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ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL NO ESTADO DA PARAÍBA, BRASIL

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ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE

TRABALHO DE ENFERMAGEM EM

SAÚDE MENTAL NO ESTADO DA

PARAÍBA, BRASIL

Milena Nunes Alves de Sousa (FIP/UEPB) minualsa@hotmail.com Andre Luiz Dantas Bezerra (UEPB) andredparaiba@hotmail.com Yldry Souza Ramos Queiroz Pessoa (UFRN) yldry.souzaramos@gmail.com

Embora a Reforma Psiquiátrica brasileira tenha modificado significativamente a Saúde Mental, as condições de trabalho da Enfermagem nas unidades psiquiátricas os expõem a várias cargas de trabalho, ocasionando desgastes físico e mental. Diaante das evidências, objetivou-se analisar as condições de trabalho da equipe de enfermagem em saúde mental em uma clínica psiquiátrica de Campina Grande-PB. A pesquisa apresentou caráter transversal e qualitativo, com desenho descritivo analítico, tendo como eixo condutor a Psicodinâmica do Trabalho. Os resultados demonstraram que o perfil dos respondentes foi caracterizado majoritariamente como de nível médio, atuantes entre seis meses e menos de um ano e meio, com renda entre dois e três salários mínimos. Quanto aos aspectos relativos ao trabalho na unidade psiquiátrica, foi verificado que os profissionais de enfermagem estão condicionados a todas as cargas de trabalho, principalmente as químicas, biológicas e mecânicas. Por fim, a análise dos resultados demonstrou que as pressões sofridas pelos trabalhadores advêm da organização do trabalho evidenciando que muitos elementos precisam ser priorizados: segurança, EPI’s, salários e outros, podendo possibilitar qualidade de vida no trabalho.

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1. Introdução

A evolução acerca da abordagem médica e de enfermagem em saúde mental ou psiquiátrica não é da melhores, pois antigamente o descaso com o paciente era verificado através dos antigos manicômios. Esta realidade vivenciada pelos doentes mentais começou a modificar-se a partir da Reforma Psiquiátrica brasileira, emergente ao final da década de 1970, instaurando-se na crise do modelo de assistência centrado no hospital psiquiátrico e na eclosão dos esforços dos movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquiátricos.

Visando o paciente mental, o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental buscou ações direcionadas para tais usuários, mas esqueceu-se dos trabalhadores e a realidade dos doentes passou a se inverter com a das equipes inseridas nos serviços de saúde mental, em especial a enfermagem (RAMMINGER, 2006). O processo de trabalho neste ambientes é marcado pela exposição a cargas diversas, de forma intensa e específica, gerando desgaste físico e mental, possibilitando para a referida categoria profissional maior propensão ao risco de adoecimento psíquico em comparação com trabalhadores de outras áreas (CARVALHO; FELLI, 2006). Esta constatação de que o trabalho de enfermagem neste cenário é bastante desgastante, devido à exposição cotidiana a fatores como: fadiga, esforços físicos, agressões físicas etc., teve-se o interesse em realizar este estudo, a partir do problema: como se configura o trabalho de enfermagem em saúde mental em uma clínica psiquiátrica da Paraíba? Destarte, objetivou-se analisar as condições de trabalho da equipe de enfermagem em saúde mental em uma clínica psiquiátrica campinense.

A pesquisa justificou-se pela possibilidade de subsidiar a compreensão da realidade do trabalho de enfermagem em saúde mental, especialmente refletindo sobre o diagnóstico situacional local, dando margem para que a instituição possa intervir sobre os problemas em prol da qualidade de vida no trabalho (QVT) desta categoria. Ressalta-se, ainda, que esta investigação é um indicativo para novos estudos na área servindo, inclusive, de fonte de pesquisa para outras organizações semelhantes, aos profissionais da área, estudantes e para aqueles interessados no objeto de estudo, afinal, há poucas pesquisas nacionais que contemplem o processo de trabalho de enfermagem na atenção psiquiátrica e sua repercussão sobre a saúde do trabalhador (CARVALHO; FELLI, 2006).

2. Base Teórica-Empírica

Pinel, o “pai da psiquiatria”, foi quem taxou o louco como detentor de problema mental. Para ele, o paciente com distúrbio mental, necessitava de atendimento específico e entre as pessoas aptas a cuidar da pessoa com doença mental, destacam-se o médico e o enfermeiro psiquiátrico (RAMMININGER, 2006). Portanto, para o autor, o trabalho da enfermagem fundamenta-se na vigília e medicalização e tais atribuições são acompanhadas por precários salários e pela vulnerabilidade destes profissionais a um acompanhamento penoso e desgastante a pacientes portadores de doenças mentais.

O processo de trabalho de enfermagem em saúde mental/psiquiátrica demonstra momentos de tensão, sofrimento e estresse, decorrentes da sobrecarga de trabalho. Esta sobrecarga, a vivência com o estresse, a presença de muitos pacientes para apenas um profissional cuidar e outros aspectos podem gerar o desgaste e a falta de QVT (CARVALHO; FELLI, 2006). Segundo estudo com os profissionais atuantes neste cenário, os fatores geradores de estresse no ambiente de trabalho merece destaque a ausência de pausas para o descanso, os esforços pessoais para realizar suas tarefas durante a jornada de trabalho, a falta e insuficiência de materiais para exercerem suas atividades, a presença de ruídos, baixa luminosidade e

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temperatura inadequada (NUNES; MAURO; CUPELLO, 2001 apud CARVALHO; FELLI, 2006).

Mesmo com tantos problemas decorrentes das más condições de trabalho, é dever da enfermagem zelar e cuidar do paciente, seja este doente mental ou não e “a assistência de enfermagem psiquiátrica é uma prática cotidiana impregnada por situações de rotina”, como execução de atividades técnicas e assistencialistas, além da vigília permanente do paciente (MIRANDA; ARDAIA; ARAÚJO, 2000, p. 38). Portanto, este cuidado, cheio de zelo, é por vezes esquecido, pois a infra-estrutura é inadequada, há escassez de recursos materiais, há descontinuidade na assistência, estando entremeada à periculosidade, já que estão expostos a várias cargas de trabalho, entre as quais agressões físicas, bem como não contemplação aos direitos constitucionais (CARVALHO; FELLI, 2006).

Os direitos trabalhistas do profissional de saúde mental, entre estes os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, são: redução do tempo de exposição às condições de fadiga e tensão psíquica; momentos para descanso no decorrer do dia de trabalho, de modo a prevenir a atividade mental autônoma; diversificar as atividades tidas como desgastantes psiquicamente; e a formação de grupos capazes de avaliar os condicionantes de desgaste físico e mental (RAMMININGER, 2006).

Almeida; Rocha (1986) ainda dizem que o processo de trabalho da enfermagem, independente da área de atuação, é norteado pela divisão social e técnica do trabalho, com atributos de fragmentação de sua prática em tarefas, procedimentos e responsabilidades distintas. O enfermeiro graduado ocupa o vértice da pirâmide hierárquica, os técnicos de enfermagem encontram-se abaixo e os auxiliares de enfermagem estão em última posição. Dentro do trabalho, o processo de trabalho é um atributo muito relevante para a determinação da dicotomia saúde versus doença, pois gera um consumo da força de trabalho, conduzindo a um desgaste no homem, que se expressa sob diferentes maneiras, como o sofrimento mental ou psíquico, as doenças psicossomáticas, o estresse e os transtornos mentais, bem como as neuroses (SILVA, 2001).

Por vez, durante o processo de trabalho em psiquiatria, a enfermagem está condicionada a várias cargas de trabalho, intermediações entre o processo de trabalho e o desgaste do trabalhador. Entre estas pode-se citar (LAURELL; NORIEGA, 1989; CARVALHO; FELLI, 2006):

a) Físicas: exposição à umidade e má iluminação, ruídos;

b) Fisiológicas, Ergonômicas ou Organização do Trabalho: exposição a esforços físicos, a alternância de turnos que rompem com os ciclos circadianos;

c) Biológicas ou Orgânicas: infestação por parasitas e contato com secreções corporais; d) Mecânicas: agressões física e uso excessivo da força de trabalho;

e) Psíquicas: medo, assédio sexual, incômodo devido a ofensas morais, o estado de alerta permanente por não saber o que vai acontecer, supervisão com pressão, consciência de periculosidade no trabalho, os altos ritmos de trabalho;

f) Químicas: exposição à fumaça dos cigarros e demais produtos químicos.

Há que se considerar, diante de tantas cargas de trabalho as quais os profissionais de enfermagem estão expostos, que precisam ser tomadas medidas de minimização de seus danos. Dejours (1994), neste sentido, expõe que para modificar um trabalho considerado fatigante, tornando-o um trabalho equilibrante, é necessário flexibilizar o modo de

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organização do trabalho, possibilitando uma maior liberdade para o trabalhador, permitindo que o mesmo rearranje seu modo operário, propiciando prazer. Destarte, é basilar fomentar estratégias de ação em prol da saúde do trabalhador, em especial da enfermagem psiquiátrica, promovendo melhorias ambientais e de condições gerais de trabalho, através da promoção e prevenção dos riscos específicos da função, afinal é inadmissível ao trabalhador em saúde mental a aceitação em atuar em condições de trabalho indignas e precárias (RAMMININGER, 2006).

3. Aspectos Metodológicos

Tratou-se de uma pesquisa transversal e qualitativa, com desenho descritivo analítico, tendo como eixo condutor a Psicodinâmica do Trabalho, disciplina que em seu estudo instiga as questões que dizem respeito à organização do trabalho e as repercussões na saúde do trabalhador, as relações entre condutas, comportamentos, vivências de sofrimento e de prazer, que podem repercutir na saúde física e mental destes trabalhadores.

Nesse sentido, pretendeu-se uma compreensão particular daquilo que foi estudado; não se teve como premente as generalizações, princípios e leis, o foco de sua atenção foi nas singularidades, buscou-se, destarte, contemplar a sua complexidade, para a proposição de formas viáveis de transformação (MINAYO, 1996). Descritiva na medida em que descreveu as principais causas dos problemas de saúde da população-alvo, analítica ao sintetizar o processo saúde-doença da população-alvo e qualitativa pelo uso da técnica de análise de conteúdo.

Logo, o estudo foi realizado em uma unidade privada voltada a Saúde Mental, localizada no município de Campina Grande-PB, atendendo tanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como a particulares. O universo de pesquisa foi constituído de 21 enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Contudo, dos 21 questionários distribuídos, foram devolvidos 14 e validados 12, correspondendo a 57,14% do total de sujeitos, gerando uma perda de 42,86%. Os dois inválidos não se adequavam aos critérios de inclusão pré-determinados: ser da categoria profissional de enfermagem, com pelo menos seis meses de trabalho na instituição, maiores de 18 anos, que não estivessem de férias no período da pesquisa e que aceitasse participar do estudo de modo voluntário, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Os dados foram coletados entre dezembro de 2010 a março de 2011 e analisados através da Análise de Conteúdo de Bardin (2007), organizando-se os dados a partir de temas, com base em um modelo.

4. Análise e Discussão dos Dados

Os profissionais foram delineados enquanto categoria profissional da seguinte forma: auxiliar (25,0%), técnico (58,3%) e graduado (16,7%). Tais dados apontam o que normalmente se vê em unidades de saúde, um maior contingente de profissionais técnicos e/ou auxiliares e um menor número de graduados (ARAÚJO et al., 2003). A categorização profissional reflete sobre a remuneração de cada um. Os técnicos e/ou auxiliares recebem menos do que os enfermeiros graduados, fato que determina o maior número de profissionais de nível médio nas Unidades Psiquiátricas (SILVA, 2001).

No mais, a maioria do universo de pesquisa é constituído por mulheres. O sexo feminino representou 83,3% da amostra, ressaltando que a enfermagem é uma profissão predominantemente feminina (SOUSA, 2007). Quanto à renda, os dados coletados mostraram que os profissionais de enfermagem da unidade psiquiátrica ganham até 3 (três) salários mínimos. Então, com 58,3% da amostra a faixa de renda foi de 2 a 3 salários e a renda inferior

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a 2 salários foi de 41,7%. A renda é relativamente baixa, dificultando o trabalho e minimizando a qualidade de vida (QV) dos mesmos, pois um dos atributos preconizados para QVT e conseqüente QV é a remuneração adequada (SOUSA, 2007).

Uma outra indagação presente no questionário aplicado referiu-se ao tempo de serviço em saúde mental, percebendo-se que o tempo de atuação foi bastante variado, porém as categorias mais representativas foram de 6 meses a < 1 ano e meio (50% da amostra) e de 5 anos e meio a 6 anos e meio (16,8%). As demais categorias corresponderam a 8,3% da amostra - 1 ano e meio a < 2 anos e meio; 2 anos e meio a < 3 anos e meio; 3 anos e meio a < 4 anos e meio; e 4 anos e meio a < 5 anos e meio. A partir dos resultados pode-se constatar que a rotatividade de profissionais é muito alta, repercutindo diretamente sobre o trabalho sistematizado em saúde mental. Além do mais, esta evidência pode repercutir diretamente sobre o desgaste no exercício profissional, pois não permite a acumulação de insatisfações com as atividades executadas, nem mesmo relativas às cargas de trabalho (RAMMININGER, 2006).

Um outro ponto relevante para a pesquisa referiu-se a carga horária de trabalho semanal trabalhada. O tempo de trabalho executado apresentou-se, majoritariamente em 40 h/semana (66,6% da amostra), seguido de 30 h/semana e > 40 h/semana, com 16,7% das respostas. A carga horária de trabalho pode ser determinante do desgaste do trabalhador, pois a longa jornada laboral é fator importantíssimo para uma boa QVT (SOUSA, 2007).

Ainda, procurou-se saber como o pesquisado se sente trabalhando em saúde mental (psiquiátrica). Esta indagação se justifica pelo fato de que a satisfação ou insatisfação com o trabalho desenvolvido na área pode ser determinante de desgaste, tanto físico quanto mental.

SENSAÇÃO FREQUÊNCIA %

Satisfatória 12 100

Insatisfatória - -

TOTAL 12 100

Tabela 1- Considerações quanto ao modo como se sente trabalhando em saúde mental

Ao analisar tal tabela, constatou-se que para os 12 (doze) profissionais de enfermagem (100%) sentem-se satisfeitos com o trabalho em saúde mental (psiquiátrica). As considerações referem-se às vivências que cada trabalhador acredita experienciar durante o trabalho. As justificativas apresentadas abaixo deixam claras as respostas dos pesquisados.

- “Me sinto uma profissional importante” (E4).

- “Sinto-me realizada por desenvolver uma atividade com a qual me identifiquei” (E5). - “Muito bem! Pois sempre foi meu objetivo. Faço porque gosto” (E7).

No mais, as considerações quanto ao trabalho em saúde mental ser gratificante ou desgastante, 92,3% referiram-se ao trabalho em saúde mental como sendo gratificante, os demais 7,7% foi relatado como desgastante. Os profissionais que responderam como sendo gratificante justificaram:

- “Gratificante, amo o que faço” (E1).

- “Gratificante, pois vejo sorrir àquele que cuido” (E4).

A única unidade de análise apontada como desgastante foi justificada como: - “Desgastante, por que requer paciência e amor à profissão” (E6).

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Os relatos apontam que a maioria das respondentes considera o trabalho em saúde mental como gratificante. Esta evidência pode estar refletindo que os trabalhadores da unidade pesquisada gostam do que fazem. Trabalhar com satisfação pode ser um atributo muito importante para manter a saúde física e mental do trabalhador.

A tabela 2 reflete as considerações quanto ao desgaste no exercício profissional, sentido pelos trabalhadores e as razões para o seu surgimento.

TRABALHO EM SAÚDE MENTAL FREQUÊNCIA %

Sim 4 33,3

Não 8 66,7

TOTAL DE UNIDADES DE ANÁLISE 12 100

Tabela 2: Considerações quanto ao desgaste no exercício profissional

A maioria dos respondentes referiu que não há desgaste no exercício profissional (66,7%) e a minoria (33,3%) apontou 33,3% como tendo desgaste. Este abordagem apresentou uma divergência percentual se comprada com o questionamento anterior, que até certo ponto indaga sobre a mesma questão. Os profissionais que apontaram como desgastante o exercício da profissão, justificaram:

- “Há um conjunto de fatores tais como: pessoal, econômico, social, etc.” (E5).

- “O único desgaste que enfrentamos são os riscos ergonômicos, pois passamos muito tempo em pé e a coluna se prejudica muito” (E9).

Para aqueles que responderam sem desgaste, o posicionamento pode ser visto a seguir: - “Nenhum” (E11).

Esta questão enfatiza que muitos profissionais possuem desgaste, principalmente atribuído aos riscos ergonômicos (fisiológicos) e psicológicos. Os riscos nos locais de trabalho provocam sérios danos à saúde do trabalhador porque produzem alterações no organismo e estado emocional, comprometendo sua produtividade, saúde e segurança. Para evitar que estes riscos comprometam as atividades e a saúde do trabalhador, é necessário um ajuste entre as condições de trabalho e o homem sob os aspectos de praticidade, conforto físico e psíquico por meio de: melhoria no processo de trabalho, melhores condições no local de trabalho, modernização de máquinas e equipamentos, melhoria no relacionamento entre as pessoas, alteração no ritmo de trabalho, ferramentas adequadas, postura adequada, etc. Mas, para chegar a isto é necessário compreender como se apresentam as condições e os espaços do trabalho (PEDROSA, 2007).

Embora o questionamento anterior, tenha tido majoritariamente resultado sem desgaste (66,7%), a tabela 3 elucida as cargas que os trabalhadores de enfermagem estão expostos durante o dia-a-dia do trabalho na unidade psiquiátrica pesquisada, conforme os próprios posicionamentos dos profissionais participantes da investigação.

AÇÕES A SEREM PRIORIZADAS FREQUÊNCIA %

Físicas 6 12,0

Fisiológicas 7 14,0

Biológicas 9 18,0

Mecânicas 9 18,0

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Químicas 12 24,0

TOTAL DE UNIDADES DE ANÁLISE 50 100

Tabela 3: Considerações quanto às cargas de trabalho em exposição

A partir da tabela 3, pode-se verificar que os respondentes estão expostos a todas as cargas de trabalho possíveis, porém algumas mais e outras menos:

a) Com 24,0% das unidades de análise destacam-se as químicas. Em geral, atribuí-se a esta carga a alta exposição à fumaça dos cigarros.

b) Com 18,0% cada, surgiram as cargas biológicas e mecânicas. A primeira é percebida pelo contato com a infestação por parasitas (piolhos, por exemplo) e com secreções corporais. A segunda pelas possíveis agressões físicas (mordidas, chutes, socos, tapas, tentativas de estrangulamentos) e pelo uso excessivo da força de trabalho.

c) Com 14% cada, estão as cargas fisiológicas (longas horas de pé, manipulação de peso, distância percorrida durante o trabalho, a alternância de turnos que rompem com os ritmos fisiológicos básicos) e psíquicas (medo agressão, assédio sexual, incômodo devido às agressões verbais, alerta permanente, supervisão com pressão e outros).

d) Com 12,0% despontaram-se as cargas físicas - exposição à umidade, má iluminação e ruídos.

“O trabalho numa unidade psiquiátrica, por suas condições, deixam os trabalhadores expostos a todas as cargas de trabalho, de forma intensa e específica, gerando um processo de desgaste físico e mental muito intenso” (CARVALHO; FELLI, 2006, p. 68). Então, diante das cargas expostas pelos trabalhadores constituintes da pesquisa, pode-se afirmar que os riscos, advindos da exposição exacerbada a cargas de trabalho, são bastante intensos, tais como: estresse, desgaste físico e muitos outros.

Para finalizar, buscaram-se elencar as ações que deveriam ser priorizadas pela Unidade Psiquiátrica em prol da saúde do trabalhador. Então, a tabela 4 evidencia as principais ações.

AÇÕES A SEREM PRIORIZADAS FREQUÊNCIA %

Psicológicas 1 5,0 Recreativas 1 5,0 Remunerativas e constitucionais 5 25,0 Físicas 3 15,0 Educacionais 2 10,0 Segurança 8 40,0

TOTAL DE UNIDADES DE ANÁLISE 20 100

Tabela 4: Considerações quanto às ações a serem priorizadas

Muitos aspectos, conforme dados da tabela 4, precisam ser melhorados. Em primeiro lugar encontra-se a segurança, representando 40,0% das unidades de análise. Posteriormente seguem-se as ações remunerativas e constitucionais (25,0%), físicas (15%), educacionais (10%) e por fim, as psicológicas e recreativas (5,0% cada).

Aqueles profissionais que apontaram a segurança como elemento a ser priorizado justificaram do seguinte modo:

- “Priorizar a segurança em relação a agressividade” (E7). - “O uso de EPI’s e implantação da CIPA” (E9).

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Para aqueles que responderam à necessidade de ações remunerativas e constitucionais (25,0%), os posicionamentos foram:

- “Aumento da insalubridade pelos riscos que corremos como também planos de saúde” (E7). - “Uma ou duas horas de descanso alternadas entre funcionários” (E12).

Os sujeitos que consideraram as ações relativas à estrutura física (15,0%), justificaram: - “Uma enfermaria bem ampla para clientes mais graves e cadeira confortável” (E10). Quanto às ações educacionais (10%), verificam-se os seguintes posicionamentos: - “Um trabalho de conscientização ou uma campanha em relação ao cigarro” (E4).

Quanto à parcela que referiu como ações prioritárias as psicológicas (5%), pôde-se visualizar o seguinte discurso:

- “Acompanhamento psicológico para os funcionários” (E9). Para quem apontou ações recreativas (5%), verificou-se: - “Atividades recreativas na empresa” (E5).

A partir da análise dos discursos pôde evidenciar que muitos elementos precisam ser priorizados. Cada um deles é essencial para que o trabalhador atinja sua QVT. Em se tratando, especificamente, sobre a necessidade de tempo para descanso, a mesma é indispensável para a liberdade, porque possibilita reflexão sobre a prática cotidiana, o processo de trabalho (DEJOURS, 1994).

5. Conclusões

O desenvolvimento desta investigação foi considerado bastante importante, uma vez que se buscou analisar as condições de trabalho da equipe de enfermagem em saúde mental em uma clínica psiquiátrica campinense, permitido conhecer a realidade da unidade pesquisa, através da verificação dos resultados obtidos na coleta de dados e concluídos sequencialmente.

O perfil dos respondentes é majoritariamente formado por profissionais de enfermagem de nível médio (técnicos e auxiliares), mulheres, atuantes entre seis meses e menos que um ano e meio, com renda entre dois e três salários mínimos. Quanto ao objeto de estudo, foi verificado que o processo de trabalho expõe os trabalhadores a muitas cargas de trabalho, estão submetidos a TODAS as cargas de trabalho possíveis, principalmente as químicas, biológicas e mecânicas. Pode-se referir que a exposição a fumaça de cigarro, ao contato de secreções, o medo a agressões físicas e uso excessivo da força de trabalho foram os elementos mais característicos, uma vez que na busca de melhorias foram partes dos discursos: campanhas contra o tabagismo, uso de EPI’s e segurança para os profissionais.

Pelo exposto, é comum as altas exposições às cargas de trabalho, mesmo assim, a maioria da amostra relatou não apresentar desgaste profissional. Esta discrepância fez emergir um outro questionamento: será que os trabalhadores estão utilizando-se de alguma estratégia de defesa preconizada pela psicodinâmica do trabalho? Já que a saúde ocupacional depende essencialmente do conjunto de fatores de risco, sendo estes determinantes na produção de enfermidades decorrentes do ambiente de trabalho. E as exposições exacerbadas as cargas de trabalho acabam “gerando um processo de desgaste físico e mental muito intenso” (CARVALHO; FELLI, 2006, p. 68).

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Quanto ao desenvolvimento de vícios após o início das atividades em saúde mental, a resposta foi unânime – sem desenvolvimento de vícios.

A análise dos resultados obtidos com a aplicação da psicodinâmica do trabalho demonstra que as pressões sofridas pelos trabalhadores advêm da organização de trabalho, pois esta metodologia busca discorrer sobre a vivência laboral do trabalhador em detrimento da organização do trabalho além das pressões, de dificuldades, de desafios capazes de gerar sofrimento e prazer por essa, notou-se que os trabalhadores estão sob dois pesos e duas medidas, já que ora estão expostos a várias cargas de trabalho (sofrem muitas pressões físicas, mecânicas, químicas e biológicas), ora gozam de satisfaça e amor pelo que fazem.

Por fim, as recomendações a serem priorizadas nos serviços de saúde mental em relação para a saúde do trabalhador, entre este os enfermermeiros, técnicos e auxiliriares de enfermagem são: melhorias em segurança, já que os trabalhadores afirmam receio de agressividade por parte dos pacientes; aumentar a disponibilidade de materiais de proteção do trabalhador (EPI’s), protegendo o trabalhador principalmente dos riscos biológicos; melhorias nos salários, pois as atividades desenvolvidas ultrapassam a remuneração da força de trabalho; aumentar a insalubridade, já que grandes são os riscos inerentes ao trabalho: agressão, desenvolvimento de patologias mentais, entre outros; melhorar a estrutura física, pois o ambiente em que são desenvolvidas as atividades rotineiras de trabalho é inadequado, necessitando de cadeiras mais confortáveis e outros; e disponibilizar um profissional da psicologia para atender os trabalhadores, pois muitas são as queixas para um acompanhamento psicológico.

Considerou-se que os objetivos propostos neste trabalho foram alcançados na medida em que se consegui resposta para a indagação inicialmente proposta e percebeu-se a partir da análise dos discursos que muitos elementos precisam ser priorizados. Cada um deles é essencial para que o trabalhador atinja sua qualidade de vida no trabalho, com muita mais satisfação e bem-estar.

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Referências

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