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PERSPETIVAS ECONÓMICAS REGIONAIS

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Academic year: 2021

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(1)

ABR

2021

Atravessar uma longa pandemia

PERSPETIVAS

ECONÓMICAS

REGIONAIS

ÁFRICA SUBSARIANA

Estudos económicos e financeiros

(2)

E s t u d o s e c o n ó m i c o s e f i n a n c e i r o s

Perspetivas Económicas Regionais

21

F U N D O M O N E T Á R I O I N T E R N A C I O N A L

ABR

África Subsariana

(3)

FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL | ABRIL 2021 ii

©2021 Cataloging-in-Publication Data IMF Library

Names: International Monetary Fund, publisher.

Title: Regional economic outlook. Sub-Saharan Africa : navigating a long pandemic.

Other titles: Sub-Saharan Africa : navigating a long pandemic. | World economic and financial surveys. Description: Washington, DC : International Monetary Fund, 2021. | World economic and financial surveys. | Apr. 2021. | Includes bibliographical references.

Identifiers: ISBN 9781513575735 (English Paper) 9781513576060 (English ePub) 9781513576053 (English Web PDF) 9781513575971 (Portuguese Paper) 9781513576114 (Portuguese ePub) 9781513576107 (Portuguese Web PDF)

Subjects: LCSH: Africa, Sub-Saharan—Economic conditions. | COVID-19 Pandemic, 2020— Economic aspects—Africa, Sub-Saharan. | Economic development—Africa, Sub-Saharan. | Africa, Sub-Saharan—Economic policy.

Classification: LCC HC800.R4 2021

Os pedidos podem ser feitos online, por fax ou por correio: International Monetary Fund, Publication Services

P.O. Box 92780, Washington, DC 20090 (USA) Tel.: (202) 623-7430 Fax: (202) 623-7201

Email: publications@imf.org www.imf.org www.elibrary.imf.org

Todas as edições de Perspetivas económicas regionais: África Subsariana estão disponíveis em: https://www.imf.org/en/Publications/REO/SSA

O relatório Perspetivas económicas regionais: África Subsariana é publicado duas vezes ao ano, na primavera e no outono, e passa em revista a evolução económica da região. As projeções e considerações de política económica nele apresentadas são as do corpo técnico do FMI e não representam necessariamente os pontos de vista do FMI, do seu Conselho de Administração ou da sua Direção-Geral.

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Figuras

Figura 1. África Subsariana: Novos casos confirmados de Covid-19 . . . .1

Figura 2. África Subsariana: Rigor das medidas de contenção . . . .1

Figura 3. Regiões selecionadas: Doses de vacinas administradas, 2021 . . . .2

Figura 4. África Subsariana: Inflação dos preços no consumidor . . . .2

Figura 5. África Subsariana: Diferencial do índice EMBI de obrigações dos mercados emergentes . . . .3

Figura 6. Economias de mercados emergentes e de fronteira da África Subsariana: Fluxos acumulados de investimentos de carteira, 2020–21 . . . .3

Figura 7. África Subsariana: Crescimento do PIB real per capita, 2019–25 . . . .4

Figura 8. África Subsariana: Projeções de crescimento do PIB real, 2021–22 . . . .5

Figura 9. Regiões selecionadas: Doses de vacinas administradas . . . .6

Figura 10. África Subsariana: Cenários de crescimento do PIB real per capita, 2019–24 . . . .6

Figura 11. Regiões selecionadas: Perda do produto e acumulação de dívida por causa da Covid-19, 2020–21 . . . .8

Figura 12. África Subsariana: Situação de risco da dívida dos países em desenvolvimento de baixo rendimento habilitados à assistência PRGT, 2014–20. . . .8

Figura 13. África Subsariana: Receitas e despesas orçamentais, 2020–21 . . . .9

Figura 14. África Subsariana: Variação da taxa de política monetária, dezembro 2019–março 2021 . . . .11

Figura 15. Regiões selecionadas: Perdas de aprendizagem por causa da Covid-19, 2020 . . . .13

Figura 16. Regiões selecionadas: PIB real per capita, 2020–24 . . . .14

Figura 17. Regiões selecionadas: Quota de exportação dos produtos primários . . . .15

Figura 18. Regiões selecionadas: Valor das transações de dinheiro móvel, 2012–19 . . . .17

Índice

Agradecimentos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �iv Sumário executivo � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � v

Atravessar uma longa pandemia � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 1 Desenvolvimentos recentes: Uma recuperação global, mas o vírus está à frente das vacinas . . . .1

Principais riscos: A corrida regional contra uma Covid prolongada . . . .5

Políticas e recomendações: Expandir o que for possível . . . .7

Construir um futuro melhor: Aproveitar ao máximo o potencial de África . . . .13

Construir em conjunto: Solidariedade e envolvimento inovador por parte da comunidade internacional . . . .17

Apêndice estatístico � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 24 Tabelas do apêndice estatístico Tabela AE1. Crescimento do PIB real e preços no consumidor . . . .27

Tabela AE2. Saldo orçamental global, incl. donativos e dívida pública . . . .28

Tabela AE3. Moeda em sentido lato e conta corrente externa, incl. donativos . . . .29

Tabela AE4. Dívida externa pública por devedor e reservas . . . .30

Caixas Caixa 1. Aproveitar as condições favoráveis do mercado para melhorar o perfil de reembolso da dívida . . . .19

Caixa 2. Aquisição, distribuição, custo e financiamento das vacinas . . . .20

Caixa 3. A DSSI e o Quadro Comum na África Subsariana . . . .22

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FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL | ABRIL 2021 iv

A edição de abril de 2021 do relatório Perspetivas Económicas Regionais: África Subsariana foi preparada por uma equipa liderada por Andrew Tiffin sob a supervisão de Aqib Aslam, Papa N’Diaye e Catriona Purfield. A equipa foi composta por Reda Cherif, Seung Mo Choi, Habtamu Fuje, Michael Gorbanyov, Cleary Haines, Shushanik Hakobyan, Franck Ouattara, Henry Rawlings e Boriana Yontcheva.

O relatório contou com contributos específicos de Tarak Jardak, Alvaro Piris Chavarri e Ivohasina Razafimahefa. Charlotte Vazquez foi responsável pela produção do relatório, com a assistência de Erick Trejo Guevara.

A edição final e produção foram supervisionadas por Cheryl Toksoz, do Departamento de Comunicação.

Agradecimentos

As seguintes convenções foram utilizadas nesta publicação:

• Nas tabelas, uma célula em branco indica “não se aplica”; a elipse (. . .) indica “dados não disponíveis” e 0 ou 0,0 indicam “zero” ou “negligenciável”. Pequenas discrepâncias entre os totais e a soma das suas componentes devem-se a arredondamentos.

• O sinal (–) entre anos ou meses (por exemplo, 2019–20 ou janeiro–junho) indica o período coberto, do primeiro ao último ano ou mês; o sinal (/) entre anos ou meses (por exemplo, 2005/06) indica um exercício orçamental ou financeiro, assim como a abreviatura EF (por exemplo, EF 2006).

• “Bilião” significa um milhão de milhões.“Ponto base” significa um centésimo de 1 ponto percentual (por exemplo, 25 pontos base equivalem a um quarto de 1 ponto percentual).

(6)

Sumário Executivo

A África Subsariana ainda está a braços com uma

crise sanitária e económica sem precedentes. Nos meses que se seguiram à publicação da edição de outubro de 2020 das Perspetivas Económicas

Regionais: África Subsariana, a região enfrentou

uma segunda vaga do coronavírus (Covid-19) que superou rapidamente a escala e a velocidade da primeira. Embora este episódio tenha, por agora, abrandado, muitos países preparam-se para novas vagas, especialmente tendo em conta que o acesso às vacinas continua a ser escasso.

A crise de 2020 da Covid-19 foi uma tragédia verdadeiramente global – afetando tanto os países ricos como os pobres.

A desejada recuperação global em 2021 será, porém, menos equitativa. Muitas economias avançadas adquiriram doses de vacinas em números suficientes para inocular toda a sua população várias vezes, e miram a segunda metade do ano com uma esperança renovada. Contudo, em África, devido ao limitado poder de compra e às poucas opções, muitos países terão dificuldades até para vacinar os trabalhadores essenciais na linha da frente este ano, e poucos conseguirão assegurar uma ampla disponibilidade de vacinas antes de 2023.

De igual modo, a recuperação nas economias

avançadas será impulsionada, em grande medida, pelo extraordinário nível de apoio de políticas, incluindo biliões em estímulos orçamentais e orientações acomodatícias por parte dos bancos centrais. Os países da África Subsariana, porém, em geral não têm essa opção. Na verdade, a maioria entrou na segunda vaga da pandemia com reservas orçamentais e monetárias esgotadas.

Neste contexto, e apesar de um ambiente externo mais dinâmico, a África Subsariana será a região do mundo com o ritmo de crescimento mais lento em 2021. A economia mundial recuperou mais rapidamente do que o esperado no segundo semestre de 2020, com os efeitos a fazerem sentir-se na região sob a forma de um aumento do comércio, uma subida dos preços das matérias-primas e um regresso das entradas de capitais. As estimativas sugerem agora que a África Subsariana contraiu –1,9% em 2020. Ainda que não tão ruim como se previa em outubro (–3,0%), trata-se do pior resultado de que há registo.

Perspetivando o futuro, a região crescerá 3,4% em 2021, face à previsão de 3,1% em outubro, sustentada por um melhor comportamento das exportações e dos preços das matérias-primas, assim como por uma recuperação tanto no consumo privado como no investimento. Contudo, o produto

per capita só deverá regressar aos níveis de 2019 após

2022 – de facto, em muitos países, os rendimentos

per capita não regressarão aos níveis anteriores à crise

antes de 2025.

Tal como em outubro, as perspetivas atuais ainda estão sujeitas a uma incerteza maior do que o habitual e os riscos continuam dominados pela pandemia mundial. A África Subsariana poderá muito bem enfrentar recorrentes vagas da Covid-19 antes de as vacinas estarem amplamente disponíveis. Outras incertezas importantes dizem respeito à disponibilidade de financiamento externo (oficial e privado), à instabilidade política e ao regresso dos choques relacionados com o clima, como inundações ou secas. Numa nota mais positiva, uma campanha de vacinação acelerada – ou uma distribuição rápida, cooperativa e equitativa das vacinas a nível global – poderia impulsionar as perspetivas da região no curto prazo.

Durante o auge da crise, as discussões sobre políticas estavam muitas vezes orientadas para diferentes fases da pandemia: ações imediatas para salvar vidas e meios de subsistência; iniciativas de curto prazo para assegurar uma recuperação após a fase aguda da crise; e, em seguida, medidas a longo prazo para construir uma economia mais resiliente e sustentável. Contudo, para a África Subsariana, é provável que todas estas fases se sobreponham, deixando as autoridades na posição de tentar impulsionar e reconstruir as suas economias, ao mesmo tempo que lidam com surtos sucessivos do vírus à medida que ocorrem.

A prioridade absoluta ainda é salvar vidas. Tal implicará mais despesas, não só para reforçar os sistemas de saúde locais e os esforços de contenção, como também para assegurar o cumprimento das condições logísticas e administrativas necessárias à distribuição das vacinas. Para a maioria dos países, o custo da vacinação de 60% da população será considerável, representando um aumento de até 50% nas atuais despesas de saúde.

(7)

PERSPETIVAS ECONÓMICAS REGIONAIS: ÁFRICA SUBSARIANA

FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL | ABRIL 2021 vi

A prioridade seguinte é fazer tudo o que for possível para apoiar a economia. Contudo, em última análise, tal exigirá o restabelecimento da saúde das contas públicas. No contexto de reduzido espaço orçamental, os défices na região deverão diminuir em pouco mais de 1,5% do PIB em 2021, resultando num recuo do endividamento médio para cerca de 56% do PIB.

No futuro, de um modo geral, o desafio para os decisores políticos será criar mais espaço orçamental, através da mobilização de receitas internas, da prioritização e de ganhos de eficiência na despesa ou, porventura, através da gestão da dívida. Além de medidas específicas dos lados da receita e da despesa, as autoridades também podem maximizar o espaço orçamental através da melhoria dos seus quadros orçamentais – um quadro a médio prazo que estabeleça, de forma credível, um equilíbrio entre a necessidade de apoio no curto prazo com a consolidação no médio prazo pode conter os custos de financiamento e manter a confiança.

Relativamente à dívida, 17 países encontravam-se numa situação de sobre-endividamento ou em elevado risco de sobre-endividamento em 2020, um a mais do que antes da crise – estes países incluem vários Estados pequenos ou frágeis e representam cerca de um quarto do PIB ou 17% do stock da dívida da região.

A este respeito, a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida do Grupo dos Vinte (G-20) proporcionou um importante apoio de liquidez, disponibilizando 1,8 mil milhões de USD em assistência de junho a dezembro de 2020 e oferecendo 4,8 mil milhões de USD em poupanças potenciais ao longo de janeiro a junho de 2021. Ainda assim, alguns países poderão precisar de mais assistência. As circunstâncias individuais são muitas variadas, mas o Quadro Comum do G-20 pode prestar um tratamento à medida dos requisitos específicos de cada economia. Relativamente aos países com a dívida em níveis sustentáveis mas com persistentes necessidades de liquidez, o Quadro Comum pode ajudar a coordenar o reescalonamento da dívida; no que toca aos países com preocupações mais profundas quanto à sustentabilidade da dívida, pode ajudar a coordenar o necessário processo de reestruturação.

Para além da política orçamental, as autoridades monetárias da região têm, em geral, adotado uma posição de apoio. Mas num contexto de aumento dos preços dos produtos alimentares e da energia, muitas estão agora a ficar sem espaço – tendo flexibilizado a política em 2020, a maioria dos países está agora a manter as taxas diretoras inalteradas, enquanto outros inverteram alguns dos cortes das taxas diretoras realizados no ano transato. Os indicadores de estabilidade financeira apresentaram pouca variação em 2020, mas o pleno impacto da crise ainda não se fez sentir. Perspetivando o futuro, uma moratória prolongada iria simplesmente mascarar o verdadeiro estado do sistema financeiro e prejudicar a sua capacidade de apoiar o crescimento a longo prazo. O emprego recuou cerca de 8,5% em 2020, mais de 32 milhões de pessoas caíram na pobreza extrema e as perturbações na educação comprometeram as perspetivas de uma geração de crianças em idade escolar.

Contudo, apesar das sequelas da crise, a África Subsariana continua a ter um potencial inegável, e a necessidade de reformas ousadas e transformadoras é mais urgente do que nunca, incluindo em matéria de mobilização de receitas, digitalização, integração comercial, concorrência, transparência, governação e mitigação das alterações climáticas. Além disso, face a recursos limitados, a prioridade deverá ser dada a reformas que promovem a resiliência a choques futuros, com incidência nos setores com o melhor retorno em matéria de crescimento e emprego. A este respeito, a experiência de diferentes países durante a crise sugere a necessidade de acelerar a agenda de diversificação da região.

Para a comunidade internacional, garantir a cobertura das vacinas na África Subsariana não é simplesmente uma questão relevante para os meios de subsistência locais e para o crescimento local. Uma ampla

cobertura regional constitui também um bem público mundial. Para qualquer país, em qualquer lado, a recuperação mais duradoura requer um esforço global que inclua todas as pessoas. Há que evitar as restrições à disseminação das vacinas ou de equipamentos médicos; os mecanismos multilaterais – como a COVAX, a aliança para o acesso global às vacinas contra a Covid 19 – devem ser completamente

(8)

ATRAVESSAR UMA LONGA PANDEMIA

financiados, e devem ser introduzidos canais para garantir que as doses excedentárias nos países ricos sejam redistribuídas rapidamente.

Em termos mais gerais, para recuperar o terreno perdido durante a crise, os países de baixos rendimentos da África Subsariana deparam-se com necessidades adicionais de financiamento externo de 245 mil milhões de USD ao longo de 2021–25 para reforçar a resposta à pandemia e acelerar a convergência de rendimentos. O montante correspondente para a conjunto da África Subsariana é de 425 mil milhões de USD. Estes temas serão debatidos na próxima Cimeira Internacional de Alto Nível sobre Financiamento para África.

Por si só, a região consegue cobrir apenas uma parte destas necessidades. A comunidade internacional, incluindo o FMI, avançou prontamente para ajudar a cobrir as necessidades de emergência em 2020. No entanto, será essencial mais apoio – por meio de mais financiamento concessional, entre outros – e mais ajuda para lidar com a dívida da região. A extensão até dezembro de 2021 da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida do G-20 e o novo Quadro Comum serão úteis a este respeito. Além disso, a alocação de direitos de saque especiais no montante de 650 mil milhões de USD disponibilizará cerca de 23 mil milhões de USD aos países da África Subsariana com vista ao reforço da liquidez e ao combate à pandemia. A longo prazo, porém, os recursos oficiais talvez não sejam suficientes. O legado desta crise também poderá constituir uma oportunidade valiosa para adotar abordagens inovadoras em matéria de financiamento, que ajudem a África Subsariana a mobilizar recursos do setor privado, particularmente à luz das necessidades de investimento da região.

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Figura 1. África Subsariana: Novos casos confirmados de Covid-19

(Novos casos por semana, milhares)

Fonte: Center for Systems Science and Engineering (CSSE) da Universidade Johns Hopkins, projeto de rastreamento da Covid.

0 50 100 150 200

jan/20 abr/20 jun/20 ago/20 nov/20 jan/21 mar/21 África Subsariana

África Subsariana excl. a África do Sul

Figura 1. África Subsariana: Novos casos confirmados de Covid-19

(Novos casos por semana, milhares)

Fonte: Center for Systems Science and Engineering (CSSE) da Universidade Johns Hopkins, projeto de rastreamento da Covid.

Figura 2� África Subsariana: Rigor das medidas de contenção

(Índice, pontuação de 100)

Fonte: COVID-19 Government Response Tracker da Universidade de Oxford.

Figura 2. África Subsariana: Rigor das medidas de contenção (Índice, pontuação de 100)

Fonte: COVID-19 Government Response Tracker da Universidade de Oxford. 0 20 40 60 80 100

Abril Setembro Fevereiro

Média da África Subsariana

1 FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL | ABRIL 2021

DESENVOLVIMENTOS RECENTES:

UMA RECUPERAÇÃO GLOBAL, MAS O

VÍRUS ESTÁ À FRENTE DAS VACINAS

Uma pandemia regional mais longa e

generalizada…

A crise da doença do coronavírus (Covid-19) continua.A África Subsariana ainda vive uma emergência sanitária e económica. Há um ano, a maioria dos países africanos introduziu rapidamente confinamentos a nível nacional para conter o vírus e proteger a região dos piores efeitos da crise. Embora tenham sido vitais para salvar vidas, estas medidas tiveram um impacto direto e dramático nas economias locais, levando a economia da África Subsariana a recuar uns extraordinários –1,9% em 2020 – o pior desempenho de que há registo. Com a diminuição do número de casos e à luz dos crescentes custos económicos e sociais dos confinamentos, muitos países reabriram com cautela as suas economias durante o verão. No entanto, nos meses que se seguiram à publicação da edição de outubro de 2020 das Perspetivas Económicas

Regionais: África Subsariana, a região – juntamente

com o resto do mundo – enfrentou uma segunda vaga que superou rapidamente a escala e a velocidade da primeira num amplo conjunto de países (Figura 1). Além disso, algumas partes da África Austral assistiram ao surgimento de variantes mais infeciosas da doença. Embora a segunda vaga tenha, por agora, abrandado, muitos países continuam a preparar-se para novas vagas com a aproximação do inverno no hemisfério sul.

Os países estão sobrecarregados. A maioria dos países entrou na segunda vaga numa posição

bastante pior do que aquando da primeira vaga, com reservas orçamentais e monetárias esgotadas, menos recursos para proteger os mais vulneráveis e milhões de pessoas a cair na pobreza. Por conseguinte, as medidas de contenção implementadas durante a segunda vaga foram bastante mais diversas do que durante a primeira vaga (Figura 2). Embora nem sempre tão restritivas como na primeira vaga, alguns países responderam à intensidade da segunda vaga reintroduzindo medidas de controlo da circulação e da atividade (África do Sul, Lesoto, Zimbabué). Outros mostraram-se mais relutantes em repetir as medidas economicamente onerosas aplicadas em 2020 (Gana, Senegal).

A longa espera pelas vacinas. O esforço global para desenvolver uma vacina eficaz tem sido verdadeiramente notável, e muitos países aguardam o segundo semestre do ano com esperança renovada. Contudo, o processo de produção, aquisição e distribuição de vacinas à escala mundial arrancou de forma lenta e bastante desigual (Figura 3). Muitas economias avançadas estão a intensificar rapidamente os seus esforços de vacinação, tendo como objetivo assegurar a vacinação da maioria das pessoas até meados de 2021; com efeito, muitas delas adquiriram doses suficientes de vacinas para cobrir várias vezes as suas populações. Em África, porém, dado o poder de compra limitado e as opções reduzidas, muitos países encontram-se relegados ao fim da fila, e enfrentam grandes dificuldades para cobrir os trabalhadores essenciais na linha da frente (profissionais de

Atravessar uma longa pandemia

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Figura 3� Regiões selecionadas: Doses de vacinas administradas, 2021

(Por 100 pessoas)

Fontes: Our World In Data; e Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial.

Nota: EMED fora da ASS = economias de mercados emergentes e em desenvolvimento fora da África Subsariana.

Figura 3. Regiões selecionadas: Doses de vacinas administradas, 2021

(Por 100 pessoas)

Fontes: Our World In Data; e Banco Mundial, Indicadores do Desenvolvimento Mundial.

Nota: EMED fora da ASS = economias de mercados emergentes e em desenvolvimento fora da África Subsariana.

0 5 10 15 20 25 30

Dez Jan Fev Mar

Economias avançadas EMED fora da ASS África Subsariana

Figura 4. África Subsariana: Inflação dos preços no consumidor

(Variação homóloga)

Fontes: Autoridades nacionais; e cálculos do corpo técnico do FMI.

0 4 8 12 16

dez/15 dez/16 dez/17 dez/18 dez/19 dez/20

Inflação global

Inflação dos produtos alimentares Inflação excl. produtos alimentares

Figura 4. África Subsariana: Inflação dos preços no consu

(Variação homóloga)

Fontes: Autoridades nacionais; e cálculos do corpo técnico do FMI. saúde, professores, etc.). Enquanto esperam, e no

contexto de sistemas de saúde já sobrecarregados, as autoridades continuarão a enfrentar a ameaça do recrudescimento da pandemia.

…neutraliza uma conjuntura externa mais

favorável���

Uma recuperação mundial desigual. As estimativas atuais sugerem que a economia mundial recuou –3,3% em 2020, mas grande parte dessa contração concentrou-se no primeiro semestre do ano. Na realidade, as estimativas para o crescimento mundial em 2020 são 1,1 pontos percentuais superiores às das previsões de outubro do World Economic

Outlook, devido a uma recuperação mais forte do

que o previsto no segundo semestre.

Subida dos preços das matérias-primas.Em linha com a economia mundial, a maioria dos preços das matérias-primas também recuperou no segundo semestre de 2020, à medida que os confinamentos rigorosos foram sendo gradualmente suspensos e que a procura mundial se consolidou, especialmente na China. Os preços do petróleo no primeiro trimestre de 2021 situaram-se, em média, em torno de 59 USD por barril, uma subida significativa face a 41 USD em 2020. Os preços das matérias-primas não petrolíferas também estão a subir. Os preços dos metais de base recuperaram fortemente no segundo semestre, aumentando 36% entre junho e dezembro de 2020.

1 Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2020. “Special Feature: Commodity Market Developments and Forecasts”, World

Economic Outlook, Washington, DC, Abril.

2 Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2020.“Food Markets During COVID-19”, Série Especial do FMI sobre a COVID-19,

Washington, DC, Junho.

Alta dos preços dos produtos alimentares. Os preços de muitos produtos agrícolas básicos também apresentaram alta no segundo semestre de 2020, invertendo a tendência de declínio registada durante os primeiros meses da pandemia, quando o excesso de oferta mundial e a menor procura empurraram os preços para mínimos de quatro anos1. Na África

Subsariana, esses desenvolvimentos a nível mundial vieram se somar às tendências regionais preexistentes – muitos países afetados pelas secas já se viam a braços com a subida dos preços dos produtos alimentares (Figura 4), com algumas regiões a registarem picos localizados de preços dos alimentos e uma crescente insegurança alimentar (Burquina Faso, Mali, Níger, República Democrática do Congo, Zimbabué)2.

Condições financeiras mais brandas. Da mesma forma, as condições financeiras mundiais

melhoraram significativamente no segundo semestre de 2020. Depois de terem atingido máximos históricos em abril, os spreads soberanos da África Subsariana recuaram cerca de 700 pontos base ao longo de 2020 (Figura 5). As vendas regionais de Eurobonds retomaram no final de 2020, com uma emissão bem-sucedida pela Côte d’Ivoire em novembro, à qual se seguiu, no início de 2021, uma emissão do Benim e de Gana, e outra emissão da Côte d’Ivoire. Os mercados antecipam um total de cerca de 15 mil milhões de USD em vendas de Eurobonds em 2021 (Caixa 1).

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Figura 5� África Subsariana: Diferencial do índice EMBI de obrigações dos mercados emergentes

(Pontos base vs. referência em dólar dos EUA, acumulado desde o evento)

Fontes: Haver Analytics; e cálculos do corpo técnico do FMI. Nota: Exclui a Zâmbia.

Figura 5. África Subsariana: Diferencial do índice EMBI de obrigações dos mercados emergentes

(Pontos base vs. referência em dólar dos EUA, acumulado desde o evento)

Fontes: Haver Analytics; e cálculos do corpo técnico do FMI.

–100 100 300 500 700 900 0 100 200 300 400 Covid-19

Crise financeira mundial

Figura 6� Economias de mercados emergentes e de fronteira da África Subsariana: Fluxos acumulados de investimentos de carteira, 2020–21

(Mil milhões de USD)

Fontes: Haver Analytics; e cálculos do corpo técnico do FMI. Nota: Outros países da África Subsariana = Angola, Côte d’Ivoire, Gana, Moçambique, Nigéria, Quénia, Ruanda, Senegal e Zâmbia.

–4 –2 0 2 4

jan/20 abr/20 ago/20 dez/20 mar/21

África do Sul

Outros países da África Subsariana

Figura 6. Economias de mercados emergentes e de fronteira da África Subsariana: Fluxos acumulados de investimentos de carteira, 2020–21

(Mil milhões de USD)

Fontes: Haver Analytics; e cálculos do corpo técnico do FMI. Nota: Outros países da África Subsariana = Angola, Côte d'Ivoire, Gana, Moçambique, Nigéria, Quénia, Ruanda, Senegal e Zâmbia.

FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL | ABRIL 2021 ATRAVESSAR UMA LONGA PANDEMIA

3

Para o próximo ano, os principais bancos centrais provavelmente manterão uma postura acomodatícia a curto e médio prazo; como tal, as condições financeiras para os mutuários africanos deverão permanecer positivas na generalidade, não obstante a recente volatilidade do mercado.

• As saídas de fluxos financeiros dos mercados emergentes e de fronteira da África Subsariana totalizaram 5 mil milhões de USD entre fevereiro e junho de 2020, mas as entradas de fluxos retomaram em julho e cifraram-se em quase 4 mil milhões de USD na segunda metade do ano (Figura 6).

• Além disso, as entradas de remessas também recuperaram em muitos países (Gâmbia, Quénia). As remessas continuam a ser a principal fonte de rendimento proveniente do exterior da África Subsariana e estão estreitamente ligadas ao crescimento mundial (cerca de 60% das entradas têm origem nas economias avançadas)3. No total, as entradas

de remessas caíram cerca de 7% em 2020, mas este valor compara favoravelmente com uma queda de cerca de 20% projetada aquando da publicação das Perspetivas Económicas Regionais:

África Subsariana de outubro de 2020 e reflete

uma subida acentuada no final do ano – uma tendência que deverá continuar em 2021.

3 Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2021. “Remittances in sub-Saharan Africa: An Update”, Série Especial do FMI sobre a

COVID-19, Washington, DC, Fevereiro.

…colocando novos desafios aos decisores

políticos da África Subsariana�

Apesar de uma revisão em alta, a África Subsariana será ainda assim a região com menor crescimento em 2021. A economia global deverá manter a sua recente pujança e crescer 6% em 2021– uma revisão em alta de 0,8 ponto percentual desde outubro – refletindo a distribuição mais acelerada de vacinas e os incentivos em vigor nas principais economias. Por outro lado, o crescimento na África Subsariana deverá ser de 3,4%. Tal reflete a recorrente falta de espaço para a aplicação de políticas, mas também, em parte, a distribuição mais lenta de vacinas na região, onde é pouco provável que a maioria dos países alcance uma cobertura geral (pelo menos 60% da população vacinada) antes do final de 2023. Um legado duradouro. Para o conjunto da região, o produto per capita só regressará aos níveis de 2019 após 2022 – e, em muitos países, os rendimentos

per capita não regressarão aos níveis anteriores à crise

antes do final do horizonte de previsão (Figura 7). As perdas acumuladas do produto decorrentes da pandemia ascenderão a quase 12% do PIB em 2020–21.

(12)

Figura 7� África Subsariana: Crescimento do PIB real per capita, 2019–25

(Índice 2019 = 100)

Fonte: FMI, base de dados do World Economic Outlook. 80 90 100 110 120 130 2019 20 21 22 23 24 25 África Subsariana

Países exportadores de petróleo Outros países ricos em recursos naturais Países não ricos em recursos naturais Países dependentes do turismo Estados frágeis

Fonte: FMI, base de dados do World Economic Outlook.

Figura 7. África Subsariana: Crescimento do PIB real per

capita, 2019–25

(Índice 2019 = 100)

• A economia da África do Sul recuou uns extraordinários –7% no ano passado. Um quarto trimestre melhor do que o esperado levou a uma revisão em alta em 2021 – embora este facto possivelmente será neutralizado pela segunda vaga da Covid-19, que atingiu o pico em janeiro de 2021 e resultou na reintrodução de algumas medidas de contenção durante o primeiro trimestre. O impacto líquido será uma taxa de crescimento de 3,1% em 2021. Em termos prospetivos, as autoridades empreenderam um ambicioso programa de vacinação, que poderá limitar o risco de mais vagas, caso seja implementado rapidamente. Contudo, é provável que as sequelas da crise, o agravamento das desigualdades, as falhas crónicas de eletricidade e a rigidez dos mercados laboral e de produtos afetem o crescimento a médio prazo, condicionando a capacidade da economia tirar partido de uma melhor conjuntura global.

• Na Nigéria, a economia contraiu 1,8% em 2020 e deverá crescer 2,5% em 2021, graças à subida dos preços e ao aumento da produção petrolífera e de uma recuperação generalizada nos setores não petrolíferos. A médio prazo, a transição global para energias mais verdes continuará a pesar sobre a produção petrolífera, enquanto o crescimento não petrolífero deverá manter-se letárgico na ausência de um esforço firme para resolver as deficiência estruturais de longa data do país, incluindo estrangulamentos ao nível das

4 Para os países com uma diáspora considerável, as menores entradas de turistas foram compensadas, em parte, por maiores remessas

(Comores).

infraestruturas e capital humano, bem como as fragilidades em termos de políticas e governação. Em 2021, prevê-se que Angola cresça pela primeira vez em seis anos. A crise resultou numa queda de –4,0% do produto em 2020, mas o crescimento deverá recuperar modestamente para 0,4% este ano. Esta última projeção sofreu uma expressiva revisão em baixa desde outubro, devido aos atrasos nos investimentos e nas intervenções de manutenção no setor petrolífero. As projeções para um maior crescimento não petrolífero refletem recuperações moderadas nos setores da agricultura e dos serviços.

• As previsões de crescimento da Etiópia para o exercício 2020/21 foram revistas em alta, de 0% para 2%, como resultado de um dinamismo maior do que o esperado no exercício de 2019/20, juntamente com a recuperação mundial generalizada. Mas a incerteza

relacionada com a Covid-19 continuará a pesar sobre as atividades agrícolas, e as projeções para o produto agrícola foram revistas em baixa, refletindo as recentes pragas de gafanhotos e o conflito em Tigray. Em janeiro de 2021 assistiu-se a um novo aumento de casos de Covid-19.

Os países dependentes do turismo (Cabo Verde, Comores, Gâmbia, Maurícias, São Tomé e Príncipe, Seicheles) enfrentam um desafio particularmente exigente. O turismo é uma fonte crucial de

emprego, divisas e receitas públicas, mas as chegadas de turistas foram bruscamente interrompidas no primeiro semestre de 2020, o que provocou uma contração da economia de até 14–16% (Cabo Verde, Maurícias, Seicheles)4. Apesar da recuperação

mundial, as viagens internacionais continuam em níveis reduzidos, e não se espera que as entradas de turistas em África regressem aos níveis de 2019 antes de 2023. No entanto, a partir de uma base baixa, as receitas do turismo deverão começar a melhorar este ano – impulsionadas em alguns casos por programas de vacinação rápidos e ambiciosos (Seicheles). Tal deverá contribuir para uma retoma do consumo privado e uma subida modesta no investimento (Figura 8).

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Figura 8� África Subsariana: Projeções de crescimento do PIB real, 2021–22

Fonte: FMI, base de dados do World Economic Outlook.

Figura 8. África Subsariana: Projeções de crescimento do PIB real, 2021–22

Fonte: FMI, base de dados do World Economic Outlook.

0 2 4 6 8 2021 2022 Exportadores de petróleo 2021 2022 Outros países ricos em recursos naturais 2021 2022 Economias de mercado de fronteira 2021 2022 Estados frágeis 2021 2022 Países dependentes de remessas 2021 2022

Países não ricos em recursos naturais 2021 2022 Países dependentes do turismo 2021 2022 África Subsariana Atuais World Economic Outlook outubro de 2019World Economic Outlook outubro 2019

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Tanto nas economias de fronteira como nas economias frágeis, o reduzido grau de despesa pública e investimento privado pesará no crescimento em 2021, mas será compensado por uma aceleração do consumo. Contudo, em algumas economias frágeis – especialmente nos países do Sahel – os atuais desafios de segurança (Burquina Faso) e instabilidade política (Mali) poderão prejudicar a esperada recuperação da confiança dos consumidores.

Sustentado pelo aumento dos preços das matérias-primas e das exportações, o crescimento para os exportadores de petróleo passará de –2,3% em 2020 para 2,3% em 2021, com a recuperação a ser afetada pelo fraco desempenho do investimento. Por outro lado, os outros países ricos em recursos naturais deverão assinalar uma recuperação relativamente rápida. Em virtude sobretudo da retoma do consumo, prevê-se que o crescimento do produto suba de –3,7% em 2020 para 3,5% em 2021, um nível praticamente idêntico àquele registado antes da crise.

Os países não ricos em recursos mais diversificados continuarão a ser as economias mais dinâmicas da região, impulsionados pela normalização do consumo, mas também pelo regresso do investimento. O crescimento destes países passará de 1,0% em 2020 para 4,8% em 2021, uma recuperação bem-vinda, mas ainda assim aquém das tendências anteriores à crise, dado que os países não ricos em recursos não deverão regressar às taxas de crescimento pré-crise antes de 2022.

PRINCIPAIS RISCOS: A CORRIDA

REGIONAL CONTRA UMA COVID

PROLONGADA

Os riscos continuam a ser dominados pela

pandemia e pelo acesso às vacinas�

Uma Covid-19 ainda mais prolongada. A edição de outubro de 2020 das Perspetivas Económicas

Regionais: África Subsariana sublinhou que as

perspetivas para a região estavam sujeitas a uma incerteza superior ao habitual e que as projeções para a região dependiam, fundamentalmente, da duração do choque da Covid-19 – e, à época, presumia-se que o pior já tinha passado.

Esta incerteza subsiste. De facto, à luz da experiência da segunda vaga, a África Subsariana poderá

deparar-se com recorrentes episódios de Covid-19 antes das vacinas ficarem amplamente disponíveis (Figura 9). O cenário de base pressupõe que novos surtos serão acompanhados de confinamentos localizados, conforme seja necessário, mas pressupõe ainda que as medidas de contenção serão menos severas do que no início de 2020. Além disso, o cenário de base pressupõe igualmente que quaisquer medidas de contenção terão um menor impacto na atividade por comparação com o início de 2020, devido a um direcionamento mais deliberado, a uma maior adaptação e a um ponto de partida mais moderado para as atividades que implicam um elevado grau de contacto.

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Figura 10� África Subsariana: Cenários de crescimento do PIB real per capita, 2019–24

(Índice 2019 = 100)

Fontes: FMI, base de dados do World Economic Outlook; e cálculos do corpo técnico do FMI.

Figura 10. África Subsariana: Cenários de crescimento do PIB real per capita, 2019–24

Fontes: FMI, base de dados do World Economic Outlook; e cálculos do corpo 94 96 98 100 102 104 2019 20 21 22 23 24 Cenário ascendente Cenário descendente

Figura 9� Regiões selecionadas: Doses de vacinas administradas

Fontes: Our World in Data; e Banco Mundial, base de dados dos Indicadores do Desenvolvimento Mundial.

Nota: Dados até ao final de março de 2021. EMED fora da ASS = economias de mercados emergentes e em desenvolvimento fora da África Subsariana. 0 20 40 60 80

100 Parcela da população Parcela das vacinas

África Subsariana EMED fora da ASS Economias avançadas Figura 9. Regiões selecionadas: Doses de vacinas administradas

Fontes: Our World in Data; e Banco Mundial, base de dados dos Indicadores do Desenvolvimento Mundial.

Nota: Dados até ao final de março de 2021. EMED fora da ASS = economias de mercados emergentes e em desenvolvimento fora da África Subsariana.

Uma corrida contra o vírus. Os constrangimentos ao nível da produção significam que a maioria dos países em África depende da aliança para o acesso global às vacinas contra a Covid-19 (COVAX) e da União Africana para garantir doses iniciais para as suas populações (Caixa 2). O panorama complica-se ainda mais pelo facto de diferentes vacinas terem diferentes requisitos e, porventura, diferentes graus de eficácia. Nos casos em que já começaram a ser enviadas vacinas, o sucesso da campanha de vacinação também depende, de forma crítica, da infraestrutura de distribuição que as autoridades e a comunidade internacional consigam implementar. Caso os problemas ao nível do fornecimento e da distribuição subsistam, a maioria dos países terá dificuldades em alcançar a imunidade de grupo antes do fim de 2023, deixando-os expostos a novas estirpes mais virulentas da doença e levantando a possibilidade da Covid-19 se tornar um problema permanente e endémico em toda a região.

As simulações de uma pandemia global

mais prolongada sugerem que os riscos

descendentes para o crescimento são

significativos�

Num cenário descendente, no qual a campanha de vacinação mundial se desenrola a um ritmo mais lento do que o esperado – devido a problemas com a produção, distribuição e eficácia das vacinas, ou hesitações em aderir à imunização – o crescimento global cai 1,5–2,5 pontos percentuais ao longo de 2021–22, os preços das principais matérias-primas

descem e o custo de financiamento dos mercados emergentes e de fronteira aumenta. Na África Subsariana, o crescimento cai cerca de 0,5–1 ponto percentual ao longo de 2021–22, resultando em perdas adicionais acumuladas do PIB per capita de quase 2,5% nos próximos dois anos. A região regressaria aos níveis de rendimento pré-crise apenas em 2024 (Figura 10).

Num cenário ascendente, a campanha de vacinação mundial se desenrola de forma ainda mais rápida do que no cenário de base, impulsionando o crescimento mundial em mais de 0,25 ponto percentual em 2021 e 1,25 pontos percentuais em 2022. Nesta conjuntura mais favorável, o crescimento na África Subsariana melhora ao longo de 2021–22 em torno de 0,25 ponto percentual ao ano, o que resulta num ganho acumulado do produto de quase 1 ponto percentual nos próximos dois anos. A evolução da Covid-19 é, sem dúvida, altamente incerta, e o desenvolvimento de uma série de vacinas eficazes no espaço de um ano é um feito quase milagroso; por isso, ainda há margem para outros desenvolvimentos positivos. Uma aceleração dos cronogramas, por exemplo, ou um esforço redobrado para assegurar a distribuição rápida e equitativa de vacinas a nível mundial, poderiam dar novo alento às perspetivas da região a curto prazo.

Além da pandemia, subsistem outras

incertezas�

Os principais riscos internos incluem uma deterioração das desigualdades socioeconómicas preexistentes, bem como das tensões sociais e

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políticas, que poderão comprometer a confiança e prejudicar a formulação de políticas eficazes. Treze países realizarão eleições em 2021 num contexto de espaço orçamental limitado, o que aumenta o risco de derrapagens de política. Outros deparam-se com graves preocupações em termos de segurança (Burquina Faso, Camarões, Chade, Etiópia, Mali, Moçambique, República Centro-Africana). A região também continua sujeita a choques relacionados com o clima, como inundações e secas (Benim, Lesoto, Mali).

Os riscos de uma recuperação mundial desigual. Uma retirada inesperada do apoio de políticas nas principais economias avançadas ou uma reavaliação pelos participantes no mercado das perspetivas de inflação relativa poderiam despoletar um aumento da volatilidade nos mercados e um agravamento desordenado das condições financeiras mundiais. Os mercados poderiam então reavaliar o preço de ativos de risco e os mutuários vulneráveis poderiam enfrentar maiores riscos de refinanciamento, prejudicando o acesso aos mercados por parte das economias emergentes e de fronteira. Nos países da África Subsariana com reduzido espaço orçamental e pouca margem para resistir a outra inversão dos fluxos de capitais – em especial os países com um elevado nível de endividamento e/ou poucas reservas – tal poderia acentuar as pressões sobre a sustentabilidade da dívida, pressões de desvalorização e, em alguns casos, resultar numa maior inflação e num menor crescimento.

Apoio financeiro inadequado. Tendo em conta as necessidades de financiamento relacionadas com a crise, as projeções do cenário de base para a África Subsariana pressupõem a continuação do apoio da comunidade internacional e uma rápida normalização das entradas de fluxos privados. Se isto não ocorrer, muitos países poderão cair num círculo vicioso, no qual um défice de financiamento externo exige uma consolidação orçamental mais aprofundada, o que acaba por asfixiar o crescimento a curto prazo, agravando as tensões sociais,

aumentando os prémios de risco e limitando a capacidade de as autoridades prosseguirem reformas para estimular a produtividade, deixando os países presos numa trajetória de baixo crescimento e de dívida elevada.

POLÍTICAS E RECOMENDAÇÕES:

EXPANDIR O QUE FOR POSSÍVEL

As políticas macroeconómicas estarão muito

condicionadas e implicarão algumas escolhas

difíceis�

Políticas numa pandemia longa. Durante o auge da crise, as discussões sobre políticas estavam muitas vezes orientadas para diferentes fases da pandemia: ações imediatas para salvar vidas e meios de subsistência; iniciativas de curto prazo para assegurar uma recuperação robusta após a fase aguda da crise; e, na sequência, medidas a longo prazo para construir uma economia pós-Covid-19 mais resiliente, inclusiva e sustentável. Contudo, para a África Subsariana, à medida que a pandemia persiste, é provável que todas estas fases se

sobreponham, deixando os decisores políticos na posição nada invejável de tentar impulsionar e reconstruir as suas economias, ao mesmo tempo que lidam com surtos sucessivos do vírus à medida que ocorrem. Além disso, a conciliação destas necessidades concorrentes poderá tornar-se cada vez mais difícil ao longo do tempo, devido ao legado orçamental de 2020. Os recursos já são escassos e, quanto mais tempo a pandemia durar, mais escassos serão.

A prioridade absoluta ainda é salvar vidas. Contudo, os confinamentos prolongados pura e simplesmente não são viáveis como uma solução duradoura, pelo que as medidas de contenção e a vigilância da saúde pública terão de ser adaptadas a cada surto individual. Será difícil obter o equilíbrio certo. Implicará mais despesa, não só para reforçar a resiliência dos sistemas de saúde locais e apoiar a testagem e o rastreio exigidos no âmbito de uma abordagem de contenção mais ajustada, como também para assegurar o cumprimento dos requisitos logísticos, administrativos e financeiros para uma campanha de vacinação em massa.

Nada disto é o ideal. Enquanto a pandemia durar, as medidas de contenção de “pára-arranca” continuarão a prejudicar a confiança dos consumidores e das empresas; e enquanto as preocupações relacionadas com a pandemia continuarem a travar a economia, maior o potencial para sequelas a longo prazo, à medida que o capital físico e humano se vai desgastando. Além disso, a despesa adicional para

(16)

Figura 12� África Subsariana: Situação de risco da dívida dos países em desenvolvimento de baixo rendimento habilitados à assistência PRGT, 2014–20

Fonte: FMI, base de dados sobre a análise de sustentabilidade da dívida dos países em desenvolvimento de baixo rendimento.

Nota: A notação de risco da dívida de Cabo Verde começou em 2014 e a do Sudão do Sul em 2015. PRGT = Fundo Fiduciário para a Redução da Pobreza e o Crescimento. 11 6 6 5 5 4 2 17 21 19 15 14 15 16 4 6 7 9 9 9 12 2 2 3 6 7 7 5 2014 15 16 17 18 19 20

Baixo Moderado Alto Sobre-endividado

Figura 12. África Subsariana: Situação de risco da dívida dos países em desenvolvimento de baixo rendimento habilitados à assistência PRGT, 2014–20

Fonte: FMI, base de dados sobre a análise de sustentabilidade da dívida dos países em desenvolvimento de baixo rendimento.

Nota: A notação de risco da dívida de Cabo Verde começou em 2014 e a do Sudão do Sul em 2015. PRGT = Fundo Fiduciário para a Redução da Pobreza e o Crescimento.

Fonte: FMI, base de dados do World Economic Outlook.

Nota: EMED fora da ASS = economias de mercados emergentes e em desenvolvimento fora da África Subsariana.

Figura 11. Regiões selecionadas: Perda do produto e acumulação de dívida por causa da Covid-19, 2020–21

(Em % do PIB)

Fonte: FMI, base de dados do World Economic Outlook. Economias avançadas

EMED fora da ASS África Subsariana

20 10 0 2,5 5,0

Aumento da dívida Perda do produto

Figura 11� Regiões selecionadas: Perda do produto e acumulação de dívida por causa da Covid-19, 2020–21

(Em % do PIB)

conter a pandemia virá necessariamente às custas de outras prioridades orçamentais, incluindo despesas cruciais noutras áreas básicas da saúde, assim como as tão necessárias despesas de investimento.

Os responsáveis políticos farão o que for

possível, mas, em última análise, tal implica

restabelecer a saúde das contas públicas�

Criar espaço enquanto se preserva a sustentabili-dade orçamental.

Limitado espaço para a aplicação de políticas. A região entrou na crise da Covid-19 com menos espaço orçamental do que no início da crise financeira mundial, com 16 países em risco elevado de sobre-endividamento ou já numa situação de sobre-endividamento em 2019. A Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida do Grupo dos Vinte (G-20) proporcionou algum espaço de manobra para os países continuarem a realizar despesas críticas, ao adiar temporariamente os pagamentos sem reduzir o nível global da dívida (Caixa 3). Mas os pacotes orçamentais relacionados com a Covid-19 na região cifraram-se, em média, em apenas 2,6% do PIB em 2020. Trata-se de um valor consideravelmente inferior aos montantes gastos noutras regiões (as despesas nas economias avançadas foram quase o triplo deste montante: 7,2% do PIB em 2020) e, muitas vezes, às custas de despesas essenciais noutras áreas. Como resultado, a maioria dos países na região não conseguiu mitigar o impacto da pandemia nas suas economias na mesma medida que outros países o fizeram e, consequentemente, sofreu maiores perdas do produto (Figura 11).

Com as políticas públicas a proporcionar um menor grau de apoio do que em muitas outras regiões, a dívida pública aumentou na África Subsariana para quase 58% do PIB em 2020, o nível mais alto em quase 20 anos e uma subida de mais de 6 pontos percentuais em apenas um ano. Dezassete países encontravam-se em risco elevado de sobre-endividamento ou numa situação de sobre-endividamento em 2020, um a mais do que antes da crise (Figura 12). Esse grupo, que inclui vários estados pequenos ou frágeis (8), representa cerca de um quarto do PIB da região, ou 17% do seu stock da dívida.

Além disso, a crise também afetou os balanços de importantes empresas públicas, aumentando os passivos contingentes de muitos governos. Este facto é particularmente evidente em algumas companhias aéreas públicas (Namíbia, Quénia) que foram severamente atingidas pela queda acentuada das viagens internacionais, mas também é notório em empresas de serviços públicos que já se encontravam em dificuldades (África do Sul) e que tiveram de resistir a uma queda prolongada nas receitas que agravou seus problemas preexistentes.

Mesmo enquanto lidam com os custos e as exigências da pandemia em curso, a maioria dos países terá de empreender uma consolidação orçamental para recolocar a dívida numa trajetória sustentável. No plano regional, os défices devem diminuir em cerca de 1,5% do PIB este ano, levando a uma descida ligeira da dívida média para cerca de 56% do PIB em 2021, embora com diferenças acentuadas entre os países (Figura 13).

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Figura 13� África Subsariana: Receitas e despesas orçamentais, 2020–21

(Mil milhões de USD)

Fonte: FMI, base de dados do World Economic Outlook.

0 40 80 120 160 2020 2021 2020 2021 Despesas Despesas Receitas Receitas

USD 12 mm USD 5 mm 0 20 40 60 80 2020 2021 2020 2021 Despesas Despesas Receitas Receitas USD 12 mm USD 17 mm 0 20 40 60 80 100 2020 2021 2020 2021 Despesas Despesas Receitas Receitas USD 3 mm USD 5 mm 0 100 200 300 2020 2021 2020 2021 Despesas Despesas Receitas Receitas USD 13 mm

USD 27 mm

Países exportadores de petróleo

0 2 4 6

2020 2021 2020 2021 Despesas Despesas Receitas Receitas USD 0,1 mm

USD 0,4 mm

Países dependentes do turismo

Países não ricos em recursos naturais Outros países ricos em recursos naturais

0 10 20 30 40 50 2020 2021 2020 2021 Despesas Despesas Receitas Receitas USD 7 mm

USD 7 mm

Estados frágeis Economias de mercado de fronteira

Figura 13. África Subsariana: Receitas e despesas orçamentais, 2020–21

(Mil milhões de USD)

Fonte: FMI, base de dados do World Economic Outlook.

Despesas primárias correntes Despesas de capital Donativos Receitas não fiscais Receitas fiscais

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Neste contexto, alguns países poderão ser forçados a retirar o apoio de emergência mais rapidamente do que gostariam, o que poderá comprometer a pujança da recuperação.

Criação de espaço. O principal desafio para os decisores políticos será encontrar formas de criar mais espaço orçamental, através da mobilização de receitas internas, prioritização e ganhos de eficiência na despesa ou, porventura, através do tratamento das suas obrigações do serviço da dívida.

Do lado da receita, e em função das circunstâncias do país, as autoridades que pretendam expandir o seu espaço orçamental podem procurar implementar políticas fiscais que 1) aumentem a progressividade e cobertura do imposto sobre o rendimento de pessoas singulares, 2) eliminem isenções e incentivos distorcivos em sede do imposto sobre o rendimento das sociedades, 3) aumentem o papel dos impostos prediais e ambientais e 4) alarguem a base do imposto sobre o valor acrescentado (IVA). Relativamente a este último, há muito espaço para melhoria no caso da África Subsariana, uma vez

5 Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2020. “Política tributária para o crescimento inclusivo após a pandemia”, Série Especial

do FMI sobre a COVID-19, Washington, DC, Dezembro.

que a eficiência do IVA na região (o rácio entre as receitas efetivas do imposto e as receitas teóricas recebidas se todo o consumo fosse tributado a uma taxa padrão) é de apenas 35%, face a uma média global superior a 50%. Se a eficiência regional subisse para um nível idêntico ao da média global, tal geraria um aumento das receitas na ordem de 2% do PIB5. Em termos mais gerais, os esforços de

alargamento da base deveriam visar a captura de uma proporção maior do setor informal. As medidas para o alargamento da base dos impostos deveriam ser complementadas por esforços para combater os fluxos financeiros ilícitos, que representam uma enorme e constante perda de recursos fiscais para a região, com prejuízos também para a prosperidade. As autoridades poderão igualmente aproveitar as potenciais vantagens das novas tecnologias para reforçar a administração tributária no curto prazo. Por exemplo, a introdução do e-Fatura (Quénia, Uganda) mostrou-se um meio eficaz para aumentar a eficiência da arrecadação fiscal ao simplificar, de forma rápida e significativa, o trabalho administrativo e ao reduzir os custos relativos à

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conformidade6. Em São Tomé e Príncipe, o e-Fatura

permitiu às autoridades expandir a base tributária para o setor informal do país, mesmo no contexto da crise da Covid-19. Outras medidas para melhorar a administração tributária poderão incluir uma abordagem à administração da receita mais baseada nos riscos, assim como mais reformas em matéria de governação e combate à corrupção para aumentar a eficiência fiscal7.

Do lado da despesa, muitos países na África Subsariana foram obrigados a manter despesas essenciais, cortando nos gastos menos prioritários e adiando os investimentos públicos. É provável que esta pressão se mantenha enquanto durar a crise, mas as autoridades podem, de qualquer das formas, criar espaço para novas despesas, ao melhorarem a eficiência dos investimentos públicos e a qualidade das compras públicas8. Também aqui o investimento

na digitalização do Estado poderá constituir um meio relativamente económico de aumentar a eficiência e libertar recursos no médio prazo. As soluções digitais para a gestão das finanças públicas – como sistemas de informação, plataformas de compras públicas e portais sobre a transparência orçamental – costumam desempenhar um papel essencial nos esforços dos países para melhorarem o planeamento e a eficiência orçamentais, bem como para melhorar a relação custo-benefício. Por exemplo, em 2014, a África do Sul eliminou 850 mil beneficiários de subvenções sociais fantasmas e inelegíveis e reduziu para metade os custos administrativos somente através da introdução da obrigatoriedade do registo biométrico9.

A transparência e a boa governação são

fundamentais. A natureza urgente e extraordinária das despesas relacionadas com crises muitas vezes amplia o risco e o custo de oportunidade para o desperdício e a fraude. O aumento da transparência e da prestação de contas pode ajudar a garantir que os fundos limitados estão a auxiliar as pessoas

6 Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2020. “Digitalização na África Subsariana”, Capítulo 3 in Perspetivas Económicas

Regionais: África Subsariana, Washington, DC, Abril.

7 Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2019. “Curbing Corruption”, Capítulo 2 in Fiscal Monitor, Washington, DC, Abril. 8 Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2019. Perspetivas Económicas Regionais: África Subsariana, Washington, DC, Abril. 9 Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2020. “Aperfeiçoar soluções digitais para implementar respostas emergenciais”, Série

Especial do FMI sobre a COVID-19, Washington, DC, Junho.

10 Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2020. “Guardar os recibos: transparência, responsabilidade e legitimidade nas respostas

emergenciais”, Série Especial do FMI sobre a COVID-19,Washington, DC, Abril.

11  Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2020. “Keeping the Receipts: One Year On”, Caixa 1.1. em Fiscal Monitor, Washington,

DC, Abril.

mais necessitadas10. Embora as reformas ao nível

da governação já constituíssem uma prioridade anterior à crise em muitos países, no contexto do apoio financeiro de emergência da comunidade internacional, muitos também assumiram o compromisso de reforçar as medidas de governação a fim de assegurar a transparência e a prestação de contas sobre as despesas relacionadas com a Covid-19. Por exemplo, no que toca aos países que recebem recursos do FMI, mais de 60% comprometeram-se a publicar informações sobre os concursos públicos, quase 80% comprometeram-se a publicar informações sobre os beneficiários efetivos e todos os países comprometeram-se a realizar auditorias à despesa. A implementação está em curso e varia de país para país. Alguns exemplos bem-sucedidos e inovadores incluem as melhorias nas compras públicas (Benim), a transparência em relação aos beneficiários efetivos (Guiné, Maláui, Serra Leoa) e o reforço das auditorias (África do Sul, Quénia, Serra Leoa)11.

Mais espaço para a aplicação de políticas com quadros de política melhorados. Além das medidas específicas do lado da receita e da despesa, as autoridades também podem maximizar o espaço orçamental mediante a melhoria dos seus quadros orçamentais gerais. No contexto de um elevado nível de dívida, um quadro credível a médio prazo que equilibre a necessidade de apoio de políticas de curto prazo com a consolidação a médio prazo poderá ajudar a conter os custos de financiamento e manter a confiança. A este respeito, tendo em conta as extraordinárias circunstâncias da crise, uma suspensão temporária e com prazo definido da aplicação das regras orçamentais da União Económica e Monetária Oeste-Africana (UEMOA) parece adequada, desde que os países respeitem o seu compromisso de regressar a posições orçamentais mais sustentáveis quando a crise passar.

(19)

Figura 14� África Subsariana: Variação da taxa de política monetária, dezembro 2019–março 2021

(Em %)

Fontes: Haver Analytics; e FMI, base de dados de International Financial Statistics; e FMI, base de dados do World Economic Outlook.

0 5 10 15 20

Taxa de política monetária X Inflação esperada Maurícias Seicheles Lesoto África do Sul Botsuana Essuatíni Namíbia Ruanda Tanzânia Quénia Uganda Zâmbia Gâmbia Nigéria Moçambique Serra Leoa Gana Angola

FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL | ABRIL 2021 ATRAVESSAR UMA LONGA PANDEMIA

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Alívio da dívida. Infelizmente, e em especial na eventualidade de uma pandemia mais prolongada, alguns países poderão ainda assim deparar-se com uma escolha difícil entre as obrigações do serviço da dívida e as despesas de saúde essenciais, o que indicia a necessidade de alguma forma de tratamento da dívida. O FMI já conseguiu proporcionar algum alívio ao abrigo do Fundo Fiduciário para Alívio e Contenção de Catástrofes (CCRT, na sigla em inglês) a 22 países da África Subsariana. No contexto da crise da Covid-19, o CCRT atualmente visa cobrir dois anos de valor do serviço da dívida ao FMI e tem sido financiado por contribuições dos doadores, incluindo do Japão, do Reino Unido e da União Europeia.

Porém, alguns países poderão precisar de mais assistência. Relativamente aos países com a dívida em níveis sustentáveis mas persistentes necessidades de liquidez (Etiópia), o Quadro Comum do G-20 pode ajudar a coordenar o reescalonamento da dívida. Relativamente aos países com preocupações mais fundamentais quanto à sustentabilidade da dívida, este quadro pode ajudar a coordenar o necessário processo de reestruturação (Chade, Zâmbia). As circunstâncias de cada um destes países são diferentes, mas o Quadro Comum poderá, ainda assim, oferecer um tratamento ajustado às suas necessidades específicas.

Em termos mais gerais, quando o serviço da dívida de um país supera a sua capacidade de pagamento, é do interesse dos credores e dos mutuários da África Subsariana chegarem rapidamente a acordo sobre as condições para um tratamento adequado da dívida. O Quadro Comum exige que os países devedores participantes procurem tratamento em condições igualmente favoráveis junto de outros credores, incluindo o setor privado.

Apoiar a recuperação e, ao mesmo tempo, manter a estabilidade dos preços e externa.

Os bancos centrais têm proporcionado apoio, mas estão muito próximos do limite. Tendo diminuído de um pico na ordem dos dois dígitos em 2017, a inflação na África Subsariana aumentou de 9,6% em 2019 (em termos homólogos) para 11,1% em 2020, refletindo sobretudo o aumento dos preços dos produtos alimentares (Gana), o impacto da desvalorização (Angola, Zâmbia), assim como uma recuperação dos preços da energia no final do ano. À medida que as economias começam a recuperar e

tendo como pano de fundo o aumento dos preços dos produtos alimentares e das matérias-primas, as autoridades monetárias têm adotado uma postura cada vez mais cautelosa. Após flexibilizar a política em 2020, a maior parte está agora a manter as taxas diretoras inalteradas e algumas (Moçambique, Zâmbia) inverteram alguns dos cortes da taxa diretora realizados no ano transato (Figura 14). Mas uma maior flexibilização ainda é possível para alguns países. Nos casos em que a pandemia continua a pesar na procura e em que a política orçamental permanece condicionada, a política monetária ainda poderá ter um papel importante no apoio à economia. Uma flexibilização adicional é adequada para os países com inflação baixa, embora a margem para a flexibilização seja um pouco mais limitada para os países com um regime de paridade cambial fixa. No que toca aos países com regimes de câmbio flutuante, a flexibilidade cambial poderá ajudar a amortecer os choques externos, embora possivelmente se justifiquem algumas intervenções para atenuar os ajustamentos desordenados e mitigar os desfasamentos dos balanços. À luz das

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atuais incertezas em torno das futuras condições financeiras mundiais, os países em situação de crise ou na iminência de crises poderão considerar útil a imposição de medidas temporárias de gestão dos fluxos de capitais, incluindo para o reforço da autonomia da política monetária. Mas estas medidas não deverão substituir o necessário ajustamento macroeconómico12.

Financiamento monetário do défice. Com o aumento das necessidades orçamentais e o limitado financiamento, alguns países da África Subsariana recorreram aos seus bancos centrais em 2020 para ajudar a financiar as despesas decorrentes da crise (Gana, Maurícias, Nigéria, República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Uganda). Se a pandemia subsistir, alguns poderão não ter outra escolha que não recorrer a esta fonte de financiamento novamente. O crédito direto do banco central ao governo pode prejudicar a eficácia a longo prazo do banco central e comprometer os esforços de contenção da inflação, com potenciais custos a longo prazo para os segmentos mais vulneráveis da população. Contudo, em circunstâncias

extraordinárias, poderá simplesmente ser impossível obter financiamento suficiente junto de outra fonte. Os países deverão utilizar este financiamento apenas como último recurso, e se o fizerem, somente em condições de mercado, por tempo limitado e com um plano de reembolso explícito a médio prazo. A monetização reiterada desancoraria as expectativas em torno da inflação e acentuaria as pressões sobre a moeda (Zimbabué).

Apoiar o crédito à economia e, ao mesmo tempo, manter a estabilidade financeira.

Os indicadores de estabilidade financeira não exibiram muita variação. Contudo, quanto mais tempo a pandemia se prolongar, mais mutuários poderão ficar numa situação precária, com implicações possivelmente significativas para o crédito malparado, a solvência bancária e a execução das garantias públicas. Até agora, os indicadores de solidez financeira não sugerem nenhuma grande

12 Ver Fundo Monetário Internacional (FMI). 2020. “Toward an Integrated Policy Framework”, IMF Policy Paper PR20/307,

Washington, DC, Setembro.

13 Em fevereiro de 2021, a África do Sul autorizou o pagamento prudente de dividendos, tendo em conta as condições atuais e a

potencial incerteza futura.

14 Ver Carmen Reinhart. Banco Mundial. 2021. “The Quiet Financial Crisis”, Let’s Talk Development (blog), Banco Mundial, 7 de

janeiro de 2021, https://blogs.worldbank.org/developmenttalk/quiet-financial-crisis

deterioração na saúde do sistema financeiro, em parte graças ao apoio excecional prestado pelas autoridades locais. Para os países relativamente aos quais estão disponíveis dados, o rácio médio do crédito malparado registou apenas uma subida moderada de 7,2% no final de 2019 para 8,3% em outubro de 2020, ainda inferior ao nível verificado em 2018. Da mesma forma, os rácios de adequação dos fundos próprios diminuíram apenas marginalmente, de 17,6% para 17,4% na região. As autoridades monetárias em muitos países autorizaram, acertadamente, os bancos a utilizarem as suas reservas de capital contracíclico para ajudar a lidar com a crise (Botsuana, países da Comunidade Económica e Monetária da África Central

[CEMAC], Gana, Namíbia) ou prolongaram a transição para os Princípios Fundamentais de Basileia ou os requisitos prudenciais da IFRS9 (Lesoto, UEMOA, Uganda, Zâmbia). Em contrapartida, porém, também restringiram os pagamentos de dividendos para ajudar a reforçar as posições de fundos próprios dos bancos (África do Sul, Benim, países da CEMAC, Guiné, Lesoto, Ruanda, UEMOA, Uganda)13.

O pleno impacto da crise ainda não se fez sentir. A moratória regulamentar talvez tenha impedido que diversos empréstimos inviáveis fossem devidamente captados nos indicadores de solidez financeira existentes14, e em alguns países esta moratória deverá

terminar em 2021 (Botsuana, Cabo Verde, países da CEMAC). Da mesma forma, a crise recente aumentou as exposições dos bancos ao Estado em muitos países – em média, o crédito ao governo cresceu cerca de 3% do PIB, quase o dobro do crescimento do crédito ao setor privado, que foi de 1,5% do PIB.

Em termos prospetivos, será importante que os bancos e as autoridades de supervisão tenham um retrato fiel da saúde do sistema financeiro, incluindo uma classificação adequada dos empréstimos e um aprovisionamento que reflita as potenciais perdas, bem como uma projeção realista dos défices de fundos próprios e das necessidades

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