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POTENCIALIDADES E LIMITES DA CADEIA DE VALOR DO CACAU NATIVO NO MÉDIO RIO PURUS, AMAZONAS

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Institut

o Int

ernacional

de Educação do Br

asil – IEB

Pablo Galeão

POTENCIALIDADES E LIMITES DA

CADEIA DE VALOR DO CACAU NATIVO

(2)

PROJETO

+VALOR

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INSTITUTO INTERNACIONAL DE

EDUCAÇÃO DO BRASIL – IEB

Potencialidades e limites da cadeia de valor do

cacau nativo no Médio Rio Purus, Amazonas.

Pablo Galeão

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1. INTRODUÇÃO

A Cooperativa Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar) foi fundada em 2003 por um grupo de extrativistas da região do médio rio Purus e moradores da Vila Céu do Mapiá visando a promoção e implantação de alternativas produtivas sustentáveis, aliados a geração de trabalho e renda. Inicialmente esteve focada em comercializa-ção de frutas desidratadas e óleos vegetais, mais tarde realizando planejamento de atividades produtivas baseadas no manejo florestal e sistemas agroflorestais.

Atualmente, o principal foco da cooperativa é o cacau (Theobroma cacao). A Cooperar entendeu que o cacau nativo das áreas de várzea do Purus tem características que o destacam em relação ao cacau plantado. Por esse motivo a Cooperativa investiu na formação dos agroextrativistas para o manejo e exploração do cacau nativo da flores-ta e mais flores-tarde para a produção daquele tipo de cacau em sistemas agrofloresflores-tais. O propósito deste trabalho foi a obtenção de um cacau de alta qualidade e bons preços nos mercados nacional e internacional. Com esse objetivo em mente a cooperar im-plantou um modelo de produção e beneficiamento do cacau que opera segundo uma premissa de controle da qualidade. Isso explica o motivo que a levou a optar pela ex-portação do cacau fermentado. Não é uma cadeia simples de ser explorada devido a necessidade de se garantir que o processo de seleção dos frutos maduros e saudáveis, fermentação e secagem das amêndoas, ocorra segundo o itinerário técnico recomen-dado. A Cooperar é a única organização atuante da cadeia do cacau em Boca do Acre. A Cooperar compra o cacau em fruto de extrativistas dos municípios de Sena Madu-reira, Boca do Acre, Pauini e Lábrea, aproximadamente 800 km ao longo da calha do rio Purus. O processo de quebra dos frutos e beneficiamento das amêndoas é feito em 5 polos da cooperativa, onde foram instaladas caixas de fermentação e as barca-ças de secagem.

O cacau é uma planta abundante em áreas de várzea (alagáveis) da região. O auge de sua produção se dá durante o período das chuvas, muitas vezes quando as águas já encharcaram suas raízes.

Os dados desta nota técnica foram obtidos por meio de entrevistas com diversos ato-res envolvidos na cadeia do cacau em Boca do Acre, incluindo extrativistas, produtoato-res, cooperados e representantes da administração da cooperativa. São necessários estu-dos ainda mais detalhaestu-dos para compreender a influência da cadeia do cacau sobre a economia familiar dos extrativistas e produtores e sobre as outras cadeias produtivas

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das quais eles façam parte. É fato, no entanto, que a extração do cacau, assim como a da castanha, se tornou uma das bases da economia de diversas famílias ao longo dos meses de safra do fruto.

2. A CADEIA DE VALOR DO CACAU

NO MÉDIO RIO PURUS: VISÃO GERAL

Hoje, entre 250 e 550 famílias estão envolvidas no processo de comercialização do cacau, a depender do volume da safra. Além da comercialização para a Cooperar, al-gumas famílias fermentam e produzem chocolate para venda na própria região. Em geral são pessoas que reproduziram os cacauzeiros da várzea do Purus em regiões de terra firme. De acordo com esses produtores, o cacauzeiro nessas condições pro-duz diversas safras por ano, e com mesma qualidade que o cacau nativo. No entanto a cooperativa compra apenas entre fevereiro e junho, mas principalmente entre os meses março, abril e maio, época da safra do cacau nativo.

A Cooperar encontra-se em fase de consolidação e diversificação de mercado. Não exis-te ainda uma regularidade nas vendas de seus produtos, incluindo o cacau (amêndoa seca). Em 2012 foram comercializadas 42 toneladas de cacau a uma empresa alemã, a Hachez, expressando o potencial de comercialização desta cadeia. Uma fusão fez com que a Hachez modificasse sua estratégia de importações, encerrando o contra-to com a Cooperar, em 2013. Após um período de grandes dificuldades em encontrar compradores, em 2015 foram comercializadas 7,5 toneladas de cacau.

A comercialização feita pela Cooperar, não segue o modelo geral operado em outras regiões amazônicas. Um dos motivos é a qualidade do cacau nativo do Purus, pou-co enpou-contradas em outras regiões brasileiras, mas que exige um manejo pós-pou-colhei- pós-colhei-ta rigoroso para expressar as suas potencialidades. O sabor do chocolate é original e que remonta aos primeiros chocolates produzidos na história, oriundos da região amazônica. Outro diferencial é o enquadramento do produto no contexto de merca-dos solidários, formado por consumidores que se preocupam com sua origem e com a ‘pegada’ ambiental e social deixada por sua exploração.

Historicamente o cacau foi levado da Amazônia e reproduzido na região sul da Bahia, onde se consolidou no início do século XX como um produto de alto valor e que in-fluenciou fortemente a economia regional, o modelo de ocupação e uso da terra e as relações sociais e políticas. O ciclo de bonança propiciado pelo cacau, no entanto,

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entrou em declínio principalmente devido à disseminação do fungo causador da vas-soura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa), doença que afetou dramaticamente a produção cacaueira da Bahia. O cacau nativo é menos suscetível ao ataque do fungo, devido a sua dispersão de cerca de 8 plantas por hectare, e ao fato de que está inserida em regiões de floresta nativa, onde a incidência da vassoura-de-bruxa é menor que em sistemas de plantios mais adensados.

Os desafios de operar uma cooperativa ao longo de 800 km de um rio amazônico são enormes. Além da complexa logística, necessidade de capacitação das famílias agro-extrativistas e custos altos, era preciso tornar o produto competitivo. A solução en-contrada pela cooperativa foi investir em três frentes:

Fermentação e secagem das amêndoas: para garantir a qualidade e o sabor do ca-cau nativo, as equipes foram capacitadas a realizar a fermentação e a secagem do produto em pólos construídos ao longo dos principais trechos extrativistas da região do médio Purus. Durante cerca de uma semana os técnicos trabalham intensamente neste beneficiamento, até que o produto possa ser levado para a sede da Cooperar. Ali o processo continua com constantes verificações da qualidade do armazenamento e da presença de impurezas que poderiam contaminar a safra.

Manejo: aumentar a escala de produção é fundamental para conseguir bons preços no mercado. Realizar o manejo das plantas antes do período da safra tornou-se uma atividade indispensável aos extrativistas e produtores de cacau. O resultado é um grande aumento da produção e maior facilidade em realizar a coleta.

Produção em Sistema Agroflorestal (SAF): a cooperativa percebeu que quando o ex-trativista insere o cacau nativo em sistemas agroflorestais localizados em terra firme ocorrem dois efeitos interessantes: o cacau mantém a mesma qualidade das espé-cies em várzea; e o cacau produz diversas safras ao longo do ano. Além disso as SAFs ficam próximas as moradias, sendo mais fácil manejar e coletar os frutos. Em 3 anos uma muda plantada se torna produtiva.

Hoje a grande maioria dos extrativistas e produtores de cacau da região adota boas práticas no manejo do cacau, mas ainda são necessárias mais capacitações. O extra-tivista recebe 50 reais por balde de frutos de (6kg). Até 2008 esse valor era de 18 reais. Além disso ainda há remuneração para a quebra da casca, 5 reais por balde.

A Cooperativa controla todo o processo de beneficiamento pós-colheita do cacau, o que inclui o corte dos frutos, a fermentação das sementes, a secagem das amêndoas

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e o armazenamento em condições adequadas. Desta forma, o preço pago ao produtor pelo cacau da região é muito superior ao preço praticado no rio Madeira (R$ 7,50 em 2015). O diferencial, neste caso, está na qualidade do produto e no acesso a mercados mais exigentes e que remuneram melhor.

3. OS ELOS DA CADEIA

DE VALOR: ATORES ECONÔMICOS

Os núcleos familiares de extrativistas/produtores começam a coletar o cacau faltan-do cinco dias para a chegada faltan-do barco da cooperativa. É o tempo que eles têm antes que a produção comece a correr risco de se perder, por fungos ou brocas. Neste mo-mento entra em cena o técnico especialista em fermentação e secagem, um processo delicado, demorado e trabalhoso, voltado especialmente a intensificar e preservar o aroma do cacau. As amêndoas descascadas são postas em caixas de madeiras, onde se inicia o processo de fermentação do cacau nativo durante aproximadamente cinco dias. Este é o grande diferencial desta cadeia de valor.

Em seguida as sementes são secas em estruturas especializadas chamadas barcaças. A maioria das barcaças da Cooperar podem receber até 3 toneladas de amêndoas de cacau de cada vez. O processo de secagem pode durar vários dias a depender das con-dições climáticas. Após ensacado, o mesmo especialista acompanha seu transporte, sempre conferindo o surgimento de umidade nas sacas. Já nos galpões da Cooperar os técnicos prosseguem um contínuo processo de seleção e limpeza, bem como de verificação de fungos e brocas. Esse cuidado rigoroso garante a manutenção das ca-racterísticas aromáticas do produto, um dos principais critérios de precificação. Cada núcleo familiar tira entre 3.000 e 6.000 kg de frutos por safra. Os frutos devem ser colhidos maduros. Muitas vezes a safra do ano já está negociada para venda pela cooperativa. Esse trabalho é feito pela equipe administrativa da Cooperar, bem como todo o planejamento financeiro da comercialização do cacau. Atualmente a coopera-tiva ainda não atingiu o ponto de lucratividade do negócio. Os investimentos na es-truturação da cadeia têm sido possíveis graças ao aporte financeiro externo feito por meio de projetos apoiados por diversos doadores. A implementação da infraestru-tura de fermentação e secagem, por exemplo, foi viabilizada por meio de um projeto financiado pelo Fundo Amazônia/BNDES. A cooperativa também pretende atuar na comercialização de castanha, óleos vegetais e outros produtos da floresta.

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Ao atuar como atravessadora de castanha uma cooperativa pode contribuir para tor-nar mais competitiva a formação de preços, valorizando o preço pago ao extrativista. A Cooperar revendeu castanha à Cooperacre, uma rede de cooperativas e associações do Acre, boa parte delas envolvida com a comercialização da castanha.

A maioria dos cooperados são extrativistas/produtores de cacau. Mas nem todos os extrativistas de cacau são cooperados. São aproximadamente 300 cooperados regu-lares. Muitos dos associados mora ou já morou na região da vila do Céu de Mapiá e fazenda São Sebastião, nas margens do igarapé Mapiá, na Flona do Purus. É lá que teve início o cultivo do cacaueiro em terra firme, dentro de SAFs.

Inicialmente a Cooperar esteve focada em negociar sua produção com um único com-prador. Essa estratégia deu certo enquanto durou o contrato com a empresa alemã Hachez. O período de baixas vendas que se seguiu foi acompanhado de investimentos em capacidade para atingir maior escala de produção e em capacitação de equipe. A diversificação dos compradores poderá ser fundamental para a sobrevivência da cooperativa quando acontecerem novos encerramentos em contratos. Iniciativas tem sido feitas neste sentido e, hoje, há potenciais compradores na Bolívia, Alemanha, Estados Unidos e em São Paulo.

Alguns destes novos contratos podem envolver adiantamento de pagamento, sendo hoje muito importante para a execução da logística de secagem e transporte da produ-ção, levando em consideração a enorme extensão de calha do rio Purus a ser coberta pelas equipes que sobem e descem o rio recolhendo a produção nas comunidades. O objetivo da administração da Cooperar é estabelecer capital de giro suficiente que garanta os custos de toda a logística, bem como o pagamento dos extrativistas/pro-dutores, que hoje recebem apenas após a venda da produção pela cooperativa, por meio de acordo verbal.

Constantemente a cooperativa concorre a editais que apoiam atividades sustentáveis e investem em infraestrutura e capacitações, chegando a ser beneficiada em alguns deles. Novas barcaças foram construídas e técnicos especializados vem sendo forma-dos no processo de fermentação e secagem do cacau. Com isso a Cooperar espera ser capaz de absorver e comercializar toda a produção da região.

Ao longo das oficinas que envolveram diversos atores da cadeia do cacau, ficou claro e consensualizado que o envolvimento de jovens é algo de suma importância para o futuro da cooperativa. O retorno financeiro que a Cooperar pode garantir para

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asso-ciados que investirem na produtividade de suas áreas de cacau é um dos fatores que poderá garantir que o jovem não seja atraído para as oportunidades de trabalho nas cidades e na pecuária.

Ainda entre aqueles que se dedicam a produção do cacau, há dificuldades para com-preender a função social de uma cooperativa. Há aqueles que não se sentem partici-pando de uma construção coletiva, mas sim de uma negociação de compra e venda como outra qualquer. Esta é uma lacuna a ser superada na relação entre os atores, considerando que a cooperativa está em fase de consolidação de suas opções de mercado e de sua base produtiva.

ESCALA DA COMERCIALIZAÇÃO VIA COOPERAR NOS ÚLTIMOS ANOS

ANO COMERCIALIZADOVOLUME DE COMPRA DA PREÇO MÉDIO

AMÊNDOA PREÇO MÉDIO COMERCIALIZADO PELA COOPERATIVA (R$/KG) FATURAMENTO BRUTO (R$) 2006 9,12 toneladas R$12 p/ balde 2007 1,95 toneladas R$18 p/ balde 2008 8,35 toneladas R$18 p/ balde 2009 6,8 toneladas R$24 p/ balde 13 91.192 2010 12,22 R$27 p/ balde 13 164.399 2011 42,06 R$24 p/ balde 11 452.021 2012 7,50 toneladas R$34 p/ balde 13 95.076 2013 11,20 toneladas R$35 p/ balde 11 122.986 2014 1,03 toneladas R$36 p/ balde 35 35.750 2015 1,30 toneladas R$36 p/ balde 17 22.500 2016 13 toneladas R$50 p/ balde 19 250.000

4. CAPACITAÇÃO E

FORTALECIMENTO ORGANIZACIONAL

A proposta de comercializar o cacau nativo das várzeas do Purus desde o início envol-ve a capacidade de produzir um cacau fermentado e com seus atributos aromáticos preservados. O correto manejo pós-colheita, a técnica de secagem e a estrutura de

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dos ao menos dois agentes para realizar o trabalho e há necessidade de se capacitar mais pessoas, uma vez que há demanda de pessoal para operar as novas barcaças de secagem que recém ficaram prontas. Também há casos de extrativistas que se in-teressam por adquirir a técnica e agregar valor ao seu produto, aumentando o valor de venda para a cooperativa.

Da mesma forma é preciso realizar atividades de manejo periodicamente nas áreas de plantio. A técnica envolve a realização de poda para estimular a floração nos galhos principais das plantas, consequentemente aumentando a produtividade. A adoção des-ta prática é resuldes-tado de oficinas que ocorreram nos primeiros anos da cooperativa. Muitos extrativistas que estão se iniciando na coleta do cacau ficam descrentes com a técnica da poda, uma vez que ela envolve a retirada de uma parte muito grande dos galhos da copa. Apenas na safra seguinte são capazes de observar seus benefícios. A tarefa de alertar os extrativistas sobre os benefícios da técnica já é uma rotina entre os funcionários da Cooperar, mas avaliam que poderia haver oficinas de capacitação com os extrativistas de forma a consolidar a prática da poda entre todos eles.

Hoje o maior desafio da Cooperar talvez seja estabelecer uma equipe administrativa focada em viabilizar o negócio. Criar condições de comunicação e governança, que agilizarão e efetivarão os fluxos e processos. Deverá ser necessário atualizar o esta-tuto e criar um regimento interno para organização das tarefas e do funcionamento. Hoje, com cerca de 300 cooperados, parece difícil organizar assembleias que efetiva-mente viabilizem uma maior participação na tomada de decisão. Muitos cooperados vivem na região da Vila do Céu de Mapiá. Outros estão dispersos pela calha do Purus, incluindo as Reservas Extrativistas do Arapixi e do Médio Purus. O custo para deslocar as pessoas é altíssimo. São necessárias ações de fortalecimento organizacional, de modo a auxiliar a cooperativa no processo de consolidação de equipe e moderniza-ção dos instrumentos de administramoderniza-ção e governança.

PROJETOS EM QUE A COOPERATIVA FOI BENEFICIÁRIA

ANO FONTE PROPONENTE FINALIDADE VALOR (R$) PRAZO

2003 FNMA Ida Plano de negócios: óleos vegetais 30.000 1 ano 2006 MMA/PDA AMVCM Beneficiamento de óleos vegetais 400.000 2 anos 2008 CNPq Ufac Pesquisa: manejo do cacau 150.000 2 anos 2009 CNPq Ufac Produção e Processamento de Produtos Orgânicos 150.000 2 anos 2011 CNPq Ufac Manejo do cacau: extensão tecnológica 200.000 2 anos

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PROJETOS EM QUE A COOPERATIVA FOI PROPONENTE

ANO FONTE PROPONENTE VALOR (R$) PRAZO

2005 Hachez Potencial produtivo do cacau 15.000 3 meses 2006 Hachez Estruturação para beneficiamento de cacau 105.000 2 anos

2007 GIZ “Cacau nativo do Purus” 265.000 5 anos

2009 MMA Implantação de usina de óleos vegetais 143.000 1 ano

2011 GIZ Intercâmbio de artesãos 8.000 3 meses

2012 GIZ Contratação de extensionistas 45.000 1 ano

2013 Itaú Reflorestamento no Purus 135.000 1 ano

2017 FBB Estruturação de cadeias produtivas: cacau e madeira 442.000 1 ano

TOTAL: R$ 1.158.000

5. ACESSO À INFORMAÇÕES

E AOS MERCADOS EXTERNOS

Até o presente momento as informações sobre mercados, custos e riscos vem sendo administradas pelo diretor Alexandre Lins, formado em economia pela Universidade de Brasília e um dos responsáveis pelos projetos financiados nos últimos anos. Ape-sar de comercializarem um produto de alta qualidade, beneficiado e escasso, ainda não é possível influenciar na determinação de preços. É esperado que isso se altere para as próximas safras, com investimentos na diversificação de compradores e no aumento da escala de produção.

Historicamente o cacau nativo era comercializado ao longo dos rios na forma de escambo comercial com embarcações itinerantes (regatões). A lógica é abastecer o extrativista com produtos de primeira necessidade em troca da produção colhida, relação hoje considerada de dependência e que é comumente associada a práticas similares à escravidão.

Em 2006, ano da primeira safra comercializada, o preço pago pelo balde com 300 amên-doas, foi de 12 reais. Esse valor vem subindo regular e gradativamente até o patamar

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famílias que estão envolvidas com a cadeia do cacau, no sentido de que invistam em suas produções. Igualmente, a valorização da cadeia atrai outros extrativistas, uma vez que não são necessárias longas viagens ou aviamentos para garantir a empreitada. A cooperativa vem mantendo uma média de aproximadamente 40% de seu faturamento bruto para pagamento de extrativistas e produtores de cacau.

Em Boca do Acre a política de preço mínimo para o cacau tem sido muito debatida, já que a Cooperar compra o fruto do cacau in natura, enquanto o preço fixado pela Po-lítica de Garantia do Preço Mínimo para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM--Bio), é para a amêndoa seca. Com isso ainda não foi possível estabelecer parâmetros financeiros para a garantia da política pública. Deve ser estudada a possibilidade de envolver na discussão a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvol-vimento Agrário ou até mesmo o Conselho Monetário Nacional (CMN) no intuito de incluir o cacau in natura na Garantia do Preço Mínimo, e viabilizar a subvenção para essa modalidade de comercialização.

6. INFRAESTRUTURA E LOGÍSTICA

Em 2003 o Instituto de Desenvolvimento Ambiental Raimundo Irineu Serra (Idaris), instituto criado a partir da Igreja do Culto Ecléctico da Fluente Luz Universal Patrono Sebastião Mota de Melo (Iceflu), doou o prédio onde hoje é a sede e base de operações da Cooperar. Desde então diversos investimentos foram realizados, como a instalação de uma usina de beneficiamento de óleos vegetais e estrutura de beneficiamento e armazenamento de cacau fermentado.

Figura 1 - Mapa de localização da sede e dos núcleos de beneficiamento de cacau.

Figura 1 - Mapa de localização da sede e dos núcleos de beneficiamento de cacau.

A construção de bases operativas locais da cooperativa (caixas de fermentação e barcaças) ocorreu entre 2014 e 2016. São três na Resex Arapixi, uma na foz do igarapé Mapiá e uma em Realeza, na Resex do Médio Purus, o que aumentou a capacidade de organização da produção. Também aumentou a demanda por formação dos extrativistas. Houve um movimento de descentralização, já que antes todo o beneficiamento era feito na sede da Cooperar, na cidade de Boca do Acre. Por sua vez, a aquisição de barcos proporcionou o dinamismo necessário para a logística de recolhimento das coletas nas comunidades.

O longo trecho de cobertura da produção de cacau é um desafio para a logística da cadeia de valor. Ainda será avaliado o resultado da implantação das novas barcaças, mas também dos recentes estabelecimentos de plantios de cacau em SAFs. Os relatos indicam que é esperado grande aumento na produtividade das famílias que plantaram cacau nos últimos anos.

Considerações finais

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A construção de bases operativas locais da cooperativa (caixas de fermentação e barcaças) ocorreu entre 2014 e 2016. São três na Resex Arapixi, uma na foz do igarapé Mapiá e uma em Realeza, na Resex do Médio Purus, o que aumentou a capacidade de organização da produção. Também aumentou a demanda por formação dos extrati-vistas. Houve um movimento de descentralização, já que antes todo o beneficiamento era feito na sede da Cooperar, na cidade de Boca do Acre. Por sua vez, a aquisição de barcos proporcionou o dinamismo necessário para a logística de recolhimento das coletas nas comunidades.

O longo trecho de cobertura da produção de cacau é um desafio para a logística da cadeia de valor. Ainda será avaliado o resultado da implantação das novas barcaças, mas também dos recentes estabelecimentos de plantios de cacau em SAFs. Os relatos indicam que é esperado grande aumento na produtividade das famílias que planta-ram cacau nos últimos anos.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora extremamente promissora, a cadeia de cacau nativo de Boca do Acre envolve riscos e custos. A dispersão da produção, os custos de logística, a sazonalidade da safra, as oscilações do mercado e a mobilização dos cooperados são constantemente motivos de preocupações durante as ações de planejamento da Cooperar. O desafio é construir as condições para que o negócio possa decolar e se viabilizar com menos dependência de aportes de recursos externos.

Importante ressaltar a necessidade de ações de fortalecimento organizacional, cons-trução dos instrumentos de gestão e capacitação das equipes que trabalham nos nú-cleos da cooperativa. Uma dinâmica de funcionamento que envolva as famílias nos núcleos, para além das atividades de produção do cacau, pode ser um caminho para o fortalecimento organizacional da entidade.

Um desafio importante é o modelo de beneficiamento fora do padrão. Há uma ten-dência de muito produtores em fazer o beneficiamento do cacau de maneira inde-pendente da cooperativa, como ocorre em outras áreas produtivas no Pará e na Bahia. A Cooperar é uma cooperativa que trouxe resultados efetivos na economia de cente-nas de extrativistas. Com histórico de progressos sólidos, estabeleceu o cacau como uma das principais cadeias de valor da região de Boca do Acre. Hoje a Cooperar não tem concorrentes no mercado do cacau da região. Iniciativas voltadas ao

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aproveita-mento das safras fora de época podem criar novas fontes de renda para produtores a partir dos SAFs.

Com uma grande estrutura implantada e uma enorme rede de extrativistas/coope-rados, a cooperativa ainda tem o grande desafio de lidar com a influência do clima sobre a produtividade. Naturalmente as safras tem oscilações em períodos de três anos. Um desses anos costuma ser de pico de safra, como ocorreu em 2012, ano em que produção comercializada pela cooperar foi de 42 toneladas. Em 2007 a produção foi tão baixa (2 ton.) que só foi vendida no ano seguinte, junto à produção de 2008. Extremos climáticos afetaram a produtividade em 2014 e 2015, quando a agua cobriu parte das copas de diversos cacauais. Além disso, quando a agua está presente na altura costumeira em que ficam os cacauzeiros, o trabalho de coleta é mais trabalho-so e demorado.

Em resumo, a sustentabilidade da cadeia do cacau nativo no Médio Purus depende de um grande investimento na base produtiva e na organização da produção com um enfoque cooperativista. A iniciativa da Cooperar tem grande potencial se forem fei-tos esforços consistentes para fortalecer a sua base organizativa e modelo de gestão.

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8. REFERÊNCIAS

Rodrigues E. Manejo Florestal Comunitário, 2008. 220 p. GIZ. Cacau Nativo do Purus, 2009. 32 p.

SantoDaime.org. Cooperativa Agroextrativista – Cooperar. Disponível em: http://www. santodaime.org/site/institucional/nossas-instituicoes/cooperativa-agroextrativista. Andrade, K; Rodrigues, E; Pereira, R. Manejo florestal comunitário do cacau nativo. 2012. 13 p.

Ufac; Unesp; UFV; Cooperar; GIZ. Manejo florestal comunitário do cacau nativo na vár-zea do Purus – CNPq Edital 36/2007. 2008. 20 p.

Ufac; Unesp; UFV; Cooperar; GIZ. Manejo florestal comunitário do cacau nativo na vár-zea do Purus – CNPq Edital 36/2007 – Segunda expedição. 2008. 20 p.

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