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DE COMO UM VELHO ASSUNTO PODE SER REDIMENSIONADO: A ACENTUACAO LATINA VISTA PELA FONOLOGIA NAG-LINEAR

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Academic year: 2021

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DE COMO UM VELHO ASSUNTO PODE SER REDIMENSIONADO: A ACENTUACAO LATINA VISTA PELA FONOLOGIA NAG-LINEAR Gladis MASSINI-eAGUARI

(UNESP-ARARAQUARA)

ABSTRACT: This study aims to present the Latin Stress Rule, taking into account the findings of traditional Latin metrics and Lexical and Metrical Phonology studies, in order to make hypotheses about the relationship between this rule and the Latin Grammar structure, based in the dichotomy: lexical applicability/postlexical applicability of rules.

KEY WORDS: Latin stress, Metrical Phonology, Lexical Phonology.

A regra de atribuiC10 de acento no latim, baseada na quantidade silabica,

e

bastante conhecida. Entretanto, com 0 advento das fonologias Ilio-lineares, a tradUCio das observaQOesfeitas pelos estudos tradicionais de lingua e metrica latina para a terminologia dos modelos fonol6gicos atuais acrescenta uma nova dimensio ao fen6meno, em que, alem de ser apresentada uma regra de acentuaC1o, podetn ser tambCmelaboradas hip6teses a respeito da relaC10entre esta regra e a estruturaC10 da gramatica latina, com base na dicotomia apliCaCio lexical/aplicaC10 p6s-lexical de regras, estabelecida pela Fonologia Lexical.J

A regra de atribui~o do acento as palavras, em latim, baseia-se na quantidade snabica, ou, em outras palavras, no peso relativo das silabas. Ao contrano da quantidade voc8lica (oposi~o breve versus longa), a quantidade das silabas Ilio

e

estabelecida somente pelo peso das vogais;tambCm e relevante a prese~a ou nio de uma consoante travando a silaba (isto e, imediatamente depois da vogal-nl1cleo). A(s) consoante(s) que precede(m) a vogal-nl1cleo, entretanto, nio interfere(m) no peso da silaba.

(2)

Desta forma, 0latim estabelece as seguintes distin¢es quantitativas • sera breve toda sOaba aberta que possua, no nucleo, urna vogal breve;

• sera longa toda sOaba que possua, no nucleo, uma vogal longa por natureza, urn ditongo, ou que possua uma vogal breve, porem seguida de uma consoante.2

Baseada na distin~ao quantitativa explicitada acima, a localiz~o do acento latino e regulada pela quantidade da penUltima sOaba: se a penUltbna slIaba for longa, 0 acento recai sobre ela; se for breve, 0 acento recai na antepenUitima - Meillet (1933: 129), Lindsay (1937: 25), Grandgent (1940: 11), Niedermann (1953: 13-14), Faria (1970: 134-135), Allen (1973: 155 e 117-178). Alem disso, convem lembrar que os dissOabossao necessariamente acentuados na primeira (ou penUltima) sfiaba (isto

e,

83.0 sempre paroxitonos), independentemente da quantidade desta sOaba. Como exemplos, extraidos de Niedermann (1953: 14), tem-se:

- dissflabos:

legis, a@ma#s, qui@dam, inter, a@uda#x.

- palavras de mais de duos sflabas:

a) com a penUltimalonga:

fid~Iis, ama@tur, leg'Untur,fortitu@do, vehementur, reIigiQ@sus. b) com a penUltimabreve:

fa@ci(lis, le@gi(tur, f~mi(na, i@mpe(tus, subsi@di(urn, ami#ci@9tia, conc~de(re.

E

importante ressaltar 0fato de que a regra acima aplica-se apenas no mvel dos elementos lexicais plenos, em oposi~o aos procliticos e encliticos, os quais constituem urna unidade acentual com a palavra It qual aderem (ex: Caesdr+ne, como

lanterna e dd+jorum como arborem) - cf. Allen (1973: 158-159). Os encliticos, segundo Havet (1935: 224) e Niedermann (1953: 14), ocasionam a coloc~ao do acento na sOaba final da palavra

a

qual se subordinam, mesmo esta sendo breve e havendo, conseqiientemente, uma viola~ao do principio da regra de atribui~o do acento latino. Entre as palavras encliticas que causariam este efeito, Niedermann cita

-que, -ve, -ne, -ce, -met: viri@que ,armfJque, mulierve, aliave, leg(sne, hujUsce, ipsemet.

Em rel~o

a

acentua~ao das palavras compostas, verifica-se urn comportamento analogo ao dos procliticos. Segundo Faria (1970: 140):

"As palavras compostas, sendo consideradas um vocabulo Unico so recebem um Unico acento, de acordo com as regras gerais da acentuariio para as palo.vras simples:ideo, c6niunx, infero, malesanus, respubIica,etc.H

2. Eimportante, tambem, chamar ate~io para 0fato de que, na versifica~o, uma sfiaba breve, seguida de outra igualmente breve mas que comece por duas consoantes, pode transformarse em longa -Niedermann (1953: 174-175), citando a defmi~o de "longa por posi~lo", de Quintiliano.

(3)

A regra de acento latina tem sido alvo de varios estudos dentro da perspectiva m~trica - Hayes (1985, 1991), Halle & Vergnaud (1987), Nespor & Vogel (1986), entre outros. De maneira geral, 0 que estes estudos fazem e traduzir para a tenninologia metrica as observ~s feitas anteriormente por estudos filol6gicos tradicionais, uma vez que nio ha controversias quanto

a

formul~o da regra do latim.

E

isto tambem 0que se pretende fazer aqui, apresentando e desenvolvendo a analise de Hayes (1991: 80-81).

Como a regra de atribui~o de acento em latim leva em consider~o 0 peso relativo das sOabas, faz-se necessario defmir quais sOabas510 consideradas breves e quais do consideradas longas por esta regra. SAolongas as sfiabas que tiverem duas posi~s preenchidas na rima, exemplificadas em (1), e breves as que tiverem apenas uma posi~o preenchida na rima, (2).3

(I) cr cr (2) cr 1\ 1\ 1\ OR OR OR

I

I

I

1\

I I

I

N INC IN

I

1\

I I I

I

I CVV CVC CV

inimicus peperci conftciunt

Resurnindo, este efeito e 0 resultado de duas escolhas parametricas quanto

a

quantidade silabica: valor positivo quanto

a

sensibilidade ao peso das sOabas e considcrar elementos da ri11l(l como urn todo para estabelecer as distin~s quantitativas.

Quanto

a

regra de atribui~o de acento propriamente dita, eIa pode ser formulada da seguinte maneira, segundo Hayes (1991: SO):

"Marking final syllables as extrametrieal, form a moraie trochee scanning from right to left. "

A regra, tal qual formulada acima, pressupOe seis escolhas: (1) quantidade de sOabaspor pe: binario; (2) dominancia: esquerda; (3) direcionalidade: da direita para a esquerda; (4) iteratividade: os pes do construfdos nio-iterativamente; (5) extrametricidade: (a) constituinte: sOaba. (b) borda: direita. Como resultado destas e das escolhas apresentadas acima, 0 pe basico do latim e 0 troqueu moraieo. Para 0 estabelecimento da proeJDiIrenciaprincipal da palavra, do acento propriamente dito, faz-se necessario explicitar mais urn valor: 0 do parmetto da Regra Final. Neste

3. Nos csquemas (1) e (2), os slmbolos0",0, R, N, C, V e C significam, respectivamente, "silaba" , "onset", "rima", "miclco", "coda", "vogal" c "consoante".

(4)

caso, 0latim optou peladireita. A aplic~lio das regras acima esm exemplifieada em

(3):4

(3)a. ( x

(x)

for ti tu# <do>

) ( x )

(x)

vehe men <tur> b. (x (x .) fa ci <lis> ) (x (x .) Ie gi <tur> ) (x (x .) sub si di <urn>

Em relac;io

a

aceitaeao dos pes degenerados, e necessario examinar 0 caso das silabas que "sobram" depois da escansao, p6s-tonicamente - (4):

(4) (x) (x)

fell

mi

<na>

(x)

im~<tus>

As escolhas permitidas pela teoria envolvem a proibieao forte (os pes degenerados nao sao permitidos em hip6tese alguma) e a proibicao fraea (sao permitidos em algumas circunstincias).

E

facil perceber que a consttueao de pes degenerados antes que qualquer pe canonico tenha sido construido nao se aplica em relaeao ao latim, pois produziria a proeminencia principal em silaba errada nas palavras em (4), quando da aplicaeao da Regra Final - conforme exemplificado em

(5):

( x) (x)

(x) (x) (x) (x)

*fe# mi <na> *impt <tus>

( x)

(x) (x)

*con ce# ~ <re>

Mas

e

0 caso dos monossilabos e dissilabos que lanea luz a esta questlio. Afrrmam os estudos tradicionais que, nas palavras pequenas demais para seguirem as regras de acentuaeao, o· acento eai 0 mais

a

esquerda possivel: na Unica silaba dos monossilabos e na primeira dos dissilabos. No caso dos dissilabos iniciados por silabas leves, se a construeao dos pes degenerados nao fosse permitida, nao haveria como atribuir acento a estas palavras.

Estabelecidos os parametros do ritmo do latim, resta ainda estabelecer0domfnio de aplicacio da regra de acentuaeao dai resultante, ou seja, estabelecer se ela se aplica no nfvel da palavra ou alem deste, se lexical ou p6s-lexicalmente. Esm justamente neste estabelecimento do domfnio de aplicac;io da regra do acento 0 momento mais interessante da reflexlo que faz a fonologia nao-linear sobre a acentuaeao latina e sua relacao com a estrutura do prOprio eomponente fonol6gieo desta lingua.

(5)

Tr~s sio os argumentos que apontam para uma aplicac10 pOs-lexical das regras de acentua~o latina. 0 primeiro deles e a ausencia de exc~s apontadas As regras formuladas acima, uma vez que as regras pOs-lexicais sio aplicadas sem e~, enquanto que as lexicais podem apresentar e~s marcadas lexicalmente.

o

segundo argumento envolve 0 comportamento da a~o nas palavras compostas, aoaJ.ogo ao das palavras simples e derivadas. Como foi visto anteriormente, os compostos recebem um Unico acento, de acordo com as regras gerais. Isto quer dizer que as palavras compostas sac tratadas, pelas regras de ace~o, da mesma maneira que as nllo-eompostas. Para que isto seja possivel, e preciso que a atribui~o de acento se de em um myel em que as parente~s internas Apalavra ja tenham side apagadas: pOs-lexicalmente.

o

terceiro e mais forte argumento provem do comportamento da ace~ilo quando um clftico e adjungido A palavra. Estudiosos citados anteriormente acreditam que, quando uma palavra enclftica e adjungida a uma outra palavra, 0 acento primario muda da sua posi~o original para a sUaba que imediatamente precede 0 clftico -exemplos em (6):'

(6) CQ@sar xCresame legis xlegfsne

viti xvirique hlljus xhuj11sce

Anna x armaque ipse x ipsemet

vi@de#s x vi~sne cum vobis x vobiscum

Desta maneira, 0 comportamento da ~ de palavras

+

enclfticos, ao lade dos dois outros argumentos aqui levantados, aponta para a considera~o da atribui~o de acento em latim como ocorrendo em um myelp6s-1exical, cujo dominie extrapola a palavra. Para Nespor & Vogel (1986), 0 dominio da regra de acen~ do latim e a

palavra fono16gica (co) e 0 dominio da regra que ajusta a posi~o do acento quando A palavra

e

adjungido um clftico

e

0 grupo clftico C - dois dominios pOs-lexicais, portanto.

Ao se estabelecer que 0dominie da regra do acento em latim e pOs-lexical, faz-se, indiretamente, importantes ~ a respeito da gramatica latina, no sentido em que

e

possivel teorizar de que maneira 0 acento, nesta lingua, se comporta em rel~o a processos fonologicos lexicais e pOs-lexicais. Neste sentido, e possivel dizer que 0 acento, em latim, nilo interfere, de maneira alguma, na aplicac10 de processos lexicais, uma vez que sOe atribufdo em um mOduloposterior ao lexical. Alem disso, por ser aplicado no mOdulo pOs-Iexical,0acento latina esta sujeito A intluancia da sintaxe, ja que as regras pOs-Iexicaisatuam pOs-sintaticamente.

E

por este motivo que e possivel que a regra de acento atue sobre umaunidade que, em parte, e definida sintaticamente:0grupo clftico. Em latim, sio necessarias tanto informa~s sintaticas (relativas a rel~s de dependCncia sintatica entre palavras) como fonologicas (dependencia rftmica) para se defmir 0 status de clftico. E todas estas informa~Oessilo

s.Esta posi~o 6 assumida pelos estudos em fonologia pros6dica. Nespor" Vogel (1986: 146).

(6)

dadas automaticamente, desde que se tenha defmido que a aplica~o da regra de acento no latim acontece p6s-lexicalmente.

Este e apenas urn pequeno exemplo de como urn velho assunto pode ser redimensionado a partir de novas ideias, provindas de teorias que, ao inves de simplesmente negar 0 conhecimento construido anteriormente, vem corrobora-Io e aperfei~-lo, permitindo que ele seja expandido.

RESUMO: 0 presente estudo pretende, alem de apresentar uma regra de atribuifQo do acento em latim, levantar hip6teses a respeito da relafQo entre esta regra e a estruturafilo da Gramdtica latina, com base na distinfQo aplica¢o lexical/aplicafQo p6s-lexical de regras, estabelecida pela Fonologia Lexical.

PALAVRAS-CHAVB: acento latino, fonologia metrica, fonologia lexical.

ALLEN, W. Sidney (1973) Accent and Rhythm - Prosodic Features of Latin and Greek: a study in theory

and reconstruction.Cambridge: Cambridge University Press.

GRANDGENT, Charles H. (1940) From Latin to Italion - An historical outline of tM phonology and

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HAVET, Louis (1935) COUTS~limentaire tk ~trique grecque d 1otine.8e &Iition. Paris: Librairie De1agrave.

HAYES, Bruce (1985)A metrical T1Ieoryof Stress Rules.New YorklLondon: Garland Publishing. - mesma versio distribulda em 1981 pelo Indiana University Linguistics Club.

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FARIA, Emesto (1970) FOMtica Hist6rica do Latim. 2a edi~iio (21 impressio). Rio de Janeiro: Livraria Academica.

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Referências

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