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PROCESSO: ConPag. Acórdão 3a Turma

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Academic year: 2021

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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

JUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Gab Des Jorge Fernando Gonçalves da Fonte Av. Presidente Antonio Carlos, 251 7o andar - Gab.40 Castelo Rio de Janeiro 20020-010 RJ

PROCESSO: 0160000-93.2003.5.01.0008 - ConPag Acórdão

3a Turma

Inexiste acumulação de emprego e cargo públicos quando o empregado de empresa municipal está em estágio experimental para cargo na Administração Direta Estadual, pois sequer havia ato de nomeação e tampouco posse no cargo pretendido, na forma do disposto no art. 2º e respectivos parágrafos do Decreto-Lei nº 220/75 - Estatuto dos Funcionários Públicos do Estado do Rio de Janeiro. Assim sendo, não há que se falar em violação ao princípio da inacumulabilidade, consagrado no art. 37, incisos XVI e XVII, da Constituição Federal.

Vistos estes autos de recurso ordinário em que figuram, como recorrente, GUARDA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO - GM, e, como recorrido, JOÃO CARLOS CASAIS.

RELATÓRIO

Recurso ordinário interposto pela consignante, às fls. 180/186, contra a r. sentença de fls. 165/167, proferida pela Exmª Juíza Dalva Macedo, da 8ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou improcedente o pedido.

A recorrente sustenta que o recorrido foi dispensado por justa causa, por ter acumulado indevidamente cargos públicos, pois teria acumulado o emprego público com estágio remunerado no DESIPE, o que importaria em violação ao art. 37, caput e incisos XVI e XVII da Constituição Federal.

Sem contrarrazões.

O Ministério Público do Trabalho, em parecer de autoria da Exmª Procuradora Regional do Trabalho Aída Glanz, opinou pelo desprovimento do recurso (fls. 191/194).

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V O T O

Conhecimento.

Estão presentes os requisitos de admissibilidade do recurso. O apelo é tempestivo, a parte está bem representada e não há necessidade de preparo, por se tratar de apelo da autora em ação de consignação em pagamento.

Conheço.

Mérito.

Dispensa por justa causa.

A consignante informou na petição inicial que o consignado foi admitido pela Comlurb em 1992, para exercer a função de vigilante, tendo passado a integrar o quadro da empresa pública por força de convênio, como Agente da Guarda Municipal. Todavia, em 2003 prestou concurso público para o cargo de agente de segurança penitenciária do Estado do Rio de Janeiro. Afirmou que convocou servidores com dupla matrícula para exercerem seu direito de opção, o que o consignado se recusou a fazer, razão pela qual foi dispensado por justa causa, sendo credor, apenas, de quantia correspondente ao reajuste salarial da categoria decorrente de acordo coletivo.

Nas razões de recurso, alega a consignante o acúmulo ilícito de emprego e cargo público, a teor do disposto no art. 37, XVI e XVII, da Constituição Federal.

Está comprovado nos autos (declaração da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, fl. 66) que o consignado estava em estágio experimental de um ano para o cargo de Agente de Segurança Penitenciária, na Administração Direta Estadual, no momento da sua dispensa por justa causa pela empresa pública municipal, ora recorrente.

No Estatuto dos Funcionários Públicos do Estado do Rio de Janeiro - Decreto-Lei nº 220, de 18 de julho de 1975 - consta expressamente a previsão de estágio experimental como uma das etapas do concurso público, conforme a nova redação dada pela Lei nº 1.820/91 ao item 3 do art. 2º:

“Art. 2º - A nomeação para cargo de provimento efetivo depende de prévia habilitação em concurso público.

§ 1º - O concurso objetivará avaliar:

(...)

3) desempenho das atividades do cargo, inclusive condições

psicológicas, mediante estágio experimental, ressalvado o disposto no § 11 deste artigo”.

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Registre-se que a ressalva prevista no final do dispositivo legal em questão refere-se à contratação de professor e de pessoal de apoio ao magistério, o que não é o caso dos presentes autos. E nos parágrafos seguintes contêm as normas específicas do estágio experimental, sendo que transcrevo abaixo apenas as pertinentes ao caso sub judice:

“§ 2º - O candidato habilitado nas provas e no exame de sanidade

físico-mental será submetido a estágio experimental, mediante ato de designação do Secretário de Estado, titular de órgão integrante da Governadoria do Estado, ou dirigente de autarquia e pelo prazo que for estabelecido, em cada caso, pelo Órgão Central do Sistema de Pessoal Civil do Estado.

§ 3º - A designação prevista no parágrafo anterior observará a ordem de classificação nas provas e o limite das vagas a serem preenchidas, percebendo o estagiário retribuição correspondente a 80% (oitenta por cento) do vencimento do cargo, assegurada a diferença, se nomeado afinal.

§ 5º - O candidato que, ao ser designado para o estágio experimental, for ocupante, em caráter efetivo, de cargo ou emprego em órgão da Administração Estadual direta ou autárquica ficará dele afastado com a perda do vencimento ou salário e vantagens, observado o disposto no inciso IV do art. 20 e ressalvado o salário-família, continuando filiado à mesma instituição de previdência, sem alteração da base de contribuição.

§ 6º - O candidato não aprovado no estágio experimental será considerado inabilitado no concurso e voltará automaticamente ao cargo ou emprego de que se tenha afastado, na hipótese do parágrafo anterior.

§ 7º - O candidato aprovado permanecerá na situação de estagiário até a data da publicação do ato de nomeação, considerada a mesma data, para todos os efeitos, início do exercício do cargo, ressalvado o disposto no parágrafo terceiro antecedente e no artigo seguinte.”

A respeito da diferença entre o estágio experimental previsto na legislação estadual e o estágio probatório estipulado na Constituição Federal, especificamente no art. 41, vale transcrever a ementa de v. acórdão do Tribunal de Justiça deste Estado, cujo relator foi o ilustre Desembargador Jessé Torres, encontrada em pesquisa realizada na página do Tribunal na rede mundial de computadores, especificamente no vínculo “Jurisprudência”:

“Pesquisa : ESTÁGIO E PROBATÓRIO E EXPERIMENTAL Processo : 2003.001.03126 ESTÁGIO EXPERIMENTAL

REINTEGRAÇÃO NO CARGO.

IMPOSSIBILIDADE.

1. APELAÇÃO. Ato administrativo. Anulação. Preliminar de cerceamento de defesa; inocorrência. Eliminação de candidatos que cumpriam estágio experimental, como fase integrante de concurso público para o provimento do cargo de agente de segurança penitenciária. Pleito de reintegração, como se servidores públicos

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fossem. Impossibilidade. Estágio experimental não se confunde com estágio probatório. No primeiro, encontra-se o candidato em concurso, ainda não habilitado, sem nomeação, nem posse. No segundo está o servidor, após habilitação no concurso, já nomeado e empossado. A eliminação, no primeiro, é conseqüência de avaliação de desempenho como etapa do concurso, não exigindo formalidade especial. A exoneração, no segundo, depende de processo administrativo com as garantias da defesa (STF, Súmula 21). Ato de eliminação hígido, cujos motivos foram apurados em sindicância acerca de fuga de preso, e submetidos ao critério discricionário da autoridade competente. Recurso desprovido.

Tipo da Ação: APELAÇÃO CÍVEL Número do Processo: 2003.001.03126

Data de Registro : //

Órgão Julgador: SEGUNDA CAMARA CÍVEL

Des. JESSÉ TORRES

Julgado em 21/05/2003"

Como se vê, trata-se de estágios diversos, sendo certo que no experimental inexiste sequer nomeação (§ 7º), tampouco posse do candidato. Por consequência, não há que se falar em investidura no cargo. O estagiário “experimental” não ocupa cargo público.

Segundo a lição de José Afonso da Silva:

“A investidura em cargo público é um procedimento administrativo complexo, que envolve várias operações sucessivas: realização de concurso, aprovação neste, nomeação na ordem de classificação, posse e entrada em exercício. Desta última é que começa a fluir o tempo de três anos para a aquisição da estabilidade.” (in Curso de Direito Constitucional Positivo, Malheiros Editores, 16ª ed.

- 1999, p. 676).

Assim, o estágio experimental é mais uma das tantas etapas do procedimento administrativo complexo para a investidura em cargo público, criado pela legislação estadual do Rio de Janeiro.

Em outras palavras, é certo que o recorrido não estava ainda investido, de forma efetiva, no referido cargo, pois não ocorreu ato de nomeação, mas apenas “ato de designação do Secretário de Estado” para o estágio (§ 2º). E tanto isso é verdade que o ato de nomeação só seria praticado após a aprovação do candidato, segundo o disposto no supramencionado § 7º, quando então o termo inicial do exercício no cargo ocorrerá a partir da data da publicação do ato:

“§ 7º - O candidato aprovado permanecerá na situação de estagiário até a data da publicação do ato de nomeação, considerada a mesma data, para, todos os efeitos, início do exercício do cargo ressalvado o disposto no parágrafo terceiro antecedente e no artigo seguinte” (acrescentei destaque).

Já se estabeleceu aqui, de forma bem nítida, que o recorrido não ocupava cargo público, em vista da sua condição de estagiário experimental, nos termos da lei e da melhor jurisprudência. Assim, é incontroverso que o recorrido

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exercia, simultaneamente, as funções inerentes ao emprego público de Agente da Guarda Municipal na recorrente e de estagiário experimental na Administração Pública Estadual. Portanto, fica afastada a hipótese de acúmulo de emprego e cargo públicos.

Acrescento que este estágio, por sua vez, previa remuneração no percentual de apenas 80% do valor para o cargo pretendido, conforme o disposto no § 3º do art. 2º do Estatuto dos Funcionários Públicos do Estado. Todavia, fica evidente que se trata de retribuição relativa ao estágio experimental, e não de vencimento referente ao cargo, bastando uma simples interpretação gramatical dos termos legais para se chegar a tal conclusão:

“A designação prevista no parágrafo anterior observará a ordem de classificação nas provas e o limite das vagas a serem preenchidas, percebendo o estagiário retribuição correspondente a 80% (oitenta por cento) do vencimento do cargo, assegurada a diferença, se nomeado afinal.” (sublinhei)

Desta forma, a segunda ilação que se extrai é que inexiste acumulação remunerada de emprego e cargo públicos, porque o valor percebido a título de retribuição do estágio não possui natureza de vencimento de cargo público. Neste aspecto, não há que se falar em violação ao incisos XVI e XVII do art. 37 da Constituição Federal:

"XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: (...);

"XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público;” (acrescentei destaques).

Vale ressaltar, ainda, que a previsão no art. 2º, § 5º, do Estatuto dos Funcionários Públicos do Estado do Rio de Janeiro - Decreto-Lei nº 220/75 -, quanto ao afastamento do cargo anteriormente ocupado na Administração Estadual, bem como em relação à perda do respectivo vencimento, não se aplica ao caso presente, porque o recorrido era empregado público municipal. Da mesma forma, a previsão de retorno ao cargo anteriormente ocupado na esfera estadual, em caso de reprovação do candidato no estágio experimental (§ 6º).

De tudo resulta que, no caso sub judice, não houve violação ao princípio constitucional da inacumulatividade, consagrado no art. 37, incisos XVI e XVII, da Constituição Federal, uma vez que o recorrido não ocupava cargo na Administração Estadual, por estar em estágio experimental, conforme previsão no respectivo diploma legal dos funcionários públicos.

A justa causa aplicada pela empresa pública realmente não se justificava.

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CONCLUSÃO

Pelo exposto, conheço e nego provimento ao recurso ordinário interposto pela consignante.

A C O R D A M os Desembargadores da Terceira Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, conhecer e, no mérito, negar provimento ao recurso ordinário interposto pela consignante, nos termos da fundamentação supra.

Rio de Janeiro, 25 de maio de 2011.

JORGE F. GONÇALVES DA FONTE Relator

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