relação ao Guandu, contribuem para o abastecimento desta população (ANA, 2011).

Este sistema é composto por estruturas hidráulicas que começaram a ser implantadas no início do século XX, com o objetivo inicial de aproveitamento hidrelétrico, pois a transposição de águas do rio Paraíba do Sul para a vertente Atlântica da Serra do Mar gera um desnível de aproximadamente 300 m, que hoje é aproveitado pelas usinas hidrelétricas em cascata de Nilo Peçanha, Fontes Nova, Pereira Passos e a PCH Paracambi (ANA, 2015b). As 16 estruturas que hoje compõem o sistema hidráulico são listadas na tabela 1.

Tabela 1- Estruturas que compõem o Sistema Hidráulico do Paraíba do Sul e Guandu.

Nome Função Nome Função

Lajes Reservatório s/ geração Nilo Peçanha Usina a fio d’água Tocos Reservatório s/ geração Fontes Nova Usina a fio d’água Santana Reservatório s/ geração Pereira Passos Usina a fio d’água Ponte Coberta Reservatório s/ geração PCH

Paracambi Usina a fio d’água Paraibuna/Paraitinga Reservatório c/ geração Santa Cecília Estação Elevatória Santa Branca Reservatório c/ geração Vigário Estação Elevatória

Reservatório Usina Jaguari Reservatório c/ geração Calha da Cedae Adutora de 72km Usina Funil Reservatório c/ geração ETA Guandu Estação de tratamento

de água

O sistema hidráulico do Paraíba do Sul impressiona por sua complexidade, ele é composto por dezenas de estruturas que viabilizam ao rio Guandu, que em condições naturais teria uma vazão média de cerca de 25 m³/s, receber uma contribuição média de 146 m³/s do desvio Paraíba do Sul - Piraí e de 10 m³/s do desvio Tocos-Lajes. (Plano Estratégico de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica dos Rios Guandu, Guarda e Guandu Mirim PERH-Guandu, 2006).

O Reservatório de Lajes além de atender a usina de Fontes Novas, é considerado como reserva estratégica para atendimento da população da RMRJ, além de ser enquadrado como classe de águas especial de acordo com a Resolução CONAMA nº 357/2005 (PERH GUANDU, 2006).

A operação deste sistema hidráulico é regulamentada pela Agência Nacional de Águas (ANA) em articulação com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A ANA foi criada em 2000,

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XXII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4 pela Lei Federal n. Lei nº 9.984/2000, como órgão integrante do Sistema Nacional de Recursos Hídricos, instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei Federal n. 9.433/1997.

A primeira resolução da ANA sobre regras de operação do Sistema Hidráulico do Paraíba do Sul foi a Res. ANA n. 211 de 26 de maio de 2003. Durante a crise hídrica 2014/15 a ANA emitiu novas regras de operação a partir de resoluções, afim de reduzir as vazões mínimas a barragem de Santa Cecília com vistas a preservar o volume de água do reservatório equivalente, composto pelos barramentos de Paraibuna, Santa Branca, Jaguari e Funil (ANA, 2015b).

Estas resoluções partiram de estudos e discussões realizadas junto ao GTAOH nelas são limitadas as vazões bombeadas em Sta. Cecília para o Guandu e a jusante (tabela 2):

Tabela 2 – Regras Operativas do Sistema Hidráulico-Paraíba do Sul-Guandu - fontes: Resoluções disponíveis em: http://www2.ana.gov.br/Paginas/institucional/SobreaAna/resolucoesana.aspx.

Resoluções Limite mínimo da vazão a jusante dos

aproveitamentos:

Res. ANA n.º700 de 24/05/2014; n.º898 de 25/06/2014 190 m³/s para 173 m³/s

Res. ANA n.º1.038 de 16/07/2014; n.º1.072 de 11/08/2014 165 m³/s

Res. ANA nº 2.051 de 23/12/2014; nº 86 de 30/01/2015 140 m³/s

Res. ANA nº 145 de 27/02/2015; nº 205 de 23/03/2015; nº 714 de

29/06/2015; nº 1.204 de 26/10/2015 110 m³/s

Res. Conjunta ANA/DAEE/IGAM/INEA nº 1.382 de 07/12/2015 119m³/s

Res. ANA nº 65 de 28/01/2016; nº 288 de 28/03/2016; nº 561 de

30/05/2016; nº 1.188 de 29/09/2016 110 m³/s

PRINCIPAIS USUÁRIOS DO GUANDU

O uso do solo na RH do Guandu apresenta a seguinte distribuição aproximadamente: 45% de florestas, 40% de pastagem, 9% de área urbana, 0,3% de agricultura, 1% de água e outros 4,7 % distribuídos em outros tipos de vegetação e solo exposto, segundo mapeamento de uso do solo do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA, 2010). As florestas estão restritas aos topos de morros e encostas mais íngremes, no geral as áreas de preservação permanente de rios e reservatórios são ocupadas por pastagens (INEA, 2010). As pastagens na bacia do Guandu são em grande parte terras para reserva de valor, visto que a pecuária e a agricultura não desempenham papel relevante na região (PERH - Guandu, 2006).

A partir dessa visão geral do uso do solo da bacia do Guandu, do Plano Estadual de Recursos Hídricos do Rio de Janeiro, do Plano Estratégico de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas dos Rios Guandu, da Guarda e Guandu Mirim, e do Cadastro de Usuários e Outorga do ERJ são indicados os principais usuários dos recursos hídricos do sistema Guandu. Os principais usuários do Guandu são: abastecimento urbano de grande parte da RMRJ, atendidos pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), que opera a ETA Guandu; as indústrias; sistemas de produção energética; pescadores da Baía de Sepetiba; agricultura e criação de animais; e extração de areia.

Na região estão localizadas importantes indústrias, algumas captam diretamente dos rios. Elas estão organizadas na Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin), localizadas nos Distritos Industriais de Queimados, Palmares, Santa Cruz, Paciência e Campo Grande. Dezenove indústrias captam água diretamente do rio Guandu ou do Canal São Francisco. As mais próximas a foz do rio Guandu são: Companhia Siderúrgica Nacional - CSN, ThyssenKrupp - CSA, Gerdau S/A, Furnas Centrais Elétricas S/A e Termoelétrica de Santa Cruz (INEA, 2014). A

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XXII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5 mineração se dá por meio da extração de areia em cava, principalmente no “Polígono de Piranema”, localizado nos municípios de Seropédica e Itaguaí.

Entre os usos não consuntivos na bacia do Guandu estão a geração de energia elétrica e a pesca artesanal, realizada em pequenas embarcações.

Atualmente existem quatro usinas na bacia do rio Guandu, todas no Ribeirão das Lajes e no regime de operação a fio d'água, são elas: Nilo Peçanha, Fontes Nova, Pereira Passos, e Paracambi, possuem potência de geração de energia (MW), respectivamente de: 380,0; 132,0; 100,0; e 25,0 (AGEVAP, 2012).o Regime de operação Potência (MW)

Vale lembrar que parte da vazão transposta para o Guandu é utilizada para diluição do esgoto no ponto de captação da Cedae (SERRICCHIO, et. al. 2005), onde deságuam os rios poluídos, Queimados e Ipiranga. Na RH do Guandu, mais de 60% da população não é atendida por rede coletora de esgoto, outros 35% apesar de ter rede coletora, o esgoto não passa por tratamento, menos de 3% da população é atendida por rede coletora com tratamento. (PERHI, 2014).

A tabela 3 mostra a captação e o lançamento por setor usuário do tipo consuntivo na região hidrográfica do Guandu.

Tabela 3: Captações e Lançamentos na Região Hidrográfica II Guandu*:

Setor usuário Captação superficial e/ ou

subterrânea (l/s) Lançamentos (l/s) Abastecimento Humano 7.694,29 6.137,00 Industrial 35.935,94 26.534,18 Mineração 105,71 25,12 Agricultura 29,96 5,42 Criação animal 90,49 18,10

* As águas transpostas do Paraíba do Sul além de abastecerem a região hidrográfica II Guandu, também abastecem grande parte da região hidrográfica V Baía de Guanabara, onde estão localizados os municípios mais populosos, Rio de Janeiro, Duque de Caxias e Nova Iguaçu. A demanda para abastecimento

humano no Guandu é de 42 m³/s, mais 5,5 m³/s para o sistema Lajes. Fonte: Adaptado Tabela 13.7.1 - Consolidação das demandas PERHI, 2014.

GTAOH E IMPACTOS SOBRE OS USUÁRIOS DO GUANDU

O Grupo de Trabalho Permanente de Acompanhamento da Operação Hidráulica na bacia do rio Paraíba do Sul, para atuação conjunta com o Comitê da bacia do rio Guandu - GTAOH, reativado em 2014 pela Deliberação CEIVAP nº 211/2014, de 20 de maio de 2014, atua na discussão de regras de operação do sistema hidráulico do Paraíba do Sul com vistas a preservar o volume de água do reservatório equivalente desta bacia, composto pelos barramentos de Paraibuna, Santa Branca, Jaguari e Funil. Consequentemente reduz os impactos da crise hídrica sobre os principais usuários da bacia do Guandu. O GTAOH tem como objetivos, de acordo com a deliberação de sua criação: analisar as situações de conflito e propor soluções alternativas para o operação hidráulica dos reservatórios com vistas a garantir os usos múltiplos da água. Além disso também divulga informações sobre a situação dos reservatórios. Assim as discussões do grupo antecipam possíveis impactos e propõem ações que os minimizem ou mesmo os impeçam de ocorrer.

O grupo é composto por representantes do setor elétrico e industrial, órgãos gestores estaduais, representantes do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul – CEIVAP, dos usuários de água do Comitê Guandu, dos municípios da bacia do rio Paraíba do Sul e da bacia do rio

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XXII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6 Guandu; dos Comitês Afluentes da bacia do rio Paraíba do Sul; e convidados permanentes: representantes da ANA, da ANEEL, do ONS.

Desde o início dos trabalhos do GTAOH na atuação da crise hídrica 2014/15, quando o grupo começou a se reunir em 24 de abril de 2014 até 20 de novembro de 2016, quando o volume dos reservatórios já estavam se recuperando, o grupo se reuniu 62 vezes, sendo 19 em 2014, 30 em 2015 e 13 em 2016. A periodicidade média das reuniões varia entre 1 ou 2 vezes por mês, sendo que nos períodos mais críticos de 2014 e 2015, as reuniões foram semanais.

Foram encontrados relatos de impacto sobre os usuários do Guandu em 8 registros de reunião do GTAOH em 2014, 25 em 2015 e 6 em 2016, num total de 39 registros, no período analisado. Destes 32 relatos referem-se sobre impactos nas indústrias que captam água bruta direto do canal São Francisco em decorrência do avanço da cunha salina que impossibilitava a captação, por diversas vezes levando a paralisação das atividades da indústria; 2 relatos sobre o aumento da concentração de cianobactérias no reservatório de Funil; 6 relatos da Cedae, responsável pela operação da ETA Guandu, principalmente devido a piora em parâmetro de qualidade da água; 1 relato sobre dificuldades na transposição de balsas sobre a soleira, da Baía de Sepetiba para o Canal São Francisco, único momento no qual se faz menção aos pescadores, mas apenas para evidenciar que estes não foram impactados. Na tabela 4 é apresentado um resumo com todos os impactos sobre os usuários do Guandu, encontrados nos registros do GTAOH, também são referenciados em qual registro de reunião aparecem através do número e ano.

Tabela 5- Resumo dos impactos relatados pelos usuários nos registros de reunião do GTAOH. Fonte: Registros de Reunião do GTAOH, disponível em: http://www.ceivap.org.br/ophidraulica.php

Setor usuário Impacto

Indústria

i) O avanço da cunha salina e consequente aumento na salinização das águas gera

o impacto de parada na captação de água das empresas situadas próximas ao canal São Francisco - Foram encontrados 29 relatos nos Registros do GTAOH: 2, 7, 9, 10, 11, 16 de 2014; 2, 5, 6, 8, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 22, 24, 25, 27 de 2015; e 1, 6, 7, 8 de 2016 ;ii) a parada na captação a depender da reserva de água existente na planta industrial num dado momento pode resultar na

interrupção de processos produtivos e de geração de energia - 4 registros todos

em 2015 (11, 13, 15, 19); iii) Falta de água para consumo humano - 2 registros (11, 13 de 2015); iv) funcionamento inadequado da soleira submersa com aumento da vazão gerou forte erosão na margem da CSA ao lado da soleira e dificuldades na passagem da balsa que faz a transposição dos barcos por sobre a soleira em direção ao mar - registro 2 de 2016.

CEDAE - ETA

Guandu

i) elevação na crista das comportas das duas barragens (auxiliar e principal) -

registro 4 de 2015; ii) aumento da concentração de Cianobactérias e/ou piora

de outros parâmetros de qualidade da água - registros 16 de 2014 e 5, 6, 21 de

2015; iii) parada no sistema - registro 27 de 2015.

Reservatório de Funil i) Aumento da concentração de Cianobactérias - registros 13 e 14 de 2014.

Geração de energia - Light

i) Aumento da geração - registro 29 de 2015; ii) Aprisionamento de peixes em

poças isoladas no reservatório de Santa Branca - registro 30 de 2015 (Embora este impacto seja de ordem ecológica, a responsabilidade de tomar medida sobre ele é da operadora do reservatório).

Não foram encontrados relatos sobre os impactos sofridos por pescadores que atuam na baía de Sepetiba nos relatórios do GTAOH, apenas uma menção a dificuldade dos pescadores de transitar pelo canal do São Francisco, durante a construção da soleira submersa pela Associação das Empresas

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XXII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7 do Distrito Industrial de Santa Cruz (AEDIN). Esta obra seria uma solução para impedir o avanço da cunha salina e permitir que as empresas continuassem a captar água no mesmo ponto.

Os mais impactados foram o sistema elétrico e as indústrias que captam água bruta no canal do São Francisco próximo a foz na baía de Sepetiba. Quanto ao sistema elétrico, embora existam poucos relatos em relação a impactos diretos como a redução da geração de energia, na área de estudo, há inclusive um relato de maior geração de energia, teve que operar com níveis de água mínimos operacionais para os quais não foram planejados. Essa operação devia se dar sem geração, pois não é possível gerar energia fora da faixa de queda, e poderia ocorrer nos reservatórios de Paraibuna, Santa branca e Funil; muitas vezes tiveram que alterar as vazões defluentes de seus reservatórios para atender protocolos de emergência acionados por indústrias com dificuldades na captação, este setor foi o que mais relatou impactos na sua operação devido a ações implementadas na gestão da crise hídrica

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gestão participativa da crise hídrica nos limites que compreendem os usuários atendidos pelas águas do rio Paraíba do Sul, mostrou-se eficiente no que diz respeito a garantia do abastecimento humano. Para isso foram necessárias também instalação de infraestruturas de adaptação e medidas internas dos usuários, sem perder de vista o diálogo.

Já as indústrias tomaram ações e medidas internas para corrigir os problemas na captação que resultaram em aumento dos custos, também considerados impactos da crise hídrica neste setor. Estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro apontou o aumento dos custos das empresas decorrentes de obras ou tratamento da água (FIRJAN, 2014). Na Bacia do Guandu, foram realizadas a construção da soleira submersa no canal do São Francisco, implantação de tubulação para alterar o ponto de captação de água bruta de algumas indústrias para mais a montante. Esta última obra incluiu inclusive indenizações de proprietários de terras para a passagem das tubulações. Além disso, algumas indústrias aumentaram sua capacidade de acumulação de água e adaptaram seus sistemas de dessalinização. Ainda segundo o estudo realizado pela FIRJAN, 30% dos entrevistados (Universo de 437 indústrias) adotam ações de racionalização do uso da água em seus processos produtivos como medidas para evitar os efeitos da escassez hídrica. Este pode ser visto como um impacto positivo impulsionado pela necessidade de se adaptar a crise hídrica.

Como aspetos positivos, no âmbito da gestão pública, ressalta-se as melhorias no monitoramento da qualidade da água em termos de freqüência e maior quantidade e qualidade de equipamentos, e também acompanhamento dos níveis d’água e das vazões afluentes e defluentes dos reservatórios (ANA, 2015b; ANA, 2016). A maior oferta e qualidade de dados associada a um sistema de informações pode promover uma decisão mais acertada. (Porto e Porto, 2008).

Ressalta-se a importância da continuidade dos trabalho do GTAOH, contudo de forma sistemática e ampliada, com o objetivo de estabelecer a gestão participativa entre as bacias afluentes do rio Paraíba do Sul, inclusive a bacia do Guandu dependente da transposição de águas.

Para o avanço da identificação dos impactos de modo a alcançar uma visão mais ampla e sistemática, que inclua dados consistentes e em maior volume sobre o setor energético. Como forma de validação da principal fonte utilizada nesta pesquisa, os registros de reunião do GTAOH é necessário buscar outras fontes como instituições ligadas a estes setores usuários e a imprensa. É importante também a utilização de outras metodologias que investiguem os impactos junto aos usuários como entrevistas semi-estruturadas.

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AGRADECIMENTOS

Os autores deste artigo agradecem à Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (AGEVAP) e ao Comitê Guandu-RJ pelo apoio a esta pesquisa.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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____ (2015b) Plano de Ações Complementares para a Gestão da Crise Hídrica na Bacia do Rio Paraíba do Sul. Versão 2.0. Brasília – DF.

____(2015c) Encarte especial sobre a crise hídrica: conjuntura dos recursos hídricos no Brasil: informe 2014. Brasília - DF.

____(2011). Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água 2010. Brasília – DF.

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COPPETEC/UFRJ (2014). Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro. Relatório Diagnóstico.

____ (2006). Plano Estratégico de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica dos Rios Guandu, Guarda e Guandu Mirim PERH-Guandu. Relatório do diagnóstico – final.

FIRJAN (2014). Impactos da escassez de água na indústria. Súmula Ambiental. Dezembro de 2014. Disponível em: http://www.firjan.com.br/publicacoes/informativos/sumula-ambiental.htm.

GRUPO DE TRABALHO PERMANENTE DE ACOMPANHAMENTO DA OPERAÇÃO HIDRÁULICA NA BACIA DO RIO PARAÍBA DO SUL (RJ) (2016). Registros de reuniões, no período abril de 2014 a janeiro de 2016. Disponível em: http:// agevap.org.br/agevap/ophidraulica.php.

INEA. (2010) O estado do ambiente. Rio de Janeiro.

PORTO, M. F. A. e PORTO, R. L. (2008). Gestão de bacias hidrográficas. Revista Estudos Avançados, São Paulo, v. 22 n.63, pp. 43-60.

SERRICCHIO, C.; CALAES, V.; FORMIGA-JOHNSSON, R. M.; LIMA, A. J. R.; ANDRADE, E. de P. (2005). O CEIVAP e a gestão integrada dos recursos hídricos da bacia do rio Paraíba do Sul. Rio de Janeiro: CAIXA.

Referências

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