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O TRABALHO DOS CATADORES DE RESÍDUOS RECICLÁVEIS EM ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL 1

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Marcelino Andrade Gonçalves2

marcelino.goncalves@ufms.br

Resumo

No desenvolvimento da pesquisa analisamos as formas de organização do trabalho dos catadores de resíduos recicláveis, mais especificamente daqueles que compõem as associações/coperativas existentes nos municípios localizados na Bacia do Rio Ivinhema em Mato grosso do Sul. A análise do conjunto de experiências permitiu elencar algumas as características que marcam esse grupo no que diz respeito à sua composição, a infraestrutura, formas de organização e realização do trabalho e demais elementos que constituíram os processos de organização desses empreendimentos, considerando as relações com os contextos socioeconômicos e políticos locais.

Introdução

O nosso trabalho inicial de levantamento das informações a respeito da existência de cooperativas ou associações de catadores, nos municípios localizados na área de pesquisa, permitiu em primeiro lugar aproximarmos um pouco mais da complexidade da questão e da diversidade de ações que envolvem a recuperação dos resíduos recicláveis em alguns municípios do Estado de Mato Grosso do Sul, nos possibilitando entender que há imensas confusões teóricas, conceituais e técnica no momento de se caracterizar, definir o que é a coleta seletiva, as formas de trabalho na catação e a reciclagem dos materiais que compõem os resíduos sólidos urbanos.

Um elemento complicador está no fato de que na maior parte das Prefeituras Municipais pesquisadas, posto que o gerenciamento dos resíduos é legalmente responsabilidade da administração pública municipal, não há setores administrativos constituídos que centralizem, processem, organizem ou sistematizem as informações a respeito dos resíduos sólidos urbanos e sobre a logística envolvida na prestação do serviço de coleta, transporte, tratamento e disposição dos diferentes tipos de resíduos. As formas de recuperação dos resíduos compostos por materiais recicláveis, quando se estabelecem, entram nesta (des)organização.

O serviço de coleta de lixo domiciliar está, geralmente, ligado a uma secretaria municipal específica, enquanto a limpeza dos espaços públicos, a coleta de resíduos de serviços de saúde e mesmo a coleta seletiva, são questões tratadas em outras diferentes

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Pesquisa apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

2 Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/ Curso de Geografia/Campus de Nova Andradina – MS. Email.marcelino.goncalves@ufms.br

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secretarias, não havendo uma concertação das ações relacionadas aos resíduos ou mesmo um controle rígido sobre quantidades, tipos e formas de transporte e de destinação final.

Neste contexto, ao buscar informações sobre e existência de cooperativas e

associações de catadores e de coleta seletiva de resíduos recicláveis, a falta de discernimento também se estabeleceu. Ações desenvolvidas pelas Prefeituras, quase sempre coordenadas pelas secretarias do meio ambiente e que envolvessem a questão do lixo eram lembradas como coleta seletiva ou reciclagem. A instalação de conjuntos de coletores de diferentes cores, por exemplo, foram em alguns casos também identificados como coleta seletiva ou reciclagem. Definindo o que é a reciclagem Almeida (2008, p. 34), esclarece que:

A reciclagem envolve três etapas: recuperação, que engloba os processos de separação dos resíduos na fonte, coleta seletiva, prensagem, enfardamento; revalorização, que compreende os processos de beneficiamento dos materiais, como a moagem e a extrusão, e por fim, a transformação que é a reciclagem propriamente dita, transformando os materiais recuperados e revalorizados em um novo produto.

A atuação dos catadores carrinheiros nas ruas das cidades dos municípios estudados e às vezes mesmo dentro dos aterros aparece também como coleta seletiva, ou sinônimo de reciclagem. Neste contexto de desinformação, quando questionávamos sobre coleta seletiva e cooperativa de catadores, éramos encaminhados às secretarias do meio ambiente ou da assistência social. No âmbito da fragmentação e divisão das responsabilidades nos municípios os problemas relacionados ao lixo entendidos como questões “ambientais” e os trabalhadores catadores são vistos como um problema social.

Mesmo no caso dos municípios onde há coleta seletiva de resíduos recicláveis e catadores organizados, a ação conjunta das secretarias é frágil, em alguns municípios inexistentes, não havendo mecanismos que favoreçam a troca de informações entre os órgãos municipais e nem a participação efetiva da comunidade local, que toma parte como coadjuvante nos projetos desta natureza.

É neste contexto que algumas experiências de organização de catadores vêm sendo desenvolvidas em alguns municípios localizados na área de pesquisa, são elas:

Anaurilândia-MS, Nova Andradina-Anaurilândia-MS, Batayporã-MS e Dourados-MS (Figura 1)3

3 A coleta seletiva de resíduos recicláveis ocorre também na cidade de Taquarussu-MS, mas o serviço é realizado por funcionários da Prefeitura Municipal.

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FIGURA 1: MUNICÍPIOS ONDE ATUAM CATADORES ORGANIZADOS LOCALIZADOS NA BACIA DORIO IVINHEMA - MS

0 1 0 00 k m 0°

20 ° S

70 ° W 40 ° W

LOCALIZAÇÃO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL NO BRASIL

SP MS

PR

LEGENDA

Delimitação da Bacia do Rio Ivinhema Delimitação do Limite dos Municípios Municípios onde atuam catadores organizados

Municípo 1. Anaurilândia 2. Angélica 3. Antônio João 4. Batayporã 5. Caarapó 6. Deodápolis 7. Douradina 8. Dourados 9. Fátima do Sul 10. Glória de Dourados 11. Itaporã 12. Ivinhema 13. Jateí 14. Juti 15. Laguna Carapã 16. Maracaju 17. Naviraí

18. Nova Alvorada do Sul 19. Nova Andradina 20. Novo Horizonte do Sul 21. Ponta Porá 22. Rio Brilhante 23. Sidrolândia 24. Taquarussu 25. Vicentina 2 1 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 17 16 18 19 20 21 23 22 24 25 Org: Gonçalves, 2011

As informações a respeito do tamanho da população e da quantidade de resíduos sólidos urbanos (RSU) gerada, em cada uma das cidades que apresentam experiências de “organização” do trabalho dos catadores na área de pesquisa, não nos permitem traçar características que se apresentem esses elementos como determinantes do processo de surgimento dessas experiências (Tabela 1).

Tabela 1: População e Geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) nos Municípios de Bataiporã, Anaurilândia, Nova Andradina e Douradosno Mato Grosso do Sul - 2011

Municípios População Município* População Urbana* RSU Tonelada/Dia** Geração por Habitante Urbano/Kg/Dia Batayporã 10.936 8.331 3,5 0,420 kg Anaurilândia 8.493 4.322 2,0 0,472 kg Nova Andradina 45.585 38.786 20,0 0,515 kg Dourados 196.035 181.005 150 0,828 kg * Fonte IBGE, 2010.

** Resíduos domiciliares e outros tipos. Fonte: Prefeitura Municipal 2010-2011 Org: Gonçalves, M.A.

Como podemos observar na tabela 1, as cidades em que ocorrem experiências organizativas que envolvem o trabalho dos catadores apresentam geração de quantidade de

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RSU variada, e em geral menor que a média nacional4

É certo que onde há geração de resíduos recicláveis e trabalhadores obrigados a recorrem à catação, atuando informalmente na recuperação daqueles materiais que servem ao mercado da reciclagem, as condições básicas estão colocadas para a existência das experiências organizativas. No entanto, os resíduos são gerados em todos os municípios de toda a Bacia do Rio Ivinhema-MS, e na maior parte deles não existe catadores “organizados”. Nos casos em análise as experiências são resultados do estímulo, do interesse e de uma intervenção externa ao grupo de catadores, que os leva a entender como importante e vantajoso a organização em grupo para realização do trabalho.

. A cidade de Dourados-MS apresenta a maior quantidade gerada, atingindo 150 toneladas/dia, enquanto Anaurilândia-MS apresenta a menor, 2 toneladas/dia. Já a média de resíduos sólidos gerados por habitante nas cidades citadas varia entre 0,420 e 0,828 quilogramas/dia. A partir da análise destes dados pudemos considerar que a quantidade gerada de resíduos sólidos urbanos não é o elemento fundamental que estimula a organização dos catadores, mas por outro lado, influencia diretamente na quantidade de membros que a compõem, posto que estes trabalhadores obtêm seus rendimento a partir do que conseguem catar, triar e vender, nas cidades maiores também é maior o número de trabalhadores na catação.

A Caracterização das associações de catadores

Neste momento a nossa análise se estabelecerá no conjunto das experiências que foram alvo de nossa investigação, procurando demonstrar esses elementos. Perceberemos que são bastante diversificadas também as configurações políticas, econômicas, jurídicas e sociais que envolvem os grupos de catadores, não havendo um único modelo, mas semelhanças entre si. Assim, a territorialidade assumida por esses empreendimentos é diversa, claro que sempre marcadas por um grau de precariedade na realização do trabalho bastante grande. Vejamos, por exemplo, as informações em um quadro geral que caracteriza as associações e cooperativas de catadores (Tabela 2).

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De acordo com a pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais a média per capita de coleta de resíduos sólidos urbanos no Brasil em 2010 foi de 1,079 kg/hab/dia.

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Tabela 2: Dados gerais sobre associações de catadores localizadas em municípios da Bacia do Rio Ivinhema-MS- 2011 Município Forma de organização dos catadores Situação Jurídica Realiza coleta seletiva Parcerias Ano de Organização

Batayporã Associação Sem Registro não Prefeitura 2009 Anaurilândia Associação Sem Registro Sim Prefeitura/USINA 2009 Nova Andradina Associação Formalizada Sim Prefeitura/ UFMS 2007 Dourados Associação Formalizada não Prefeitura

Empresa privada

2003

Fonte: Trabalho de campo – 2010-2011.

Os dados obtidos junto às Prefeituras e Associações nos revelam que a forma de organização dos grupos de catadores, no que diz respeito ao aspecto jurídico, ainda é bastante precária. A metade do conjunto analisado, mesmo se denominando ou sendo denominado como Associação, não possui registro legal, nem diretoria juridicamente constituída. As que estão formalizadas têm dificuldades para estabelecer regimentos internos e realizar de maneira sistematizada o movimento contábil. Em alguns casos essa situação, que poderia ser considerada transitória, já perdura por anos, como é o caso das associações de catadores de Nova Andradina-MS e Dourados-MS.

A creditamos que a condição de informalidade é reforçada pelo fato de que essas experiências não são fruto de um processo organizativo que surge entre os catadores. São projetos realizados por outros grupos sociais, pertencentes às Prefeituras, Universidades, ONG’s, etc, tendo como público alvo os catadores e como objetivo a organização da coleta seletiva dos resíduos recicláveis domiciliares nas cidades e que enfrentam dificuldades de todas a as ordens no processo organização e de formalização.

Estes processos de organização encontram varias dificuldades de ordem política, financeira e de infraestrutura, que influenciam diretamente na formação do grupo de trabalhadores, fragilizando-os politicamente, fazendo com que a informalidade do grupo

permaneça5

Nos casos que analisamos a não constituição de uma diretoria eleita pelo grupo, por exemplo, permite e reforça ainda mais essa participação externa nas formas de organização e de realização do trabalho. Nos casos das associações de Batayporã-MS, Anaurilândia – MS, Dourados-MS, parte ou todo o gerenciamento financeiro é realizado por funcionários pertencentes ao quadro funcional das prefeituras municipais.

e que a dependência de grupos de apoio externo se torne constante.

5

A falta de documentação inviabiliza o acesso a financiamentos disponibilizados pelo governo ou mesmo a assinatura de contratos simples, como a cessão de uso de imóveis aos catadores por parte das prefeituras. Nesta condição de informalidade os trabalhadores não têm nenhum direito trabalhista.

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Para os que estão formalizados, a opção jurídica pela condição de associação tem como razão principal a menor exigência burocrática e de número de integrantes, tanto para se constituir, como para fazer o gerenciamento em relação à cooperativa. O número de pessoas exigido para fundar uma cooperativa, por exemplo, é de 20 membros, já uma associação pode ser constituída com apenas 2 pessoas. Os tributos a serem pagos, tal como a contribuição obrigatória à previdência, também tem afastado os catadores organizados da forma jurídica cooperativa, já que o custo da formalização fica por conta do trabalhador, que com baixo rendimento obtido com a venda dos resíduos recicláveis fica impossibilitado de realizar o pagamento dos impostos. Nos casos em questão, somente na associação de Dourados-MS é que alguns trabalhadores contribuem individualmente para a previdência.

Ainda de acordo com as informações da tabela 2, notamos que nem sempre a organização das associações está relacionada a programas de coleta seletiva, em um dos casos, o de Batayporã-MS, os trabalhadores catadores realizam a separação dos resíduos recicláveis dentro do local de disposição, o lixão e em Dourados-MS, uma empresa terceirizada realiza o trabalho de coleta seletiva, recebe da prefeitura municipal pelo serviço de coleta e encaminha os resíduos recicláveis para a Associação de Catadores, que vai realizar a separação por tipo de material e a comercialização.

Nos municípios de Anaurilândia-MS e de Nova Andradina-MS, o serviço de coleta seletiva, que é precedido do descarte seletivo dos resíduos recicláveis nas residências, a infraestrutura utilizada para realização da coleta é mantida pelas Prefeituras dos municípios.

Com relação aos resíduos recicláveis coletados e comercializados nas diferentes cidades, basicamente são os mesmos, com variações no que diz respeito à quantidade diária-mensal coletada. Como as maiores fontes geradoras são as residências urbanas e o comércio em geral, grande parte dos resíduos coletados é formada por embalagens pós-consumo. Assim, o papel, o papelão, o vidro, os plásticos, o alumínio e o aço, são os principais materiais encontrados (Tabela 3).

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Tabela 3: Tipo e total de materiais recicláveis, locais de armazenamento e equipamentos para o processamento nas associações de catadores localizadas na Bacia do Rio Ivinhema-MS.

Município Tipos de materiais

Coletados

Total Kg/mês

Sede Equipamentos para o

processamento

Batayporã Plástico, papel, papelão, vidro e metais (sucata).

11.950 Central cedida pela Prefeitura

Prensa, Esteira.

Anaurilândia Plástico, papelão, vidro

e metais sucata. 10.000

Central cedida pela Prefeitura

Prensa, Carrinhos de mão.

Nova Andradina Plástico, papel, papelão,

vidro e metais (sucata). 20.000

Não tem Caminhão para coleta.

Dourados Plástico, papel, papelão, vidro e metais (sucata).

35.000 a

40.000 Cedida pela Prefeitura

Prensa, esteira, elevador de fardos, Balanças, Picotadora

de papel, carrinho de mão.

Fonte: Trabalho de campo – 2010-2011.

A quantidade de resíduos recicláveis beneficiada e em condições de comercialização pelas associações varia de 10 a 40 toneladas mensalmente, somando-se todos os tipos de materiais. Nas cidades maiores, onde também estão os grupos de catadores com mais componentes, a quantidade coletada é também relativamente superior.

No entanto, é preciso entender essa quantidade processada e comercializada diante do total de resíduos gerados na cidade e também em relação ao que é coletado mensalmente. No caso da cidade de Dourados-MS, por exemplo, são geradas 150 toneladas/dia (ver Tabela 2), de acordo com a Prefeitura Municipal, em quanto que a empresa que presta o serviço de coleta seletiva recolhe cerca de 70 toneladas por mês. Enquanto os associados da Associação dos Agentes Ecológicos de Dourados – AGECOLD, comercializa de 35 a 40 toneladas de material reciclável por mês, ou seja, 60% do que é coletado seletivamente pela empresa Financial e cerca de 1,5% do total dos resíduos gerados/ coletados por mês na cidade. Já em Anaurilândia - MS, a associação de catadoras recolhe mensalmente 10 toneladas, o que significa uma média de 330 quilos por dia, o que equivale a pouco mais de 3% do total de resíduos gerados informados pela Prefeitura, que é de 2 toneladas/dia.

Na comparação entre os dois casos, a eficiência em Anaurilândia-MS é maior do que aquela de Dourados-MS, se nos ativermos à quantidade retirada da massa total de lixo. Porém, para os catadores, além da quantidade interessa a qualidade dos resíduos, sua viabilidade de comercialização, seu valor comercial, pois é daí que retiram o seu rendimento, não da quantidade coletada. Tanto que em alguns casos os resíduos recicláveis compostos por materiais sem valor comercial são abandonados. O sucesso e a eficiência do trabalho para os

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catadores estão na ampliação do rendimento obtido. Assim, obviamente, é considerado material bom aquele alcança melhor valor no mercado.

A infraestrutura é um elemento que pode colaborar no alcance tanto da maior quantidade de resíduos recicláveis coletados como do maior rendimento. Nos casos observados, os catadores realizam o trabalho em condições, para alguns grupos essa infraestrutura é quase inexistente. Como se nota nas informações da Tabela 3, os barracões onde funcionam as Associações, quando existem, são cedidos pela Prefeitura.

No caso dos catadores em Nova Andradina-MS, a situação é mais difícil, já que não há um barracão, não havendo lugar para armazenar o que é coletado, os catadores são obrigados a comercializar diariamente o resultado de seu trabalho, sem uma segregação mais aprimorada e sem a possibilidade de procurar um melhor preço.

As máquinas utilizadas na triagem e na prensagem dos resíduos recicláveis também podem potencializar o valor comercial das mercadorias. Com materiais mais limpos e prensados, aumenta-se a qualidade e torna o transporte para outras localidades economicamente viável, diminuindo o valor e justificando o frete, ampliando a margem entre os custos e o valor pago pelas mercadorias. Neste aspecto, a prensa para o enfardamento é ferramenta fundamental para facilitar o transporte, citado como a maior dificuldade encontrada por todos os grupos analisados (Tabela 4).

Tabela 4: Condições de comercialização dos resíduos recicláveis nas associações localizadas na Bacia do Rio Ivinhema-MS – 2010-11

Município Pré-processamento Localização dos compradores Dificuldades encontradas Rendimento mensal (em R$)

Batayporã Não realiza Rio Brilhante-MS Campo Grande-MS

Triagem , armazenamento, comercialização.

300,00 a 400,00

Anaurilândia Não realiza Campo Grande – MS Transporte dos

materiais 300 a 400,00

Nova Andradina Não realiza Nova Andradina-MS

Transporte, armazenamento e

venda .

200 a 300,00

Dourados Não realiza

Campo Grande-MS Ponta Porá - MS Presidente Prudente-SP Armazenamento, transporte, manutenção do quadro de associados. 500,00 a 600,00

Fonte: Trabalho de Campo – Novembro/2010 – Fevereiro/ 2011.

Como não ocorre o pré-processamento, os resíduos recicláveis são comercializados na forma como são coletados sem transformação, apenas separados e prensados. O transporte até o local de beneficiamento é um complicador que pode diminuir ou mesmo anular os ganhos

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dos catadores, dependendo da distância, da quantidade, do valor da mercadoria e do preço cobrado pelo frete, o negócio pode ficar impraticável.

Assim, quanto mais distante está o comprador que vai utilizar os resíduos como matéria-prima, na geração de outros produtos, maior a quantidade e o valor necessários para justificar o transporte, por isso esse elemento aparece como um dos principais problemas para as associações. O pagamento do frete acaba influenciando diretamente no rendimento mensal dos trabalhadores, que no período da pesquisa variava entre R$ 200,00 e R$ 600,00 Reais mensais no conjunto, ficando na maior parte dos casos abaixo de R$ 400,00 Reais mensais. Os baixos rendimentos têm sido complementados com a ajuda de programas sociais do Governo Federal, como o Bolsa Família, além de cestas básicas oferecidas pelas Secretarias de Assistência Social de alguns municípios, como o de Nova Andradina-MS.

Os quatro empreendimentos em análise envolvem 31 trabalhadores catadores, com uma diferença numérica entre os grupos que varia de cinco a doze membros. O menor grupo é o de Anaurilândia-MS, com quatro pessoas e o maior o de Dourados-MS, com doze trabalhadores. São diversificadas também as faixas etárias dos catadores, variando entre dezoito e até mais de sessenta anos (Tabela 5).

Tabela 5: Número e faixa etária dos trabalhadores catadores que atuam nas associações nos municípios localizados localizadas na Bacia do Rio Ivinhema-MS

Município Nº. de Trabalhadores Faixa Etária 18-30 31-40 41-50 51-60 > 60 Batayporã 6 1 - 2 3 - Anaurilândia 5 1 4 - - - Nova Andradina 8 - 1 2 2 3 Dourados 12 3 2 4 3 - Total 31 5 7 6 5 -

Fonte: Trabalho de campo – 2010 - 2011.

Os dois maiores grupos de catadores somam mais de 60% dos trabalhadores que atuam nas associações analisadas, a AGECOLD em Dourados - MS e a Cooperativa de Reciclagem de Nova Andradina-MS - CORENA. Ressaltamos que nestes casos o número de associados não abarca todos os trabalhadores que atuam na catação dos recicláveis nas diferentes cidades. Em todos os municípios em questão, os relatos dos administradores públicos e dos próprios associados, são de que parte dos trabalhadores que foi convidada a participar dos projetos não aceitou, ou ainda, compuseram os grupos durante um período e por diferentes motivos voltaram a atuar individualmente nas ruas ou nos lixões.

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No que diz respeito à faixa etária deste conjunto de trabalhadores, a maioria está entre dezoito e cinqüenta anos, como podemos observar melhor no Gráfico 1, ou seja, é uma força de trabalho considerada em idade ativa e produtiva, mas que não encontra colocação no mercado formal de trabalho.

Gráfico 1: Faixa etária dos Trabalhadores catadores por município na Bacia do Rio Ivinhema-MS/ 2011

0 1 2 3 4

Batayporã Anaurilândia Nova Andradina Dourados

18-30 31-40 41-50 51-60 >60

Fonte: Trabalho de Campo – 2011.

Outra informação a ser observada no Gráfico 1, é a presença de trabalhadores acima dos 60 (sessenta) anos, um total de 3, sinalizando para o baixo nível dos rendimentos dos trabalhadores aposentados nessa faixa etária. Para este grupo de catadores a ampliação de seus rendimentos com a catação é necessária não só para ele próprio, mas para colaborar com o sustento de outros membros de suas famílias. Para Streit (2006, p.46):

Entre todos os pobres, talvez nenhum grupo ocupe posição tão desfavorável no interior da sociedade brasileira quanto os catadores de recicláveis. A necessidade de sobrevivência é o principal motivo que leva muitas pessoas a procurar no lixo objetos que possam ser vendidos e transformados em fonte de renda. O catador, marginalizado pela sociedade, muitas vezes confundido com mendigo por revirar o lixo, exerce um papel importante e ao mesmo tempo invisível no ciclo econômico da reciclagem.

Com relação à divisão por gênero no trabalho organizado em associação ou cooperativa, a maior parte é formada de mulheres. Dos 31 trabalhadores, 23 são mulheres, o que corresponde a 74% do total analisado. A presença marcante das mulheres no trabalho de catação, acaba por determinar que alguns grupos sejam compostos somente por mulheres, sobretudo os pequenos. Nos grupos maiores elas formam a maioria (Gráfico 2). A organização de catadores em associações e cooperativas tem demonstrado que há um processo

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de feminização do trabalho na catação, diferentemente do que temos observado com o trabalho de catadores que atuam nas ruas com os carrinhos, na maior parte homens.

Gráfico 2: Trabalhadores catadores por município na Bacia do Rio Ivinhema-MS: divisão por gênero - 2011

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Batayporã Anaurilândia Nova Andradina Dourados n º d e cat ad o res Masculino Feminino

Fonte: Trabalho de Campo – 2011.

No caso da Associação de catadores de Dourados, 75% do grupo é composto por mulheres. A feminização do trabalho de catação aponta para o desemprego e para a precarização das condições de vida e de trabalho das mulheres, com repercussão direta nas condições de reprodução das famílias destas trabalhadoras, já que a maior parte delas é arrimo de família. Em alguns casos colaboram com o marido na renda familiar, em outros, são as únicas responsáveis pela manutenção e subsistência de suas casas e filhos. As mulheres, no conjunto, apresentam como emprego anterior à catação dos recicláveis o trabalho doméstico e atividades agrícolas.

A escolaridade também é maior entre as mulheres que se encontram trabalhando como catadoras nas associações e cooperativas analisadas, não obstante o fato de que a baixa escolaridade é uma característica marcante do total de trabalhadores. O analfabetismo, por exemplo, atinge em grande parte os homens que compõem o grupo analisado. A maioria, 81% do conjunto dos trabalhadores não concluiu o ensino fundamental, tendo freqüentado os bancos escolares por de no máximo quatro anos (Gráfico 3).

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Gráfico 3: Escolaridade dos catadores e das cooperativas analisadas - 2011 16% 81% 3% Analfabeto Ensino Fundamental Incompleto

Ensino Fundamental completo

Fonte: Trabalho de Campo – 2011.

Ainda com relação à escolaridade, enquanto 71% das catadoras entrevistadas cursou parte do ensino fundamental sem completá-lo, entre os homens este índice é de 9%. Considerando-se o ensino fundamental completo, o que significa ter freqüentado a escola por no mínimo 8 (oito) anos, apenas um trabalhador catador o fez. Já o analfabetismo é maior entre os homens, dos 8 catadores 4 informaram ser analfabetos.

Voltar a freqüentar a escola não é uma possibilidade que os trabalhadores catadores mencionam. Durante o levantamento das informações notamos que a maior preocupação está relacionada com a formação para o trabalho, a necessidade mencionada é de realização de cursos profissionalizantes. Alguns trabalhadores citaram ter concluído cursos de cozinheiro, corte costura, confeitaria e produção de pães.

Conclusão

Apesar da catação dos resíduos recicláveis ser um elemento a mais no serviço de limpeza e coleta de lixo da cidade, não é por isso reconhecido, em alguns casos mesmo organizados os trabalhadores não são percebidos no cotidiano urbano. Mesmo quando atuam organizadamente, como vimos os catadores dos resíduos recicláveis se estabelecem muitas vezes à margem dos serviços de limpeza pública, em condições precárias e com deficiências infra-estruturais.

Outra questão importante é a presença do poder público municipal como parceiro ou mesmo idealizador desses processos organizativos dos catadores, em que a pretexto de resolver os problemas dos catadores busca solucionar problemas municipais relativos aos resíduos, como estimuladores dos projetos acabam dando o direcionamento ao grupo. Na maior parte dos casos um apoio precário que tende a diminuir à medida que os problemas

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aparecem. Para a administração pública os catadores deveriam, depois de iniciado o projeto, continuar por conta própria, o que não acontece. É claro que essa vontade esconde o desejo de se livrar de todo o trabalho envolvido com a questão da organização dos catadores e de programas de coleta seletiva e dos custos, sempre lembrados.

Pudemos perceber que a parceria com a Prefeitura e demais interessados é importante para viabilizar a execução do trabalho, inclusive com subsídios que permitam melhores rendimentos aos catadores, como é o caso do custeio da energia, da água e de manutenção das instalações dos barracões e ferramentas. Os catadores em nenhum dos casos pesquisados dispunham de condições financeiras para iniciar, nem custear os gastos com o funcionamento da infraestrutura.

REFERÊNCIAS

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