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CASABLANCA. O clássico do cinema e as diversas interpretações do filme

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CASABLANCA

O clássico do cinema e as

diversas interpretações do filme

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Luiz Roberto da Costa Júnior

CASABLANCA

O clássico do cinema e as

diversas interpretações do filme

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O conteúdo desta obra, inclusive revisão ortográfica, é de responsabilidade exclusiva do autor

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Para Ilsa Lund (Ingrid Bergman) que caminha em direção ao avião e sempre parte o meu coração

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Sumário

Parte I: O clássico do cinema

A estréia de Casablanca e os 3 Oscars...12

A adaptação da peça de teatro Everybody Comes to Rick’s...16

As Time Goes By...20

A produção do filme...27

Elenco Estelar...31

Curiosidade: as incorreções do filme...74

10 Frases Eternas em Casablanca...79

Parte II: As diversas interpretações do filme Umberto Eco e a Semiótica em Casablanca..83

A propaganda antinazista...92

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Façam suas apostas ... Preto 22...107

Amor, Rejeição, Paixão e Sacrifício em Casablanca...114

Parte III: Muito Além de Casablanca O Acaso e a Obra-Prima...124

As diversas adaptações de Casablanca...127

Conclusão...132

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Parte I:

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A estréia de Casablanca e os 3 Oscars

Na noite de quinta-feira 2 de março de 1944, a entrega da 16ª Premiação da Academia realizou-se no Teatro Chinês (Grauman’s Chinese Theater), no Hollywood Boulevard, perto da Calçada da Fama. Pela primeira vez, o evento deixava de ser fechado e restrito e, assim, a cerimônia do Oscar passava a ser feita num local para um público mais amplo. Naquela época, ainda não havia a transmissão pelo rádio que começou no ano seguinte em 15 de março de 1945, mas o formato mais teatral serviu de base para as contemporâneas transmissões televisionadas que começaram em 19 de março de 1953.

Para chamar a atenção para o evento, foram dados passes livres para todos os homens e mulheres que

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estivessem usando uniforme, pois nesta época vivia-se um clima de expectativa pouco mais de três meses antes do Dia D (Desembarque na Normandia).

O Oscar (referente aos filmes de 1943) trouxe novidades, pois pela primeira vez as premiações para ator coadjuvante e atriz coadjuvante foram feitas com as estatuetas do Oscar e não mais com pequenas placas indicando o prêmio. Naquela noite, o filme franco favorito com 12 indicações perdeu o Oscar de Melhor Filme1 para um melodrama ambientado

1O impacto da derrota de Canção de Bernardete foi tamanho que a regra mudou e, assim, deixou de haver 10 indicados ao Oscar de Melhor Filme passando a ser, a partir do ano seguinte, apenas 5 filmes. Esta regra permaneceu até 2010 quando o Oscar de Melhor Filme voltou a ter 10 indicados por interesses comerciais de ampliar o mercado e gerar uma visibilidade e disputa de mais filmes.

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num lugar distante e exótico chamado Casablanca, que também ganhou o Oscar de Melhor Diretor e o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

O filme Casablanca havia sido apresentado em avant-première, em 26 de novembro de 1942, no Teatro Hollywood, em Nova York, aproveitando-se assim a situação de que no início daquele mesmo mês havia ocorrido a libertação do Norte da África pelos Aliados, o que incluía Casablanca. O filme entrara em cartaz em Los Angeles em 23 de janeiro de 1943 (motivo pelo qual concorreu ao Oscar com os filmes de 1943). A data da estreia foi muito oportuna para coincidir a Conferência de Casablanca – ocorrida entre os dias 14 e 24 de janeiro de 1943, com a

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presença do primeiro-ministro britânico Winston Churchill e do presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt – e que definiu os planos dos Aliados para terminar a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

O tempo mostrou a perenidade de Casablanca e a importância do filme para sua legião de fãs, mesmo 75 anos depois de sua produção, e assim tanto as suas diversas interpretações como o que significa o filme na história do cinema serão aqui analisados.

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A adaptação da peça de teatro Everybody Comes to Rick’s

A peça de teatro Everybody Comes to Rick’s foi escrita Joan Alison (1902-1992) e Murray Burnett (1910-1997). Ele era professor de inglês numa escola vocacional em Nova York e posteriormente tornou-se escritor de peças de teatro. Uma delas era sobre as suas experiências como professor e várias outras foram adaptadas para o rádio.

Durante o verão europeu de 1938, Murray Burnett estava de férias com a esposa Frances. O casal foi a Viena, após a anexação da Áustria pela Alemanha, para ajudar parentes judeus. Eles começaram a ter contato com o drama dos refugiados. Na França, o casal esteve numa pequena cidade chamada Cap Ferrat, à beira do Mar

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Mediterrâneo, na Riviera Francesa. No nightclub chamado Café Américain, o casal ouviu um pianista negro tocar e cantar à noite. A partir de suas experiências, de volta aos Estados Unidos, Murray Burnett começou a escrever uma peça de teatro durante o verão de 1940.

Murray Burnett terminou a peça de teatro sendo ajudado por Joan Alison (ela que colocou as cartas de trânsito no enredo). Ambos, então, procuraram vários produtores na Broadway para encenar a peça, mas não obtiveram sucesso. Entretanto, a leitora de roteiros da Warner Brothers, Irene Diamond (1910–2003), teve acesso aos originais e sugeriu a adaptação para o cinema. O produtor Hal B. Wallis (1899-1986) interessou-se em negociar os direitos autorais. Em dezembro de 1941, após o Ataque a Pearl Harbor, o clima

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político havia mudado nos Estados Unidos. Na peça de teatro havia um americano chamado Rick, como dono de um bar, que ajudava um membro da resistência checa contra os nazistas num lugar exótico chamado Casablanca, no Marrocos (na época Protetorado Francês), o que pareceu muito apropriado para uma adaptação para o cinema.

Os roteiristas Howard Koch (1901-1995), Julius Epstein (1909-2000) e Philip Epstein (1909-1952) trabalharam na adaptação da peça de teatro para o roteiro do filme e contaram com a colaboração não creditada de Casey Robinson (1909-1979). O título do filme ficou definido com apenas a palavra Casablanca, pois alguns anos antes outro filme ambientado em lugar exótico fizera muito sucesso com o título Argélia, em 1938.

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Em 1931, a música As Time Goes By havia sido escrita por Herman Hupfeld (1894-1951) para o musical Everybody's Welcome que ficou quatro meses em cartaz, com 139 apresentações, no Teatro Shubert na Broadway. Murray Burnett colocou a música por lembrar-se do musical e definiu também o título de sua peça de teatro, que inclusive é uma fala do Capitão Renault, como Everybody Comes to Rick’s.

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As Time Goes By2

música e letra de Herman Hupfeld

This day and age we're living in Gives cause for apprehension With speed and new invention And things like fourth dimension. Yet we get a trifle weary

With Mr. Einstein's theory.

So we must get down to earth at times Relax relieve the tension

And no matter what the progress Or what may yet be proved The simple facts of life are such

2 A letra da música na íntegra como foi cantada por

Frances Williams (1901-1959) no musical Everybody’s

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They cannot be removed. You must remember this

A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh. The fundamental things apply

As time goes by.

And when two lovers woo They still say, "I love you." On that you can rely

No matter what the future brings As time goes by.

Moonlight and love songs Never out of date. Hearts full of passion Jealousy and hate. Woman needs man

And man must have his mate That no one can deny. It's still the same old story A fight for love and glory A case of do or die.

(22)

The world will always welcome lovers As time goes by.

Oh yes,the world will always welcome lovers As time goes by.

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As Time Goes By no filme Casablanca

3

You must remember this, a kiss is just a kiss, A sigh is just a sigh,

The fundamental things apply, as time goes by.

And when two lovers woo, They still say "I love you," On that you can rely,

No matter what the future brings, as time goes by.

3

As duas primeiras estrofes são cantadas na cena em que o casal se reencontra no Rick’s Café Américain. As duas últimas estrofes são cantadas na cena do flashback em que Rick Blaine recorda-se de Ilsa Lund no La Belle

Aurore em Paris. O compositor Max Steiner (1888–

1971) tentou substituir a música por uma de sua autoria. Entretanto, Ingrid Bergman já havia cortado o cabelo bem curto para fazer o papel de Maria em Por Quem os

Sinos Dobram (1943) o que inviabilizou a refilmagem

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Moonlight and love songs Never out of date.

Hearts full of passion Jealousy and hate. Woman needs man

And man must have his mate That no one can deny.

It's still the same old story, a fight for love and glory, A case of do or die,

The world will always welcome lovers, as time goes by.

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Com O Passar Do Tempo

4

Você deve lembrar-se disso Um beijo é apenas um beijo Um suspiro é apenas um suspiro Coisas fundamentais que valem Com o passar do tempo

E quando dois amantes suplicam Eles ainda dizem ... "Eu te amo" Nisso você pode confiar

Não importa o que o futuro traga Com o passar do tempo

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A luz da lua e canções de amor Nunca estão fora de moda Corações repletos de paixão Ciúmes e ódio

A mulher precisa do homem E o homem precisa ter o seu par Isto ninguém pode negar

Ainda é a mesma antiga estória Uma disputa por amor e glória Um caso de matar ou morrer

O mundo sempre acolherá os amantes Com o passar do tempo

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A produção do filme

A cópia da peça de teatro Everybody Comes to Rick’s chegou aos estúdios da Warner Brothers em 8 de dezembro de 1941 (um dia após o Ataque a Pearl Harbor) e o produtor Hal B. Wallis, já no dia 31 do mesmo mês, mudou oficialmente o título para Casablanca (para a adaptação para o cinema). Em 12 de janeiro de 1942, os autores Murray Burnett e Joan Alison assinaram o contrato com a Warner Brothers cedendo os direitos autorais da peça de teatro por U$ 20.000,00 (em valores daquela época, atualizando-se seria algo em torno de quinze vezes este valor em termos de dinheiro de hoje).

Para conseguir a reunião dos três grandes astros que compõem o triângulo amoroso da trama, a Warner Brothers fez um acordo com a MGM (detentora do contrato de Ingrid Bergman) e conseguiu que ela fosse cedida para o filme da

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Warner Brothers em troca da atriz Olivia de Havilland para a MGM. Para a Warner Brothers convencer Paul Henreid a fechar o contrato, foi feito um acordo de que o nome dele apareceria nos créditos no início do filme junto com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, assim como em destaque nos cartazes promocionais do filme. As gravações do filme ocorreram entre os dias 25 de maio e 3 de agosto de 1942. O filme foi rodado nos estúdios da Warner Brothers com exceção da cena inicial do aeroporto, que foi rodada no Aeroporto Van Nuys, em Los Angeles, e do clip montado com cenas reais de Paris que aparecem na cena do flashback. O diretor escolhido foi Michael Curtiz (1886-1962) que havia dirigido o grande sucesso Anjos de Cara Suja (1938). Praticamente todos os filmes da Warner Brothers fugiam da teoria de que o diretor é o autor do filme (tese do cinema de autor). Michael Curtiz pode ser visto fundamentalmente como um diretor de estúdio, nos moldes do sistema de estúdio

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da época de ouro do cinema americano (1930-1950). As grandes produções dos estúdios seguiam determinadas linhas bem claras e distintas: a MGM buscava a vida idealizada (de fuga da realidade), como em A Dama das Camélias (1936), com Greta Garbo (1905-1990); a Fox buscava a consciência social, como em Vinhas da Ira (1940), com Henry Fonda (1905-1982); enquanto a Warner Brothers buscava o realismo em suas produções, como em Casablanca.

A cena do duelo dos hinos provocou uma catarse no elenco porque uma grande parte era de refugiados e estes se deram conta desta realidade durante a gravação da cena5. Embora no início do

filme apareça uma réplica do minarete da Mesquita de Hassan II e em várias cenas haja homens usando

5

Quando o filme Casablanca estreou na França, o impacto da cena produzia reações espontâneas de platéias que se levantavam e cantavam A Marselhesa durante a projeção da película.

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o típico tarboosh de cor vermelha (apesar de o filme ser em preto&branco) ou então o keffiyeh de cor branca enrolado na cabeça, não há marroquinos no filme e tampouco mulheres de véu cobrindo o rosto, pois o filme tem um olhar ocidental sobre a situação mundial em meio à Segunda Guerra Mundial e, para isso, nos leva a um lugar remoto e distante chamado Casablanca.

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Elenco Estelar

O americano Humphrey Bogart (1899-1957) interpreta Rick Blaine que é o dono do Rick’s Café Américain.

Humphrey Bogart atuou em alguns filmes da época do cinema mudo e depois trabalhou como ator em várias peças de teatro na Broadway, sendo que o sucesso de uma peça levou-o a estrelar a versão no cinema no filme homônimo Floresta Petrificada (1936). Seus primeiros papéis no cinema falado eram de gangster, no começo de carreira, como em Anjos de Cara Suja (1938). Seus personagens invariavelmente morriam sendo o ponto alto no filme Seu Último Refúgio (High Serra, em 1941). Depois ganhou papéis de destaque em filmes como Relíquia Macabra (The Maltese Falcon, em 1941), Casablanca

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(1942), Passagem para Marselha (1944), Uma Aventura na Martinica (To Have And Have Not, em 1944), À Beira do Abismo (The Big Sleep, em 1946) e O Tesouro de Sierra Madre (1948), até ganhar o Oscar de Melhor Ator por Uma Aventura na África (The African Queen, 1951). Posteriormente, ainda atuou em filmes conhecidos como Sabrina (1954), A Condessa Descalça (1954) e Horas de Desespero (1955). Em sua atuação em Casablanca, pela qual recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator, ele utilizou o anel do pai (única lembrança do renomado médico que perdeu tudo durante a Grande Depressão). Humphrey Bogart chegou a jogar xadrez a dinheiro para sobreviver durante essa época.

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A sueca Ingrid Bergman (1915-1982) interpreta Ilsa Lund que está envolvida num triângulo amoroso com Rick Blaine e Victor Laszlo.

Ingrid Bergman ganhou destaque no cinema sueco por sua interpretação em Intermezzo (1936). Levada aos Estados Unidos para a refilmagem de Intermezzo (1939), ela interpretou novamente o papel da pianista apaixonada por um violinista casado. Ela não foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por Casablanca porque recebeu a indicação para concorrer pelo filme Por Quem os Sinos Dobram (1943)6,

baseado no romance homônimo de Ernest Hemingway (1899-1961). No ano seguinte, a atriz recebeu o Oscar de Melhor Atriz por À Meia-Luz (Gaslight, 1944). Ingrid

6 A ganhadora foi a atriz Jennifer Jones (1919-2009)

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Bergman interpretou uma emblemática Joana D’Arc (1948 e 1954) em duas versões do filme. Ingrid Bergman foi personagem de si mesma e fez na realidade o que não pôde fazer na ficção: abandonou o marido e, grávida do amante, foi viver na Itália com o diretor neorrealista Roberto Rossellini (1906-1977). Terminado o relacionamento, Ingrid Bergman retornou a Hollywood, quando ganhou o Oscar de Melhor Atriz por Anastácia, a Princesa Esquecida (1956). Participou de uma produção inglesa que lhe valeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Assassinato no Expresso Oriente (1974), baseado no livro homônimo de Agatha Christie (1890-1976).

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O austro-húngaro Paul Henreid (1905-1992) interpreta o líder da resistência Victor Laszlo.

Paul Henreid nasceu em Trieste, quando esta pertencia ao Império Austro-Húngaro, mas atualmente pertence à Itália. O ator participou de dois filmes que marcaram sua carreira, em 1942: Casablanca e Estranha Passageira (onde contracena com Betty Davis e Claude Rains). Posteriormente, como diretor de televisão teve como crédito: Alfred Hitchcock Presents, Maverick, Bonanza e The Big Valley. Sua última aparição no cinema foi em O Exorcista 2 (1977) quando fez o papel do Cardeal.

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O inglês Claude Rains (1889-1967) interpreta o capitão Louis Renault.

Claude Rains interpretou o papel principal em O Homem Invisível (1933) e O Fantasma da Ópera (1943) e o papel de coadjuvante em Estranha Passageira (Now, Voyager, 1942) como psiquiatra. Imortalizado como o amoral Capitão Renault em Casablanca (1942), ele tinha na vida real a patente de capitão, ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), depois de sofrer um ataque com gás que o deixou praticamente cego de um olho durante o resto de sua vida. Claude Rains também interpretou outros papéis importantes: em 1939, em A Mulher faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington) dirigido por Frank Capra (1897-1991), onde interpretou o senador corrupto que tenta destruir a integridade do jovem e

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idealista senador interpretado por James Stewart (1908-1997); em 1946, Interlúdio (Notorious), faz parte de um grupo de nazistas refugiados na América do Sul, filme estrelado por Cary Grant (1904-1986) e Ingrid Bergman; em 1962, interpretou o cínico diplomata inglês em Lawrence da Arábia, dirigido por David Lean (1908-1991). Quatro vezes indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, Claude Rains nunca ganhou o prêmio.

***

O alemão Conrad Veidt (1893-1943) interpreta o major Heinrich Strasser.

Durante a atmosfera mais liberal da República de Weimar (1919-1933), Conrad Veidt causou polêmica no início de carreira ao fazer o papel de gay no filme Anders als

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die Andern (Diferente dos Outros, em 1919) com direção e roteiro de Richard Oswald (1880-1963), tendo como co-roteirista Magnus Hirschfeld (1868-1935), ativista e defensor dos direitos dos gays. Conrad Veidt atuou também no clássico do expressionismo alemão O Gabinete do Dr. Caligari (1920), mas sua interpretação e a maquiagem no filme O Homem que Ri (1928) – baseado no homônimo romance de Victor Hugo publicado em 1869 – tornaram-se célebres a tal ponto que serviram de base para caracterizar o vilão Curinga em Batman. Ao morrer de um ataque do coração, em Los Angeles, quando jogava golfe em 3 de Abril de 1943, Conrad Veidt não pôde desfrutar do sucesso do filme Casablanca.

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O inglês Sydney Greenstreet (1879-1954) interpreta o Signor Ferrari, dono do bar The Blue Parrot (Papagaio Azul), rival do Rick’s Café Américain.

Sydney Greenstreet atuou no teatro durante as três primeiras décadas do século 20. Ao entrar na Warner Brothers, na década de 1940, trabalhou em nove filmes com Peter Lorre, sendo suas atuações mais marcantes: Relíquia Macabra (1941) e Casablanca (1942). Esta última serviu parcialmente de inspiração para caracterizar Jabba em O Retorno de Jedi (1983).

***

O húngaro Peter Lorre (1904-1964) interpreta Signor Ugarte que pede para Rick Blaine guardar as duas cartas de trânsito para ele.

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Peter Lorre atuou no clássico do expressionismo alemão M, O Vampiro de Düsseldorf (1931) do diretor Fritz Lang (1890-1976). Depois trabalhou no filme de horror O Castelo dos Mistérios (You'll Find Out, 1940) ao lado de Bela Lugosi (1882– 1956) e Boris Karloff (1887-1969). Suas atuações em Relíquia Macabra (1941) e Casablanca (1942) são também marcantes. Em 1954, Peter Lorre interpretou o vilão Le Chiffre numa adaptação para a televisão de Cassino Royale, romance de Ian Fleming (1908-1964) publicado em 1953, sendo que o ator Barry Nelson (1917–2007) interpretou James Bond.

***

O afro-americano Dooley Wilson (1886-1953) interpreta o pianista Sam.

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Dooley Wilson trabalhou no teatro em Chicago e em Nova York nas décadas de 1910, 1920 e 1930. Ele também era baterista e participou de uma excursão de uma banda à Europa. Durante as décadas de 1930, 1940 e 1950, ele participou como cantor em muitos musicais na Broadway. Durante a década de 1940, ele atuou em quase duas dezenas de filmes. Em Casablanca, ficou imortalizado no imaginário popular por seu marcante papel como o pianista Sam. Entretanto, Dooley Wilson não era pianista. O som do piano de Sam no filme era na verdade uma performance do pianista Elliot Carpenter (1894-1961) escondido atrás de uma cortina. Ele era posicionado num lugar onde Dooley Wilson podia vê-lo e assim imitar os movimentos das mãos. Os dois eram os únicos negros no set de filmagens de Casablanca e permaneceram amigos. Dooley Wilson canta no filme as canções: It Had To Be You, Shine, Knock On

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Wood, Parlez-moi d'amour e As Time Goes By. Uma curiosidade: Dooley Wilson é o único do elenco e da equipe técnica que realmente em algum momento de sua vida visitou a cidade de Casablanca no Marrocos.

***

A americana Joy Page (1924-2008) interpreta a refugiada búlgara Annina Brandel que pede ajuda a Rick Blaine para conseguir vistos de saída.

Joy Page era filha de José Paige (conhecido ator hispano-americano do cinema mudo com nome artístico Don Alvarado) e de Ann Boyar (cujos pais eram imigrantes judeus russos). O casal se divorciou quando Joy Page tinha 5 anos de idade. Em 1936, Ann Boyar casou-se com Jack Warner (1892-1978), co-fundador da

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Warner Brothers. Joy Page conseguiu o papel em Casablanca com apenas 17 anos, mas Jack Warner não quis assinar contrato após o filme. Ela nunca mais atuou em filmes da Warner Brothers. Participou de alguns filmes no cinema e de alguns episódios de televisão na década de 1950.

***

A francesa Madeleine LeBeau (1923-2016) interpreta Yvonne, a garota abandonada por Rick Blaine e, rejeitada, volta depois provocando a disputa entre o oficial alemão e o oficial francês.

Madeleine LeBeau casou-se com Marcel Dalio, em 1938, na época em que atuavam juntos numa peça de teatro. Em 1940, quando os alemães invadiram a França, o casal saiu de Paris e chegou a

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Lisboa. Ao conseguir a expedição de vistos para o Chile, o casal seguiu de navio, num grupo de cerca de 200 pessoas, mas este foi parado no México, antes de seguir pelo Canal do Panamá, onde se descobriu que os vistos eram falsos. O grupo conseguiu a expedição de vistos temporários do Canadá e o navio aportou nos Estados Unidos. O casal atuou em Casablanca: Madeleine LeBeau como Yvonne e Marcelo Dalio como o Emil, o croupier. Eles se divorciaram durante as filmagens. Madeleine LeBeau voltou para a França onde atuou em cerca de duas dezenas de filmes, entre eles: 8 ½ de Federico Fellini (1920-1993).

***

O húngaro S. Z. Sakall (1883-1955) interpreta o garçom Carl que acompanha Ilsa Lund para o hotel, enquanto Rick

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Blaine e Victor Laszlo conversam sobre o triângulo amoroso.

S. Z. Sakall foi ator de teatro em Budapeste (na década de 1910) e em Viena (na década de 1920). Participou de mais de 40 filmes na Hungria, mas por causa do início da Segunda Guerra Mundial, ele decidiu emigrar de seu país e foi para os Estados Unidos em 1940. Suas três irmãs morreram em campos de concentração. Seu primeiro grande sucesso foi o filme Bola de Fogo (1941), quando contracenou com Gary Cooper (1901-1961) e Barbara Stanwyck (1907-1990), sobre um grupo de professores que vivem isolados compilando todo o conhecimento humano para formar uma enciclopédia. Ao assinar com a Warner Brothers, S. Z. Sakall conseguiu pequenos papéis em cerca de 30 filmes, mas o destaque foi sua atuação como o garçom

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Carl, em Casablanca, com mais tempo de duração do que Peter Lorre e Sydney Greenstreet.

***

O alemão Curt Bois (1901-1991) interpreta o cínico batedor de carteiras muito conversador em duas cenas.

Curt Bois atuou no cinema mudo alemão até o início da década de 1930, quando então deixou o país, em 1934, por causa da ascensão do nazismo no ano anterior. Ao emigrar da Alemanha para os Estados Unidos, ele conseguiu emprego para trabalhar em peças de teatro na Broadway. Participou também de uma dezena de filmes na década de 1940, mas as duas cenas antológicas como batedor de carteira no filme Casablanca tornaram-se memoráveis. Após o fim da Segunda Guerra

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Mundial, Curt Bois retornou à Alemanha. Após quase oitenta anos de carreira, teve ainda uma última atuação marcante como Homer (o poeta), no filme Asas do Desejo (1987) de Win Wenders.

***

O canadense John Qualen (1899-1987) interpreta o membro da resistência norueguesa Berger que contata Victor Laszlo, mostrando-lhe o anel com a Cruz de Lorena.

John Qualen atuou em dezenas de filmes do diretor John Ford (1894-1973), durante mais de três décadas, muitas vezes em pequenos papéis como em Médico e

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Amante (Arrowsmith, 1931)7 e Vinhas da

Ira (The Grapes of Wrath em 1940)8. Ele

teve papéis coadjuvantes importantes em Rastros de Ódios (The Searchers, 1956), Terra Bruta (Two Rode Together, 1961) e O Homem que matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance, 1962). John Qualen ainda teve uma participação em Anatomia de Um Crime (Anatomy of a Murder, em 1959, dirigido por Otto Preminger 1906-1986), onde as grandes estrelas eram James Stewart, George C. Scott (1927-1999) e Ben Gazzara.

***

7 Arrowsmith é um romance de Harry Sinclair Lewis

(1885–1951) que, publicado em 1925, levou o Prêmio Pulitzer em 1926. O escritor foi agraciado com o Nobel de Literatura em 1930.

8 The Grapes of Wrath, é um romance de John Steinbeck

(1902-1968) que, publicado em 1939, levou o Prêmio Pulitzer em 1940. O escritor foi agraciado com o Nobel de Literatura em 1962.

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O russo Leonid Kinskey (1903-1998) interpreta o barman Sascha que acompanha Yvonne para casa no começo do filme.

Leonid Kinskey nasceu em São Petersburgo e abandonou o país por causa da Revolução Russa. Atuou no teatro na Europa e na América do Sul até ir para Nova York em 1921. Atuou em mais de uma dezena de filmes e teve pequenas participações em comédias como Nada é Sagrado (1937), Bola de Fogo (1941), Uma noite no Rio (1941) e E a vida continua (The Talk of the Town, 1942). Teve também uma participação em O Homem do Braço de Ouro (1955), filme estrelado por Frank Sinatra (1915-1998). Sua interpretação como barman Sascha é hilária no filme Casablanca, quando beija Rick Blaine

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(Humphrey Bogart) de felicidade por este ter ajudado o casal búlgaro Brandel com os vistos de saída.

***

O francês Marcel Dalio (1900-1983) interpreta Emil, o croupier.

Marcel Dalio participou de dois importantes filmes do diretor francês Jean Renoir (1894-1979): A Grande Ilusão (1937) e As Regras do Jogo (1939). Após separar-se da primeira esposa, casou-se com Madeleine LeBeau em 1938 e ambos fugiram da França em 1940. Seus pais morreram em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Marcel Dalio participou de 19 filmes, em Hollywood, durante a guerra. Os nazistas utilizaram sua foto em cartazes na França Ocupada (1940-1944) simbolizando-o

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como o “típico judeu”. Atuou no filme Uma Aventura na Martinica (To Have and Have Not, 1944), dirigido por Howard Hawks (1896-1977), com Humphrey Bogart e Lauren Bacall; assim como no filme O Sol Também se Levanta (1957), dirigido por Henry King (1886-1982), com Tyrone Power (1914-1958) e Ava Gardner (1922-1990) – ambos baseados em romances homônimos de Ernest Hemingway. Em 1955, Marcel Dalio participou da série de televisão baseada no filme Casablanca, onde interpretou o papel de Capitão Renault que havia sido de Claude Rains no original.

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O austríaco Helmut Dantine (1917-1982) interpreta o búlgaro Jan Brandel que ganha na roleta, duas vezes seguidas com o preto 22, ajudado por Rick Blaine.

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Helmut Dantine, apesar de ter passado um tempo num campo de concentração nazista (após a anexação da Áustria pela Alemanha), interpretou muitos nazistas em thrillers na década de 1940, após sair da Europa e chegar aos Estados Unidos. Seu grande ano no cinema foi em 1942 quando participou do filme de humor negro Ser ou não Ser e de Rosa da Esperança (Mrs. Miniver), drama de guerra ambientado na Inglaterra e vencedor de 6 Oscars, além de Casablanca onde interpreta o jovem Jan Brandel. Uma de suas últimas participações no cinema foi no polêmico filme Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (1974).

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O húngaro Richard Ryen (1885-1965) interpreta o capitão Heinze, ajudante de ordens do major Strasser.

Richard Ryen começou dirigindo peças de teatro e atuando em filmes na Alemanha até ser expulso do país em 1934. Nos Estados Unidos atuou em 19 filmes (sendo que em dez deles não aparece nos créditos) quase sempre em papéis de nazista como, por exemplo: Cruz de Lorena (The Cross of Lorraine, em 1943), com Peter Lorre e Hans Twardowski, sobre prisioneiros de guerra franceses; em 1944, atuou com John Qualen em An American Romance e A Quadrilha de Hitler (The Hitler Gang), este último mostra a ascensão de Adolf Hitler. Trabalhou também em A Mundana (Foreign Affair, 1948), estrelado por Marlene Dietrich (1901-1992).

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O austríaco Ludwig Stössel (1883-1973) interpreta Mr. Leuchtag, refugiado alemão que não tem “good English”, mas está treinando e comemora, com o garçom Carl, que ele está de partida com a esposa para os Estados Unidos.

Ludwig Stössel participou de vários filmes do cinema mudo alemão. Seu primeiro filme de destaque foi um pequeno papel no famoso filme Os Crimes do Dr. Mabuse (1933), do expressionista alemão Fritz Lang (1890-1976), que foi banido pelo regime nazista. Após a anexação da Áustria pela Alemanha, Ludwig Stössel foi preso e solto várias vezes até que escapou para Viena, seguiu para Paris, em seguida foi para Londres e de lá partiu para os Estados Unidos em 1940. Ele participou com Ilka Grüning no filme A Voz da Liberdade sobre a resistência alemã em 1942. Neste mesmo

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ano, ambos estiveram juntos não apenas em Casablanca, como também em Em Cada Coração Um Pecado (Kings Row) com Ronald Reagan (1911-2004), Ann Sheridan (1915-1967) e Claude Rains. E, em 1946, novamente apareceram como casal, não como Leuchtags, mas como Muellers no filme Tentação.

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A austríaca Ilka Grüning (1876-1964) interpreta Mrs. Leuchtag, refugiada alemã que não tem “good English”, mas está treinando e comemora, com o garçom Carl, que ela está de partida com o marido para os Estados Unidos.

Ilka Grüning participou de vários filmes do cinema mudo alemão como A Besta Humana (1920), baseado no homônimo romance francês de Émile Zola

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(1840-1902). Em 1942, ela participou como casal, ao lado de Ludwig Stössel, nos filmes A Voz da Liberdade, Em Cada Coração Um Pecado e Casablanca e, também com ele, em Tentação (1946). Em 1943, atuou em pequenos papéis em A Estranha Morte de Adolf Hitler e em Madame Curie; em 1944, no filme An American Romance. Em 1948, ela atuou em A Mundana e em Carta de uma Desconhecida, este último estrelado por Joan Fontaine.

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O americano Dan Seymour (1915-1993) interpreta Abdul, o doorman do cassino.

Dan Seymour atuou em vários filmes nas décadas de 1940 e 1950, entre eles Uma Aventura na Martinica (1944), como o personagem Capitão Renard que é o inimigo

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de Humphrey Bogart; a comédia Uma Noite em Casablanca (1946) dos irmãos Marx; Paixões em Fúria (Key Largo, 1948), novamente com Humphrey Bogart. Dan Seymour atuou em quatro episódios da série Os Intocáveis no início da década de 1960 e em várias outras séries de televisão.

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O ítalo-americano Charles La Torre (1894-1990) interpreta o cômico9 oficial italiano Tonelli.

Charles La Torre teve pequenas participações em dezenas de filmes na década de 1940 e 1950 como: À Noite Sonhamos (A Songto Remember, em 1945), sobre a vida de Frédéric Chopin

9

Este cômico personagem e o cínico batedor de carteiras servem de contraponto para a propaganda antifascista que envolve os personagens Signor Ugarte e

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1849); Fatalidade (A Double Life, em 1947) sobre um ator que não sabe distinguir a realidade e a interpretação numa peça de teatro – filme estrelado por Ronald Colman (1891-1958) – e A Fonte dos Desejos (Three Coins in the Fountain, 1954), filmado em

Roma.

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A inglesa Norma Varden (1898-1989) interpreta a esposa do marido - interpretado por Gerald Oliver Smith (1892-1974) - que tem a carteira furtada no início do filme.

Norma Varden começou a carreira como concertista em Paris, mas decidiu tornar-se atriz. Na década de 1940, ela foi para os Estados Unidos, onde teve pequenas participações em filmes como:

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Casablanca (1942); Pacto Sinistro (Strangers on a Train, em 1951) dirigido por Alfred Hitchcock (1899-1980), baseado no romance homônimo de Patrícia Highsmith (1921-1995), além de atuar em filmes como Os Homens Preferem as Loiras (1953) e Testemunha de Acusação (1957).

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O francês Jean Del Val (1891-1975) interpreta o policial francês que anuncia a notícia da morte dos dois couriers alemães pelo rádio da polícia.

Jean Del Val foi ator no período do cinema mudo. Ao iniciar-se a época dos filmes falados, ele trabalhou como tradutor e treinador vocal. Atuou no filme Viagem Fantástica (1966).

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O dinamarquês Torben Meyer (1884-1975) interpreta o banqueiro holandês que pergunta ao garçom Carl se Rick Blaine não tomaria um drink com ele: Perhaps if you told him I ran the second largest banking house in Amsterdam.

Torben Meyer trabalhou em filmes do cinema mudo como Dom Quixote (1926) e O Homem que Ri (1928). Em 1932, ele participou do filme de horror Assassinato na Rua Morgue, baseado no conto de Edgar Allan Poe (1809–1849), cujo papel principal foi de Bela Lugosi. Em 1940, atuou em filmes como O Grande Ditador e Natal em Julho. Em 1945, atuou em Hotel Berlim com Helmut Dantine e Peter Lorre. Em 1961, atuou como um dos nazistas condenados no filme O Julgamento de Nuremberg.

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O russo Gregory Gaye (1900-1993) interpreta o banqueiro alemão que é recusado na porta do cassino por Rick Blaine.

Gregory Gaye trabalhou em filmes como A Guarda Negra (The Black Watch, 1929), dirigido por John Ford, e Renegados (1930), dirigido por Victor Fleming (1889– 1949). Além de ter atuado em Charlie Chan na Ópera (1936), Ninotchka (1940) e Casablanca (1942). Em 1944, participou dos filmes Conspiradores, Sete Portas do Destino (Seven Doors to Death) e Mais Forte que a Vida (The Purple Heart). Sendo que neste filme Gregory Gaye interpreta um correspondente russo que é barrado e não consegue passar por uma porta.

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O germano-americano Wolfgang Zilzer (1901-1991) interpreta o refugiado com papéis com visto vencido que corre no início do filme, mas morre fuzilado pelas costas.

Wolfgang Zilzer perdeu a mãe logo após nascer em Cincinatti, Ohio, e o pai decidiu retornar à Alemanha. Wolfgang Zilzer trabalhou em filmes do cinema mudo alemão. Quando retornou aos Estados Unidos, trabalhou com o diretor alemão Ernst Lubitsch (1892–1947), que era judeu, em vários filmes antinazistas, mas usava o pseudônimo de Paul Andor para proteger o pai que ainda vivia em Berlim. Trabalhou em vários filmes, como por exemplo: em 1939, A Besta de Berlim, Ninotchka e Confissões de um espião nazista; em 1941, A

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Voz da Liberdade; em 1942, The Devil with Hitler, Correspondente em Berlim e Ser ou não Ser; em 1943, Encontro em Berlim, A Estranha Morte de Adolf Hitler e O Capanga de Hitler (Hitler's Madman); em 1945, Hotel Berlim. Após as filmagens de Casablanca, Wolfgang Zilzer casou-se com a atriz alemã Lotte Palfi Andor (1903-1991) que interpreta a refugiada que tenta vender diamantes no início do filme Casablanca para o contrabandista de pedras preciosas, interpretado pelo ator francês Jacques Lory (1904-1947).

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O alemão Hans Twardowski (1898-1958) interpreta um oficial alemão que discute e briga com um oficial francês por causa de Yvonne.

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Hans Twardowski atuou no clássico do expressionismo alemão O Gabinete do Dr. Caligari (1920). Emigrou da Alemanha após a ascensão de Hitler, em 1933, e foi para os Estados Unidos. Em 1939, ele participou dos filmes antinazistas Confissões de um espião nazista, Agente de Espionagem e A Besta de Berlim. Além disso, ele fez o papel do Comandante Nazista Reinhard Heydrich (1904–1942), assassinado pela resistência checa em Praga, cuja história foi contada no filme Os Carrascos Também Morrem (Hangmen Also Die!, 1943), filme dirigido por Fritz Lang.

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A alemã Trude Berliner (1903-1977) interpreta a jogadora de Baccarat que pergunta: Will you ask Rick if he will have a drink with us? O garçom Carl

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responde-lhe: Madame, he never drinks with customers. Never. I have never seen it.

Trude Berliner foi atriz no cinema mudo alemão. Após emigrar da Alemanha para os Estados Unidos, ela fez pequenas participações em Casablanca (1942), em Uma Aventura em Paris (Reunion in France, 1942) e A Estranha Morte de Adolf Hitler (1943).

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O austríaco Louis V. Arco (1899-1975) interpreta o refugiado que diz a frase: Waiting, waiting, waiting. I ‘ll never get out of here. I’ll die in Casablanca.

Louis V. Arco atuou no cinema mudo austríaco no filme Sacco e Vanzetti (1927). Ele emigrou, após a anexação da Áustria

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pela Alemanha, para os Estados Unidos. Participou de filmes antinazistas como A Voz da Liberdade (Underground, 1941), Correspondente em Berlim (1942), A Estranha Morte de Adolf Hitler (1943) e Cruz de Lorena (1943). Após o fim da Segunda Guerra Mundial, ele retornou à Europa, onde participou de alguns filmes. Não morreu em Casablanca, no Marrocos, como seu personagem, mas em Zurique, na Suíça.

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A hispano-americana Corinna Mura (1909-1965) interpreta a cantora que toca violão e canta em espanhol, depois toca A Marselhesa e canta em francês.

Corinna Mura participou de alguns musicais e, em 1942, dos filmes Fuzileiros da Fuzarca (Call Out the Marines) e Casablanca.

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O americano George Meeker (1904-1984) interpreta o elegante cavalheiro de terno branco que, após a prisão de Ugarte, diz para Rick Blaine : When they come to get me, Rick, I hope you'll be more of a help. Rick Blaine responde: I stick my neck out for nobody.

George Meeker participou de mais de uma centenas de filmes, como exemplo: Robespierre em Maria Antonieta (1938), como o capitão jogando poquer em E O Vento Levou (1939) e trabalhou em O Último Refúgio (1941) com Humphrey Bogart.

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O inglês Herbert Evans (1882-1952) interpreta o jogador de cassino com monóculo que, surpreso, pergunta ao garçom Carl pela honestidade do lugar, após o preto 22 sair duas vezes seguida na roleta.

Herbert Evans atuou em mais 100 filmes (a grande maioria sem crédito) como em Monsieur Verdoux (1947) e em Pacto Sinistro (1951), em ambos atuando como um convidado na festa. Seu papel mais lembrado na televisão é de Earl of Glenheather Castle no episódio The Hot Scots dos Três Patetas.

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O italiano William Edmunds (1886-1981), apesar do anglicismo do nome, diz a frase: It leaves at 1:00 tomorrow

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night, here from the end of the Medina. Third boat and bring 15,000 francs - in cash. Remember, in cash.

William Edmunds participou de filmes como A Loja da Esquina (1940), Um Casal do Barulho (Mr. & Mrs. Smith, 1941) – única comédia dirigida por Alfred Hitchcock, Correspondente em Berlim (1942), Por Quem os Sinos Dobram (1943) – sem crédito. Entretanto, será sempre lembrado pelo papel de Mr. Martini em A Felicidade Não se Compra (It’s a Wonderful Life, 1946), quando James Stewart grita várias vezes por ele.

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O franco-argelino Louis Mercier (1901-1993) interpreta o homem que é

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lembrado que deve levar o dinheiro ‘in cash’.

Louis Mercier atuou em muitos filmes B da 20th Century Fox em papéis de detetive e de magistrado, sendo que no filme O Homem que Sabia Demais (1956) ele interpretou um policial francês. Louis Mercier interpretou Mario em Tarde Demais para Esquecer (An Affair to Remember, em 1957).

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O siciliano Frank Puglia (1892-1975) interpreta o hilário vendedor árabe que vai baixando o preço ao tentar vender um tecido para Ilsa Lund no mercado de rua.

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Frank Puglia trabalhou em centenas de filmes: em 1940, A Marco do Zorro; em 1942, Casablanca e Estranha Passageira; em 1943, em Fantasma da Opera e em Por Quem os Sinos Dobram. Em um de seus últimos filmes, ele interpreta Bonasera que pede um favor ao ouvido de Don Corleone, interpretado por Marlon Brando (1924-2004), em O Poderoso Chefão (1972).

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O porto-riquenho Alberto Morin (1912-1989) interpreta o oficial francês que discute com o oficial alemão por causa de Yvonne.

Alberto Morin foi educado na França e falava francês, motivo pelo qual interpretou o oficial francês que discute em francês com Madeleine LeBeau (Yvonne).

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Alberto Morin interpretou Rene Picard na seqüência do bazar em E O Vento Levou (1939) e o bartender em Tarde Demais para Esquecer (An Affair to Remember, 1957).

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O mexicano George J. Lewis (1903-1995) interpreta o vendedor árabe, com o macaco.

George J. Lewis ficou imortalizado como Don Alejandro de la Vega, pai de Don Diego de la Vega no seriado Zorro (1957-1961) interpretado por Guy Williams (1924-1989).

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Lou Marcelle (1909-1994) é o narrador da introdução do filme.

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Lou Marcelle fez narração em duas dezenas de filmes na década de 1940.

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Curiosidade: as incorreções do filme

1) Nos créditos no início do filme aparece S. K. Sakall quando o correto seria S. Z. Sakall (que faz o garçom Carl);

2) Quando o Capitão Renault e Rick Blaine estão sentados em cadeiras conversando perto da entrada do Rick’s Café Américain, há um erro de continuidade, pois não há garrafa, mas depois ela aparece sobre a mesa;

3) Enquanto Rick Blaine lê o bilhete de Ilsa Lund, entregue por Sam na cena da estação de trem, sua capa e seu chapéu ficam molhados, mas, em seguida, há um erro de continuidade, pois Rick Blaine embarca totalmente seco no trem;

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4) Durante a cena do flashback, Rick Blaine está abraçado com Ilsa Lund e dirigindo um carro com a direção do lado direito (seria um carro inglês em Paris?); provavelmente a cena foi gravada assim, pois Ingrid Bergman pedia para gravar sempre cenas com seu lado mais fotogênico do rosto que era o lado esquerdo;

5) Quando Rick Blaine conversa com o Signor Ferrari no bar The Blue Parrot, a garrafa em cima da mesa é fechada com a tampa, mas em seguida aparece sem a tampa;

6) Quando Rick Blaine conversa com Carl após o bar ser fechado pelo Capitão Renault, os óculos de Carl estão em sua testa, mas quando se dá o close já estão em seus olhos;

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7) Quando Ilsa Lund fecha a persiana do quarto do hotel, antes de sair para encontrar-se com Rick Blaine para conseguir as cartas de trânsito, ela aparece sendo fechada enrolando-se (vista de fora pela janela), mas como descendo reto sem enrolar-se (vista de dentro do quarto);

8) Na cena final em que o Major Strasser desce do carro e dirige-se ao telefone para ligar para a torre de controle a fim de impedir a decolagem do avião10, o sobretudo está sem as dragonas,

mas depois ele está com as dragonas no sobretudo quando é baleado e cai morto no chão;

10 A cena final foi gravada em estúdio, pois por motivos

de segurança não se podia utilizar aeroportos à noite para filmagem durante a Segunda Guerra Mundial. O avião Lockheed Model 12 Electra Junior era na verdade uma maquete e anões atuaram como mecânicos. A cena foi filmada com bastante fumaça para parecer névoa.

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9) A bandeira do Marrocos é na verdade toda vermelha com uma estrela verde de cinco pontas ao centro11,

mas no filme aparece como a bandeira tricolor francesa com a lua crescente e uma pequena estrela verde de cinco pontas12; é

possível que o erro tenha sido intencional para realçar a vinculação da ficção com a realidade de ser protetorado francês;

10) Não havia carta de trânsito em Casablanca e, mesmo se houvesse, a assinatura de Charles De Gaulle (1890-1970) de nada adiantaria, pois ele havia sido condenado a prisão perpétua, à revelia, em corte marcial conduzida pelo governo de Vichy, e o representante do governo francês para o Norte da África

11http://www.crwflags.com/fotw/Flags/ma_fr.html 12

http://www.crwflags.com/fotw/Flags/ma_fr.html#cblan ca

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passara a ser o general Maxime Weygand (1867-1965);

11) Não havia tropas alemãs uniformizadas em Casablanca durante a Segunda Guerra Mundial;

12) A rota mais utilizada para a fuga da Alemanha era por Viena, Praga, Paris e depois Londres. A rota citada no filme Casablanca realmente existiu, mas na realidade foi muito pouco utilizada por refugiados durante a Segunda Guerra Mundial.

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10 Frases Eternas em Casablanca

Ilsa Lund (Ingrid Bergman):

"Play it, Sam. Play As Time Goes By."

Rick Blaine (Humphrey Bogart):

"I remember every detail. The Germans wore gray, you wore blue."

Rick Blaine (Humphrey Bogart):

""We'll always have Paris."

Ilsa Lund (Ingrid Bergman):

"Kiss me. Kiss me as though it were the last time."

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Rick Blaine ( Humphrey Bogart ):

"If that plane leaves the ground and you're not on it, you'll regret it. Maybe not today. Maybe not tomorrow. But soon and for the rest of your life."

Rick Blaine ( Humphrey Bogart ):

"Ilsa, I'm no good at being noble. But it doesn't take much to see that the problems of three little people don't amount to a hill of bean in this crazy world."

Rick Blaine ( Humphrey Bogart ):

"Here's looking at you, kid."

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Capitão. Louis Renault ( Claude Rains ):

"Because my dear Ricky, I suspect that under that cynical shell you’re at heart a sentimentalist."

Capitão Louis Renault ( Claude Rains ):

"Major Strasser has been shot. Round up the usual suspects."

Rick Blaine ( Humphrey Bogart ):

"Louis, I think this is the beginning of a beautiful friendship."

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Parte II:

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Umberto Eco e a Semiótica em Casablanca

Umberto Eco (1932-2016) escreveu uma importante análise semiótica13 sobre

Casablanca. Ele considera que o filme trabalha com arquétipos 14 que

frequentemente reaparecem em narrativas e que desempenham uma vaga sensação de dèjá vu: situações em que se tem a impressão de já ter visto ou vivido.

O filme permanece em nossa memória como um todo, pois apresenta não apenas uma ideia central, mas sim várias e isso o torna um Clássico do Cinema. A semiótica parte da análise: de estrutura

13 O paper “Casablanca: Cult Movies and Intertextual

Collage” foi apresentado por Umberto Eco no Simpósio “Semiotics of the Cinema: The State of the Art”, em Toronto, no Canadá, em 18 de junho de 1984.

14 O uso feito por Umberto Eco não tem nenhuma

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comum (common frame) que é a situação estereotipada, sequência de ações codificadas do dia a dia como, por exemplo, jantar no restaurante ou ir à estação de trem; de estrutura intertextual (intertextual frame) que é a situação estereotipada baseada em conhecimento prévio como o duelo entre o xerife e o bandido ou em narrativa onde o Herói ganha ao enfrentar o Vilão, ou ainda como o suspeito que escapa de um posto de controle e é baleado pela polícia. Além disso, há a iconografia estereotipada como o Nazista Mal (Evil Nazi) que pode desenvolver uma estrutura intertextual.

O filme Casablanca15 tem início com uma música africana (gênero de filme de

15 A montagem da abertura do filme foi feita por Don

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aventura) e depois muda para a Marselhesa (gênero de filme patriótico). Em seguida, sobre a imagem do globo, uma voz sugere uma reportagem (gênero de jornal cinematográfico) descrevendo a Odisséia de Refugiados e a rota Casablanca-Lisboa (gênero de Intriga Internacional).

Casablanca é a cidade que representa o Último Posto Avançado no Fim do Deserto. O Rick’s Café Américain incorpora a visão da Legião Estrangeira perto do Grande Hotel para onde pessoas vêm e vão e nada acontece. Há o Inferno do Jogo em Macau ou Singapura (mulheres chinesas) e o Paraíso dos Contrabandistas neste café, onde tudo pode acontecer: amor, morte, perseguição, espionagem, jogos de azar, sedução, música, patriotismo. Há a Time, jornal cinematográfico que era narrado por

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tentativa de fuga e a prisão de Ugarte (filme de ação) depois aparece o agente norueguês Berger (filme de espionagem). Pétain (Vichy) versus a Cruz de Lorena representam a oposição entre colaboracionismo e resistência (filme de propaganda de guerra). Victor Laszlo e Ilsa Lund – o Herói Incontaminável e a Mulher Fatal (ambos de branco) em contraste com os alemães que normalmente estão de preto e o casal é apresentado ao major Strasser que se apresenta de branco para reduzir a oposição visual. Ilsa e Strasser representam a Bela e a Fera. Depois que o café é fechado à noite, pouco antes do flashback, Sam e Rick Blaine estão sozinhos. Eles são o Servo Fiel e seu Amado Mestre (Dom Quixote e Sancho Panza).

No início do filme, Rick Blaine aparece como sinédoque (sua mão) e

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metonímia (seu cheque). A sua personalidade complexa aflora como O Aventureiro, o Self-Made Businessman (dinheiro é dinheiro), o Homem Inflexível (Tough Guy) de filme de gangster, Nosso Homem em Casablanca (Intriga Internacional), o Cínico Sedutor (despreza Yvonne) e o Herói Hemingwayano (pois ajudou tanto etíopes como espanhóis contra o fascismo). O fato de não beber representa um problema, mas o flashback ajuda a introduzir o Amante Desiludido que se transforma no Amante Desesperado (Beber para Esquecer) para no fim ser o Bêbado Redimido. O Flashback representa O Poder da Memória para recordar o Encontro Breve (com Ilsa Lund) na Última Vez que Vi Paris.

Rick Blaine representa o Diamante Áspero: permite que o casal búlgaro

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obtenha o dinheiro necessário para os vistos de saída após ele ser ríspido com Annina Brandel; permite a execução da Marselhesa após ser ríspido com Victor Laszlo e negar a venda das cartas de trânsito; descobre que o Amor é para Sempre depois de dizer que Ilsa poderia atirar nele. Há a quinta essência do Drama na figura do Clímax depois de todos os anticlímax.

Casablanca-Lisboa significa a Passagem para a Terra Prometida. Casablanca representa a Porta Mágica. Entretanto, para fazer a passagem deve-se submeter a um Teste. Há a Longa Espera do Purgatório. A Chave Mágica é a carta de trânsito. O Capitão Renault encarna o Guardião da Porta que deve ser conquistado pelo Presente Mágico (dinheiro ou sexo). A Chave Mágica não é comprada pelo

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dinheiro, pois é dada como Presente (recompensa pela Pureza). O Dono (da Chave) é Rick que dá dinheiro (de graça) para o casal búlgaro e ele também dá as cartas de trânsito (de graça) para Victor Laszlo. A Roleta de Vida ou Morte (Roleta Russa que devora fortunas e pode destruir a felicidade do casal búlgaro – Epifânia da Inocência).

Ao se sacrificar, Rick Blaine consegue a Redenção. Os impuros não vão para a Terra Prometida (a América), mas para a Resistência (Rick e Renault) visando a Guerra Sagrada (Holy War) que é um glorioso Purgatório. Victor Laszlo vai para o Paraíso por ter sofrido com a clandestinidade. O avião é o Cavalo Mágico (na cena final há inclusive um emblema do cavalo Pegasus no avião).

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A ideia de sacrifício perpassa todo o filme: o sacrifício de Ilsa Lund em Paris quando ela abandona o homem que ama para voltar para o Herói Ferido; a jovem búlgara decidida a se sacrificar para ajudar o marido; o sacrifício de Victor Laszlo que está resignado a ver Ilsa Lund e Rick Blaine juntos a fim de garantir a segurança dela.

O Amor Infeliz é arranjado em triângulo16. Normalmente há o Marido

Traído e o Amante Vitorioso. Neste caso, ambos os homens são traídos e sofrem uma perda. Todavia, há um elemento subliminar (Amor Platônico) nesta derrota que escapa do nível da consciência, pois Rick admira Victor, este é ambiguamente atraído pela personalidade de Rick: ambos chegam ao

16 Ilsa Lund aparece no meio de Victor Laszlo e Rick

Blaine em várias cenas reforçando a ideia de triângulo amoroso na trama do filme.

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extremo de um duelo de sacrifício próprio em prol do outro. Como no livro As Confissões de Rousseau (1712-1778), a mulher é o intermediário entre os Homens, um jogo de virilidade, dança de sedução em torno da Bela. A resolução se dá com o Sacrifício Supremo (que permite que Victor e Ilsa partam juntos) e, assim, ocorre a Redenção de Rick Blaine.

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A propaganda antinazista

Há claros elementos de propaganda antinazista no filme. A própria abertura do filme narrada por Lou Marcelle (1909-1994), que fez narração em duas dezenas de filmes na década de 1940, baseia-se na ideia de criar no espectador a verossimilhança com a realidade, como se fosse o cine jornal comum na época. Ao transportar a realidade para o campo da ficção busca-se trabalhar os elementos necessários na formação de um quadro amplo que permita uma análise da realidade com base em personagens fictícios. Ao criar a identificação do espectador com a realidade, o filme permite a construção do consentimento ativo (plano das ideias) e de um posicionamento pró-ativo (plano da ação), atingindo-se assim o objeto da propaganda antinazista.

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Logo no início do filme, um inocente tenta fugir, mas morre fuzilado junto a uma parede, onde há a imagem do Marechal Philippe Pétain (1856-1951), com a frase: Je tiens mes promeses meme celles des austres17. A câmera sobe e mostra uma bandeira tricolor e o lema da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade, Fraternidade). Portanto, há uma nítida crítica ao governo colaboracionista de Vichy e ao período da França Ocupada (1940-1944). O folheto retirado da mão do homem fuzilado apresenta a Cruz de Lorena, símbolo do movimento Free France (França Livre). Este mesmo símbolo aparece após a prisão de Ugarte no Rick’s Café Américain, quando Berger mostra o anel para Victor Laszlo: há novamente a identificação favorável à resistência que se opõe ao regime nazista.

17 I Keep my Promises, Just as I Keep The Promises of

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Quando o oficial francês e o oficial alemão brigam por Yvonne, Rick Blaine ainda tenta contemporizar, mas logo depois, após recusar vender as duas cartas de trânsito, a negação faz com que Victor Laszlo peça que a orquestra toque A Marselhesa se opondo ao hino patriótico alemão Die Wacht am Rhein, tocado ao piano, e, assim, não há mais como impedir um posicionamento pró-ativo com o duelo dos hinos.

Quando Rick Blaine recusa-se a vender as cartas de trânsito, ele é lembrado por Victor Laszlo que esteve do lado certo da luta ao apoiar a Etiópia contra a ocupação italiana e as Brigadas Internacionais contra o fascismo na Espanha. Já havia o consentimento ativo em prol da resistência e, no final, ao permitir que Victor Laszlo e Ilsa Lund embarquem no avião18, há a reveladora frase de

18 O prefixo F-AMPJ do avião que decola na cena final

parece codificar a mensagem: Freedom to Allied

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Victor Laszlo para Rick Blaine em favor dos Aliados: And welcome back to the fight. This time I know our side will win. Ao final do filme, o Capitão Renault atira a garrafa de água de Vichy e depois chuta o cesto de lixo, claramente engajando-se na luta ao lado de Rick Blaine (aliança franco-americano). Coincidentemente houve o apoio dos Estados Unidos e o reconhecimento da liderança das Forças da França Livre que ocorreu na Conferência de Casablanca, em janeiro de 1943, quando o filme Casablanca entrou em cartaz nos Estados Unidos.

Provavelmente o elemento de propaganda antinazista mais oculto no filme seja o de ter o desejo de ver o Coronel Strasser morto19 desde o começo do filme e

19

Quando o corpo dele é retirado aparece a placa do carro A452ML. Em química um gás ideal cujo volume inicial é de 452ml, sob pressão constante e sendo aquecido de 22ºC a 187ºC, aumenta para 705ml,

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ver este acontecimento com grande prazer ao final do filme. Logo no início da película, há a imagem do avião com o prefixo D-AGDF aproximando-se para aterrissar no aeroporto. A frase Death to Acting Great Dictador Führer seria uma mensagem subliminar? O prefixo do avião D-AGDF parece um epitáfio para um caixão pousando na pista do aeroporto. Após o avião taxiar e parar, com a imagem congelada do filme pode-se ver claramente uma pequena bandeira com a suástica nazista ao lado da porta do avião e outra bandeira bem maior no leme do avião. Além disso, quando o Coronel Strasser desce do avião, há a saudação nazista ao seu ajudante de ordens, o Capitão Heinze, bem abaixo das letras GDF que estão na asa do avião. Vale lembrar que dois anos antes do filme

ocorrendo uma mudança. Deixo em aberto ao leitor a interpretação disso em meio à névoa da cena final.

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Casablanca, havia sido produzido o magnífico filme O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940) de Charles Chaplin (1889-1977). Portanto, as letras GD já estavam no imaginário coletivo e, portanto, coladas à figura de Hitler. O filme Casablanca acrescentou o F (de Führer) nesta cena e, assim, de maneira inconsciente já se quer a morte do nazista que está atuando no lugar de Hitler, naquele lugar distante na ficção da cidade de Casablanca do filme, mas próxima para analisar-se a realidade.

As filmagens de Casablanca iniciaram-se em 25 de maio de 1942. Coincidentemente o Comandante Nazista Reinhard Heydrich (1904–1942) sofreu um atentado realizado pela resistência checa, em Praga, em 27 de maio de 1942, sendo que, uma semana depois, veio a falecer em 4

Referências

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