• Nenhum resultado encontrado

A DÊIXIS PESSOAL E O SUJEITO NA AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM: POR UMA ABORDAGEM ENUNCIATIVA 1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A DÊIXIS PESSOAL E O SUJEITO NA AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM: POR UMA ABORDAGEM ENUNCIATIVA 1"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

A DÊIXIS PESSOAL E O SUJEITO NA AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM: POR UMA

ABORDAGEM ENUNCIATIVA1

José Temístocles Ferreira Júnior – PROLING/UFPB/CAPES Marianne C. B. Cavalcante – PROLING/UFPB/CNPq

0 Considerações Iniciais

A discussão acerca da relação entre subjetividade e linguagem não constitui um ponto novo no campo de estudos da Lingüística. Mesmo antes do corte saussuriano, no gesto que marcou a fundação da Lingüística moderna, estudiosos como Humboldt e Bréal já haviam se preocupado com a importância da inserção do sujeito nos estudos da linguagem. No entanto, para adquirir o estatuto de ciência, a Lingüística teve de operar, a partir da publicação póstuma do Curso de Lingüística Geral de Saussure, uma série de exclusões, colocando na exterioridade de seu objeto de investigação – a língua – questões como a subjetividade, a enunciação, a referência (Cf. TEIXEIRA, 2000), o que caracterizou o chamado imanentismo lingüístico, ou seja, o estudo da língua se encerrava nela mesma. Deste modo, destacamos com Flores e Teixeira (2005, p. 29), que Benveniste figura como um dos primeiros autores, a partir do quadro saussuriano, a desenvolver um modelo de análise da língua especificamente voltado para enunciação, trazendo em seu escopo o elemento subjetivo como ponto indispensável para se estudar a língua.

Desde então, a relação entre o sujeito e a linguagem tem sido colocada sob diferentes enfoques e perspectivas nas diversas linhas que integram a Lingüística, sobretudo a partir da segunda metade do século XX e o modo como o sujeito é tomado, nessas correntes lingüísticas, é decisivo para definição mesma do ponto de vista em que será abordado o objeto de investigação – a língua(gem). Mas, se é verdade que as perspectivas que transcendem o imanentismo lingüístico se valem necessariamente de algum sujeito, como afirma Teixeira (Idem), o modo de concebê-lo não constitui, por outro lado, um ponto pacífico. Entretanto, conforme Authier-Revuz (1998 apud TEIXEIRA 2000, p. 67), as acepções sobre o sujeito podem ser resumidas em duas: a primeira é a do sujeito-origem, presente nas abordagens pragmático-comunicacionais, que pressupõe um sujeito da razão, dono de seu dizer e é ele também fonte e origem de sentido; a segunda acepção, presente nas abordagens enunciativas e discursivas, se funda na premissa de que existe na verdade o efeito-sujeito, ou seja, o sujeito é um efeito do processo de aquisição da linguagem.

Neste trabalho, objetivamos discutir alguns postulados de Benveniste (1988 e 1989) acerca do sujeito na linguagem e quais as implicações destes postulados na aquisição de linguagem. Para isso, partiremos da observação do uso da dêixis pessoal na relação mãe-bebê, sob o pressuposto de que a língua é o lugar de expressão e de constituição de subjetividade (em que a relação dialógica eu/outro é explicitada) e de que a dêixis constitui o primeiro ponto de revelação do sujeito na língua, para tentar mostrar de que modo a dialogicidade presente nas interações mãe-bebê se evidencia no processo de enunciação e qual o estatuto da aquisição da linguagem na constituição do sujeito. Valer-nos-emos de dados longitudinais de duas díades mãe-bebê (de 12 a 36 meses de idade), em situação naturalística de interação, tendo como suporte teórico os estudos desenvolvidos por Benveniste (Idem) e Flores (2008), dentre outros. Os resultados mostram que através da observação das produções enunciativas do infans é possível vislumbrar as mudanças da relação do sujeito com a língua, com o outro e com sua própria subjetividade, na aquisição de linguagem.

1

Este artigo situa-se no contexto de nosso projeto de dissertação: “A dêixis pessoal nas interações mãe-bebê: Benveniste e a constituição do sujeito no processo de enunciação”, que está em andamento pelo Programa de Pós-graduação em Lingüística (PROLING/UFPB), sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Marianne C. B. Cavalcante. Agradecemos à CAPES pelo apoio com bolsa que nos foi concedida.

(2)

1 Benveniste e a questão do sujeito na aquisição da linguagem

Em Aquisição de Linguagem, as pesquisas que discutem a constituição do sujeito, de um modo geral, recorrem a exteriores teóricos distintos: ou partem de uma visão psicológica do sujeito, pressupondo a existência ou a predominância de um sujeito-origem; ou se valem de algumas considerações da Psicanálise (sobretudo, a lacaniana2) a respeito do sujeito, neste caso tomado como efeito de linguagem. Sem sombra de dúvidas, qualquer uma dessas acepções com que se decide trabalhar será decisiva para abordagem do fenômeno da aquisição. Questiona-se, em suma, qual o estatuto que o processo de aquisição da linguagem ocupa na constituição subjetiva do infans? Será mesmo que em aquisição da linguagem o sujeito deve estar em um dos dois extremos?

Assim, cabe-nos aqui a tarefa de discutir o processo de constituição do sujeito na aquisição da linguagem a partir de uma abordagem enunciativa, recorrendo a alguns postulados benvenistianos acerca do sujeito na linguagem e às implicações destes postulados para aquisição da linguagem.

Tomar o sujeito sob uma perspectiva enunciativa, a nosso ver, é indispensável para compreensão do processo de aquisição da linguagem, pois como afirma Fiorin (1996, p. 42) “a

enunciação é o lugar de instauração do sujeito e este é o ponto de referência das relações espácio-temporais. Ela é o lugar do “ego” (...)”. Por essa razão, tentamos antes de tudo

entender a acepção com que Benveniste toma o sujeito na língua. É comum encontrarmos em lingüistas de orientação Pragmática a idéia de que em Benveniste se verifica a premissa de que o sujeito é a fonte de sentido3, como destaca Possenti (2001, p. 189). De fato, algumas passagens de Benveniste (1988) parecem mesmo sugerir tal raciocínio4: “a enunciação é este colocar em funcionamento a língua por um ato individual de utilização” (p. 82); “este é o ato do locutor que

mobiliza a língua por sua conta” (p. 82); “depois da enunciação, a língua é efetuada em uma

instância de discurso, que emana de um locutor, (...)” (pp. 82-3), entre outras. Tais passagens poderiam conter a tese de que o sujeito é a fonte de sentido. Porém, parece-nos que se pode mostrar que esta interpretação não é totalmente viável, se considerarmos outros textos de Benveniste.

Conforme o autor, há para língua duas maneiras de ser na forma e no sentido. A primeira diz respeito ao nível semântico da língua, que é definido no ato mesmo de colocação da língua em uso e em ação (Benveniste, 1989, p. 229); A segunda tem a ver com a natureza semiótica da língua, isto é, com os signos como entidades lingüísticas que são dotadas de sentido, dos quais o sujeito deve se valer no ato mesmo de conversão da língua em funcionamento (Idem, p. 229-230). Ou seja, se o sujeito precisa submeter-se ao nível semiótico da língua para convertê-la no uso, será que em Benveniste o sujeito é mesmo fonte de sentido? Parece-nos que em Benveniste a linguagem é que garante ao sujeito a sua definição enquanto tal, sendo que, segundo o autor, é na e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito.

Talvez também não seja possível, distanciando-se de uma perspectiva pragmático-comunicacional, afirmar que em Benveniste se verifica a existência de um sujeito “assujeitado”. Aliás, em Benveniste, o conceito de sujeito deve ser tomado com certo cuidado, pois a ele atrelam-se outros conceitos como o de enunciação e mesmo o de linguagem. É o que fica claro, por exemplo, quando lemos em Benveniste (1988, p. 286):

A subjetividade de que tratamos aqui é a capacidade do locutor para se propor como “sujeito”. Define-se não pelo sentimento que cada um experimenta de ser ele mesmo (...) mas como a unidade psíquica que transcende a totalidade das experiências vividas que reúne, e que assegura a permanência da consciência. Ora, essa “subjetividade”, quer a apresentemos em fenomenologia ou em psicologia, como quisermos, não é mais que a emergência no ser de uma propriedade fundamental da linguagem. É “ego”

2Dentre os teóricos da Aquisição de Linguagem que se calcam nessa perspectiva, destaca-se De Lemos

(1992; 2002; 2006).

3 São muitos os exemplos, citaremos apenas um: RIBEIRO, 2003, p. 137. 4 Os destaques são nossos.

(3)

que diz ego. Encontramos aí o fundamento da “subjetividade” que se determina pelo status lingüístico da “pessoa”.

Desta citação podemos depreender alguns subsídios para compreensão do modo com que o sujeito é concebido por Benveniste. Um primeiro ponto é: a subjetividade tratada por

Benveniste não é mais que a capacidade do locutor para se propor como sujeito. Isso nos faz

perceber que o autor não estava preocupado em teorizar sobre o sujeito em si, mas sobre o modo de representação do sujeito na língua; Uma teoria que se volte para o sujeito propriamente dito fica a cargo de outras áreas, como a Psicologia e a Psicanálise. É essa perspectiva que encontramos em Flores (2001, p. 59):

A lingüística da enunciação toma para si não apenas o estatuto das marcas formais no enunciado, mas refere-se ao processo de sua produção: ao sujeito, tempo e espaço. A lingüística da enunciação deve centrar-se no estudo das representações do sujeito que enuncia e não no próprio sujeito, objeto de outras áreas. (o destaque é nosso).

Um segundo ponto que pode ser extraído da leitura de Benveniste é que o fundamento da subjetividade é determinado pelo status lingüístico da “pessoa”. Entram em cena, agora, outras questões que tangenciam o conceito de subjetividade: a noção de “pessoa” e de “não-pessoa” na enunciação. Com relação a essa questão, Benveniste (1988, p. 288) é categórico: “os pronomes pessoais são o primeiro ponto de apoio para revelação da subjetividade na linguagem”; os pronomes que remetem à pessoa no discurso são eu/tu, e o ele destina-se à categoria de não-pessoa. Com relação à categoria de pessoa (eu/tu), pode-se ainda afirmar sem erro que há nela certa “polaridade”, vez que ao proferir-se um “eu” nas instâncias enunciativas, instala-se simultaneamente um “tu”, com o qual o sujeito interage. Em Benveniste, porém, fica bem marcado que essa polaridade não significa simetria, pois o “eu” vai sempre exercer “uma posição de transcendência” com relação ao “tu”, muito embora cada um desses termos não possa ser concebido sem o outro.

Seguindo tal raciocínio, portanto, fica evidente a condição de alocução a que todo processo enunciativo está submetido, pois, segundo Benveniste, a mobilização do aparelho formal da enunciação é, para o locutor, a possibilidade de se referir pelo discurso, e, para o alocutário, a possibilidade de co-referir do mesmo modo (Benveniste, 1989, p. 84). Assim, fica estabelecido que o processo de referência é parte integrante da enunciação (op. cit. p.84). E, partindo dessa premissa, cabe-nos analisar de que modo o sujeito dá a conhecer o processo de constituição subjetiva por que está passando, por meio das marcas lingüísticas de sua inscrição no enunciado (dêixis pessoal), quando, valendo-se do aparelho formal da enunciação (Idem, p. 81-84), torna próprio o uso da língua e sua reversibilidade em situação de interação com o outro.

Mas, se é verdade que o fundamento da subjetividade na linguagem se assenta sobre o uso dos pronomes pessoais, Benveniste questiona a natureza desses pronomes, argumentando que “não remetem nem a um conceito nem a um indivíduo.” (1988, p. 288), e prossegue usando como exemplo o “eu”, que não se define como uma entidade lexical, mas que refere um ato individual de discurso em que é proferido, designando a presente instância discursiva que o enuncia. Ou seja, cria-se, assim, uma realidade discursiva na qual o “eu” está inserido, designando o locutor que se enuncia como sujeito. Fora dessa realidade, o “eu” adquire um outro sentido. “É, portanto, verdade ao pé da letra que o fundamento da subjetividade está no exercício da língua” (Cf. Ibidem, p. 288).

Desse modo, tentando encerrar a discussão que levantamos e, ao mesmo tempo, sem pôr um fim a ela5, gostaríamos de observar outra passagem de Benveniste no tocante a esta questão: “(...) É um homem falando que encontramos no mundo, um homem falando com outro homem, e a linguagem ensina a própria definição de homem6.” (1988, p. 285). Logo, podemos concluir

5 Para uma boa leitura a respeito da acepção com que o sujeito é tomado em Benveniste, recomendamos ver Flores et al. (2008).

(4)

que é o movimento do discurso, isto é, a enunciação, que recria indefinidamente o sujeito, que é ele mesmo efeito da linguagem.

2 Sobre a dêixis na aquisição da linguagem

No campo da aquisição de linguagem, dentre os trabalhos que têm sido desenvolvidos sob a perspectiva da inserção do elemento subjetivo nas análises lingüísticas, destacamos De Lemos (1992; 2002; 2006).

Baseando-se em De Lemos (1992, entre outros), Cavalcante (2004) afirma que a relação estabelecida entre a mãe e o bebê é uma relação atravessada pelo sistema da língua, e ambos estão, por essa razão, assujeitados a ele. De Lemos volta-se, então, para o estudo da língua enquanto sistema tal como é postulado por Saussure e para a psicanálise lacaniana que defende a tese de que o sujeito é clivado pelo grande outro do inconsciente. Aproxima-se, assim, no interacionismo de De Lemos, a aquisição de linguagem ao processo de constituição subjetiva, calcada na releitura que Lacan empreende de Saussure.

É certo que, como assevera Goldgrub (2001, p. 269), uma aproximação entre o processo de aquisição da linguagem e a teoria da constituição do sujeito tal como postulada pela psicanálise possui riscos. Dentre eles, o autor aponta o privilégio dado à aquisição de linguagem frente a outros fenômenos igualmente importantes, como a fixação do olhar, engatinhar, andar etc. Porém, é inegável que a linguagem possui lugar de destaque diante desses outros processos de aquisição por que passa o bebê, pois, como nos afirma Benveniste (1988, p. 285), é a linguagem que assegura a própria definição do homem; em outros termos, diz-se que a constituição do homem como sujeito só é possível na e pela linguagem, como dissemos acima.

Nesse sentido, voltamo-nos para a dêixis pessoal (partículas como “eu”, “tu”, “meu, “minha”, “teu”, “dele” etc.), pois, como bem afirma Brandão (2001, p.59), a designação dêitica é o primeiro ponto de ancoragem do sujeito na língua e, ao permitir dar um primeiro sentido à noção de subjetividade, constitui a forma inicial de compreensão do processo de subjetivação por que passa o bebê e o centro da problemática da enunciação.

Nesta pesquisa, trabalhamos com a concepção de dêixis associada à noção de que o fenômeno dêitico se dá no próprio processo de referenciação, na situação de interação mãe-bebê.

Segundo Benveniste (1988, p. 279), a relação eu/ tu ↔ aqui ↔ agora forma a base de constituição do sistema da língua. Desta base, derivam-se outras categorias lingüísticas como “meu”, “teu”, “hoje”, “amanhã”, “neste lugar” etc. Para ele, os dêiticos contêm o indicador de pessoa, sendo que dessa referência emerge seu caráter cada vez único e particular no ato de enunciação.

Assim, pois, é ao mesmo tempo original e fundamental o fato de que essas formas “pronominais” não remetem à “realidade” nem a posições “objetivas” no espaço ou no tempo, mas a enunciação cada vez única que as contém, e reflitam assim o eu próprio emprego. (op. cit. p. 280)

Ainda no mesmo parágrafo, Benveniste destaca a importância da função dos pronomes na comunicação intersubjetiva, pois, apropriando-se dessas formas vazias de referencialidade, o locutor insere-se no sistema de conversão da linguagem em discurso. É interessante destacar com Teixeira (2000) que no processo de enunciação, ao instituir-se um eu, institui-se necessariamente um tu; o sujeito, ao assumir o papel de eu no seu discurso, confronta-se com um outro eu e isso obriga-o a se reconhecer em um paradoxo que o constitui. O diálogo é, portanto, condição constitutiva da noção de pessoa e é também ele o elemento que instaura a natureza interdiscursiva e intersubjetiva da linguagem (Brait, 1997, p. 98).

Disso decorre, portanto, que os dêiticos pessoais (sobretudo, o eu) são termos proferidos, pelo menos em um período inicial de inserção do bebê no sistema da língua, em nítida referência ao tu e aos demais dêiticos enunciados pela mãe, como atesta Lacan (1979a, p.193): “O eu, por seu lado, é um termo verbal cujo uso é aprendido numa certa referência ao outro, que é uma realidade falada (...) constitui-se inicialmente numa experiência de linguagem, em referência ao tu (...)”.

(5)

Partindo dessa premissa, cabe-nos analisar de que modo o sujeito dá a conhecer o processo de constituição subjetiva por que está passando, por meio das marcas lingüísticas de sua inscrição no enunciado (dêixis pessoal), quando, valendo-se do aparelho formal da enunciação (BENVENISTE, 1989, p. 81-84), torna próprio o uso da língua e sua reversibilidade em situação de interação com o outro.

A partir do nascimento, a criança é inserida em uma estrutura dialógica por meio de uma

fala atribuída materna em que a mãe fala "como se" fosse o bebê, dando-lhe significação,

atribuindo-lhe “voz”, configurando, assim, uma instância inicial de funcionamento da língua (CAVALCANTE, 1999).

O lugar de terceira pessoa no discurso atribuído materno para se referir tanto à criança quanto à mãe é bastante freqüente, como vemos nos exemplos7 a seguir:

Fragmento 1: DIADE B, IDADE: 04 m 15 d “Olha o pintinho mãezinha!”

“Bora brincar mamãe?” “Cadê Vitor hein, mamãe?”

Fragmento 2: DÍADE B, IDADE: 09 m 12 d “Oxe, mãe!”

Fragmento 3: DÍADE C, IDADE: 31 m 21 d “Achô mãe!”

É perceptível, pois, nestes diferentes momentos de interação que a posição de terceira pessoa referindo-se ao bebê no discurso materno, ao longo dos primeiros 36 meses, é muito comum, mas logo a criança começa a fazer uso de pronomes pessoais para marcar seu lugar e o da mãe no discurso e a posicionar-se como sujeito de seu próprio discurso, quando então o uso do pronome pessoal eu se torna mais freqüente (Cf. CAVALCANTE, 2006).

Mas, até chegar aos 36 meses, o comportamento da criança varia frente ao discurso materno e, nestes fragmentos, podemos perceber as mudanças da relação da criança com o seu

outro (sobretudo, a mãe) e com a língua. Vejamos:

Fragmento 4: DÍADE C, IDADE: 09 meses 05 dias Mãe e bebê sentados no chão da sala

M (imita a tosse do bebê) Bó, bó, bó. Papai tá viajanu, né? C (olha para câmera e tosse) Bó, bó, bó. Pá, pá.

M Pá, pá, pá, pá. Essa perna inganchada, né, Vitória (...) Fragmento 5: DÍADE B, IDADE: 15meses e 21 dias

O bebê está sobre o tapete e a mãe está organizando as roupas. M (...) Quer dormir, quer?

C Qué, qué

M Quer? Mamãe bota a rede pra você dormi (...)deixa eu botar a rede pra gente dormir aqui na rede (...)

C Mi, mi

Nestas duas situações de interação naturalística, com díades diferentes e em idades também distintas, são perceptíveis as posições especulares de recortes dos discursos, tanto por

7

As díades mãe-bebê aqui utilizadas encontram-se transcritas e descritas no banco de dados do Laboratório de Aquisição da Fala e da Escrita (LAFE-UFPB), que está sob a coordenação da Prof.ª Dr.ª Marianne C. B. Cavalcante e da Prof.ª Dr.ª Evangelina M. Brito de Faria.

(6)

parte da mãe quanto por parte da criança. No fragmento 07, a criança recorta trechos da fala da mãe, como mostram os sintagmas ‘bó, bó’ e ‘pá, pá’.

Percebe-se também, a partir dos trechos “qué” e “mi”, no fragmento 08, que a criança, que neste caso já está em uma idade mais avançada, apenas faz uso de trechos do discurso materno para estabelecer diálogo com a mãe, sem, no entanto, complementá-los ou mesmo posicionar-se de forma diferente da fala da mãe, o que constitui uma atitude especular da criança frente ao discurso materno.

Em outro contexto de interação, o parceiro dialógico da criança, que neste caso não é a mãe, assume uma postura de incentivo a auto-nomeação da criança (“quem deu esse discu pra vitória?”, “vitória gostou?”) ao mesmo tempo em que estimula sua produção no turno seguinte, e percebemos uma mudança de atitude da criança, que agora responde à pergunta de seu parceiro interativo sem fazer recorte de seu discurso ou mesmo complementá-lo, instaurando agora seu papel nas instâncias discursivas. Vejamos:

Fragmento 6: DÍADE C, IDADE: 20 meses e 15 dias P. (pesquisadora) e criança estão no quarto.

P- quem deu esse discu pra vitória? C- foi mamãe

P- foi mamãe? C- foi.

P- vitória gostou? C- foi.

Ocorre também aí uma situação interessante no diálogo, em que o parceiro dialógico e o bebê abstraem-se da condição de agentes na dialogia e assumem a condição de objetos no diálogo, como se não fossem participantes efetivos da situação enunciada.

A criança, nos contextos de interação com a mãe, insere-se em um “jogo” dialógico, desde muito cedo, em que ela vai reconhecendo em certas situações e em certas ‘pistas’ significativas (como assegura Cavalcante (1999), principalmente a prosódia) presentes na fala materna uma maneira de chegar até o outro, compreender o que é proferido por ele e, dessa forma, construir os sentidos junto a ele. A criança passa, deste modo, de apenas interpretada para intérprete do mundo que a cerca, assumindo na relação diádica uma posição de sujeito de seu discurso e (inter)agindo lingüisticamente sobre as diferentes situações enunciativas em que está inserida.

Nesse sentido, de acordo com Cavalcante (1999), a configuração diferencial da fala materna quando dirigida ao infante desempenha uma função lingüístico-discursiva desde os primeiros meses, marcando tanto a constituição subjetiva e quanto o deslocamento de lugares discursivos entre mãe e bebê. É, portanto, a linguagem como atividade constitutiva que viabiliza as trocas interativas e a subjetividade do infante.

A compreensão desse processo gradual de subjetivação que se efetiva nos deslocamentos subjetivos, marcados a princípio na fala materna e depois na fala do infante, implica algumas considerações acerca da linguagem, pois é nela que se explicita a singularidade da relação mãe-bebê como espaço de constituição do sujeito. Assim, nos voltamos não para os enunciados, mas para o processo de enunciação, pois é nela que observamos as mudanças de relação do sujeito com a língua e é também o lugar em que o sujeito se instaura: “Porque a enunciação é o lugar de instauração do sujeito e este é o ponto de referência das relações espaço-temporais. Ela é o lugar do “ego” (...)”. (FIORIN, 1996, p. 42).

Sendo assim, o uso da dêixis pessoal evidencia o processo de construção subjetiva dos parceiros (o bebê em especial) e, como já mostramos, os dêiticos são usados tendo por base o ponto de vista da mãe, ou seja, para desenvolver a atividade referencial, a criança precisa deslocar-se de seu ponto de vista e levar em consideração o ângulo de visão da mãe, considerando o lugar que o outro-mãe está ocupando.

Tal deslocamento é imprescindível à constituição do sujeito, pois permite ao infante não apenas desenvolver referência com relação ao ambiente e à situação interativa, mas também e

(7)

principalmente construir o seu ponto de vista levando em conta o olhar do outro, posicionar-se em relação a ele, lidando, deste modo, com a intersubjetividade, que é condicional à comunicação lingüística e às interações discursivas.

Assim, o eu e o outro se imbricam no processo de constituição de subjetividade, em uma relação dialética e necessária à aquisição da linguagem e, nas palavras de Benveniste (op. cit.: 286), é na e pela linguagem que o indivíduo se constitui como sujeito. A linguagem é, portanto, a condição necessária à subjetividade.

Partindo dessas considerações e tomando agora como pressupostos o fato de que os termos ‘sujeito’ e ‘eu’ não são necessariamente termos que se recobrem e de que o uso do pronome ‘eu’ na infância nem sempre possui uma implicação de subjetividade, como já discutimos, mas por vezes explicita a instabilidade presente no processo gradual de constituição do sujeito, buscaremos mostrar de que modo a alternância dos pronomes pessoais nos discursos da mãe e da criança é reveladora dos deslocamentos e da constituição subjetivos.

Segundo De Lemos (1992; 2002), a compreensão das instâncias discursivas torna-se possível através da observação do uso dos pronomes pessoais. E para Benveniste (1988), os pronomes pessoais são os primeiros pontos de apoio para expressão de subjetividade. Pode-se afirmar, deste modo, que o uso da dêixis pessoal na relação mãe-bebê evidencia o processo de subjetivação por que passa o a criança, que nos primeiros meses, ainda depende da fala atribuída materna, mas logo irá assumir sua posição de sujeito de seu discurso.

Assim, verificamos o uso alternado de pronomes pessoais em diferentes díades mãe-bebê, subretudo o eu e o tu, como também os dêiticos que a eles se referem (como meu, minha,

teu, tua, dele, dela etc) marcados, a princípio, na fala da mãe e, depois, na fala do bebê, e que

refletem de certo modo as oscilações e os deslocamentos subjetivos presentes nas interações estabelecidas entre os parceiros da díade.

No período inicial da relação mãe-bebê, verifica-se tanto a ocorrência do uso de dêiticos pessoais verbais, quanto a de dêiticos pessoais gestuais, ou seja, o uso indicativo do apontar referindo-se aos participantes do discurso. Com relação aos primeiros, o uso de dêiticos pessoais verbais são bastante freqüentes na fala da mãe ao passo que verifica seu uso progressivo nas produções da criança. Porém, na fala da mãe, os pronomes pessoais alternam-se, ocorrendo também com freqüência gradativa, pois nos meses iniciais, a mãe ora usa os termos ‘ mãe’, ‘mãezinha’ e suas variantes para se referir a ela mesma, ora usa o eu, indicativo de pessoa. O mesmo fato pode ser verificado quando a mãe faz referência ao bebê, como podemos observar no exemplo a seguir:

Fragmento 7: DÍADE C, IDADE: 3 meses e 12 dias A mãe está trocando as roupas do bebê

M - Cadê Vitória? Cadê a nenê de mamãe? Cadê ela? C - (Mexe os braços e olha para mãe)

M - Acho mamãe. Acho. (...)

M – Eu tô aqui mamãe, eu tô aqui (em falsetto)

Neste fragmento, verificamos o uso dos termos ‘Vitória’, ‘nenê da mamãe’ e ‘ela’ para fazer referência ao bebê, o que de certo modo revela a posição de objeto no discurso da mãe que a criança ocupa. O pronome eu também aparece no diálogo, sem haver, entretanto, uma clara alusão ao sujeito/ locutor do discurso, pois o eu aí é usado em uma fala que a mãe atribui ao bebê como se ela fosse objeto de seu discurso.

São comuns na fala da mãe as oscilações do lugar discursivo ocupado pelo infante, visto que ele ora é objeto (‘ o nenê de mamãe’), ora ele é o sujeito de uma fala atribuída (‘eu tô aqui mamãe’). Estas oscilações também são observadas nos meses mais avançados, mas aos poucos os lugares dos parceiros dialógicos começam a ser delineados (Cf. CAVALCANTE, 2006).

Fragmento 8: DÍADE B, IDADE: 18 meses e 10 dias A mãe e o bebê estão brincando com a bola na sala.

(8)

M - Olhi u qui tia Marianni faz, cunversi cum ela, si você num queria sê filmadu cunversi cum tia Mari, ó Ninhu, olha pra ela vai Ninhu, ficô tímidu foi?Foi?

C - (bebê está de pé alternando o olhar entre a mãe e a câmera). M - mãe

C - (aponta) M - É Mari? C - É (...)

M - (...) Cadê, cheuvê, deixa eu vê si tá gostosu, tá gostosa M - (...) Então desça pra buscá. Assim você cai viu? Boti a bola pra cá, venha pra cá, venha

C - a bola

Nesta situação, a mãe interage com o bebê marcando claramente sua posição enquanto enunciadora de seu discurso através do eu e para se referir a ele usa o pronome você, distintamente da situação analisada anteriormente. Agora, a criança não mais depende da fala atribuída materna e já é capaz de posicionar-se (instaurar-se) como sujeito de seus enunciados.

Aos poucos a criança que se encontrava em uma posição de objeto da fala materna, começa (geralmente, a partir de quinze meses) a se colocar como um sujeito-falante. E é neste momento que o uso do pronome ‘eu’ no discurso materno começa a se tornar mais presente, e o bebê passa a ser tomado como um interlocutor na dialogia (Cf. CAVALCANTE & NASLAVSKY, 2006), e, de um processo especular ao discurso da mãe, surge um interactante capaz, agora, de posicionar-se como sujeito no discurso e isso fica explicitado no uso dos dêiticos pessoais.

Considerações Finais

Do que foi exposto até agora, torna-se evidente que a dêixis funciona como forte ponto de sustentação para inserção do infans no sistema da língua, revelando ainda as mudanças de posicionamento da criança com relação à linguagem e à sua subjetividade, bem como o processo de constituição subjetiva passa em aquisição de linguagem. Coube-nos, então, nesta pesquisa, analisar de que modo o processo de constituição subjetiva, tal como postulado por Benveniste, pode ser revelado no aparecimento e no uso da dêixis pessoal na fala do bebê em situação de interação com a mãe. E priorizamos uma visão enunciativa porque, por razões que acreditamos já estarem explícitas, pensamos que a relação entre constituição subjetiva e aquisição de linguagem precisa ser tomada sob uma ótica enunciativa. E para isso deixamos clara nossa filiação teórica a Benveniste, pois nele podemos encontrar a tese, creio que agora mais clara, de que é o movimento de enunciação que recria indefinidamente o sujeito (Cf. BENVENISTE, 1988, p. 285), que para se instaurar precisa de um lugar para si no discurso – a dêixis pessoal.

Após a análise e discussão que levantamos aqui, vemos que a categoria de pessoa é o fundamento lingüístico da intersubjetividade e a sua referência diz respeito, sobretudo, ao eu/tu e aos demais dêiticos que a eles se referem. Nesse sentido, concordamos com Flores & Teixeira (2001) quando afirmam que “o mecanismo da dêixis está marcado na língua e é colocado em funcionamento cada vez que o sujeito enuncia”. Em aquisição, a emergência dos dêiticos na fala do bebê revela as mudanças de sua relação com a língua e o processo de constituição subjetiva por que está passando.

Assim, muito embora possuam um lugar na língua, os dêiticos são categorias vazias de referencialidade e, ao mesmo tempo, possuem caráter subjetivo, porque revelam a instauração do sujeito quando, valendo-se da dêixis pessoal, torna próprio o uso da língua.

É necessário enfatizar, nestas últimas considerações, a relação intrínseca existente entre a aquisição de linguagem e o processo de constituição do sujeito, revelada no ato mesmo de

(9)

conversão da língua em discurso, sobretudo, na emergência da dêixis pessoal, como marca da inscrição do sujeito em sua enunciação.

Referências

BENVENISTE, E. Problemas de Lingüística Geral I. 2. Ed. Campinas, SP: Pontes: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1988.

_______ , E. Problemas de Lingüística Geral II. 2. Ed. Campinas, SP: Pontes: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1989.

BRAIT, Beth. Bakhtin e a natureza constitutivamente dialógica da linguagem. In: BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997.

______, B. (Org.) Estudos enunciativos no Brasil: histórias e perspectivas. São Paulo: Pontes, 2001.

CAVALCANTE, M. C. B. O gesto de apontar como processo de co-construção na interação

mãe-criança. Dissertação inédita. UFPE. 1994.

_______. Da voz à língua: a prosódia materna e o deslocamento do sujeito na fala dirigida ao

bebê. Tese de Doutoramento. IEL/UNICAMP, 1999.

______, M. C. B. . Aquisição da linguagem: nas trilhas do interacionismo. Cadernos do LAFE, v. 1, p. 12-17, 2006.

______, Marianne C. B. & NASLAVSKY, J. P. N.. O lugar de sujeito nas interações mãe-bebê. Revista do GELNE (UFC), v. 6, p. 57-67, 2006.

DE LEMOS, C. T. G. . Los processos metafóricos y metonímicos como mecanismos del cambio. Substratum, vol.1, n. 1, 1992.

______ . Língua e discurso na teorização sobre aquisição da linguagem. In.: FLORES, V. ; BARBISAN, Leci B. ; TEIXEIRA, Marlene. (Orgs.) Letras de Hoje. nº 04. Porto Alegre, EDIPUCRS: 1995.

______. Uma crítica (radical) à noção de desenvolvimento na Aquisição de Linguagem. In.: LIER-DEVITTO, M. F. & ARANTES, L. (Orgs.). Aquisição, patologias e clínica de linguagem. São Paulo: EDUC, FAPESP, 2006.

FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. São Paulo: Ática, 1996.

FLORES, Valdir do Nascimento. Princípios para definição do objeto da lingüística da enunciação. In. : BARBISAN, Leci & FLORES, V. (Orgs.). Estudos sobre enunciação, texto e

discurso. Revista Letras Hoje. Porto Alegre: EDIPURS, 2001.

______ , Valdir do Nascimento & TEIXEIRA, Marlene. Introdução à Lingüística da

Enunciação. São Paulo: Contexto, 2005.

______ , V. do Nascimento et al. Enunciação e gramática. São Paulo: Contexto, 2008.

GOLDGRUB, F. W. A máquina do fantasma: aquisição de linguagem & constituição do sujeito. Piracicaba-SP: Editora UNIMEP, 2001.

GUIMARÃES DE LEMOS, M. T. A língua que me falta: uma análise dos estudos em aquisição da linguagem. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2002.

LACAN, J. Seminário, livro I. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1979.

NORMAND, C. Os termos da enunciação em Benveniste. OLIVEIRA, S. L.; PARLATO, E. M.; RABELLO, S. (Orgs.). O falar da linguagem. São Paulo: Lovise, 1996.

POSSENTI, Sírio. O que significa “o sentido depende da enunciação”?. In: BRAIT, B. (Org.)

Estudos enunciativos no Brasil: histórias e perspectivas. São Paulo: Pontes, 2001.

RIBEIRO, Maria das G. C. Sobre as noções de sujeito e de sentido na linguagem. In.: CAVALCANTE, M. & FARIA, Maria E. B. de. DLCV: Língua, lingüística e literatura. João Pessoa: Idéia. Vol. I, 2004.

SILVA, Carmem L. da Costa. A fala da criança sob um olhar enunciativo. In.: FLORES, V. ; BARBISAN, Leci B. ; TEIXEIRA, Marlene. (Orgs.) Letras de Hoje. nº 138. Porto Alegre, EDIPUCRS: 2004.

TEIXEIRA, Marlene. Análise de Discurso e Psicanálise: elementos para uma abordagem do sentido no discurso. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.

Referências

Documentos relacionados

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

De seguida, vamos adaptar a nossa demonstrac¸ ˜ao da f ´ormula de M ¨untz, partindo de outras transformadas aritm ´eticas diferentes da transformada de M ¨obius, para dedu-

Com o objetivo de compreender como se efetivou a participação das educadoras - Maria Zuíla e Silva Moraes; Minerva Diaz de Sá Barreto - na criação dos diversos

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

O desenvolvimento desta pesquisa está alicerçado ao método Dialético Crítico fundamentado no Materialismo Histórico, que segundo Triviños (1987)permite que se aproxime de

Para preparar a pimenta branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam a coloração amarelada ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem

Por outro lado, quando se pretendeu verificar a influência da classe social sobre a prática de exercícios observou-se diferença significativa entre os grupos, de tal modo