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Open Banking permite juntar serviços de vários bancos em plataforma única

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Academic year: 2021

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Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Seminários Folha - Seção: - Assunto: Economia - Página: 1 a 6 - Publicação: 30/06/21

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Os bancos vão abrir

Os bancos vão abrir

Correntistas poderão autorizar o compartilhamento de seus dados

bancários a partir de 15 de julho, quando o processo do open banking entra

na segunda fase

Open Banking permite juntar serviços de vários bancos

em plataforma única

Consumidor será dono de seus dados e pode decidir compartilhá-los com

outras instituições

O compartilhamento de informações bancárias é o pilar que sustenta a ideia do sistema financeiro aberto, ou open banking, cuja implantação entra em sua segunda fase no próximo dia 15 de julho.

Regulada pelo Banco Central a partir de modelos adotados ou em estudo em outros países, a modalidade se propõe a aumentar a concorrência bancária, oferecendo ao correntista a possibilidade de barganhar melhores taxas, prazos e serviços financeiros disponíveis no mercado.

A ideia é que o cliente possa ser correntista de um banco, ter cartão de crédito em outro e contratar um consignado em um terceiro, por exemplo, sem que para isso precise enfrentar a burocracia de preencher os mesmos cadastros em diferentes instituições, nem tenha que conferir diferentes aplicativos para conciliar sua vida financeira.

No open banking, todas as informações financeiras do cliente estarão centralizadas em uma única plataforma, e ele (e não mais o banco) será o dono dessas informações. Caberá ao correntista decidir se quer compartilhá-las (no todo ou em parte) com outras instituições financeiras.

Em plataformas chamadas agregadores, o consumidor pode centralizar as contas, fazer pagamentos e gerenciar investimentos mesmo que os produtos sejam de bancos diferentes. A ferramenta deve oferecer ainda uma espécie de cardápio personalizado com linhas de crédito e outros produtos financeiros de preços e características diversos.

Para Otávio Damaso, diretor de Regulação do BC, as possibilidades são infinitas. Como o banco é obrigado a compartilhar os dados autorizados pelo cliente, agregadores e plataformas de instituições menores podem virar uma espécie de Amazon financeira, atuando como um market place para produtos de parceiros.

“Tem gente pensando em como desenvolver produtos e serviços com base no open banking. A evolução será observada ao longo do tempo, com as soluções e ideias que o mercado for criando”, afirmou Damaso em evento do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional.

Segundo o diretor do BC, a crença inicial era que o open banking seria um sucesso se, após a implementação, um grande fluxo de clientes migrasse suas contas para outros bancos. Isso mudou.

“Agora vimos que não, o cidadão não necessariamente quer trocar o provedor, ele pode gostar do serviço daquele banco e continuar sendo correntista, mas acha o cheque especial muito caro ou quer ter acesso a outros produtos em outras instituições. É uma mudança de parâmetro para medir a eficiência do sistema.”

Já existem agregadores que conectam todas as contas do usuário e permitem controle das finanças e outros que fazem cotação de crédito em diferentes instituições parceiras, como o Guia Bolso, mas o sistema aberto pode potencializar esses serviços. Com o compartilhamento de informações, bancos concorrentes e fintechs vão poder avaliar com mais precisão o perfil do cliente, aperfeiçoar a análise de risco e reduzir a probabilidade de calote.

Como os juros de empréstimos variam conforme o perfil do tomador, informações detalhadas de seus gastos e de outros empréstimos (passados ou atuais) fazem diferença. Se o interessado for bom pagador, pode negociar juros menores com seu banco ou com os concorrentes.

O modelo abre caminho para uma maior segmentação do sistema financeiro, afirma José Luiz Rodrigues, especialista em regulação bancária —uma instituição pode se especializar em crédito consignado, outra em financiamento de veículos, por exemplo. “Quando há aumento da concorrência, as empresas se especializam no que são melhores para oferecer um produto mais competitivo, mais personalizado.”

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Modelo pode crescer e agregar outros produtos bancários

O open banking pode virar open finance (finanças abertas), integrando todos os produtos financeiros, como seguros, pagamentos, investimentos e câmbio.

Em outubro do ano passado, o Banco Central criou a figura do iniciador de transação de pagamentos. São empresas autorizadas a intermediar o repasse de recursos entre contas de bancos diferentes. Em maio, o BC deu aval para o serviço de transferência de dinheiro do WhatsApp, que se enquadra na categoria. Outros devem surgir.

“Os iniciadores de pagamentos terão um papel muito importante, vão ligar a empresa que quer dar crédito às contas bancárias dos usuários que aceitam compartilhar seus dados para obter melhores taxas. Isso é um mercado novo, criado pelo open finance, que abre oportunidade a novos negócios e serviços”, declara Rafael Stark, presidente da fintech Stark Bank.

O sucesso do Pix, sistema de pagamento instantâneo lançado em 2020, mostra que o brasileiro está aberto a inovação, mas profissionais do setor não creem que o open banking tenha adesão tão rápida.

Diferentemente do Pix, realizado dentro do aplicativo do banco ou da fintech que o cliente já usa e em que confia, o open banking requer mais cuidado porque o consumidor vai compartilhar os dados bancários com instituições pouco conhecidas, o que gera mais desconfiança e requer maior adaptação.

Neste aspecto reside o perigo e está o grande desafio da implantação do sistema financeiro aberto. “A tecnologia é o maior instrumento de democratização, mas é necessário fazer com que a população entenda o modelo”, declara o diretor-executivo da Associação Brasileira de Bancos, Claudio Guimarães Junior.

O desconhecimento, na verdade, extrapola a população, afirma José Luiz Rodrigues. “Inclusive no meio técnico pouca gente sabe o que é open banking. É necessário que as instituições invistam na educação financeira.”

O que é open banking

O sistema financeiro aberto é a possibilidade de instituições financeiras compartilharem informações de seus correntistas com outras. Só ocorre com autorização do cliente, que define também quais dados podem ser compartilhados e com quem. A permissão pode ser suspensa a qualquer momento

Países que já adotaram Reino Unido e Austrália Onde está em análise

África do Sul, Canadá, EUA, México, União Europeia, Quênia, Nigéria, Índia, Rússia, Nova Zelândia, Cingapura, Hong Kong e Japão Cronograma no Brasil

2ª fase (início 15/7/2021)  

Compartilhamento de dados transacionais entre as instituições e os cadastrais autorizados pelo cliente (CPF, CNPJ, telefone, endereço etc.)

3ª fase (início 30/8/2021) 

Compartilhamento de serviços de iniciação de pagamento (transferências) pelo Pix 4ª fase (início 25/10/2021) 

Compartilhamento dos dados de instituições (como lista de produtos e preços) sobre demais operações (como câmbio, investimentos, previdência e seguros)

15/2/2022 

Compartilhamento de transferências entre contas do mesmo banco e TED 30/3/2022 

Compartilhamento do serviço de encaminhamento de proposta de operações de crédito 31/5 2022 

Compartilhamento de dados de clientes sobre demais operações, como câmbio, investimentos, previdência e seguros? 30/6/2022 

Compartilhamento de pagamento por boleto 30/9/2022 

Compartilhamento de débito em conta Glossário

Open finance 

Formato mais ampliado do open banking, quando todos os produtos passam a integrar o sistema, como seguros, pagamentos, investimentos e câmbio?

Fintech 

Junção de finance technology, identifica empresas ligadas ao sistema financeiro especializadas em inovação e tecnologia. Podem ser de crédito (que concedem empréstimos), de pagamentos ou outros tipos de negócios (como de controle financeiro) Iniciadores de pagamentos (Pisp) 

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contas em bancos diferentes. O WhatsApp recebeu em maio autorização do BC para atuar nessa categoria Agregadores 

?Plataformas que se conectam a todas as contas do usuário e centralizam dados de saldo e dívidas, para maior controle financeiro

API 

Canal de compartilhamento de dados entre instituições. São conjuntos de protocolos que permitem a um sistema se conectar com outro para trabalhar dados de maneira padronizada

Bancos correm para concluir adaptações exigidas pelo

Open Banking

Diana Lott 7-9 minutos

Três dos cinco maiores bancos do país estão correndo para concluir todas as adaptações tecnológicas exigidas para entrar na fase dois da implementação do open banking.

A partir do dia 15 de julho, as instituições participantes devem viabilizar o compartilhamento de dados como informações cadastrais, transações em contas e cartões, empréstimos e financiamentos contratados por seus clientes.

O processo envolve desde a padronização de bancos de dados à criação de um ambiente dentro dos aplicativos com o passo a passo para que o usuário possa autorizar o compartilhamento.

“O cronograma é bastante desafiador. Sempre foi, desde o início, mas avaliamos como factível”, diz João André Pereira, chefe do departamento de regulação do sistema financeiro do Banco Central.

Desafiador foi também o termo usado por Itaú Unibanco, Santander e Banco do Brasil. “É um cronograma apertado, principalmente se compararmos o nível de complexidade da implantação do sistema no Brasil ao de outros países, como Reino Unido e Austrália”, diz Thiago Charnet, diretor de tecnologia do Itaú Unibanco.

O modelo britânico, explica ele, não incluiu o compartilhamento de dados de investimento, câmbio, seguros e previdência, por exemplo.

No caso do Santander, o histórico de crescimento por aquisições e o fato de já operar em regime de open banking no Reino Unido são diferenciais que têm ajudado, segundo Jayme Chataque, superintendente-executivo de Open Banking, Tecnologia e Operações.

“Estamos acostumados a fazer adaptações tecnológicas de grande complexidade para integrar diferentes aplicações às nossas. Também somos o único grande banco de varejo no Brasil com operação fora do país”, afirma. Chataque diz que a equipe internacional de tecnologia do banco está compartilhando experiências com o time brasileiro.

Ainda assim, o Santander contratou profissionais externos para garantir as entregas e colocou parte significativa de seu setor de tecnologia em regime de dedicação exclusiva à implantação.

O Banco do Brasil, por sua vez, decidiu contar apenas com sua equipe interna. Karen Machado, gerente-executiva de negócios digitais, afirma que a instituição está muito próxima de concluir as mudanças demandadas pelo BC. “Já tínhamos experiência na construção de APIs, é um território em que já navegávamos com bastante conforto.”

Bruno Magrani, diretor de Relações Institucionais do Nubank, afirma que graças ao DNA digital do banco, a implantação deve ocorrer “de forma muito natural”.

O lançamento da primeira fase do open banking, previsto inicialmente para 30 de novembro de 2020, acabou adiado pelo BC para 1º de fevereiro, a pedido de entidades do setor. Pereira afirma que o tempo adicional foi necessário para um ajuste fino na operação e que há a possibilidade de ocorrer o mesmo agora.

Além das adaptações exigidas pelo BC, as instituições financeiras preparam, em paralelo, novos serviços e produtos a serem lançados juntamente com a fase dois.

É o caso do Banco do Brasil, que planeja oferecer uma nova versão de seu módulo de gerenciamento de finanças pessoais: além de visualizar as transações realizadas na conta do banco, o cliente poderá trazer os dados de outras instituições financeiras e consolidá-los em um único extrato. Assim, o correntista poderá ver em uma única tela todas as suas movimentações bancárias, tendo uma visão geral de renda e gastos.

O Santander também planeja oferecer as funcionalidades. Com o dia 15 de julho cada vez mais próximo, as equipes de tecnologia começam a se organizar para entregar a terceira fase, que promete ser ainda mais trabalhosa.

Até 30 de agosto, os bancos têm de estar prontos para compartilhar serviços entre si, o que envolve um trabalho mais minucioso e com atenção redobrada à segurança das plataformas.

“A complexidade vai aumentando de acordo com a sensibilidade do compartilhamento de dados”, diz Pereira, do BC. Ele afirma, no entanto, que a corrida pela implantação vai além do mero cumprimento das regras.

“Mesmo os bancos grandes, que no início tinham alguma resistência porque estavam em sua zona de conforto, já enxergaram que o open banking é um campo de oportunidades de negócios para eles.”

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responderam.

O que é open banking

O sistema financeiro aberto é a possibilidade de instituições financeiras compartilharem informações de seus correntistas com outras. Só ocorre com autorização do cliente, que define também quais dados podem ser compartilhados e com quem. A permissão pode ser suspensa a qualquer momento

Países que já adotaram Reino Unido e Austrália Onde está em análise

África do Sul, Canadá, EUA, México, União Europeia, Quênia, Nigéria, Índia, Rússia, Nova Zelândia, Cingapura, Hong Kong e Japão Cronograma no Brasil

2ª fase (início 15/7/2021)  

Compartilhamento de dados transacionais entre as instituições e os cadastrais autorizados pelo cliente (CPF, CNPJ, telefone, endereço etc.)

3ª fase (início 30/8/2021) 

Compartilhamento de serviços de iniciação de pagamento (transferências) pelo Pix 4ª fase (início 25/10/2021) 

Compartilhamento dos dados de instituições (como lista de produtos e preços) sobre demais operações (como câmbio, investimentos, previdência e seguros)

15/2/2022 

Compartilhamento de transferências entre contas do mesmo banco e TED 30/3/2022 

Compartilhamento do serviço de encaminhamento de proposta de operações de crédito 31/5 2022 

Compartilhamento de dados de clientes sobre demais operações, como câmbio, investimentos, previdência e seguros? 30/6/2022 

Compartilhamento de pagamento por boleto 30/9/2022 

Compartilhamento de débito em conta Glossário

Open finance 

Formato mais ampliado do open banking, quando todos os produtos passam a integrar o sistema, como seguros, pagamentos, investimentos e câmbio?

Fintech 

Junção de finance technology, identifica empresas ligadas ao sistema financeiro especializadas em inovação e tecnologia. Podem ser de crédito (que concedem empréstimos), de pagamentos ou outros tipos de negócios (como de controle financeiro) Iniciadores de pagamentos (Pisp) 

Ou prestador de serviço de iniciação de pagamento (Pisp), são empresas autorizadas a intermediar o repasse de recursos entre contas em bancos diferentes. O WhatsApp recebeu em maio autorização do BC para atuar nessa categoria

Agregadores 

?Plataformas que se conectam a todas as contas do usuário e centralizam dados de saldo e dívidas, para maior controle financeiro

API 

Canal de compartilhamento de dados entre instituições. São conjuntos de protocolos que permitem a um sistema se conectar com outro para trabalhar dados de maneira padronizada

Open Banking não é 'bala de prata' para aumentar

concorrência

Vinicius Torres Freire 5-7 minutos

Os cinco maiores bancos comerciais do país emprestavam 81,8% do dinheiro e tinham 79,1% dos depósitos em 2020, segundo o Relatório de Economia Bancária do Banco Central, publicado no início deste mês.

A concentração de ativos, crédito e depósitos em poucos bancos suscita discussões sobre o peso dessa medida no nível das taxas de juros. A depender também de como se interpretem os resultados de tal polêmica, é possível ser mais ou menos

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otimista sobre o impacto do open banking sobre o custo do crédito, por exemplo.

Tal debate tem pelo menos duas décadas e não é conclusivo. Em teoria e na prática (caso de Holanda ou Canadá), é possível que exista competição em mercados concentrados. Além do mais, o comportamento dos bancos é diferente para cada parte do mercado de crédito (por exemplo, pessoas físicas e jurídicas, crédito imobiliário, financiamento de veículos, empréstimos pessoais com ou sem garantia, crédito rotativo).

Estudo publicado também no Relatório de Economia Bancária de junho de 2021 mostra que fatores financeiros, geográficos e socioeconômicos de determinado município também influenciam o nível das taxas de juros.

Alguns estudos recentes indicam que a concentração tem algum peso no nível da taxa de juros. É o caso de “Bank Competition, Cost of Credit and Economic Activity: evidence from Brazil”, de Gustavo Joaquim, Bernardus Van Doornik e José Renato Ornelas, publicado pelo Banco Central em 2019 (como texto para debate econômico, não como opinião do banco). Essa pesquisa procurou verificar o efeito de fusões e aquisições no comportamento de bancos em cada mercado municipal.

Segundo o resumo dos autores, “o artigo demonstra que uma redução na concorrência bancária aumenta os spreads dos empréstimos (diferença entre as taxas de empréstimo e de depósito) e diminui o volume do crédito, tudo considerado em termos relativos”.

Outro estudo também publicado pelo Banco Central indica que a concentração explica parte menor das altas taxas de juros (em uma espécie de comparação do caso brasileiro com o de seis países da América do Sul: “High Lending Interest Rates in Brazil: cost or concentration”, de Thiago Trafane Oliveira Santos).

Os fatores que explicariam cerca de 89% da diferença seriam Imposto sobre Operações Financeiras, alto nível da taxa de juros livre de risco, menor recuperação dos empréstimos concedidos e inadimplência. A concentração bancária explicaria 11% da diferença de juros. Isto é, o custo seria a explicação de maior dos juros altos.

Mesmo que o custo tenha peso decisivamente maior no preço do crédito, o aumento da concorrência, que também pode ser incentivado pelo open banking, pode ter efeito de reduzir juros e outros custos para o cliente de instituições financeiras, embora mesmo o Banco Central afirme que se trata de apenas um fator de um processo mais comprido de reformas.

“Não tem bala da prata, possibilidade de mudança de hora para outra”, diz Lauro Gonzalez, coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp-FGV). Gonzalez imagina o impacto possível dos efeitos do open banking dividindo os clientes das instituições financeiras em dois grandes grupos: os “mal servidos” (os atuais clientes) e os “excluídos” (sem banco ou que não conseguem utilizar ou ter a acesso serviços financeiros).

Para o grupo dos “incluídos”, o pesquisador imagina que pode haver algum aumento de concorrência, com oferta de taxas e serviço melhores, embora não seja possível especular sobre a margem dessas melhorias. Gonzalez enfatiza que a nova regulação e as facilidades tecnológicas podem incentivar o surgimento de novos atores no mercado de serviços financeiros e novos “modelos de negócios”.

Isto é, que novos empreendimentos criem soluções novas: embora os bancos maiores sejam capazes em termos de tecnologia, seriam lentos na inovação do serviço. Isso teria já ficado em alguma medida com surgimento das “fintechs”, que, no entanto, são uma “gota no oceano” do mercado de crédito. Em termos gerais, diminui a barreira para a entrada de novos competidores no setor, Gonzalez chama a atenção em especial para as possibilidades que inovações como o open banking oferecem para o microcrédito.

As facilidades de coleta e compartilhamento de informações podem fazer com que pequenas instituições de crédito locais (como cooperativas) se articulem com estatais como BNDES e Caixa de modo a fazer com que o crédito flua do centro para a periferia, para o pequeno tomador.

Mais do que isso, a tecnologia pode mudar o padrão de cálculo de risco de crédito, que determina parte do custo de empréstimos e é, em geral e convencionalmente, baseado em indicadores como renda, patrimônio que sirva de garantia e histórico de pagamentos.

Empecilhos? Pessoas de renda ou instrução menor tem menos (se algum) acesso a serviços de internet de qualidade e de preço acessível, dificuldades de entender o sistema de crédito e custo de empréstimos. Uma mudança “inclusiva”, diz Gonzalez, dependeria, além de tecnologia e nova regulação, de políticas públicas que lidassem tanto com a falta de acesso ao sistema quanto com o custo para o pequeno tomador.

Contas para receber auxílio não eliminam exclusão

financeira

Philippe Scerb 6-8 minutos

O pagamento do auxílio emergencial e a difusão de bancos e operações digitais, como o Pix, ampliaram a parcela de brasileiros com algum tipo de conta bancária, mas esse processo não deve ser confundido com uma efetiva inclusão financeira.

A maioria dos cerca de 10 milhões de novos correntistas surgidos desde o início da pandemia (dados de outubro do Banco Central) continua sem usufruir de recursos típicos da verdadeira bancarização, como acesso a crédito, poupança e meios de

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pagamento. Sem esses benefícios, é provável que uma parte significativa deixe de movimentar ou feche a conta quando o programa de auxílio for encerrado.

Pesquisa do Instituto Locomotiva com 1.500 pessoas mostra que, especialmente nas classes D e E, as contas só servem para receber e sacar dinheiro —o que explica por que a circulação de dinheiro vivo no país também cresceu com o auxílio, passando de R$ 214 bilhões em março a R$ 309 bilhões em dezembro de 2020, segundo dados divulgados pelo BC.

Os fatores que contribuem para o uso restrito dos bancos vão de decisões práticas (como o desconto a quem paga em dinheiro vivo) a convicções e hábitos moldados pela desconfiança ou pelo medo de descontrole financeiro.

A pesquisa revela, por exemplo, que para 38% dos sem banco, é mais seguro guardar dinheiro é em casa. “A impressão é de que se o cartão de débito for perdido ou roubado, tudo o que foi poupado pode desaparecer”, diz Renato Meirelles, fundador do Data Popular e hoje presidente do Instituto Locomotiva.

“Essa insegurança aumenta quando, depois de abrir a conta, a primeira oferta que a pessoa recebe é a de fazer um seguro contra perda ou roubo do cartão.”

Usar dinheiro vivo também costuma ser visto como forma de controlar o orçamento. “Se o valor dos produtos colocados no carrinho excede o recurso levado em espécie, a única alternativa é deixar parte deles no mercado. Com o cartão, é maior o risco de perder o controle”, diz.

Mas, a julgar pela pesquisa, o maior obstáculo continua sendo a percepção de que manter uma conta custa caro demais. Dois terços dos entrevistados concordam com a afirmação de que os bancos cobram muitas tarifas e que quanto menos usar, melhor. Apenas 17% discordam.

Nesse sentido, bancos sem agências e inovações como o Pix devem ajudar na inclusão ao reduzir taxas e difundir serviços antes inacessíveis.

Mas Lauro Gonzalez, coordenador do Centro de Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getulio Vargas, acredita que os principais beneficiários da multiplicação de instituições financeiras digitais são os chamados “mal servidos”, gente que já era correntista, mas não dispunha de acesso a crédito e a diferentes meios de pagamento.

Gonzalez prefere “ver o copo meio cheio”. Considera que esse processo tem expandido o atendimento bancário, mas lembra que os excluídos, gente que não conta sequer com um grau limitado de bancarização, permanecem à margem do sistema em decorrência de outra exclusão, a digital. Segundo o IBGE, até 2019, 40 milhões de brasileiros não tinham acesso à internet. “Com a adoção de novas tecnologias, inclusão financeira e inclusão digital passaram a andar de mãos dadas. Enquanto tivermos um grupo importante de pessoas sem acesso à internet no Brasil, teremos muita gente desprovida de serviços bancários essenciais”, diz Gonzalez.

Por outro lado, os excluídos mobilizam uma quantidade expressiva de recursos. Os 16 milhões de brasileiros sem conta bancária movimentam R$ 174 bilhões por ano, segundo a pesquisa do Locomotiva. Sua inclusão, portanto, representa um grande potencial de negócios, e se algumas instituições financeiras têm atraído os mal servidos, outras estão de olho nesses totalmente desbancarizados.

É o caso do banco digital Will Bank. Cético quanto à inclusão promovida pelo pagamento do auxílio emergencial, seu fundador, Felipe Felix, afirma que um caminho para a efetiva bancarização dos excluídos passa pela oferta de crédito, um serviço valorizado que não chega a essas pessoas. Cerca de 40% dos clientes aprovados pelo Will Bank não tinham qualquer tipo de cartão de crédito.

Segundo Felix, a economia de gastos garantida pela tecnologia permite à instituição atender clientes que não são economicamente vantajosos para um banco tradicional, obrigado a custear ampla rede de agências e funcionários.

“Com uma estrutura operacional enxuta, conseguimos oferecer crédito para uma pessoa que não seria aprovada por um banco convencional. Nossos clientes gastam, em média, somente R$ 700 no cartão, e o crédito acaba sendo para eles uma porta de entrada no sistema financeiro, onde vão acabar acessando outros produtos e serviços.”

Felix reconhece que o acesso limitado à internet representa um obstáculo à bancarização, mas acha que o hábito de compartilhar recursos escassos, corriqueiro entre as camadas populares, pode ajudar a contornar o problema. “As pessoas estão acostumadas a dividir o celular, a internet, o cartão de crédito. Se o serviço atender a uma carência do cliente, ele pode contar com familiares e amigos para acessá-lo.”

Outro caminho para a inclusão financeira é o chamado micro investimento. Embora até gostassem de deixar o dinheiro no banco, os mais pobres são muitas vezes dissuadidos por taxas que consomem parte das reservas.

O banco digital Grão busca driblar o problema com uma conta isenta de tarifas e que rende 100% do CDI, portanto mais do que a poupança. “Muita gente acha que investir é para rico, por isso nós usamos o termo ‘guardar’. As pessoas ficam impressionadas quando seu dinheiro rende o primeiro centavo”, diz a fundadora da fintech, Monica Saccarelli.

Ela diz que sua empresa não disputa clientes com os bancos, onde as taxas costumam assustar. “Nosso concorrente é a casa da pessoa, a lata de Nescau, o bom e velho colchão. Nosso objetivo é mostrar que, em vez de pagar ao banco, ele pode guardar para si e ainda ganhar com isso.”

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big techs

Rogério Simões 8-11 minutos

A lógica e a tecnologia do open banking oferecem uma alternativa ao modelo das big techs de uso de dados das pessoas, na avaliação de Imran Gulamhuseinwala, chefe da entidade responsável por implementar o sistema no Reino Unido.

“No open banking, suas informações ficam com o banco, a não ser que você decida compartilhá-las com uma terceira parte. O modelo big tech é o oposto: ‘Se você usa meus serviços, seus dados são meus, para que eu possa comercializá-los’.”

Gulamhuseinwala, diretor da OBIE (Entidade de Implementação do Open Banking) desde 2017, diz que o sistema britânico tem dado certo porque o Estado tomou a iniciativa de padronizá-lo e controlá-lo desde o início. O crescimento tem sido constante. No último ano, o total de empresas envolvidas —bancos ou terceiros— aumentou 21%, chegando a 315. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

O open banking avança no Reino Unido. Era o que o sr. esperava quando assumiu sua posição, quatro anos atrás? Não é nenhuma surpresa. Quando começamos a oferecer open banking, estava claro para mim que havia uma necessidade real de os consumidores tomarem melhores decisões financeiras e serem capazes de se engajar com serviços financeiros de uma forma melhor. Mesmo numa economia desenvolvida, como a do Reino Unido, milhões de pessoas têm o cartão de crédito errado, estão na hipoteca errada, no empréstimo errado, na conta corrente errada, e muitas dessas coisas podiam ser atacadas pelo open banking. E existe esse crescente entendimento de que os dados das pessoas são valiosos e que esses dados pertencem a elas, não à instituição financeira. Eu acho uma pena que tenha demorado tanto quanto demorou.

Qual é a principal razão do sucesso do open banking no Reino Unido? Eu diria que foi a forma com que tem sido feito. Mesmo que chamemos de open banking aqui no Reino Unido, a base que o impulsiona é a PSD2, que é uma regulação europeia. Embora o Reino Unido não esteja mais na Europa [na União Europeia], nós estávamos quando a legislação foi criada e ainda a utilizamos. Mas o Reino Unido está muito mais avançado que o resto da Europa.

O que fizemos de correto —e a Europa não fez— foi: quando dissemos que iríamos usar a PSD2 aqui, dissemos que usaríamos padrões, e a Europa não disse isso logo de início. Com atraso, eles estão dizendo que ter padrões é algo bom. A segunda coisa que dissemos foi: teremos uma entidade de implementação, que garanta que os padrões sejam bons e sejam seguidos corretamente, que monitore os bancos para assegurar que as APIs de open banking sejam consistentes e de alta qualidade. E é isso o que eu faço.

?E qual foi o maior desafio? O verdadeiro desafio vem de tentar manter todos os diferentes participantes satisfeitos. Você tem os bancos providenciando as APIs, as empresas de fintech, que consomem as APIs, e os representantes dos usuários finais, que asseguram que as necessidades do usuário final sejam. Sempre existe um equilíbrio a ser estabelecido entre esses diferentes participantes. E isso precisa ser feito de uma forma que você tenha um ecossistema justo e sustentável. A decisão das autoridades britânicas de que haveria padrões e uma entidade era mesmo necessária? Nos EUA o setor privado tem um papel mais relevante. Tem sido absolutamente crucial. Eu tenho conseguido obter tanto progresso porque tenho alguns poderes entregues a mim pelo Estado para fazer o open banking funcionar. Quando você olha para a Austrália, o governo também se envolveu para fazer o sistema funcionar, e eu diria que o Reino Unido e a Austrália são provavelmente os países mais avançados quando se trata de open banking.

Os Estados Unidos têm uma forma de open banking. Eu a chamo de open banking voluntário, em vez de open banking compulsório, que é o que temos aqui e em muitos outros lugares do mundo. Nos EUA, isso significou que o mercado na verdade não está tão aberto quanto no Reino Unido. Isso porque cada banco tem sua própria conexão, e essa conexão é feita comercialmente. Aqui todo banco tem as mesmas APIs, e qualquer terceira parte, se autorizada, pode se conectar a elas. Nos EUA, os agregadores constroem todas as conexões, e se você, como uma terceira parte, quiser ter acesso às informações do consumidor, tem de passar pelo agregador —e pagar ao agregador. O sistema todo é muito mais discriminatório, porque, se você é um terceiro e não tem muito dinheiro, ou a proposta não gera muito dinheiro, ou se você, por algum motivo, é percebido como um concorrente dos bancos ou do agregador, você é deixado de fora. Só funciona porque os bancos estão satisfeitos em deixar o agregador trabalhando com eles. E em algum momento eles podem desconectar o agregador, e aí todo o ecossistema vai desmoronar. Se o open banking fosse padronizado nos EUA, e o governo assumisse um papel mais direto, poderia ser dez vezes maior do que é hoje.

Parece que nos EUA o sistema tornou-se mais burocrático e complexo —coisas que, historicamente, são associadas à forte presença do Estado. Você está absolutamente certo. O que fizemos aqui foi insistir para que se usem padrões. O Estado não desenhou esses padrões, mas quando todo mundo usa o mesmo padrão, é como se todo mundo falasse a mesma língua. Nos EUA, ninguém disse “deveríamos usar uma única língua ou um único formato”, então tudo se desenvolveu como uma evolução, multilateral, um tipo de bagunça, como um entroncamento de rodovias.

Como o sr. vê o papel dos bancos? Os bancos enrolaram. Nós poderíamos ter feito isso mais rapidamente. Mas os bancos finalmente implementaram. Também acho que poderiam ter feito de forma mais barata – se tivessem dedicado mais tempo. O que os bancos precisam fazer agora é reconhecer que o open banking veio para ficar. E precisam descobrir como criar valor a partir da infraestrutura que eles financiaram. Uma das formas é abraçando “APIs premium”.

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Bancos podem cobrar por algumas dessas APIs que eles não são obrigados a oferecer de graça no open banking. Acho ótimo se tivermos APIs regulatórias e APIs premium, funcionando lado a lado, todas usando a mesma infraestrutura, os mesmos padrões. E também espero que os bancos encorajem o uso de tudo que eles criaram para permitir que open banking ocorra em outros setores, trazendo seguradoras, gerentes de ativos, fundos de pensão, e mesmo o que chamamos de “dados inteligentes”, trazendo energia, telecomunicações, água, serviços.

O Reino Unido está perto dessa realidade em que energia, telecomunicações, tudo está conectado? Provavelmente estamos atrás do australianos nessa área. Eles têm uma visão de longo prazo em que o open banking é apenas o primeiro passo. Aqui estamos esperando o governo dizer “sim, o próximo passo vai acontecer, e o próximo, e o próximo”. Acho que saberemos, ao longo deste ano, se o governo vai, ou não, insistir nesses outros passos.

O sr. diria que o open banking é a prova de que estamos vivendo a era da abertura? E como equilibrar isso com a necessidade de privacidade? Do ponto de vista do consumidor final, o que o open banking oferece é interconectividade. O “open” [aberto, em inglês] do open banking na verdade refere-se à abertura da concorrência entre as partes terceiras, em oposição aos bancos. Mas a forma como eu penso sobre privacidade e dados é que o open banking é exatamente a tecnologia de que precisamos para assegurar que possamos controlar nossas próprias informações e melhorar nossa privacidade.

No open banking, suas informações ficam com o banco, a não ser que você decida, com consentimento explícito, compartilhá-las com uma terceira parte autorizada, para um propósito específico. Isso é completamente diferente do modelo das big techs [gigantes da tecnologia]. O modelo big tech é o oposto: “Se você usa meus serviços, seus dados são agora meus [da gigante de tecnologia], para que eu possa comercializá-los”.

O open banking pode se tornar referência para um novo modelo de interconectividade com privacidade?

Estou convencido disso. Há discussões bem interessantes sobre a regulação das big tech. Uma das ideias é de que a melhor forma de gerar concorrência em big tech e também proteger o consumidor é permitindo que os dados sejam tanto interoperáveis como portáteis. E o único exemplo que qualquer um dos arquitetos dessa potencial regulação consegue achar é o open banking.

Para Banco Central, redução de juros e tarifas não será

imediata no open banking

Larissa Garcia 7-9 minutos

O open banking, ou sistema financeiro aberto, abre um leque de oportunidades de inovação e pode mudar a forma como o cliente se relaciona com o seu banco, afirma o presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto. Mas a esperada redução em juros e tarifas não será instantânea.

“O open banking em si tem um efeito mais a longo prazo. Em outros países mais avançados no novo sistema há frustração porque o custo não caiu tão rápido, mas vemos novos modelos de negócio”, disse na abertura da segunda edição do seminário sobre open banking, realizada pela Folha na segunda-feira (28), com o patrocínio da Embratel.

Para o titular do BC, o open banking é um arcabouço muito grande e será difícil diferenciar o que causou o quê. “A gente já consegue ver uma descentralização, queda de spread e aumento de competição.”

A autoridade monetária ainda tenta prever como será a intermediação financeira do futuro. Uma das possibilidades, segundo Campos Neto, é a do cliente acessar seu banco por meio da rede social ou ocorrer a fusão de canais.

“Os dados produzidos são um ativo muito valioso, difícil de ser mensurado. Geram receita e não pagam imposto. Qual vai ser a intermediação financeira do futuro? As pessoas vão entrar no banco via mídia social? Vão virar um canal só?”

Para o presidente do BC, outra discussão importante é como monetizar os dados. “Grande parte do negócio é o quanto eu conheço meu cliente, porque posso oferecer produtos melhores, sob medida. Além disso, conheço o risco, posso apreçar melhor. Isso vai fazer com que os preços dos produtos caiam.”

Especialistas que participaram do seminário destacaram as novas oportunidades de negócios possíveis com a conexão entre fintechs, startups e instituições financeiras.

O compartilhamento de dados permite fazer melhores cálculos e projeções, diminuindo spread bancário e aumentando a eficiência, diz Carlos Kazuo Missao, diretor de soluções de inovação para clientes da GFT Brasil, empresa provedora de serviços de TI e de engenharia de software.

Veja o vídeo do debate

O compartilhamento de dados requer comunicação rápida, viabilizada pelas APIs, conjuntos de protocolos que permitem a conexão de um sistema com outro. “A grande maioria dos bancos já abriu suas APIs para seus desenvolvedores há muito tempo”, afirma Antonio João Filho, diretor-executivo da Embratel para mercado financeiro. Ele avalia que a pandemia acentuou o movimento dos bancos de levar seus clientes para o digital e vê o 5G como fator decisivo para acelerar este ecossistema.

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Na primeira fase do open banking, implementada em fevereiro, foram compartilhados apenas dados das instituições sobre seus canais de atendimento e produtos e serviços mais comuns. É nesta segunda fase que os clientes poderão autorizar o compartilhamento de suas informações.

Na quarta, programada para dezembro, ocorrerá o compartilhamento total de dados considerando as demais operações, como câmbio, investimentos e previdência. A partir daí, o BC passa a chamar o modelo de open finance: quando entram os dados pessoais e a possibilidade de usar o ecossistema para prestar serviços.

“Uma pessoa poderá compartilhar seu histórico de apólices, mostrando seu bom desempenho, para conseguir um preço melhor quando adquirir um seguro”, diz Eduardo Fraga, diretor da Susep (Superintendência de Seguros Privados).

Essas possibilidades aconteceram numa mesma interface a que uma seguradora não teria acesso numa velocidade tão rápida, diz Leandro Pupe Nóbrega, líder de operações na América Latina da Belvo, empresa espanhola que ajuda empreendedores de fintechs a interpretar dados sobre as finanças dos clientes.

O primeiro painel foi mediado pelo colunista da Folha Vinicius Torres Freire.

Maior acesso à informação pode gerar confiança

Bia Santos, 25, começou a se dedicar à área de mercado financeiro aos 16, no ensino médio, quando dois de seus professores a incentivaram a fazer um projeto de educação financeira. Na época, nada sabia de finanças nem como gerir o dinheiro que ganhava. Hoje, é diretora-executiva da empresa de soluções financeiras Barkus.

Debatedora da segunda mesa do seminário, Bia ressaltou a necessidade de educar o consumidor para que ele saiba o que está usando.

Com ela concordou Maxnaun Gutierrez, diretor da área de pessoa física do C6 Bank, mencionando a desconfiança revelada em pesquisa da fintech com 2.000 pessoas das classes A, B e C com acesso à internet e de todas as regiões do país.

Segundo o levantamento, 43% dos brasileiros não querem compartilhar seus dados com instituições financeiras, mesmo em troca de benefícios em tarifas e taxas de juros. Quanto maior a faixa etária, maior a desconfiança: no grupo acima dos 55 anos, 51% se disseram contra. Outros 24% não sabiam se queriam ou não.

O estrato de menor renda é o que menos rejeita o compartilhamento: 37% dos entrevistados das regiões Norte/Centro-Oeste confiam no sistema, frente à 31% no Sudeste.

Bia Santos afirma que parte do problema está na falta de conhecimento das instituições financeiras sobre as necessidades da população. Para ela, a parcela dos desbancarizados é um claro exemplo dessa negligência.

Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, 10% da população brasileira não tem conta bancária. A maioria dos desbancarizados mora no interior, é mulher de 18 a 29 anos, pertence às classes D e E e tem baixa escolarização.

Na pandemia, as empresas do mercado financeiro transferiram serviços para o meio digital e investiram nas redes sociais e em influenciadores, mas, para os palestrantes, isso não significa que o acesso à informação foi democratizado.

“A gente tem que trabalhar para transformar o pensamento da população como um todo, mostrar que precisamos olhar para nossas finanças e aprender como usar os serviços”, diz Bia Santos.

Para Thiago Alvarez, diretor do Guia Bolso, é importante frisar que os dados só serão compartilhados com o consentimento do cliente e que as instituições que farão parte desse sistema foram selecionadas pelo Banco Central.

Além disso, ele ressalta que o sigilo bancário e a existência da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que disciplina a forma como as informações do consumidor devem ser tratadas, são fundamentais para criar essa confiança do cidadão.

Bia acredita na necessidade de o mercado avaliar os abusos do mercado financeiro e, a partir daí, mudar a forma como os serviços são oferecidos. Isso, somado à informação sobre o open banking, poderia gerar mais confiança, diz. A segunda mesa foi mediada por Isabela Bolzani, repórter de Mercado da Folha.

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