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ECONOMIA SOLIDÁRIA: AS MOTIVAÇÕES DA PARTICIPAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS DA UNIDADE DE BENEFICIAMENTO DO COCO MACAÚBA NORTE DE MINAS GERAIS 1

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Academic year: 2021

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ECONOMIA SOLIDÁRIA: AS MOTIVAÇÕES DA PARTICIPAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS DA UNIDADE DE BENEFICIAMENTO DO COCO MACAÚBA NORTE DE

MINAS GERAIS1

Queite Marrone Soares da Silva2 Edina Souza Ramos3

O presente relato de experiência é resultado de um trabalho monográfico vinculado as experiências de pesquisa e extensão vivenciadas no projeto “Implementação da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - ITCP/UNIMONTES ”4, e tem como objetivo analisar o processo de cooperação e solidariedade a partir das experiências coletivas do Empreendimento Econômico Solidário denominado de UBCM (Unidade de Beneficiamento de Coco Macaúba), localizado na comunidade rural de Riacho D’Antas, Município de Montes Claros – MG. Além disso, procura-se compreender os fatores relacionados às motivações dos atores sociais na participação e inserção na economia solidária, que abrange estas formas de organização.

A Unidade de Beneficiamento do Coco Macaúba (UBCM) é vinculada a Associação Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais de Riacho D’Antas, localizada na fazenda Santa Cruz, Município de Montes Claros – MG. A Associação surgiu no ano de 1995, tendo como principal função a de desenvolver projetos de combate à pobreza, além de buscar alternativas para a melhoria de vida de seus associados, a partir da promoção da geração de renda.

A UBCM é composta por agricultores da comunidade e adjacências, surgiu no ano de 2000, com a proposta da geração de renda para as famílias agricultoras, por meio do beneficiamento do coco macaúba e das frutas do cerrado em abundância.

1 Relato de Experiência em Ações extensionistas, resultante de monografia defendida em julho de 2013, com o apoio da Financiadora de Estudos e Pesquisas (FINEP).

2 Mestre em Desenvolvimento Social pelo PPGDS/UNIMONTES. Graduada em Ciências Sociais pela UNIMONTES. Bolsista FAPEMIG no Programa Interdisciplinar de Ampliação de Saberes

(Bioeducar/Unimontes). Email: queitemarroneppgdsunimontes@gmail.com.

3 Orientadora. Doutoranda em Sociologia pela Universidade Nova de Lisboa (UNL). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Especialista em Ciências Sociais pela UNIMONTES; Bacharel em Ciências Sociais e Licenciada em Sociologia e Historia pela UNIMONTES. Coordenadora da ITCP/UNIMONTES. Professora Efetiva no Departamento de Ciências sociais. Email: edinaramos@yahoo.com.br

4 O projeto de criação da ITCP/Unimontes foi apresentado à Pró-Reitoria de Extensão através do Departamento de Ciências Sociais, no final de 2006 e foi institucionalizada no mês de março de 2007, através de resolução do CEPEX nº 077/2007.

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O alicerce da pesquisa foi a metodologia qualitativa, por meio da revisão bibliográfica e das entrevistas estruturadas e livres, sendo fundamentais as observações, diálogos, participação nas assembléias e reuniões de rotina da comunidade.

As estratégias socioeconômicas coletivas são percebidas como ações que surgem em meio à uma série de fatores sociais, tais como o desemprego, precarização do trabalho e crescimento do trabalho informal. A busca de alternativas à subsistência é marcada por iniciativas voltadas para novas formas de organização da produção e do trabalho, seja em forma de trabalho coletivo, cooperado ou associado.

Entre as décadas de 80 aos anos 90, surgem no Brasil experiências de economia solidária, resultantes da crise do mercado de trabalho, e do aumento do desemprego, sendo uma resposta importante aos trabalhadores em relação às transformações ocorridas neste cenário, trata-se da organização dos processos produtivos pela via da solidariedade, coletividade, cooperação e autogestão.

Na perspectiva da Economia Solidária, surgem grupos de trabalhadores que buscam alternativas para a geração de renda através da associação e das práticas coletivas. São denominados de Empreendimento Econômico Solidário (EES), em que a administração é feita de forma coletiva pelos próprios trabalhadores, por meio de uma gestão participativa e democrática. Para além destas relações de trabalho e produção, os EESs se articulam com as questões políticas, sociais, ambientais, tanto no campo comunitário como das redes sociais.

Desta forma, pretende-se apresentar um olhar sobre a UBCM, buscando compreender suas relações de trabalho e suas formas de organização no contexto da Economia Solidária, abordando o processo de cooperação e solidariedade a partir das experiências coletivas, refletindo os fatores relacionados às motivações dos atores sociais na participação e inserção.

Além das experiências de campo, a fundamentação teórica contou com as contribuições dos seguintes autores: Singer (2003), Pochmann (2004), Santos (2008) e Gaiger (2009), que possibilitaram discutir o cenário da economia solidária no Brasil, relevante para analisarmos a emergência da comunidade do Riachão e a construções de estratégias socioeconômicas coletivas no Norte de Minas Gerais.

O surgimento da UBCM foi marcado pelas iniciativas da comunidade em favor da conservação do Rio Riachão e das áreas degradadas devido os sistemas de irrigação na nascente. Desta forma, sessenta e duas associações da sub-bacia do Rio Riachão junto aos municípios de Montes Claros, Mirabela, Brasília de Minas e Coração de Jesus se articularam junto às entidades de apoio: Federação dos Trabalhadores na Agricultura do

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Estado de Minas Gerais (FETAEMG), Centro de Agricultura alternativa (CAA), Cooperativa grande sertão, e Sindicatos dos trabalhadores rurais da região.

Os anseios pela geração de renda, despertam nos moradores a busca do apoio de algumas entidades para criarem uma unidade de beneficiamento e fazer o aproveitamento dos frutos da região encontrados em abundância. Deste modo, no ano de 2000 um grupo de agricultores da comunidade do Riachão elabora o projeto de surgimento da UBCM. Nesta perspectiva, estes trabalhadores passam a se preocupar com a construção de uma estrutura física adequada para o processamento do coco, e com o capital de giro para o investimento. Para tanto, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) participou no processo de construção do galpão, da aquisição de ferramentas, maquinários, implantação de laboratórios e viveiros de mudas do coco macaúba.

Em 2011 surge a Cooperativa do Riacho D’Antas (Cooper Riachão) devido uma proposta de parceria que exigia do grupo a formalização. Atuando juntas, a cooperativa e a unidade de beneficiamento possuem aproximadamente cinqüenta e seis associados.

No processo produtivo, o coco macaúba é o fruto principal, pois através do seu processamento, é possivel gerar a torta, a ração animal, o endocarpo, o óleo da polpa para a produção do biodiesel, o óleo da semente, o sabão, o detergente, o sabonete, e diversos outros, de modo que o fruto é aproveitado em sua totalidade.

FIGURA 01- Armazenamento do coco e do sabão da macaúba

FONTE: Coco Macaúba, a principal matéria-prima da UBCM e armazenamento do sabão. Arquivo da ITCP/UNIMONTES, 2013.

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A UBCM desenvolve práticas voltadas para a conscientização do município e da comunidade acerca da proteção ao meio ambiente. De imediato percebemos a movimentação da Comunidade Riacho D’Antas no processo de articulação dos municípios de Montes Claros, Mirabela, Brasília de Minas e Coração de Jesus, a fim de mobilizar a população e os órgãos competentes acerca da preservação do meio ambiente, especialmente do Rio Riachão.

O trabalho é desenvolvido por meio de uma gestão participativa e democrática, fundamentadas nos princípios e valores que norteiam a Economia Solidária. Neste empreendimento são produzidos produtos de limpeza, óleo vegetal e ração animal, havendo um aproveitamento completo do coco macaúba, que é colhido em cerca de doze mil caixas por ano, sendo esta produção advinda da Agricultura Familiar.

FIGURA 02 – Associados na Sede da Cooperativa

FONTE: Os trabalhadores da UBCM. Dados do autor, 2013.

Além de participar na cooperativa, os associados trabalham em sua propriedade, durante os finais de semana e nas horas de folga, lavrando suas terras, plantando e colhendo. Todos que trabalham sejam associados ou prestadores de serviços recebem um custo pela mão de obra. Após o cálculo das despesas, as sobras são divididas e/ou repassadas para cada pessoa que está trabalhando, sendo as atividades fundamentadas no princípio da solidariedade, coletividade e cooperação. Desta forma, todas as decisões

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são tomadas em assembléias e reuniões quinzenais, onde todos têm o direito de expor sua opinião, baseado na gestão democrática participativa. Sendo assim, todos são donos, todos os associados trabalham, e a renda varia em torno de um a dois salários mínimos.

Os associados apontam que entre as conquistas obtidas durante o processo de implantação da Cooperativa, se destacam as parcerias com entidades de apoio que contribuem para a comercialização, especialmente nos espaços de feiras e eventos, e na captação de recursos. Entre outras conquistas, destacam os projetos que apóiam os agricultores; a expansão da comercialização e da procura pelos produtos; a participação dos associados em processos autogestionários; a aquisição de maquinários (pois quando começaram o processo era todo artesanal); a permanência dos trabalhadores na comunidade, e o retorno de muitas pessoas que foram para as cidades em busca de emprego.

Além disso, podemos citar a autonomia dos trabalhadores nas relações de produção, a valorização do trabalho humano, a igualdade no processo de tomadas de decisões, a autogestão de um Empreendimento Econômico Solidário coletivo, o envolvimento sociopolítico com as questões voltadas para a preservação do meio ambiente e para o desenvolvimento da localidade, a solidariedade, a coletividade, além dos sentimentos de realização despertados no processo de pertencimento a cooperativa.

Neste percurso, a ITCP/UNIMONTES tem atuado junto ao grupo através do processo de incubação da cooperativa, onde o grupo recebe apoio formativo, jurídico, e no processo de organização e inserção nas cadeias produtivas e nas redes de economia solidária e cooperativismo. Durante o processo de incubação tivemos a oportunidade de observar, dialogar, participar de assembléias e reuniões de rotina, o que foi extremamente importante para a construção deste trabalho.

A análise das experiências de campo nos aponta para uma diversidade de motivações pessoais e coletivas, objetivas e subjetivas, racionais e irracionais, que se alternam no cotidiano do grupo. A principal motivação que desencadeou o surgimento da UBCM, foi o interesse pela restauração do Rio Riachão e das áreas degradadas, além da preservação do meio ambiente, tendo neste a referência do seus modos de vida reproduzidos historicamente.

Neste sentido, a geração de trabalho e renda foi uma consequência da ação que estava sendo articulada, não sendo a intenção do grupo no primeiro momento. Entre as motivações dos sujeitos pesquisados, podemos destacar em quase todas as falas a preocupação com o êxodo rural, assim, este propósito esteve atrelado ao objetivo

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secundário de criarem alternativas de geração de trabalho e renda, para que os trabalhadores permanecessem com suas famílias em suas terras.

Existem diversos problemas no que concerne a participação dos indivíduos neste tipo de organização. No campo econômico, muitas vezes a renda gerada a partir do trabalho coletivo não é suficiente para garantir as necessidades básicas de sobrevivência dos participantes. No campo sócio-político e o do bem estar social5, deparamos com resquícios da cultura capitalista onde predomina o individualismo e o consumismo.

Esses grupos estão iniciando em busca de espaços para a produção, comercialização e escoamento dos produtos.

Para o momento, consideramos fundamental o papel da Economia Solidária na conciliação de aspectos sociais, culturais, econômicos, ambientais e políticos, questionando o modelo de “desenvolvimento” que trouxe graves conseqüências econômicas, sociais e ambientais, sendo uma resposta importante aos trabalhadores, uma vez que aponta para uma nova forma de organização das relações de trabalho.

Referências bibliográficas

CATTANI, Antônio David. LAVILLE, Jean-Louis. GAIGER, Luiz Inácio. HESPANHA, Pedro. Dicionário Internacional de uma outra Economia. São Paulo: Gráfica de Coimbra, 2009.

POCHMANN, Marcio. Economia Solidária no Brasil: Possibilidades e Limites. Disponível: <www.ufpa.br/itcpes/documentos/es_possibilidades_e_limites.pdf>. Acesso em: 12 abril. 2013.

5 Entende-se por bem-estar o conjunto de factores de que uma pessoa precisa para gozar de uma boa qualidade de vida. [...] O bem-estar social engloba, portanto as coisas que incidem de forma positiva na qualidade de vida: um emprego digno, recursos econômicos para satisfazer as necessidades, um lar para viver, acesso à educação e a saúde, tempo para o lazer, etc. Apesar de a noção de bem-estar ser subjectiva (aquilo que é bom/favorável para uma pessoa pode não sê-lo para outra), o bem-estar social está associado à factores económicos objectivos.

Conceito de Bem Estar Social. Disponível em: <http://conceito.de/bem-estar-social>. Acesso em: 11 nov. 2012.

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SANTOS, Aline Mendonça dos. Representações sociais dos trabalhadores nos empreendimentos de economia solidária. Cascavel: III Seminário do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, 2004.

SINGER, P. e SOUZA A R., A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2003.

Referências

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