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LENYRA FRACCAROLI E BIBLIOTECAS INFANTIS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

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EDUCAÇÃO BRASILEIRA

FRANCIELE RUIZ PASQUIM1

Introdução

Historicamente, é possível notar que, embora não fosse uma questão nova, por já ter sido tematizada desde o período Imperial brasileiro, a criação de bibliotecas escolares passou a ser considerada no debate educacional, especialmente nas primeiras décadas da República brasileira, como uma tentativa de reverter o analfabetismo e formar leitores. Conforme aponta Souza (2006:112),

[...] os republicanos implantaram no estado de São Paulo um sistema público de ensino considerado moderno, cujos princípios, instituições e organização administrativa e pedagógica serviram de modelo e motivaram a reorganização do ensino público em vários estados brasileiros [...]. Ancorado nesses princípios, o sistema escolar paulista fundamentou-se na formação dos professores e na renovação dos processos de ensino.

Nesse contexto histórico-educacional de “renovação dos processos de ensino”, a Escola Normal de São Paulo-capital, por sua vez, tornou-se uma instituição destinada à formação de professores para atuarem na escola primária. Na Escola-Modelo anexa a essa instituição de ensino eram divulgadas práticas modelares do ensino de diferentes matérias, "[...] mediante o processo de formação – teórica e prática – dos novos professores [...]" (MORTATTI, 2000, p.85).

Foi também no âmbito da história da Escola Normal de São Paulo, que o professor e diretor Carlos Alberto Gomes Cardim (1875-1938)2 criou a Biblioteca Infantil Modelo anexa ao curso primário dessa instituição, em 1925. Para ele, a biblioteca era um instrumento auxiliar para o professor do curso primário, e a leitura era indispensável para a formação do cidadão da República e para reverter o analfabetismo (MORTATTI, 2000; PASQUIM, 2010).

1Doutoranda em Educação (bolsa CAPES), junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de

Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista - UNESP, campus de Marília-SP-Brasil, sob orientação da Profª. Drª. Maria do Rosário Longo Mortatti, e vinculada ao GPHELLB - Grupo de Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil” e ao PIPHELLB - Projeto Integrado de Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil”, ambos coordenados pela professora mencionada. O GPHELLB está em funcionamento desde 1994, cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil - CNPq e certificado pela UNESP.

2 Carlos Alberto Gomes Cardim nasceu em 10 de fevereiro de 1875, na cidade de São Paulo-SP. Em 1894, aos

19 anos de idade, se diplomou pela Escola Normal de São Paulo, ano em que iniciou sua carreira no magistério público paulista. Em 1925 foi diretor da Escola Normal em São Paulo. Foi autor de livros didáticos para o ensino de diferentes disciplinas didáticas e autor de artigos publicados em periódicos educacionais no magistério público, tanto no estado de São Paulo quanto no estado do Espírito Santo. Faleceu no dia 2 de junho de 1938, faleceu aos 63 anos de idade. (PASQUIM, 2010; MORTATTI, 2000).

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A partir dos anos de 1930, com a estruturação da escola brasileira, foi amplamente divulgada, sobretudo, por intermédio de educadores partidários das ideias do movimento da Escola Nova, a necessidade da implantação de bibliotecas escolares, com a finalidade de promover a cultura por meio da leitura. Segundo o psicólogo e professor Manuel Bergström Lourenço Filho (1945), um dos principais divulgadores dos ideias da Escola Nova, o:

[e]nsino e biblioteca não se excluem, completam-se. Uma escola, sem biblioteca, é aparelho imperfeito. A biblioteca sem ensino, ou seja, sem a tentativa de estimular, coordenar e organizar a leitura, será, por seu lado, instrumento vago e incerto. A compreensão destas idéias começa, felizmente, a vigorar entre nós. Certas bibliotecas escolares se modernizam, e passam a funcionar de forma menos ineficiente. Outras ensaiam orientar os leitores, sugerir-lhes trabalhos, proporcionar-lhes melhores recursos de organização. (LOURENÇO FILHO, 1945: 6)

Os educadores e demais responsáveis pela educação, motivados pela recepção desses ideias da Escola Nova, que "[...] baseava-se nos progressos mais recentes da psicologia infantil" (LEMME, 2005: 167), passaram a se preocupar, principalmente, com o interesse da criança no processo de ensino e aprendizagem, dentro e fora da instituição escolar.

Os livros destinados para as crianças passaram a circular não somente nas escolas como também em outros espaços, como o das bibliotecas infantis, dirigidas por professores e bibliotecários interessados com a formação cultural das crianças brasileiras e a promoção da leitura. Dentre esses bibliotecários, destaco a bibliotecária paulista Lenyra Camargo Fraccaroli3, pela organização da Biblioteca Municipal Infantil, criada em 1936, na cidade de São Paulo-capital.

Para compreender aspectos da atuação de Lenyra Fraccaroli, mediante abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio da utilização dos procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontes documentais, venho elaborando o instrumento de pesquisa: Bibliografia de e sobre

Lenyra Camargo Fraccaroli (PASQUIM, 2016), no qual reuni referências de textos de e sobre essa bibliotecária.

Dentre as fontes documentais reunidas nesse instrumento de pesquisa, analisaram-se aspectos da configuração textual do catálogo intitulado Bibliografia brasileira de literatura

infantil em língua portuguêsa (1953)4, com o objetivo de compreender a contribuição de

3 Daqui em diante ao me referir a bibliotecária Lenyra Camargo Fraccaroli, utilizarei apenas Lenyra Fraccaroli,

por ser ese modo como ficou mais conhecido.

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Lenyra Fraccaroli na história da educação, em especial no que se refere a orientação de professores quanto à escolha de livros para crianças e para a formação de acervos das bibliotecas infantis e bibliotecas escolares.

O método de análise da configuração textual contribui para a compreensão do

[...] conjunto de aspectos constitutivos de determinado texto, os quais se referem: às opções temático-conteudísticas (o quê?) e estruturais-formais (como?), projetadas por um determinado sujeito (quem?), que se apresenta como autor de um discurso produzido de determinado ponto de vista e lugar social (de onde?) e momento histórico (quando?), movido por certas necessidades (por quê?) e propósitos (para quê), visando a determinado efeito em determinado tipo de leitor (para quem?) e logrando determinado tipo de circulação, utilização e repercussão. (MORTATTI, 2000, p. 31).

Até o momento, foi possível compreender que, em decorrência de suas atribuições profissionais, Lenyra Fraccaroli tornou-se uma especialista não somente na organização e funcionamento de bibliotecas infantis, mas, sobretudo na orientação e indicação de livros de literatura infantil para a formação de acervos de bibliotecas infantis na cidade de São Paulo-capital.

1. Lenyra Fraccaroli (1906-1991)5

1.1 Aspectos da formação e atuação profissional

Filha de Francisco Arruda Camargo e Leonor Rodrigues Torres de Arruda Camargo, Lenyra Camargo Fraccaroli nasceu em 21 de abril de 1906, no interior paulista, na cidade de Rio Claro. Recebeu o sobrenome Fraccaroli, após se casar com Raul João Paulo Fraccaroli, com o qual teve uma filha chamada Dulce Fraccaroli Franco.

Lenyra Fraccaroli diplomou-se, em 1932, professora no curso de formação de professores da Escola Normal de São Paulo, tendo desempenhado também a função de bibliotecária nessa instituição entre os anos de 1933 e 1935.

Ainda no ano de 1933, formou-se em Administração pelo Instituto "Caetano de Campos", e nessa instituição exerceu a função de inspetora no ano de 1935. Entre os anos de 1935 e 1950, exerceu a função de chefe da Seção da Biblioteca Infantil Municipal de São Paulo.

5Para mais informações sobre a atuação de Lenyra Fraccaroli, ver, especialmente: Coelho (2006); Bertolin

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Em 1936, Lenyra Fraccaroli organizou a Biblioteca Municipal Infantil de cidade São Paulo-capital, no âmbito de um projeto de difusão da cultura, dirigido pelo poeta Mário de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura de São Paulo.

Na Biblioteca Municipal Infantil ocorriam diferentes atividades, tais como: sessões de cinema sonoro, exposição de selos e moedas, concurso infantil de pintura, hora do conto e exposição de um jornal feito pelas crianças (ANDREOTTI, 2005; VÁLIO, 1990).

Em 1940, Lenyra Fraccaroli diplomou-se bibliotecária, pelo curso de Biblioteconomia da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Nesse período, Lenyra Fraccaroli destaca-se pela orientação na criação de bibliotecas infantis na capital paulista.

Entre 1950 e 1961, Lenyra Fraccaroli exerceu a função de chefe da Divisão de Bibliotecas Infanto-Juvenis do Estado de São Paulo. É possível perceber que, por meio de suas iniciativas em prol da criação de bibliotecas infantis, ela tornou-se referência entre professores, bibliotecários e autores de livros para crianças sobre esse assunto.

Em 1953, Lenyra Fraccaroli organizou a publicação do livro Bibliografia de literatura

infantil em língua portuguesa6, que é um catálogo da produção de literatura infantil editada no Brasil e em Portugal, entre os anos de 1945 e 1950.

Em 1961, ano em que Lenyra Fraccaroli se aposentou da função de chefe da Divisão de bibliotecas infanto-juvenis, pode-se perceber o início de um novo ciclo na vida dessa bibliotecária, tendo em vista a quantidade de aulas, cursos, palestras e congressos que ela passou a participar.

Em 1975, Lenyra Fraccaroli foi sócio-fundadora do CELIJU- Centro de Estudos de Literatura Infantil e Juvenil, no qual também se tornou conselheira. Entre 1978 e 1979, ela foi presidente de Honorário e Vitalício da Academia Brasileira de Literatura Infantil de São Paulo.

Em 1991, faleceu Lenyra Fraccaroli aos 85 anos. Seu trabalho em prol das bibliotecas infantis demonstrava a preocupação que tinha com a formação da cultura das crianças e jovens brasileiros.

6 Esse catálogo pode ser considerado a matriz de várias publicações intituladas Bibliografia Brasileira de

Literatura Infantil e Juvenil, cujo último volume foi publicado pela Coordenadoria do Sistema Municipal de

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1.2 A criação e o funcionamento da Biblioteca infantil Municipal

Conforme mencionei, Lenyra Fraccaroli foi convidada para organizar e dirigir a Biblioteca Infantil Municipal da cidade de São Paulo- capital. Essa biblioteca foi criada em 1936, em cumprimento ao decreto de nº. 861, de 30 de maio de 1935, a fim incentivar a cultura para as crianças que não tinham acesso ao livro devido ao seu alto custo. Conforme destaca Andreotti (2005:162), o projeto de criação da Biblioteca Infantil

[...] foi considerado de vanguarda, pois abrigava características de um centro de cultura em torno do livro e da leitura, como confirmam suas primeiras atividades: sessões de cinema sonoro, exposição de selos, e moedas, concurso infantil de pintura, hora do conto e um jornal feito pelas crianças. Foi também embrião de outras bibliotecas infantis na cidade, no estado de São Paulo e em outras capitais, tamanha a repercussão quanto à sua criação e funcionamento.

Além disso, a criação dessa biblioteca objetivava ser um local para que as crianças pudessem estudar, pesquisar e ler. De acordo com Bortolin (2001), não era apenas o acervo dessa biblioteca que, posteriormente catalogado por Lenyra Fraccaroli, auxiliava os professores na formação de leitores, mas a dinâmica de funcionamento dessa biblioteca.

Com relação a essas atividades, destaca-se o jornal A voz da infância7,escrito por crianças e jovens, entre os anos 1930 e 1940. Essas crianças e jovens escreviam inspirados pela constante presença de nomes consagrados da literatura, tais como, José Bento Monteiro Lobato, que por sua vez,

[...] tinha um verdadeiro xodó pela "A VOZ DA INFÂNCIA". Lia todos os trabalhos publicados e os comentava com as crianças. Escrevia aos jornalistas-mirins, incentivando-os. (FRACCAROLI, 1982:111)

Em 1947, foi inaugurada nessa biblioteca a primeira seção destinada aos deficientes visuais, o que mostrava a preocupação de Lenyra Fraccaroli com esse público que também frequentava esse espaço de cultura e valorização da infância/da leitura/da cultura (COELHO, 1983).

A partir de 1955, a Biblioteca Infantil Municipal passou a ser denominada Biblioteca Infantil “Monteiro Lobato”, em homenagem ao escritor brasileiro que envolvia as crianças e os jovens com suas histórias.

No prédio da Biblioteca Municipal “Monteiro Lobato”, além de um rico acervo com a produção de literatura infanto-juvenil, salas de artes, seção de livros raros, teatro de Bonecos e o acervo “Monteiro Lobato”, além de uma programação de peças de teatro, sala de vídeo,

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banco de textos teatrais, e visitas monitoradas de escolas8. Nesse espaço da biblioteca também

ocorreram às reuniões da Academia Brasileira de Literatura infantil e Juvenil a partir do ano de 1978.

A Biblioteca Infantil “Monteiro Lobato”9 foi modelo para a implantação de outras

bibliotecas nos bairros paulistanos, e uma similar a ela foi criada em 1950, no estado da Bahia, por Denise Fernandes Tavares (BERTOLIN, 2001). A iniciativa de criação dessa biblioteca partiu do secretário de Educação e Saúde da Bahia, Anísio Teixeira, um dos pioneiros da Escola Nova no Brasil (ANDREOTTI, 2005).

3. Aspectos gerais de Bibliografia de literatura infantil em língua portuguêsa 3.1 A primeira edição

Originalmente uma primeira listagem intitulada "Bibliografia Infantil de Obras Brasileiras" fora publicada na revista Literatura e Arte, do Departamento de Cultura do Estado de São Paulo, em 1945. Essa listagem, no entanto, conforme destaca Fraccaroli (1953:7), "[...] apresentou inúmeras falhas, dentre as quais podemos citar: o limitadíssimo número de exemplares".

Por esse motivo, em 1953, foi publicado a 1ª. edição do catálogo Bibliografia de

literatura infantil em língua portuguêsa, organizado por Lenyra Fraccaroli, chefe da Divisão

de Bibliotecas Infanto-Juvenis do Departamento de Cultura do município de São Paulo (SP). Esse catálogo, em formato de livro, contém 1.843 referências de livros de literatura infantil publicados no Brasil e alguns em Portugal, entre os anos de 1945 e 1950. Abaixo de cada uma das referências há um pequeno comentário, de no máximo três linhas, sobre o enredo do livro e a indicação da idade da criança a quem o livro se destinava. Ao final do catálogo, consta uma relação, por ordem alfabética, de títulos dos livros nele referenciados.

De acordo com Fraccaroli (1953:6), "[...] a determinação da idade a que se destinam os livros; essa, mencionada depois da descrição de cada livro, é média tirada das idades das crianças que leram cada um dos exemplares citados". Vale ressaltar que, os livros referenciados nesse catálogo pertenciam ao acervo da Biblioteca Infantil Municipal, dirigida por Lenyra Fraccaroli.

8Essas informações foram extraídas da seção “Cultura”, do site da Prefeitura de São Paulo. Disponível em:<

www.prefeitura.sp.gov.br>. Acesso em: 26 de abril de 2016.

9 Nessa biblioteca, há uma seção que recebeu o nome de Lenyra Fraccaroli, como forma de homenagear a quem

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3.2 A segunda edição

Conforme aponta Fraccaroli (1955), devido à grande aceitação da primeira edição no Brasil e em outros países desse livro, houve uma 2ª. edição de Bibliografia de literatura

infantil em língua portuguêsa, que foi publicada pela Editôra Jornal do Livros (SP), em 1955.

Essa 2ª. edição contém 2.388 referências de livros de literatura infantil publicados no Brasil e em Portugal, desde o século XIX até a metade do século XX.

Assim como na primeira edição desse catálogo, abaixo de cada uma das referências de livros, há um pequeno comentário, de no máximo três linhas, sobre o enredo do livro, porém no que se refere à indicação da idade a quem o livro se destinava, há algumas alterações.

A segunda edição aumentada do catálogo Bibliografia de literatura infantil em língua

portuguêsa está organizada em quatro seções, a saber: "Crianças de 1 a 6 anos"; "Crianças de

6 a 9 anos" ; "Crianças de 10 a 12 anos"; e "Crianças de 13 a 15 anos". Ao final desse catálogo, consta uma relação de títulos de "Revistas infantis" e de "Editoras de livros infantis", além de um "Índice por assuntos".

Provavelmente, por ter sido publicado "sob os auspícios do Instituto Nacional do Livro" (FRACCAROLI, 1955), nesse catálogo houve algumas alterações gráficas, a fim de facilitar a consulta dos professores que escolheriam leituras de acordo com a faixa etária de seus alunos.

De acordo com Meyer (1955 apud FRACCAROLI, 1955:7), essa edição seria "[...] uma fonte de informações indispensáveis ao magistério na mais difícil das tarefas educacionais − a seleção e orientação da leitura".

3.3 Os suplementos

As edições posteriores a de 1955, foram publicadas em forma de suplementos. O primeiro deles, intitulado Suplemento bibliográfico de literatura infantil em língua portuguêsa (anos de 1956 e 1957), foi organizado por Lenyra Fraccaroli e publicado, em 1960, pela Divisão de Bibliotecas infanto-juvenis chefiada por essa bibliotecária. Segundo Fraccaroli (1960: 4), esse suplemento poderia ser considerado como

[...] guia indispensável a educadores, bibliotecários, pais, orientadores e psicólogos pois,, as obras nele contidas,são agrupadas por autores, títulos, assuntos e idades,

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servindo, ainda como fonte de referência aos bibliotecários encarregados da organização de bibliotecas escolares e infantis[...]

Nesse suplemento constam 325 referências de livros, organizados por seção, de acordo com a idade da criança a quem se destinavam, a saber: "Crianças de 3 a 6 anos"; "Crianças de 7 a 9 anos" ; "Crianças de 10 a 12 anos"; e "Crianças de 13 a 15 anos".Além dessas, há também as seguintes seções: "Teatro e poesia infantil"; e "Enciclopédias infantis".Ao final desse suplemento, consta: o "Índice de autores" e "Índice de títulos".

Os demais suplementos publicados depois do ano de 1960 não foram organizados por Lenyra Fraccaroli devido sua aposentadoria em 1961. A partir do ano de 1990, o catálogo

Bibliografia de literatura infantil em língua portuguesa passou a ser denominado Bibliografia brasileira de literatura infantil e juvenil e, em 2006, foi publicada a mais recente edição,

referente à produção editorial daquele ano.

4. Aspectos da produção de literatura infantil brasileira

No início da República brasileira o mercado editorial quanto à produção de livros destinados ao público infantil era marcado pela escassez de autores e de bons livros. Os professores brasileiros passaram a produzir uma "literatura didática/escolar" (livros didáticos, cartilhas e livros de leitura),

[...] com finalidade de ensinar às nossas crianças, de maneira mais agradável, valores morais e sociais, assim como padrões de conduta relacionados com o engendramento de uma cultura escolar urbana e necessários do ponto de vista de um modelo republicano de instrução do povo (MORTATTI, 2001:12).

As escolas primárias passaram a ser uma das principais instituições consumidoras da maior parte da produção de livros destinados, especificamente, ao público infantil, que por sua vez, foram "[...] o canal privilegiado de escoamento da melhor e da pior produção literária concebida para crianças e jovens" (PERROTTI, 1990: 15).

A partir dessa demanda da escola e obrigatoriedade do ensino, intensificaram-se a "profissionalização dos autores" e a "especialização das editoras", aspectos importantíssimos na consolidação do mercado editorial de livros para crianças a partir da década de 1940. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1987; MORTATTI, 2000).

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A partir de 1960, instituições e programas de promoção da leitura foram sendo criados para promover o debate educacional. Dentre essas instituições, destacam-se o CELIJU- Centro de Estudos de Literatura Infantil e Juvenil, e a Academia Brasileira de Literatura Infantil de São Paulo, pela importância que tiveram na constituição da literatura infantil brasileira, a qual se deveu também a contribuição de Lenyra Fraccaroli. Por meio dessas iniciativas, os livros destinados para as crianças passam a circular não somente nas escolas como também em outros espaços, como o das bibliotecas infantis, tendo em vista a promoção da leitura e a formação cultural das crianças brasileiras.

Considerações finais

Os resultados obtidos até o momento permitem compreender que, Lenyra Fraccaroli, tornou-se uma especialista da literatura infantil brasileira, não apenas pela sua atuação em prol das bibliotecas infantis, mas, sobretudo, pela organização do catálogo Bibliografia de

literatura infantil em língua portuguêsa.

Ainda foi possível constatar que, esse catálogo tornou-se uma obra de referência, para professores e catalogadores das bibliotecas infantis e escolares, na seleção de livros de literatura infantil, tendo contribuído também para a formação de acervos de bibliotecas infantis e escolares no Brasil, em especial no estado de São Paulo

Por fim, destaco a importância do desenvolvimento de pesquisas sobre a história da literatura infantil e história das bibliotecas infantis, em especial sobre a constituição de acervos de literatura infantil, uma vez que possibilitam compreender aspectos poucos explorados da História da educação brasileira.

Referências

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BORTOLIN, Sueli. A literatura infantil nas Bibliotecas Monteiro Lobato de São Paulo e

Salvador. 233f. 2005. Dissertação (Mestrado em Ciências da Informação) – Faculdade de

Filosofia e Ciências, UNESP, Marília-SP.

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_______. Suplemento bibliográfico de literatura infantil em língua portuguêsa (anos de 1956 e 1957). São Paulo: Edição da Divisão de bibliotecas infanto-juvenis;Secretaria de Educação e Cultura, 1960.

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LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: história & histórias. São Paulo: Ática, 1987.

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