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DECISÃO HABEAS CORPUS Nº /PR

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Academic year: 2021

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HABEAS CORPUS Nº 5000959­09.2015.404.0000/PR

RELATOR

: JOÃO PEDRO GEBRAN NETO

PACIENTE/IMPETRANTE : Alessi Cristina Fraga Brandão

ADVOGADO

: Alessi Cristina Fraga Brandão

PACIENTE/IMPETRANTE : NESTOR CUNAT CERVERO

ADVOGADO

: Alessi Cristina Fraga Brandão

: EDSON DE SIQUEIRA RIBEIRO FILHO

PACIENTE/IMPETRANTE : BENO FRAGA BRANDÃO

ADVOGADO

: Alessi Cristina Fraga Brandão

IMPETRADO

: Juízo Federal da 13ª VF de Curitiba

MPF

: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

DECISÃO

Trata­se  de  habeas  corpus  impetrado  por  Edson  Ribeiro  e  outros  em  favor  de

NESTOR  CUÑAT  CERVERÓ,  em  face  de  decisão  proferida  em  plantão  judicial  pelo  Juiz

Federal  Marcos  Josegrei  da  Silva  que,  nos  autos  do  Pedido  de  Quebra  de  Sigilo  de  Dados  nº

5086273­06.2014.404.7000/PR,  relacionado  à  denominada  'Operação  Lava­Jato',  determinou  a

prisão preventiva do paciente (evento 11).

Sustenta  a  defesa,  em  síntese,  que:  (a)  a  autoridade  coatora  foi  induzida  em  erro

pelo  Ministério  Público  Federal,  partindo  que  premissas  falsas  e  que  não  condizem  com  a

realidade do caso; (b) os muitos e concretos elementos de convicção que apontam a participação

do paciente nos crimes investigados, restringem­se a declarações de Paulo Roberto Costa e Júlio

Carmargo  em  delação  premiada;  (c)  os  delatores  não  indicam  as  provas  de  participação  do

paciente  nos  crimes  investigados;  (d)  a  autoridade  coatora  firmou,  antes  de  estabelecido  o

contraditório, juízo de convicção acerca da participação do paciente em supostas irregularidades

na compra da refinaria de Pasadena/USA; (e) a simples transferência ­ não realizada, registrou ­

de  valores  de  fundo  de  previdência  privada,  não  caracteriza  desejo  claro  de  não  se  sujeitar  à

aplicação da lei penal; (f) os valores abaixo do mercado, declarados nas transações imobiliárias,

possuem  respaldo  no  regulamento  do  Imposto  de  Renda  que  não  permite  a  reavaliação  de

imóveis,  sob  pena  de  tributação;  (g)  apesar  de  possuir  nacionalidade  espanhola,  optou  por

retornar  ao  Brasil  para  enfrentar  a  ação  penal  na  qual  é  réu;  (h)  a  autoridade  coatora  não

fundamentou  o  decreto  prisional  em  fatos  concretos  e  individualizados;  (i)  a  decisão  que

decretou a preventiva é genérica; (j) inexistem razões para a decretação da prisão preventiva do

paciente. Postulou o deferimento de liminar e, ao final, a concessão da ordem.

É o relatório. Passo a decidir.

1. Da prisão preventiva

A Constituição Federal estabelece, no inciso LVII do artigo 5º, que ninguém será

levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.

No sistema jurídico brasileiro, a liberdade é a regra e a prisão processual é a exceção.

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Com  tal  norte,  o  legislador  infraconstitucional  garantiu,  por  meio  da  prisão

preventiva,  a  possibilidade  de  supressão  da  liberdade  durante  o  curso  da  investigação  ou  do

processo criminal, como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da

instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência

do crime e indício suficiente de autoria. Tal medida encontra previsão no art. 312 do Código de

Processo Penal:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.

Por  certo,  trata­se  de  medida  rigorosa,  excepcional,  mas  justificável.  Para  a

decretação da prisão preventiva, é imprescindível que o delito esteja materializado e que existam

indícios de autoria, acrescidos de um de seus fundamentos: risco à ordem pública, à instrução ou

à aplicação da lei penal.

A par disso, a lei não estabelece que nível de prova dos pressupostos é necessário

para  a  decretação  da  prisão  cautelar,  mas  é  certo  que,  em  se  tratando  de  decisão  proferida  em

cognição sumária, não é possível aqui exigir prova cabal da responsabilidade criminal.

2. Da decisão que decretou a prisão preventiva

A  decisão  que  determinou  a  segregação  cautelar  encontra­se  suficiente  e

adequadamente  fundamentada,  havendo  prova  da  materialidade,  indícios  suficientes  de  autoria

para sua decretação. Confira­se:

O investigado NESTOR CUNAT CERVERÓ figura como réu nos autos da ação penal nº 5083838­ 59.2014.404.7000  pelas  práticas  dos  crimes  de  corrupção  passiva  e  de  lavagem  de  dinheiro (artigo 317, caput e par. 1º c/c artigo 327, parágrafos 1º e 2º, por 2 (duas) vezes, em concurso material (art. 69), todos do Código Penal; e artigo 1º, incisos V, VI e VII, da Lei nº 9.613, por 64 vezes, em concurso material). A denúncia, oferecida em 14/12/2014, foi recebida pelo Juízo em 17/12/2014,  porque  ele,  na  condição  de  diretor  internacional  da  Petrobrás,  teria  dado  causa  ao oferecimento  de  'propina'  no  valor  de  USD  53  milhões  cuja  entrega  fora  intermediada  por Fernando  Antonio  Falcão  Soares,  o  'Fernando  Baiano',  bem  como  por  lavar  o  correspondente dinheiro sujo. Adicionalmente, está sendo investigado nos autos de nº 5072825­63.2014.404.7000 pela prática de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro, também realizada quando era Diretor da Área Internacional da Petrobras. Há, ainda, em trâmite investigação que o vincula à compra da Refinaria de Pasadena, situada no Texas, Estados Unidos, na qual houve prejuízos de grande magnitude à Estatal. Há informação prestada por Paulo Roberto Costa de que houvera, também, pagamento de 'propina' nessa transação, não se podendo olvidar de que CERVERÓ, na condição de  diretor  da  área  internacional  da  companhia,  provavelmente  tenha  se  beneficiado  disso,  caso confirmado o tal pagamento indevido.

 Ou seja, há muitos e concretos elementos de convicção que apontam para sua participação ativa nos  crimes  acima  citados  e  que  tiveram  como  vítimas  diretas  a  companhia  e  seus  acionistas. Destaque­se, a título de exemplo, que em duas operações envolvendo a Petrobrás houve indícios suficientes  para  o  recebimento  da  denúncia  que  apontam  no  sentido  de  que  ele  tenha  sido diretamente  beneficiado,  juntamente  com  Fernando  'Baiano',  pelo  recebimento  de  vantagem indevida no total de USD 40 milhões!

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Conforme precisamente pontuado pelo MPF em sua manifestação, além das penas de privação de liberdade  buscadas  pela  acusação  nos  autos  da  ação  penal  já  instaurada  contra  NESTOR CERVERÓ  e  outros,  há  ainda  pedido  de  perdimento  do  produto  e  proveito  do  crime  (R$ 140.450.000,00 correspondentes ao valor em reais da  'propina' paga, e ressarcimento cumulativo no  valor  de  R$  156.350.000,00  pelos  danos  materiais  e  morais  causados  à  Petrobrás,  à Administração Pública e ao Sistema Financeiro).

Então,  a  tentativa  de,  tão­logo  ofertada  a  denúncia,  sacar  valores  expressivos  de  fundo  de previdência  privada  de  sua  titularidade  para  que  fossem  imediatamente  repassados  à  sua  filha, embora  alertado  pela  gerente  da  conta  bancária  de  que  incidiria  alíquota  tributária  de  quase 20%, conduta absolutamente pouco usual para qualquer investidor, mas altamente compreensível para  um  denunciado  nas  condições  acima,  indica  sim  o  desejo  claro  de  não  se  sujeitar  à aplicação da lei penal e manter a salvo o patrimônio que está sob sua titularidade. É nesse contexto que convém se atentar para o que consta também no RIF 14233 (EVENTO6). Nele o mesmo investigado, ainda em junho passado, quando se descortinavam os fatos no bojo da chamada operação LAVA JATO, se desfez, em favor de seus parentes, de quatro imóveis no Rio de Janeiro. Destes, um teve como valor declarado na transação R$ 160 mil e dois como R$ 200 mil. Ocorre que tais imóveis se situam na Rua Prudente de Morais, 1256, Ipanema, local em que o metro quadrado custa, em média, absurdos R$ 23.000,00 atualmente. Para se ter uma idéia, o valor de avaliação judicial feita sobre o apartamento 201 do mesmo edifício em 03 de junho de 2013 foi de R$ 2.366.925,81 (EVENTO9).

As  conclusões  que  decorrem  desses  fatos  são  evidentes  e  não  exigem  muito  esforço hermenêutico:  NESTOR  CERVERÓ,  ex  diretor  da  área  internacional  da  Petrobrás,  apontado pelo MPF em denúncia já recebida pela Justiça Federal como um dos principais articuladores e beneficiário  de  quantias  estratosféricas  a  título  de  'propinas'  pagas  por  fornecedores  da Petrobrás  em  troca  de  contratos  com  a  estatal,  ciente  de  que  corre  sério  risco  de  ser responsabilizado criminalmente, inclusive com o ressarcimento dos danos a que deu causa, vem tentando blindar seu patrimônio capaz de ser, a curto prazo, rastreado no país, transferindo­o a pessoas de sua confiança. Isso, evidentemente, sem falar nos valores que provavelmente mantém em depósito em contas offshore fora do país que ainda não foram possíveis de serem identificadas e rastreadas.

As  implicações  de  tais  condutas  são  graves  e  não  podem  ser,  em  hipótese  alguma, menosprezadas. Está­se diante, além da tentativa de salvaguardar o patrimônio para se furtar à aplicação da lei penal mediante operações simuladas, também, de novas práticas criminosas de lavagem de dinheiro, na medida em que se promove a ocultação de bens e direitos cuja origem, ao menos em parte, possui indícios de ser criminosa e a sua dissimulação novamente para que não  se  identifique  a  sua  titularidade  real,  inclusive  por  meio  da  atribuição  de  valores incompatíveis com o mercado imobiliário nas operações de transferências.

Ou  seja,  as  ações  levadas  a  cabo,  ATUALMENTE,  por  CERVERÓ  indicam,  a  um  só  tempo, disposição  clara  de  não  se  sujeitar  à  lei  penal  na  medida  em  que  pretende  evitar  uma eventual  apreensão  de  seu  patrimônio  e  valores  disponíveis  em  conta  no  Brasil,  bem  assim reiteração criminosa, uma vez que persevera na prática de ocultar e dissimular bens e direitos que  lhe  pertencem.  Mesmo  após  figurar  como  investigado  em  inquéritos  policiais  e  denunciado em  ação  penal  prossegue  sua  sanha  delitiva  e,  como  sugere  o  MPF  em  sua  promoção,  parece mesmo  não  enxergar  limites  éticos  e  jurídicos  para  garantir  que  não  sofra  as  consequências penais  de  seu  agir,  o  que  pode,  no  limite,  transbordar  para  fuga  pessoal  caso  perceba  a prisão como uma possibilidade real e iminente.

Se  é  verdade,  por  outro  lado,  que  ainda  não  se  conseguiu  rastrear  todo  seu  patrimônio  e  a respectiva origem dos bens que possui, não menos verdade é que, considerando­se tudo que já se logrou  apurar  em  termos  de  participação  que  teve  nos  valores  de  recebimentos  indevidos  nos contratos  da  Petrobrás,  a  mistura  de  ativos  lícitos  e  ilícitos  em  seus  bens  é  intuitiva ('commingling'). Ou seja, até os bens e direitos que, em um primeiro exame, parecem ter origem lícita  podem,  ao  fim  e  ao  cabo,  ser  objeto  dos  benefícios  que  o  dinheiro  sujo  proporciona,  na medida em que podem ser fruto, ao menos em parte, de financiamento indireto de valores obtidos

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à margem das disposições legais.

Certamente  a  quantidade  colossal  de  dinheiro  ilícito  que  recebeu  não  serviu  para  mera contemplação  dos  números  em  extrato  bancário  emitido  por  uma  agência  em  paraíso  fiscal.  O desfrute  é  a  consequência  lógica  de  quem  recebe  grandes  somas  de  dinheiro,  sejam  de  origem lícita ou ilícita. Para aqueles que o percebem indevidamente, existe sempre algum trabalho a ser feito  com  vistas  a  seu  branqueamento  ou  ocultação.  Talvez  por  aí  se  expliquem  aquisições  de imóveis em bairros nobres por valores nominalmente baixos, gastos expressivos em espécie ou pagamentos com cartões internacionais. Ou, mesmo, morar em um apartamento avaliado em R$ 7,5  milhões  de  reais,  de  propriedade  de  uma  empresa  offshore  (circunstância  reconhecida por CERVERÓ perante a CPMI da Petrobras).

A  questão  é  que,  em  um  cenário  de  fluxo  de  capitais  intenso,  acesso  a  qualquer  tempo  e  de qualquer  lugar  a  contas  em  offshore,  experiência  em  negociações  internacionais  e  vultosos pagamentos  de  propina  é  difícil  imaginar  que  esse  valores  espúrios  estejam,  em  sua  maioria, aplicados  no  mercado  financeiro  brasileiro  e  em  bens  registrados  em  nome  do  réu.  Portanto, sujeitos  a  controles  dos  órgãos  oficiais  nacionais.  Isso  torna  mais  complexa  a  questão  e  menos efetivas restrições tais como aquelas requeridas pela Autoridade Policial no EVENTO1.

Os fatos até agora constatados e descritos pela SR/DPF/PR e pelo MPF bem fornecem uma visão da  forma  como  NESTOR  CUNAT  CERVERÓ  vem  agindo  recentemente  diante  da  atuação  dos órgãos  de  persecução  criminal  e  da  Justiça  no  que  diz  respeito  a  ele  na  chamada  Operação LAVA  JATO.  E  indicam  como,  hoje,  se  movimenta  para  evitar  a  aplicação  da  lei  penal  e seguir  ocultando  bens,  direitos  e  valores  de  origem,  para  dizer  o  mínimo,  duvidosa.  Os  casos apontados, mesmo pelo montante envolvido ­ sensivelmente inferior ao que ele teria recebido a título de propina enquanto diretor da área internacional da Petrobrás ­, representam uma fração na  ocultação  de  bens  e  direitos,  cuja  constatação  foi  mais  facilitada  porque  foram  objeto  de eficiente fiscalização dos órgãos de controle e porque a transferência se deu para pessoas muito próximas.  Porém,  certamente  muito  mais  do  que  isso  pode  o  réu  fazer  com  este  intuito  ­ certamente  já  o  está  fazendo,  e  até  agora  com  sucesso  ­,  dificultando  cada  vez  mais  a  atuação dos órgãos de fiscalização, ou mesmo a inviabilizando. Tudo com o intuito de evitar a perda do montante indevidamente percebido em favor da empresa lesada, da Administração Pública e do Sistema  Financeiro  Nacional,  especialmente  após  ter  uma  denúncia  contra  si  já  recebida  em 17/12/2014.

Assim,  na  linha  do  que  sustentou  o  Ministério  Público  Federal,  'não  se  vislumbra  outra  medida que não a prisão preventiva que possa impedi­lo de praticar novos crimes, tendo acesso a bancos e  a  computadores  conectados  à  internet.  Transações  financeiras  que  lavam  dinheiro,  ocultam rastro  de  ativos  e  escondem  do  Estado  brasileiro  o  dinheiro  sujo,  sem  envolver  terceiros  na prática de seus próprios crimes, podem ser feitos com um simples clique do computador'. Diante disso, considero presentes os requisitos previstos no art. 312 do CPP, consubstanciados na garantia da ordem pública, da ordem econômica e para assegurar a aplicação da lei penal e DECRETO A PRISÃO PREVENTIVA de NESTOR CUNAT CERVERÓ.

Ao contrário do que sustenta a defesa, a decisão que determinou a segregação não é

genérica, mas sim fundada em fatos concretos.

Com  efeito,  o  paciente  está  denunciado  por  fatos  relacionados  à  Operação  Lava­

Jato  e  a  atos  de  corrupção  havidos  na  Petrobrás,  cuja  denúncia  já  foi  recebida  pelo  MM.  Juiz

Federal  de  primeira  instância  em  17/12/2014  (Ação  Penal  nº  5083838­59.2014.404.7000,

distribuída em 14/12/2014).

É  importante  esclarecer,  também,  que  a  materialidade  e  indícios  suficientes  de

autoria a que se refere a decisão atacada, não se restringem à investigação que apura eventuais

ilícitos  na  compra  da  Pasadena/USA.  Há  pelo  menos  outros  dois  inquéritos  policiais  em

tramitação perante a Polícia Federal em Curitiba/PR, havendo indicativos da existência de um

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terceiro no Rio de Janeiro, além, claro, da própria ação penal já em tramitação.

Tal  circunstância,  por  si  só,  já  pressupõe  a  existência  de  justa  causa  para  a  ação

penal  e  aptidão  da  denúncia.  Nada  obstante,  tal  exame  não  tem  lugar  nos  estreitos  limites  do

presente habeas corpus, até porque não é ele o objeto da impetração, mas apenas a existência de

requisitos da prisão preventiva. Por isso, a existência de fato típico, a prova da materialidade e os

indícios  suficientes  de  autoria  devem  ser  entendidos  ­  para  este  exame  liminar  ­  como

demonstrados.

A rigor, a discussão reside na necessidade, ou não, de custódia cautelar do paciente.

Pois  bem,  da  peça  vestibular,  da  decisão  que  decretou  a  prisão  preventiva  e  do

pedido ministerial, constam os principais fundamentos para a restrição da liberdade.

O  réu  possui  dupla  nacionalidade,  viajou  para  o  exterior  com  a  família,  tendo

somente  ele  retornado  até  a  presente  data,  praticou  atos  de  dilapidação  do  seu  patrimônio

pessoal, notadamente tentativa de resgate de valores expressivos de fundo de previdência, além

de transferência de imóveis em valores bastante inferiores aos de mercado.

Anote­se  que  há  demonstração  de  efetiva  transferência  patrimonial  do  paciente

para terceiros (familiares), inclusive por valores muito inferiores ao de mercado. Ademais, se o

fato de o réu ter retornado para o Brasil pode ser indicativo, como assentado na exordial, de que

não  pretende  se  furtar  da  eventual  aplicação  da  lei  penal,  de  outro  lado,  pode  indicar  a

necessidade de regresso em face da continuidade dos negócios realizados de forma emergencial e

com prejuízos financeiros.

Não  passa  despercebida  a  possibilidade  de  transferência  de  elevada  soma  de

dinheiro,  talvez  para  o  exterior,  porquanto  não  há  informação  esclarecendo  se  houve  ou  não

retorno dos familiares do paciente da citada viagem a Londres. Se tal fato não é suficiente para

uma  medida  drástica,  dentro  do  contexto  em  que  está  inserido,  é,  no  mínimo,  sugestivo.

Especialmente  diante  da  intenção  do  paciente  de  promover  o  resgate  de  fundo  de  previdência

privada, mesmo com elevado desconto tributário, consoante relatório do COAF apresentado pela

instituição financeira (evento 1, anexo I, dos autos de origem).

Por mais que viajar ao exterior, sacar recursos de aplicação financeira, vender ou

doar  imóveis,  isoladamente  sejam  fatos  corriqueiros  para  qualquer  cidadão,  em  se  tratando  de

personagem  notoriamente  relacionado  a  fatos  ilícitos  e  de  grande  repercussão,  não  se  pode

ingenuamente isolar tais condutas e acreditar que agiu mediante motivações rotineiras.

Exatamente  no  momento  em  que  envolto  em  investigações  criminais,  é,  no

mínimo, estranho, que o paciente procure diminuir seu patrimônio pessoal e transferir aplicações

financeiras.

Além  disso,  embora  a  defesa  negue,  há  indicativos  de  que  o  paciente  possui

recursos  em  off  shore,  evidenciando  não  apenas  a  existência  de  recursos  no  exterior,  mas

também possíveis práticas de ilícitos de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Dado revelador

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disto é o apartamento onde reside ser de propriedade de off shore, cujo imóvel é o único bem no

Brasil, como destacado pelo Ministério Público Federal no pedido de prisão preventiva.

Possui  nítida  relevância,  aliás,  a  denúncia  oferecida  na  Ação  Penal  nº  5083838­

59.2014.404.7000,  na  qual  o  paciente  foi  denunciado  pelo  crime  de  lavagem  de  dinheiro,

capitulado  na  Lei  nº  9.613/98,  por  64  transferências  em  concurso  material,  além  de  corrupção

passiva.

De tudo isso, é inevitável concluir que, muito embora o paciente não figure mais

como Diretor Internacional da Petrobrás, o que dificultaria a persistência na prática de parte dos

delitos que lhe são até agora imputados, há sinais de que a prática delitiva não foi interrompida.

Sobre isso, transcrevo fundamento do Ministério Público Federal:

Não se pode compactuar que CERVERÓ continue a ocultar os valores e, assim, praticar crimes, sem  que  o  Estado  nada  faça.  Com  base  no  que  o  COAF  noticiou,  aliás,  o  que  é  reforçado  pela transferência  dos  apartamentos  noticiada  na  imprensa,  crê­se  que  CERVERÓ  fará  o  que  for necessário,  perdendo  dinheiro  inclusive,  para  manter  os  valores  a  salvo  do  alcance  do  Estado brasileiro.

Neste  item,  portanto,  revelaram­se  crimes  atuais  e  recentes  praticados  por  CERVERÓ,  em continuidade à prática de lavagem de dinheiro denunciada. A continuidade desses crimes precisa ser obstada, o que justifica a prisão como medida excepcional.

8.  A  custódia  cautelar  é  necessária,  também,  para  resguardar  as  ordens  pública  e  econômica, diante da dimensão dos crimes e de sua continuidade até o presente momento, o que tem amparo em circunstâncias concretas ­ e não em mera alegação genérica de gravidade social.

Esses  pontos,  dentre  outros,  estão  a  justificar  a  custódia  preventiva  e  sua

manutenção, dados os graves riscos à ordem pública e à aplicação da lei penal.

3. Considerações finais

Em síntese, ainda que as circunstâncias em que realizados os negócios do paciente

­ como a urgência no resgate de aplicações e financeiras e na transferência de bens ­ possam ser

melhor  esclarecidas  no  curso  do  presente  habeas  corpus  ou  do  inquérito  policial  correlato,  as

razões  de  pedir  não  permitem  que  se  aponte,  de  plano,  o  desacordo  da  decisão  proferida  a

finalidade de estancar os atos de desfazimento patrimonial e assegurar a aplicação da lei penal,

nos termos autorizados pelo art. 312 do Código de Processo Penal.

Diante disso, ao menos em juízo perfunctório, comum às tutelas emergenciais, não

se  verifica  flagrante  ilegalidade  no  decreto  prisional,  capaz  de  atrair  o  deferimento  do  pedido

liminar, sendo imprescindível a requisição de informações ao juízo condutor da causa a respeito

das peculiaridades do caso, sobretudo porque deferida a custódia em plantão judicial.

Por fim, para não passar in albis, apesar de não haver pedido expresso de fixação

de medidas substitutivas à prisão, nada impede a análise de tal possibilidade pelo juízo da causa.

Nessa linha, a manutenção do encarceramento encontra guarida quando as medidas

cautelares  previstas  no  art.  319  não  se  mostrarem  suficientes,  diante  das  circunstâncias

(7)

desveladas  pela  natureza  e  circunstâncias  do  delito,  conforme  previsto  no  art.  282,  §  6º  do

Código de Processo Penal, in verbis:

 

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando­se a: (...)

§  6º  A  prisão  preventiva  será  determinada  quando  não  for  cabível  a  sua  substituição  por  outra medida cautelar (art. 319). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

 

Em casos como o presente, a negativa à substituição é acolhida pela jurisprudência

deste  Tribunal:  'A  prisão  preventiva  é  medida  adequada  e  necessária  para  frear  a  atividade

ilícita, diante da reiteração da conduta delituosa (habitualidade delitiva ou crime como meio de

vida),  diante  da  insuficiência  de  outras  medidas  cautelares  para  obstar  tal  prática'.  (TRF4,

HABEAS  CORPUS  Nº  5002073­17.2014.404.0000,  8ª  TURMA,  Juíza  Federal  SIMONE

BARBISAN FORTES, POR UNANIMIDADE, JUNTADO AOS AUTOS EM 25/02/2014).

 

Igualmente, 'justifica­se a adoção da prisão preventiva como forma de garantir a

ordem  pública,  em  face  do  risco  de  reiteração  criminosa'  (TRF4,  HABEAS  CORPUS  Nº

5029826­80.2013.404.0000,  7ª  TURMA,  Juiz  Federal  JOSÉ  PAULO  BALTAZAR  JUNIOR,

POR UNANIMIDADE, JUNTADO AOS AUTOS EM 15/01/2014).

 

Ante o exposto, indefiro o pedido liminar.

Intimem­se.

Requisitem­se  ao  juízo  de  origem  as  informações  necessárias  ao  julgamento  do

presente habeas corpus.

Após, independente de nova conclusão, dê­se vista ao Ministério Público Federal

para parecer.

Retornem conclusos.

Porto Alegre, 15 de janeiro de 2015.

Desembargador Federal João Pedro Gebran Neto

Relator

Documento eletrônico assinado por Desembargador Federal João Pedro Gebran Neto, Relator, na

forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº

17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no

endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do

código verificador 7300929v10 e, se solicitado, do código CRC D0BC7DAB.

Informações adicionais da assinatura:

Signatário (a):

João Pedro Gebran Neto

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