Laboratório de Mediação Aplicada Trabalhando na comunidade escolar: a mediação como instrumento para o aprendizado de uma comunicação pacificadora

(1)

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

Laboratório de Mediação Aplicada

Trabalhando na comunidade escolar: a mediação como

instrumento para o aprendizado de uma comunicação

pacificadora

Auro Machado1

Cláudia Ernst Rohden2

Luciana Aranalde3

1. Introdução

Era uma segunda-feira, Mariana havia esquecido de levar seus lápis coloridos para a escola e, em uma das atividades, a professora solicitou que os alunos fizessem um desenho que caracterizasse a história que havia acabado de contar. Miguel, seu colega, que sentava ao seu lado, havia saído da sala para ir ao banheiro e, quando voltou, viu que Mariana estava usando seu material. Miguel ficou indignado e partiu para cima de Mariana, exigindo a devolução de seu material aos gritos e pontapés.

O caso apresentado é hipotético, mas a violência nas escolas é uma realidade e provoca a reflexão sobre as formas de estimular e construir uma cultura de paz na comunidade escolar. A preocupação a respeito do uso e de mecanismos para propiciar efetividade de uma comunicação não-violenta nesse universo é imperativa e exige participação e engajamento do corpo diretivo, docente, discente e de funcionários que atuam nas escolas. A cultura de paz está inserida em uma das metas da UNESCO, destacando a mediação nas escolas como instrumento de promoção de paz. A educação é um lugar privilegiado para se tecer uma nova forma de enfrentar o conflito com respeito, harmonia, empatia, verdade, ética, diálogo, solidariedade, comunicação

1_{Mestre, Centro Universitário Ritter dos Reis/Laureate Universities,}

auro_machado@uniritter.edu.br.

2_{Mestre em Filosofia e Ética Social, Centro Universitário Ritter dos}

Reis/Laureate Universities, claudia_rohden@uniritter.edu.br.

3_{Mestre, Centro Universitário Ritter dos Reis/Laureate Universities,}

(2)

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016.

produtiva, tolerância, dentre tantos outros benefícios que a mediação pode trazer. Os ensinamentos aprendidos na escola são levados para além dos paredes da instituição de ensino, para a prática na sociedade.

A escola é um local onde convivem pessoas com diversas características e aprendizados, sendo natural que as diferenças produzam dificuldades de relacionamento. Assim, fundamental, conhecer instrumentos capazes de facilitar o diálogo entre os pares, a fim de que possam gerir os conflitos adequadamente, possibilitando que o litígio seja visto como algo positivo, como algo capaz de provocar mudanças e crescimento.

Na mediação escolar, os mediadores são os integrantes da própria comunidade escolar que aprendem e se dispõem a resolver e administrar os conflitos nascidos dentro das instituições de ensino – de maneira a fazer sucumbir o modelo do ganha-perde (lógica binária) para o ganha-ganha. Todos saem vencedores e empoderados quando a resolução do conflito parte dos próprios envolvidos. A mediação permite a educação com valores e corrobora para o desenvolvimento de atitudes e agir construtivo do ser humano.

As pessoas necessitam da educação, para serem condescendentes, colaborativas e respeitosas. A mediação, por suas características intrínsecas, autoriza que as crianças e adolescentes, em fase de formação, acolham os valores elencados na mediação e cresçam praticando-os.

A mediação escolar surgiu por meio de estudiosos da resolução de conflitos. Heredia (1999, p. 35) refere que, nos Estados Unidos, na década de 70, iniciou-se um Programa de Mediação Comunitária que se expandiu para as escolas, visando ensinar os alunos a mediarem os conflitos com os colegas, levando em consideração que os conflitos são inevitáveis, que o aprendizado das habilidades da mediação é educativa e que os alunos têm condições de resolver seus conflitos de modo tão eficaz como os adultos. Busca, assim, estimular os estudantes a sanar seus problemas de maneira colaborativa e responsável, prevenindo conflitos.

A mediação escolar emerge como uma alternativa eficaz de tratamento dos conflitos junto à comunidade escolar, almejando construir relações mais consistentes e desenvolver comportamentos cooperativos e harmônicos na comunidade escolar. O objetivo do projeto é desenvolver uma cultura de paz no ambiente escolar e identificar os principais conflitos para, através do desenvolvimento dos métodos de mediação, harmonizar o relacionamento entre os elementos envolvidos, de forma a produzir um impacto positivo no ambiente escolar e, consequentemente, no processo de ensino-aprendizagem. O trabalho inicia seu desenvolvimento com a sensibilização da equipe diretiva e pedagógica da escola para, posteriormente, trabalhar diretamente com os professores. Oferece-lhes formação sobre o processo de mediação e sobre as técnicas para a abertura do diálogo com os envolvidos no conflito através de oficinas, cujo fim é fazê-los descobrir uma forma inovadora de se comunicar

(3)

positivamente com o outro. Durante o curso de capacitação dos professores, são propostas atividades lúdicas e contação de histórias, atividades a serem desenvolvidas com os alunos, abrindo espaço para conhecê-los e para prepará-los para o enfrentamento de seus conflitos de modo não-violento. Após a formação dos professores e do conhecimento dos alunos, é que o projeto estará constituindo a formação de mediadores com idades entre 10 e 14 anos.

2. Metodologia

A metodologia utilizada tem por alicerce na construção do conhecimento em equipe. Os envolvidos no processo do ensino-aprendizagem escolhem participar da sua capacitação - mediadores escolares e/ou facilitadores do diálogo

Assim, inicialmente, foram realizadas reuniões com a equipe diretiva de três escolas, quais sejam: Escola Municipal Martim Aranha, Escola Estadual Emilio Massot e Escola Estadual Brigadeiro Silva Paes.

Selecionou-se, para trabalhar, a Escola Municipal Martim Aranha, por estar localizada mais no entorno da Uniritter/Laureate Universities. Todavia, na Escola Emilio Massot foi realizada palestra para os professores (formação) e, a Escola Estadual Brigadeiro Silva Paes ficou de entrar em contato para combinar a data para a realização de palestra, objetivando trazer ao conhecimento das bases da mediação e seus benefícios.

Nas Escolas Martim Aranha e Emílio Massot, foram aplicados questionários – para averiguação junto ao corpo docente dos tipos de conflitos mais comuns, visando estabelecer as diretrizes de nossa atuação.

Na Escola Municipal Martim Aranha, após a realização de duas palestras, os professores foram sensibilizados e concordaram em participar de oficinas de capacitação em mediação escolar.

Na apontada escola, estamos realizando atividades lúdicas junto aos alunos estimulando-os à reflexão para ouvir o outro, a outra verdade.

Assim, em um primeiro momento, realizamos a sensibilização do corpo diretivo para, realizado o diagnóstico (através dos questionários) – promover a capacitação dos professores e, ato contínuo, formar pequenos mediadores, acompanhando-os na formação e prática, a fim de avaliar a eficácia dos procedimentos.

(4)

Os resultados confirmam as hipóteses do projeto que dizem respeito à ocorrência frequente dos conflitos, a sua percepção como algo negativo e a melhoria das relações interpessoais através da mediação.

Os questionários, inicialmente, aplicados nas crianças, traduz a existencia de considerável litigiosidade, ou seja, na maioria das vezes, de situações conflituosas - 68,2% tentam entender o motivo do colega ter agido violentamente, sendo que 24,1%, nem buscam compreender os motivos. Ainda, 56,6% gostariam de aprender a solucionar os conflitos de forma pacífica, sendo que 43,4% não tem tal interesse.

A análise das respostas das crianças aos questionários aplicados confirmam o êxito nas atividades lúdicas realizadas para conhecimento do instituto da mediação, tendo em vista que 86% dos alunos acreditam em resoluções altamente positivas e tão somente 18% dos alunos demonstraram dificuldades em achar uma solução mais sólida e harmoniosa. Nesse passo, verifica-se o alto percentual de alunos que demonstram ter absorvidos os conceitos do instituto da mediação.

Ademais, após atividade de contação de histórias (Chapeuzinho Lilás), número considerável dos alunos concluiu que gostaria que a história tivesse um final feliz e que todos ficassem amigos.

Já, os questionários aplicados aos professores demonstram que acreditam que a mediação pode favorecer o ensino-aprendizagem e, gostariam de aprender as tecnicas para utilização em sala de aula.

Os professores da Escola Municipal Martim Aranha aderiram ao projeto e iniciam sua capacitação no mês de setembro de 2016.

Pode-se afirmar, que o projeto está alcançando seu objetivo transformador, pois os resultados iniciais, avaliados através dos questionários, demonstram a aceitação e o engajamento dos docentes no projeto, trazendo consequências altamente positivas para a comunidade escolar.

4) Conclusões

A mediação escolar parte da ideia da construção de comunicação participativa, promovendo a inclusão e conhecimento de práticas que possibilitam o bem-estar por meio do diálogo.

O projeto está estágio inicial com aprovação e engajamento da equipe diretiva, corpo docente e discente. As atividades seguirão os passos previstos no projeto, quais sejam: capacitação dos professores e, posteriormente, formação de mediadores mirins.

(5)

Mediação escolar; Cultura de paz; Educação; Diálogo; Comunicação.

6) Referências bibliográficas

HEREDIA, Ramón Alzate Saéz de (1999). Enfoque global de la escuela como marco de aplicacion de los programas de resolución de conflictos. In: Medicaión escolar – propuestas, reflexiones y experiencias. Florencia Brandoni (Comp.). Buenos Aires, Barcelona, México: Paidos.

SALES, Lilia Maia de Morais; ALENCAR, Emanuela Cardoso Onofre de. http://gajop.org.br/justicacidada/wp-content/uploads/MEDIAÇÃO-ESCOLAR-COMO-MEIO-DE-PROMOÇÃO-DA-CULTURA-DA-PAZ.pdf. Acesso em 29 de ago. de 2016.

UNESCO. Disponível: http://www3.unesco.org/iycp/ uk/uk_sum_cp.htm. Acesso em 29 de ago. 2016.