BIOQUÍMICA PARA ODONTO
Aula 1:
Introdução
Propriedades da Água
Ligações não-covalentes
Ionização da água
Autoria:
Luiza Higa
Programa de Biologia Estrutural
Instituto de Bioquímica Médica
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Reprodução Proibida
BIOQUÍMICA
química da vida
“A bioquímica descreve em termos moleculares as
estruturas, os mecanismos e os processos químicos
compartilhados por todos os organismos e fornece
princípios organizacionais que fundamentam a vida
em todas as suas diversas formas, princípios esses que
coletivamente serão referidos como a lógica molecular
da vida
”
ORGANIZAÇÃO HIERÁRQUICA DAS
ESTRUTURAS BIOLÓGICAS
célula – unidade estrutural e funcional de todos os organismos vivos PEQUENAS MOLÉCULASaminoácidos, nucleotídios, açúcares
GRANDES MOLÉCULAS (MACROMOLÉCULAS) construídas a partir de unidades monoméricas
proteínas – função catalítica (enzimas), transporte de substâncias para dentro e fora das células, componentes estruturais das membranas ácidos nucléicos – armazenam, transmitem e transcrevem a informação
genética
polissacarídios – armazenam energia, componentes estruturais da paredes celulares (em plantas e bactérias)
Lipídios – componentes estruturais das membranas, armazenam energia Os lipídios são moléculas pequenas e por isso, não são classificados como macromoléculas. Entretanto, quando um grande número de moléculas lipídicas se associa não-covalentemente, resulta em estruturas muito grandes
COMPOSIÇÃO MOLECULAR DAS CÉLULAS
• Substância mais abundante nos sistemas vivos
• Cerca de 70% ou mais do peso da maioria dos
organismos
• As propriedades da água afetam a estrutura e
função de todos os componentes celulares
incluindo proteínas, lipídeos e ácidos nucléicos.
ÁGUA
Tecido e fluidos
% Água
Líquido cefaloraquidiano 99 Sangue (plasma) 91-93 Sangue (glóbulo vermelho) 60-65 Tecido Nervoso (substância cinza) 85 Tecido Nervoso (substância branca) 70
Medula 75
Músculo 75-80
Pele 72
Fígado 70-75
Tec. Conjuntivo 60 Osso (sem medula) 20-25 Tecido adiposo 15
Dentina 3
COMPOSIÇÃO DA SALIVA
• 99,5% = água!! • 0,5% distribuídos entre: – Íons • K+, Na+, Ca2+, Mg2+, H+ • Cl-, HCO 3-, I-, F-, HPO42-– Moléculas orgânicas pequenas
• Uréia, hormônios, lipídios, DNA, RNA
– Um proteoma complexo
• Glicoproteínas grandes (106D) a peptidios (1000 D) • pI de 3,0 a 11,5
• Secretadas por glândulas salivares • Produtos de células B, PMNs (leucócitos
polimorfonucleares), células epiteliais e bactérias
Mucin 1 (MG1) Mucin 1 (MG1) sIgA sIgA Mucin 2 (MG2) Mucin 2 (MG2) Lactoferrin Lactoferrin Peroxidases Peroxidases Amylases Amylases Carbonic anhydrases Carbonic anhydrases Proline
Proline--rich proteinsrich proteins Lysozyme Lysozyme Statherins Statherins Histatins Histatins 1 1 1010 100100 10001000 1000010000 Size (kDa) Size (kDa)
PRINCIPAIS COMPONENTES PROTÉICOS DA
SALIVA
• Compreender os mecanismos salivares a um nível molecular é um pré-requisito para:
– tratamento efetivo de disfunções das glândulas salivares; – modulação da colonização por bactérias;
– desenvolvimento de saliva artificial e outros produtos para disfunções ou doenças salivares.
IMPORTÂNCIA CLÍNICA DA SALIVA
Cystatins, Cystatins, Histatins, Histatins, Statherins Statherins,, Proline
Proline--rich proteinsrich proteins
Salivary Salivary Families Families Anti Anti- -Bacterial Bacterial Buffering Buffering Digestion Digestion Mineralization Mineralization Lubrication Lubrication &Viscoelasticity &Viscoelasticity Tissue Tissue Coating Coating Anti Anti- -Fungal Fungal Anti Anti- -Viral Viral Carbonic anhydrases, Carbonic anhydrases, Histatins Histatins Amylases, Amylases, Mucins, Lipase Mucins, Lipase Mucins, Statherins Mucins, Statherins Amylases, Amylases, Cystatins, Mucins, Cystatins, Mucins, Proline
Proline--rich proteins, Statherinsrich proteins, Statherins Histatins Histatins Cystatins, Cystatins, Mucins Mucins
Amylases, Cystatins, Histatins, Amylases, Cystatins, Histatins, Mucins, Peroxidases
Mucins, Peroxidases
adapted from M.J. Levine, 1993
adapted from M.J. Levine, 1993
•Boca seca
• Baixa salivação
• Pacientes respiradores bucais
• Disgeusia - sensação de gosto ruim na boca • Pacientes entubados ou não no CTI
• Pacientes imunodeprimidos (hospitalizados, transplantados, oncológicos e outros)
• Pacientes que usam prótese removível
• Pacientes com infecções orais, língua e lábios fissurados, alto risco de ocorrência de úlceras aftosas, mucosite e candidíase oral
• Manutenção do sistema enzimático
Lactoperoxidase, Glicose oxidase, Lactoferrina e Lisozima
SALIVA ARTIFICIAL
Eletronegatividade
O = 3,50 H = 2,10
ÁGUA
Energia de dissociação da
ligação
Pontes de hidrogênio 23 kJ/mol
Ligação covalente (O-H) 470 kJ/mol
Tempo de vida da ponte de hidrogênio – 1 a 20 ps Formação de uma nova ponte de hidrogênio – 0.1 ps
A água é dinâmica!
ÁGUA
pontes de hidrogênio
Na água líquida, as moléculas de água estão desorganizadas e em constante movimento, de forma que, cada molécula de água forma
pontes de hidrogênio com cerca de 3,4 outras moléculas.
A soma de todas as pontes de hidrogênio entre as moléculas de
água conferem a coesão interna da água na sua forma líquida.
ÁGUA
ÁGUA
estrutura do gelo
No gelo, cada molécula de água forma 4 pontes de hidrogênio com
as moléculas de água adjacentes originando uma estrutura regular
e aberta.
ÁGUA
ÁGUA
propriedades
As propriedades da água são conseqüência das atrações entre as moléculas de água adjacentes!!
ÁGUA
aceptor de hidrogênio– átomo eletronegativo
doador de hidrogênio – átomo de hidrogênio covalentemente ligado a outro átomo eletronegativo
PONTES DE HIDROGÊNIO
pontes de hidrogênio em sistemas biológicos
Eletronegatividade O = 3,5 H = 2,1 N = 3,0
PONTES DE HIDROGÊNIO
em sistemas biológicos
As pontes de hidrogênio são capazes de manter duas moléculas ou grupos unidos por elas em um arranjo geométrico específico. Essa propriedade acarreta estruturas tridimensionais precisas às moléculas de proteínas e ácidos nucléicos, que apresentam um alto conteúdo de pontes de hidrogênio intramoleculares.
PONTES DE HIDROGÊNIO
efeito da disposição espacial
as pontes de hidrogênio são altamente direcionais
ÁGUA
solvente polar
A água dissolve a mais substâncias e em maiores quantidades que qualquer outro solvente.
A característica polar da água faz com que seja um excelente solvente para moléculas polares e carregadas, que são
denominadas hidrofílicas.
Substâncias apolares são insolúveis em água e são descritas como hidrofóbicas.
POLARIDADE
eletronegatividade C=2,55 H=2,10 O=3,50POLARIDADE
ÁGUA
Interação eletrostática com solutos polares
a água dissolve sais como o NaCl hidratando e estabilizando os íons Na+e
Cl-, enfraquecendo as interações eletrostáticas entre eles e assim,
contrapondo-se a tendência de se associarem.
ÁGUA
solvente polar
Os íons de um sal, assim como qualquer outra carga elétrica, interage de acordo com a Lei de Coulomb
Onde,
F = força da interação iônica Q = magnitude das cargas
r = distância entre grupos carregados ε= constante dielétrica do solvente
ÁGUA
solubilidade dos gases
ÁGUA
Interação com moléculas apolares
As moléculas de água na vizinhança imediata de um
soluto apolar apresentam uma restrição em relação
às suas possíveis orientações e formam
“gaiolas” altamente organizadas ao redor das
moléculas de soluto.
Organização das moléculas de água em torno do soluto apolar resulta na diminuição da entropia
ÁGUA
Interação com compostos anfipáticos
Em solução aquosa, a região polar interage
favoravelmente com o solvente e tende a dissolve. Por outro lado, a região apolar tende a evitar o contato com a água
Compostos anfipáticos contém regiões polares e apolares Ex: proteínas, pigmentos e fosfolipídios de membrana
ÁGUA
Interação com compostos anfipáticos
As regiões apolares das moléculas se agregam, apresentando, assim, a menor área hidrofóbica ao solvente, e as regiões polares são arranjadas para
maximizar a sua interação com o solvente.
As forças que mantêm juntas as regiões apolares das moléculas são chamadas interações hidrofóbicas
ÁGUA
Interação hidrofóbica
As forças que mantêm as regiões apolares juntas das moléculas são chamadas
interações hidrofóbicas
A força dessas interações não ocorre devido a atração intrínseca entre as moléculas apolares. Ao contrário, resulta
do fato de o sistema atingir maior estabilidade
termodinâmica, minimizando o número de moléculas de água ordenadas, requeridas para envolver as regiões hidrofóbicas
das moléculas de soluto.
LIGAÇÕES NÃO-COVALENTES
interação de van der Waals
Resultado da influência das nuvens eletrônicas de átomos muito próximos
Variações aleatórias nas posições dos elétrons ao redor do núcleo podem criar um dipolo elétrico transiente, que induz no átomo próximo um outro dipolo elétrico oposto, também transiente. os dois dipolos se atraem fracamente, aproximando os núcleos.
À medida que os dois núcleos se aproximam, as suas nuvens eletrônicas começam a se repelir. Na distância em que a atração de van der Waals contrabalança exatamente essa força repulsiva, os núcleos são considerados estar em contato de van der Waals.
Cada átomo possui tem um raio de van der Waals característico, uma medida de quão próximo um átomo permite que outro se aproxime.
LIGAÇÕES NÃO-COVALENTES
Ligação Energia de dissociação da
ligação
covalente O-H 110 kcal/mol
covalente C-C 84 kcal/mol
covalente C-H 98 kcal/mol
ponte de hidrogênio O-H 5 kcal/mol eletrostática/iônica 10 kcal/mol
hidrofóbica 1-2 kcal/mol
van der Waals 1-2 kcal/mol
Embora as interações não-covalentes sejam individualmente fracas quando comparadas as ligações covalentes, o efeito
cumulativo de muitas dessas interações é significativo e crucial para a estrutura e função das macromoléculas
LIGAÇÕES NÃO-COVALENTES
Importância para a estrutura e função das
macromoléculas
Ex: Formação do complexo enzima-substrato
Quando separadas, as moléculas da enzima e do substrato forçam as moléculas de água a se organizarem em torno delas.
A ligação do substrato libera algumas dessas moléculas organizadas resultando no aumento da entropia que propicia um impulso termodinâmico na formação do complexo enzima-substrato. água organizada e interagindo com o substrato e a enzima moléculas de água deslocadas pela interação enzima substrato interação enzima-substrato estabilizada por pontes de hidrogênio, interações iônicas e hidrofóbicas
As propriedades coligativas da água são modificadas pela presença de solutos que alteram a estrutura da água
Ex: Ponto de fusão e ebulição
SOLUÇÕES AQUOSAS
solutos e propriedades coligativas
Diminuição da pressão de vapor Aumento do ponto de ebulição Diminuição do ponto de
congelamento
ÁGUA
ionização da água
A ionização da água pode ser descrita pelo equilíbrio:
Na água pura, as moléculas de água apresentam um pequeno grau de ionização
Só 2 molécula de água em cada 109moléculas está ionizada!!
IONIZAÇÃO DA ÁGUA
constante de equilíbrio
[H
2O] =
m = 1000 = 55,5 M
Mol x V 18 x 1
[H
+] = 1 x 10
-7M
[OH
-] = 1 x 10
-7M
constante em relação às baixas concentrações de [H+] e [OH-]IONIZAÇÃO DA ÁGUA
constante de equilíbrio
O valor da constante de equilíbrio da ionização da água, obtido experimentalmente a partir de medidas de condutividade elétrica, é
de 1,8 x 10–16M.
IONIZAÇÃO DA ÁGUA
constante de equilíbrio
O produto dos íons [H+] e [OH-] é sempre 1.0 x 10-14M2
Na água pura, [H+] = [OH-]
ANESTÉSICOS LOCAIS
Primeiro anestésico local – cocaína
1859 – isolamento do princípio ativo da folha da coca, a cocaína
efeitos anestésicos
MECANISMO DE AÇÃO DOS ANESTÉSICOS
LOCAIS - aminas terciárias
amina terciária passível de ionização base fraca pk ~ 8.0 éster ácido benzóico H+
Os anestésicos locais bloqueiam fisicamente os canais de sódio das membranas neuronais. Sem o influxo de sódio não ocorre o potencial de ação e
conseqüentemente, não há propagação do sinal nervoso. A + H+ AH+ A A + H+ AH+ A + H+ AH+ A A + H+ AH+