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COLONIZAÇÃO EM ASSUNGUY: A EXPERIÊNCIA DO COLONO NACIONAL ENTRE 1860 E 1870.

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COLONIZAÇÃO EM ASSUNGUY: A EXPERIÊNCIA DO COLONO NACIONAL ENTRE 1860 E 1870.

Edrielton dos Santos Garcia Joseli Maria Nunes Mendonça

Palavras-chave: Colonização, Nacionais, Assunguy.

A Colônia Assunguy foi fundada em 1860, sendo financiada com recursos do Estado. Inicialmente, constituía-se em um projeto de colonização que abrigaria somente colonos estrangeiros. Porém, em 1861, o Governo Imperial permitiu a venda de terrenos às famílias de nacionais, concedendo-lhes os mesmos favores que possuíam os estrangeiros. Contudo, essas famílias deveriam se instalar ao lado e perto do núcleo de Assunguy, não se misturando com as residências dos imigrantes.1

Esta iniciativa colonizadora foi estabelecida por ordem do governo imperial em 1860, com 5 famílias alemãs, formando 35 pessoas, abrangendo uma área de 59.681,4 hectares. Em 1882, pelo decreto de 22 de junho, Assunguy foi emancipada e, a partir de 1885, sua denominação foi alterada para Cerro Azul.2

Ao longo desses anos Assunguy recebeu imigrantes alemães, ingleses, franceses, suíços e também colonos nacionais. Esses colonos, muitas vezes, entraram em conflito com os diretores da colônia, exigindo melhorias nas condições de trabalho ou por estarem descontentes com o tratamento dado pelas autoridades. Esses problemas acabaram causando o insucesso do projeto colonizador nessa colônia, segundo os estudos de Reinaldo Nishikawa3 e Roberto Edgar Lamb4.

Esses historiadores consideram que as parcas condições no projeto de colonização em Assunguy, levaram esses imigrantes a se manifestarem contra as autoridades e conseqüentemente a abandonarem as terras da colônia, pondo fim a este projeto de colonização. Os colonos nacionais também foram contemplados, indicando-se sobretudo, que a eles não era concedido, em geral, os mesmos direitos que possuíam os estrangeiros. Ao tratar dos colonos, os historiadores não deixaram de falar das autoridades envolvidas no funcionamento e controle da colônia. Estas autoridades, para

1 LAMB, Roberto Edgar. Uma jornada civilizadora: imigração, conflito social e segurança pública na Província do Paraná 1867-1882. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1997. p. 43.

2 CARNEIRO, Cíntia Maria Sant’Ana Braga. Colônia do Assunguy: Plantando esperanças em terras do

Paraná, no século XIX. Revista da Academia Paranaense de Letras. Curitiba. N. 46. p. 90.

3 NISHIKAWA, Reinaldo Benedito. Terras e imigrantes na colônia Assunguy

- Paraná, 1854-1874. São

Paulo: USP, 2007. Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, 2007.

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LAMB, Roberto Edgar. Uma jornada civilizadora: imigração, conflito social e segurança pública na

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os autores, tiveram um papel decisivo no controle e na organização de Assunguy, pois o endurecimento da força policial em alguns momentos acabou gerando conflitos, e a organização precária não possibilitou o desenvolvimento esperado na Colônia.

Observando esse quadro em Assunguy se fez necessário investigar como era a prática de colonização do Império Brasileiro, no que diz respeito principalmente às leis que tratam desse assunto.

O número de imigrantes que entraram no Brasil variou muito durante toda a primeira metade do século XIX. Segundo Andreazza e Nadalin a política imigratório que orientou as duas primeiras décadas do século XIX ultrapassou a Independência, entretanto, após as primeiras iniciativas, houve um enfraquecimento da corrente imigratória.5

Em 1808 o Príncipe Regente Dom João baixou um decreto que permitia a posse de terra aos estrangeiros, mas foi a partir da Independência que se acentuou a preocupação com os vazios demográficos, fazendo com que os governos das jovens nações estimulassem a entrada de novos contingentes populacionais.6

Segundo Klug, entre 1812 e 1830, a política de colonização não teve bons resultados e acabou sendo interrompida em 1830 – quando pressionado pelos latifundiários escravistas, o governo Imperial baixou uma lei (Lei do Orçamento de 15 de dezembro de 1830) proibindo a despesa do Império com a colonização de estrangeiro nas províncias brasileiras. Segundo os estudos desse autor, poucos imigrantes entraram no Brasil durante a primeira metade do século XIX, pois menos de 20.000 europeus desembarcaram em terras brasileiras entre 1818 e 1850, sendo que desse contingente aproximadamente seis mil alemães foram destinados para projetos de colonização nas províncias meridionais do Império.7

As estatísticas apontadas por Adreazza e Nadalin reforçam o número baixo de imigrantes que entraram no Brasil até 1850. Após a Lei de Orçamento de 1830 apontada por Klug, houve uma brusca interrupção na entrada de imigrantes. Andreazza e Nadalin indicam que entre 1829 e 1935, não há registro de entrada de elemento estrangeiro no Brasil, contrastando com uma leva de 9.105 imigrantes que chegaram entre 1820 e 1829. Segundo os autores, até 1846 a entrada de imigrante foi pouquíssima, exceto em 1836 (1.180 imigrantes). Para Andreazza e Nadalin esta tendência é resultado da insegurança manifestada pelo governo face à diversos fracassos em empreendimentos de colonização, insegurança esta que se manifestava por uma série de medidas contraditórias.8

Durante a primeira metade do século XIX foram fundadas várias colônias. Segundo Klug, as primeiras tentativas de formar colônias com colonos europeus (não portugueses) se deram em 1812, com a criação da Colônia Santo Agostinho no Espírito Santo; seguida pelas seguintes colônias: Nova Friburgo, em 1819, no Rio de Janeiro, de

5 ANDREAZZA, M. L.; NADALIN, S. O. Imigração e sociedade. Curitiba: UFPR, Departamento de

História, 1993. p. 7.

6 BALHANA, Altiva Pilatti; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Cecília Maria. História do Paraná. Curitiba: Grafipar, 1969. v. 1. p. 157.

7 KLUG, João. Imigração no sul do Brasil. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil imperial. v. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. pp. 202, 203 e 204.

8ANDREAZZA, M. L.; NADALIN, S. O. Imigração e sociedade. Curitiba: UFPR, Departamento de História, 1993. p. 7.

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colonização suíça; e colônias Leopoldina (em 1818) e São Jorge dos Ilhéus (1822), ambas na Província da Bahia.9

A partir da Independência, foram chamados para fundar colônias soldados e colonos alemães. Para Buarque de Holanda essas colônias tiveram entre outros, o objetivo de estimular e ensinar a população local, no que se refere aos métodos agrícolas e a também outros ofícios, como artesão. Outro objetivo, segundo Buarque de Holanda, era a defesa da fronteira no sul, e tal fato se pode comprovar pela localização de algumas dessas colônias: Santo Amaro e Itapecerica (1829), perto da capital de São Paulo; Rio Negro (1829), na fronteira entre o que viria a ser a Província do Paraná e de Santa Catarina; São Pedro de Alcântara (1828), perto de Florianópolis; Três Forquilhas, perto de Torres (1826); e, em homenagem a Imperatriz, a “Colônia Alemã de São Leopoldo” (1824), a maior e mais bem sucedida de todas.10

No levantamento da legislação brasileira do século XIX, entre a criação das primeiras colônias até o início da segunda metade desse século (quando começa um incentivo público mais significativo na criação de colônias), pode-se observar nelas o estímulo à colonização do território brasileiro. Em algumas leis e decretos, constam-se artigos que tratam da ocupação das terras brasileiras por colonos estrangeiros ou nacionais. O tratamento da legislação a respeito da colonização é mais evidente nas seguintes leis e decretos: Lei nº 514 de 28 de outubro de 1848, a Lei de Terras nº 601, de 18 de setembro de 1850, o Decreto 1.318 de 30 de janeiro de 1854, a Lei provincial nº 29 de 21 de março de 1855, e o Decreto imperial 3784 de 19/01/186.

A legislação recuperada cria algumas condições para que se pudessem sanar as necessidades regionais. Essas condições se davam através de estímulos a colonos, para que então estes pudessem desenvolver os núcleos coloniais. Para desenvolver as mais variadas regiões, a legislação (principalmente a Lei de Terras de 1850 e o decreto 1.318 de 30 de janeiro de 1854) criou condições para a colonização do Império através de colonos estrangeiros e nacionais. Na Província do Paraná a atração de colonos estrangeiros por iniciativa governamental, teve início no final da década de 1850, fazendo cumprir desta forma a lei provincial nº 29 de 21 de março de 1855, a qual autorizava o governo a promover a imigração de estrangeiros, preferindo a atração de colonos que estivessem em outras províncias. Desta forma, a partir de 1860, a Província do Paraná começava com Assunguy a sua primeira experiência com colonização estrangeira, de financiamento governamental.

Como já apresentado, no início, Assunguy era para abrigar colonos estrangeiros, mas já a partir de 1861, um oficio do Ministério dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, autorizava a venda de terras para famílias pobres nacionais:

Em resposta ao seu officio de 25 de abril último, no qual, fez V. Exa. ver a conveniência de vender-se terrenos no Assunguya a muitas famílias pobres que ahi desejão estabelecer-se, concedendo-se-lhes os mesmo favores de que tem gozado os estrangeiros, tenho a declarar-lhe que o Governo Imperial attendendo as razões expostas por V. Exa. o autorisa nesta data a fazer aquelas vendas, devendo V. Exa. fazer estabelecer as famílias de que trata o referido officio, ao lado e perto do núcleo do

9 KLUG, João. Imigração no sul do Brasil. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil imperial. v. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 202.

10 HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira – O Brasil Monárquico: reações e transações. Tomo II, v. 5. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. pp. 263 e 264.

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Assunguy; sem que fiquem inteiramente confundidos com os estrangeiros o anno passado ahi estabelecidos.11

A partir desse momento, os colonos nacionais seriam matriculados em Assunguy, da mesma forma como os estrangeiros eram.

Segundo o registro de matrícula, entre 1860 e 1870, 269 colonos foram registrados na colônia de Assunguy, sendo que 168 deles eram estrangeiros (94 alemães, 56 ingleses, 17 franceses e 1 suíço) e 101 eram brasileiros. A inscrição desses colonos era feita da seguinte forma: se contabilizava a entrada de um indivíduo ou de uma família inteira, sendo que o primeiro nome era do homem (casado) e da mulher (esposa), posteriormente vinham os nomes das pessoas mais idosas e por último os mais jovens. Como a inscrição da família Balles, que se registrou Gaspar Adam Balles com 54 anos casado com Verônica de 53 anos, possuem dois filhos solteiros, Francisco e Carlos de 16 e 14 anos respectivamente; são alemães e católicos; possuem 605.000m2; foram registrados em 5 de novembro de 1860.

Os habitantes nacionais de Assunguy, intermediados pelo diretor, enviavam correspondências ao presidente da província solicitando matrícula para serem aceitos como colonos. Como na correspondência de 9 de julho de 1866, na qual o diretor informava que

Antonio Lemes de Pontes, brasileiro, querendo estabelecer-se na Colonia de Assunguy, vem requerer a V. Exa. que lhe mande admitir como Colono, vendendo-se-lhe meia seção de terras, a prazo de 6 anos, pelo preço de três reaes a braça. O suplicante dispensa os demais favores concedidos pelo aviso de 3 de junho de 1861.12

Segundo Lamb, a partir de 1861 o Ministério da Agricultura autorizava o governo provincial a vender terrenos no Assunguy, para trabalhadores brasileiros. No entanto, segundo ele, o relatório anual de 1876 registrou que esses benefícios eram ou vedados ou dificultados por todos os modos. Nesse relatório o diretor Buarque indica que o mais grave na situação dos nacionais era a falta de ajuda governamental para adquirir lotes na colônia. 13

Segundo Roberto Lamb, de 1867 até meados de 1880, nem todos colonos estiveram sujeitos ao Regulamento Colonial, pois muitos não eram inscritos na Junta Administrativa. Para ele, muitos trabalhadores do Assunguy foram tratados como intrusos e considerados invasores de terras reservadas àqueles que estavam inscritos como colonos. Como indica Lamb, esses intrusos eram, na maioria das vezes, brasileiros. Para ele, a situação sobre ilegalidade dos brasileiros acontecia desde a criação da colônia, sendo assim, os brasileiros usufruíam das terras, mas não possuíam títulos de posse. Um caso esclarecedor ocorreu na administração do diretor de Assunguy Franklin do Rego Rangel, entre 1878 e 1879, o qual procurou resolver a situação de cerca de 200 brasileiros que se encontravam à época sem matrícula – esse diretor considerava intrusos os brasileiros que obtiveram benefícios de forma informal das

11BRASIL. Ofícios do Ministério dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. 03/06/1861.

DEAP.

12 PARANÁ. Ofícios. DEAP, ano 1866, vol. 002, ap. 248. p. 179.

13 LAMB, Roberto Edgar. Uma jornada civilizadora: imigração, conflito social e segurança pública na Província do Paraná 1867-1882. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1997. p. 49.

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administrações anteriores, ou seja, que foram autorizados verbalmente.14 As correspondências que transmitem os pedidos dos nacionais corroboram esta informação, uma vez que registram solicitações que brasileiros faziam ao presidente da província, através do diretor da colônia, para serem admitidos como colonos.

Confrontando os dados das matrículas dos colonos em Assunguy com as correspondências, pode-se concluir que havia mais colonos estrangeiros na década de 1860 do que nacionais; que havia pessoas pobres que queriam ser aceitas na condição de colonos; que os colonos nacionais, quando matriculados, recebiam os mesmos benefícios que os estrangeiros; que há um registro maior de colonos nacionais após o decreto 3784 de 19/01/1867 o qual regulariza as colônias do Império, e uma vez que os diretores tiveram dificuldades de interpretação de parte dessa legislação, ela pode ter beneficiado os brasileiros; e que mesmo com o amparo legal, ainda havia nacionais habitando a colônia de forma irregular, pois somente foi dado aos nacionais a condição de poderem comprar terras, mas se realmente fossem pobre, não poderiam adquirir lotes e por conseqüência não poderiam usufruir das mesmas condições dos estrangeiros.

Essas considerações possibilitam pensar que alguns colonos nacionais conseguiram entrar na colônia de Assunguy ajudados pelo ofício do Ministério dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, de 1861. Amparados por esse ofício, os colonos, intermediados pelo diretor, enviavam correspondências ao presidente da província requerendo a matrícula como colono – demonstrando conhecimento de seus direitos. No entanto, mesmo havendo tais requerimentos, ao final da década de 1860, o número de colonos nacionais ainda é inferior ao de estrangeiros.

14 LAMB, Roberto Edgar. Uma jornada civilizadora: imigração, conflito social e segurança pública na Província do Paraná 1867-1882. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1997. p. 49.

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