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AS REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA

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Academic year: 2021

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ISSN 2176-1396

AS REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE

HISTÓRIA

Alessandra Kátia Vicrovski 1 - UFFS Adriana Salete Loos2 - UFFS Eixo – Didática Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

É indiscutível a utilização dos livros didáticos nas escolas, eles permitem uma melhor compreensão dos conteúdos por parte dos alunos, já que apresentam de forma simultânea imagens e textos que facilitam a apreensão dos conhecimentos. O problema é que em grande medida é o único instrumento didático utilizado pelos professores, o que torna necessária a discussão sobre a forma como os conteúdos são neles representados. O objetivo do presente trabalho é perceber como as questões de gênero são representadas (ou não) nos livros didáticos de História do Ensino Médio. Nos propomos a analisar as questões de gênero a partir das imagens e dos textos percebendo, de que forma a Mulher é representada. Para isso selecionamos oito coleções de livros através do Plano Nacional do Livro Didático do ano de 2015, validos até 2017. Utilizamos como metodologia para a realização do trabalho, pesquisa bibliográfica, documental e qualitativa de caráter exploratória-interpretativa, bem como a Análise de Discurso. Ao discutir as questões de gênero, estamos lutando por uma sociedade mais justa e de oportunidades iguais para ambos os sexos. Ao analisarmos os livros didáticos de História selecionados, chegamos à conclusão de que as questões de gênero são apresentadas apenas como meras informações. Os autores das coleções analisadas não propõem discussões sobre as desigualdades de gênero e poucas são as vezes que representam a mulher em forma de imagem ou texto. Considerando a importância do livro didático na formação de opinião e no processo de aprendizagem, o livro didático de História pode ajudar a construir representações sobre as questões de gênero, podendo modificar ou perpetuar preconceitos e estereótipos.

Palavras-chave: Livros didáticos. História. Gênero. Ensino Médio.

1 Graduanda do curso Licenciatura em História, da Universidade Federal da Fronteira Sul, na 9º fase. E-mail:

alle15vik@hotmail.com

2 PhD em Educação: Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Professora Adjunta da Universidade

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Introdução

Quando nascemos, somos sexualmente definidos como macho ou fêmea. Começa a partir daí uma construção social e cultural de nossa identidade de Homem ou Mulher. Nesse momento passa a ser definido, dependendo de nosso aparelho sexual, o que vamos vestir, como vamos nos comportar, quais profissões serão mais adequadas para nós, etc. Assim, somos inseridos dentro de cada papel esperado para cada sexo, e definidos em cada gênero.

O termo gênero estuda essas construções, bem como as diferenças entre homens e mulheres. Quando voltarmos nossa atenção aos livros didáticos de História podemos perceber como as questões de gênero estão presentes nesse material, e como por muitas vezes contribuem para a permanência das desigualdades entre os gêneros. Pois essas, são representadas como a sociedade dominante deseja, refletindo necessariamente na formação dos nossas alunos e alunas que durante o ano letivo inteiro terão em suas mãos um material que não discute sobre as desigualdades da nossa sociedade.

Representando os gêneros de forma desigual, os livros didáticos de História somente contribuem para a manutenção das desigualdades entre Homens e Mulheres, que por sua vez contribuem ainda para outras desigualdades sociais.

Esse trabalho faz parte da monografia de conclusão do curso de História na Universidade Federal da Fronteira Sul/ Campus Erechim, que está em andamento nesse ano de 2017. Ao desenvolvermos esse trabalho, se viu a oportunidade de apresenta-lo com alguns dos resultados já obtidos. Dessa forma, o trabalho está organizado da seguinte maneira, em um primeiro momento é realizada uma breve fundamentação teórica, em seguida é apresentada a metodologia do trabalho e por fim uma breve apresentação dos resultados já alcançados dentro das categorias construídas para análise.

1 Gênero e o Livro didático

Começamos explicando o que é Gênero, essa categoria como escreveu Joan Scott (1990), estuda as relações sociais e culturais que envolvem homens e mulheres. Sendo que, somos construídos através do que a sociedade dominante estabelece como homem e mulher, mas não inerte a mudanças. Somos rodeados de normas e valores, nossos gestos e comportamentos são cuidados para não fugirmos do que é coisa de mulher ou coisa de homem.

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Gênero é uma categoria de análise histórica, cultural e política, e expressa relações de poder, o que possibilita utilizá-la em termos de diferentes sistemas de gênero e na relação desses com outras categorias, como raça, classe ou etnia, e, também, levar em conta a possibilidade da mudança. (p.5)

A autora Louro (2008, p.18) nos fala que, “Nada há de puramente ‘natural’ e ‘dado’ em tudo isso: ser homem e ser mulher constituem-se em processos que acontecem no âmbito da cultura”.

O conceito de gênero surgiu para substituir a palavra mulher nos estudos históricos sobre as Mulheres, dando assim uma neutralidade para essas pesquisas. Segundo o autor Pelegrine (2012), o termo gênero recusa a simples substituição do termo mulher, ainda o autor:

Recusando o puro uso de gênero como substituto de mulheres, e como substituto simples das relações entre homens e mulheres, insere o poder e a política no conceito, de maneira a historicizar a própria ideia de relação entre os sexos, e recuperar a história da construção desta relação como arena de disputa política. (p.3)

Segundo Pinski (2011) o diferencial dos estudos sobre gênero é que eles não precisam necessariamente investigar a categoria mulher ou homem, pode ser estudado o significado atribuído a objetos e atitudes.

Assim, é possível compreender que os conceitos de Homem e Mulher são construídos nas relações de poder, e tomados como naturais. São construções que nascem da sociedade e da cultura, pois a todo momento somos “bombardeados” com regras de etiqueta, ditaduras de moda, como se comportar, etc. Tudo isso influencia no nosso modo de viver e em nossa identidade, segundo a autora Louro (2008),

A construção dos gêneros e das sexualidades dá-se através de inúmeras aprendizagens e práticas, insinua-se nas mais distintas situações, é empreendida de modo explícito ou dissimulado por um conjunto inesgotável de instâncias sociais e culturais. É um processo minucioso, sutil, sempre inacabado. Família, escola, igreja, instituições legais e médicas mantêm-se, por certo, como instâncias importantes nesse processo constitutivo. (p.18)

Portanto, Homens e Mulheres são construídos dentro do que se espera de cada um, para o autor FILHO (2004) em seu texto Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino se cruzam, “Não apenas as mulheres aprendem a ser femininas e submissas, e são controladas

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nisto, mas também os homens são vigiados na manutenção de sua masculinidade”. (2004, p.139).

Como somos construídos socialmente e culturalmente, os livros didáticos de História também sofrem influência dessas construções. Pois, os livros são escritos por homens e mulheres que estão inseridos em uma dada sociedade de diferentes culturas, que sofrem influências de fatores políticos, ideológicos e consuetudinários. O livro didático é um veículo de saberes, valores e também das questões de gênero.

O modo como os livros didáticos expõem as questões de gênero pode ou não perpetuar visões de mundo estereotipadas, tidas como naturais e verdadeiras. Assim ajudando a reproduzir representações sobre a Mulher como um “não sujeito da História”, que não produz História ou que ela não seja relevante. Dessa forma, é de extrema importância discutirmos sobre os livros didáticos e como eles apresentam as questões de gênero, bem como, são discutidas em sala de aula, quando o são.

Segundo Oliveira:

Percebe-se que a forma como o livro-didático é concebido e que assim se faz chegar às escolas, nada mais nada menos se constitui como um retrato das concepções de mundo imaginadas pelos membros da sociedade civil: preconceitos, tabus, usos e costumes, práticas e vivências são todos assim retratados pelo livro-didático. (OLIVEIRA, 2011, p.141)

Se as questões de gênero forem tratadas superficialmente pelos livros didáticos, continuaremos a reproduzir representações das mulheres em papeis já naturalizados pela sociedade dominante, como dona do lar, mãe e boa esposa. Não se dará dessa forma, um espaço para a Mulher se ver como sujeito histórico e que produz História.

Para nos ajudar a refletir sobre essa questão, chamamos a autora Cristiani Bereta da Silva (2007) segundo ela,

textos e imagens presentes nos livros didáticos apresentam práticas sociais que configuram como dadas, situações que envolvem sexo e gênero, naturalizando assim homens e mulheres em papéis normativos, inscrevendo-os como sujeitos a-históricos que atuariam na história a partir de atitudes e condições socialmente preestabelecidas. De modo geral, os livros didáticos utilizados nas escolas trazem apropriações persistentes de imagens que informam um “mundo” ainda bastante masculino, de raça branca, adulto, cristão, heterossexual; de grupos que vivem em cidades, de sujeitos que estão trabalhando, que são magros, sadios, entre outros padrões hegemônicos. (2007, p.229)

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O livro didático é um veículo de saberes, ideologias e valores, com que os/as alunos/as estarão em contato o ano letivo inteiro. É notável a importância que esse material possui, então, deve ser imprescindível as discussões sobre sua utilização e sobre os modos como expõem seu conteúdo.

Devemos lembrar que os alunos e alunas, que estarão em contato com os livros didáticos, possuem uma identidade cultural, uma opção sexual, religiões e etnias, diferentes muitas vezes, daquelas que estarão expostas nesse material pedagógico. O processo pedagógico, de construção de conhecimentos exige que haja identificação e reconhecimento dos (as) alunos (as) em relação ao conteúdo, para este faça sentido e lhes agregue saberes.

2 O percurso metodológico

O livro didático como material pedagógico tem um papel importante na sala de aula e na construção do (a) aluno (a). Pois ele é, um veículo de conhecimento, informações e também de ideologias. A partir desse conhecimento das funções que o livro didático possa tomar, nosso objetivo foi perceber e analisar como as questões de gênero são representadas (ou não) nos livros didáticos de História do Ensino Médio.

A metodologia desse trabalho se deu a partir de uma pesquisa documental e bibliográfica e de caráter exploratório interpretativo. Tomamos como documentos, as coleções dos livros didáticos de História do Ensino Médio, selecionadas a partir do PNLD 2015 e para a pesquisa bibliográfica alguns autores pertinentes ao tema.

Realizada a leitura das oito coleções dos livros didáticos de História, selecionamos as imagens e os textos com base nos critérios seguintes;

a) nas imagens: a presença ou não da mulher.

b) nos textos: perceber como a mulher era descrita nos diversos discursos, nos diferentes temas.

Após a seleção do material chegou-se a um número de 512 imagens e 188 textos no total. Posteriormente foram divididos nos períodos históricos: Pré-história, Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Contemporânea. Como a quantidade do material levantado ficou muito alta, optamos assim, por constituir um novo critério: identificar as informações convergentes, as idiossincrasias e o material que se repetia. Com base nesse novo critério selecionamos vinte imagens e vinte textos.

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Após a apresentação das imagens e dos textos nos períodos históricos, o material selecionado foi descrito3 dentro de categorias elaboradas em conjunto com a orientadora deste trabalho. Para a construção das categorias procuramos identificar aspectos comuns entre as imagens e entre os textos. Posteriormente foram construídas as seguintes categorias analíticas: “A mulher na família”; “A mulher no trabalho”; “A mulher nos diferentes movimentos da sociedade”; “A relação do Feminino e o Masculino”; “A mulher na política”; “A mulher e a religião”.

Assim com base no levantamento das convergências e idiossincrasias, procurou-se apresentar os discursos que se aproximam. Após o entrecruzamento4 das imagens e dos textos, passamos a realizar à análise do material com base na problematização: “As questões de gênero: diferenças ou desigualdades? ”

A análise das imagens e dos textos selecionados, foi realizada segundo o referencial teórico da Análise de Discurso. De acordo com Fiorin e Savioli (1996, p.14) o texto “não é um amontoado de frases, ou seja, nele as frases não estão pura e simplesmente dispostas umas após as outras, mas estão relacionadas entre si”.

A Análise de Discurso leva em consideração todo o processo em volta da produção do discurso, bem como, analisa a relação de quem escreve com quem lê. Sendo assim, a Análise de Discurso não pretende entender o significado dados as palavras dentro do discurso, mas sim, compreender sua utilização e seus efeitos. Percebendo a língua, a história e o sujeito por trás das imagens e dos textos, a Análise de Discurso trabalha com o sentido.

3. Expondo alguns resultados dentro das categorias analíticas

Ao analisarmos as imagens e os textos selecionados nos livros didáticos de História do Ensino Médio, chegamos à conclusão que os autores somente apresentavam informações sobre a situação das mulheres na sociedade. Não produzindo discussões acerca das questões de gênero. Para melhor exposição apresentaremos os resultados dentro de cada categoria analítica.

3.1 Breve exposição dos resultados

3 Devido ao limite de páginas estipulado para esse trabalho, não vamos descrever as imagens e os textos, apenas

apresentar alguns resultados da análise dentro de cada categoria.

4 Novamente, pelo fato do número de páginas deste trabalho serem limitadas, não vamos apresentar o

entrecruzamento das imagens e dos textos, apenas apresentar de forma breve os resultados obtidos dentro das categorias.

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A Mulher na Família

A conclusão que chegamos com a análise dessa categoria foi, o destaque que os textos e as imagens deram para o “papel” da Mulher dentro da família, que era o de ser uma boa mãe e boa esposa. Não são representados outros modelos de família, somente a heterossexual, pai, mãe e os filhos, como exemplo de família que deve ser seguido pela sociedade. Destacando sempre a figura feminina como mais sensível, predestinada a maternidade e aos cuidados da casa. Posteriormente passa a assumir maior destaque nas profissões ligadas a pedagogia, justamente pelo caráter “maternal”.

Quando exposto nos textos sobre a subordinação da Mulher, primeiramente ao pai e depois ao marido, os autores não discutem sobre essa forma de dominação das Mulheres. Sobre a constituição da sociedade sob princípios patriarcais, não constituindo reflexões sobre a constituição histórica e suas consequências sociais. Têm caráter muito mais informativo.

Os autores dos livros didáticos analisados também não discutem sobre a naturalização do “papel” da mulher de ser mãe, desse destino do feminino, nem sobre a divisão das obrigações para com os filhos. É tomado como natural se o homem não participar da educação do filho enquanto ele for o provedor financeiro da família.

A Mulher no Trabalho

Sobre a Mulher no trabalho, o que foi mais apontado pelos textos e as imagens foi a divisão sexual do trabalho. Mas, não houve discussões sobre como essa divisão reflete na vida cotidiana e na sociedade como um todo.

Do trabalho doméstico e a naturalização dele como uma característica da mulher nada foi problematizado. Não havendo discussões sobre a desvalorização dessa atividade, bem como, não houve propostas para discutir sobre a divisão do trabalho doméstico entre a mulher e o homem.

Tudo isso acaba por contribuir para a desvalorização do trabalho da Mulher, seja ele doméstico ou remunerado, fora de casa.

A Mulher nos diferentes movimentos da sociedade

Em algumas imagens selecionadas para essa categoria o que nos chamou atenção foi que a Mulher é sim representada nos movimentos sociais, mas com um filho ou uma filha, assim lembrando sempre de seu papel “natural” de mãe.

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Já referentes aos textos, o movimento social no qual as Mulheres aparecem como protagonistas, foi pelo sufrágio universal, a luta pelo seu direito de poder escolher seus representantes. Considerando a importância desses movimentos sociais na história e nas lutas pelos direitos, a não consideração da presença das mulheres parece torna-las sujeitos passivos, tanto na luta quanto no exercício de direitos sociais.

Outro ponto que nos chama a atenção e que merece ser discutido, é o fato de que nessa categoria- bem como nas outras- não há mulheres negras. Elas não são protagonistas de movimentos sociais e nem se discute ou é lembrado da sua história.

A Relação do Feminino e o Masculino

Quando foi analisada essa categoria, já no começo o que foi possível verificar que ela estava interligada com a categoria da Mulher na Família. Quando a Mulher era representada ao lado de um Homem, ela apareceu em sua maioria com uma criança no colo. Isso demonstra o processo histórico de submissão da mulher ao homem.

Nas imagens analisadas também podemos ver a diferença de como os dois sexos são representados. O Homem sempre forte, viril, com a cabeça erguida mostrando toda sua força física e moral. A Mulher em sua maioria olhando com admiração para o Homem, é representada um pouco menor e sempre atrás do homem. Não podemos afirmar qual a intenção dos autores em ilustrar seus livros didáticos com essas imagens, mas mesmo sem intenção, reproduzem uma construção social baseada na característica patriarcal e submissão da mulher ao homem. O problema está em não propor discussões a respeito dessa configuração, e se isso não for problematizado pelo professor, passará em branco e irá manter essa visão de mundo, onde cada sexo tem um papel, e que cabe ao Homem ser o líder e à Mulher aceitar as decisões.

A Mulher na Política

O que foi possível perceber dentro dessa categoria é que ainda as mulheres têm destinado a elas pouco espaço na política. Um ponto que mereceu destaque dentro da nossa análise foi, a ausência de discussões sobre a participação das mulheres na política. Em nenhum momento foi realizado uma discussão sobre quais são os fatores que fazem com que a mulher não participe da mesma forma do que os homens na política.

Sabemos que as questões de gênero são as principais consequências, e o papel submisso relegado a mulher, principalmente quanto ao acesso à educação e formação superior. Ainda é destinado as mulheres o papel de cuidar dos filhos e do trabalho doméstico.

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A Mulher na Religião

Não foram encontrados textos para essa categoria, apenas seis imagens. Em sua maioria, as mulheres são representadas em imagens de santas ou como deusas. Não é discutido sobre sua participação dentro das religiões, que é uma instituição que influencia muito a sociedade. Por vezes, é ela a responsável por impor valores machistas.

É possível então concluir que as representações da Mulher nas imagens como santas ou deusas, não as coloca de fato como sujeito ativo dentro da religião. As mulheres não aparecem como líderes de sua religião. Considerando que existem religiões em que as mulheres são as principais protagonistas.

As imagens estão envoltas pelas questões de gênero, pelo papel natural das mulheres, o de ser mãe. Pois as imagens tanto de santas, como por exemplo a da Virgem Maria ou da Deusa Tellus, são representadas com seus filhos no colo. Lembrando assim, do papel de mãe que a Mulher deve exercer.

Portanto a conclusão que chegamos, foi que os livros didáticos analisados apresentam apenas informações sobre a situação da Mulher. Informações que advém de determinadas concepções e correntes teóricas. Não há discussões sobre os papeis destinados e considerados naturais a esse sexo. Reforçando assim, os papeis pré-estabelecidos pela sociedade tanto para as Mulheres quanto para os Homens, pois como o sexo feminino é rodeado por regras e construções o mesmo acontece com o sexo masculino.

Considerações Finais

O papel que o livro didático desempenha na educação do nosso país é de extrema importância. Seja ele, como auxilio para o professor ou fonte de informação para o aluno. Consideramos dessa forma que, para uma boa escolha do material didático, depende do professor, de sua formação e de seu conhecimento sobre os mais diferentes conteúdos que serão trabalhados durante o ano letivo.

O livro didático deveria ser tomado pelo professor como um auxilio, no preparo e no decorrer de suas aulas. Mas na realidade sabemos que isso não ocorre de fato. A desvalorização dos professores, bem como da educação em nosso país, reflete na sala de aula. O professor se vê preso muitas vezes ao livro didático. Culpa de diversos obstáculos, que impedem ao professor ter acesso a outras fontes de pesquisas, como por exemplo: bibliotecas bem estruturadas com diversas obras. Fazendo com que o livro didático seja a única fonte de

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conhecimento, pesquisa e material didático, para o professor trabalhar com seus alunos em sala de aula.

Nos livros didáticos analisados, os autores somente trouxeram informações sobre a desigualdade entre os gêneros e sobre a situação histórica da mulher. No entanto, essas informações não ajudam de fato a discutir nem problematizar a situação histórica das mulheres, sendo que o planejamento desse material está envolto por questões sociais e culturais.

Segundo o autor Oliveira (2011),

Percebe-se que a forma como o livro-didático é concebido e que assim se faz chegar às escolas, nada mais nada menos se constitui como um retrato das concepções de mundo imaginadas pelos membros da sociedade civil: preconceitos, tabus, usos e costumes, práticas e vivências são todos assim retratados pelo livro-didático. (p.141)

Trouxemos esse autor para nos ajudar a discutir como os livros didáticos refletem a visão de mundo, as ideias e valores, dos autores que produzem esse material, e que acabam por manter intacta pré-conceitos de toda a sociedade.

O livro didático é um veículo de culturas, de valores, que irá ajudar a construir a consciência do/a aluno (a). Bem como, esse material ajuda a criar e manter uma identidade individual e nacional, não necessariamente deve por isso, deixar de trazer as diferentes formas de cultura e representações sociais existentes no mundo. Representando valores difundidos por uma cultura, que impõe valores como verdades para a sociedade, pode se tornar um reprodutor das representações de gênero naturalizadas, que se não forem discutidas se tornam um reprodutor de desigualdades de gênero.

Assim, é esperado do livro didático que ele esteja preparado para atender alunos e alunos de diversas idades, culturas, religiões, sexualidades, opções sexuais, classes e etnias. Para que o aluno e a aluna que tiver em mãos esse material possa se identificar com o que ali está apresentado, e que não se sintam excluídos e excluídas da História. O livro é um instrumento acessório, que auxilia o professor em sala de aula, não deve ser o único material a ser utilizado. Quando for utilizado, que se faça com consciência e responsabilidade. Que sua mediação sirva como elemento para introduzir discussões, que sejam posteriormente aprofundadas por outros materiais e dispositivos pedagógicos.

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Não se pode em nenhum momento subestimar a força que capacita ao livro-didático em disseminar valores, reafirmar posições, designar papeis e assim torná-lo como agente multiplicador cultural capacitado a ser objeto de ratificação de tudo que já está imposto socialmente. (p.146)

As mudanças que almejamos não ocorreram a curto prazo. Cabe ao professor (a), mediar discussões partindo dos livros didáticos. Para que o processo de construção do conhecimento e a conscientização aconteçam é preciso avançar. Tornando o conhecimento próximo a realidade dos alunos, fazendo com que percebam os sentidos daquilo que estudam para sua constituição enquanto ser humano e enquanto ser social. Os livros, por vezes, não estão preparados para atingir diferentes alunos e alunas, sobre as questões e gênero e suas desigualdades.

Informação sem discussão, somente reproduz diferenças entre homens e mulheres. Bem como, em relação a outros conceitos históricos como, de classes sociais, raças, etnias, religiões e opção sexual, que se tratam de questões polêmicas, que estão presentes no dia a dia dos alunos (as) e das escolas.

Os livros didáticos devem problematizar, a construção e a relação do masculino e do feminino, para que assim, possamos mudar a nossa sociedade. Pois, somente discutindo sobre as desigualdades podemos superá-las. Esse processo deve se dar a partir da educação e as nossas escolas e nossos professores são os principiais responsáveis pela geração dessas mudanças. Somente uma educação de qualidade poderá nos dar uma sociedade mais justa e democrática, na qual as desigualdades sejam exceção e não a regra.

REFERÊNCIAS

FILHO, Amílcar Torrão. Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino se cruzam. 2004, p.139

FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto. Leitura e redação. São Paulo: Ática, 1996. LOURO, Guacira Lopez. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-Posições, v. 19, n. 2 (56) - maio/ago. 2008.

OLIVEIRA, Wilson Sousa. A imagem da mulher nos livros didáticos e relações de gênero. ITABAIANA: GEPIADDE, Ano 5, V. 9.jan-jun de 2011.

PELEGRINE, Mauricio A. FOUCAULT, FEMINISMO E REVOLUÇÃO. Anais do XXI Encontro Estadual de História –ANPUH-SP - Campinas, setembro, 2012. p.3.

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PINSKY, Carla Bassanezi. Estudos de Gênero e História Social. Estudos Feministas, Florianópolis, 17(1): 159-189, janeiro-abril/2009.

SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 5-22, jul./dez. 1990.

SILVA, Cristiani Bereta da. O saber histórico escolar sobre as mulheres e relações de gênero e nos livros didáticos de história. Caderno Espaço Feminino, v. 17, n. 01, Jan./Jul. 2007.

Referências

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