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ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA POLUIÇÃO AÉREA RESULTANTE DO TRÁFEGO DE AERONAVES NOS SOLOS DA ENVOLVENTE DO AEROPORTO DE LISBOA

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Academic year: 2021

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ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA POLUIÇÃO AÉREA RESULTANTE DO TRÁFEGO DE AERONAVES NOS SOLOS DA ENVOLVENTE DO

AEROPORTO DE LISBOA

STUDY OF THE INFLUENCE OF AIRBORNE POLLUTION RESULTING FROM AIRPLANE TRAFFIC ON THE SOILS OF THE ENVELOPE AREA OF

THE LISBON AIRPORT

Sousa, Filipa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, fmsousa@lnec.pt Jorge, Celeste, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal, cjorge@lnec.pt Almeida, Isabel, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal, imalmeida@fc.ul.pt

RESUMO

O movimento de aeronaves na zona circundante ao Aeroporto de Lisboa resulta na emissão, para a atmosfera, de produtos provenientes da queima de combustíveis, entre os quais se incluem os metais pesados, que acabam por se depositar no solo. Este estudo teve como principal objectivo reconhecer o tipo de contaminação existente, ao nível do solo, e tentar compreender e identificar a origem dessa contaminação e os processos associados. Para as 102 amostras de solo recolhidas determinaram-se diversos parâmetros e foram realizadas análises de fluorescência de raios X para a identificação e quantificação de metais. Com os dados obtidos, foram elaborados mapas de distribuição da concentração de metais, o que permitiu concluir que o tráfego rodoviário, que é bastante intenso na zona contígua ao Aeroporto, é um dos responsáveis pela contaminação do solo por metais pesados.

ABSTRACT

The movement of airplanes in the envelope area of the Lisbon Airport results in the emission into the atmosphere of products deriving from fuel burning, among which are the heavy metals, that end up being deposited on soils. This study had, as main objective, to recognize the type of contamination existing at the ground level, and try to understand and identify the source of the contamination and the associated processes. Several parameters were determined, for the 102 samples collected, and X-ray fluorescence analyses were made to identify and quantify metals. The data collected allowed to obtain distribution maps and to conclude that the road traffic, which is very intense in the Airport surroundings, is one of the contributors for the heavy metal contamination of soils.

1. INTRODUÇÃO

O tráfego de aeronaves nos aeroportos e, especialmente, os movimentos de aterragem e de descolagem, resultam na emissão para atmosfera de diversas substâncias poluentes, originadas pela queima de combustíveis. Estas substâncias sofrem deposição no solo e acabam por contaminá-lo, podendo vir, também, a contaminar as águas subterrâneas.

Uma vez que não existe documentação científica disponível sobre este tema, pretendeu-se com este estudo fazer uma primeira abordagem que permitisse identificar o tipo de contaminação existente, ao nível do solo, na zona circundante ao Aeroporto de Lisboa, bem como obter

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informação acerca dos mecanismos de contaminação e de migração de contaminantes, nomeadamente, dos metais pesados. Para tal, foram determinados alguns parâmetros, tais como, o potencial de hidrogénio iónico (pH), a condutividade eléctrica (CE), o potencial de oxidação-redução (Eh), entre outros. Com os dados obtidos, pretendeu-se, igualmente, diferenciar a contribuição do tráfego aéreo da contribuição do tráfego rodoviário para a contaminação dos solos.

2. ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO E GEOLÓGICO

O Aeroporto da Portela situa-se na Região de Lisboa e Vale do Tejo, a cerca de 7 km do centro da cidade de Lisboa (Figura 1). Posiciona-se, aproximadamente, à latitude N 38o 46' e à longitude W 009o 08' e encontra-se a uma cota de 114 m.

Relativamente às condições climatéricas, o local em estudo corresponde a uma zona de clima temperado, sob influência directa do Oceano Atlântico. Neste estudo tem particular importância o conhecimento das direcções dos ventos predominantes, que correspondem aos ventos provenientes dos quadrantes N e NW.

Em termos de enquadramento, o local insere-se numa zona urbana e faz parte de dois concelhos, o de Lisboa e o de Loures. A sul e a este está limitado por uma via de tráfego rodoviário intenso, a Av. Marechal Craveiro Lopes (Segunda Circular) e encontra-se rodeado por bairros habitacionais (Figura 1).

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No que diz respeito ao contexto geológico, o Aeroporto da Portela encontra-se, exclusivamente, sobre terrenos sedimentares de idade Miocénica, como se pode consultar em Pais et al. (2006).

3. METODOLOGIA DE ABORDAGEM DO ESTUDO DA ÁREA

3.1. Amostragem

A recolha de amostras foi um dos passos essenciais no desenvolvimento deste estudo. Tendo em consideração a área abrangida e a inexistência de dados sobre a mesma, relativamente aos parâmetros seleccionados, houve necessidade de recolher amostras de solo num elevado número de pontos. Na escolha dos 102 locais de amostragem, foram tidos em conta os seguintes aspectos: proximidade relativa ao Aeroporto; alinhamento das pistas do Aeroporto; direcção dos ventos predominantes; proximidade de eixos rodoviários de tráfego intenso e zonas abrigadas entre edifícios. Os dois últimos critérios foram pensados com o objectivo de tentar separar a contaminação devida ao tráfego rodoviário da contaminação resultante do movimento das aeronaves.

O método de amostragem escolhido foi do tipo aleatório, por se considerar o mais indicado para zonas em que se desconhece a distribuição dos contaminantes ou se presume que esta seja bastante variável. O facto do local em estudo estar inserido numa zona urbana, onde existe um grande número de condicionantes que inviabilizam a recolha de solo, motivou a que se excluísse uma amostragem segundo uma malha pré-definida. A distribuição final da amostragem corresponde a uma recolha condicionada, que se realizou em áreas de acesso livre ou com prévia autorização.

Figura 2 – Pormenor de Dois Locais de Recolha

A colheita de amostras compreendeu a recolha de 2 kg de solo, em cada ponto, à superfície (os primeiros 5 a 8 cm), após terem sido removidos restos de vegetação ou outros resíduos presentes (Figura 2). Esta estratégia foi adoptada pelo facto de se considerar que os poluentes atmosféricos, produzidos pela queima de combustíveis, se depositam na camada mais superficial do solo.

3.2. Ensaios Laboratoriais

Após a recolha das amostras foi efectuado um pré-tratamento das mesmas, de forma a preparar o solo para os ensaios laboratoriais a realizar. Procedeu-se à secagem do solo, ao ar ou em estufa, a uma temperatura entre 30 e 35ºC e, posteriormente, realizou-se o seu destorroamento e o seu quarteamento, de modo a obter várias tomas representativas para os diversos ensaios.

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A porção destinada aos ensaios químicos foi passada no crivo #10 (abertura de 2 mm), enquanto que, para o ensaio de granulometria, foi utilizada a fracção total.

Foram realizados ensaios para a determinação dos seguintes parâmetros: pH, de acordo com a Especificação LNEC E 203-1967; CE; Eh; teor em matéria orgânica (MO), de acordo com o método de perda por ignição; e superfície específica (SE), através do ensaio de azul de metileno, realizado segundo a Norma Francesa NF P 94-068. Para a totalidade das amostras, foram feitas análises por fluorescência de raios X, com recurso ao analisador portátil da NITON série XLi, de modo a detectar e quantificar os metais pesados presentes. O controlo de qualidade das análises foi efectuado, diariamente, através da análise de padrões de referência certificados. Em 20 das amostras realizaram-se, ainda, análises por difracção de raios X, de forma a avaliar a composição mineralógica das mesmas.

3.3. Amostras de controlo

Com o objectivo de obter amostras de controlo, relativamente à poluição atmosférica, sem a influência dos processos que decorrem ao nível do solo, foram colocadas armadilhas com pellets de bentonite sódica nos telhados de alguns edifícios, posicionados no alinhamento do trajecto das aeronaves, e no próprio Aeroporto (Figuras 3 e 4). Partiu-se do princípio que as concentrações em metais, detectadas nas amostras de controlo, corresponderiam, exclusivamente, à contaminação atmosférica originada pelas aeronaves.

Figura 3 – Armadilhas com Pellets de Bentonite (Montagem e Aspecto Final)

A bentonite foi utilizada, nas amostras de controlo, devido às suas características particulares. Trata-se de um tipo de argila que possui uma elevada capacidade de retenção, o que permite incorporar, na sua estrutura, os metais pesados resultantes da deposição atmosférica.

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Antes da exposição, e após a recolha das amostras de controlo, foram feitas análises aos pellets de bentonite para detecção e quantificação de metais por fluorescência de raios X.

4. APRESENTAÇÃO E TRATAMENTO DOS RESULTADOS

4.1. Resultados obtidos após tratamento estatístico

O resultado das análises granulométricas efectuadas permitiu definir o tipo de solo existente na zona em estudo. Na Figura 5 apresenta-se o diagrama triangular de Feret com a projecção de todas as amostras, em função das percentagens de argila, de silte e de areia.

Figura 5 – Diagrama Triangular de Feret com a Projecção das Amostras Analisadas

Observando a Figura 5 é possível verificar que a grande maioria das amostras corresponde, essencialmente, a dois tipos de solo: areia siltosa e silte arenoso. A reduzida percentagem de argila nos solos analisados contribui para uma fraca capacidade de retenção de metais pesados, por parte da sua fracção mineral.

No que diz respeito à análise por difracção de raios X, para a determinação da composição mineralógica dos solos, foram testadas 20 amostras, tendo-se obtido os resultados apresentados na Figura 6.

A Figura 6 mostra que o mineral predominante é o quartzo, o que é típico de solos arenosos, apesar de existir uma percentagem de filossilicatos considerável. Não foi possível a realização de análises para discriminar o tipo de filossilicatos presentes.

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Análise se mi-quantitativa da composição mineralógica das amostras analisadas 0% 20% 40% 60% 80% 100% A 0 0 3 A 0 1 2 A 0 1 6 A 0 2 1 A 0 2 3 A 0 3 2 A 0 3 4 A 0 4 1 A 0 4 9 A 0 5 0 A 0 5 4 A 0 5 6 A 0 5 9 A 0 7 3 A 0 7 6 A 0 7 8 A 0 8 0 A 0 8 1 A 0 8 3 A 0 9 2

Filos silicatos Quartzo Felds patos Calcite

Figura 6 – Composição Mineralógica das 20 Amostras Analisadas por Difracção de Raios X

No Quadro 1 apresentam-se os principais parâmetros estatísticos obtidos para o pH, a CE, o Eh, a MO e para a SE.

Quadro 1 – Parâmetros Estatísticos Mais Relevantes, Obtidos para Algumas das Variáveis Analisadas

Parâmetro analisado

Nº de

amostras Média

Desvio

Padrão Mediana Máximo Mínimo

pH 102 7,65 0,34 7,66 8,53 6,92

CE (µS.cm-1) 102 335,30 265,44 283,17 2073,33 105,47

Eh (mV) 102 212,86 23,32 210,28 291,50 161,87

MO (%) 33 5,12 2,73 5,13 14,45 1,02

SE (m2.g-1) 102 0,54 0,25 0,51 1,36 0,05

Os dados obtidos permitiram caracterizar os solos amostrados e concluir que os mesmos são predominantemente neutros a levemente básicos, não possuindo variações significativas de pH. No que respeita à matéria orgânica, verifica-se que os solos em estudo possuem teores consideráveis (> 5%), o que é de esperar, visto muitos deles terem sido recolhidos em zonas ajardinadas. No Quadro 1 é, também, possível verificar que, nos solos analisados, predomina um carácter moderadamente redutor, como se pode verificar em Riser-Roberts (1998), e que a condutividade eléctrica, em meio aquoso, possui um valor médio baixo. Para a superfície específica da fracção mineral dos solos analisados, os resultados obtidos indicaram que os mesmos possuem uma superfície específica bastante baixa, pois a quantidade de argila neles presente é muito reduzida.

No Quadro 2 mostram-se os principais parâmetros estatísticos para os diferentes metais detectados. Todos os valores de concentração são apresentados em ppm.

Relativamente aos metais detectados, mais susceptíveis de possuírem um efeito adverso na saúde dos seres vivos e no meio envolvente, nomeadamente o chumbo, o cobre e o zinco, é de salientar que, à excepção do cobre, nenhum destes elementos excedeu os valores de intervenção estipulados pelas legislações Holandesa e Canadiana (Ontário).

O titânio, o manganês e o zircónio, são elementos que não aparecem na legislação relativa à contaminação de solos, provavelmente, por não terem efeitos adversos tão prejudiciais, como os elementos anteriormente mencionados.

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Quadro 2 - Parâmetros Estatísticos Mais Relevantes - Metais Detectados (os valores em ppm)

Metal analisado

Nº de amostras em

que foi detectado Média

Desvio

Padrão Mediana Máximo Mínimo

Pb 96 78 51 57 263 32 Zn 42 156 95 136 710 93 Cu 3 292 - - 489 189 Mn 8 980 1068 679 3582 395 Ti 102 4923 1787 4551 14798 2100 Zr 102 399 141 389 1007 121

Nota: os valores que excedem o limite máximo admissível, de acordo com as legislações Holandesa e Canadiana (Ontário), encontram-se a negrito.

Para as amostras de controlo, antes e depois da colocação das armadilhas, apresentam-se, no Quadro 3, os valores médios de concentração obtidos (ppm), para os metais detectados.

Quadro 3 – Valores Médios da Concentração de Metais (em ppm) nas Amostras de Controlo e na Bentonite Antes da Exposição

Referência Pb Mn Ti Zr Zn Cu

Pellets de bentonite (antes da exposição) 37 442 9045 372 n.d. n.d.

Aeroporto – V1 38 551 9305 1088 n.d. n.d. Aeroporto – V2 37 395 9322 456 n.d. n.d. Aeroporto – V3 n.d. 552 9419 614 n.d. n.d. LNEC – V1 35 472 9094 458 n.d. n.d. LNEC – V2 35 477 9313 479 n.d. n.d. P el le ts d e b en to n it e (a p ó s a ex p o si çã o ) LNEC – V3 43 436 8820 469 n.d. n.d. n.d. – não detectado

A comparação dos teores em metais das amostras de controlo, antes e após a sua colocação, permite concluir que, no Aeroporto e na zona próxima (LNEC), a contribuição da deposição atmosférica para a contaminação do solo não tem uma expressão significativa. Note-se que apenas existe um aumento mais pronunciado na concentração de zircónio em duas das amostras de controlo (Aeroporto V1 e Aeroporto V3). No entanto, é importante salientar que a acção do vento possui um efeito determinante na dispersão dos poluentes atmosféricos, levando a que, por vezes, eles se depositem em zonas mais afastadas do local onde foram originados.

4.2. Tendência no comportamento de variáveis

Foram elaborados gráficos indicativos da tendência de comportamento entre os diversos parâmetros, de forma a tentar compreender eventuais tendências nas variáveis analisadas. Nas Figuras 7a) a 7f) mostram-se alguns dos gráficos obtidos. Uma vez que estes não pretendem ser gráficos de correlação, não se justifica a apresentação dos respectivos coeficientes.

Pela observação dos gráficos das Figuras 7a) e 7b), verifica-se que existe uma tendência para a CE e a MO diminuírem com o aumento do pH. No caso da CE, os elementos químicos tendem a ficar mais fortemente retidos na superfície das partículas do solo, quando o meio é alcalino, e não passam com facilidade para a fase líquida, daí que a condutividade tenda a diminuir no sentido do aumento do pH. Para a MO considerou-se que, devido a uma variação pouco expressiva do pH, os dados obtidos não são suficientes para compreender o comportamento deste parâmetro em função do pH.

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a) Relação pH/C.E. 0 250 500 750 1000 7,00 7,50 8,00 8,50 pH C .E . ( µ S ) b) Relação pH/M.O. 0 2 4 6 8 10 12 14 16 7,00 7,50 8,00 8,50 pH M .O . (% ) c)

Relação entre o pH e a concentração de Chumbo 0 50 100 150 200 250 300 6,8 7,3 7,8 8,3 pH C o n c e n tr a ç a o d e C h u m b o ( p p m ) d)

Relação entre a Matéria Orgânica e a concentração de Chumbo 0 50 100 150 200 250 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Matéria Orgânica (%) C o n c e n tr a ç a o d e C h u m b o (p p m ) e)

Relação entre o pH e a concentração de Zinco

0 50 100 150 200 250 300 6,8 7,3 7,8 8,3 pH C o n c e n tr a ç a o d e Z in c o (p p m ) f)

Relação entre a Matéria Orgânica e a concentração de Zinco 0 100 200 300 400 500 600 700 800 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Matéria Orgânica (%) C o n c e n tra ç a o d e Z in c o (p p m )

Figura 7 – Gráficos de Tendência de Variação - a) CE/pH e b) MO/pH; c) Concentração de Chumbo/pH, d) Concentração de Chumbo/MO, e) Concentração de Zinco/pH, f) Concentração de Zinco/MO.

No que diz respeito aos metais pesados, verificou-se que chumbo e o zinco possuem um comportamento idêntico. Ambos tendem a reduzir a sua concentração com a diminuição do pH (Figuras 7c) e 7e)). O seu comportamento é, tal como acontece para muitos metais, bastante influenciado pela presença de MO; no caso em estudo, o chumbo e o zinco apresentam comportamentos opostos relativamente a este parâmetro (Figuras 7d) e 7f)).

4.3. Distribuição espacial de alguns dos parâmetros analisados

A compreensão dos mecanismos associados à contaminação de solos passa por uma análise da distribuição espacial das substâncias poluentes, no caso em estudo, dos metais pesados. Deste modo, foi utilizado um método de interpolação geostatística, a krigagem ordinária, para avaliar como se distribuem os metais pesados na envolvente do Aeroporto de Lisboa, recorrendo ao software Arcgis 9.3 da ESRI. Nas Figuras 8a), 8b) e 8c) apresentam-se os mapas de distribuição dos metais mais problemáticos que foram detectados, nomeadamente, o chumbo, o zinco e o cobre. A cartografia da distribuição do chumbo e do zinco foi efectuada após a realização de variografia, que permitiu identificar a correlação espacial das variáveis analisadas. Em relação ao cobre, apesar deste elemento ter sido detectado em, apenas, três amostras, também se optou por elaborar um mapa com a indicação da distribuição deste metal (Figura 8c)).

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A cartografia do cobre foi realizada recorrendo ao método da krigagem ordinária, através da definição de classes de valores, com base nos dados obtidos nas três amostras em que este elemento foi detectado. Apesar do erro associado a este método, considerou-se relevante a sua aplicação.

As Figuras 8a) e 8b) mostram, claramente, que é na zona do Bairro de Alvalade e do Bairro da Encarnação que as concentrações de chumbo e de zinco são mais elevadas, e não na zona correspondente ao Aeroporto. No Bairro de Alvalade, o tráfego rodoviário é mais intenso e a contribuição para a contaminação atmosférica, por parte dos automóveis e de outros veículos motorizados, é mais pronunciada; no Bairro da Encarnação, é mais notória a contribuição por parte do Aeroporto.

Figura 8 – Distribuição Espacial das Concentrações - a) Pb, b) Zn e c) Cu, em ppm

No que diz respeito ao cobre, a distribuição deste metal é bastante diferente das anteriores. Verifica-se que existem dois focos de contaminação, um na zona do Aeroporto e outro no Parque de Saúde de Lisboa, onde se encontra uma incineradora de resíduos hospitalares. É de salientar que a amostra com maior teor em cobre, detectada no Aeroporto, corresponde a um dos locais onde a propulsão dos motores é máxima nos movimentos de descolagem das aeronaves. No entanto, considera-se que é necessária a realização de um estudo mais aprofundado para a obtenção de informação complementar acerca da contaminação por parte deste metal.

No Bairro de Alvalade, a influência do tráfego rodoviário, na contaminação dos solos, é tão intensa que não permite distinguir o contributo da actividade do Aeroporto para essa contaminação. Neste local, a libertação de poluentes é feita ao nível do solo, sendo que a presença de edifícios actua como barreira, facilitando a sua deposição no próprio solo. O mesmo não acontece no Bairro da Encarnação, pois apesar de existir uma via de tráfego rodoviário muito intenso (Segunda Circular), o seu contributo estende-se, lateralmente, a uma faixa que não excede um máximo de 250 m. Este facto, aliado ao fraco tráfego rodoviário que se verifica

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nessa zona, não é suficiente para dar origem às concentrações de metais obtidas, pelo que a origem da contaminação será devida, maioritariamente, à actividade do Aeroporto. Os poluentes, produzidos no momento da descolagem das aeronaves, são transportados pelos ventos dominantes, provenientes de Norte e Noroeste, e acabam por se depositar no bairro em questão.

5. CONCLUSÕES

No estudo realizado, e tendo em conta a localização dos pontos de amostragem escolhidos/possíveis, verificou-se que os teores mais elevados de chumbo e de zinco aparecem em zonas de bairros habitacionais, nomeadamente, no Bairro de Alvalade e no Bairro da Encarnação. Tal é compreensível se se considerar que estes bairros sofrem, simultaneamente, o impacte do tráfego rodoviário intenso, que aí circula, e do tráfego aéreo. A contribuição, ao longo de décadas, por parte dos automóveis que circulam naqueles locais é bastante evidente e tem vindo a ter um efeito cumulativo ao longo do tempo, sobrepondo-se a qualquer contribuição por parte da circulação das aeronaves, especialmente no Bairro de Alvalade. A presença de edifícios na zona envolvente ao Aeroporto tem, também, grande influência na deposição dos metais pesados provenientes da circulação rodoviária, pois aqueles servem como barreira, facilitando a acumulação dos metais em zonas próximas do local de origem. No caso do Bairro da Encarnação, a direcção dos ventos e as manobras na pista do Aeroporto terão um maior contributo para a acumulação de metais no solo (comparativamente ao Bairro de Alvalade). Os dados obtidos permitiram, ainda, identificar dois focos pontuais de contaminação de cobre - o Aeroporto e a incineradora do Parque de Saúde de Lisboa, mas que são bastante localizados.

AGRADECIMENTOS

Agradece-se à ANA – Aeroportos de Portugal, S.A. pela possibilidade de acesso à área da pista do Aeroporto, pela permissão de recolha de amostras no interior do Aeroporto e pelo apoio logístico prestado; e ao Departamento de Informação Geográfica e Cadastro da Câmara Municipal de Lisboa pela cedência da Cartografia Digital de Lisboa.

REFERÊNCIAS

LNEC E 203 (1967). Determinação do pH. Especificação LNEC, Lisboa, Portugal, 2 p.

NF P 94-068 (1998). Mesure de la capacité d'adsorption de bleu de méthylène d'un sol ou d'un matériau rocheux. Norme Française, Association Française de Normalisation. France, 4 p. Pais, J., Moniz, C., Cabral, J., Cardoso, J. L., Legoinha, P., Machado, S., Morais, M. A., Lourenço, C., Ribeiro, M. L., Henriques, P., e Falé, P. (2006). Notícia Explicativa da Folha 34-D Lisboa da Carta Geológica de Portugal, na escala 1:50 000. Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Lisboa, 74 p..

Riser-Roberts, E. (1998). Remediation of petroleum contaminated soils: biological, physical and chemical processes. Lewis Publishers, 542 p.

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