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UMA RELAÇÃO ESPACIAL ENTRE MORTALIDADE E SANEAMENTO BÁSICO NO NORDESTE BRASILEIRO 1

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Academic year: 2021

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UMA RELAÇÃO ESPACIAL ENTRE MORTALIDADE E SANEAMENTO BÁSICO NO NORDESTE BRASILEIRO1

Joselito da Silveira Jr.2

RESUMO

Este trabalho foi realizado com o intuito de investigar como está se dando a relação entre a oferta dos serviços de saneamento básico com a mortalidade numa perspectiva temporal, com resultados dessa correlação em 2005 e 2015, mas principalmente espacial, agrupando por meio de análise de clusters as unidades da federação do nordeste brasileiro que possuem características semelhantes quanto ao comportamento da correlação dessas variáveis. Resultante deste processo é verificado que em alguns estados ainda possuem características de proporção inversa entre as variáveis de saneamento e mortalidade, e em outros, é necessário a inserção de variáveis socioeconômicas para uma análise mais adequada.

Palavras-chave: Mortalidade. Saneamento básico. Análise espacial.

INTRODUÇÃO

O saneamento básico entendido como o ato de tornar o ambiente em condições salubres para a vida humana por meio de um conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais (BRASIL, 2015) tem sua relação com a saúde por meio da salubridade do meio, que compreende as condições sociais e materiais que contribuem para melhor saúde possível (FOULCALT, 1979). Seria então o saneamento básico a base material de infraestruturas que permite este estado de salubridade e que influem nos índices de saúde, apresentando seus reflexos na mortalidade, um dos primeiros aspectos a serem percebidos interferências quando analisados com fatores relacionados a saúde, pois “altas taxas de mortalidade infantil refletem, de maneira geral, baixos níveis de saúde, de condições de vida e de desenvolvimento sócio-econômico” (PAIXÃO; FERREIRA 2012, p. 7).

Sabendo que o acesso aos serviços de saneamento básico se dá de forma desigual no tempo e no espaço (ARRETCHE, 2015; OLIVEIRA, 2008; PAIXÃO; FERREIRA, 2012; SOUSA; MAIA, 2004) essa pesquisa tem objetivo de investigar como está se dando a relação entre a oferta dos serviços de saneamento básico

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Trabalho apresentado no IV Seminário Nacional sobre População, Espaço e Ambiente, realizado nos dias 23 e 24 de Outubro de 2017, em Limeira, SP, nas dependências da FCA/UNICAMP.

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com a mortalidade, numa perspectiva temporal, com resultados dessa relação em 2005 e 2015, e espacial, com o agrupamento de estados com características próximas sobre essa correlação. Para isso investigamos essa possível reciprocidade do saneamento básico e a mortalidade, onde a evolução temporal e espacial do acesso aos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo são comparadas com as taxas bruta de mortalidade (TBM), taxas de mortalidade infantil (TMI) e óbitos, total (OT) e infantil (OI), geradas por doenças acarretadas por falta ou ineficiência de saneamento básico no Nordeste, em 2005 e 2015, afim de obter um agrupamento dos estados por condições semelhantes em detrimento do comportamento entre as variáveis por meio de análise de Cluster.

MATERIAISEMÉTODOS

Para alcançar os resultados desta pesquisa foram utilizados dados coletados em sistemas de governamentais oficiais, para os anos de 2005 e 2015, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Além de dados de população residente, essa mesma pesquisa também serviu para obtenção de dados referentes ao acesso aos serviços de saneamento básico, onde foi coletado dados da quantidade de moradores em domicílios particulares permanentes com: acesso à abastecimento de água pela rede geral; acesso a esgotamento sanitário na rede coletora; e acesso a coleta de lixo.

Os dados que complementam o cálculo para a TBM e TMI, foram obtidos no DATASUS, provenientes de uma série histórica das “Estatísticas Vitais - Mortalidade e Nascidos Vivos”. Para obter a relação dos óbitos totais e óbitos por doenças acarretadas por falta ou ineficiência de saneamento básico, foram selecionadas informações da seção “Epidemiológicas e Morbidade”, onde filtrou-se da CID-10 os seguintes Capítulos: I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias, IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas, IX. Doenças do aparelho circulatório, X. Doenças do aparelho respiratório, XI. Doenças do aparelho digestivo.

No tocante aos procedimentos estatísticos espaciais foram realizados no software Philcarto, por meio do processo de Classificação Hierárquica Ascendente (CHA), mais conhecida como análise de Cluster, para agrupar as unidades espaciais de acordo com suas semelhanças, e Análise Fatorial por meio da Análise de Componente Principal (ACP) para, além de agrupar as unidades espaciais em grupos diferentes de acordo com as características das variáveis analisadas,

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visualizar a disposição dessas variáveis de acordo com sua correlação com os eixos que representam os fatores.

RESULTADOSEDISCUSSÃO

No Brasil a mortalidade geral apresentou redução de 11,1% entre 1980 e 2000, contudo doenças acarretadas por falta ou ineficiência de saneamento básico ainda estão no ranking das principais causas de morte no país em 2000 (BRASIL, 2004). Neste mesmo período a mortalidade infantil teve significativa redução (MENDOÇA; MOTTA, 2005), e acentuada redução das causas associadas a fatores exógenos, o que caracterizou essa diminuição da mortalidade infantil em países como o Brasil (PAIXÃO; FERREIRA, 2012). Para Oliveira (2008) a associação da taxa de mortalidade infantil não ocorre mais de forma direta, como ocorria. A autora, que analisou dados de 2000 a 2006, apresenta a conjunção de fatores socioeconômicos, demográficos e atenção à saúde associados ao acesso aos serviços de saneamento básico, como provável resultante da queda da taxa de mortalidade infantil. No Nordeste brasileiro Souza e Maia (2004) também apontam para vários determinantes da mortalidade infantil, entre 1991 e 2000, mas conclui que o acesso a água tratada teve efeitos positivos para redução da mortalidade infantil e reforça a necessidade de políticas públicas que priorizem o acesso ao saneamento associadamente a outros setores.

A pesquisa aqui realizada expõe resultados fruto de um processo de análise multivariada, onde agrupou os estados do Nordeste em 3 grupos de acordo com a relação entre as variáveis analisadas, para os anos de 2005 e 2015, afim de averiguar se essa relação existe de forma direta, como existe (Figura 1).

No ano de 2005 o grupo em vermelho destaca-se por baixas taxas (em relação ao centro do perfil, ou seja, a média da relação entre as variáveis) de acesso aos serviços de saneamento básico, contudo os OI e a TMI estão acima da média, mostrando uma relação direta e com valores inversamente proporcionais entre essas variáveis nos estados do Maranhão, Piauí e Alagoas, mesmo que a TBM se comportando de maneira que oposta aos outros indicativos de mortalidade. Já em 2015 esse grupo permanece apenas com o Maranhão e Piauí e com maiores divergências entre o baixo acesso ao saneamento básico e os OI, TMI e agora também os OT, mostrando que nesses estados ainda temos uma relação direta entre o saneamento básico e a mortalidade infantil. O grupo em azul, que possui

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maioria dos estados nessa situação (Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Bahia e o Ceará em 2015) se caracteriza em 2005 por ter o acesso ao saneamento básico acima da média, porém as TBM e TMI também se destacam por estarem altas. Já em 2015 os OT, OI e TMI apresentam relação inversamente proporcional as taxas positivas de acesso ao saneamento básico, porém, como no grupo vermelho, a TBM se comporta de forma contrária aos demais indicativos de mortalidade.

FIGURA 1 – Análise de cluster do acesso ao saneamento básico e a mortalidade no

Nordeste

Fonte: Elaboração do autor.

No grupo verde, que em 2005 englobava o estado do Ceará e do Rio Grande do Norte, a relação em destaque é a baixa das TBM, OT, mas principalmente a TMI e OI em associação com os serviços de saneamento básico, porém nota-se a baixa taxa do acesso ao serviço de esgotamento. Dez anos depois, junto com o RN, agora Alagoas, se caracterizam ainda pela baixa no serviço de esgotamento, porém coleta de lixo acima da média, com apenas os OT dos indicativos de mortalidade estando positivo em relação à média.

Por fim as análises fatoriais por meio da ACP (Figura 2) mostra, quando analisado o eixo das abcissas (eixo que representa o fator com maior porcentagem da inércia absorvida) que a relação entre as variáveis analisadas apresenta maior distanciamento entre elas em 2015, com o comportamento inversamente proporcional entre as variáveis de saneamento básico e as de mortalidade. Podemos deduzir assim que quanto maior o acesso aos serviços menores são as taxas de mortalidade e vice-versa. Contudo, isso não ocorre com a TBM, que mais

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se aproxima das taxas de acesso ao saneamento básico e não possui essa relação inversa.

FIGURA 2 – Análise de componente principal, 2005 e 2015, respectivamente

CONCLUSÕES

O grupo que mais evidência uma relação de possível causa entre o acesso ao saneamento básico e a mortalidade é o vermelho, pois são onde apresentam maior distanciamento entre as próprias variáveis, contudo esse grupo possui pouca expressividade no Nordeste. O agrupamento com maior abrangência territorial é o azul, onde em 2015 mostra certa relação inversa entre as variáveis de saneamento básico e mortalidade, onde o acesso ao saneamento básico se apresenta maior que a média e a de mortalidade menor, porém isso ocorre de forma menos significativas em comparação ao grupo vermelho, ou seja, a relação entre as variáveis está mais próxima da média (centro do perfil). Verifica-se também, nesses dois grupos que a TBM acompanha o comportamento das variáveis de saneamento básico, não havendo relação inversa entre essas variáveis, o que fica evidente analisadas de forma geral na análise fatorial (Figura 2)

Conclui-se então que esta relação entre o acesso aos serviços de saneamento básico e a mortalidade se dá de formas diferentes no espaço e no tempo visto que “pode ser determinada por vários fatores, que variam de acordo com o lugar específico e o tempo” (PAIXÃO; FERREIRA, 2012, p. 7). Além disso essa relação exigir a inserção de outras variáveis, sobretudo para analisar a TBM, como fatores socioeconômicos que tem correlação tanto com o saneamento básico

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(FREITAS; MAGNABOSCO, 2017), quanto com aspectos demográficos, como a mortalidade (OLIVEIRA, 2008; PAIXÃO; FERREIRA, 2012; SOUSA; MAIA, 2004).

REFERÊNCIAS

ARRETCHE, M. Trazendo o conceito de cidadania de volta: propósito das desigualdades territoriais. In: ARRETCHE, M. (org.). Trajetórias das desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos. São Paulo, SP: Editora da UNESP, 2015. p. 193-222.

BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Manual de saneamento. 4. ed, rev. Brasília, DF, 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Evolução da mortalidade no Brasil. Brasília, DF, 2004. Disponível em: http://jornalggn.com.br/sites/default/files/documentos/capitulo3_sb.pdf. Acesso em: 18 jul. 2017.

FOULCALT, M. O nascimento da medicina social. In: FOULCALT, M. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro, RJ: Edições Graal, 1979. p. 46-57.

FREITAS, F. G.; MAGNABOSCO, A. L. Benefícios econômicos e sociais da expansão do saneamento no Brasil: Instituto Trata Brasil. [S. l.]: Brasil: Ex Ante Consultoria Econômica, 2017.

MENDONÇA, M. J. C.; MOTTA, R. S. Saúde e saneamento no brasil. Rio de Janeiro, RJ: IPEA, 2005.

OLIVEIRA, S. M. M. C. Mortalidade infantil e saneamento básico: ainda uma velha questão. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 16., 2008, Caxambu, MG. Anais... Belo Horizonte, MG: ABEP, 2008.

PAIXÃO, A. N.; FERREIRA, T. Determinantes da mortalidade infantil no Brasil. Informe Gepec, Toledo, PR, v. 16, n. 2, p. 6-20, 2012.

SOUSA, T. R. V.; MAIA, S. F. Uma investigação dos determinantes da redução da taxa de mortalidade infantil nos estados da Região Nordeste do Brasil. In: CONGRESO DE LA ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE POBLACIÓN-ALAP, 1., 2004, Caxambu, MG. Anais... Belo Horizonte, MG: ABEP, 2004.

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