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Preço do petróleo como determinante para o aumento das reservas e da disponibilidade energética

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

LEONARDO CHAVES BORGES CARDOSO

PREÇO DO PETRÓLEO COMO DETERMINANTE PARA O AUMENTO DAS RESERVAS E DA DISPONIBILIDADE ENERGÉTICA

SALVADOR 2009

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LEONARDO CHAVES BORGES CARDOSO

PREÇO DO PETRÓLEO COMO DETERMINANTE PARA O AUMENTO DAS RESERVAS E DA DISPONIBILIDADE ENERGÉTICA

Versão preliminar do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Economia da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Bouzid Izerrougene

SALVADOR 2009

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Ficha catalográfica elaborada por Vânia Cristina Magalhães CRB5-960

Cardoso, Leonardo Chaves Borges

C 268 Preço do petróleo como determinante para o aumento das reservas e da disponibilidade energética/ Leonardo Chaves Borges Cardoso. __ Salvador, 2009.

47 f. il.: quad.; fig.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Econômicas) Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Ciências Econômicas , 2009.

Orientador: Profº. Dr. Bouzid Izerrougene

1.Petróleo 2. Indústria petrolífera I. Izerrougene, Bouzi II.Título

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LEONARDO CHAVES BORGES CARDOSO

PREÇO DO PETRÓLEO COMO DETERMINANTE PARA O AUMENTO DAS RESERVAS E DA DISPONIBILIDADE ENERGÉTICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Economia da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Economia.

Aprovado em Junho de 2009.

Orientador: ____________________________________________ Prof. Dr. Bouzid Izerrougene

Faculdade de Economia da UFBA

_____________________________________________ Prof. Antonio Plínio Pires de Moura

Faculdade de Economia da UFBA

_____________________________________________ Prof. Ihering Guedes Alcoforado de Carvalho Faculdade de Economia da UFBA

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Dedico este trabalho à Carlos Estevão, Maria José e Braulio - os meus pilares.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais pela confiança, incentivo e amor. Sem eles nada disso seria possível, tampouco faria sentido.

A Dona Maria de Lourdes e a Braulio pela companhia, pelo amor, pelo sorriso diário.

Aos amigos que conheci na faculdade, gostaria de agradecer pelo companheirismo, pelas noites que passamos estudando e pelas que passamos festejando também. Pelas sextas no porto, pelos sábados de futebol e pelas inesquecíveis viagens que fizemos juntos. Pelos muitos que passaram de forma definitiva da categoria de colegas para a de amigos.

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RESUMO

Este trabalho versa sobre os conceitos de reserva de petróleo, sobre o preço do petróleo como determinante para a viabilidade de novas reservas e aumento da disponibilidade energética. Versa também sobre as características do mercado de petróleo, das especificidades desse mercado e de como os cenários de preço afetariam o a oferta futura de petróleo e a entrada de substitutos no mercado.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Estimativas e reservas 24

Figura 1 – Crescimento dos preços do petróleo 35

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

2 HISTÓRIA E IMPORTÂNCIA DO PETRÓLEO NO MUNDO 10

2.1 HISTÓRIA DO PETRÓLEO 10

2.2 IMPORTÂNCIA DO PETRÓLEO NO MUNDO 13

3 O MERCADO 15

4 RESERVAS DE PETRÓLEO: CONCEITOS E ESTIMATIVAS 21

4.1 CONCEITO DE RESERVAS 22

4.2 ESTIMATIVAS DAS RESERVAS, PICO DA PRODUÇÃO E ECONOMIA 26 DOS RECURSOS EXAURÍVEIS

5 OS CENÁRIOS DE PREÇOS DO PETRÓLEO E A DISPONIBILIDADE 33 ENERGÉTICA MUNDIAL

5.1 CENÁRIO DE PREÇOS CRESCENTES DO PETRÓLEO 33 5.2 CENÁRIO DOS PREÇOS DO PETRÓLEO MANTIDOS A NÍVEIS BAIXOS 39

6 CONCLUSÃO 41

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho é um esforço na tentativa de entender como o petróleo vem sendo a commodity estrategicamente mais importante do mundo por muitas décadas e, a partir do conceito das reservas de petróleo, mostrar que apenas em um cenário de preços crescentes do petróleo, ter-se-ia um consumo sustentável da commodity e um aumento da disponibilidade energética total.

Para tal objetivo, o trabalho começa com um sucinto apanhado da história do petróleo. Esse capítulo tem a finalidade de explicar como o recurso tornou-se o maior provedor da energia mundial e quais as vantagens comparativas que foram decisivas para que tenha assumido esse posto, desbancando o carvão mineral.

No capítulo seguinte, é ressaltada a importância do petróleo no mundo, trazendo a tona a gama de produtos que advêm dessa matéria-prima, da necessidade desses derivados para manutenção da vida humana nos atuais moldes. Neste capítulo, fica clara a importância deste recurso mineral pela quantidade de guerras já motivadas e que tiveram como motivo central o controle dos royalties, lucros, transportes, jazidas do petróleo, em resumo, por toda renda ligada ao petróleo.

No intuito de dissertar como os preços do petróleo irão afetar a demanda e oferta futura do petróleo, precisa-se definir como o mercado do produto comporta-se, mostrando algumas das suas especificidades mais relevantes ao trabalho. Esse detalhamento servirá de base para corroborar a suposição de que os preços do petróleo aumentarão de forma sustentável.

O modelo de comportamento futuro da oferta de petróleo proposto neste trabalho se baseia em dois pilares fundamentais. O primeiro é a crença de que os preços do petróleo seguirão uma tendência de alta. Essa crença surge das conclusões teóricas vindas da Economia dos Recursos Exauríveis e dos atuais fatos e tendências, a exemplo do aumento do consumo e da população, que, em conjunto, indicam para uma alta sustentada dos preços.

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Pela Teoria dos Recursos Exauríveis, não só o petróleo, mas todo e qualquer recurso finito possui uma natural tendência de alta. Baseado nas idéias de David Ricardo (1772-1823) de renda da terra, Harold Hotelling (1895-1973) desenvolveu o modelo que serve de base atual para gestão dos recursos exauríveis.

A suposição do modelo de Hotteling é a existência de uma tendência de alta dos preços dos recursos exauríveis porque o usual é que se comece a explorar um recurso qualquer pelas jazidas mais simples (jazidas com um custo de exploração menor) e, posteriormente, sejam exploradas jazidas mais complexas (mais caras).

O outro pilar fundamental do estudo é o conceito de reservas de petróleo. Em todas as classificações para recursos petrolíferos há margem para a suposição de que a quantidade total de óleo que pode ser recuperada é variável. Pois, em todas elas existe o termo “economicamente viável”. Ou seja, os recursos petrolíferos para que sejam verdadeiramente reservas, necessitam ser possivelmente recuperáveis aos preços correntes e com a tecnologia disponível atualmente.

Para finalizar o trabalho, são apresentados os dois cenários de preços futuros do petróleo. O primeiro cenário de preços crescentes e todas as consequências desse aumento, tais como: a entrada de substitutos no mercado, o aumento de investimento no setor energético como um todo e a viabilidade de mais reservas de petróleo.

O segundo cenário é o de preços mantidos a níveis baixos. Neste, são mostrados as consequências desse nível de preços, tais como a inviabilidade de reservas, a saída de substitutos do mercado e os desdobramentos da diminuição do investimento no setor energético como um todo.

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2 HISTÓRIA E IMPORTÂNCIA DO PETRÓLEO NO MUNDO

Para entender como petróleo tornou-se tão importante no mundo atual, quais vantagens o levaram a se tornar a principal fonte de energia no mundo e entender a real importância dessa commodity no mundo é ao que se destina este capítulo.

2.1 HISTÓRIA DO PETRÓLEO

O descobrimento do petróleo remonta à antiguidade. Na Babilônia (região que hoje corresponde ao Iraque) o petróleo foi usado para assentar tijolos; no Egito foi usado para pavimentação de estradas e na América pré-colombiana, foi usado pelos incas e maias na decoração e impermeabilização de potes cerâmicos. (THOMAS, 2001 apud BAHIA, 2006).

Com a Revolução Industrial em 1850, o mundo começa a demandar luz e energia em escalas nunca antes vistas. A iluminação era suprida pelo óleo extraído das baleias, dentre outras fontes, enquanto outras demandas energéticas ficavam por conta do carvão mineral (SOUZA, 2009).

O petróleo só foi produzido em escala comercial em 1859 quando o Coronel Drakeperfurou o primeiro poço na Pensilvânia. Com uma produção incipiente de 20 barris por dia, Drake precisava armazenar a sua produção, e o fez em barris de uísque. Surgia a Indústria do Petróleo e a sua medida de referência, o barril1 de petróleo (BAHIA, 2006).

O petróleo viria, posteriormente, a ser o principal provedor mundial de energia, suprindo as demandas mundiais em ambos os casos citados acima, tanto na iluminação, quanto na parte energética. Vale ressaltar que, com reservas avaliadas em um trilhão de toneladas, o carvão mineral ainda é o combustível fóssil mais abundante do mundo, mesmo depois de ser amplamente usado nas décadas subseqüentes à Revolução Industrial (BP, 2006 apud SOUZA, 2009).

1 O petróleo já foi transportado em barris de diferentes tamanhos, até que em 1870 a indústria normatizou o tamanho dos barris para 42 galões americanos, o que corresponde a 159 litros. Vale ressaltar, como curiosidade, que a abreviatura “bbl” para o petróleo veio dessa mesma padronização, pois além de padronizar o volume dos barris, a indústria também padronizou a sua cor, o azul, daí vem que a sigla (bbl) como abreviação de “blue barrel” (barril azul) (WHY..., 2009).

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Com relação ao uso do óleo de baleia, as vantagens do petróleo são evidentes. O óleo de origem animal não seria viável a longo prazo como provedor de energia, mesmo que ele fosse utilizado apenas para iluminação, isso se deve a um motivo óbvio: com o passar do tempo as baleias correriam sério risco de extinção.

Já com relação à abundância do carvão mineral hoje em dia, pode-se dizer que em um mundo que anseia cada vez mais por energias limpas e/ou renováveis, voltar a utilizar o carvão como principal fonte energética é um retrocesso, uma vez que o carvão é mais poluente por unidade de energia que o petróleo, ou seja, para gerar a mesma quantidade de energia, o carvão polui mais que o petróleo. Mesmo sabendo que o petróleo está longe de ser o melhor provedor de energia em termos ambientais, ele está mais próximo de um “ótimo ambiental” que o carvão mineral (SOUZA, 2009).

Para que os determinantes da substituição do carvão mineral por petróleo como principal provedor mundial de energia fiquem mais claros, seguem as principais vantagens do petróleo em relação ao carvão mineral:

1. O petróleo, por ser líquido, possui uma grande vantagem no armazenamento em relação ao carvão mineral;

2. O petróleo é mais leve por unidade de energia do que o carvão mineral, mais eficiente do ponto de vista energético;

3. O petróleo é mais “limpo” do que o carvão mineral. Tanto na sua queima como no processo exploratório, o petróleo degrada menos o ambiente por unidade de energia do que o carvão mineral. Tanto considerando apenas a sua queima como combustível, quanto considerando todo o processo exploratório.

As duas primeiras vantagens que ressaltam as dificuldades no transporte e no armazenamento do carvão mineral explicam porque o comércio mundial desse fator energético é tão pequeno em relação ao petróleo e explicam também porque quando o carvão mineral é utilizado para gerar energia elétrica, por exemplo, as termoelétricas dão prioridade para se instalarem nas proximidades das minas, isso é feito para que os custos de um transporte difícil sejam minimizados. E como este é um custo mais significativo em relação ao uso do carvão mineral do que no uso do petróleo, temos um volume tão grande de petróleo comercializado internacionalmente e uma comercialização tão tímida do carvão mineral (SOUZA, 2009).

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Já a terceira vantagem mencionada, o fato de o carvão estar mais longe de um ótimo ambiental que o petróleo, é, com certeza, uma atual vantagem determinante para decidir entre qual recurso energético utilizar, mas anteriormente, as vantagens no armazenamento e transporte e a densidade energética é que figuraram como reais vantagens competitivas, enquanto que as preocupações ambientais não estavam em primeiro plano.

Outro motivo que não pode ser minimizado nessa substituição do carvão pelo petróleo é a invenção do motor à combustão interna pelo americano Samuel Morey em abril de 1826. Tanto essa quanto a posterior invenção do motor de combustão interna de alta eficiência do alemão Rundolf Diesel em 1900 foram decisivas para ratificação do petróleo como provedor mundial de energia, uma vez que um combustível sólido inviabilizaria o funcionamento do motor (BAHIA, 2006).

Após a ratificação do petróleo como um combustível mais eficiente do que o carvão mineral, a indústria do petróleo entra em uma nova fase, na qual não se pode esquecer de falar de John Rockfeller e do posterior Cartel das Sete Irmãs, isso seria, no mínimo, uma incoerência.

Rockfeller foi o fundador da primeira companhia petrolífera americana. Ele conseguiu incorporar, via economias de escala, a maioria das suas concorrentes, se tornando durante muito tempo um grande monopolista do setor. Em 1911, para proteger o consumidor, a gigante Standart Oil foi pulverizada em 33 empresas. Dessa forma, foi inaugurada a atual fase da indústria petrolífera, fase esta que a concorrência monopolística entre gigantescas e integradas empresas é o que prevalece, empresas estas que se beneficiam tanto de economias de escala quanto de integração (SOUZA, 2009).

Antes do petróleo se tornar a principal fonte de energia no mundo, ele teve que passar por uma espécie de teste: mostrar ao “mundo industrial” da época que além das vantagens de transporte, armazenagem e densidade energética. O óleo precisou mostrar também conseguiria manter uma regularidade na sua oferta. O mundo não poderia simplesmente trocar a sua matriz energética, adaptando fornos, máquinas e caldeiras que eram movidas a carvão, para o petróleo e dois anos depois o suprimento de petróleo cessar. A História nos mostra que o petróleo conseguiu passar por esse primeiro desafio, mas hoje, depois de 150 anos do nascimento da Indústria do Petróleo o que se pode ver é o retorno ao problema inicial: até quando o petróleo conseguirá ser ofertado com regularidade? Até onde as reservas de petróleo

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durarão? Até quando será viável utilizá-lo para os seus fins menos nobres, como a queima na forma de combustível?

2.2 IMPORTÂNCIA DO PETRÓLEO NO MUNDO

A Indústria de Petróleo é imprescindível para qualquer país. Não é possível pensar a vida humana nos atuais moldes sem o petróleo, sem os seus derivados. Ele é responsável por uma enorme gama de produtos que vão desde óleos combustíveis (diesel, querosene e gasolina), passando por insumos à indústria petroquímica (parafina e nafta) e chegando até os medicamentos que têm na sua composição derivados do petróleo. È impossível pensar os atuais moldes da vida humana sem asfalto, plásticos e aspirinas (HISTÓRIA..., 2002).

O petróleo é o principal produto comercializado no mundo. Só para se ter uma idéia da sua importância, não existe nenhum outro produto que tenha sido causa principal de tantas guerras. Podemos citar aqui as de Yom Kippur (1973), Irã x Iraque (1980-1988), a do Golfo (1991) e mais recentemente a invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003 (TEIXEIRA, 2009a).

Escritores como Galdino et al. (2009) chegam a afirmar que a água seja o petróleo do futuro, ou seja, que em um futuro próximo a água doce de boa qualidade se torne um produto tão disputado e mote de tantas sangrentas guerras quanto o petróleo, enquanto isso não acontece, o petróleo continua como o produto com o maior potencial belicoso já visto pela história mundial. O único outro motivo que poderia se equiparar ao petróleo no número de guerras seria a fé, mas esta não necessariamente é um produto.

Em toda a história do capitalismo poucas guerras não foram substancialmente impulsionadas por motivos econômicos, com o petróleo não poderia ser diferente. Não existe nada de novo em dizer que a Indústria do Petróleo é uma das indústrias mais lucrativas do mundo, e por isso causadora de tantas guerras. Como já dizia John Rockfeller (fundador da primeira companhia petrolífera norte-americana e durante muitos anos um dos homens mais ricos dos EUA): “o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada; o segundo melhor é uma empresa de petróleo mal administrada" (HISTÓRIA, 2002).

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Outra frase que segue a mesma linha da de Rockfeller e que traduz o atual momento do setor petrolífero é a de Eduardo Rappel (ex-Diretor Presidente da ONIP): “O petróleo sempre foi um bom negócio e agora é um negócio excelente”. Em meados de 2007, quando Rappel proferia a frase anterior, o petróleo passara da barreira dos US$ 150,00 e as apostas eram de que ele continuasse subindo. Com a recente crise imobiliária americana e uma expectativa de menor crescimento mundial e um crescimento menor na demanda futura, os preços despencaram e hoje rondam por volta dos US$ 50,00. Mas mesmo assim o petróleo está longe de ser um negócio ruim (USA, 2009).

Aqui no Brasil, os anteriores recordes nos preços criaram uma efervescência no setor de tal ordem que a Nona Rodada de Licitações da ANP, mesmo com a retirada dos blocos exploratórios mais cobiçados, foi considerada um sucesso, movimentando mais de 2 bilhões de reais em bônus de assinatura. Os 41 blocos retirados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP foram os do mega-campo de Tupi. A ANP os retirou com o coerente argumento de atender os interesses da nação. Só para efeito de exemplo, o poço-piloto, ou seja, “poço de teste” desta reserva teve sua produção inicial estimada em 110 mil barris por dia, mais de duas vezes a produção total baiana que é de 44 mil barris diários (BAHIA, 2006).

Em 2006, o petróleo foi responsável por 36% da demanda final de energia no mundo. Aqui no Brasil, o petróleo e os seus derivados foram responsáveis por 37,8% do total da matriz energética brasileira. Mesmo que aqui no Brasil esse percentual de 37,8% configure uma redução em relação ao de 2005 (38,7%), tanto o Brasil quanto o mundo estão longe de um futuro independente do petróleo (BRASIL, 2007).

Isso porque, não existe perspectiva de que o petróleo venha a perder importância no cenário mundial como um produto de fundamental importância. Pois, ainda não existe nenhum produto que substitua o petróleo em sua totalidade, tanto em relação a sua gama de derivados, como em relação a uma substituição a preços competitivos.

Portanto, saber com que rapidez o petróleo se tornará escasso e quais cenários levariam a um consumo sustentável do mesmo, se tornou uma necessidade latente para que o mundo possa se programar para as inevitáveis mudanças que estão por vir e assim tentar minimizar os futuros impactos dessa escassez.

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3 O MERCADO

O mercado de petróleo possui algumas especificidades que o torna único no mundo. Primeiramente precisa-se falar que o petróleo é um produto composto, ou seja, sua produção acontece associada a do gás natural. Existem casos, como a maioria dos campos produtores baianos, em que o gás natural é queimado por falta de infra-estrutura adequada para canalizar a produção. E a produção comercialmente aproveitada é de apenas do óleo. Existem outros casos em que o gás é injetado novamente no poço para que a pressão interna seja mais elevada, facilitando a saída posterior do petróleo. A título de exemplo, o volume de gás que foi queimado na exploração do petróleo na Bahia em 2005 foi de 33,13 milhões de metros cúbicos, ou seja, esse volume de gás foi queimado, ele nem foi injetado novamente, nem foi canalizado para comercialização (BRASIL, 2007).

Além de o petróleo ser um produto composto, a sua demanda é uma demanda derivada. Ou seja, a demanda não é por petróleo, mas sim por derivados de petróleo. Os consumidores não demandam barris de petróleo e sim gasolina, querosene, diesel e plásticos. Na tentativa de entender como funciona a demanda derivada, as citações posteriores de Milton Friedman são de fundamental importância.

Milton Friedman em seu livro Teoria dos Preços de 1971 dá as diretrizes básicas para compreender os principais determinantes da demanda derivada. Segundo Friedman, a demanda final dos produtos faz referência à utilidade atribuída a eles, enquanto a demanda pelos insumos faz referência indireta a utilidade a eles atribuída, uma vez que os consumidores, no final das contas, atribuem utilidade aos produtos finais e não aos insumos intermediários.

Friedman exemplifica a demanda derivada e a utilidade indireta atribuída aos insumos utilizando a demanda de lã e a de carne de ovelha. Como a carne de ovelha só pode ser consumida com o abate das mesmas, a demanda por mais carne de ovelhas, automaticamente aumenta a oferta de lã. Portanto, considerando um cenário de demanda por lá estável, um aumento na procura de carne de ovelhas pode diminuir o preço da lã de ovelhas, uma vez que uma maior quantidade de abates de ovelhas geraria um excesso de oferta de lãs. (FRIEDMAN, 1971)

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Com o petróleo, como a produção dos insumos obedece a bandas, ou seja, se o mercado demanda mais gasolina, as refinarias têm como aumentar um pouco a porcentagem de gasolina do total refinado, mas não têm como, a partir do petróleo, produzir apenas gasolina, ou seja, esse total tem um limite. Portanto, esse efeito descrito por Friedman teria alcance máximo se as proporções de insumos fossem totalmente fixas e alcance mínimo se as proporções fossem totalmente variáveis. Isso quer dizer que: o preço da gasolina (ou de algum outro derivado qualquer), em teoria, pode cair, mesmo com o preço do petróleo subindo.

A oferta da maioria dos produtos é mais elástica no longo prazo do que no curto prazo, isso acontece porque no longo prazo estão sendo inclusos os ajustes da demanda, tais como mudanças de hábito e desenvolvimento de substitutos. Se a demanda de soja aumentasse em 20% de um dia para o outro, por um fator qualquer, e for excluído da análise o uso dos estoques para suprimento desse excesso de demanda, faltará soja no curto prazo, mas já na safra seguinte é bem capaz que a oferta já tenha sido estimulada pelo aumento nos preços e a situação esteja equalizada novamente com o aumento da área plantada.

Com o petróleo não é diferente, a oferta tende a se ajustar da mesma forma, porém muito mais lentamente. Excluindo-se a idéia de que a indústria petrolífera trabalha com capacidade ociosa, ou seja, a indústria opera com capacidade de refino e de retirada de petróleo inelásticas no curto prazo. Vale lembrar que apenas uma dessas suposições já seria suficiente para dizer que a oferta de petróleo é inelástica no curto prazo, pois não adiantaria nada retirar o petróleo do solo e não ter como refiná-lo ou ter capacidade de refino e não conseguir tirá-lo do solo.

Essa inelasticidade ocorre por dois fatores. O primeiro é que o tempo entre a descoberta de um novo poço e o início da sua produção é muito maior do que, por exemplo, o tempo entre uma safra de soja e outra. O tempo entre a descoberta de um poço e o começo da sua produção é, em média, de seis anos. O segundo é que para construir uma refinaria, o tempo de construção é bem dilatado e o tempo de maturação do investimento mais ainda.

No setor de petróleo e gás os investimentos feitos hoje só terão retorno uma década depois. Isso faz com que a decisão de investir, que em qualquer setor é uma decisão complexa e tomada sempre em cenários incertos, seja ainda mais difícil do que outros setores que têm um

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retorno do investimento em um prazo menos dilatado, uma vez que o fator tempo entra com maior complexidade nas decisões relacionadas ao setor de petróleo e gás.

Como já foi dito, a incerteza é um fator constante nas decisões a serem tomadas em todos os setores da economia, não existem situações em que os resultados do conjunto de ações futuras sejam totalmente conhecidos. No setor de petróleo e gás além de não ser diferente, a incerteza aparece de forma muito mais marcante. A capacidade de avaliação de riscos fica bastante complicada devido aos altos investimentos necessários e ao grande número de variáveis incertas (COSTA, 2009).

Com relação aos vultosos investimentos necessários para atuar no setor, Suslick (2009) afirma que o custo estimado de um poço na Bacia de Campos era superior aos 15 milhões de dólares e que

Dados da literatura apontam que as taxas médias de sucesso de poços pioneiros perfurados nas bacias petrolíferas localizadas em zonas de fronteira (com escasso conhecimento geológico) situam-se numa faixa entre 20-30% dependendo da complexidade da bacia (SUSLICK, 2009).

Com investimentos tão elevados, a associação de empresas, joint ventures, é uma prática comum no setor. Dessa forma as empresas diluem os custos, diminuem e diversificam os investimentos.

Já com relação ao grande número de variáveis incertas, a exploração de um campo de petróleo está cercada delas, Costa (2009) faz a seguinte classificação dessas incertezas:

i) Incertezas geológicas: relacionadas ao nível de conhecimento das propriedades geológicas e petrofísicas das jazidas, podemos considerar como riscos geológicos, o risco de um poço perfurado ser seco ou desse poço não possuir volume de óleo que justifique a exploração;

ii) Incertezas econômicas: relacionadas principalmente à evolução dos preços do petróleo, à quantidade demandada no futuro e à evolução dos custos futuros de exploração;

iii) Incertezas políticas: relacionadas às “regras do jogo” (posse das reservas, respeito aos contratos e a propriedade privada, leis ambientais, ou seja, todos os fatores institucionais que interferem na exploração, refino e comercialização do petróleo);

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iv) Incertezas tecnológicas: são principalmente as incertezas relacionadas ao surgimento de novas energias que possibilitem a viabilidade da exploração de jazidas que ainda não podem ser exploradas, assim como o surgimento de novos métodos que possibilitem descobrir novas jazidas.

Outra característica do setor é que os seus insumos, ou a maioria deles, não são “produtos de prateleira”. Isso equivale a dizer que não é possível decidir extrair em determinado poço e daqui a um mês essa produção realmente acontecer. As decisões são tomadas em um horizonte temporal muito mais amplo. Isso porque muitos dos elementos necessários para a exploração do petróleo são feitos por encomenda. As empresas produtoras de “torres de exploração”, por exemplo, não possuem torres em estoque, elas precisam ser encomendadas, com as plataformas acontece a mesma coisa e, hoje em dia, existe até escassez de material humano para que a produção seja efetivada (ZAMITH, 2009).

Outra especificidade do mercado é que a formação de preços não obedece estritamente à relação de oferta e demanda de curto prazo. Com a globalização financeira e a entrada do petróleo como uma commodity fundamental para o mundo, os contratos de petróleo passaram a ser amplamente negociados.

Com esta entrada nas bolsas de valores de todo o mundo, os preços do petróleo são reajustados minuto a minuto, e essa variação não necessariamente tem alguma relação com a real oferta e demanda do produto no curto prazo, sendo apenas mudanças na expectativa de valorização ou não das vendas futuras de petróleo. Essa possibilidade de ganho rápido motiva agentes econômicos que não possuem relação alguma com o setor a investirem apenas como especuladores, sem realizar nenhuma compra efetiva de um único barril de petróleo, apenas negociando papéis, ações e opções relacionados ao setor de petróleo (ZAMITH, 2009).

O preço internacional do petróleo acompanha alguns mercados de referência: o Mercado do Golfo do México (US Gulf Coast), Mercado da Costa Leste Americana (New York Mercantile Exchange – NYMEX), o Mercado do Golfo Arábico, dentre outros. Esses mercados transacionam cargas físicas e contratos futuros de cargas e é justamente nessas cargas futuras que reside a maioria do volume das negociações. (ARAÚJO, 2009).

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Portanto, apenas por ser um recurso exaurível, a oferta atual de petróleo está necessariamente ligada a disponibilidade de petróleo no futuro, isso significa que quanto mais óleo é ofertado hoje, menos será ofertado no futuro. Isso torna as expectativas em relação ao consumo futuro do petróleo muito mais importante do que em relação ao consumo de soja, por exemplo. Com a soja, a oferta de 2009, não necessariamente impede que a oferta em 2010 seja ainda maior e assim sucessivamente. É claro que essa produção tem alguns limites, mas esse limites nem se comparam com os limites impostos à de um recurso exaurível.

Como o petróleo é um produto estratégico no mundo, a formação dos seus preços engloba ainda o “medo do desabastecimento”, ou seja, o medo de que a oferta de petróleo seja interrompida. Cerca de US$ 10,00 do preço do petróleo seria efeito desse medo (EIA, 2004 apud SOUZA, 2009).

O aumento dos preços pelo medo do desabastecimento por si só já é uma “profecia auto-realizável”: quando existem suspeitas de desabastecimento, os países começam a demandar mais petróleo do que realmente precisam, com o objetivo de aumentarem os seus estoques pela expectativa de que existirá uma interrupção na oferta do produto. Portanto, este medo, por si só, faz com que a demanda aumente, aumentando também os preços, o que nos permite dizer que esse é um componente permanente na formação dos preços do petróleo (EIA, 2004 apud SOUZA, 2009).

Além do presente “medo de desabastecimento” os altos preços do petróleo seriam resultado ainda de alguns fatores estruturais e não mais problemas conjunturais. Se no primeiro choque e no segundo choque o petróleo aumentou de preço por uma conjuntura desfavorável aos consumidores. Por isso, o aumento parece ser sustentado, uma vez que o que ocorre hoje parece ser uma realidade fruto de fatores estruturais e não mais de uma conjuntura desfavorável.

Ter a China e a Índia como grandes demandantes de petróleo não parece ser um fator passageiro, parece mais uma realidade concreta e a expectativa é que eles continuem como grandes demandantes de energia por bastante tempo. Da mesma forma, a instabilidade da principal região produtora do mundo, Oriente Médio, já não pode mais ser chamada de conjuntural, são conflitos aparentemente sem solução no curto prazo. Portanto, é mais coerente supor que o aumento dos preços do petróleo causado pelos fatores ditos como

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“conjunturais” sejam incorporados de forma definitiva aos preços, ou seja, o medo do desabastecimento não deixará de ser um componente do preço do petróleo.

Seguindo na tarefa de mostrar como, pelo próprio conceito de reservas de petróleo e com um aumento dos preços, existirá um aumento das reservas e aumento da disponibilidade energética, precisa-se do apoio do esclarecimento do conceito de reservas de petróleo. E o posterior aprofundamento neste conceito será importante para mostrar como as reservas de petróleo são conceitualmente relativas.

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4 RESERVAS DE PETRÓLEO: CONCEITOS E ESTIMATIVAS

O conceito de reservas de petróleo precisou ser amplamente discutido, e esse exercício ainda não terminou. Existem incongruências conceituais que precisam ser reparadas para que cada player não utilize números conceitualmente diferentes para mensurar as suas reservas.

Com cada player do setor utilizando conceitos e parâmetros diferentes são gerados inúmeros problemas. O principal deles é que fica difícil fazer a correta avaliação de quanto realmente cada empresa ou região possui em petróleo absolutamente e em relação aos outros e quanto desse petróleo pode ser efetivamente chamado de reserva de petróleo.

Essa assimetria de informações gera problemas para as empresas, para os governos e para os investidores do setor. Para os governos o problema é que saber qual a real disponibilidade energética de uma cidade, país ou região, é uma variável determinante para o planejamento público. Os gestores públicos precisam saber onde investir, qual tipo de indústria fomentar, se é mais adequado incentivar na região uma indústria intensiva em energia ou intensiva em mão-de-obra, se é preciso fazer a população sofrer as conseqüências de um racionamento de energia, ou se o petróleo estará disponível e barato a ponto de não fazê-lo, se o governo de uma determinada região pode se endividar confiando nos futuros royalties do petróleo, dentre outras inúmeras questões que necessariamente passam pelo conhecimento da disponibilidade energética.

Já para as empresas, como a atividade petrolífera é extremamente dispendiosa, o aporte financeiro decorrente da abertura do capital de muitas empresas do setor é de grande importância para alavancagem de capital.

Com a entrada dessas empresas no mercado de capitais, tornou-se necessário desenvolver dados que sinalizem aos investidores o quão confiáveis são as empresas. Imagina-se, por exemplo, a situação de um grupo de investidores que está em dúvida em qual empresa petrolífera deve investir seus recursos, saber qual a real dimensão das reservas das empresas é fundamental para a decisão de investir, até porque o tamanho das reservas pode determinar o tempo de vida da empresa, caso ela não consiga englobar novas reservas, uma vez que as reservas são um dos seus principais ativos. O real tamanho das reservas sob propriedade de

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uma empresa de petróleo serve, inclusive, para figurar como um dos determinantes para a composição do valor dessa empresa caso ela seja vendida.

Outro problema da não equalização do conceito é que ao fazer o somatório das reservas mundiais estaríamos somando números diferentes do ponto de vista conceitual. Hoje ainda existem assimetrias nas classificações das reservas, nem todos os players utilizam os mesmos critérios. É preciso fazer ajustes para o somatório das reservas mundiais não utilizem parâmetros diferentes (MOREIRA et al., 2005).

Por este motivo, geralmente os atores do setor preferem usar estimativas pessimistas para não contarem com reservas que na realidade não existem. Ou seja, o mercado prefere utilizar reservas que tem mais de 90% de chances de serem superadas ou igualadas (MOREIRA et al., 2005).

Vale lembrar que, na verdade, a maioria das assimetrias não está relacionada ao conceito de reservas de petróleo propriamente dito, e sim, aos parâmetros que balizam as diferenças entre quais recursos são classificados como reservas de petróleo e quais os que são classificados como recursos continentes.

4.1 CONCEITO DE RESERVAS

A Society of Petroleum Engineers (SPE) no artigo Petroleum Resources Classification System and Definitions mostra as principais diretrizes para a classificação dos recursos petrolíferos.

Seguindo tais diretrizes, os recursos petrolíferos estariam separados entre os recursos provados e os não provados. Os recursos provados seriam aqueles que, via métodos geológicos e da engenharia, pode-se afirmar com relativa certeza existirem. Dentre os recursos provados existe a classificação entre recursos comercialmente viáveis e os viáveis. Os recursos provados comercialmente viáveis são chamados de reservas e os não-viáveis são chamados de “recursos contingentes”, ou seja, recursos que dependem de algum evento adicional para que se tornem viáveis (SOCIETY OF PETROLEUM ENGINEERS, 2000).

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Os recursos não-provados de petróleo seriam classificados pelos mesmos critérios dos recursos provados. A diferença é que, por alguma incerteza, seja ela do ponto de vista contratual, geológico, da engenharia ou técnico, não foi possível classificar os recursos como reservas. Portanto, qualquer mudança nos parâmetros de preço e coeficiente de recuperação ter-se-ia uma mudança também na quantidade total de reservas (MOREIRA et al., 2005).

Na tentativa de usar diretrizes mais precisas para classificação dos recursos, autores como Novaes e Suslick (2001) preferem utilizar parâmetros mais palpáveis do que a “relativa incerteza” citada acima. Para esses autores, recursos provados diferem dos não-provados de acordo com a avaliação da área. Uma área é considerada “avaliada” se ela possuir um “poço produzindo, ou um poço testado, ou um poço testado com alto grau de saturação do óleo, ou poço com boa correlação com poços em produção ou testados”.

O que realmente aconteceu é que ao invés de Novaes e Suslick (2001) utilizarem a “incerteza” eles colocaram critérios mais objetivos para esse julgamento e começaram a classificar as áreas, poços e regiões produtoras entre “avaliados e não avaliados”, o que, objetivamente é a mesma coisa, eles apenas definiram critérios para essa avaliação.

Usando quaisquer critérios, os recursos não-provados são classificados entre possíveis e prováveis. O que os diferencia novamente é o grau de incerteza do recurso. Se a chance de sucesso na exploração for superior a de insucesso, classificaremos os recursos como possíveis. Caso a chance de insucesso seja maior que a de sucesso, os recursos são apenas prováveis (MOREIRA et al., 2005).

Do ponto de vista probabilístico as estimativas dos recursos podem ser otimistas, pessimistas ou a melhor estimativa. As estimativas pessimistas consideram apenas os recursos provados, as reservas. As melhores estimativas consideram as reservas juntamente com os recursos possíveis. E as estimativas otimistas consideram os recursos provados, mais os recursos prováveis, mais os recursos possíveis.

As chances de que a estimativa pessimista seja superada ou igualada deve ser maior que 90%, são as reservas chamadas de P90. As possibilidades de que o valor real das reservas seja superado pela estimativa prévia vão diminuindo nas outras reservas, na P40 e na P10, sendo que nesta última, as chances de que as estimativas sejam superadas ou igualadas são apenas

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de 10%. Por isso quando se inclui nas estimativas até essas reservas, as estimativas são consideradas otimistas (SOCIETY OF PETROLEUM ENGINEERS, 2009).

Segue abaixo quadro para mostrar a relação entre a qualificação das estimativas (estimativas pessimistas, otimistas e melhores) e quais reservas entram na composição de cada.

Estimativas Reservas Estimativas Pessimistas Melhores Estimativas Estimativas Otimistas P90 X X X P40 X X P10 X Total P90 P90+P40 P90+P40+P10

Quadro 1 – Estimativas e reservas

Fonte: Elaborado pelo autor com base na SOCIETY OF PETROLEUM ENGINEERS, 2009.

Não são necessários maiores conhecimentos estatísticos para perceber que as estimativas que deveriam ser usadas serias as “melhores estimativas”, mesmo que não fosse considerado o juízo de valor que é fruto da tradução do termo, “best estimate”. Isso porque, nas melhores estimativas, espera-se que as extrapolações das P90 compensem as pequenas perdas que são esperadas nas P40 e P10.

Mas, por uma determinação da Securities and Exchange Comission (SEC) nos Estados Unidos, a maioria das empresas no mundo usa as estimativas pessimistas, ou seja considera apenas as P90. Segue abaixo a citação de Souza (2009, p. 49) sobre as recomendações da SEC:

Nos EUA a SEC (Securities and Exchange Comission) – orgão regulador do mercado financeiro norte-americano – propõe para o setor petrolífero classificar como reservas provadas apenas aquelas com alto grau de probabilidade de ocorrência e que possam ser produzidas com a tecnologia conhecida e à preços competitivos.

Isso quer dizer que, por recomendação da SEC, a maioria das empresas americanas considera apenas as reservas provadas como recursos, sendo que, matematicamente a chance de

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ocorrência dessas reservas ultrapassarem os recursos é de 90%. Juntando com isso o fato de que as determinações dos EUA geralmente se disseminam e viram recomendações mundiais, as reservas de todo o mundo tendem a ser subestimadas. Uma análise mais próxima da realidade seria feita se as estimativas das reservas fossem feitas usando a “melhor estimativa”, considerando as reservas provadas e as possíveis, usando o somatório das P90 com as P40.

Dessa recomendação da SEC, a parte mais relevante para esse trabalho é que, por conseqüência dessa recomendação, as reservas tendem as ser subestimadas, uma vez que, teoricamente, as P90 na grande maioria das vezes serão ultrapassadas. O problema é que existem outros interesses por trás da correta estimativa das reservas e talvez por isso os players do setor prefiram utilizar estimativas mais pessimistas.

Os interesses na publicação de dados sobre as reservas de petróleo de um país, empresa ou região são inúmeros. Alguns países, por exemplo, consideram as informações sobre suas reservas provadas como estratégicas e de segurança nacional, não as fornecendo. Já não bastasse a falta delas nestes casos e as complicações teóricas sobre quais critérios usar nas estimativas para as reservas provadas, ainda existe o risco de essas informações serem forjadas, pois alguns agentes do setor, principalmente as empresas teriam interesse em mentir sobre o real tamanho das suas reservas.

Empresas teriam interesse em superestimar suas reservas. Uma vez que estas são o seu principal ativo, aumentando essas reservas estariam aumentando diretamente o seu patrimônio líquido. Portanto, mentir sobre as reservas sobre domínio de uma determinada empresa pode fazer com que a mesma se valorize. Elas teriam interesse em mentir também para provocar um aumento sustentável nas reservas, valorizando da mesma forma as suas empresas (SOUZA, 2009).

Outro motivo para desconfiar das informações sobre as reservas é que muitos países, para fugir do sistema de cotas da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), teriam mentido para terem o direito de exportar mais petróleo. No sistema de cotas da OPEP os países poderiam exportar mensalmente apenas um percentual determinado do total das suas reservas, isso era feito tanto para segurar o preço do petróleo em um patamar elevado com a restrição da oferta e também para garantir que a oferta do produto fosse sustentável no futuro (SOUZA, 2009).

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Aumentando as reservas eles poderiam conseqüentemente exportar mais sem que novas descobertas fossem feitas. A Arábia Saudita, por exemplo, tinha suas reservas provadas em 167 bilhões de barris em 1989 e no ano seguinte, sem que nenhuma relevante descoberta tenha ocorrido, a suas reservas pularam para 257,5 bilhões (SOUZA, 2009).

Ainda sobre a confiabilidade das estimativas, ela será maior quanto mais conhecida for a área em questão. Uma grande quantidade de dados geológicos e de engenharia, comportamentos conhecidos de poços e/ou áreas correlatas, comportamento de poços dentro da área em questão; tudo isso faz com que as estimativas a cerca de um poço ou área produtora sejam mais confiáveis. Portanto, é de se esperar que quanto menor a área que precisa ser avaliada, menos complexa é a avaliação. E esse é um dos motivos que torna a avaliação das reservas mundiais ainda mais complexa.

4.2 ESTIMATIVAS DAS RESERVAS, PICO DA PRODUÇÃO E ECONOMIA DOS RECURSOS EXAURÍVEIS

O conceito de reservas de petróleo é, por natureza, relativo. Esse inclui somente as quantidades de petróleo que poderão ser recuperadas comercialmente até uma data determinada (SOCIETY OF PETROLEUM ENGINEERS, 2009). Portanto, quando se fala que “O Poço de Tupi possui reservas estimadas entre 5 e 8 milhões de barris de petróleo”, não está se dizendo com isso que a reserva possui entre 5 e 8 milhões de barris absolutamente. Lá existe muito mais petróleo que isso, mas já retirando a parte que é “naturalmente residual”, e a uma determinada faixa de preços estimada, são comercialmente viáveis entre 5 e 8 milhões de barris. Isso porque chega um ponto que fica mais caro extrair o petróleo de certo poço do que deixá-lo lá embaixo. E é justamente esse ponto crítico que é variável.

Portanto, mesmo que as estimativas não se alterem em relação à quantidade absoluta de petróleo em uma região ou campo, existirão mudanças nas quantidades da reserva caso mude-se qualquer um dos mude-seguintes determinantes: coeficiente de recuperação, custos exploratórios ou preços do petróleo.

Quando se fala de mudança nos parâmetros citados, não basta que uma nova tecnologia seja usada por uma empresa e assim seja melhorado o coeficiente de recuperação da empresa de

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forma individual e, por esse motivo as reservas mundiais tenham aumentado. Para que as reservas mundiais realmente aumentem essa nova tecnologia tem que ser disseminada a fim de aumentar o coeficiente da indústria como um todo, aí sim as reservas de petróleo terão aumentado.

Então, mesmo que não exista incremento algum no total de petróleo no mundo por novas descobertas, mesmo que não exista avanço tecnológico algum capaz de aumentar o coeficiente de recuperação das atuais reservas. Mesmo com tudo isso é de se esperar que as reservas sofram alterações nas suas quantidades pelas simples variações de preço. E como os preços tendem a subir, por todos os fatores estruturais já citados, o que devemos esperar é crescimento das reservas de petróleo no mundo.

As idéias de Harold Hotelling expostas no seu artigo “Economia dos Recursos Exauríveis” de 1931, servem de base à atual gestão dos recursos exauríveis. Esse modelo teve como base o modelo ricardiano de renda da terra (CARVALHO, 2008).

No modelo ricardiano, com o crescimento da demanda por alimentos, as terras seriam exploradas por ordem decrescente de qualidade, ou seja, as melhores terras seriam as primeiras a serem exploradas e posteriormente as terras com menor qualidade. Nesse modelo as terras marginais seriam então aquelas terras que estão exatamente no ponto crítico entre serem usadas na produção e não serem. Portanto, qualquer aumento na demanda por alimentos, se a produtividade não sofrer alteração, geraria a inclusão de terras marginais na produção (HUNT, 1981).

Com essa entrada das terras marginais na produção, os produtores das terras de maior qualidade, com uma maior produtividade, teriam uma renda diferencial extraordinária assim que as terras de menor qualidade entrassem no processo, sendo que essa entrada só é possível por um aumento nos preços, uma vez que as terras de menor qualidade possuem um maior custo de produção (HUNT, 1981). Dito isso, o princípio da renda diferencial extraordinária é estendido até as idéias de Hotelling e recebe o nome de renda extraordinária do petróleo (MUELLER, 1996).

No modelo de Hotelling, os agentes tenderiam a maximizar os seus rendimentos ao longo do tempo seguindo o princípio fundamental de “maximização presente dos benefícios líquidos

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descontados” (MUELLER, 1996, p. 275). Os agentes olhariam para o futuro, descontariam os preços dos recursos utilizando uma taxa social de desconto e avaliariam se o mais rentável é extrair o recurso agora e aplicar os rendimentos ou se o mais rentável seria esperar para fazê-lo apenas no futuro. Dessa forma alcançar-se-ia o objetivo da economia dos recursos exauríveis que é o manejo ótimo dos recursos exauríveis. Ou seja, os exploradores dos recursos conseguiriam maximizar a renda auferida desses recursos.

De qualquer sorte, o Modelo de Hotelling seria uma extensão dos modelos dinâmicos neoclássicos de otimização intertemporal. Quando os agentes decidem produzir hoje, invariavelmente estão abrindo mão da produção futura. Pela “hipótese da impaciência”, deve ser oferecido a esses agentes uma possibilidade de ganho maior no futuro para que eles não escasseiem o produto hoje (MUELLER, 1996).

Exatamente de quanto deverá ser esse acréscimo seria determinado pela taxa social de retorno. O problema é que “a taxa social de retorno não é de magnitude observável; existem formas de estimá-la, mas estas estimativas são fortemente afetadas pelas técnicas e pelos dados usados” (MUELLER, 1996, p. 276). Por isso que se admite que a taxa social de retorno seja próxima a taxa média de juros do mercado para algumas análises.

Seguindo o modelo, existem três possíveis soluções na comparação entre à taxa social de retorno e a expectativa de valorização desses recursos. Seguem as três soluções:

i) Primeira Solução: Na comparação entre taxa social de retorno com o custo de oportunidade de manter os recursos no solo (royalties), a expectativa dos agentes é a de que os recursos se valorizem em uma velocidade menor que a taxa social de retorno, logo eles prefeririam extrair os recursos da forma mais rápida possível e então investir suas receitas no mercado, maximizando os seus lucros futuros. Nessa solução, os recursos exauríveis em questão seriam escasseados de uma só vez.

ii) Segunda Solução: A valorização dos recursos ocorre em uma velocidade maior que a taxa social de retorno. Por isso os agentes tenderiam a poupar os recursos para extraí-los apenas no futuro. Nessa solução, não existiria extração presente do recurso, pois os agentes esperariam pela valorização futura do mesmo.

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iii) Terceira Solução: Finalmente nessa solução, que é a solução ótima, o custo de oportunidade de manter os recursos no solo, os royalties, deveria crescer na mesma velocidade da taxa social de retorno. Dessa forma, não existiria estímulo nem pra guardar o recurso no futuro, nem pra utilizá-lo de uma vez no presente. Ou seja, para que o recurso tenha uma oferta regular, seus royalties devem crescer na velocidade dessa taxa.

O que se observa hoje é que os preços do petróleo crescem a um ritmo maior que o das taxas de juros e mesmo assim o seu fornecimento continua regular. Isso aconteceria, porque existiriam contra tendências que não deixariam as soluções do modelo sejam verificadas. Essas contra tendências seriam o aumento do conhecimento geológico, as questões geopolíticas que influenciam nas decisões de ofertar, os avanços tecnológicos e a existência de imperfeições no mercado.

Vale ressaltar que essa taxa ótima de exploração fornecida pelo modelo está longe de ser uma taxa de exploração sustentável. Isso porque o modelo não tem compromisso algum com a regularidade da oferta e a sustentabilidade do processo, ele serve exclusivamente para maximizar os lucros dos exploradores dos recursos.

Outro motivo da taxa fornecida pelo modelo estar longe de uma taxa sustentável é que o conceito de sustentabilidade vai de encontro ao de recurso exaurível. A sustentabilidade estaria em consumir e produzir sem afetar a capacidade das gerações futuras em produzir e consumir em patamares similares ou mais elevados.

Por isso, para falar em consumo sustentável de um recurso exaurível é necessário ampliar a concepção do problema. Ou seja, é necessário inserir no modelo variáveis como: progresso tecnológico e a entrada de substitutos no mercado. Ampliando a visão da sustentabilidade, existiria então a possibilidade do consumo de um recurso exaurível com sustentabilidade (CARVALHO, 2008).

Para que o petróleo, por exemplo, fosse utilizado de forma sustentável, para que fosse possibilitada uma equidade entre as gerações, as rendas diferenciais extraordinárias obtidas pelo uso de reservas que possuem um custo de exploração muito abaixo do preço do petróleo,

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deveriam ser investidas em pesquisas que possibilitassem o desenvolvimento de novos substitutos e de tecnologias de extração melhores. Dessa forma, as gerações futuras poderiam ter condições de geração de riqueza e renda próximas as da geração atual, promovendo assim uma equidade intergeracional (CARVALHO, 2008).

Voltando um pouco aos fundamentos do modelo, os recursos exauríveis seriam extraídos de acordo com o custo de extração das suas reservas, ou seja, primeiramente seriam utilizadas as melhores reservas, aquelas com custo exploratório mais reduzido. Com o esgotamento dessas, as reservas marginais, com maiores custos seriam utilizadas. Dessa suposição do modelo pode-se inferir que os recursos exauríveis possuem uma tendência implícita de crescimento dos seus preços, uma vez que os recursos vão ficando cada vez mais escassos e os custos exploratórios cada vez maiores. E essa tendência é fruto do próprio modelo de gestão dos recursos.

Já que os recursos exauríveis possuem uma tendência de alta dos seus preços, o que explicaria a queda desses preços na década de 1980? A explicação viria de versões mais sofisticadas do modelo. Nessas, já existe a previsão de que esse aumento nos preços dos recursos exauríveis estimularia a pesquisa em tecnologias que tornem esses recursos mais baratos do ponto de vista exploratório, tecnologias que possibilitem a descoberta e/ou viabilidade de substitutos e de novas jazidas. Particularmente no caso da década de 1980, poderia ser explicado pelas descobertas de novas jazidas ou pelo “contra-choque”2 promovido pela Arábia Saudita. Todas essas explicações seriam contra tendências que não estariam deixando que as predições do modelo se concretizem.

Além da determinação do volume total das reservas do petróleo, existe também a preocupação com a determinação do ponto de inflexão da produção, ou seja o ponto no qual a produção vai parar de crescer e entrará em declínio, esse ponto é chamado de pico da produção.

Baseado nessa preocupação, Hubbert já em 1956 determinou o pico da produção americana como sendo em 1970, ou seja, até 1970 a produção de petróleo americana continuaria subindo até que em 1970 ela faria o caminho inverso e começasse a cair (SOUZA, 2009).

2 Os choques do petróleo da década de 1970 foram marcados como uma restrição da oferta de petróleo causando aumentos nos preços do produto. Os contra-choques seriam justamente a medida oposta, um aumento da oferta que produziria uma queda nos preços.

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A idéia de Hubbert é a generalização para uma área maior, ou até para o mundo todo, do que acontece com um único poço de petróleo. Após a descoberta de um poço, a produção deste começa e vai crescendo até o ponto em que a produção começa a declinar. Esse ponto em que a produção é máxima seria o pico da produção. O poço teria uma curva de produção semelhante a uma curva normal de distribuição de probabilidades, na forma de um “U” de cabeça para baixo (SOUZA, 2009).

Agregando todos os poços do mundo, a produção mundial teria o mesmo comportamento, ou seja, o petróleo começou a ser usado e de lá pra cá vem aumentando a sua produção de acordo com o aumento da demanda, só que a partir de certo ponto, a produção já não mais acompanharia a demanda e o petróleo teria uma produção decrescente, marginalmente falando. A partir desse ponto os recursos se tornariam bem mais caros e seriam produzidos em escala decrescente (SOUZA, 2009).

Campbell e Laherrère (2009) falam sobre o fim dos anos de petróleo barato e preconizam que mesmo “usando diferentes técnicas para estimar as atuais reservas e algumas que ainda serão descobertas, concluímos que o declínio começará antes de 2010.” Ou seja, antes de 2010 o mundo chegaria ao pico da produção, e partilhando das consequências já mostradas pelas teorias do pico da produção, antes de 2010 ter-se-ia uma redução na produção de petróleo, a oferta não mais acompanharia a demanda e os preços disparariam. Nada disso foi observado até agora.

Não existe nada de tão especial em falar que as previsões de Campbell e Laherrère (2009), que foram publicadas em 1998, estão erradas exatamente porque se aproxima a data limite dada por eles para que os fenômenos do pico da produção (queda da produção e aumento dos preços) começassem a acontecer.

Pereira (2009) escreveu que os prognósticos feitos por Campbell e Laherrère (2009) além de apocalípticos, teriam sérias fragilidades metodológicas. Segundo Pereira (2009), Campbell e Laherrère (2009) retiraram dos números oficiais divulgados pelo Oil and Gas Journal e pela revista World Oil algumas reservas que não condiziam com as suspeitas geológicas deles próprios. Mesmo com essa retirada das “reservas suspeitas”, os novos resultados ainda não seriam suficientes para proclamar o fim do petróleo barato ou algo parecido.

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Por isso, após a retirada das reservas, eles então decidiram submeter os parâmetros utilizados normalmente na indústria do petróleo a um tratamento de choque. Ao invés de utilizar a P90 recomendada pela Securities and Exchange Commission (SEC) dos Estados Unidos, que na verdade já é uma estimativa pessimista, como já foi dito anteriormente, pois ela apenas considera os recursos provados, eles preferiram “considerar a média, extraída da curva gaussiana que representa a distribuição temporal do óleo já produzido mais aquele ainda por ser produzido” (O fim do petróleo e outros mitos). Com isso eles colocaram no campo da ficção 40% das reservas provadas existentes no mundo, reservas essas que são viáveis aos preços atuais e com a tecnologia já disponível e ainda considerando que as P90 da SEC já são reservas pessimistas, as predições de Campbell e Laherrère (2009) são exageradamente pessimistas.

As idéias de Campbell e Laherrère (2009) não devem ser totalmente desconsideradas. Falar que o “petróleo barato” vai acabar é tido como fato, o grande desafio é quando isso vai acontecer. Segundo as previsões de Campbell e Laherrère (2009), isso já deveria ter acontecido. O que esse trabalho propõe é um cenário um pouco mais complicado, ou seja, é um cenário em que um petróleo mais caro, não com preços exorbitantes como se supõe que os preços sejam após o pico da produção, e que, justamente esse cenário de preços em alta contribuirá de forma principal para que o petróleo continue abundante e para que a disponibilidade energética mundial aumente. Como o aumento dos preços contribuirá para que o petróleo continue abundante e a disponibilidade energética aumente é matéria do próximo capítulo deste trabalho.

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5 OS CENÁRIOS DE PREÇOS DO PETRÓLEO E A DISPONIBILIDADE ENERGÉTICA MUNDIAL

Baseado em tudo que já foi dito, é muito mais coerente apostar que o cenário futuro para o petróleo será um cenário de aumento dos preços duradouro e sustentável e que a recente queda do petróleo seja apenas um fato circunstancial motivado por essa mais recente crise imobiliária, e não uma tendência de longo prazo ou algo que o valha.

Mas, mesmo acreditando que apenas um dos cenários seja relevante, por exigências metodológicas, tentar-se-á mostrar aqui os dois cenários, tanto o cenário de preços crescentes e suas implicações, quanto o cenário da manutenção dos preços em níveis baixos como os atuais e as suas implicações para o setor energético e para a população como um todo.

5.1 CENÁRIO DE PREÇOS CRESCENTES DO PETRÓLEO

Toda a argumentação proposta neste trabalho gira em torno da crença de que o cenário para os preços do petróleo será o de preços crescentes. A própria Teoria dos Recursos Exauríveis já indica que, se tratando de um recurso finito, a tendência é que seus preços aumentem com o passar do tempo.

Fatos como o crescimento populacional para os próximos 20 anos ser estimado em quase dois bilhões de pessoas e esse crescimento ser proporcionalmente maior em países emergentes como China e Índia. Países que vêm aumentando o seu consumo per capita do óleo, todos estes fatores conjuntamente apontam para uma maior demanda futura de petróleo e conseqüentemente um aumento nos preços, contando que os avanços tecnológicos no setor energético como um todo não serão suficientes para fazer os preços caírem. Que os preços, no máximo, chegarão a diminuir a velocidade de aumento dos preços, mas não revertê-lo (MONCRIEFF, 2009).

Segundo Carvalho (2008), existiria uma tendência de maior consumo per capita de derivados de petróleo em países emergentes. Isso aconteceria porque quando os países alcançam um elevado grau de desenvolvimento tecnológico eles conseguem aumentar o PIB sem, necessariamente, aumentar o consumo de petróleo. Isso aconteceria devido a tecnologias mais

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modernas e poupadoras de energia. Portanto, o aumento do PIB em países emergentes significa necessariamente que o país se tornou mais intensivo em energia, mas falar que países desenvolvidos estão crescendo nem sempre quer dizer aumento do consumo de energia. E o crescimento populacional previsto vir majoritariamente em países emergentes, reforça a crença de um maior consumo futuro de petróleo.

Então, baseado na Economia dos Recursos Exauríveis, no aumento do consumo de petróleo vindo do aumento populacional, no medo do desabastecimento e na instabilidade estrutural dos maiores exportadores de petróleo, espera-se que os preços do petróleo tendam a subir de forma continuada e sustentada. Esse aumento dos preços seria o motor, o gatilho inicial, de um modelo de desenvolvimento para a indústria do petróleo que prevê aumento nos seus preços no curto, médio e longo prazo e um estímulo ao desenvolvimento de substitutos ao petróleo que resultaria na possibilidade de um consumo sustentável de petróleo. O modelo seguiria os seguintes passos:

• Como o conceito de reservas de petróleo leva em consideração apenas os recursos que podem ser recuperados a preços correntes e tecnologia disponível, o aumento dos preços conseguiria englobar recursos contingentes de petróleo, ou seja, recursos cuja existência é sabida e comprovada, mas que por motivos econômicos ou tecnológicos ainda não foram explorados. Então, mesmo que não exista avanço tecnológico, o simples aumento nos preços já seria suficiente para englobar recursos que não eram viáveis economicamente, mas que agora o são;

• Com preços mais altos, alguns métodos de recuperação que antes eram inviáveis economicamente tornam-se viáveis com os preços mais altos, o que aumentaria ainda mais a quantidade de recursos recuperáveis;

• Além da viabilidade de novas tecnologias, substitutos que estavam na margem desse mercado, ou seja, estavam próximos de conseguir concorrer com os derivados do petróleo, se tornam viáveis e conseguem entrar no mercado;

• Como estamos tratando de reservas marginais, existirá um custo exploratório cada vez maior e com os recursos se tornando mais escassos, teríamos novos aumentos nos preços;

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• Preços ainda mais altos viabilizariam novas reservas, outras tecnologias conhecidas e outros substitutos conhecidos. E dependendo desse aumento dos preços, existiria o estímulo para pesquisa de novas energias alternativas e novas tecnologias substitutas.

Para facilitar a visualização de como essa dinâmica acontece, segue abaixo o fluxograma de como o modelo iniciado em um aumento nos preços do petróleo culminaria em um consumo mais sustentável do petróleo, em um consumo mais racional.

Aumento dos preços Viabilidade de substitutos Aumento do investimento em pesquisa no setor energético como um todo

Aumento das reservas Aumento da disponibilidade energética e consumo sustentável do petróleo

Figura 1- Crescimento dos preços do petróleo Fonte: Elaboração própria

Com o aumento dos preços do petróleo ter-se-ia então: acréscimo das reservas de petróleo, estímulo ao desenvolvimento de novos substitutos do petróleo, estímulo às novas técnicas de recuperação de petróleo e, principalmente, um freio na demanda futura por petróleo.

Os aumentos dos preços do petróleo como determinantes ao desenvolvimento de novas tecnologias de recuperação de petróleo e de substitutos aos derivados do petróleo já são velhos conhecidos da história econômica. O Proálcool brasileiro, por exemplo, existia desde 1970, mas só recebeu os maiores incentivos após os dois primeiros choques do petróleo, quando os governos sentiram a ameaça de uma escassez de petróleo barato no curto prazo. De

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forma semelhante, na década de 1980 com o petróleo barato durante toda a década, os incentivos cessaram, pois, mais uma vez, o que imperou foi o pensamento de curto prazo e não o planejamento e os investimentos para um futuro com alternativas viáveis ao petróleo (OLIVEIRA; GONÇALVES NETO, 2009).

É fácil de observar que os investimentos deveriam ter sido continuados, uma vez uma tentativa de independência do petróleo é sempre desejada, pois estamos falando de um recurso que por mais que se fale que ainda existe muito petróleo no mundo, uma hora ele vai acabar. O grande problema é que os mandatos de presidentes, ministros, governadores e outros duram apenas quatro anos e os planejamentos para o setor de energia devem ser feitos para um horizonte muito mais amplo.

Quanto ao freio à demanda futura por petróleo advindo do aumento dos preços, é justamente esse freio que culminará em um consumo mais responsável do petróleo. Sendo que esse consumo poderá vir tanto da “onda verde” que já se pode observar no mundo, como da força “educativa” que um aumento nos preços teria. O mais provável é que as duas coisas aconteçam: tanto as pessoas fiquem mais conscientes em relação ao consumo do petróleo, como também ficará mais lucrativo ser consciente.

As “pegadas verdes” já podem ser vistas como uma tendência mundial. Segundo USA (2009), algumas possibilidades que pareciam tão distantes já são realidade. São Francisco nos EUA, por exemplo, promete que a maioria da sua frota esteja sendo movida a eletricidade em 2012, daqui a apenas 3 anos. O recém eleito presidente americano, Barack Obama, parece ter uma política ambiental totalmente diversa da do anterior presidente americano. Obama promete 1 milhão de carros híbridos3 até 2015 e 25% da eletricidade vinda de fontes renováveis até 2025. Ou seja, parece que o mundo vem se dando conta que as energias verdes não são apenas modismos, são reais necessidades.

Infelizmente, as energias renováveis ainda são três vezes mais caras que as convencionais, mas essa diferença vem diminuindo a cada ano. É nesse sentido, de acelerar esse tempo de equalização que as ações governamentais devem ter um papel determinante, tornando

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Carros que possuem mais de um motor propulsor, usando fontes diferentes de alimentação, diesel e eletricidade, por exemplo.

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