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Revista
Brasileira
de
CIÊNCIAS
DO
ESPORTE
ARTIGO
ORIGINAL
O
apoio
dos
pais
ao
desenvolvimento
da
carreira
de
atletas
masculinos
de
basquetebol
Cleiton
Pereira
Reis
∗,
Márcia
Cristina
Custódia
Ferreira
e
Luiz
Carlos
Couto
de
Albuquerque
Moraes
LaboratóriodePsicologiadoEsporte,EscoladeEducac¸ãoFísica,FisioterapiaeTerapiaEducacional,UniversidadeFederal deMinasGerais,BeloHorizonte,MG,Brasil
Recebidoem17deoutubrode2012;aceitoem31deagostode2013 DisponívelnaInternetem14denovembrode2015
PALAVRAS-CHAVE
Basquetebol; Relac¸õespais-filhos; Esportes;
Treinamento
Resumo Oestudoverificouseoapoiooriundodospaisaosatletasprofissionaisédiferente emrelac¸ãoaosatletasdacategoriasub-19anosdeMinasGeraisduranteacategoriadebase. Comparou-setambémtalapoiodeacordocomasfasesdedesenvolvimento.Buscou-seaopinião dostreinadoresdacategoriasub-19deMGsobretalassunto.Participaramdoestudoatletas profissionaisedacategoriasub-19deMG,alémdetreinadoresmineiros.Ospaisfinanciavama carreiradosfilhosemambososgrupos,porémpoucosfrequentavamosjogosetreinamentos.Os paisdosatletasmineirospreferemqueosfilhosabandonemoesporteparaestudaroutrabalhar, jáquenaopiniãodelesaprofissãodejogadordebasquetebolmuitasvezesnãoéumcaminho viável.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados. KEYWORDS Basketball; Parents-sons relations; Sports; Training
Theparentssupportthecareerdevelopmentofmalebasketballathletes
Abstract Thestudyfound ifthesupportfromtheprofessionalathletesparentsisdifferent for theathletesofthecategoryunder-19yearsofMinasGeraisduringthecategoryofbase. This support wascompared also according todevelopmentalstages. Itwas also considered the opinion of the coaches of the category under-19 of MG aboutthis topic. Participated intheresearchprofessionalathletesandplayersofthecategoryunder-19ofMG,inadditionto coachesofMG.Theparentshavefinancedthecareerofthechildreninbothgroups,however
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:cleitonpreis@yahoo.com.br(C.P.Reis). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.10.007
fewattendedthegamesandtrainings.ParentsofathletesofMGpreferthatthechildrenleave thesporttostudyorwork,whereas intheiropiniontheprofessionofbasketballplayeroften isnotaviablepath.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrights reserved. PALABRASCLAVE Baloncesto; Relaciones padres-hijos; Deportes; Entrenamiento
Elapoyodelospadreseneldesarrollodelacarreradelosjugadoresmasculinos debaloncesto
Resumen Enelestudioseverificóqueexistendiferenciasentreelapoyodelospadresdelos jugadoresprofesionalesyelquebrindanlospadresalosjugadoresdelacategoríasub-19de MinasGeraisdurantelacategoríadebase.Secomparótambiéneseapoyodeacuerdoconlas fasesdeldesarrollo.Sebuscólaopinióndelosentrenadoresdelacategoríasub-19deMGsobre esetematambién.Losparticipantesdelestudiofueronlosjugadoresprofesionalesylosdela categoríasub-19deMG,ademásdeentrenadoresdeMG.Lospadresfinanciabanlacarrerade loshijosenlosdosgrupos.Sinembargo,pocosasistíanalospartidosylosentrenamientos. LospadresdelosjugadoresdeMGprefierenquelosjóvenesdejeneldeportepormotivosde trabajooestudioyaque,ensuopinión,laprofesióndejugadordebaloncestomuchasveces noesunasolucióndefuturoviable.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todoslos derechosreservados.
Introduc¸ão
Intuitivamente,muitasfamíliascostumamapoiarseusfilhos duranteo início e desenvolvimentodacarreira esportiva, semteroconhecimentodograudeimportânciadesseapoio e quais as melhores maneiras de apoiar. Diversos pesqui-sadores(Côtéetal.,1995;Moraes,Durand-BusheSalmela, 1999;Moraes,RabeloeSalmela,2004;MoraeseSousa,2004; Ferreira e Moraes, 2012; Ferreira, 2012) observaram que paraodesenvolvimentodoindivíduoemdeterminada moda-lidade,alémdaestruturaadequada detreinamento, bons treinadorese vontade depraticar comdeterminac¸ão, era necessáriotambémoapoiosocialedentrodesseafamília é,semdúvida,odemaiorpeso.
Estudosdeexpertperformance(MoraeseSalmela,2003; MoraeseMedeiros-Filho,2009),quevisamàanálisedetodas asnuancesquecercamatletasdealtonível,também descre-vemquemesmocomdesportistasexpoentesanecessidade deapoiofamiliarcontinuaquaseque amesmadequando elesiniciaram,oquemodificaéapenasotipodeapoio,que muitasvezesnãoémaisfinanceiro,esimmoral(Ferreirae Moraes,2012).
UmapesquisafeitaporMarqueseSamulski(2009)sobre a transic¸ão decarreira dafase amadora para profissional dejogadoresdefutebolmostrouqueamaioriados jogado-respertenciaa famíliasderenda médiabaixaebaixa, ou seja,tinham quecedo (± 12anos) perder ocontato com seusparentesparaseguiracarreira.Noentanto,agrande maioriadosjogadoresafirmoutergrandeapoioporparteda famílianosentidoemocional.
Já Ferreira e Moraes(2012) verificaram que para indi-víduosquealcanc¸aram aexcelência esportivao apoiodos paisparaodesenvolvimentoesportivofoifundamental.Tais
pesquisadores entrevistaram nadadores que conquistaram medalhasemolimpíadaspeloBrasileconstataramque,na iniciac¸ãono esporte, amaior parte dasfamílias ofereceu apoio e incentivo para o início e manutenc¸ão daprática. Tal apoio foi importante para que esses atletas tivessem condic¸õesfinanceirasparafrequentarumclubeecomec¸ar anadar.Oapoiodospaissemanteveaolongodacarreira, tantonapartefinanceiraquantonaparteemocional,eesse fator foi decisivo para que osatletas se mantivessem na prática.Muitosdelestiveramcondic¸õesdeatémesmo trei-narnosEstadosUnidos,embuscademelhorescondic¸õesde treinamento.
Bloom (1985) e Côté (1999) pesquisaram a vida de atletas experts e verificaram que esses indivíduos pas-samporfasesdedesenvolvimentoatéatingiraexcelência de desempenho. Na primeira fase, denominada anos ini-ciais de aprendizagem ou fase de experimentac¸ão, que vai até os 13 anos, é quando o atleta inicia a prática esportiva.Essafaseémarcadapelograndeencorajamento dos pais e fornecimento de recursos aos filhos esportis-tas. Eles são os principais responsáveis pela inserc¸ão das crianc¸as nos esportes. Os pais geralmente estão presen-tesaosjogosetreinamentosdosfilhosedãograndeapoio financeiroeemocionalparaqueofilhocontinuenaprática esportiva.
Na segunda fase, denominada anos intermediários de aprendizagemoufasedeespecializac¸ão,quevaiatéos15 anos,aintensidadedapráticaaumentaconsideravelmente. Ospraticantesapresentamummaiorcompromissocomos treinoseasmetastrac¸adaseháumaumentonaintensidade dostreinos.Nessafaseosujeitoé‘‘fisgado’’paraum deter-minadoesporte.Osatletaspassamasededicaranomáximo duas modalidades. A presenc¸a dos pais nos treinamentos
dosfilhosdiminuiconsideravelmente,porémoenvolvimento financeiroeoapoioemocionalsãoaindacomuns.
Na fase de investimento ou anos finais de aprendiza-gem, depois dos 16 anos, a prática se pauta pela busca do sucesso e da perfeic¸ão. Nem sempre os treinos se apresentam prazerosose ashoras de dedicac¸ãoà prática aumentamconsideravelmente.Váriosfatorespodem influ-enciar o abandono damodalidade nesse período,como a premênciadetempoeafaltaderecursosfinanceirose estru-turais.Muitasvezes,porpressãodospaisoufaltadeapoio familiar,osatletasnãoconseguematingiroprofissionalismo eprecisamsairdoesporteparatrabalharouestudar.Nessa fase,oindivíduoapresentamaturidadefísicaepsicológica paracomec¸artreinaroesportedeformadeliberada(Côté, LidoreHackfort,2009).
JáHellstedt(1987),aoinvestigararelac¸ãoentreatletas, treinadoresepais,percebeuqueoapoiodospaispodese manifestardetrêsformasdiferentes.Afaltadeum envol-vimentomaior na vidaesportiva dofilho, noque tange a aspectos como apoio financeiro, emocional e compareci-mento em jogose treinamento dos filhos, é denominada subenvolvimento.Oenvolvimentomoderadoéconsiderado o mais adequado, pois os pais são ponderados em suas orientac¸ões, deixamlivrepara o filho adecisão de conti-nuarounãonoesporte.Ospaistambémdãograndeapoio emocional,auxiliamosfilhosapassarpormomentosdifíceis duranteatrajetóriaesportiva.Porémmuitospaiscolocam umaenormepressãoparaqueosfilhossetornematletas pro-fissionaisemuitasvezescausamdanosemocionaisaosfilhos, oquelevaatéaoabandonodoesporteeaodesprazerpela atividade.Talsituac¸ãoédenominadasuperenvolvimento.
O basquetebolbrasileiro apresenta problemas estrutu-raisdeorganizac¸ão.Instituic¸õesesportivas brasileirasnão apresentaramascondic¸õesideaisparaaformac¸ãode atle-tasrumoaoaltodesempenho(Moreira;deSouzaeOliveira, 2003). Porém, existem poucas informac¸ões na literatura esportivabrasileiraquedescrevamoapoiodospaisaosfilhos jogadoresdebasquetebol.Portanto,oobjetivodesteestudo éverificar,quantitativamente,seoapoiooriundodospais aosatletasprofissionaisédiferenteemrelac¸ãoaosatletas dacategoria sub-19anos deMinasdurante acategoria de base.Oestudotambémpretendeobservarsehádiferenc¸as noapoio dos pais, paraambos osgrupos, na comparac¸ão entre as faixas etárias. Além disso, este estudo também buscouaopiniãodos treinadoresdacategoriasub-19 anos deMinasGeraissobreoapoiodadospelospaisaosatletas mineirosdebasquetebolduranteacategoriadebase.
Materiais
e
métodos
Tipodeestudo
De acordo com Thomas, Nelson e Silverman (2007), este tipo de pesquisa se enquadra como um estudo descri-tivo,quepermitedeterminarpráticas ouopiniõesdeuma populac¸ão específica. Apresenta-se uma abordagem qua-litativa e quantitativa, que segundo Miles e Huberman (1994)possibilita aconfirmac¸ão e corroborac¸ãodos dados coletados e estabelecer-se uma visão holística acerca do fenômeno.
Participantes
Participaramdoestudoosatletasdasinstituic¸ões esporti-vas mineiras que tinham equipes masculinas da categoria sub-19anosem2011.Decincoequipes,quatrodisputavam campeonatos organizados pela Federac¸ão Mineira de Bas-quetebol e uma delas disputou campeonatos organizados pelaFederac¸ão Paulistade Basquetebol. Também partici-paramatletasprofissionaispertencentesàscincoequipese essasinstituic¸õesesportivasatuaram nosplay-offsdaNBB (NovoBasquete Brasil)datemporada 2010-2011,principal competic¸ão do basquetebol masculino brasileiro. Partici-param do estudo 47 atletas profissionais e 47 atletas do basquetebolmineiro. Também tiveram participac¸ão nesta pesquisaoscincotreinadoresdasequipesdacategoria sub-19anosdeMinasGerais.Todososparticipantessãodosexo masculino.
Este estudotevecomo critériodeinclusãodos partici-pantes:paraosatletasjuvenis,pertenceremaequipes da categoriasub-19anosdeinstituic¸õesvinculadasàFederac¸ão MineiradeBasquetebol;paraosatletasprofissionais, per-tencerema equipesqueparticiparam doplay-offsdaNBB datemporada2010-2011.Assim,noestudopretendeu-seter comoparticipantesosmelhoresatletassub-19anosdeMinas Geraiseatletasprofissionaispertencentesàsequipes melho-resclassificadasnatemporada2010-2011.Jáostreinadores deveriamtrabalharnasequipessub-19anosdeinstituic¸ões vinculadasàFederac¸ãoMineiradeBasquetebol.
Instrumentos
Questionáriosobreoapoiodospaisaosatletas debasquetebol(QuestionáriosobreoContextoda PráticaparaAtletasdeBasquetebol)
EstequestionárioéorigináriodoQuestionáriosobreo Con-textoda Práticapara Atletas de Basquetebol(QCP-Basq), desenvolvidopelo laboratóriodePsicologiado Esporte da UFMGem2010.Noquestionáriooapoiodospaisfoi verifi-cadodeacordocomasfasesdedesenvolvimentopropostas por Bloom (1985) e Côté (1999). Esses autores dividem o período de desenvolvimento dos atletas na categoria de base em três fases: dos seisaos 13 anos,anos iniciais ou fasedeexperimentac¸ão;dos14aos15,anosintermediários oufase de especializac¸ão; e dos 16 aos19, considerados anosfinaisouanosdeinvestimento.Então,comaaplicac¸ão destequestionárioépossível verificarseospaisapoiavam seusfilhosfinanceiramenteparapráticadebasquetebolese estavampresentescomfrequênciaaosjogosetreinamentos dosfilhos,dosseisaos19anos.Esteinstrumentotambémé baseadonomodelodotreinador(Côtéetal.,1995)
Entrevistasemiestruturada
Aentrevistasemiestruturadafoifeitacomostreinadoresda categoriasub-19anosdeMinasGerais,paraquese enten-desseaopiniãodelessobrecomoseprocedeoapoiodospais aosfilhosatletasdebasquetebolemMinasGerais.Ocritério paraseestabelecerasperguntasfoibaseadonosmodelosde desenvolvimentodetalentosdeBloom(1985)eCôté(1999)
Tabela1 Apoiodospaisaosatletasprofissionaisporfaixaetária
6-13anos 14-15anos 16-19anos
Apoiodospais Sim não x2 p sim não x2 p sim não x2 p
Presenc¸aregulardospais emjogosetreinos
19 15 0,47 0,5 27 17 2,273 0,132 18 29 2,574 0,11
Apoiofinanceirodospais paratreinarbasquetebol
23 11 4,24 0,04a 30 14 5,818 0,016a 22 25 0,191 0,66
ap<0,05.
Foi feita aos treinadores a seguinte pergunta, junta-mentecomumalistadeitensquedeveriamsercomentados duranteafaladosentrevistados:
Comoospaistêmcontribuído,emMinasGerais,parao desenvolvimentodosatletasdebasquetebol?
• Presenc¸adospaisemjogosetreinos
• Apoiofinanceiro
• Cobranc¸a
Análisedosdados
Paraosdadosquantitativos,foiaplicadootestenão para-métricodequi-quadrado,pormeiodoprogramaestatístico SPSSforWindowsversão17.0,comumníveldesignificância de5%.Paraasentrevistassemiestruturadas,foramadotados osseguintespassos:
Transcric¸ão. Foi usado, para a gravac¸ão das
entrevis-tas, o aparelho da marca Philips Digital Pocket Meno. Depoisas entrevistas foram transcritas com ajuda de um pedaldamarcaPhilipsTranscriptionSet,quepermitiao con-troledagravac¸ãosemousodasmãos.Procurou-semanter a fidelidadedos diálogos, só foramfeitas correc¸ões orto-gráficasparaomelhorentendimentodotexto.Foienviado aostreinadoresotextodasentrevistasparaconsentimento eatestadodaveracidadedasinformac¸ões.
Organizac¸ãodosdados. Asentrevistascomostreinadores
dacategoriasub-19anosdeMinasGeraisforamdivididasem pequenostrechos,ouminiunidades,denominadasmeaning units(MUs)(Tesch,1990).Elassãoconsideradasas meno-respartescompreensíveisdeumtextoqueexpressamuma ideiaouinformac¸ão.Paraprevaleceroanonimatodoscinco entrevistadosemquestão, cadaMUfoi identificadacoma letraT(treinador)eumnúmerode1a5.Alémdisso,elas
foramrotuladas para aidentificac¸ãodo conteúdode suas informac¸ões.
Cuidados
éticos
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pes-quisadaUniversidadeFederaldeMinasGerais,sobonúmero deprotocolo0226.0.203.000-11,paraaplicac¸ãodo Questi-onário sobre o Apoiodos Pais aosAtletas de Basquetebol (QAP-Basq),e 0454.0.203.000-11 paraaplicac¸ãoda entre-vistasemiestruturada.Alémdisso,todososvoluntáriosdesta pesquisaassinaramumTermodeConsentimentoLivre Escla-recido.
Resultados
e
discussão
Atabela1mostraque,dosseisaos13anosedos14e15,a maiorpartedosatletasprofissionaisrecebiaoapoio finan-ceirodospais.Porém,nãodáparaafirmarqueamaiorparte dospaisestavapresentenosjogosetreinosdosfilhos.Depois dos16anos,nãohouveprevalênciadonúmerodeatletasque recebiamoapoio,tantofinanceiroquantocomapresenc¸a dospais,nosjogosetreinos.
Nacomparac¸ãoentreasfaixasetárias,entende-se que tantooapoiofinanceirodospaisquantoapresenc¸adelesnos jogosetreinamentosdosfilhos,paraosatletasprofissionais, foimenorapartirdos16anos(tabela2).
Amesmaconstatac¸ão feitacom osatletasprofissionais em relac¸ão ao apoio dos pais, por faixa etária, pode ser transportadaparaodesenvolvimentodosatletasda catego-riasub-19anosdeMG.Ouseja,amaiorpartedelesrecebia apenasoapoiofinanceirodospaisatéos15anos(tabela3).
Tabela2 Comparac¸ãoentreasfaixasetáriasdoapoiodospaisaosjogadoresprofissionais
6-13anos(a) 14-15anos(b) 16-19anos(c) axb axc bxc
Apoiodospais sim não sim não sim não x2 p x2 p x2 p
Presenc¸aregular dospaisem jogosetreinos
19 15 27 17 18 29 0,238 0,626 2,458 0,117 4,837 0,028a
Apoiofinanceiro dospaispara treinar basquetebol
23 11 30 14 22 25 0,003 0,96 3,47 0,063 4,239 0,04a
Tabela3 Apoiodospais,porfaixaetária,aosatletasdacategoriasub-19anosdeMG
6-13anos 14-15anos 16-19anos
Apoiodospais sim não x2 p sim não x2 p sim não x2 p
Presenc¸aregular dospaisem jogosetreinos
16 7 3,52 0,061 24 15 2,077 0,15 17 30 3,596 0,06
Apoiofinanceiro dospaispara treinar basquetebol
17 6 5,26 0,022a 28 11 7,41 0,006a 14 33 7,68 0,006a
a p<0,05.
Tabela4 Comparac¸ãoentreasfaixasetárias,doapoiodospaisaosatletasdacategoriasub-19anosdeMG
6-13anos(a) 14-15anos(b) 16-19anos(c) axb axc bxc
Apoiodospais sim não sim não sim não x2 p x2 p x2 p
Presenc¸aregular dospaisem jogosetreinos
16 7 24 15 17 30 0,407 0,523 6,911 0,009a 5,494 0,019a
Apoiofinanceiro dospaispara treinar basquetebol
17 6 28 11 14 33 0,33 0,857 12,187 <0,001a 15,053 <0,001a
a p<0,05.
Tabela5 Comparac¸ãoentreosgruposdoapoiodospaisparacadafaixaetária
Pro sub-19 Proxsub-19
Faixaetária Apoiodospais sim não sim não x2 p
6-13anos Presenc¸aApoiofinanceiroregulardosdospaispaisparaemjogostreinaretreinosbasquetebol 2319 1511 1716 67 0,2571,084 0,2980,612 14-15anos Presenc¸aApoiofinanceiroregulardosdospaispaisparaemjogostreinaretreinosbasquetebol 3027 1714 2824 1115 1280 0,9870,72 16-19anos Presenc¸aApoiofinanceiroregulardosdospaispaisparaemjogostreinaretreinosbasquetebol 2218 2925 1417 3330 2,8820,46 0,8310,09
Na comparac¸ão entreasfaixas etárias, pode entender que tanto o apoio financeiro dos pais quanto a presenc¸a delesnos jogose treinamentosdos filhos,para osatletas dacategoria sub-19anosdeMG,foimenorapartirdos16 anos(tabela4).
Nacomparac¸ãoentreosatletasdacategoriasub-19anos de Minas Gerais e jogadores profissionais, pôde-se obser-varquenãohouvediferenc¸asignificativadoapoiodospais, tanto financeiramentequantocom apresenc¸aem jogose treinosdosfilhos,emnenhumafaixaetária(tabela5).
O papel dos pais,tanto no apoio aosfilhos financeira-menteoucomapresenc¸aem jogose treinos,paraambos os grupos, decrescia a partir dos 16 anos. As instituic¸ões esportivas, em teoria, geralmente dão um maior apoio financeiroaosatletasdepoisdos 16anos,períodoemque o atleta aumenta a dedicac¸ão ao esporte (Bloom, 1985,
Côté,1999).Umdostreinadoresdacategoria sub-19anos disseque o apoio dos pais aos seusfilhos é mais no sen-tido de dar apoio financeiro,porém poucos acompanham jogos e treinos ou conversam com os treinadores para saber sobre o desenvolvimento dos seus filhos. Não há uma prevalência do número de pais que estão presentes navida cotidianaesportivados filhos,paraambos os gru-pos. Outro treinador ressaltaque a partir dos 16 anos os pais fazem pressão para que o atleta dê preferência aos estudos, pois eles acham que jogar basquetebol muitas vezes não é um futuro viável para filho. De acordo com
Falketal. (2004),a falta de apoiodos paismuitas vezes impede os filhos de atingirem o alto desempenho espor-tivo. Essa situac¸ão corrobora a dificuldade de os atletas conciliaremosestudoscom acarreiraprofissional, jáque noBrasil, de acordo com Alves e Pieranti (2007), não há
um esporte universitário organizado que propicie para o jovem umdesenvolvimentoatléticoe acadêmico adequa-dos.
Euvejo,infelizmente,porosatletasteremumperfil soci-oeconômicomaisprecário,poucospaisassistindoajogos dosfilhosemesmonostreinamentosapresenc¸aépouca. Masmesmoopaiquetemumacondic¸ãofinanceiramelhor deixadecarroomeninonotreinoedepoispegaoatleta, masnãoacompanha o treinamento. E os paisnãotêm muitoconhecimentoesportivoparaajudar.Émaisnuma rifa,emumlevantamentodedinheiroparaumaviagem, umafesta...Masumincentivodireto,atéparaconversar comostreinadores,paraacompanharmelhoratrajetória doatleta,essascoisasfaltamainda.(T1)Papeldospais nodesenvolvimentodosatletas.
... Quem tem uma qualidade diferente no sub-16 anos para frente, os pais acompanham, mais diminui bastante...Opaijáfazpressãoparaqueomenino con-tinueestudando.É umproblemade basefamiliar e do clubetambém.Emuitasvezesospaisnãoveema profis-são‘‘jogadordebasquetebol’’comoumacoisaviávelou importanteparaofilho.(T5)Papeldospaisno desen-volvimentodosatletas.
Tais achados corroboram os estudos encontrados na literaturaque indicamque oapoiodospaisparao desen-volvimentodos filhosatletasé umfatorrecorrente atéos 16anos(Bloom,1995;Côté,1999; Wyllemanetal.,2000; Ferreira, 2012). Entretanto,a maior parte dos atletas da categoriasub-19anosdeMinasGerais,deacordocomafala dostreinadores,recebiageralmenteapenasoapoio finan-ceiro porparte dos paispara jogar basquetebol. Ospais, geralmente,nãoseinteressavamem iraosjogose treinos dosfilhos.Esseenvolvimentoparcialpodeseratribuídoao poucoconhecimentoque ospais têmsobre oesporte e à diminutapossibilidadedeessesatletassetornarem profissi-onais.Porém,oestudodeFerreiraeMoraes(2012)mostrou que os pais apoiavam os seus filhos nadadores ao longo dodesenvolvimentodacarreiradeformamaisampla,até atingiremoníveldemedalhistasolímpicos.Umdos nadado-rescomentouqueospaisoajudavamtambémnaquestão administrativadacarreira,comoalimentac¸ão,transporte, moradiaepartefinanceira,noperíodoemqueesseindivíduo jáeraconsideradoatletaprofissional.
Uma maior cumplicidade entre os pais e os treinado-res,ouseja,umamelhorcomunicac¸ãoentreelesajudaria muitona formac¸ãodesses atletas. Hellstedt(1990) consi-dera que os pais podem ter umsubenvolvimento na vida esportivadosfilhoseessasituac¸ãoémarcadatambémpelo poucoenvolvimentoematividadesecontatocomos treina-dores.Conformeafaladostreinadores,umamaiorpresenc¸a dos pais no cotidiano esportivo de seus filhos em Minas Gerais nãoestá ligada à origem socioeconômica da famí-lia.OestudodeGötze eBeckerJr.(2002) comatletasde escolinhasdeiniciac¸ãoaobasqueteboldeumprogramada SecretariaMunicipal deEsportesde Porto Alegretambém mostrouqueospaisestavampoucospresentesnocotidiano detreinamentosdosfilhos.Porém,nesteestudoospais esta-vampresentescomfrequêncianosjogosdosfilhos,situac¸ão essa que permitia uma maior integrac¸ãodos pais com os filhoseseustreinadores.
Contudo,estudos que procuraram investigar a influên-cia dos pais na formac¸ão atlética dos filhos mostraram resultados que indicam que o envolvimento dos pais está intimamente ligado ao nível socioeconômico da família.
VianaJúnioretal.(2001),aoinvestigaropapeldospaisde classemédianodesenvolvimentodeatletasbrasileirasde ginásticarítmicadenívelnacional,ressaltaramqueospais apresentaram altosníveis de participac¸ãonotreinamento das filhas e as apoiavam emocional e economicamente. Achados semelhantes foram encontrados, no contexto de classes favorecidas economicamente, por Moraes et al. (2004)aopesquisarjovenstenistasbrasileiros,porFerreira eMoraes(2012)aoestudarnadadoresmedalhistasolímpicos brasileiros,porFerreira(2012)aoinvestigarocontextodos atletasdesaltosornamentaisdealtorendimentoeMoraes et al.(2001) ao verificarem o envolvimento dos pais com atletasdevôleideclassemédia.
JáMoraes,RabeloeSalmela(2004),aoinvestigaropapel dospaisnodesenvolvimentodeatletasdecategoriadebase defutebolemMinasGerais,relataramqueospaistiveram poucoenvolvimentonasatividadesdosfilhos,deformaque odesenvolvimentodessesatletasnãopodeseratribuídoà atuac¸ãodospais.Ospaisnãoparticiparamdiretamentena escolhaprofissionaldosfilhos,nemtampoucoestão envolvi-dosdiretamentenoprocessodetreinamentoe,alémdisso, nãoalteraramsuasrotinasparafacilitarocrescimentodos filhosnosesporte.Muitosdessespaismoravamlongedolocal detreinamento.Apaixãodosfilhospeloesporte,vinculada comumapossívelascensãosocialporsetornarumjogador profissional,foioprincipalmotivodoenvolvimentodesses indivíduosnofutebol.Taisfamíliasqueparticiparamdeste estudo foram identificadas como de baixo padrão socioe-conômico.
Conclusão
O estudo mostrou que, tanto para osatletasprofissionais quanto paraosatletasda categoria sub-19 anosde Minas Gerais,oapoiodospais,independentementedonível soci-oeconômico dafamília,ao desenvolvimentoesportivo dos filhosduranteacategoriadebaseaconteceudeforma par-cial, jáqueospaisapoiamosfilhosfinanceiramente,mas nãoestãocomfrequênciapresentesajogosetreinamentos. Não houvediferenc¸a doapoiodos paisno quese diz res-peitoàpresenc¸aemjogosetreinamentoseapoiofinanceiro, entreosgrupos,nacomparac¸ãoentreasfasesde desenvol-vimento.Osdadosmostramquetantooapoiofinanceirodos paisquantoapresenc¸adelesnosjogosetreinamentosdos filhos,emambososgrupos,foimenorapartirdos16anos,o quecorroboracomomodelodedesenvolvimentode talen-tosdeBloom(1985)eCôté(1999).Osatletasprosseguiamno esportemesmocommenosaportesfinanceirosdospais.Uma das possibilidades para tal situac¸ão decorre de ummaior recursofinanceirocedidopelasinstituic¸õesesportivas.
Pode-seobservartambémqueospaisdosatletasde bas-quetebolemMinas Gerais,deacordocomoostreinadores dacategoriasub-19anos,fazemmuitapressãoparaqueos filhos deixemo basquetebol, principalmente aos19 anos, para estudar outrabalhar,já que na opinião dafamília a profissãodejogadordebasquetebolmuitasvezesnãoéum caminhoviável.
Uma limitac¸ão deste tipo de estudo é que as respos-tasaoquestionáriorepresentamumaestimativaacercade um fenômeno,já que atletasresponderam sobre o apoio dospaisdeformaretrospectiva,deacontecimentosquese passaramnodesenvolvimentodesuascarreiras.Novas pes-quisas,quecolhamaopiniãodosatletasdebasquetebole seusrespectivospaispodemauxiliaroentendimentosobreo apoiodospaisaosfilhosatletasdebasquetebolnocontexto brasileiro.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
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