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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto de Ciências Humanas Curso de Bacharelado em História. Trabalho de Conclusão de Curso

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Instituto de Ciências Humanas Curso de Bacharelado em História

Trabalho de Conclusão de Curso

Inventário da Coleção Leopoldo Gotuzzo:

Pesquisa, métodos e resultados

Joana Soster Lizott

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Joana Soster Lizott

Inventário da Coleção Leopoldo Gotuzzo:

Pesquisa, métodos e resultados

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em História.

Orientador: Prof. Dra. Elisabete Leal

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Joana Soster Lizott

Inventário da Coleção Leopoldo Gotuzzo: Pesquisa, métodos e resultados

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado, como requisito parcial, para obtenção do grau de Bacharel em História, Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Pelotas.

Data da Defesa: 28 de março de 2017

Banca Examinadora:

_____________________________________________ Profª. Dra. Elisabete da Costa Leal (Orientadora)

Doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

_____________________________________________ Profª. Dra. Márcia Janete Espig

Doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

_____________________________________________ Profª. Mª. Nóris Mara Pacheco Martins Leal

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Agradecimentos

À minha orientadora, professora Elisabete Leal, por ter acolhido a pesquisa e possibilitado o registro deste trabalho.

À toda a equipe do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, aos colegas Fábio Galli e Denoir Oliveira, que influenciaram diretamente no trabalho com o inventário. À direção (Professores Juliana Angeli e Lauer A. N. dos Santos), assim como os demais colegas (especialmente Maria Consuelo Sinott Rocha e Roberta Trierweiler), pelo apoio e incentivo.

À todos os bolsistas e estagiários dos cursos de Museologia, Conservação e Restauro, Artes Visuais e Design que contribuíram com a realização do inventário.

Às ex-colegas, Tania Aimi e Carla Doneda, dos Museus Histórico Regional e de Artes Visuais Ruth Schneider de Passo Fundo/RS, por terem acompanhado os meus primeiros passos no gerenciamento de acervos e terem me ensinado tanto.

Ao meu marido, museólogo Augusto Duarte Garcia, pelo apoio, incentivo e contribuições durante o trabalho.

Às professoras da banca, Márcia Espig e Nóris Leal, pelas importantes e necessárias considerações.

Muito obrigada!

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Resumo

LIZOTT, Joana Soster. Inventário da Coleção Leopoldo Gotuzzo: pesquisa, métodos e resultados. 2017. 70f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em História) - Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2017.

O trabalho aqui apresentado foi realizado no Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, localizado na cidade de Pelotas, com objetivo de gerenciar o acervo que faz parte da coleção do patrono da instituição: o pintor pelotense Leopoldo Gotuzzo. Nesse sentido, pretende apresentar os métodos e escolhas realizados durante o desenvolvimento desse trabalho, bem como os resultados e aplicações que puderam ser contabilizados durante o ano de 2016. Aborda a história da coleção, considerada fundamental para o entendimento do acervo e do museu. Na sequência, as etapas para a realização do inventário: análise institucional, organização e agrupamento das informações antigas, elaboração dos mecanismos de registro, sua normatização e terminologia e por fim, os mecanismos de acesso e busca do sistema. Assim, discute questões e dificuldades relativas ao gerenciamento de acervos, demonstrando as soluções encontradas. Por fim, esse trabalho visa o registro da concepção e processamento do inventário da coleção, realizado de forma interdisciplinar, envolvendo as áreas da história, museologia e conservação e restauro, para que possa ser utilizado, modificado, ampliado ou atualizado por outros profissionais que se debruçarem sobre a coleção.

Palavras-chave: Gerenciamento de acervos; Coleção Museológica; Museu de Arte

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Abstract

LIZOTT, Joana Soster. Inventory of the Leopoldo Gotuzzo Collection: reserach, methods and results. 2017. 70f.. Monograph (Undergraduate) Bachelor of History - Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2017.

The work presented here was carried at the Leopoldo Gotuzzo Art Museum, located in the city of Pelotas, with the objective of manager the collection that is part of the collection of the institution’s patron: the pelotense painter Leopoldo Goutzzo. In this sense, it intends to present the methods and choices made during the development of this work, as well as the results and applications thar could be accounted for during the year of 2016. Approach the history of the collection, considered fundamental for understanding the collection and the museum. In sequence, the steps for carryng out the inventory: Institutional analysis, organization and grouping of old information, elaboration of registration mechanisms, its standardization and terminology, and finally, the access and search mechanisms of the system. So, discusses issues and difficulties related to the management of collections, demonstrating the solutions found. Finally, this work intend to record the design and progressing of the inventory of the collection, carried out in a interdisciplinary way, involving the áreas of history, museology and conservation and restoration, so that it can be used, modified, expanded or updated by other professionals who research the collection.

Keywords: Management of collections; Museological Collection; Leopoldo Gotuzzo

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Sumário

1 Introdução ... 6

2 Caracterizando a Coleção Leopoldo Gotuzzo: Conceituação e Histórico de Formação ... 12

2.1 Gerenciamento de acervos museológicos ... 13

2.2 A Coleção Leopoldo Gotuzzo ... 15

3 Metodologia e Aplicação do Inventário da Coleção Leopoldo Gotuzzo ... 24

3.1 Análise institucional ... 25

3.2 Agrupamento e organização da documentação... 28

3.3 Mecanismos de organização, normatização e registro dos dados ... 29

4 Utilizando o inventário: acesso e comunicação dos dados ... 37

4.1 Dados quantitativos ... 37

4.2 Acesso às informações ... 39

5 Considerações Finais ... 45

Referências bibliográficas ... 49

Apêndices ... 52

Apêndice A – Manual disponibilizado no MALG para uso do inventário... 53

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1 Introdução

O trabalho aqui apresentado trata da pesquisa, métodos e resultados acerca do inventário da Coleção Leopoldo Gotuzzo, que faz parte do acervo do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG).

Seu desenvolvimento se deu durante os anos de 2014 e 2015, a partir de uma avaliação institucional, que definiu a necessidade de um sistema de documentação que atendesse às demandas do museu, preenchesse lacunas de informação, conferisse o possível desaparecimento de itens e possibilitasse a rápida recuperação das informações. Para tal, foram elaborados mecanismos para organização e divulgação dos dados do acervo, que puderam ser avaliados durante o ano de 2016.

As ações entorno do inventário foram inseridas nas atividades que venho desenvolvendo como museóloga no MALG desde 2014. Foram profundamente influenciadas pela minha experiência anterior em outro museu1 e também pela formação em História. Estando relacionado à proposta do Laboratório de Política e Imagem (ICH-UFPEL), o trabalho desenvolvido, perpassa por relações de poder que os museus engendram, ao selecionar e ressignificar memórias. Isso porque, a Coleção Leopoldo Gotuzzo não apresenta um critério único quanto a sua formação. Parte da coleção foi escolhida pelo próprio, enquanto protagonista de suas memórias, enquanto outra parte foi formada quase aleatoriamente postumamente, entre os seus pertences.

Apesar de envolver procedimentos técnicos da área museológica, o trabalho desenvolvido teve um caráter de pesquisa histórica associado. A base fornecida pela pesquisa pode ser considerada fundamental nesse caso, desde o entendimento da coleção, até o tratamento da documentação sobre o acervo encontrada. Pode-se

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pensar assim, o inventário não apenas como um recurso de gerenciamento das informações, mas como um retrato da coleção que se refere, de seus processos de formação e disputas.

O MALG foi criado em 1986, no âmbito da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), mas a coleção Leopoldo Gotuzzo inicia em 1949, na Escola de Belas Artes de Pelotas (EBA) 2. Tal escola é fundamental para se entender o processo de criação do MALG e das suas coleções, tendo em ex-alunos e professores pessoas que participaram da fundação do museu, ocuparam cargos de direção, trabalharam ou tem obras no acervo e ainda hoje acompanham as atividades.

Com o tempo o museu foi adquirindo novas obras de arte, sendo que atualmente, o acervo é dividido em sete coleções3 . A coleção Leopoldo Gotuzzo, além de ser relativa ao patrono do museu, também é a mais requisitada para exposições e pesquisas. Possuí uma grande variedade de tipologias de itens, que vão além das obras do artista, contando com documentos escritos, fotografias e objetos pessoais. Assim, a coleção do patrono pode ser compreendida como uma poderosa fonte de entendimento para questões relativas à criação de memórias e o papel de instituições museológicas, além da história da arte em Pelotas e mesmo nacionalmente. Leopoldo Gotuzzo morou quase toda a vida no Rio de Janeiro, mas manifestou seu desejo de deixar um legado para a cidade natal, e algumas pessoas relacionadas ao seus interesses e modo de vida tornaram isso possível.

Particularmente, a Coleção Leopoldo Gotuzzo carrega aspectos importantes que permitem a discussão quanto a gestão de acervos, temática cada vez mais discutida nos meios acadêmicos. Mesmo estando em um museu voltado para as artes visuais, possui acervo de caráter documental, mobiliário e objetos, revelando um problema comum em várias instituições com acervo – a variedade de tipologias que precisam ser condensadas em um sistema único de recuperação da informação. O tratamento da informação e a pesquisa dos acervos é fundamental para a criação e apropriação do conhecimento pelo público. Assim, esse trabalho também se insere nesse debate, focando nos desafios da organização e pesquisa dos dados do acervo,

2 Criada em 1949, tendo Leopoldo Gotuzzo como Patrono, Aldo Locatelli e Antônio Caringi como professores. Foi incorporada à UFPEL em 1973.

3 Coleção Escola de Belas Artes, Coleção Faustino Trápaga, Coleção João Gomes de Mello, Coleção Luiz Carlos Lessa Vinholes, Coleção Século XX e Coleção Século XXI.

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inserido em um contexto institucional com uma trajetória de quase trinta anos e diferentes tratamentos utilizados em seu acervo.

Ainda sobre a necessidade desse trabalho, destaca-se que a documentação dos acervos exerce papel primordial nos museus (FERREZ, 1994, p.65) e a falta de gerenciamento do acervo esvazia a razão de ser dessas instituições, que seja a preservação, investigação e comunicação dos mais variados bens que guarda. Nesse sentido, Maria Inês Cândido coloca que os objetos museológicos têm na documentação uma das bases para ser fonte de pesquisa cientifica e comunicação, intermediando institucionalmente o indivíduo e o acervo preservado (CÂNDIDO, 2006, p.31).

De acordo com Helena Dodd Ferrez, a documentação museológica pode ser definida como um conjunto de informações sobre cada um dos itens, e sua representação por meio da palavra e da imagem, e também um sistema de recuperação da informação, capaz de transformar “as coleções dos museus de fontes de informações em fontes de pesquisa cientifica ou em instrumentos de transmissão de conhecimento” (1994, p.65). Assim, o inventário deve ser entendido aqui como uma etapa de organização da informação, o que não significa que esteja encerrada, pois necessita de atualização e conferencia constantes. É importante esclarecer que o inventário, como um levantamento de todos os itens da coleção, serve também como um elemento de conferencia da mesma. Assim, ele não é definitivo, sendo parte de um sistema de documentação que ainda está em processo. A próxima etapa é o registro dos itens, que só pode ser realizada após se ter certeza se os mesmos fazem parte do acervo, como foram adquiridos ou se são empréstimos ou demandam outro tipo de tratamento.

Justamente por ser uma função basilar no trabalho museológico, ao tratar da documentação do acervo, é necessário que se aborde todas as atividades do museu em si. Assim, buscou-se construir o relatório incluindo todo o processo que culminou com a elaboração de um padrão de descrição e armazenamento dos dados, bem como dos planos surgidos a partir dele. É por isso que as atividades iniciam com uma avaliação institucional e um levantamento da história da instituição e da coleção.

Essa avaliação pautou-se principalmente pelo trabalho de Manuelina Duarte Candido (2013) que propõe o diagnostico museológico abrangendo o “museu como um todo”. Assim, são considerados aspectos mais amplos, como a gestão, mas pode ser aprofundado em avaliações especificas. É realizado a partir do que se define como

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Museologia e o que deve ser a função de um museu, intervindo de acordo com a necessidade de a instituição corresponder ao que se propõe (2013, p.14). Também pode ser entendido como “a distância entre a realidade atual e a desejável, uma caracterização dessa distancia, uma identificação dos fatores inibidores e uma percepção dos fatores facilitadores” (CANDIDO, 2013, p.15).

Paralelamente, as principais informações sobre a coleção foram adquiridas no próprio MALG, que possui alguns fundos arquivísticos que abrangem tanto o pintor Leopoldo Gotuzzo e suas obras como instituições e ações em torno das artes na cidade de Pelotas. O Arquivo Marina Moraes Pires tem sua origem em documentos organizados pela fundadora, diretora da Escola de Belas Artes de Pelotas (EBA) e amiga de Leopoldo Gotuzzo. É composto por dois conjuntos de documentos organizados em formato de álbuns pela mesma. Os recortes de jornal, correspondências, fotografias entre outros, se referem ao período desde os antecedentes até a federalização da EBA.

Outro conjunto de documentos é relacionado a EBA, com documentos administrativos da escola, além de notícias de jornal e muitas fotografias. Os documentos fazem parte do projeto Fototeca UFPEL4, mas estão sob guarda do MALG. Assim como os arquivos de Marina de Moraes Pires, os documentos da EBA foram sistematizados e organizados em projetos de extensão e desenvolvimento de mestrado nos anos anteriores, facilitando a pesquisa.

Além desses, foram fundamentais os documentos relativos ao acervo em si, disponíveis no MALG, para a averiguação da procedência e da trajetória dos itens depois da entrada na instituição. Ao contrário das anteriores, essa documentação está em fase de organização, parcialmente sistematizado paralelamente ao inventário.

Também foram importantes, na busca pela procedência e trajetória da coleção, as dissertações de Clarisse Magalhães (2012), sobre a Escola de Belas Artes de Pelotas e Cláudia Lacerda (2015), sobre o Atelier de Conservação e Restauro do Projeto Pinacoteca, que deu origem ao MALG.

As discussões acerca do gerenciamento de coleções e os métodos utilizados no inventário seguiram basicamente os trabalhos de Helena Dodd Ferrez (1994) e Manuelina Duarte Cândido (2006), que abordam questões conceituais básicas, além

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de apresentar o modelo de gerenciamento do acervo do Museu Mineiro. O Projeto de Inventário implantado no Museu Mineiro foi uma referência quanto aos padrões de classificação do acervo e de elaboração e preenchimento da ficha e planilha de inventário. Revelou-se uma metodologia simples e abrangente que foi muito útil para o trabalho no acervo do MALG.

Foram utilizadas ainda as dissertações de Camila Aparecida da Silva e Cynthia Yassuda também foram fundamentais, ao abordarem o tratamento da informação, normatização e o gerenciamento de acervos, estudando os casos do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e o Museu Paulista respectivamente. Os trabalhos de ambas foram importantes no sentido de dimensionar as possibilidades de normatização de acervos museológicos.

Quanto à especificidade de parte da coleção, o acervo artístico foi pensado principalmente a partir do Manual de Catalogação de pinturas, esculturas, desenhos e gravuras, do Museu Nacional de Belas Artes. Tal manual foi organizado por Helena Dodd Ferrez, coordenadora do Sistema de Informação do Museu Nacional de Belas Artes (SIMBA), criado em 1992, e que mais tarde serviria de base para o software Donato, utilizado em muitos museus – não apenas de arte - do país.

Além disso, cabe ressaltar a importância das leis e normas nacionais e internacionais para catalogação de acervos museológicos. Internacionalmente, tem-se a Declaração de Princípios de Documentação em Mutem-seus, produzido pelo Comitê de Documentação do Conselho Internacional de Museus (CIDOC/ICOM), bem como o Código de Ética para Museus (ICOM). Nacionalmente, tem-se o Estatuto dos Museus (Lei nº11904/2009) e o Decreto Presidencial nº 8.124, de 17 de outubro de 2013 que regulamenta a lei. No contexto da legislação nacional, destacam-se as resoluções normativas nº1 de 31 de Julho de 2014 e nº2 de 29 de agosto de 2014, do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM).

O trabalho foi organizado refletindo as etapas desenvolvidas. Assim, inicialmente é caracterizada a coleção, seu caráter museológico, seu histórico de formação e sua trajetória institucional, questões e conceitos que orientaram o trabalho técnico desenvolvido.

O segundo capítulo trata da metodologia aplicada no inventário, a partir de quatro etapas: análise institucional, a organização e agrupamento das informações antigas, a elaboração dos mecanismos de registro, sua normatização e terminologia e por fim, os mecanismos de acesso e busca do sistema.

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Os resultados alcançados são apresentados quantitativamente e também em seus desdobramentos, principalmente no que se refere aos usuários. Assim, pretende-se que o trabalho realizado possa servir de registro e guia para trabalhos futuros e permanente auto avaliação e melhorias, indicando os procedimentos adotados.

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Caracterizando a Coleção Leopoldo Gotuzzo: Conceituação e

Histórico de Formação

Inicialmente, faz-se necessário situar algumas questões e conceitos que orientaram o trabalho técnico desenvolvido. Assim, nesse primeiro capítulo buscou-se situar o que se entende por coleção e objeto museológico, seguido de um breve histórico da coleção Leopoldo Gotuzzo, que se funde com a da própria instituição.

Isso porque, a construção dos mecanismos, definição de objetivos e metas baseou-se, entre outras coisas, em dada concepção do objeto enquanto fonte de informação, da história da coleção, das condições nas quais se encontrava e da sua relação com o museu e seus usuários. Assim, para começar a se pensar nas estratégias de pesquisa, ordenamento, classificação e todos os processos que envolvem o gerenciamento de acervos, faz-se necessário que se caracterize coleção que foi elemento do trabalho desenvolvido.

Nesse sentido, o inventário, mais do que uma relação de itens para conferir e consultar, é entendido aqui como um reflexo da formação dos acervos os quais abrange. Isso porque a carga informacional que demanda, analisada em conjunto, permite que se estabeleçam relações além dos seus itens, possibilitando entrar no campo das intencionalidades do processo de musealização. Este, de acordo com Marília Cury, pode ser entendido como as ações de aquisição, pesquisa, conservação, documentação e comunicação sobre o objeto. “O processo inicia-se ao selecionar um objeto de seu contexto e completa-se ao apresenta-lo publicamente por meio de exposições, de atividades educativas e de outras formas” (CURY, 2005, p.26).

Os museus, enquanto práticas sociais, selecionam, reúnem e expõem coisas que adquirem novos sentidos e funções, em um processo “de caráter seletivo e

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político, impregnado de subjetividades, vinculado a uma intencionalidade representacional e a um jogo de atribuição de valores socioculturais” (CHAGAS, 2009, p.22). Por isso a forma de aquisição, tratamento destinado e até mesmo a forma de comunicação de um acervo são elementos fundamentais para se entender os interesses e processos envolvidos na constituição e no funcionamento dos museus. Nesse contexto, as coleções, carregadas de escolhas e supressões, também revelam aspectos do contexto sociocultural que as produziu, mesmo quando provém de um único colecionador.

2.1 Gerenciamento de acervos museológicos

O acervo tratado aqui, em seus variados suportes, tipologias e temáticas que abrange, está sob guarda de uma instituição museológica, demandando processos diferenciados de arquivos e bibliotecas por exemplo.

Segundo Bellotto (1992, p.14), tanto museus como arquivos e bibliotecas têm em comum a responsabilidade com o processo de recuperação da informação, contudo, assim como Yassuda (2009, p.47), destaca que o tratamento dado ao suporte informacional é diferente em cada um deles. Uma das principais diferenças se dá no processamento técnico:

Se na biblioteca e no museu o tratamento documental é feito peça por peça, ainda que totalizando uma única grande coleção, no arquivo, em geral, o tratamento técnico é dispensado não à unidade, mas as séries documentais que formam agrupamentos dentro de diferentes fundos (BELLOTTO, 1992, p.17)

Diferenças à parte, Mário Chagas afirma que essas três instituições tem uma existência também social, existindo como um fenômeno sociocultural, e que se sustentam sob três elementos: “lugar ou espaço; objeto, livro ou documento; usuário ou público” (1996, p.40). Segundo ele, a relação entre sujeito, documento e espaço é o ponto de unidade conceitual entre as três áreas.

Quando se aborda coleção de museu, além de tratar-se de um conjunto de objetos, materiais ou imateriais, unidos por um indivíduo ou estabelecimento, formando necessariamente um conjunto coerente e significativo (DESVALLÉS e

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MAIRESSE 2014 p.32), tem-se o caráter de semióforo dos objetos que a compõem, que perdem seu caráter utilitário para adquirirem a função de representar o passado (POMIAN, 1997, p.71). Isso significa, que esses conjuntos de objetos reunidos perdem seu valor de uso e são mantidos fora do circuito econômico, estando sujeitos à uma proteção especial. E o que os torna diferente de outros conjuntos de objetos, é a seu papel de intermediarem o invisível representado e os espectadores:

De um lado estão as coisas, os objectos uteis, tais como podem ser consumidos ou servir para obter bens de subsistência, ou transformar matérias brutas de forma a torna-las consumíveis, ou ainda proteger contra as variações do ambiente. Todos estes objectos são manipulados e todos exercem ou sofrem modificações físicas, visíveis: consomem-se. De outro lado estão os semióforos, objectos que não têm utilidade, no sentido que acaba de ser precisado, mas que representam o invisível, são dotados de um significado; não sendo manipulados, mas expostos ao olhar, não sofrem usura (POMIAN, 1997, p.71)

Assim, o objeto de museu, como coloca Yassuda (2009, p.68), enquanto representação da memória, adquire um valor simbólico, passando a representar um grupo, um tempo ou um lugar. Por isso, os objetos são entendidos aqui como suportes de informação, que só pode ser preservada pelo questionamento. Pois, segundo Chagas, o que torna uma coisa um bem cultural ou documento é o momento em que lançamos sobre ele “nosso olhar interrogativo” (1996, p.43). Mais do que isso, é necessário que alguém (indivíduo ou coletividade) o valorize de modo diferenciado: “A constituição do bem cultural passa através de um processo de atribuição voluntária de valores” (CHAGAS, 1996, p.44).

Assim, entende-se que as três áreas mantêm a relação sujeito-documento-espaço, como coloca Chagas (1996), contudo, também possuem procedimentos técnicos e enfoques diferentes, como coloca Bellotto (1992). A coleção Leopoldo Gotuzzo possui itens que poderiam perfeitamente pertencerem a arquivos ou bibliotecas, mas fazem parte de um conjunto específico, e por estarem em um museu, adquirem o status de objeto museológico, passaram pelo processo de musealização. Por fim, a documentação de acervos é apenas uma etapa nessa transformação do objeto do visível (coisa, útil), para o invisível (significado), mas é fundamental nesse processo. Além de interrogar, permite o registro dos dados, amplia o acesso e serve de base à comunicação do acervo.

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2.2 A Coleção Leopoldo Gotuzzo

A história da formação da coleção Leopoldo Gotuzzo perpassa a do MALG. E não poderia ser diferente, já que o pintor é seu patrono. Os antecedentes da instituição e o início da coleção remontam à 1949, ano de fundação da Escola de Belas Artes de Pelotas (EBA), da qual Leopoldo Gotuzzo também foi patrono.

O pintor pelotense Leopoldo Gotuzzo (1887-1983), segundo Silva e Loreto (1996, p.43-45), é “o grande nome da arte pictórica em Pelotas, na primeira metade do século XX”. Filho de pai italiano e mãe pelotense, destacou-se pelo desenho desde criança, e iniciou sua formação com o artista Frederico Trebbi, com o qual aprendeu as regras acadêmicas. Continuou os estudos na Europa a partir de 1909, de onde volta para o Brasil em 1918 como pintor profissional e premiado. Nos anos 20 viveu a Belle Époque carioca, fixando residência no Rio de Janeiro, sendo esse “O período áureo de sua carreira, incluindo, entre 1927 e 30, viagem a Portugal, expondo em Lisboa, Porto e Paris” (MALG, 1987). Radicou-se no Rio de Janeiro, onde faleceu em 1983.

Fez duas grandes doações de suas pinturas e desenhos à Pelotas, uma em 1955 à Escola de Belas Artes e outra quando faleceu, quase trinta anos depois. Além dessas, foram adquiridas obras de outras fontes ao longo dos anos, antes e depois da criação do MALG. Com base nos documentos relativos à esse acervo, procurou-se pensar na trajetória da coleção a partir de três momentos: as primeiras doações para a Escola de Belas Artes de Pelotas (1949-1973), seguidas das aquisições já no contexto da Universidade Federal de Pelotas, principalmente o legado deixado pelo pintor em 1983, bem como o acervo organizado pelo Projeto Pinacoteca5 (1982-1985) e por fim, o período após a fundação do MALG, em 1986 até o presente.

A coleção teve início na Escola de Belas Artes de Pelotas (EBA), criada em 1949, e tendo Leopoldo Gotuzzo como seu patrono. O pintor era bem relacionado com sua fundadora e diretora Marina de Moraes Pires (Figura 1), compartilhando com ela o desejo de criar uma instituição voltada para o ensino de artes em Pelotas (MAGALHÃES, 2012, p.245).

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Figura 1 – Fundadoras da EBA e do MALG

Á esquerda: Marina de Moraes Pires, fundadora da EBA, desenhada por Gotuzzo, 1926. À direita, Luciana Renck Reis, aluna da EBA, coordenadora do projeto Pinacoteca e fundadora do MALG, desenhada por Gotuzzo em 1962.

Fonte: Acervo do MALG. Fotografia de Daniel Moura, 2015

De acordo com Clarice Magalhães (2012, p.245), mesmo sendo patrono, a relação de Goutzzo com a escola se dava à distância, uma vez que morava no Rio de Janeiro, de forma que nunca foi professor da EBA por exemplo. Contudo, a autora afirma que quando visitava Pelotas, ele ministrava pequenas aulas e demonstrações, de forma que “ajudou muito a EBA, como amigo não só da fundadora como da própria Escola, e o fazia com entusiasmo, tendo sempre demonstrado grande apreço pela Instituição de sua terra natal” (2012, p.245). O depoimento de ex-alunos, confirmam as visitas do pintor à escola:

Ele, quando vinha a Pelotas, sempre ia visitar a EBA, e lá nos dava aulas. Mas ele não foi professor da Escola. As aulas dele, ele dava como demonstração para a gente, todo mundo queria ver e todo mundo queria ficar de modelo (informação verbal)6.

Outra grande contribuição, apontada por Magalhães, foram as doações de suas obras feitas por Gotuzzo, que se deram em duas partes. Primeiro com a obra “Espanhola”, em retribuição por ter sido declarado patrono da escola (DIÁRIO POPULAR, 12/07/1949) (Figura 2).

6 Depoimento realizado por Luciana Renck Reis, ex-aluna da EBA, coordenadora do Projeto Pinacoteca e fundadora do MALG, concedido à Clarice Magalhães, como subsídio para sua dissertação de mestrado ou para compor o arquivo da EBA, no MALG. O depoimento foi publicado recentemente (2014), na obra “A Escola de Belas Artes de Pelotas: memória e história”, p. 166-169.

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Figura 2 - Leopoldo Gotuzzo em meio às alunas da primeira turma da EBA.

Na sede da escola então na Bibliotheca Pública Pelotense. Está sentado à frente da obra entre duas alunas. Aparecem ainda na imagem Aldo Locatelli, então professor da EBA, do lado direito do observador, ao lado do quadro e Marina de Moraes Pires ao fundo, a primeira mulher à esquerda da obra em pé.

Fonte: Arquivo Marina Moraes Pires. Foto de Roble, 1949.

Alguns anos depois, em 1955, Leopoldo Gotuzzo faz uma nova doação à EBA. Desta vez, o pintor seleciona uma série de obras e envia do Rio de Janeiro. Tal doação é relatada em uma carta enviada à Marina de Moraes Pires, então diretora da escola7. Descreve o envio de dezesseis obras em nove volumes, cuidadosamente embalados.

Vão oito volumes, numerados, contendo treze quadros assim distribuídos: 1- “Repouso”, feito em Madrid em 1916 e exposto no mesmo anno no Salão Nacional tendo merecido medalha de bronze. 2 – “As Pérolas”, executado cá no Rio em 1925 e também exposto no Salão Nacional. 3 – Duas paisagens dos Pyrineus Orientaes: “Aspecto de Amelie-Les-Blains” e “Vieux Pont” pintados em 1918. 4 – “O Velho da Capa”, feito em Madrid em 1916 e exposto no Salão de 1918. 5 – “Estudo de nú”, executado em Paris em 1918. 6 – “Paisagem Gaúcha”, pintada no Monte Bonito em 1931 e Therezopolis. 7 – “Pequeno estudo de nú”, Madrid 1916; “Ruminando”, Monte Bonito, 1931 e “Ponte de Marília”, Ouro Preto, 1942. 8 – “As Pyramides” curioso aspecto da Praia da Rocha (Algarve), 1929 e um busto feminino datado de 1938, premiado com a grande medalha de Prata no Salão Paulista de 1939 (...) juntei num 9º volume uma cabeça feita rapidamente em Paris (1918), um pequeno aspecto da Villa de Piratiny em 1935, quando se commemorava o Centenário Farroupilha, uma natureza morta (pecegos) feita cá no Rio (GOTUZZO, 1955)

7 Tal documento encontra-se no MALG, sendo parte da coleção Leopoldo Gotuzzo (inventário 1464/2014).

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Segundo Gotuzzo, esses quadros escolhidos representavam a sua carreira artística, e eram doados de forma emocionada, pois ao separar os quadros, repassa boa parte de sua vida, desde o início dos estudos longe da família e do país, até os primeiros prêmios. Finaliza destacando o desejo de que as obras fossem cuidadas e preservadas, como um presente de um pelotense a sua cidade, um testemunho de seu trabalho, desejando “Que Pelotas compreenda e proteja a lembrança de seu filho!” (GOTUZZO, 1955).

Percebe-se assim, pelo teor da carta, que a doação teve um caráter de legado do artista para sua terra natal, e que ele desejava o reconhecimento. Claramente o pintor declara sua vontade de ser lembrado, ao mesmo tempo que esclarece a importância pessoal das obras selecionadas. Essa é uma das principais características dessa doação do pintor à EBA, o fato de ter escolhido, de acordo com suas melhores e mais saudosas experiências, as obras pelas quais queria ser lembrado na sua cidade natal.

Ainda no mesmo ano, verificou-se no Livro de Atas da Diretoria da escola, que outros cinco quadros estariam ainda por vir em doação:

A Sra. Diretora abordou, ainda os seguintes assuntos: a) Museu Leopoldo Gotuzzo – Disse que os cinco quadros restantes da coleção doada pelo nosso Patrono, ainda não vieram do Rio, por falta de molduras apropriadas; solicitava, assim, autorização da Diretoria para serem confeccionadas naquela capital as referidas molduras, sob orientação do pintor Leopoldo Gotuzzo, o que foi aprovado. (ATA N°2/955)

Não há indicação de quais quadros seriam esses. Essa constatação só foi possível devido o cruzamento de informações entre o documento “Lista de quadros do Museu Leopoldo Gotuzzo”, o Termo de transferência de bens da EBA para a UFPEL e fotografias da parte interna da EBA, nos quais aparecem obras do pintor não relacionadas na carta de doação direcionada à Marina M. Pires.

O período no qual os quadros de Gotuzzo estiveram na EBA é relatado por Luciana Reis:

O Gotuzzo sempre dizia que nós, para aprendermos, além de termos que desenhar, estudar e tudo mais, nós tínhamos que ver obras de arte e foi por isso que ele fez a doação das obras dele, mandou a primeira coleção para a Escola. (...) Os quadros do Gotuzzo não estavam em uma só sala, estavam por toda a Escola (...) Mas os quadros do Gotuzzo, provenientes da doação, ficavam lá na Escola, e vocês sabem, tem a poeira, a janela aberta, a luz. Quando o Gotuzzo vinha a Pelotas, ele olhava para ver se os quadros

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estavam bem. Foram pintados com tinta muito boa, com técnica tão boa que aguentaram tudo aquilo (Informação verbal).8

Assim, percebe-se que as obras eram expostas nas paredes da Escola. Encontrou-se ainda, na documentação, referências a um “Museu Leopoldo Gotuzzo”, como a Ata 2/55, Lista de quadros e anexo do Termo de Transferência dos bens da EBA para UFPELContudo, não foram localizados documentos que comprovem sua institucionalização. Acredita-se, que esse museu era na verdade a coleção doada por Gotuzzo, não tendo uma estrutura museológica por assim dizer.

Com a criação da Universidade Federal de Pelotas, em 1969, a EBA foi incorporada, com todos os seus bens, em 1972. No ano seguinte, é dado andamento ao processo de transferência da escola, incluindo todas as suas obras de arte, sendo definitivamente incorporada à UFPEL em 1973.

Depois da incorporação do acervo da Escola de Belas Artes, as obras tiveram destino incerto dentro da UFPEL, tendo ficado espalhadas pelas dependências da instituição “sem manutenção e, muitas delas, em espaços inadequados” (LACERDA, 2015, 14).

O registro de patrimônio da UFPEL e o livro Tombo do MALG revelam ainda a aquisição de outras quatro obras, uma delas com indicação de ter sido doada pelo pintor. Não é especificada a forma de aquisição, e não foram localizados documentos quanto a isso.

Somente em 1982, no âmbito do Projeto Pinacoteca, encabeçado pela professora oriunda da EBA Luciana Renck Reis (Figura 1), esse acervo começa a ser tratado novamente em conjunto. O projeto tinha como objetivos a reunião e restauração do acervo artístico espalhado pela universidade, “com a função principal de restauração das pinturas de Gotuzzo, doadas pelo artista à Escola de Belas Artes (EBA) em 1955 e em 1983, para a criação de um futuro Museu” (LACERDA, 2015, 14).

De acordo com reportagem (DIÁRIO POPULAR, 20/01/1983), o ateliê funcionava no prédio da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, e visava o restauro de 120 quadros (Figura 3). Sob orientação técnica de Elsa Maria Loureiro de Souza9,

8 Idem nota nº5.

9De acordo com documentos diversos encontrados no MALG, as professoras Luciana e Yeda conheceram prof. Elza Maria Loureiro de Souza durante o III Encontro Sul Riograndense de Museus, em Bagé 1982.

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a equipe era coordenada por Luciana Reis e formada pela professora Yedda Machado Luz e escultora Judith Bacci (ambas oriundas da EBA), além de dois estudantes de artes, e o artífice Erasmo Casarin, responsável pelo trabalho em madeira. As pesquisas e fichas do acervo eram de responsabilidade das professoras Vera Satte Alam e Nina Paixão. Ainda segundo a reportagem, as técnicas empregadas na restauração estavam “de acordo com os métodos aprovados pela UNESCO, para as galerias, pinacotecas e museus dos Estados Unidos e Europa”.

Figura 3 - Obras de Gotuzzo em processo de restauro no ateliê do projeto Pinacoteca. Fonte: Arquivo do MALG. Autor não identificada.

Durante essas atividades, a professora Luciana Reis, procurou Leopoldo Gotuzzo, então residente do Rio de Janeiro, com a intenção de convidá-lo a ser patrono do novo Museu de Arte, como consta em depoimento:

Veio a Elza Maria Loureiro de Souza, que tinha feito curso na Europa, então todos os quadros da Escola, não só os do Gotuzzo, ficaram como deveria ser, e eu fiquei muito faceira e fui visitar o Gotuzzo no Rio e disse pra ele: olha, os seus quadros estão perfeitos, maravilhosos. E ele disse: onde é que estão? Eu disse, olha, estão na sala de honra da Universidade. Ele ficou triste e disse assim: sala de honra não é museu. E então eu disse: pois eu vou lhe prometer que o museu sai! (informação verbal)10

Entrementes, Gotuzzo vem a falecer em 1983, sendo a partir de então que a UFPEL adquire uma quantidade considerável de obras e itens pessoais do pintor. Segundo o Livro Tombo e listagens antigas encontradas, essa aquisição teria sido realizada por meio o testamento do pintor.

10 Idem notas 5 e 7.

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Contudo, não se tem acesso a tal documento, tendo como única comprovação oficial da doação é o Termo de Responsabilidade da UFPEL, de 1984, relacionando sessenta (60) itens, a maioria quadros, classificados como “Doação do autor à Escola de Belas Artes de Pelotas”, o que pode indicar que o mesmo possuía a intensão de deixar a doação já há alguns anos, visto que a EBA não existia mais desde 1973. Outra fonte para determinar quais itens foram adquiridos, é o relatório apresentado pela restauradora Elsa Maria Loureiro, técnica que ficou responsável pela embalagem e envio das obras para Pelotas, uma vez que residia no Rio de Janeiro11.

Além das obras, foi adquirida no mesmo contexto, uma quantidade significativa de itens de caráter documental, fotográfico e objetos, mas que não foram relacionados ou registrados. A procedência desses itens foi inferida através de listagens manuscritas da época da doação, que indicavam que os mesmos estavam no apartamento de Gotuzzo, em móveis e malas, e tiveram sua doação autorizada pela sua herdeira, Moema Russomano Kraft e o inventariante Jorge Bailly. Contudo, não foi encontrado documento oficial que comprovasse a doação.

O projeto finaliza em 1985, apontando no seu relatório anual a conclusão do restauro do acervo UFPEL, incluindo a “segunda coleção de Gotuzzo”, referindo-se a doação póstuma, que estaria guardada em sala do então Instituto de Letras e Artes (ILA). Também foi realizada uma mostra dessa última doação e um ciclo de palestras12.

O MALG abriu ao público em 07 de novembro de 1986. Incorporou quase todo o acervo reunido e restaurado pelo Projeto Pinacoteca, traçando uma linha até a Escola de Belas Artes de Pelotas. A professora Luciana Renck Reis (Figura 1) é considerada sua fundadora, e primeira diretora. O Atelier de Restauro iniciado no Projeto Pinacoteca, continuou no museu até o início dos anos 1990.

A partir do museu institucionalizado, a coleção foi sendo ampliada com aquisições de procedências variadas, perdem a característica de seleção por parte do próprio pintor. Em 1993, todas as doações passaram a ser avaliadas previamente por uma comissão.

11 Tal relatório encontra-se no arquivo do MALG.

12 Oficio 14/85 de 10/01/1985, de Luciana Reis para Mariza Hallal dos Santos – Chefe do Escritório de Difusão Cultural e Artística da Pró-reitoria de Extensão e Cultura, com o relatório anual de atividades. Arquivo MALG.

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Já no primeiro ano de funcionamento, em preparação ao centenário de Leopoldo Gotuzzo, o “MALG inicia a conservação e restauro das telas a óleo de Leopoldo Gotuzzo, recebidas pela Universidade Federal de Pelotas dos herdeiros do artista logo após seu falecimento, em cumprimento de vontade expressa em testamento” (DIÁRIO POPULAR, 14/01/1987, p.18).

Ainda nos anos 1990 houve a compra de desenhos do artista por parte da Sociedade de Amigos do MALG (SAMALG) e da reitoria da UFPEL, tendo ambas destinado os mesmos ao museu.

Por muito tempo, a coleção continuou a ser cuidada pela equipe montada no Projeto Pinacoteca, que se dedicou principalmente ao restauro das obras. Após o fim do ateliê, o acervo ainda ficou sob cuidado de alguns servidores da época, como Erasmo Casarin, marceneiro que se tornou “guardião” do acervo, tarefa que passou para o servidor que está até hoje no museu, Denoir Oliveira. Ambos não têm formação em gerenciamento ou conservação de acervos, mas atuaram de forma que garantiu a segurança e conservação da coleção, que, mesmo passando por condições extremas dado edificações inadequadas, mudanças etc., pode ser considerada em muito bom estado.

Durante os anos 1990 e 2000, foram desenvolvidos trabalhos no sentido de se registrar ou pesquisar o acervo. Essas iniciativas podem ser verificadas na documentação levantada para essa pesquisa. Contudo, os vários trabalhos desenvolvidos nem sempre levavam em consideração os anteriores, ou encontram-se incompletos atualmente. Via de regra, levavam em conta uma coleção ou um tipo de acervo (como esculturas), não abrangendo a totalidade do acervo do MALG. Mesmo assim, são trabalhos valiosíssimos e demonstram o constante envolvimento e dedicação ao acervo. Todos os resquícios desses trabalhos anteriores foram arquivados recentemente e as informações foram revisadas e incorporadas ao inventário.

O primeiro trabalho que visava abranger todo o acervo (incluindo todas as coleções e indo além das obras de arte), foi realizado por acadêmicos voluntários do curso de Museologia da UFPEL, orientados pela professora Nóris Leal, entre os anos de 2011 e 2014. O trabalho realizado por eles foi utilizado de base para o inventário atual do acervo.

Assim, ao longo de todos esses anos, a coleção foi se formando, chegando a uma grande variedade de itens, que vão além das obras do artista (Figura 4). Mesmo

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atualmente, ela não está fechada, sendo adicionadas as novas aquisições relacionadas à Gotuzzo.

Figura 4 - Itens da coleção Leopoldo Gotuzzo, representando a diversidade tipológica e de materiais da coleção.

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3

Metodologia e Aplicação do Inventário da Coleção Leopoldo

Gotuzzo

O inventário realizado na Coleção Leopoldo Gotuzzo foi desenvolvido a partir do histórico da coleção, da avaliação institucional e desenvolvido com a organização e agrupamento das informações disponíveis e posteriormente com o registro e normatização das mesmas. Para tal, foram desenvolvidos alguns mecanismos, como a ficha e a planilha de inventário, as relações ou listagens auxiliares, a padronização das imagens da coleção, e os padrões de classificação.

Foram utilizados, como referências técnicas, a legislação vigente (Estatuto de Museus e seu decreto de regulamentação bem como resoluções do IBRAM), além da Declaração de Princípios de Documentação em Museus (CIDOC-ICOM), o projeto Inventário de Acervos Museológicos, da Superintendência de Museus da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, implantada no Museu Mineiro, e o Manual de Catalogação de pinturas, esculturas e desenhos do Museu Nacional de Belas Artes.

A Declaração de Princípios de documentação em museus tem por objetivo “orientar os museus no desenvolvimento de suas políticas de gestão e documentação do acervo. Ela é compatível com as normas do Código de Ética para Museus do ICOM (2006)” (CIDOC-ICOM, 2014, p.19). De acordo com o documento, a documentação dos museus envolve o desenvolvimento e utilização das informações sobre os itens que compõem o acervo, bem como todos os procedimentos que auxiliam a sua administração (2014, p.19). A declaração traz vinte princípios a serem adotados, que destacam a preocupação com a informação sobre os acervos, sua divulgação e acesso, segurança e normatização.

O trabalho implementado no Museu Mineiro, chamado de Projeto de Inventário, apresentou um formato e metodologia que inspiraram alguns pontos desse trabalho, principalmente o Esquema Classificatório, que teve pequenas adaptações.

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O Manual de Catalogação de pinturas, esculturas e desenhos foi veiculado por anos pelo Museu Nacional de Belas Artes (MNBA). Trata do Sistema de Informação do Acervo do Museu Nacional de Belas Artes (SIMBA), que foi desenvolvido com o objetivo de organizar o acervo diversificado do museu, garantindo maior controle, acesso e divulgação das informações do mesmo (FERREZ e PEIXOTO, 1995, p.7). Alguns aspectos do projeto desenvolvido no MNBA se assemelham a situação encontrada no MALG, como por exemplo, o fato de o tratamento da informação não ter uniformidade nem uma padronização ou terminologia, e a ausência de um catálogo único que reunisse todo o acervo. Além disso, as definições de técnicas e materiais, bem como outras convenções desse sistema foram muito úteis na construção do inventário.

Dividiu-se o trabalho desenvolvido em quatro atividades: análise institucional, a organização e agrupamento das informações antigas, elaboração dos mecanismos de registro, sua normatização e terminologia e por fim, os mecanismos de acesso e busca do sistema.

3.1 Análise institucional

Foi desenvolvida durante o ano de 2014, e embora traga aqui dados relativos à coleção Leopoldo Gotuzzo de forma mais especifica, abrangeu toda a gestão, recursos e serviços institucionais13. A partir desse levantamento se pode estabelecer as necessidades e potencialidades institucionais, bem como estabelecer os limites de recursos e de atuação com o acervo.

Foram avaliados aspectos institucionais (vinculação, missão, regimento, organograma, orçamento, recursos humanos, instituições de apoio), o espaço físico e instalações (edifício e entorno, fatores de risco), a acessibilidade (obstáculos físicos e emocionais), a segurança (fatores de risco, preparação emergências), as exposições (planejamento, recursos, divulgação, registro e documentação), o público

13 A avaliação completa foi entregue para a direção do MALG, foi revisada no ano de 2015 e ainda está em discussão. Assim, a mesma não pôde ser divulgada na integra. Por isso, e devido o foco deste trabalho ser o inventário da coleção, serão abordadas aqui apenas as conclusões dessa avaliação, bem como aspectos relativos exclusivamente ao acervo.

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(acolhimento ao visitante, pesquisa de público) as atividades educativas e a pesquisa (demanda, temáticas e áreas envolvidas).

Quanto ao acervo, foi realizada uma avaliação detalhada de gestão e controle, armazenamento e conservação, da documentação museológica, manutenção, manuseio e uso. Essa análise baseou-se em manuais técnicos da área museológica, nas considerações da equipe de trabalho do museu além de uma pequena amostragem de visitantes.

De maneira geral, foram percebidas limitações no campo do orçamento, do espaço físico e da documentação e organização do acervo de forma geral. Assim, com recursos financeiros insuficientes, a aquisição de equipamentos ou material de acondicionamento para o acervo e quaisquer outras mudanças necessárias ficavam atreladas à realocação de outros setores. Além disso, o MALG não possui sede própria, o atual edifício que abriga o museu é alugado e, por seu caráter histórico e cultural, inventariado, dificultando mudanças na parte física e na instalação de novos pontos de internet e telefone ou climatizadores por exemplo. O espaço de guarda do acervo, a reserva técnica, estava em seu limite de armazenamento, e havia acervo em outros setores. Também havia a necessidade de um local para o processamento do acervo, sua pesquisa, conservação e o próprio inventário

Por outro lado, as possibilidades levantadas se davam no fato de o museu possuir uma equipe considerável, incluindo técnicos, servidores de longa data na instituição, uma direção comprometida e grupo de terceirizados interessados e colaborativos. Dois desses servidores, lotados no MALG possuem formação em acervos (museóloga e conservador-restaurador), atendendo aos princípios do CIDOC-ICOM (2014). Além disso, o caráter universitário do museu favorece a presença de pesquisadores e extensionistas, permitindo a realização de atividades acadêmicas e mesmo a participação de bolsistas nos projetos desenvolvidos.

Outro ponto positivo encontrado, foi a organização interna da instituição. Mesmo estando em um momento de mudanças, com boa parte da equipe sendo nova, inclusive a direção, o museu havia oficializado seu regimento interno recentemente. Este documento, garantia, entre outras coisas, a existência de um setor destinado exclusivamente para o acervo, abrangendo museóloga e conservador-restaurador. Prevê ainda a atuação de uma Comissão de Acervo, envolvendo os técnicos, elemento fundamental para se pensar a política de aquisições e descartes do museu.

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A documentação foi avaliada a partir dos principais objetivos da documentação em museus (CIDOC-ICOM, 2014, p.38):

Assegurar a responsabilidade legal pelos objetos: apenas parte da

coleção possuía documento de doação (106 itens, de 11 doadores diferentes), ou indicação de procedência em fichas e no livro tombo.

Auxiliar na segurança dos objetos: além de carecer de documentos

que comprovassem a posse de alguns itens, não havia uma relação completa e atualizada de localização dos mesmos, ou política de empréstimos. Outro grave problema era a ausência de um quantitativo total de itens da coleção.

Permitir a organização de arquivo histórico dos objetos: havia

material acerca da coleção, do Leopoldo Gotuzzo e até de alguns itens, contudo as informações não estavam concentradas em um único local. O museu contava com uma quantidade interessante de documentos relativos aos itens das coleções, como fichas e listagens, de períodos diferentes da instituição, e mesmo do período anterior, armazenados em locais diferentes. A avaliação desse material revelou vários casos de dissociação, ou seja, informações das fichas e listagens não eram confirmadas ao se conferir os itens, sendo que alguns não eram encontrados, e alguns itens não eram identificados nesses registros. Cabe ressaltar que mesmo precisando de organização e sistematização, a presença desses documentos foi fundamental para o inventário e que isso se deve ao empenho dos servidores do MALG, que mantiveram esse material guardado por muitos anos, passando por mudanças de gestão e de prédios.

Favorecer o acesso físico e intelectual aos objetos: A recuperação

da informação apresentava problemas, pois era incompleta e seu sistema de busca era manual, seja pela relação do acervo, ou através de pastas com fichas (não numeradas) e imagens das obras, feita manualmente. Notou-se que, esse sistema servia bem para pessoas que já conheciam o acervo ou tinham intimidade com ele, mas usuários novos levavam muito tempo e não tinham acesso a todas as obras. Ao mesmo tempo, percebeu-se que apenas as obras e alguns objetos do ateliê do pintor haviam sido documentados, não sendo disponibilizados frequentemente para curadores, pesquisadores e público.

Dessa forma, considerou-se como medidas mais urgentes no gerenciamento do acervo, a organização do espaço para trabalho com o mesmo e da reserva técnica, a reunião e organização da documentação anterior do acervo, o levantamento do

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quantitativo de itens e da procedência dos mesmos e a facilitação do acesso às informações dos itens pelos usuários.

A partir de então, o trabalho foi pensado a partir de duas frentes, realizadas de forma concomitante, conforme a disponibilidade de recursos humanos, espaço físico e equipamentos. A primeira delas foi no sentido de otimizar o espaço de trabalho, da reserva técnica e a documentação anterior do acervo. A outra frente se refere à elaboração dos mecanismos para a organização, armazenamento e disponibilização das informações do acervo.

3.2 Agrupamento e organização da documentação

Inicialmente, foi trabalhado o agrupamento de toda a documentação referente ao acervo encontrada, uma vez que, um dos problemas verificados no diagnóstico foi justamente o fato de não haver um local destinado à essa documentação, de forma que ela estava nos setores administrativo e de pesquisa e entre os documentos que compõem o arquivo histórico do MALG14.

A busca e união de documentos referentes aos itens do acervo demandaram um certo tempo e abrangeram um período desde 1949 até 2014, ano que começou o trabalho atual. A tabela 1 abaixo elenca a diversidade e a quantidade de documentação reunida. Foram listados nela os tipos de documentos encontrados, relacionando-os com as fases pelas quais passou a coleção, como colocado no capítulo anterior. Destaca-se que o conhecimento da história do museu e da coleção foram fundamentais nesse processo.

O conjunto de documentos analisados nem sempre indicavam a datação ou os responsáveis, que tiveram de ser inferidos pelo histórico da coleção levantado. Assim, optou-se por classifica-los de acordo com o seu contexto de produção, ou seja: Escola de Belas Artes, Projeto Pinacoteca ou Museu de Artes Leopoldo Gotuzzo.

14 Composto por conjunto de documentos relativos ao Projeto Pinacoteca UFPel e ao MALG, abrangendo um período de 1982 até 2000. Começou a ser organizado em 2015, pois estava em caixas e pastas em área de depósito do museu. Verificado o conteúdo das mesmas, elas começaram a ser trabalhadas para devido arquivamento.

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Tabela 1 – Documentação da Coleção Leopoldo Gotuzzo trabalhada no inventário

Tipo de documento Período Qtd Tipo

Carta de Leopoldo Gotuzzo EBA [1955] 16 Obras Lista trabalhos artísticos Museu

Leopoldo Gotuzzo EBA [1972] 23 Obras

Termo de transferência EBA – UFPel EBA [1973] 24 Obras Termo de responsabilidade UFPel Pinacoteca [1983] 60 Obras Fichas de acervo (5 tipos) Pinacoteca [1982-85] 42 Obras Listagem acervo artístico Pinacoteca [1982-85] 26 Obras Anotações e listas manuscritas Pinacoteca [1982-85] 31 Obras Listagem de acervo artístico UFPel MALG [1986] 40 Obras Fichas de Restauro Privado MALG [1987] 6 Obras

Livro tombo MALG [1989] 302 Obras e objetos Fichas de acervo MALG [anos 1990] 36 Obras Fichas pastas de consulta MALG [anos 2000] 120 Obras e objetos

Listagem de obras MALG [2006] 120 Obras e objetos Listagem de obras MALG [2011] 112 Obras e objetos

Cartas de doação MALG [1980-2014] 16 Obras, documentos escritos e objetos Atas Comissão de Curadoria MALG [1993-2014] 05 Obras Inventário Museologia UFPel MALG [2011-2014] 329

Obras, documentos escritos, fotografias,

objetos e livros Registro patrimonial UFPel UFPel [a partir de

1970] 96

Obras, documentos escritos e objetos Fonte: Elaborada pela autora

Essa documentação foi organizada fisicamente, reunindo todas as fichas referentes a um mesmo item e identificando nas listagens os itens de acordo com a numeração mais recente. Os termos de doação foram listados relacionando doador, data e item doado. O mesmo foi feito com as atas da comissão que avalia as aquisições. Isso, somado a identificação dos itens nas listagens mais antigas permitiu que se determinasse a procedência da maior parte do acervo.

3.3 Mecanismos de organização, normatização e registro dos dados

Após essa organização inicial, partiu-se para a elaboração de mecanismos que unissem a informação da documentação antiga e permitissem a complementação de dados faltantes, de forma que o acesso aos mesmos fosse feito da forma a mais simples e rápida possível. Assim, o conjunto de mecanismos elaborado compõem-se de três grandes elementos: a ficha de inventário, a planilha de inventário e os recursos normativos.

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De acordo com Ferrez (1994, p.70), os campos de informação devem levar em conta a “estrutura informativa dos objetos” e as “necessidades de informação de seus usuários”. Daí que se pensou na inclusão de campos de classificação temática dos itens que permitiam leitura iconográfica por exemplo. Também se levou em conta a diversidade da coleção, definindo-se campos de informação gerais, mas que permitissem observações para dados específicos.

A mesma autora ainda ressalta a necessidade de registros claros e exatos e com dados os mais completos possíveis. Essa preocupação evita que com o passar dos anos se percam informações ou se perpetuem informações erradas. Além disso, a numeração dos itens impede que o sistema seja inoperante, e ocorra por exemplo, dissociação de informação, (quando se tem os dados na documentação mas não se sabe à qual item ela se refere). Esse foi um problema corrente enfrentado. Mesmo assim, optou-se por não fazer a marcação do número de inventário nos itens da coleção, sendo que a identificação é realizada principalmente por etiquetas, salvo documentos escritos e fotografias que já possuíam marcas anteriores. Essa decisão foi tomada em conjunto com o conservador-restaurador, que argumentou no sentido de a marcação ser uma intervenção no objeto, que deveria ser evitada, ainda mais no caso de ser uma numeração provisória. A maioria das peças já possuíam danos devido marcações e etiquetas adesivas de trabalhos anteriores, assim, preferiu-se marca-las quando devidamente tombadas, e utilizando materiais adequados para tal.

Outro ponto fundamental, abrangido pelos mecanismos é quanto a normatização e controle da terminologia utilizada. A normatização do preenchimento foi fundamental para que a busca de informações funcionasse, e precisou ser elaborada devido a ficha e planilha de inventário terem sido criadas de acordo com as necessidades especificas do MALG. Ainda que de forma simples, o controle de vocabulário elaborado permite uma padronização da linguagem, como coloca Yassuda,

Os vocabulários controlados e tesauros padronizam a linguagem utilizada na descrição do item, auxiliando na recuperação do conteúdo informacional do mesmo. Dessa forma, é fundamental que ambientes informacionais se preocupem com a construção e uso de linguagens documentárias para a construção de sistemas de Informação eficazes e eficientes (2009, p.41)

A padronização da documentação em museus é um tanto complicada, devido a grande variedade dos acervos, muitas vezes com diversas tipologias em uma

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mesma instituição. O Conselho Internacional de Museus (ICOM)15 possui um Comitê Internacional de Documentação (CIDOC), criado em 1950, destinado aos estudos relativos a documentação de museus. Entre eles, a “Declaração de Princípios de Documentação em Museus”, na qual “são apresentados os critérios básicos que fundamentam e reforçam a atividade de documentação nos museus”, articulados com as recomendações sobre documentação indicadas no Código de Ética do ICOM (CIDOC-ICOM, 2013, p.11). De acordo com tal documento, a orientação é de que

Se a documentação do acervo mostrar-se inadequada, o museu deverá implementar um programa de melhoria do sistema dentro de um prazo acordado. As fontes para obtenção dessas informações poderão incluir o levantamento físico do acervo e a revisão de todos os registros e arquivos originais. A principal prioridade deverá ser o estabelecimento de um inventário preliminar do acervo contendo informações básicas sobre cada objeto, tais como número de identificação, localização, nome do objeto e estado de conservação. Caso haja objetos que não possuam número e o número anterior não possa ser localizado na documentação original, um novo número deverá ser atribuído durante esse processo. (2014, p.21)

No Brasil, a principal obra de padronização é o “Thesaurus para Acervos Museológicos” (1987), uma iniciativa vinculada ao Museu Histórico Nacional voltada para o controle de vocabulário (PADILHA, 2014, p.38). Contudo, neste trabalho optou-se por uma adaptação implantada no Muoptou-seu Mineiro16, mais simples e atualizada.

Outra referência é o Sistema de Informação do Acervo do Museu Nacional de Belas Artes (SIMBA), veiculado pelo Museu Nacional de Belas Artes, veio a servir de base para o programa Donato, um banco de dados brasileiro, criado em 1992. Consolidou-se como modelo utilizado por instituições como o Museu Histórico de Belas Artes do Rio de Janeiro, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Museu de Arte de São Paulo (MASP). A partir de 2005, com apoio da fundação VITAE, passou a ter cessão de uso gratuita para os museus (ALVES, 2012, p.81). Atualmente o Donato não é mais disponibilizado, estando sob cuidados do IBRAM.

As normas definidas e orientações definidas ficam disponíveis Internamente pelo “Como utilizar e trabalhar com o inventário do MALG” (Apêndice A). Este não se limita a coleção Leopoldo Gotuzzo, estendendo-se a todo o acervo. Elenca as normas

15 International Council of Museums: www.icom.org.br

16 Elaborada pela Superintendência de Museus de Minas Gerais em parceira com o IEPHA/MG, IPHAN e Museu Histórico Abílio Barreto, em Belo Horizonte (CÂNDIDO, 2006, p.35).

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de preenchimento da ficha e planilha de inventário, bem como os glossários e classificações. Também indica como localizar os arquivos referentes no computador e nos suportes de armazenamento, e seu back-up. Além disso, explica como pode ser feita a busca nas coleções utilizando o computador.

Ficha de inventário

A ficha de inventário foi pensada de forma que fosse aplicável a todo o acervo diverso da coleção. Com itens básicos, serve para complementar a conferencia das fichas anteriores e centralizando informações dos itens que estavam em diversos documentos de épocas diferentes. O principal instrumento para a elaboração da ficha foi a legislação nacional para museus.

O Estatuto de Museus (Lei nº11904) institui a obrigatoriedade dos museus em manter a documentação sistematicamente atualizada em forma de registros e inventários. Esses últimos devem ser compatíveis com o Inventário Nacional de Bens Culturais Musealizados (INBCM), entendido como “a inserção de dados sistematizada e atualizada periodicamente sobre os bens culturais existentes em cada museu, objetivando a sua identificação e proteção” (BRASIL, Lei 11904, art. 41 §1). A elaboração das fichas de inventário e dos campos de inserção dos dados foi elaborada assim, a partir de duas resoluções17 do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), que regulamentam o INBCM. De acordo com as essas normas, todos os museus inscritos no registro de museus devem informar sobre seus bens. Também estabeleceu os elementos de descrição, que, não deveriam substituir outros instrumentos de documentação e pesquisa.

Nesse sentido, o IBRAM passou a desenvolver um Sistema de Catalogação e Gestão do Patrimônio Museológico, chamado de Acervo, anunciado em 2014. De acordo com o site do IBRAM,

O Acervo terá capacidade para exportar dados do Inventário Nacional dos Bens Culturais Musealizados (INBCM), instrumento de inserção periódica de dados sobre os bens culturais musealizados, que integram os acervos museológico, bibliográfico e arquivístico dos museus brasileiros, para fins de identificação, acautelamento e preservação, previstos na Política Nacional de Museus18.

17 São as seguintes: Resolução normativa nº1 de 31 de Julho de 2014 e nº2 de 29 de agosto de 2014.. 18IBRAM/ASCOM. Acervo em rede: sistema desenvolvido pelo IBRAM já tem nome.1512/2014. Disponível em: <http://www.museus.gov.br/acervo-em-rede-sistema-desenvolvido-pelo-ibram-ja-tem-nome/>. Acesso em: 12 nov 2016.

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A iniciativa está ligada à ação “Acervo em Rede” do IBRAM, a qual objetiva ampliar o acesso aos bens culturais dos museus por meio da internet. Previa, entre outras coisas, a “distribuição gratuita de Sistema Informatizado de Gestão do Patrimônio Museológico”, o “Estabelecimento de normas, padrões e procedimentos para a catalogação de tipologias dos acervos museológicos” e disponibilização de instrumento digital de controle terminológico19. Contudo, até o momento, o programa não foi lançado.

Assim, optou-se por seguir as recomendações das resoluções, para o caso de precisar “migrar” para o sistema recomendado pelo IBRAM, esse processo ser facilitado. Os campos definidos foram os seguintes: Número de inventário, coleção (coleção do MALG a que pertence), situação (localizado ou não), localização (local do item na reserva técnica), outros números (tombo, registro patrimonial, ficha de restauro, outros), título ou nome, autoria, denominação, classificação, dimensões, material e técnica, imagem, resumo descritivo (de acordo com padrão para o tipo de acervo), estado de conservação, data de produção, local de produção, procedência (pessoa ou instituição que detinha a propriedade do item antes do museu), observações, condições de reprodução e mídias relacionadas.

Cada item inventariado possui uma ficha nesse modelo, inteiramente preenchida digitalmente, sendo as mesmas agrupadas em arquivos no formato “docx”, para edição e em PDF para disponibilização para pesquisa. Foi necessário fazer mais de um arquivo para a coleção, devido limitações do software, estando as fichas agrupadas de acordo com as seguintes categorias: obras, objetos, livros e revistas, fotografias e documentos escritos. Essa divisão também facilita a busca.

Para preenchimento das fichas é necessário que se siga as instruções do seu modelo de preenchimento, bem como os padrões estabelecidos nas tabelas de classificação, que são disponibilizadas em um “Guia de como utilizar e trabalhar com o inventário do MALG”, documento atualizado anualmente e válido para todo o acervo. As fichas também são impressas, mas basicamente são acessadas apenas digitalmente.

19 Nos comentários da página, o IBRAM responde ao questionamento quanto à liberação do programa, que está desenvolvendo um outro sistema, de nome Tainacan Museus – Plataforma de inventário, gestão e difusão do patrimônio museológico brasileiro, em parceria com a Universidade Federal de Goiás. A previsão para a disponibilização é o primeiro semestre de 2017. Disponível em: <http://www.museus.gov.br/acessoainformacao/acoes-e-programas/cursos-eventos/acervo-em-rede/>. Acesso em 31 mai 2016.

Referências

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